O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf ·...

22
KALEVALA ELIAS LÖNNROT Desenhos ROGÉRIO RIBEIRO T MERJA DE MATTOS-PARREIRA ANA ISABEL SOARES O POEMA ÉPICO FINLANDÊS

Transcript of O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf ·...

Page 1: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

KALEVALAELIAS LÖNNROT

DesenhosROGÉRIO RIBEIRO

TMERJA DE MATTOS-PARREIRAANA ISABEL SOARES

O POEMA ÉPICO FINLANDÊS

Page 2: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRESENTE EDIÇÃO

MERJA DE MATTOS-PARREIRAANA ISABEL SOARES

Page 3: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

O livro que agora se edita é fruto de quatro anos de intenso trabalho de leitura, estudo e conhecimento da epopeia Kalevala. Durante esse tempo, pudemos tomar contacto mais aprofundado com a cultura que originou os poemas, com o que resta das múltiplas tradições que representam e com o seu significado para o mundo finlandês de hoje. Seria demasiado exaustivo – e enfadonho – listar cada uma das dificuldades encontradas ao longo processo, das descobertas feitas, da satisfação de um verso. Porém, consideramos de alguma utilidade referir aspectos que se foram tornando presentes à medida que nos embrenhávamos no texto, nas imagens e nas culturas de Kalevala. Não se trata de informação essencial à compreensão, nem à simples fruição da leitura destes versos – para tal, é claramente dispensável. Mas o seu registo poderá complementar a surpresa, clarificar diferenças e, esperamos, espicaçar curiosidades.

O poema épico Kalevala resulta de uma recolha feita pelo médico Elias Lönn-rot de canções, fórmulas e histórias da tradição oral da zona da Carélia, actual sudeste da Finlândia e sudoeste da Rússia. Uma primeira versão desta recolha foi apresentada em 1833. Em 1849, já depois de uma segunda edição, o poema foi revisto e publicada a terceira versão definitiva – Kalevala de 1849 –, assim conhecida internacionalmente e que serviu de base à presente tradução. Seguimos de perto o texto fixado nessa terceira edição, até no que à separação das estrofes

Page 4: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

diz respeito – daí, por exemplo, a inclusão de asteriscos entre determinados cantos ou parcelas de cantos, sem que haja necessariamente alteração de cenário da acção ou de personagens.

O finlandês em que os versos de Kalevala foi fixado no século XIX não corres-pondia com precisão à língua corrente de Lönnrot: trata-se de uma linguagem trabalhada, mudada nos seus aspectos já complexos para uma hibridez poética que sublinha essa complexidade e a torna ao mesmo tempo sedutora e distante. Um dos modos de acentuar tal distância e apelo são os seus profundos traços de iconicidade, a sua relação de proximidade com referentes, mais ou menos simbólicos da cultura finlandesa, visíveis, por exemplo, nas muitas onomatopeias presentes ao longo do texto. A ideia geral desta iconicidade faz com que não se encontrem muitas vezes sentidos exactos transmissíveis através de expressões frásicas claras apenas nas pa-lavras que as constituem, mas em vez disso a valorização permanente dos aspectos sonoros, rítmicos, musicais, do texto.

