o Problema Dos Palavroes

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O problema dos palavrões A questão não é menor. Em qualquer contexto em que nos encontremos com palavrões, as decisões tomadas pelos tradutores serão difíceis. De um lado precisamos esclarecer para nós mesmos o que são os palavrões. Trata-se de uma palavra que não tem ocorrência no dicionário? Trata-se de um insulto? Será que são palavras que alguém sugere melhor evitar usar? De outro lado, e, como sempre na hora de traduzir, precisamos estabelecer quem é o destinatário, e como receberá, possivelmente, essas expressões. As possibilidades acima mencionadas não são as únicas. Se pusséssemos, a modo de exemplo, o caso de um filme em que alguém insulta gravemente a um adversário, não através de um palavrão, mas com a entonação e o uso da ironia, não o traduziríamos? Provavelmente perderíamos elementos argumentativos centrais, colocados pelo diretor com uma finalidade específica, isto é, com uma intenção. Isso nos leva a pensar nesse ponto particular. A intenção, que é uma questão fulcral na linguística pragmática. O que queremos fazer quando usamos palavrões? Ou ironia? Ou determinados gestos? É realmente um insulto, ou trata-se, como comumente acontece na Argentina, de um bordão? A intenção aqui não é exatamente esclarecer todos esses pontos, apenas refletir sobre eles, tentar colocar, entre todos, nova luz sobre o tema. Porque o uso de este tipo de expressões na literatura, no teatro, no cinema, que são gêneros nos quais os tradutores podemos nos encontrar com o

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Tradução - problemas

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O problema dos palavres

A questo no menor. Em qualquer contexto em que nos encontremos com palavres, as decises tomadas pelos tradutores sero difceis. De um lado precisamos esclarecer para ns mesmos o que so os palavres. Trata-se de uma palavra que no tem ocorrncia no dicionrio? Trata-se de um insulto? Ser que so palavras que algum sugere melhor evitar usar? De outro lado, e, como sempre na hora de traduzir, precisamos estabelecer quem o destinatrio, e como receber, possivelmente, essas expresses.

As possibilidades acima mencionadas no so as nicas. Se pussssemos, a modo de exemplo, o caso de um filme em que algum insulta gravemente a um adversrio, no atravs de um palavro, mas com a entonao e o uso da ironia, no o traduziramos? Provavelmente perderamos elementos argumentativos centrais, colocados pelo diretor com uma finalidade especfica, isto , com uma inteno.Isso nos leva a pensar nesse ponto particular. A inteno, que uma questo fulcral na lingustica pragmtica. O que queremos fazer quando usamos palavres? Ou ironia? Ou determinados gestos? realmente um insulto, ou trata-se, como comumente acontece na Argentina, de um bordo?A inteno aqui no exatamente esclarecer todos esses pontos, apenas refletir sobre eles, tentar colocar, entre todos, nova luz sobre o tema. Porque o uso de este tipo de expresses na literatura, no teatro, no cinema, que so gneros nos quais os tradutores podemos nos encontrar com o dilema de como trasladar essas expresses, utilizam esses recursos como verdadeiras marcas expressivas.Os palavres, comumente associados linguagem coloquial, e mais afastados do registro culto, so expresso intimamente ligada aos traos culturais de cada povo. Cada cultura, por sua prpria histria, seus usos e costumes, ter maior ou menor apego a esse tipo de expresses, mas, quando so utilizadas, esto carregadas da agressividade prpria desse contexto cultural. Portanto, se as apagarmos, ou se as minguarmos em toda a sua fora ilocutiva, no estariamos deixando por fora um aspecto fundamental da cultura que estamos tentando aproximar com a nossa traduo?O que nos leva a pensar no contexto. De um lado, o contexto de produo, de outro, o contexto de recepo. Se, no contexto de produo, o palavro utilizado como bordo, como o caso de boludo/a na Argentina, ao traduzirmos, por exemplo, um romance contemporneo argentino para o portugus, provavelmente esse palavro, que na maioria dos casos utilizado como vocativo, traduzir-se-ia, por exemplo, como rapaz, cara, etc. em cujo caso, embora se trate de um registro muito coloquial, no se trataria de palavres. Nesse caso, o uso de palavro at poderia considerar-se um erro, porque no uso como vocativo, na Argentina, no h nenhuma inteno de insultar.Por outra parte, se se tratasse de um insulto, e ns, por mesura, pudor, etc. recusssemos traduzir o palavro como tal, no estariamos empobrecendo a fora com que uma cultura determinada expressa sua agressividade? Se usssemos eufemismos, no estaramos, indiretamente, apagando a diferena, aquilo que nos faz diferentes?

Uma vez superados esses escrpulos, o aspecto que talvez seja verdadeiramente difcil de encarar , claro, como traduzir. Como traduzir de um mundo para outro uma expresso soez. Com que graus de baixaria nos defrontaremos, e at que ponto seremos capazes de trasladar o sentir de uma personagem que insulta a outra, que agrede com o pior que tem ao alcance da sua lngua na prpria cultura, e como ns, tradutores, pontes culturais, conseguimos um sentimento semelhante. uma tarefa difcil, com certeza. Vem minha cabea, neste momento, quanta graa me causava, aos meus dezoito anos, ler os insultos de Las mil y uma noches:Vieja de mal agero, si Eblis la viese le enseara todos los engaos sin tener que hablar, slo con su silencio! Podra desenredar a mil mulso testarudos que se hubiesen enredado en una tela de araa, sin necesidad de destrozar la tela.

Sabe repartir sortilegios y ha cometido toda clase de horrores! Le hizo cosquillas en el culo a una nia, cohabit con un adolescente, fornic con una mujer madura y excit a una anciana. (Annimo, 1987: 159)

Ignoro o idioma rabe, mas, penso que o tradutor esforou-se por conservar a forma potica do texto. No entanto, eu, como leitora da obra em castelhano, e alis, castelhano rioplatense, embora percebesse que esse trecho era agraviante, no conseguia deixar de achar engraado o modo de insultar.

Emfim, traduzir ser sempre uma linha muito delgada entre o que responde adequao e o que no.

Em que contexto encontramo-nos com palavres? Dizem ao respeito do sentir das pessoas de uma determinada cultura. Se h palavras boas, que transmitem sensaes de bem estar de beleza, e procuramos traslad-las da melhor maneira possvel, por que no faramos o mesmo com os palavres?Contexto

No o mesmo o eufemismo

H realmente ms palavras?

Reflexo da fala popular e fala cultaComo sempre, a adequao.

Aspecto cultural, diferenas Insulto e palavro

Inteno

Formas de agreso mais sofisticadasRepetio e perda de fora como insulto vira muletillaEmpobrecimiento da lngua a partir da eliminao dos matizes

Agreses que no so atravs dos palavres mas atravs da entoao, os gestos, etc.

O significado verdadeiro fica muitas vezes desconhecido a causa da proibio