O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO AMBIENTE ESCOLAR: COMO PREVENIR?
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SERVIÇO PÚBLICO FEDERALUNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA-PARFOR
LICENCIATURA INTEGRADA EM LETRAS – PORTUGUÊS E INGLÊS
ARISTEA RODRIGUES DA SILVAJIDIDIAS RODRIGUES DA SILVA
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA ESCOLA: COMO PREVENIR?
ALMEIRIM - PA2015
ARISTEA RODRIGUES DA SILVAJIDIDIAS RODRIGUES DA SILVA
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA ESCOLA: COMO PREVENIR?
Monografia apresentada a Universidade Federal do Oeste Pará como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciado em Língua Portuguesa e Inglesa.
Orientadora: Profª Luciene Marinho da Silva
ALMEIRIM – PA2015
ARISTEA RODRIGUES DA SILVAJIDIDIAS RODRIGUES DA SILVA
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA ESCOLA: COMO PREVENIR?
Apresentado em _______/_______/________
Orientadora Prof. Luciene Marinho da Silva
BANCA EXAMINADORA:
1º Examinador
2º Examinador
Conceito ________________
ALMEIRIM – PA2015
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus pela saúde e força que nos concedeu
nesses anos de estudo agradecemos também a nossa família pelo incentivo e apoio
nas horas mais difíceis e a todos que contribuíram com o desenvolvimento de nossa
prática pedagógica, em especial aos professores Drº Raimundo Nonato e professora
Drª Cristina Vaz que nortearam a escolha do tema e a nossa orientadora pelo apoio.
[...] de todos os conjuntos de superstições infundadas que compõem a cultura brasileira, nenhum e tão resistente, parece, quanto o das ideias preconcebidas que impregnam nosso imaginário a respeito de línguas em geral e, mais especificamente, da língua que falamos (BAGNO 2003, p. 15)
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1-Qual sua formação ...................................................................................23
Gráfico 2 - Você considera a linguagem padrão como a única correta e a única que
deve ser ensinada nas escola? ................................................................................24
Gráfico 3- Você já ouviu falar em preconceito linguístico?........................................25
Gráfico 4 - Você corrige seu aluno quando fala diferente ou uma palavra de forma
“errada” ?....................................................................................................................26
Gráfico 5 - Você trabalha as variantes linguísticas em sala de aula?.......................27
Gráfico 6 - Você já sofreu preconceito por falar “diferente” ou por considerarem que
você falou alguma palavra “errada”?..........................................................................28
Gráfico 7- Você se sente constrangido quando o professor ou colega lhe corrigi em frente aos demais ?....................................................................................................30
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................09
2. PRECONCEITO LINGUÍSTICO......................................................................12
2.1O preconceito linguístico na escola................................................................15
2.2Formas de prevenir e amenizar o preconceito linguístico na escola..............18
3 METODOLOGIA..............................................................................................20
3.1 Descrição do ambiente..................................................................................20
3.2 Perfis dos participantes.................................................................................20
3.3 Instrumentos de pesquisa.............................................................................21
3.4 Métodos de análise........................................................................................22
3.5 Análises dos resultados.................................................................................22
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................31
REFERÊNCIAS ..................................................................................................32
APENDICE..........................................................................................................34
RESUMO
O presente estudo apresenta o resultado de uma pesquisa relacionada ao preconceito linguístico nas escolas brasileiras, uma vez que, que a temática, tem-se apresentado como um problema social nos estudos da sociolinguística e também tem sido discutida em vários debates acadêmicos nos cursos de licenciaturas em todo país, como um problema existente em boa parte da sociedade e também no contexto escolar e que deve ser combatido o mais urgente possível. A partir da problemática existente no contexto da Escola Alberto Torres no município de Porto de Moz, buscou-se diversas considerações sobre o tema, sendo utilizado como métodos a pesquisa bibliográfica juntamente com pesquisa de campo, de cunho qualitativo, sendo realizado por meio de entrevistas com questionário pré-elaborado. O resultado da pesquisa foi promissor, pois trouxe bastante contribuição com relação ao objetivo principal do trabalho, comprovando que realmente há uma interferência do preconceito linguístico no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
Palavras-Chaves: preconceito, variação, norma-padrão, variedades linguísticas.
ABSTRACT
This study presents the results of a survey related to the linguistic prejudice in Brazilian schools, since that issue has presented itself as a social problem in the sociolinguistic studies and has also been discussed in several academic debates in undergraduate courses throughout the country, as an existing problem in much of society and in the school context and that should be tackled more urgent as possible. From the existing problematic in the context of the School Alberto Torres in the municipality of Porto de Moz, he sought to several considerations on the subject, being used as methods to literature along with field research of qualitative nature, being conducted through interviews with pre-prepared questionnaire. The result of the research was promising because it brought enough contribution in relation to the main objective of the work, proving that there really is an interference of linguistic bias in development and student learning.
Key Words: preconception, variance, standard-standard language varieties.
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1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que o preconceito linguístico ora observado na maioria de nossas
escolas e nos meios de comunicação tem relação com as variações linguísticas
presentes em todo o Brasil, influenciadas por fatores regionais ou socioeconômicos
nas quais os indivíduos estão inseridos.
Nesse sentido Bagno (1998) afirma que uma grande parcela dos alunos que
utilizam o português denominado de “não-padrão” fazem parte de famílias
desfavorecidas economicamente sem quaisquer acesso a uma educação de
qualidade.
