O Percurso da Didatização do Pensamento Algébrico no Ensino ...
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Universidade de So Paulo
Faculdade de Educao
O Percurso da Didatizao do Pensamento Algbrico no
Ensino Fundamental: uma anlise a partir da Transposio
Didtica e da Teoria Antropolgica do Didtico
Marcia Aguiar
Texto apresentado para a defesa de
doutorado do Programa de Ps-Graduao
em Educao da Faculdade de Educao da
Universidade de So Paulo, na rea de
Ensino de Cincias e Matemtica, sob a
orientao do Prof. Dr. Elio Carlos Ricardo.
So Paulo
2014
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Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogao na Publicao
Servio de Biblioteca e Documentao
Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo
375.33 Aguiar, Marcia
A282p O percurso da didatizao do pensamento algbrico no ensino
fundamental: uma anlise a partir da transposio didtica e da teoria
antropolgica do didtico / Marcia Aguiar; orientao Elio Carlos
Ricardo. So Paulo: s.n., 2014.
312 p.: il., tabs.
Tese (Doutorado Programa de Ps-Graduao em Educao.
rea de Concentrao: Ensino de Cincias e Matemtica) -- Faculdade
de Educao da Universidade de So Paulo
.
1. lgebra Estudo e ensino 2. Matemtica Estudo e ensino 3.
lgebra - Pensamento 4. Ensino fundamental 5. Livro didtico I.
Ricardo, Elio Carlos, orient.
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Aguiar, Marcia. O Percurso da Didatizao do Pensamento Algbrico no
Ensino Fundamental: uma anlise a partir da Transposio Didtica e da Teoria
Antropolgica do Didtico.
Tese apresentada Faculdade de Educao da Universidade de
So Paulo para obteno do ttulo de Doutora em Educao.
Aprovada em: ____/____/____
Banca Examinadora
Prof(a). Dr(a). ________________________ Instituio: __________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: __________________
Prof(a). Dr(a). ________________________ Instituio: __________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: __________________
Prof(a). Dr(a). ________________________ Instituio: __________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: __________________
Prof(a). Dr(a). ________________________ Instituio: __________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: __________________
Prof(a). Dr(a). ________________________ Instituio: __________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: __________________
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Ao Flvio,
companheiro de
todas as horas.
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Agradecimentos
Ao Prof. Elio Carlos Ricardo, por me orientar e acreditar no meu trabalho desde
o incio e pelos questionamentos que tanto enriqueceram o meu trabalho.
Ao Prof. Nilson Jos Machado, por fazer parte de toda a minha formao. Muito
obrigada!
Sonia Maria Pereira Vidigal e ao Joo Tomas do Amaral, meus amigos de
doutorado, pelo apoio e colaborao durante todos os momentos.
Ao Prof. Maurcio Pietrocola e Profa. Dr
a. Maria Lucia Vital dos Santos Abib,
que enriqueceram os meus conhecimentos ao longo do doutorado.
Aos coordenadores da Fieo Flavio Barrella, Francisco Barrellla e Andrea
Machion e s minhas amigas de Fieo Celly Paula, Celize Tcacenco, Lgia Gallo, Ligia
Melli, Marcia Biaggi e Neusa Bevilacqua, por me incentivarem e me apoiarem durante
todo o trabalho.
Profa. Maria Deosddite Giaretta Chaves, pela sua cuidadosa reviso
ortogrfica.
Aos coordenadores da Fatec Ronaldo Reis e Ronaldo Ruas, por toda a
compreenso durante esse perodo.
Dra. Maria do Socorro P. Oliveira, pela amizade e pelos cuidados.
s amigas Marina Favalli, Silvia Cutolo, Silvia Favalli e Vania Ventura, pela
amizade e pelo carinho que sempre tiveram comigo.
Aos meus pais e s minhas irms, por acompanharem e acreditarem nos meus
passos. A toda minha famlia, pela compreenso nos momentos de ausncia. Aos meus
cunhados, Fabio e Mnica, por propiciarem agradveis tardes de estudo em Iporanga.
Em especial, ao Flvio Ulhoa Coelho, meu marido, que sempre foi companheiro
e incentivador desse projeto, por acreditar na minha capacidade e por me acompanhar
durante todo esse percurso. Muito obrigada!
A todos, o meu muito obrigada, pela amizade e pelo carinho!
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PARA SER GRANDE, s inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
S todo em cada coisa. Pe quanto s
No mnimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
14.2.1933 Ricardo Reis
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Aguiar, Marcia. O Percurso da Didatizao do Pensamento Algbrico no
Ensino Fundamental: uma anlise a partir da Transposio Didtica e da Teoria
Antropolgica do Didtico. Tese (Doutorado) Faculdade de Educao, Universidade
de So Paulo, So Paulo, 2014.
RESUMO
O ensino de lgebra nos trs ltimos anos do Ensino Fundamental tem se
reduzido a um momento destinado ao treino e fixao de regras e procedimentos
algbricos. Ao que parece, os livros didticos corroboram com essa viso do ensino de
lgebra. Por outro lado, sabemos que no livro didtico esto presentes algumas
intenes didticas legitimadas, de certa forma, por todos aqueles que participam do
processo de ensino. Ao professor, que muitas vezes s possui o livro didtico como
material para preparar as suas aulas, cabe transform-lo no saber que ser ensinado na
sala de aula.
A lgebra uma cincia ensinada predominantemente na escola e relevante
para capacitar os sujeitos a compreender o desenvolvimento cientfico e tecnolgico
atual. Por isso, parece-nos que o ensino de lgebra nos 7, 8 e 9 anos do Ensino
Fundamental deveria contribuir para a construo de um pensamento algbrico,
superando as prticas rotinizadas.
Assim, o objetivo do nosso trabalho analisar de que modo os livros didticos
desse nvel de ensino permitem a construo do pensamento algbrico. Ou seja,
investigar o percurso de didatizao da lgebra no Ensino Fundamental ou, mais
propriamente, nos livros didticos.
Para essa anlise utilizamos a Teoria da Transposio Didtica e a Teoria
Antropolgica do Didtico, propostas por Yves Chevallard. Essas teorias propiciaram
uma anlise mais aprofundada sobre os materiais e tambm demonstram ser uma
ferramenta consistente para auxiliar o professor na sua prtica pedaggica.
Analisamos trs materiais pedaggicos: dois livros didticos, que vieram da lista
de livros aprovados no PNLD-2011 e o Caderno elaborado pelo governo do Estado de
So Paulo proveniente da proposta So Paulo Faz Escola.
Com essas anlises conseguimos perceber que a programabilidade do saber
legitimada pela noosfera impossibilita muitas inovaes na didatizao referente ao
ensino de lgebra, e que alguns livros ainda mantm o ensino de lgebra voltado para o
treino de procedimentos e resolues. Por outro lado, tambm conseguimos encontrar
outros percursos de didatizao nos quais est presente um ensino voltado para o
desenvolvimento do pensamento algbrico.
Palavras chaves: ensino de matemtica, ensino de lgebra, pensamento
algbrico, Transposio Didtica, Teoria Antropolgica do Didtico, livro didtico.
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Aguiar, Marcia. The route of the didactization of the algebraic thinking in
the elementary school: an analysis from the Didactic Transposition and the
Anthropological Theory of Didactic. Thesis (Doctorate) Faculty of Education,
University of So Paulo, So Paulo, 2014.
ABSTRACT
The teaching of algebra in the last three years of elementary school has been
reduced to a point aimed at training and to set rules and algebraic procedures.
Apparently, textbooks corroborate this view of teaching algebra. On the other hand, we
know that in the textbook are didactic intentionalities, in a way, to all who participate in
the teaching process. In the teacher, who often only have the textbook and material to
prepare their lessons, will lie the responsability to turn it in the knowledgment which
will be taught in the classroom.
Algebra is a science predominantly taught in the school and it is relevant to
enable the students to understand the current technological and scientific development.
Therefore, it seems that the teaching of algebra in 7th, 8th and 9th grades of elementary
school should contribute to the construction of an algebraic thinking, overcoming the
routinized practices.
The objective of our work is to analyze how that grade level books allow the
construction of algebraic thinking. In other words, to investigate the route of
didactization algebra in elementary school or, more properly, in textbooks.