A linguagem de Kalevala, mais ainda do que o finlandês actual, abunda em palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical, rítmica, dos versos, oferece ao leitor uma profusão de sons enraizados nos ruídos da natureza: referências aos elementos naturais, como a trovoada, os ventos, o tropel dos cavalos ou o riscar dos trenós no gelo e na neve, fazem produzir sons que se aproximam das palavras que os designam. Ora, precisamente essa riqueza formal e melódica foi o que se transformou no desafio maior, durante o nosso trabalho de tradução da epopeia para a língua portuguesa. A escassez na língua portuguesa, relativamente ao finlandês, daquele vocabulário de onomatopeias (verbos de som das aves, dos ruídos de instrumentos caseiros, etc), assim como dos verbos de ac-ções comuns (tão comuns como «caminhar» ou «andar») ou de nomes de objectos do dia-a-dia (como o trenó ou o tear, mais as peças que os compõem) dificultou, mas ao mesmo tempo estimulou a procura de correspondentes fórmulas ritmica-mente plenas e narrativamente claras, que dessem conta do fio da acção, da riqueza de cenários e personagens e da complexidade das intrigas, enquanto permitissem ao leitor lusófono uma leitura fluida. Sempre que sentimos necessário, acescenta-mos em nota, no final do livro, informações sobre os nomes próprios e a sua relação com os elementos naturais, a mitologia, ou o contexto do uso actual de uma expres-são em finlandês. Foi também para as notas que remetemos as designações latinas das espécies animais e vegetais referidas no poema, sempre indicadas em itálico. Se

Page 5: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

a nossa escolha tiver pecado por menos literal - ou por menos poética -, poderão ali os leitores saber que espécie se refere através de determinado nome; para tal, foram-nos essenciais os dicionários de inglês-finlandês-inglês, organizados por Raija Hurme, Riitta-Leena Malin, Olli Syväoja e Maritta Pesonen.

O finlandês distancia-se ainda do português não apenas por não ser uma língua latina, mas por não integrar sequer a grande família de línguas indo-europeias em que a língua portuguesa se inclui. Na sua origem, é aparentado com línguas do Oriente Próximo (o grupo de línguas Urálicas) – os seus familiares geograficamen-te mais chegados são o estoniano e o húngaro. Este carácter distante está presente ao nível não só do léxico mas, como se disse, de outros aspectos linguísticos rele-vantes. Muitos versos há em que as acções descrtias sucedem sem agentividade humana: o trenó anda, o caminho corre: «correm cavalo e caminho, / o trenó ligei-ro, curta a viagem. / Depressa à aldeia veio: / três caminhos se cruzavam». Estes versos do Canto VIII deixam perceber o carácter animista da cultura xamã presente na epopeia: gramaticalmente, não existe um agente humano expresso e todas as acções, de grande movimento, são protagonizadas, quase de forma automática, pelos elementos ou objectos. Em finlandês, através das declinações casuais (no fin-landês contemporâneo são dezasseis os casos em que um nome ou um adjectivo pode ser declinado), podem construir-se frases completas sem verbo, o que em português dificilmente se consegue – só por si, esta diferença linguística colocaria problemas na transposição entre as duas línguas.

Estes pormenores apenas dão conta das muitas e densas camadas que distan-ciam a cultura e a língua portuguesa do texto finlandês do qual partimos. Talvez se imaginasse, por isso, que o poema agora publicado, pela primeira vez vertido na íntegra de finlandês para português, colocaria dificuldades que impossibilitariam a relação do leitor com aqueles versos, tais personagens e acontecimentos narrados. Mas esses acontecimentos, essas personagens e versos surgem, afinal, com uma fa-miliaridade desconcertante. Os heróis de Kalevala poderiam ser nossos vizinhos, pois se debatem com problemas e em encruzilhadas semelhantes às que desde sempre se registam nas literaturas mais próximas da nossa: o que vem de serem humanos, mais humanos do que divinos, mais frágeis do que valorosos, mais falhados do que perfeitos.

Desde o início, pensamos transpor a aparente lonjura que vai do português ao finlandês juntando ao poema o trabalho de uma outra tradução, a interpretação pic-