O português não-padrão é a língua da grande maioria pobre e dos analfabetos do nosso povo, [...]. É também, consequentemente, a língua das crianças pobres e carentes que frequentam as escolas públicas. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, marginalizadas, oprimidas pela terrível injustiça social que impera no Brasil- país que tem a pior distribuição da riqueza nacional em todo mundo-, o PNP é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. Ele é considerado “feio”, “deficiente”, “pobre”, “errado”, “rude”, “tosco”, “estropiado”. (BAGNO,1998, pag.28)
De acordo com ideia acima citada Bartoni - Ricardo (2004, p.34) afirma que:
No Brasil de hoje, os falares de maior prestígio são justamente os usados nas regiões economicamente mais ricas. (...) são fatores históricos, políticos e econômico que conferem o prestígio a certos dialetos ou variedades regionais e, consequentemente, alimentam rejeição e preconceito em relação a outros.
Segundo a autora os fatores econômicos vivenciados pelos alunos têm
grande influência na formação de sua linguagem e que essas diferenças no modo de
falar é o que gera a discriminação e preconceito na sociedade provocado por
aqueles se denominam falantes do português padrão.
Portanto, podemos inferir que o preconceito linguístico sofrido por
alunos nas instituições escolares tem relações intrínsecas com os fatores
socioeconômicos vivenciados por esses indivíduos e que a escola no seu
papel de socializadora tem o dever de procurar formas de amenizar a
problemática relacionada ao preconceito, elaborando ações que visem
integrar as diferentes variantes linguísticas dentro e fora do contexto escolar,
10
para que assim se amplie a visão dos alunos e até mesmo dos professores
com relação aos diferentes falares nas distintas situações comunicativas.
As instituições sociais fazem diferentes usos da linguagem oral: um cientista, um político, um religioso, um feirante, um repórter, um radialista, enfim todos aqueles que tomam a palavra par falar em voz alta, utilizam diferentes registros em razão das também diferentes instâncias nas quais essa prática se realiza. Cabe a escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, pag. 32)
Para Bagno (1999 p.18,19) valorizar a língua materna é evitar a discriminação
entre as variantes linguística existentes na escola, e proporcionar reflexão acerca do
problema para que a escola não seja um local de exclusão social. Mas que seja
acima de tudo um lugar de transformações positivas para a criança.
É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições estejam voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para planejarem suas políticas de ação junto a população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão. O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada na sala de aula é, em muitas situações, uma verdadeira “língua estrangeira” para o aluno que chega a escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no quotidiano é uma variedade de português não-padrão. (BAGNO,1999 p.18,19)
Diante deste contexto, o presente estudo tem como objetivo esclarecer que o
preconceito linguístico vivenciado por alunos e professores se dá pela falta de
conhecimento, principalmente com relação aos estudos linguísticos e
heterogeneidade da língua como fator social.
Diante da problemática existente, a escola e o professor de língua
portuguesa têm um papel decisivo a desempenhar no sentido de diminuir o
preconceito linguístico no ambiente escolar.
O presente estudo estrutura-se em três partes, a saber, a primeira consiste na
fundamentação teórica, onde se expõem as diversas opiniões de autores sobre o
preconceito linguístico incluindo neste contexto a opinião de órgãos governamentais
e de pesquisadores como Marcos Bagno, Stella Maris Bartoni-Ricardo, Rodolfo Ilari,
11
Renato Basso, Luiz Carlos Cagliari – Todos esses reconhecidos nos estudos da
sociolinguísticos e argumentam sobre as variações linguísticas atreladas ao
preconceito. Ainda no primeiro capítulo, fala-se sobre o preconceito linguísticos nas
escolas, desde as suas formas de manifestação bem como formas de se prevenir ou
amenizar a problemática existente.
O segundo momento, refere-se ao processo metodológico deste estudo, onde
se fará a análise e tabulação dos dados da pesquisa de campo realizada com
professores da escola Alberto da Silva Torres no município de Porto de Moz no
estado Pará, onde os resultados são apresentados em gráficos demonstrativos com
intuito de expor a opinião dos professores e alunos com relação as variantes
linguísticas e o preconceito linguístico.
E o terceiro e último capítulo, refere-se às considerações finais, onde se faz
uma abordagem geral do estudo, ressaltando os resultados da pesquisa em
contraste com a fundamentação teórica, as dificuldades encontradas na realização
deste estudo bem como soluções plausíveis para problemáticas encontradas no
decorrer da pesquisa reafirmando a postura da sociolinguística no que tange as
variantes linguísticas.
Com estudo desta temática esperamos contribuir de forma significativa para
que o português denominado de “não-padrão” passe ser visto não como uma língua
de pessoas que falam errado, mas sim, como uma variante linguística que se formou
pela dinamicidade da língua como fator social. Espera-se também conscientizar
professores e alunos sobre a importância de conhecermos as diferentes variantes
linguísticas dentro e fora do ambiente escolar, sobre a heterogeneidade da língua
afim de, eliminarmos ou pelo menos amenizarmos o preconceito linguístico.
12
2. O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
A palavra preconceito em seu sentido etimológico é formada pela
justaposição de dois vocábulos que segundo o Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa (2009) são prefixo latino “pre” (anterioridade, antecedência) mais
o substantivo “conceito” (opinião, reputação, julgamento, avaliação). Nesse
sentido poderíamos definir o preconceito como sendo um conceito concebido
antes de se ter os conhecimentos necessários; é a opinião formada de
maneira antecipada, sem maior ponderação.
Ainda nesta vertente o Dicionário Etimológico da Nova Fronteira (1998)
define a palavra preconceito como, “conceito ou opinião formados
antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos”, sendo
que a etimologia de preconceito na versão do dicionário é dada como sendo
“calcado no francês préconçu” (Cunha, 1998, p. 629).
Nesta mesma linha de pensamento Gadamer (1988 apud
SOUSA,,2010) afirma que preconceito significa um julgamento que é
formulado antes que todos os elementos que determinam uma situação
tenham sido examinados, ou seja, é um juízo de valor na qual se atribui a
determinada opinião ou ação, sem conhecer a fundo as circunstâncias da
situação ou estado do indivíduo.