For this analysis, we will use the theories of Didactic Transposition and
Anthropological Theory of Didactic proposed by Yves Chevallard. These theories
provided a deeper analysis of the materials and also prove to be a consistent tool to
assist teachers in their teaching.
We analyze three teaching materials: two textbooks, which came from the list of
approved books in PNLD-2011 and the Booklet prepared by the state government of
So Paulo from the proposed So Paulo Faz Escola.
With this analysis we can see that the programmability of knowledge legitimized
by the noosphere prevents many innovations in didactization concerning the teaching of
algebra and some books still keeps teaching algebra facing the training procedures and
resolutions. On the other hand, we did find other paths of didactization in which an
education directed to the development of algebraic thinking prevails.
Keywords: teaching math, teaching algebra, algebraic thinking, Didactic
Transposition, Anthropological Theory of Didactic, textbook.
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Lista de Siglas
CA Caderno do Aluno
CP Caderno do Professor
ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio
FUNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
LDB Leis de Diretrizes e Bases da Educao
MEC Ministrio da Educao
OFA Ocupao de Funo Atividade
PCN Parmetros Curriculares Nacionais
PNLD Programa Nacional do Livro Didtico
PNLD-2006 Programa Nacional do Livro Didtico - 2006
PNLD-2008 Programa Nacional do Livro Didtico - 2008
PNLD-2011 Programa Nacional do Livro Didtico 2011
SAEB Sistema Nacional de Avaliao da Escola Bsica
SARESP Sistema de Avaliao de Rendimento Escolar do Estado de So Paulo
SP So Paulo
SPFE So Paulo Faz Escola
TAD Teoria Antropolgica do Didtico
TD Transposio Didtica
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Lista de Figuras
Figura 3.1: Sistema didtico ...............................................................................................46
Figura 3.2: Esferas de saberes ............................................................................................48
Figura 3.3: Sistema de ensino .............................................................................................49
Figura 5.1: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 88 .................................................................................92
Figura 5.2: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 89 .................................................................................93
Figura 5.3: Bianchini, 2011, 2011, 7 ano, p. 115-A ..................................................................98
Figura 5.4: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 115-B .......................................................................98
Figura 5.5: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 115-C ......................................................................99
Figura 5.6: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 116-A ......................................................................100
Figura 5.7: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 116-B ........................................................................100
Figura 5.8: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 65 ................................................................................106
Figura 5.9: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 75 ................................................................................107
Figura 5.10: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 79, ex. 12 ..................................................................108
Figura 5.11: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 87, ex. 39 .................................................................109
Figura 5.12: Bianchini, 2011, 8 ano, p.99 ..............................................................................110
Figura 5.13: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 100 ...........................................................................111
Figura 5.14: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 104 ...........................................................................112
Figura 5.15: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 105 ...........................................................................113
Figura 5.16: Bianchini, 2011, 8 ano, p.133, ex.27 .................................................................114
Figura 5.17: Binachini, 2011, 9 ano, p. 56-57 ........................................................................117
Figura 5.18: Bianchini, 2011, 9 ano,p.57-58 ..........................................................................119
Figura 5.19: Bianchini, 2011, 9 ano, p.67, ex. 95 ...................................................................120
Figura 5.20: Bianchini, 2011, 9 ano, p. 67 ..............................................................................121
Figura 5.21: Bianchini, 2011, 9 ano, p.90 ................................................................................122
Figura 5.22: Bianchini, 2011, 9 ano, p. 91 ..............................................................................122
Figura 5.23: Bianchini, 2011, 9 ano, p. 90 ..............................................................................123
Figura 5.24: Bianchini, 2011, 9 ano, p. 99 ..............................................................................124
Figura 5.25: Bianchini, 2011, 9 ano, p. 100 ............................................................................125
Figura 5.26: Bianchini, 2011, 9 ano, p.101 .............................................................................126
Figura 5.27: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 7 ................................................................................130
Figura 5.28: Bianchini, 2011, 7 ano, p. 91 ..............................................................................132
Figura 5.29: Bianchini, 2011, 8 ano, p. 72 ..............................................................................133
Figura 5.30: Imenes & Lellis, 2010, 6 ano, p.255 ...................................................................138
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Figura 5.31: Imenes & Lellis, 2010, 6 ano, p. 260 ..................................................................139
Figura 5.32: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p. 68 ....................................................................142
Figura 5.33: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p.69 .....................................................................143
Figura 5.34: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p.217 ...................................................................145
Figura 5.35: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p. 221 ..................................................................146
Figura 5.36: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p. 229-A ..............................................................147
Figura 5.37: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p.229-B ...............................................................147
Figura 5.38: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p. 230-A ..............................................................148
Figura 5.39: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p. 230-B ..............................................................148
Figura 5.40: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p.233 ...................................................................149
Figura 5.41: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p.237 ...................................................................150
Figura 5.42: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p.237-238 .....................................................150-151
Figura 5.43: Imenes & Lellis, 2010, 7 ano, p.238 ...................................................................151
Figura 5.44: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 89 ....................................................................154
Figura 5.45: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 91 ....................................................................156
Figura 5.46: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 189 ..................................................................157
Figura 5.47: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 191 ..................................................................158
Figura 5.48: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 192 ..................................................................158
Figura 5.49: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 195 ..................................................................159
Figura 5.50: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 207 ..................................................................160
Figura 5.51: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 242 ..................................................................161
Figura 5.52: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 243 ..................................................................162
Figura 5.53: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p.250 ...................................................................162
Figura 5.54: Imenes & Lellis, 2010, 8 ano, p. 254-255 ...........................................................164
Figura 5.55: Imenes & Lellis, 2010, 9 ano, p.128 ...................................................................168
Figura 5.56: Imenes & Lellis, 2010, 9 ano, p. 130 ..................................................................168
Figura 5.57: SP, CA, 2009a, 6 srie, V. 4, p. 6 ......................................................................175
Figura 5.58: SP, CA, 2009a, 6 srie, V. 4, p. 10 ....................................................................175
Figura 5.59: SP, CA, 2009a, 6 srie, V. 4, p. 28 ......................................................................177
Figura 5.60: SP, CA, 2009a, 6 srie, V.4, p. 29 .....................................................................178
Figura 5.61: SP, CA, 2009a, 6 srie, V. 4, p. 31 ....................................................................179
Figura 5.62: SP, CA, 2009b, 7 srie, V. 2, p. 24-25 ................................................................183
Figura 5.63: SP, CA, 2009b, 7 srie, V. 2, p. 31 ......................................................................184
Figura 5.64: SP, CA, 2009b, 7 srie, V. 2, p. 41-42 ...............................................................185
Figura 5.65: SP, CA, 2009b , 7 srie, V. 2, p. 43 .....................................................................186
Figura 5.66: SP, CA, 2009c, 7 srie, V. 3, p.12 ......................................................................188
Figura 5.67: SP, CA, 2009c, 7 srie, V. 3, p. 30-A ..................................................................189
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Figura 5.68: SP, CA, 2009c, 7 srie, V. 3, p. 30-B ..................................................................189
Figura 5.69: SP, CA, 2009c, 7 srie, V. 3, p. 31 ......................................................................190