Page 6: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

tórica dos versos. Para isso, também desde cedo encontramos em Rogério Ribeiro a pessoa justa para essa tarefa: dado o seu contacto com a cultura finlandesa, dada a sua longa experiência de ilustração de poesia, nacional e não só, dado o entusiasmo com que recebeu o desafio e a ele se lançou. Mas a marca da nossa maior falha agiu sobre este outro herói humano e levou-o do mundo da nossa expressão antes de estar com-pleto, perfeito, acabado, o conjunto de imagens que imaginou. A morte de Rogério Ribeiro fez com que sentíssemos frustrada a nossa vontade de perfeição: dos desenhos que acompanham esta edição, raros são os que já considerara finalizados; quase todos têm o tom de esquiço ou de esboço de um pensamento que se quer fixar. Nisso, po-rém, o colocou ao lado do herói central da epopeia finlandesa: fez mostrar o exímio cantor de linhas e cores e exibiu, no mesmo passo, a beleza e a extrema fugacidade do momento do seu cantar. Quisemos dar conta, através da escolha destas imagens (entre as muitas mais preparadas por Rogério Ribeiro), de momentos na narrativa, ou de personagens que, pela insistência com que apareciam entre os seus papéis, se percebe terem cativado a atenção do ilustrador. Esperamos ter feito justiça às vontades que foi desenhando.

Dificilmente teríamos chegado ao fim desta empreitada sem a amizade e o apoio de algumas pessoas. Para que fique registada a nossa gratidão, lembramos aqui a pa-ciência de Paulo Correia e Isabel Cardigos, do Centro de Estudos Ataíde Oliveira da Universidade do Algarve, o acompanhamento inicial de José Joaquim Dias Marques; as sugestões preciosas e o olhar crítico de Joaquim Manuel Magalhães, o tempo dedi-cado de António M. Feijó e a leitura atenta de Pedro Mexia, a quem demos a ler versões iniciais do poema; a incansável pesquisa e a amizade de Marjatta Luukkonen, Jyrki Näsänen e Salme Jamalainen; a persistência e a fé de Markku e Sirppa Nieminen; e a generosidade de Cisela Björk, Henrique Cayatte e Teresa Ribeiro. Esperamos com esta tradução, trabalho moroso e de amor, agradar a todos eles e aos muitos outros heróis, cada um dos leitores que a vier a conhecer.

Merja de Mattos-Parreira e Ana Isabel SoaresDezembro de 2010

Page 7: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,
Page 8: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

ÍNDICE

Page 9: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

CANTO I 41

CANTO II 53

CANTO III 73

CANTO IV 99

CANTO V 121

CANTO VI 133

CANTO VII 147

CANTO VIII 159

CANTO IX 165

CANTO X 175

CANTO XI 185

CANTO XII 193

CANTO XIII 203

CANTO XIV 209

CANTO XV 2 17

CANTO XVI 229

CANTO XVII 237

CANTO XVIII 247

CANTO IXX 259

CANTO XX 269

CANTO XXI 279

CANTO XXII 287

CANTO XXIII 297

CANTO XXIV 31 1

CANTO XXV 321

CANTO XXVI 333

CANTO XXVII 347

CANTO XXVIII 355

CANTO XXIX 361

CANTO XXX 37 1

CANTO XXXI 381

CANTO XXXII 389

CANTO XXXIII 399

CANTO XXXIV 405

CANTO XXXV 9 1 1

CANTO XXXVI 419

CANTO XXXVII 427

CANTO XXXVIII 433

CANTO XXXIX 439

CANTO XL 447

CANTO XLI 453

CANTO XLII 459

CANTO XLIII 469

CANTO XLIV 477

CANTO XLV 483

CANTO XLVI 491

CANTO XLVII 503

CANTO XLVIII 5 1 1

CANTO XLIX 519

CANTO L 543

NOTAS 538

BIBLIOGRAFIA 549

Page 10: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,
Page 11: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,
Page 12: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,
Page 13: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,
Page 14: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,
Page 15: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,
Page 16: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

GALERIA DE RETRATOS

Page 17: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

Väinämöinen

Page 18: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

Mãe de Aino

Page 19: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

O jovem Joukahainen

Page 20: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

Ilmarinen, o ferreiro

Page 21: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,

Aino

Page 22: O POEMA ÉPICO FINLANDÊS KALEVALA - static.publico.ptstatic.publico.pt/docs/ipad/kalevala.pdf · palavras onomatopaicas. A dicção desta língua poética, fundada na riqueza musical,