Neste contexto, poderíamos incluir como preconceito, a aversão que
determinados grupos sociais ou indivíduos sofrem por pertencerem a uma
classe social “diferenciada” (determinado por sexo, cor, religião), poderíamos
também incluir outra modalidade de preconceito, o que denominamos de
preconceito linguístico, nosso principal objeto de estudo, que não deixa de ser
uma forma de exclusão social e que se tem discutido bastante sobre ele.
Na visão Scherre (2008 apud Abraçado 2008, p.12) o “[...] o
preconceito linguístico é mais precisamente o julgamento depreciativo, jocoso
e, consequentemente, humilhante da fala do outro[...]. O preconceito
linguístico tem a ver, essencialmente, com a língua falada.”
Marcos Bagno (2006) afirma que:
O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe [...] uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-
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gramática- dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente [...] (BAGNO 2006, p.40)
De modo simplificado poderíamos entender que o preconceito
linguístico, é na verdade qualquer ação de repúdio que alguém sofre por
utilizar uma variante linguística que foge do padrão aceito pela gramática
normativa ou por aqueles tomam uma variante linguística como padrão
nacional imutável. Nesse sentido Bagno (2007, p. 40), afirma que qualquer
manifestação linguística que foge da gramática normativa é considerada
“errada” ou “deficiente” e ainda é quase comum ouvirmos em nossa
sociedade a expressão de que a forma não-padrão “não é português”.
Na visão de Leite (2008, pag. 24) o preconceito linguístico é um tipo de
discriminação silenciosa e velada que o indivíduo pode ter em relação à
linguagem do outro: “é um não-gostar, um achar-feio ou achar-errado um uso
(ou uma língua), sem a discussão do contrário, daquilo que poderia configurar
o que viesse a ser o bonito ou correto”.
Desta forma:
Os preconceitos aparecem quando se considera uma especificidade como toda a realidade ou como um elemento superior a todos os outros. Neste caso, tudo o que é diferente é visto seja como inexistente, seja como inferior, feio, errado. A raiz do preconceito está na rejeição da alteridade ou na consideração das diferenças como patologia, erro, vício, etc.( FIORIN, 2000 apud MACHADO,2007, p.202)
Na visão do autor o preconceito se caracteriza pela rejeição de tudo
aquilo que é considerado diferente da norma padrão defendidas por
gramáticos, ou seja, qualquer variante linguística que foge da norma padrão
apregoadas nas escolas e nos livros didáticos como correto, é considerada
errada e portanto sujeita a uma ação de repúdio.
É importante frisar que objetivo da discussão não é dizer que qualquer
manifestação linguística deva ser aceita incondicionalmente o uso ou não de
certas formas linguísticas vai depender da situação de comunicação. Não é
que defendemos um vale tudo na língua portuguesa como já afirmavam Fiorin
(2009), devemos analisar o contexto da situação afim de atribuirmos um juízo
de valor.
A consciência de que, dependendo do contexto, faz-se necessário
adequarmos nossa linguagem deve estar bem clara ao aluno. Nesse sentido
14
o professor e a escola tem o dever de orientar seus educandos a dominarem
as diversas variações linguísticas, e elucidar que embora a escola não
discrimine o seu modo de falar, estes devem procurar dominar outras
variantes. Desta forma
O mais importante é que o aluno possa vir a dominar efetivamente o maior número possível de regras, isto é, que se torne capaz de expressar-se nas mais diversas circunstâncias, segundo as experiências e convenções dessas circunstâncias. Nesse sentido, o papel da escola não é o de ensinar uma variedade no lugar da outra, mas de criar condições para que os alunos aprendam também as variedades que não conhecem. (POSSENTI, 1996, p.82-83)
Ainda neste pensamento Bagno (2007: 129-130,): defende que na
verdade, em termos de língua, tudo vale alguma coisa, mas esse valor vai
depender de uma série de fatores. Falar gíria vale? Claro que vale: no lugar
certo, no contexto adequado, com as pessoas certas.
Por tanto, dominar bem a língua portuguesa não consiste
simplesmente em dominar as flexões e as demais regras existentes, mas em
encontrar um equilíbrio entre as diferente variantes, seja na modalidade oral
ou escrita, o falante tem que encontrar o ponto de aceitabilidade e
adequabilidade de sua variante.
Nesse sentido:
É totalmente inadequado, por exemplo, fazer uma palestra num congresso científico usando gírias, expressões marcadamente regionais, palavrões etc. A plateia dificilmente aceitará isso. É claro que se o objetivo do palestrante for precisamente chocar seus ouvintes, aquela linguagem será muito adequada... Não é adequado que um agrônomo se dirija a um lavrador analfabeto usando uma terminologia altamente técnica e especializada, a menos que queira não se fazer entender. Como sempre, tudo vai depender de quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por quê... (BAGNO, 2007: 130-131)
Por fim, se o preconceito linguístico é concebido como um problema
social, gerado a partir da utilização de uma variante linguística denominada
como “errada” ou “deficiente” pela gramática ou pela mídia, faz-se necessário
então à adoção de políticas educacionais que possam prevenir ou amenizar a
problemática, ora existente não só no ambiente escolar, mas também no seio
da sociedade.
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2.1 PRECONCEITO LINGUÍSTICO NAS ESCOLAS.
Embora tenhamos vivenciado mudanças socioculturais na atualidade
com relação ao preconceito linguístico nas escolas brasileiras, ainda é
possível perceber uma resistência para aceitar as variedades linguísticas
diferentes da denominada e aceita como variante padrão.
De acordo com Bagno (2006) o preconceito linguístico está
fundamentado na ideia fixa de que só existe uma única língua portuguesa
digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas
gramáticas e catalogadas nos dicionários, ou seja, a língua nesse caso é
concebida como fenômeno homogêneo e não como realmente é,
heterogênea.