Figura 5.70: SP, CA, 2009c, 7 srie, V. 3, p. 40 ......................................................................190
Figura 5.71: SP, CA, 2009c, 7 srie, V. 3, p. 50 ......................................................................191
Figura 5.72: SP, CA, 2009d, 8 srie, V. 2, p. 17 ......................................................................194
Figura 5.73: SP, CA, 2009d, 8 srie, V. 2, p. 21 ......................................................................194
Figura 6.1: Bianchini, 2011, 7 ano, Cap. 4, p. 136 ..................................................................205
Figura 6.2: Bianchini, 2011, 7 ano, Cap. 3, p. 121 ...................................................................205
Figura 6.3: Bianchini, 2011, 7 ano, Cap. 4, p. 136 ...................................................................207
Figura 6.4: Imenes e Lellis, 2010, 7 ano, p. 235 ......................................................................236
Figura 6.5: SP, CA, 2009a, 6 srie, V. 4, p. 18-19 ..........................................................255
Figura 6.6: Tabelas de Proporcionalidade (SP, CA, 2009a, 6 srie, V. 4, p. 37-38) .........258
Figura 6.7: SP, CA, 2009b, 7 srie, V.2, p. 4 ..................................................................260
Figura 6.8: SP, CA, 2009b, 7 srie, V. 2, p. 9 .................................................................260
Figura 6.9: SP, CA, 2009c, 7 srie, V. 3, p. 28 ................................................................270
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Lista de Tabelas
Tabela 4.1: Lista dos livros aprovados no PNLD/2011 ...........................................................68
Tabela 5.1: Lista de livros e captulo analisados (Matemtica-Edwaldo Bianchini) .................90
Tabela 5.2: Lista de livros e captulos analisados (Matemtica-Imenes & Lellis) .................136
Tabela 5.3: Lista de volumes e Situaes de Aprendizagens a serem analisadas .....................173
Tabela 5.4: Resumo das competncias desenvolvidas em cada Situao de Aprendizagem ....196
Tabela 6.1: Explicao da numerao das tarefas e tcnicas (Matemtica-Bianchini) ............200
Tabela 6.2: As praxeologias e os momentos de estudos do problema relacionado Fig.6.1. ...206
Tabela 6.3: As praxeologias e os momentos de estudos do problema relacionado Fig.6.2. ...207
Tabela 6.4: As praxeologias e os momentos de estudos do problema 28 .............................208
Tabela 6.5: As praxeologias e os momentos de estudos do problema 74 ..............................209
Tabela 6.6: As praxeologias e os momentos de estudos do problema 37 .............................209
Tabela 6.7: As praxeologias e os momentos de estudos do problema 27 .............................210
Tabela 6.8: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 3 Equaes ...............211
Tabela 6.9: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 4 Inequaes ............213
Tabela 6.10: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 5
Sistemas de equaes ......................................................................................214
Tabela 6.11: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 2
Clculo algbrico ............................................................................................216
Tabela 6.12: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 3
Produtos notveis e fatorao .........................................................................218
Tabela 6.13: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 4
Fraes algbricas, equaes fracionrias e equaes literais ........................219
Tabela 6.14: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 5
Sistemas de equaes do 1 grau com duas incgnitas ...................................221
Tabela 6.15: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 2
Equaes do 2 grau ......................................................................................222
Tabela 6.16: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 3 Funes ..............225
Tabela 6.17: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 13
Generalizaes ...............................................................................................231
Tabela 6.18: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 3
Padres Numricos .........................................................................................233
Tabela 6.19: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 10
Usando letra na Matemtica ............................................................................234
Tabela 6.20: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 11 Equaes ...........236
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Tabela 6.21: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 5
Retomando a lgebra .......................................................................................238
Tabela 6.22: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 9
Clculo Algbrico ............................................................................................239
Tabela 6.23: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 11
Sistemas de Equaes .......................................................................................241
Tabela 6.24: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 3
Equaes e Fatorao ......................................................................................243
Tabela 6.25: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 6
Equaes e sistemas de equaes de 2 grau ...............................................245
Tabela 6.26: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 10 Funes .............247
Tabela 6.27: As praxeologias e os momentos de estudo do Captulo 13
Tcnica Algbrica ...........................................................................................249
Tabela 6.28: Entendendo a numerao das tarefas e tcnicas dos Cadernos-A ...................252
Tabela 6.29: Entendendo a numerao das tarefas e tcnicas dos Cadernos-B ...................253
Tabela 6.30: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 1 Investigando sequncias por aritmticas e lgebra .................253
Tabela 6.31: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 2 - Equaes e Frmulas ......................................................254
Tabela 6.32: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 3 - Equaes, perguntas e balanas ........................................256
Tabela 6.33: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 4 - Proporcionalidade, Equaes e a Regra de Trs ..............257
Tabela 6.34: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 1 - Aritmtica com lgebra: As letras como nmeros ...........261
Tabela 6.35: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 2 - Produtos Notveis: significados geomtricos ...................261
Tabela 6.36: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 3 lgebra: fatorao e equaes .........................................263
Tabela 6.37: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 4 Aritmtica e Geometria: Expresso algbrica
de algumas ideias fundamentais .....................................................................265
Tabela 6.38: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 1 Expandindo a linguagem das equaes ...........................267
Tabela 6.39: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 2 Coordenadas cartesianas e transformaes no plano ......268
Tabela 6.40: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
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Aprendizagem 3 Sistemas de equaes lineares ........................................271
Tabela 6.41: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 4 Equaes com solues inteiras e suas aplicaes .........272
Tabela 6.42: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 1 Alguns mtodos para resolver equaes do 2 grau ........273
Tabela 6.43: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 2 Equaes do 2 grau na resoluo de problemas ............274
Tabela 6.44: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 3 Grandezas proporcionais e variao linear:
significados e contextos .............................................................................276
Tabela 6.45: As praxeologias e os momentos de estudo da Situao de
Aprendizagem 4 Representao grfica de grandezas proporcionais
e de algumas no-proporcionais .................................................................277
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SUMRIO
1. Consideraes Iniciais ..................................................................................................19
1.1. Introduo e Justificativa ...........................................................................................19
1.2. Objetivo e Problema .................................................................................................33
2. Ensino de lgebra e Pensamento Algbrico ..............................................................36
2.1. Desenvolvimento da lgebra ...................................................................................36
2.2. Caracterizaes de um Pensamento Algbrico .........................................................42
2.3. Consideraes ..........................................................................................................44
3. Transposio Didtica e Teoria Antropolgica do Didtico ....................................46
3.1. Introduo ................................................................................................................46
3.2. A Teoria da Transposio Didtica ...........................................................................48
3.2.1. Transposio Didtica como Ferramenta de Anlise:
a Vigilncia Epistemolgica ................................................................................50
3.2.2. Os Processos de Didatizao dos Saberes Escolares ............................................54
3.2.3. Saberes Escolarizveis e Preparao Didtica ......................................................56
3.2.4. Discusses a partir da Transposio Didtica .......................................................59
3.3. Teoria Antropolgica do Didtico ..............................................................................60
4. Metodologia de Trabalho ............................................................................................64
4.1. Um breve histrico ....................................................................................................64
4.2 A escolha dos livros no PNLD/2011 ..........................................................................68
4.2.1. Conhecendo o Guia de Livros Didticos PNLD/2011 ......................................69
4.2.2. Avaliao dos livros realizada pelo Guia ............................................................73
4.2.3. Avaliao do Guia: Matemtica Edwaldo Bianchini.........................................78
4.2.4. Avaliao do Guia: Matemtica Imenes & Lellis .............................................81
4.3. Conhecendo a proposta So Paulo Faz Escola ........................................................83
4.3.1. A Proposta de Matemtica ..................................................................................84
4.4. Mtodos de Anlise dos Resultados ..........................................................................86
5. Anlise a partir da Teoria da Transposio Didtica ...............................................89
5. 1. Matemtica Edwaldo Bianchini............................................................................89
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5.1.1. Anlise do livro do 7 ano ................................................................................90
5. 1.1.1. Captulo 3 - Equaes ................................................................................91
5.1.1.2. Captulo 4 Inequaes ............................................................................101
5.1.1.3. Captulo 5 - Sistemas de Equaes ............................................................102
5.1.1.4. Consideraes do livro do 7 ano ..............................................................104
5.1.2. Anlise do livro do 8 ano ...............................................................................104
5.1.2.1. Captulo 2 Clculos Algbricos ...............................................................105
5.1.2.2. Captulo 3 Produtos Notveis e Fatorao ..............................................107
5.1.2.3. Captulo 4 Fraes algbricas, equaes fracionrias e equaes literais .110
5.1.2.4. Captulo 5 Sistemas de equaes do 1 grau com duas incgnitas...........113
5.1.2.5. Consideraes do livro do 8 ano ..............................................................115
5.1.3. Anlise do livro do 9 ano ..............................................................................115
5.1.3.1. Captulo 2 Equaes do 2 grau .............................................................115
5.1.3.2. Captulo 3 Funes ................................................................................121
5.1.3.3. Consideraes do livro do 9 ano .............................................................127
5.1.4. Consideraes sobre a coleo ......................................................................128
5.2. Matemtica Imenes & Lellis............................................................................136
5.2.1. Anlise do livro do 6 ano .............................................................................137
5.2.1.1. Captulo 13 Generalizaes ...................................................................138
5.2.1.2. Consideraes do livro do 6 ano .............................................................140
5.2.2. Anlise do livro do 7 ano .............................................................................140
5.2.2.1. Captulo 3 Padres Numricos ...............................................................141
5.2.2.2. Captulo 10 Usando letras na Matemtica ..............................................144
5.2.2.3. Captulo 11 Equaes .................................................................................146
5.2.2.4. Consideraes do livro do 7 ano ..............................................................152
5.2.3. Anlise do livro do 8 ano ..............................................................................153
5.2.3.1. Captulo 5 Retomando a lgebra..............................................................154
5.2.3.2. Captulo 9 Clculo Algbrico ..................................................................157
5.2.3.3. Captulo 11 Sistemas de Equaes ............................................................161
5.2.3.4. Consideraes do livro do 8 ano ..............................................................165
5.2.4. Anlise do livro do 9 ano ..............................................................................166
5.2.4.1. Captulo 3 Equaes e Fatorao ..............................................................166
5.2.4.2. Captulo 6 Equaes e Sistemas de equaes de 2 grau ..........................167
5.2.4.3. Captulo 10 Funes ...............................................................................169
5.2.4.4. Captulo 13 Tcnica Algbrica ...............................................................169
5.2.4.5. Consideraes do livro do 9 ano ..............................................................170
5.2.5. Consideraes sobre a coleo.........................................................................170
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5.3. Cadernos So Paulo Faz Escola .......................................................................172
5.3.1. Cadernos da 6 srie/7 ano ............................................................................173
5.3.1.1. Volume 4: lgebra ..................................................................................174
5.3.2. Cadernos da 7 srie/8 ano ............................................................................180
5.3.2.1. Volume 2: Expresses algbricas ...........................................................181
5.3.2.2. Volume 3: lgebra/Equaes .................................................................187
5.3.3. Cadernos da 8 srie/9 ano ............................................................................192
5.3.3.1. Volume 2: lgebra .................................................................................192
5.3.4. Consideraes sobre a coleo........................................................................196
6. Anlise a partir da Teoria Antropolgica do Didtico.............................................199
6.1. Matemtica Edwaldo Bianchini ..........................................................................200
6.1.1. Anlise do 7 ano .........................................................................................201
6.1.2. Anlise do 8 ano .....................................................................................216
6.1.3. Anlise do 9 ano ......................................................................................222
6.1.4. Anlise da Coleo ...................................................................................229
6.2. Matemtica Imenes & Lellis...............................................................................230
6.2.1. Anlise do 6 ano ....................................................................................230
6.2.2. Anlise do 7 ano ....................................................................................232
6.2.3. Anlise do 8 ano .................................................................................237
6.2.4. Anlise do 9 ano .....................................................................................242
6.2.5. Anlise da Coleo ...............................................................................250
6.3. Cadernos So Paulo Faz Escola .........................................................................251
6.3.1. Anlise da 6 srie/7 ano Volume 4....................................................253
6.3.2. Anlise da 7 srie/8 ano Volume 2 ..................................................259
6.3.3. Anlise da 7 srie/8 ano Volume 3 ..................................................267
6.3.4. Anlise da 8 srie/9 ano Volume 2 ..................................................273
6.3.5. Anlise da Coleo ...............................................................................278
7. Concluses ................................................................................................................280
Referncias Bibliogrficas............................................................................................288
Anexos ............................................................................................................................296
Anexo I ........................................................................................................................296
Anexo II ......................................................................................................................302
Anexo III .....................................................................................................................307
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1. CONSIDERAES INICIAIS
1.1. Introduo e Justificativa
Em nossa prtica docente acompanhamos, ao longo dos anos, uma deficincia no
processo de ensino e aprendizagem da matemtica1, em especial da lgebra
2. Cada vez
mais encontramos alunos que no entendem o que fazem e no compreendem os
clculos algbricos. Muitos acabam decorando por repetio os mecanismos, porm no
sabem o significado do que fazem e, muito menos, por que fazem. Isso pode gerar
alunos que conhecem vrias regras ou ferramentas matemticas, mas no sabem como
utiliz-las em situaes fora da sala de aula ou mesmo em problemas distintos daqueles
nas quais foram (supostamente) aprendidas (Castro-Filho, Freire e Paschoal, 2003;
Castro-Filho, Freire e Cabral, 2004; Castro-Filho, De Macdo, Freire e Leite, 2005).
Trabalhando com os cursos de Licenciatura em Matemtica, Engenharias e
Tecnologias, em instituies pblicas e privadas desde 2000, temos percebido
frequentemente grandes dificuldades dos alunos em relao aprendizagem da lgebra.
Como consequncia dessa deficincia, so criadas, em alguns cursos de Ensino
Superior, e administradas no 1 semestre, disciplinas destinadas a retomar tcnicas e
conceitos estudados nos Ensinos Fundamental e Mdio; em alguns casos, a disciplina
chamada de Fundamentos de Matemtica Elementar.
____________________________
1 Em Silva (2008) so apresentados dados estatsticos do desempenho dos alunos em Matemtica no
SAEB-2003. 2 Ribeiro (2001) analisa o desempenho de alunos do Ensino Fundamental em lgebra, com base em dados
do SARESP.
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Verificamos, por exemplo, que os alunos, com certa frequncia, no relacionam
os produtos notveis com as potncias; no entendem o que significa a fatorao de
polinmios; muitos tm dificuldade em resolver equaes de 1 grau. A maioria s
consegue resolver a equao de 2 grau pela chamada frmula de Bhaskara e, ainda
assim, no tem certeza da ordem de resoluo das operaes, levando ao erro em muitos
exerccios. Percebemos que eles operam razoavelmente bem com a aritmtica, mas no
relacionam essas operaes e suas propriedades com as operaes algbricas, por isso,
acabam resolvendo as operaes algbricas a partir de regras sem significado para eles.
O que conseguimos observar em nossa prtica de ensino que, mesmo os alunos
tendo um estudo centrado no treino dessas regras, este treino no est sendo suficiente
para que eles consigam compreend-las e us-las sempre que necessrio. Essas
percepes aproximam-se da literatura, conforme encontramos em Castro-Filho, Freire
e Paschoal (2003), Castro-Filho, Freire e Cabral (2004) e Castro-Filho, De Macdo,
Freire e Leite (2005). As dificuldades e as falhas dos alunos nos remetem ao incio do
ensino da lgebra formal. Essa formao ensinada nos trs ltimos anos do Ensino
Fundamental, ou seja, nos 7, 8 e 9 anos. No entanto, no contato com alunos do Ensino
Superior, observamos que durante o Ensino Fundamental e Mdio, ao que parece, eles
no construram os conceitos dessas noes matemticas.
Dentro desse cenrio, seria relevante tentarmos compreender por que parece ser
to difcil aprender lgebra. Booth (1994), ao tentar responder essa pergunta, identificou
os tipos de erros mais comuns na lgebra, bem como as razes desses erros.
Para isso, Booth (1994) investigou alguns alunos da oitava dcima srie (treze
a dezesseis anos de idade) do Reino Unido que j estudavam lgebra. Independente da
idade e do tempo de estudo em lgebra, identificou erros semelhantes em todas as
sries. Por meio de entrevistas, os alunos mostraram que os erros poderiam ter origem
nos seguintes aspectos:
a) o foco da atividade algbrica e a natureza das respostas;
b) o uso da notao e da conveno em lgebra;
c) o significado das letras e das variveis;
d) os tipos de relaes e mtodos usados em aritmtica.