Estudos apontam que a grande parcela dos alunos que sofrem o
preconceito linguístico nas escolas e fora dela são em sua maioria oriundos
de classes sociais menos favorecidas ou de localidades onde o acesso à
educação de qualidade foi deficitária, fato que os leva, a utilizarem uma
variante linguística diferente da concebida como correta pela norma padrão,
regida pela gramática normativa.
A linguista, Scherre (2008 apud Abraçado 2008, p.12) discorre que:
“[...] as variedades linguísticas mais sujeitas a preconceito linguístico são
normalmente, as que possuem características associadas a grupos de
pessoas desfavorecidas na escala social ou a grupos de pessoas da área
rural ou do interior do país”. A autora afirma ainda que é frequente, a questão
do preconceito pela variação diatópica, que se baseia nas diferenças
geográficas, ou seja, nos sotaques de diferentes regiões, como por exemplo,
a da região nordeste, mais conhecida como “caipirês”.
Quando estes alunos adentram a um ambiente onde as diversas
culturas se intercalam e estes trazem consigo traços de suas culturas
inclusive o modo de falar estes alunos passam a ser vistos como pessoas que
não sabem falar direito e que devem ser ensinados pelos que dominam a
norma padrão, inclusive por professores.
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Nesse sentido, Santos e Gomes (2014) afirmam que a maiorias dos
defensores da gramática.
Firmam-se no, pois, num ponto de vista de que, quando o falante não
se expressa de acordo com o que está descrito e prescrito na norma
gramatical comete “erro”, entretanto o que eles analisam como erro,
desvio da norma, são, em verdade, variações de fala, e não erros,
uma vez que só existe o chamado erro linguístico, na medida em que
o outro falante, no papel de interlocutor, não entende o que está
sendo lhe comunicando. (SANTOS E GOMES, 2014)
Na visão do autor, o que defensores da gramática normativa analisam
como uma sentença errada, na verdade não é um erro, mas um desvio da
norma padrão, errado seria se a mensagem não fosse compreendida pelos
seus interlocutores, neste caso sim, haveria um erro, pois a função essencial
da língua é a comunicação, havendo comunicação mesmo utilizando-se de
uma outra variante, a sentença do ponto de vista linguístico é válida.
Mesmo conhecendo os estudos linguísticos com relação às variantes,
ainda é comum em algumas escolas o constrangimento constante aos alunos
que utilizam uma variante linguística diferente da norma padrão, sendo que
estas situações em muitos casos, partem dos próprios professores.
A escola como promotora do ator de educar deve respeitar as variantes
linguísticas que o aluno utiliza para interagir, mas também tem o dever de
ensinar a norma padrão, não como imposição da classe dominante, nem
como uma possibilidade de ascensão social, mas com outros objetivos que é
o de aluno adquirir todas as competências linguísticas para se expressar
através da variante padrão da língua portuguesa em todas as ocasiões
necessárias.
Desse modo é preciso refletir que:
Em primeiro lugar, uma escola transformadora não aceita a rejeição dos dialetos dos alunos pertencentes às camadas populares, não apenas por eles serem tão expressivos e lógicos quanto o dialeto de prestígio (argumento em que se fundamenta a proposta da teoria das diferenças linguísticas), mas também, e sobretudo, porque essa rejeição teria um caráter político inaceitável, pois significaria uma rejeição da classe social, através da rejeição de sua linguagem. Em segundo lugar, uma escola transformadora atribui ao bidialetalismo a função não de adequação do aluno às exigências da estrutura social, como faz a teoria das diferenças
17
linguísticas, mas a de instrumentalização do aluno, para que adquira condições de participação na luta contra desigualdades inerentes a essa estrutura. (SOARES, 1980, p.74)
Portanto é dever da escola, proporcionar aos seus educandos
oportunidades, que intercalem as diferentes variantes linguísticas na
comunicação dentro e fora da sala de aula, mas para que isto aconteça é
necessário que professores e colaboradores tenham ciências da problemática
existente em seu ambiente escolar, para que assim as ações pedagógicas
possam ter objetivos e metas reais.
Segundo Bagno (1997)
O objetivo da escola, no que diz respeito à língua, é formar cidadãos capazes de se exprimir de modo adequado e competente, oralmente e por escrito, para que possam se inserir de pleno direito na sociedade e ajudar na construção e na transformação dessa sociedade. (BAGNO,1997)
Ainda com relação ao papel da escola, Bortoni-Ricardo (2005 apud
VALADARES, 2010) afirma que a escola não pode ignorar as diferenças
sociolinguísticas, sendo que os professores — e, por meio deles, os alunos —
têm de estar bem conscientes de que existem duas ou mais maneiras de
dizer a mesma coisa. E mais, que essas formas alternativas servem a
propósitos comunicativos distintos e são recebidas de maneira diferenciada
pela sociedade.
Para fins de complementação, Santos (2002, p. 42) apresenta mais
características de como deveria ser essa adequação: “[...] o aluno deve
conhecer que variedade é apropriada a cada situação comunicativa, como
fazer a adequação do registro de língua, quando deve falar ou calar-se. Como
controlar os gestos de acordo com os atos da fala, etc.”
Desse modo, poderíamos entender que os que compreendemos
muitas das vezes como erros na verdade são inadequações da linguagem, ou
seja, seria o uso de uma variante em situações comunicativa que
necessitasse de outra.
As variedades não são erros, mas diferenças. Não existe erro linguístico. O que há são inadequações de linguagem, que consistem não no uso de uma variedade em vez de outra, mas no uso de uma variedade em vez de outra numa situação em que as regras sociais não abonam aquela forma de sala. (GERALDI, 1997, p.52)
18
Faz-se necessário que a escola e todas as instituições de ensino,
reconheçam a diversidade linguística presente em nosso país, abandone o
mito da unidade do português brasileiro e aceitem as variantes linguísticas
presentes no âmbito escolar ou da comunidade. E mais, é importante que os
alunos passem a reconhecer a importância e a necessidade de estudar sua
língua materna, mas estudá-la de forma relativa à realidade e não de forma
utópica como tem sido feita, focalizando apenas em uma variedade da língua.