Pensando no item a: o foco da atividade algbrica e a natureza das respostas,
os alunos tm dificuldade em compreender a natureza das respostas de uma atividade
algbrica. Eles, normalmente, esperam encontrar uma resposta numrica, como
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acontece na aritmtica. Na lgebra o foco no encontrar um nmero como resposta e,
sim, estabelecer procedimentos e relaes e express-los em uma forma simblica
generalizada. Os alunos at chegam expresso algbrica, mas no consideram essa
uma resposta adequada. Em alguns casos, por exemplo, os alunos simplificam a
expresso 2a + 5b como sendo 7ab. Esse problema pode ocorrer porque os alunos tm
dificuldade cognitiva em aceitar a ausncia de fechamento (Collins, 1975 apud Booth,
1994), ou simplesmente possuem a expectativa de encontrar respostas na lgebra
semelhantes s respostas encontradas na aritmtica. Nesse ponto Booth diz que:
H tambm outro aspecto do problema: as expresses algbricas no-
fechadas no s so legtimas enquanto respostas, como tambm
podem representar o procedimento ou a relao pela qual se obteve a
resposta tanto quanto a prpria resposta. Por exemplo n + 3 pode ser
uma expresso de uma instruo (ou procedimento), que afirma que
se deve somar 3 varivel n, e tambm uma resposta, que d o
resultado de se ter efetuado uma adio. No primeiro caso pode-se
interpretar a expresso como some 3 a n; no segundo como o
nmero que excede n em 3 unidades. (Booth, 1994, p. 27)
Aps essa anlise, o autor conclui que esse tipo de problema pode estar mais
ligado dificuldade que os alunos podem ter em aceitar as respostas algbricas do que
ao fato de a mesma expresso representar tanto um procedimento como uma resposta.
Passando para anlise do ponto b: o uso da notao e da conveno em lgebra,
supe-se que parte da dificuldade dos alunos em simplificar expresses, como no
exemplo 2a + 5b = 7ab, est muito relacionada falta de significado do smbolo
operatrio para o aluno. Em aritmtica, smbolos como + e = representam aes a
serem efetuadas, de maneira que o smbolo de + significa realizar uma operao e o
smbolo de = significa escrever o resultado. A ideia de que o smbolo de adio possa
indicar tanto o resultado de uma adio quanto a ao da adio, ou de que o sinal de
igualdade possa ser visto como indicador de uma relao de equivalncia em vez de um
smbolo para dar o resultado, pode no ser percebida pelos alunos, embora essas duas
noes sejam necessrias para a compreenso algbrica.
Concordando com a anlise de Booth (1994), Kieran (1981) tambm percebeu,
no contexto do estudo das equaes, que os alunos usavam o smbolo de igualdade
apenas para representar uma resposta numrica. Eles no compreendiam a relao de
equivalncia existente no smbolo de igualdade.
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22
Essas anlises nos remetem ao trabalho de Arcavi (2006), que diz que
extremamente relevante se compreender o verdadeiro significado dos smbolos
matemticos para se aprender lgebra e escrever expresses algbricas.
No podemos nos esquecer de que o desenvolvimento da linguagem algbrica
tambm importante para o desenvolvimento da aprendizagem algbrica, e o contrrio
tambm verdade. Esse desenvolvimento pode ser favorecido por meio da compreenso
dos significados dos smbolos tanto quanto da concepo de cada operao estudada na
aritmtica.
Em relao ao significado dos smbolos algbricos, temos outro ponto levantado
por Booth (1994); o ponto c: o significado das letras e das variveis. Os alunos aceitam
o uso das letras para substituir nmeros desconhecidos. Mas, esse uso tambm pode
gerar dificuldades, pois tem distintos significados na lgebra e na aritmtica. No
contexto aritmtico as letras podem ser usadas como unidades de medidas. Vejamos um
exemplo com a letra m; usamos a letra m como a unidade de medida de comprimento
metro, ento em aritmtica podemos escrever 3m e estamos falando de 3 metros,
enquanto que na lgebra, ao escrevermos 3m, estamos nos referindo a 3 vezes o nmero
m.
Outro aspecto importante do uso da letra na lgebra com o significado de
varivel. Boa parte dos alunos que relaciona as letras a representaes numricas possui
forte tendncia em achar que essa letra representa um nico nmero. Com isso,
percebemos como os alunos ficam presos ao pensamento aritmtico, o que j foi
apontado por Booth (1994) e Cristovo, Fernandes e Fiorentini (2005), quando dizem
que os alunos tm dificuldades de deixar o modo aritmtico de pensar. Por isso, a ideia
de utilizar a letra para representar valores genricos ou variveis como y = x + 5 no
imediata. Essa ideia precisa ser construda no percurso da escolarizao. Outro
problema em relao ao uso das letras que os alunos assumem que letras diferentes
devem possuir valores numricos distintos. Dessa maneira, as expresses x + y + z e
x + y + q nunca sero iguais.
As dificuldades apresentadas at aqui mostram que as falhas na relao entre a
aritmtica e a lgebra podem gerar muitas dificuldades na aprendizagem da lgebra
(Barbosa e Boralho, 2009). Todavia, a lgebra no est isolada da aritmtica, em muitos
aspectos, podemos dizer que ela uma generalizao da aritmtica. E, nessa relao
repousa uma fonte de dificuldades na aprendizagem da lgebra. Assim, podemos
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discutir o ponto d: os tipos de relaes e mtodos usados em aritmtica. Como afirma
Booth:
Para compreender a generalizao das relaes e procedimentos
aritmticos preciso primeiro que tais relaes e procedimentos sejam
aprendidos dentro do contexto aritmtico. Se no forem reconhecidos,
ou se os alunos tiverem concepes erradas a respeito deles, seu
desempenho em lgebra poder ser afetado. (Booth, 1994, p. 33)
Nesse caso, podemos ento supor que muitas das dificuldades que o aluno
apresenta em lgebra, na verdade, so problemas que no foram corrigidos no estudo da
aritmtica. Tais dificuldades, muitas vezes, no eram erros de alunos, mas sim falta de
desenvolver algumas concepes aritmticas dentro da sala de aula. Alm disso, muitas
vezes, os alunos no tm problemas com as concepes aritmticas; o problema est
mais relacionado com a forma com que o aluno resolve as questes. Explicando melhor,
sabemos que quando os alunos esto resolvendo questes e problemas dentro da
aritmtica, eles encontram mais de uma maneira de resoluo. Algumas maneiras
possuem um raciocnio adequado, mas uma forma de escrita de resoluo, muitas vezes,
incorreta do ponto de vista da formalidade da linguagem matemtica. Quando esse
aluno comea a aprofundar os seus conhecimentos, tanto na aritmtica quanto na
lgebra, torna-se imprescindvel o desenvolvimento e a utilizao da linguagem
matemtica, no caso, algbrica. Caso no desenvolva a linguagem algbrica, pode
acarretar mais e mais dificuldades ao longo de sua vida escolar. No queremos dizer
com isso que o aluno no deva desenvolver seus mtodos informais de resoluo, ou de
uso de outras linguagens. Mas, ao longo de sua escolarizao, o professor deveria
mostrar as limitaes do seu mtodo informal ou das linguagens usadas, bem como a
importncia e a facilidade de se usar a linguagem algbrica. O professor, por meio de
atividades, deveria fazer com que o aluno sinta a necessidade da mudana dos mtodos
de resoluo, para que esse seja um procedimento natural ao longo do desenvolvimento.
Ainda dentro do quadro das dificuldades dos alunos em lgebra, encontramos a
pesquisa de Kuchemann (1981) que, assim como Booth (1994), tambm percebeu
semelhanas nas dificuldades em lgebra em alunos de diferentes sries. Kuchemann
(1981) fazia parte de um programa de pesquisa intitulado Concepts in Secondary
Mathematics and Science (CSMS), ento apresentou vrias questes de lgebra para
10.000 alunos de diferentes sries da escola secundria britnica. Esse estudo tinha
como objetivo identificar se alunos de sries diferentes utilizavam de formas diferentes
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a simbologia algbrica. A anlise partiu da comparao das resolues dos alunos frente
a questes com diferentes graus de complexidade estrutural. Na interpretao dos
resultados, Kuchemann (1981) relaciona o xito dos alunos em trabalhar com questes
de maior complexidade estrutural com o nvel de compreenso do uso da simbologia
para a resoluo de problemas (questes). Como resultado geral, a pesquisa revelou que
os alunos, ou pelo menos a grande maioria, apresentaram pouco desenvolvimento, ao
longo das sries escolares, diante de questes de lgebra. O que se discute no trabalho
se esse baixo desempenho no seria produto de um mau ensino.
At aqui levantamos alguns erros dos alunos e as possveis razes desses erros
na aprendizagem de lgebra. No entanto, esse mapeamento que no tem a inteno de
elencar todos os erros cometidos pelos alunos, mas de nos dar uma orientao para o
olhar da nossa pesquisa. Aceitamos que essas falhas so resultados de muitos fatores
dentro do processo de ensino e aprendizagem da lgebra.
Por outro lado, nas pesquisas de Zazkis e Liljedahl (2002), Oliveira (2008) e
Santos (2007) percebemos que os professores possuem uma formao deficitria e que
encontram algumas dificuldades em lgebra e no ensino dela. O trabalho de Zazkis e
Liljedahl (2002) identificou que os professores conseguiam encontrar as regularidades e
discutir o problema algebricamente, porm tinham dificuldades de encontrar uma
expresso algbrica para representar o que eles estavam discutindo.
Oliveira (2008), ao analisar o trabalho de professores em formao, destaca a
dificuldade destes em ensinar como se escreve uma expresso algbrica a partir de uma
generalizao. Os professores dizem que no foram orientados a elaborar estratgias de
ensino que ajudem o aluno a escrever uma expresso algbrica a partir de regularidades.
Ao entrevistar professores de matemtica acerca de suas formaes em lgebra,
Santos (2007) verificou que eles apresentaram uma insatisfao com a sua formao,
tanto na escola bsica (Ensino Fundamental e Ensino Mdio) quanto na graduao. No
total, trs professores foram entrevistados e todos destacaram que tiveram uma
formao deficitria para ensinar lgebra. Um deles, ressaltou que no encontrou
respostas para as aplicaes dos contedos algbricos nem na graduao. O outro,
declarou que ensina o que gostaria de ter aprendido, ento busca ensinar uma lgebra
mais intuitiva sem aplicar as frmulas de imediato. J o terceiro, declarou que recorre
aos livros didticos para ajud-lo a inovar nas suas aulas.
Com esses relatos, podemos supor que esses professores no tiveram uma boa
formao em relao lgebra, pois se sentem inseguros com os seus conhecimentos
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para ministrar suas aulas. Eles esto sempre buscando maneiras de inovar e de suprir as
deficincias da sua formao. Resta-nos saber de que maneira eles esto fazendo isso,
onde estariam buscando os conceitos para reconstruir a concepo de ensino de lgebra
que possuem? DAmbrosio (1996) considera que essa busca pela melhoria resulta em
conquistas positivas. Segundo o autor:
Cada indivduo tem a sua prtica. Todo professor, ao iniciar sua
carreira, vai fazer na sala de aula, basicamente, o que ele viu algum,
que o impressionou, fazendo. E vai deixar de fazer algo que viu e no
aprovou. Essa memria de experincias impregnada de emocional,
mas a entra tambm o intuito aqueles indivduos que so
considerados o professor nato. Mas sem dvida o racional, isto ,
aquilo que se aprendeu no curso, incorpora-se prtica docente. E
medida que vamos exercendo, a crtica sobre ela, mesclada com
observaes e reflexes tericas, vai nos dando elementos para
aprimor-la. (DAmbrosio, 1996, p. 91)
DAmbrosio (1996) ressalta que essa reflexo constante da prtica buscando,
paralelamente, apoios tericos, deve ajudar esses professores a melhorar sua prtica
pedaggica.
No entanto, podem existir professores que so inseguros com a sua formao ou
com parte dela. Assim, o receio em inovar nas suas aulas acaba levando-os a seguir
estritamente as orientaes do livro didtico sem questionar. Na mesma direo,
Machado (1996) destaca que:
O professor abdica do privilgio de projetar os caminhos a serem
trilhados, em consonncia com as circunstncias experincias,
interesses, perspectivas de seus alunos, passando a conformar-se,
mais ou menos acriticamente, com o encadeamento de temas
propostos pelo autor. Tal encadeamento ora tem caractersticas
idiossincrticas, ora resulta da cristalizao de certos percursos, que
de tanto serem repetidos, adquirem certa aparncia de necessidade
lgica. (Machado, 1996, p. 23)
O professor, de forma geral, percebe que sua formao insuficiente, ento,
muitas vezes, prefere copiar e aceitar sem discusso a proposta de ensino estipulada no
livro a usar seus conhecimentos adquiridos em suas prticas. Ao mesmo tempo,
sabemos que, mesmo que exista essa obedincia cega ao percurso proposto pelo livro
didtico, o professor atua como mediador entre o livro didtico e o aluno, ento, um
novo processo de didatizao sempre ocorre. Entretanto, seria imprescindvel que o
professor estivesse sempre refletindo sobre sua prtica e sua concepo de ensino,
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adequando essa prtica ao grupo de alunos e a seu contexto de trabalho, pois, como
disse DAmbrosio, dessa maneira, ele poderia ir aprimorando a sua prtica.
Mas, temos que aceitar que, muitas vezes, o livro didtico o mais prximo ou o
nico material de apoio para a preparao das aulas da maioria dos professores.
Consequentemente, o livro didtico acaba sendo um grande divulgador de ideias,
saberes matemticos e concepes. Por isso, analisar e refletir sobre a concepo de
ensino de lgebra presente nos livros didticos pode auxiliar na formao inicial e
continuada do professor.
Pensando em analisar os livros didticos, encontramos Neves (1995), que
constata que o processo de didatizao apresentado nos livros didticos referentes ao
ensino de lgebra continua com o mesmo percurso de dcadas atrs. Neves (1995)
afirma que mesmo os livros didticos inovadores tratam os tradicionais tpicos de
lgebra de forma extremamente arcaica. Ele acredita que essa viso do ensino de
lgebra colocada nos livros didticos favorece as dificuldades na aprendizagem desse
assunto.
Da mesma maneira, Santos (2007), uma dcada depois, chegou a concluir que
um dos motivos da dificuldade dos alunos na aprendizagem da lgebra pode estar
relacionada com a proposta de ensino presente nos livros didticos quando diz que a
forma como alguns livros introduzem a lgebra pode justificar as dificuldades
encontradas pelos alunos no ensino e aprendizagem da lgebra (Santos, 2007, p.45).
Desse modo, pode-se dizer que o problema do ensino de lgebra no est
somente na atuao do professor, mas tambm na concepo de ensino proposta nos
livros didticos. O ensino da lgebra ainda preserva um ensino baseado no treino da
manipulao dos simbolismos algbricos. Por outro lado, bem ou mal, esse ensino ainda
praticado nas escolas e parece desfrutar de certa legitimao, ainda que os fins
formativos possam ser questionados, j que no se vislumbram grandes mudanas e
parecem se adequar s rotinas impostas pela escola.
Essa concepo acaba se manifestando nos livros didticos. Neves (1995)
investigou as mudanas no ensino de lgebra atravs dos livros didticos. O autor
analisou livros didticos em trs momentos distintos de nosso sistema de ensino: i) nas
dcadas de 30 e 40, ou seja, antes da Matemtica Moderna; ii) na dcada de 70 no
movimento da Matemtica Moderna e; iii) na dcada de 90. Neves (Idem) chega
concluso de que o ensino de lgebra mudou muito pouco ao longo de todo esse
perodo, via livro didtico. Segundo o autor:
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O desenvolvimento de ferramentas consome pginas e pginas nos
livros atuais sem que elas estejam voltadas para a interpretao de
alguma situao problematizada, sejam problemas envolvendo um
contexto real, seja uma situao interna ao prprio discurso
matemtico. (Neves, 1995, p. 26)
O autor afirma ainda que o enfoque dado lgebra na dcada de 90 apresenta
algumas heranas da Matemtica Moderna:
Muito do trabalho atual com lgebra contm resduos do enfoque
moderno. Boa parte do currculo ainda marcada por uma
organizao visando ampliao sucessiva de campos numricos a
partir dos nmeros naturais, passando pelos nmeros inteiros,
racionais, reais e complexos. Apesar de o carter de fundamentao e
evidncia das estruturas matemticas no estar mais na ordem do dia,
o ensino de matemtica elementar ainda permanece atrelado a uma
organizao da lgebra universitria calcada na expanso de estruturas
algbricas gerais, como as estruturas de grupo, de anel e de corpo.
Esta organizao traduz um ponto de vista do saber matemtico que
subordina por exemplo, o aspecto instrumental do trabalho com
nmeros e equaes a uma lgica de um conhecimento previamente
organizado. (Neves, 1995, p. 42)
Neves (1995) tambm discute o uso da histria da matemtica como motivao
de seu ensino, no entanto, nos livros didticos desse perodo encontra-se uma histria da
matemtica personalista ou anedotria. O autor conclui que, mesmo com algumas
mudanas, os livros continuam essencialmente ligados ao movimento da Matemtica
Moderna, e a lgebra continua sendo ensinada como verdade a ser transmitida ao aluno.