2.3 FORMAS DE PREVENIR E AMENIZAR O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
NA ESCOLA
Diante das exposições, nas sessões anteriores, é possível
compreender que o preconceito linguística se firma na falta de informação
sobre a dinamicidade da língua, foi possível também compreendermos que
não existe língua errada ou certa, o que na verdade existe são linguagens
diferentes em contextos diversificados.
Vimos que as escolas ainda não se livraram de alguns mitos com
relação língua portuguesa e como consequência, continuam reproduzindo o
preconceito contra aqueles que fazem parte das classes menos favorecidas e
que utilizam variantes denominadas por alguns como “errada”:
Por sua vez neste tópico iremos apontar algumas alternativas que
podem corroborar para a diminuição ou prevenção do preconceito linguístico
em nossas escolas, e tentar conscientizar nossos educadores e educandos a
respeito das variantes linguísticas existentes.
É importante ressaltar que o objetivo não é menosprezar a variante
denominada de padrão, ensinada em nossas escolas, mas sim propiciar aos
alunos a oportunidades de conhecerem as diversas variantes para que em
situações comunicativas possam utilizar a que mais se adequa a situação.
Considerando o fato de que é necessário que as escolas ensinem ou
propiciem a oportunidade aos seus educandos de terem acesso a norma culta
é essencial que se ensine de forma correta, orientando que o uso dessa
19
variante é importante sim, principalmente no âmbito do trabalho e nos meios
de comunicação.
Nesse sentido Ramos (1997, p. 6), afirma; para que os alunos tenham
acesso a linguagem culta é necessário ter contato com essas pessoas que
falam essa língua através de textos e linguagens diversas, consultando
jornais, revistas, ciência, música, literatura etc. Deve-se ler e incentivar a ler
de tudo.
Conforme explicitado, cada falante se expressa de acordo com
variantes que aprendeu no seu convívio social, cabe ao professor orientar
seus discente a dominarem as diversas variantes para que assim em
situações comunicativas diversificadas possam utilizar a que melhor se
adéqua ao momento.
Na verdade, o que está em jogo não e dizer que esta ou aquela variedade De língua é melhor, pois todas são válidas e utilizadas dependendo do contexto de fala. Todas as pessoas podem utilizar a linguagem uma hora formal, outra informal, pois ninguém e perfeito a ponto de utilizar sempre uma só linguagem. Aliás, por perfeição, aqui, no âmbito da comunicação, devem entender-se justamente a não homogeneidade ou fixação em uma forma única de expressão linguística. (SOUZA,2010, p.42)
No intuito de inserir os alunos no universo das variantes linguísticas os
professores podem, proporcionar aos seus alunos o contato com outras
variantes através de atividades de teatro reforçando os dialetos e sotaques
nordestinos e outras regiões do Brasil, novelas, música popular, filmes,
depoimentos, romances e poesias.
Dessa forma, de acordo com os PCNs (1998) é através dessas opções
que os alunos podem analisar e refletir sobre a forca expressiva da linguagem
popular na comunicação cotidiana e por certo erradicar o preconceito
linguístico com as demais variantes uma vez que os mesmos tem acesso a
elas e podem concebê-las como nuances da língua portuguesa.
O professor precisa mostrar aos seus alunos que as variedades
linguísticas utilizadas em situações menos favorecidas são tão ricas quanto
às demais, e que podem ser usadas por eles de acordo com o contexto de
fala. É preciso orienta-los a conviver com as diferenças que é a partir do
conhecimento sobre a situação ou fato, que ocorre a aceitação e por certo o
fim do preconceito.
20
Por serem estigmatizadas, estas últimas devem ser tratadas na escola com naturalidade e “traduzidas” por formas do dialeto padrão. E é exatamente por seu peso social que seria importante o professor estar atento a elas, de modo a evitar que sua atitude de rejeição se manifeste (RAMOS, 1997, p.11).
Ainda com relação a posição do professor frente a orientação, Cagliari
(2007, p. 82 apud SOUZA, p.41) sugere aos docentes trabalhar com os
alunos em sala de aula sobre o que vem a ser variedades linguísticas,
mostrando a estes as diferentes formas de utilização da fala, os preconceitos
que ocorrem com algumas variedades e as consequências desse
preconceito. Dessa forma, segundo o autor, os alunos irão encarar esse
fenômeno variação passando a ter um comportamento social crítico e mais
adequado com relação às diferenças linguísticas.
3. METODOLOGIA
3.1 Descrição do ambiente de pesquisa
A pesquisa de campo realizou-se com os professores e alunos do 6º ao
9º ano, do ensino fundamental da Escola Municipal de Ensino Fundamental
Alberto da Silva Torres, no município de Porto de Moz no estado do Pará. A
escola atende a um público diversificado, tanto moradores da comunidade
como de outras vilas adjacentes e comtempla as modalidades do Ensino
Fundamental a Educação de Jovens e Adultos.
A referida instituição foi construída em 2011 pelo governo municipal em
parceria com o governo Federal no modelo de escolas polos. A instituição
atende em três turnos manhã, tarde e noite, com um total de 333 alunos, 12
turmas formadas por idades e/ ou rendimento, com critério de avaliação e
classificação para alunos sem escolaridade anterior em conformidade com as
leis da LDB. A escola ainda conta com uma equipe pedagógica formada pelo
coordenador geral e por uma coordenadora pedagógica que são escolhidos
pelo gestor municipal.