O que se pode imaginar que devido ao Programa Nacional do Livro Didtico
(PNLD), que uma avaliao do livro didtico realizado pelo Ministrio da Educao,
os livros tenham sofrido algumas mudanas em relao dcada de 90. Assim,
buscamos analisar os livros didticos atuais, para entendermos qual o percurso de
didatizao do ensino formal de lgebra est sendo feito neste momento.
Uma hiptese geral de que falhas e dificuldades apresentadas pelos professores
formados ou em formao, e pelos alunos, em relao ao ensino de lgebra, mostram
uma concepo de ensino de lgebra ainda muito focada no ensino de regras e
procedimentos. Dessa maneira, a lgebra no est cumprindo seu papel dentro da
formao do cidado. Nesta formao, a lgebra deveria ser utilizada como ferramenta
para resolver problemas, tanto dentro da matemtica quanto em outras reas do
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conhecimento. Para isso, o aluno precisaria desenvolver uma forma de pensar
algebricamente que o auxiliasse na resoluo de problemas.
Esse pensamento algbrico capaz de desenvolver habilidades para resolver
problemas tambm deveria compreender a lgebra e as suas estruturas internas. Deveria
permitir a compreenso dos significados dos smbolos algbricos, para que se possa
expressar esse pensamento algbrico atravs de diversas linguagens e, principalmente,
da linguagem algbrica.
Nesta tese vamos olhar apenas para um fator que decorre da ideia razovel de
conjecturar que as deficincias relacionadas s operaes algbricas, ao uso da
linguagem algbrica e ao uso da lgebra para a resoluo de problemas no foram
sanadas ao longo de todo o percurso escolar, possivelmente, porque no foram
diagnosticadas pelos professores. Chevallard (1991) destaca que muitas dificuldades
dos alunos no so plenamente identificadas. Alm disso, o autor ressalta que resolver
uma questo matemtica exige algumas habilidades implcitas3 nessas resolues.
Muitas vezes, o professor no as percebe e, portanto, no se preocupa com sua
aprendizagem. Nesse caso, o aluno pode ter dificuldades para a resoluo de questes,
devido no compreenso dessas habilidades implcitas, ou porque elas sequer foram
ensinadas explicitamente. Segundo Chevallard (1991), esse problema acaba no sendo
solucionado porque essas habilidades no esto definidas como objeto de ensino, o que
pode dificultar todo o processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, caberiam
algumas questes: quem o professor que est na sala de aula? Quais so suas
dificuldades para ensinar lgebra? Por que no consegue identificar os erros algbricos
dos alunos e suas razes? Essas questes remetem formao dos professores.
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3 Essas habilidades implcitas so chamadas por Chevallard (1991) de noes paramatemticas e
protomatemticas. Elas sero discutidas no captulo 3.
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Por isso, pretendemos focar nossa pesquisa na anlise dos livros didticos
porque reconhecemos sua importncia dentro da relao professor-aluno-saber e que
tambm ele pode influenciar novos mtodos de ensino. Essa referncia que o professor
encontra nos livros didticos mostra o quanto o livro d segurana para o caminho a ser
seguido pelo professor. Muitas vezes, um caminho seguido por dcadas, em alguns
casos, os mesmos que o professor percorreu enquanto aluno. Assim, concordamos com
Neves (1995) que trata o livro didtico como forte influenciador das prticas didticas
do professor e como veculo capaz de estabelecer novas tendncias para o ensino.
Para a anlise dos livros didticos usaremos a Teoria da Transposio Didtica
(TD) e a Teoria Antropolgica do Didtico (TAD), de Yves Chevallard (1991, 1999). A
escolha desse referencial terico se deu pelas possibilidades de respostas que podemos
encontrar.
Em relao ao uso das teorias de Chevallard em pesquisas a respeito de livros
didticos, vale destacar que Nogueira (2008) questionou se uma das fontes das
dificuldades da aprendizagem em lgebra no seria fruto de como a lgebra est sendo
ensinada aos alunos. Assim, delimitou sua pesquisa na caracterizao do incio formal
do ensino de lgebra presente nos livros didticos do Ensino Fundamental. A autora
analisou o livro do 7 ano do Ensino Fundamental de trs colees aprovadas no PNLD-
2008. Dentro desse livro, analisou o captulo referente equao de 1 grau, observando
como feita a apresentao e como o assunto conduzido nesse incio. Para a anlise a
pesquisadora utilizou a TAD4, na qual ela observou as praxeologias existentes em
relao tarefa de resolver a equao de 1 grau e levantar os momentos de estudos
apresentados nos livros.
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4 Podemos observar o uso da TAD em outras reas do conhecimento. Diogo, Osorio e Silva (2007)
apresentam contribuies da TAD para o ensino de Fsica.
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Em sua anlise, Nogueira (2008) observou que o primeiro livro desenvolve as
tcnicas e favorece o treino dessas tcnicas. Para a pesquisadora, esse livro est muito
baseado no bloco tarefa-tcnica. O bloco tecnolgico-terico, que seria, segundo
Chevallard (1999), o desenvolvimento das justificativas e dos significados que
envolvem a resoluo das tcnicas treinadas, aparecem somente nas caixas de dilogos
apresentadas no livro. Isso no se reflete em momentos de discusses e reflexes
propostas pelo livro. Essas discusses e reflexes s ocorrero se o professor propuser
atividades com esse intuito. Se o professor no perceber essa lacuna do livro, isso no
ocorrer e a aprendizagem estar comprometida.
J, o segundo livro, classificado pela pesquisadora como mais prximo das
diretrizes estipuladas pelo Guia do PNLD-2008. Este livro inicia a discusso com a
resoluo de problemas, mas, ao longo do captulo, d mais nfase resoluo de
equaes escritas em linguagem corrente ou em linguagem algbrica, trabalhando muito
pouco com a resoluo de problemas efetivamente. A estrutura do captulo procura,
primeiramente, apresentar toda a estrutura e a nomenclatura de partes da equao de 1
grau para, posteriormente, apresentar as tcnicas de resoluo. O bloco tecnolgico-
terico descrito por Chevallard (1999) aparece, segundo a pesquisadora, quando o livro
estabelece algumas regras para a resoluo de situaes-problemas. Segundo Nogueira
(2008), nesse momento, o autor tem a inteno de desenvolver as tecnologias e as
teorias em torno da tcnica utilizada.
O terceiro livro tem uma postura mais construtivista, pois no trabalha o
contedo de maneira convencional, no apresenta as tcnicas de resoluo de equao
ou apenas lana discusses em torno do desenvolvimento do assunto. O autor deixa para
os livros posteriores a continuidade desse contedo.
Nas trs anlises, Nogueira (2008) verifica que os autores no completam as
praxeologias da tarefa de resolver a equao de 1 grau. Percebe-se que, para analisar se
as praxeologias se completam, necessrio analisar como cada autor direciona seu
trabalho nos outros livros da coleo.
Chevallard (1999) ressalta que para que a construo do pensamento algbrico
esteja explcita na atividade do livro didtico precisamos encontrar toda a praxeologia
dessas tarefas, ou seja, que encontremos tambm o desenvolvimento do bloco
tecnologia-teoria. Assim, o nosso trabalho pretende ampliar essa anlise no somente
para a resoluo da equao de 1 grau, mas tambm para o ensino de lgebra do Ensino
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Fundamental. Mas, para que a praxeologia esteja completa o livro no pode deixar
subentendido o desenvolvimento da tecnologia, ou seja, o logos das tcnicas. Ele
precisa dar subsdios claros e explcitos para auxiliar o professor nesse trabalho.
Em uma pesquisa que analisou trs livros didticos do 9 ano do Ensino
Fundamental, escolhidos aleatoriamente, sendo dois da lista de livros aprovados do
PNLD-2006 e um da lista do PNLD-2008, Bittar e Silva (2009) verificaram que haviam
muitas similaridades no processo de didatizao dos trs livros didticos em relao
determinao das razes (da soluo) de uma equao de 2 grau. Os livros iniciavam o
captulo revisando a equao de 1 grau, posteriormente, passaram para o estudo da
resoluo das equaes de 2 grau incompletas, nas quais usaram procedimentos j
conhecidos pelos alunos e, por ltimo, a equao de 2 grau completa. O que
diferenciou um livro do outro foi a quantidade de exerccios resolvidos e propostos.