21
A estrutura física da escola é composta por 06 salas de aula, 01 sala
de diretoria, 01 sala dos professores, 01 laboratório de informática, 01 quadra
de esporte coberta além da área de serviços como refeitório, cozinha,
banheiros.
É importante frisar que a instituição foi escolhida em função de ser a
única escola da comunidade e também por terem sido nela desenvolvidos os
projeto de estágio.
3.2 Perfis dos participantes
O trabalho de investigação foi realizado com 5 (cinco) professores na
qual dentre os entrevistados 2 (dois) professores são de língua portuguesa e
os demais de outras disciplinas (História, Estudos Amazônicos e Geografia).
A maioria dos professores entrevistados concluíram sua a formação superior
em 2007 em uma turma de formação de professores, com habilitação em
Letras ou Pedagogia pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA) e
pós-graduação em gestão escolar pelo Instituto de Teologia Aplicada (INTA),
outra parcela dos professores possuem como escolaridade o antigo ensino
médio normal (magistério).
Outro grupo participantes desta pesquisa, são os alunos do 6º ao 9º
ano do ensino fundamental II na qual foi tomado na amostragem 10 (dez)
alunos das respectivas series. Os discentes entrevistados são moradores da
localidade e de vilas ribeirinhas adjacentes, filhos de agricultores, pescadores
e comerciantes locais, sendo que a maioria dos pais destes alunos não
concluíram o ensino fundamental II conforme dados da escola. Boa parte
desses são assistidos por programas sociais do governo como bolsa família e
seguro defeso.
3.3 Instrumentos da pesquisa
Esta pesquisa foi desenvolvida em duas etapas distintas: o
levantamento bibliográfico e a pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica foi
feita em livros por meio de leituras orientadas, revistas, artigos em revistas
eletrônicas, entre outros, com objetivo de coletar um maior número possível
22
de informações sobre a temática para que assim o estudo tivesse o respaldo
de teóricos reconhecidos no mundo acadêmico. Para Carvalho (2000) “a
pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de
fontes diversas de informação escrita, para coletar dados gerais ou
específicos a respeito de determinado tema”
Em relação à pesquisa de campo, a mesma foi realizada em uma
escola na zona rural do município de Porto de Moz no estado do Pará, com
professores e alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. A pesquisa de
campo dividiu-se em três etapas distintas, sendo a observação nas aulas e
nos corredores da escola, entrevistas com professores de diversas disciplinas
e com um grupo de alunos.
Conforme Gil (1999, p. 72) “[...] no estudo de campo, estuda-se um
único grupo em determinada comunidade, em termos de sua estrutura social,
ou seja, ressaltando a interação de seus componentes. [...]”. Assim, o estudo
de campo tende a utilizar muito mais técnicas de observação do que de
interrogação.
Destaque-se que as perguntas do presente estudo tiveram como
objetivo saber dos professores de que forma lidam com o preconceito
linguísticos no ambiente escolar.
3.4 Método de análise
Esta pesquisa, insere-se em uma abordagem qualitativa de cunho
descritivo uma vez que foi observado, registrado, analisado os fatos e os
fenômenos sem quaisquer manipulações. Para Goldengerg (2000, p. 53) “Os
dados qualitativos consistem em descrições detalhadas de situações com o
objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos.”
Conforme Rapazzo, (2004, p. 58) “[...] a qualitativa busca uma
compreensão particular daquilo que estuda: o foco da sua atenção é
centralizado no específico, no peculiar, no individual, almejando
23
sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos
estudados. [...]” Acrescenta ainda, a esse respeito:
Os dados da pesquisa qualitativa não são coisas isoladas, acontecimentos fixos, captados em um instante de observação. Eles se dão em um contexto fluente de relações: são “fenômenos” que não se restringem às percepções sensíveis e aparentes, mas se manifestam em uma complexidade de posições, de revelações e de ocultamentos. Na pesquisa qualitativa todos os fenômenos são igualmente importantes e preciosos: a constância das manifestações e sua ocasionalidade, a frequência e a interrupção, a fala e o silêncio. Procura-se compreender a experiência que todos os “sujeitos” têm. (RAPAZZO, 2012, p. 58)
Por isso, comenta que o objetivo da pesquisa qualitativa na sala de
aula, é desvendamento dos problemas ora escondidos, que muitas vezes por
serem rotineiros passam desapercebidos para os atores que deles participam.
3.5 Análise dos Dados e Discussão
Nesta seção, analisaram-se os dados obtidos na pesquisa de campo
confrontando os resultados com as opiniões dos autores que discutem a
temática e também transcrevendo as falas dos entrevistados. Na visão de
Carvalho (2000) a análise de dados é “[...] a etapa de classificação e
organização das informações coletadas, tendo em vista os objetivos do
trabalho.[...]” Já para Best (1972 apud Lakatos, 2010) “representa a aplicação
lógica dedutiva e indutiva do processo de investigação”.
É importante frisar que as entrevistas para este estudo ocorreram de
forma separada em dias diferentes para que o professor ou aluno pudesse
nos fornece sua real opinião sem interferência de opiniões alheias.
Com relação a entrevistas Lakatos, (1992) afirma que:
É um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação
de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação
social, para a coleta dedados ou para ajudar no diagnóstico ou no
tratamento de um problema social. (LAKATOS, 1992, p. 195).
24
Após a coleta dos dados foi realizada tabulação dos mesmos para que
se pudessem averiguar os resultados obtidos.
A primeira pergunta feita aos professores, foi com relação a suas
formações acadêmicas, onde obtivemos os seguintes resultados: 95% dos
professores possuem o nível superior com formação em Letras e Pedagogia e
com especialização em Gestão Escolar e Metodologia do Ensino Superior,
somente 5% não possuem um curso superior, apenas formação no
magistério.
GRÁFICO 1–Qual sua formação?
Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)
É importante observar neste contexto a formação deste profissional
para entender melhor a dinâmica do ensino, se estes profissionais possuem
habilidade para lidar com a diversidade linguísticas dentro do contexto
escolar.
A primeira pergunta aos professores foi com relação se estes
consideravam a linguagem denominada de “padrão” como única correta e a
única a ser usada nas escolas? Obtivemos os seguintes resultados: 16% dos
professores afirmaram que consideravam a língua padrão como única correta
e a que deveria ser ensinada nas escolas. É interessante observar que os
que afirmaram tal concepção apresentavam uma formação acadêmica inferior
95%
5%
FORMAÇÃO SUPERIOR
SEM FORMAÇÃO
25
aos demais, enquanto que 84% afirmaram que não consideravam a única
correta e que as demais variantes deveriam também ser comtempladas no
currículo escolar do professor.
GRÁFICO 2 –Você considera a linguagem padrão como a única correta e a única que deve ser ensinada nas escola?
Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)
O professor precisa estar ciente quanto ao processo de variação da
língua pois cabe a ele a orientação a ser dada aos discentes quanto as
diversas possibilidades no processo da fala, é preciso antes reconhecer que
não existe uma única forma de falar invariável, mas que podem existem
diferentes possibilidades de se dizer uma mesma coisa.
Quando perguntado aos entrevistados sobre qual o seu conhecimento
sobre o preconceito linguístico? Obtivemos os seguintes resultados: 78% dos
professores afirmaram desconhecer a problemática, 20% afirmaram que
conhecer o tema e 2% já ouviu falar, mas não atentaram para o tema. Foi
verificado na pesquisa que os professores com maior grau de escolaridade,
demonstraram um conhecimento mais avançado em relação as variações da
língua e por certo o preconceito linguístico mas segundo os mesmo poucos
foram as ações para coibir tal prática.
16%
84%
Considero única correta
Não considero a única cor-reta
26
GRÁFICO 3 –Você já ouviu falar em preconceito linguístico?
Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)
Uma das dificuldades relacionadas ao combate do preconceito
linguístico nas escolas é a falta de informação, até mesmo dos professores,
alguns ainda presos a um método totalmente arcaico tem a gramática
normativa como divisor entre falar “certo” e falar “errado”. Urge neste
momento a implementação de políticas educacionais que visem esclarecer a
professores e alunos para a problemática.
De acordo Carneiro e Dodge (2007, p.91):
Para que uma prática se torne uma realidade na escola, é preciso mudar a visão dos estabelecimentos a respeito dessa ação e a maneira como entendem o currículo. Isso demanda uma transformação que necessita de um corpo docente capacitado e adequadamente instruído para refletir e alterar suas práticas. Envolve, para tanto, uma mudança de postura e disposição para muito trabalho.
Segundo os entrevistados:
‘Eu nunca ouvir falar sobre esse tal preconceito linguístico, isso é mais um termo que inventaram pra gente estudar, já ouvir falar sobre o racismo e sobre homofobia que ta tão divulgado na televisão, mas agora sobre esse preconceito linguístico não ouvir falar não, mas o que isso mesmo?” (INFORMANTE P1, há 08 anos trabalhando na educação)
“olha que já ouvir falar sim, sobre o preconceito linguístico em uma revista aqui na escola, acho que é a discriminação com as pessoas que falam errado, tipo a galera do interior que fala “parmada” ao invés de “palmada”
20%
78%
2%
Já ouviu falar
Nunca ouviu falar
Ouviu Falar mas não aten-tou para o tema
27
tipo isso aí não tem muita informação, mas acredito que seja isso, é (INFORMANTE P02, há 12 anos na educação básica)
Na terceira questão foi perguntado ao professor, se ele corrigia seus
alunos quando estes falavam “diferente” ou alguma palavra de forma “errada”,
no questionamento. Obteve-se os seguintes dados, na qual 90% afirmaram
que sim e 10% afirmaram que não.
GRÁFICO 4 – Você corrige seu aluno quando fala diferente ou uma palavra de forma “errada” ?
Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)
E importante que o professor fique atento ao modo de falar de seu
aluno, e por certo orientá-lo quanto ao uso correto das variantes em situações
comunicativas diversificada. O docente não pode simplesmente dizer ao
aluno que ele está falando errado, ele precisa orientá-lo quanto ao uso correto
das variantes.
“Olha na hora da leitura, chamo a atenção deles, ou quando às vezes eu peço a opinião deles e eles falam errado eu corrijo, acho que é a função do professor fazer, se não vão dizer por aí, teu professor não te ensinar falar direito não?.”.( INFORMANTE P03,há 10 anos na educação).
Nesta perspectiva os PCNS (1997) afirmam que:
A questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber
90%
10%
SIM NÃO
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adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa. É saber, portanto, quais variedades e registros da língua oral são pertinentes em função da interação comunicativa, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido. (PCNs, 1997, p. 32)
Na quarta questão, foi perguntado aos professores se eles trabalhavam
as variantes linguísticas em sala de aula, utilizando os gêneros textuais, 98%
afirmaram que não, 2% afirmaram que já falaram sobre o tema em suas
aulas.
GRÁFICO 5- Você trabalha as variantes linguísticas em sala de aula?
Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)
Uma das alternativas que podem surtir efeito no combate do
preconceito linguístico é a ação de professores compromissados com o
ensino, o professor principalmente de línguas precisa trabalhar as variantes
linguísticas em suas aulas, seja através de poesias, músicas ou teatros mas
que as ações possam elucidar seus alunos quanto os nuances de nossa
língua, o aluno precisa entender que as variações são formas de se dizer
algo, mas de outra forma.
Nesse sentido Bartoni-Ricardo (2005) elucida que:
2%
98%
SIM
NÃO
29
A escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. Os professores e, por meio deles, os alunos têm que estar bem conscientes de existem duas ou mais maneiras de se dizer a mesma coisa.
Com relação à entrevista com os alunos foi possível analisar suas
repostas e selecionar algumas delas a fim de elucidar a real situação do
preconceito linguístico o ambiente escolar e fora dele também. Foi
perguntado se os mesmos já sofreram algum tipo preconceito quando falaram
uma palavra diferente em frente aos colegas ou do professor. Dos 10 alunos
entrevistados, 82% afirmaram que sim, 18% responderam que não.
GRÁFICO 6- Você já sofreu preconceito por falar “diferente” ou por considerarem que você falou alguma palavra “errada”?
Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)
É real a situação do preconceito linguístico em nossas escolas, a
mentalidade enraizada pela gramática normativa de que todo mundo que fala
de maneira que foge os padrões por ela apregoados é errado ainda e permeia
na mente não só de nossos alunos, mas também de boas partes de nossos
professores, mas para que se possa reverter esse quadro são necessárias
medidas, que proporcionem aos professores e alunos o acesso a informação
sobre a heterogeneidade da língua que permite que variantes coexistam
como modalidades de comunicação não menos importante que a “variante
padrão” que possuem regras linguísticas que permitem que uma mensagem
seja compreendidas por seus interlocutores.
82%
18%
SIMNÃO
30
“Olha eu acho que sofri preconceito sim, dia desse eu falei assim
“professora depois da aula nos vai pescar com o papai” a professora
falou na frente dos colegas, “não é assim que se fala, é “nós vamos
pescar com o papai”, fiquei com um pouco de vergonha por que os
moleques ficaram toda hora dizendo “ei, nois vai”, fiquei ate bravo, aí
a professora falou para eles pararem.” (INFORMANTE A01, alunos do
8º ano)
Um outro questionamento feito aos alunos foi como eles se sentiam
quando o professor ou colega lhes corrigiam em frente aos demais. Nessa
pergunta, obtivemos os seguintes resultados, 75% dos alunos afirmaram que,
sentiam-se constrangido, 20% argumentaram que não se sentiam
constrangido com os comentários dos colegas ou do professor e 5%
afirmaram que as vezes se constrangiam, se no meio do grupo tivessem
pessoas desconhecidas.
GRÁFICO 6- Você se sente constrangido quando o professor ou colega lhe corrigi em frente aos demais ?
Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)
A maioria dos professores e alunos ainda estão presos a uma
concepção de língua homogênea, e ao se depararem com uma variantes
dentro do contexto escolar ou fora dele, tacham como “erro” e portanto de
75%
20%
5%
SE CONSTRANGIAMNÃO SE CONSTRANGIAMAS VEZES SE CONSTRANGIAM
31
modo automática tentam corrigir, como se fosse algo errado, isso faz com que
as pessoas que estão sendo corrigidas se constranjam ou até mesmo evitem
dar suas opiniões com medo de falar uma palavra ou expressão que seja
considerada errada.
Diante do resultado é possível refletir sobre a real situação do
preconceito linguístico, visto que a existência deste problema tem como um
dos fatores preponderante a falta de informação, tanto por parte de
professores quanto de alunos, urge então medidas educativas que visem
sanar essas deficiências de informação para que assim este problema ora
social possa ser eliminado de nossas escolas e por certo da sociedade.
32
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, tratou-se do preconceito linguístico, como um problema social
que deve ser combatido sobre tudo no ambiente escolar, embora as escolas
brasileiras ainda se baseiem em um ensino tradicionalista, que se alimenta de um
sistema propício ao surgimento do preconceito linguístico, é possível mudar essa
imagem, mas para que isto aconteça, faz-se necessário a adoção de medidas que
envolvam ações pedagógicas reais, que priorizem um ensino inovador e não mais
tradicionalista, um método de ensino que possa convergir os diferentes falares e
apontamentos para que os alunos possam ser compreendidos e compreenderem em
relação à dinamicidade da língua portuguesa.
Almeja-se com este estudo, um novo norte em relação ao tratamento
dos alunos que utilizam de variantes locais e que possam ser compreendidos
e não mais inibidos com relação a suas falas, pois sendo vítimas do
preconceito linguístico, os alunos são acometidos de sentimentos e
sensações negativas que diminuem sua autoestima e motivação para querer
aprender e participar das aulas, se transformando em indivíduos com
complexo de inferioridade, o que pode atrapalhar no crescimento intelectual e
profissional dos indivíduos.
Portanto, pode-se concluir que, o preconceito linguístico pode e deve
ser combatido nas escolas brasileiras, urge então a necessidade de
professores determinados possam trabalhar essas peculiaridades da língua
de forma dinâmica, trabalhando as variantes em sala de aula, integrando o
aluno com os diversos falares.
33
5. REFERÊNCIAS
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HOUAISS, A. [et all]. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
34
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ANEXO– QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA DE CAMPO
Lócus da Pesquisa: E.M.E.F ALBERTO DA SILVA TORRES
VILA TAPARÁ / PORTO DE MOZ –PA
Sujeitos da Pesquisa: Professores e Alunos
Turmas: 6º ao 9º ano
Professor / Aluno (a):_________________________________________ Sexo M ( )
F ( )
Obs: Caro professor e aluno as informações aqui descritas serão utilizadas no trabalho
acadêmico sem que seus nomes sejam mencionados
1ª Professor você tem formação superior ?Se tem qual ?
2ª Você considera a linguagem padrão como a única correta e a única que deve ser
ensinada nas escolas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________________________________
3ª Você já ouviu falar em preconceito linguístico?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________________________________
4ª Você corrige seu aluno quando fala diferente ou uma palavra de forma “errada” ?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________________________________
5ª Você trabalha as variantes linguísticas em sala de aula??
Discentes
6ª Você já sofreu preconceito por falar “diferente” ou por considerarem que você falou alguma palavra “errada?