De modo geral, os autores no deixam explcito o discurso tecnolgico-terico
relativo s tcnicas; estes so, por vezes, identificados em registros como notas
informativas, observaes, ou inseridos na resoluo da atividade.
Neste caso, estamos tratando de um contedo que possui tcnicas que precisam
ser aprendidas de forma adequada e que o treino faz parte dessa aprendizagem. Com
isso, ainda encontramos uma boa parte dos textos em manuais que acabam privilegiando
somente o treino. Todavia, no podemos avaliar que todo o desenvolvimento algbrico
do restante da coleo mantm esse mesmo perfil. Por isso, sentimos a necessidade de
analisar todo o processo de didatizao do ensino de lgebra no Ensino Fundamental
para verificar se o perfil mais voltado para as tcnicas de resoluo sem justificativas se
estende por todo o percurso.
Em outras pesquisas, foram analisadas as prticas de professores a partir da
Transposio Didtica. Mateus Filho, Menezes, Queiroz e Silva (2013) analisaram as
aulas de um professor em relao ao conceito de funo. Com o uso da vigilncia
epistemolgica existente dentro da Transposio Didtica foi possvel analisar que, no
processo de didatizao interna do saber a ensinar que estava proposto no livro didtico
para o saber ensinado proposto por ele, o professor descaracterizou o conceito de
funo. No momento de adaptar alguns conceitos para ensinar os alunos a construir o
grfico de funo de 1 grau acabou cometendo algumas falhas conceituais. Dessa
maneira, quando o professor tenta transformar o saber a ensinar para o saber ensinado
na sala de aula e acaba sendo fiel quele, isso pode desenvolver alguns obstculos
aprendizagem.
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Em outra pesquisa, Guerra e Mesquita (2011) realizaram uma narrativa
autobiogrfica do professor Mesquita, na qual relatou o processo de construo do
conhecimento didtico luz da Transposio Didtica Interna, e ainda fez contraste
entre a prtica inicial, com forte influncia do livro didtico, com as prticas docentes
influenciadas pelos cursos de formao continuada, em nvel de especializao e de
mestrado. Assim, o professor declara que
A continuao da formao em nvel de mestrado me revelou a
importncia de minha relao com o saber na construo do meu
conhecimento didtico, na qual pude refletir que minha ao docente
inicial pautada numa relao com o saber onde os objetos matemticos
eram percebidos por mim como rgidos, ou seja, prontos e acabados
em si. No entanto, percebi que uma nova relao pessoal com o saber,
proporcionada pelas compreenses que tive da teoria da transposio
didtica matemtica, fez-me entender que os objetos matemticos
podem ter variantes nas instituies e na forma de abord-los. Assim
pude vislumbrar um fazer justificado por meio de articulaes e
integraes dos objetos matemticos na construo do meu projeto de
ensino, aqui entendido como o texto do saber eminente no qual
percebo meu fazer docente com um maior grau de profissionalizao.
(Guerra e Mesquita, 2011, p.11)
Em nossa pesquisa tambm usamos a Teoria da Transposio Didtica para as
anlises dos livros porque, para ns, essa Teoria antecede a Teoria Antropolgica do
Didtico e, em certo sentido, complementam-se. Assim, esperamos conseguir
compreender o processo de didatizao do incio do ensino de lgebra. Pretendemos
analisar se a inteno didtica dos livros compreende a ideia de ter como objeto de
ensino o desenvolvimento do pensamento algbrico.
Com este panorama, levantamos a hiptese de que uma parte do problema est
relacionada com a concepo de ensino de lgebra presente nos livros didticos; mais
especificamente, com seu percurso de didatizao. Para entendermos melhor o problema
seria pertinente avaliar como o ensino de lgebra apresentado nos materiais didticos
utilizados pelos professores e quais caminhos segue at se transformar de objeto a
ensinar a objeto ensinado?
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1.2. Objetivo e Problema
O objetivo geral de nosso trabalho analisar o quanto os materiais didticos
esto conseguindo contribuir para uma aprendizagem capaz de garantir a construo do
raciocnio, a crtica, a tomada de deciso, a compreenso e a utilizao da lgebra para a
resoluo de problemas e para a compreenso dos avanos cientficos e tecnolgicos da
sociedade contempornea. Mais especificamente, pretendemos analisar em que medida
os livros didticos esto focados em desenvolver o pensamento algbrico dos alunos.
Queremos investigar, nos livros didticos, se o pensamento algbrico
considerado objeto de ensino e se as habilidades envolvidas na construo do
pensamento algbrico so adquiridas no percurso escolar. Dito de outro modo, podemos
garantir que cada habilidade ou noo que compe o pensamento algbrico
estudada em um perodo especfico de um determinado ano escolar? Nossa hiptese
inicial sugere que a habilidade de representar algebricamente um problema no possui
lugar especfico no percurso escolar e tambm no possui instrues ou orientaes para
ser aprendido, nem existem nveis de aprendizagens que vo sendo explorados ao longo
de todo o perodo escolar.
Portanto, o que precisamos analisar tambm o quanto o material didtico
preocupa-se com a formao ao longo de todo o percurso escolar e o quanto deixa isso
claro para o professor que ir utilizar o livro. As atividades desenvolvidas no livro
didtico deveriam remeter a essa formao, ou seja, deveriam ser meios para realizar
essa formao ao longo de todo percurso escolar. Mas, isso estaria, de fato, ocorrendo?
Mais recentemente, o Ministrio da Educao (MEC) implementou o Programa
Nacional de Avaliao do Livro Didtico (PNLD). As exigncias impostas s editoras
por via dos editais do MEC poderiam ser indutoras de mudanas nos livros didticos.
Entretanto, um fato interessante que constatamos, comparando a lista de livros didticos
analisados por Neves (1995), na dcada de 90, e a lista dos livros aprovados no PNLD-
2011, foi que algumas colees pertencem s duas listas. E, alm disso, poucas
mudanas na estrutura dos livros ocorreram. Todavia, no iremos aqui analisar as
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mudanas ocorridas nos livros didticos desses autores em todo esse perodo, pois isso
transcende a proposta deste trabalho.
Queremos, no entanto, analisar se os livros atuais so compatveis com a
formao algbrica que est sendo discutida tanto nas pesquisas, quanto nos programas
implementados no Brasil. Pretendemos analisar o percurso de didatizao da lgebra
nos livros didticos do 7, 8 e 9 anos do Ensino Fundamental, perodo que definimos
como o primeiro contato formal com a lgebra.
A opo por olhar para o livro didtico a possibilidade de analisar um saber
que no exatamente o saber que est em cada sala de aula, mas uma fonte de estudo
e de direcionamento para os professores, pois , em princpio, o saber legitimado por
todos os envolvidos no processo de ensino. Alm disso, o saber presente nos livros
didticos tem uma intencionalidade didtica, que pode ou no ser percebida pelo
professor.
Por isso, parece-nos que ao analisar o livro didtico, interrogamos um saber que
est to consolidado e adaptado ao cotidiano escolar que no questionado. como se
perguntssemos por que agora deveria ser diferente, se o ensino foi sempre assim?
Nossa pesquisa pretende inverter essa questo: haveria outros percursos
possveis de didatizao da lgebra? Ou, ainda, as habilidades requeridas para a
construo do pensamento algbrico estariam contempladas na estrutura didatizada dos
livros didticos?
Com o objetivo de fazer esses questionamentos, vamos analisar, mais
precisamente, o ensino das equaes de 1 grau no 7 ano; o clculo algbrico, as
equaes fracionrias e os sistemas lineares no 8 ano, e as equaes e os sistemas de
equaes de 2 grau no 9 ano, para responder seguinte pergunta: Como os livros
didticos do Ensino Fundamental reconstroem o pensamento algbrico em seus objetos
de ensino?
A estrutura desta tese ser desenvolvida em mais seis captulos. No prximo
captulo, descreveremos as concepes do ensino de lgebra ao longo dos tempos at o
momento atual. Na concepo atual, fala-se muito no desenvolvimento de um
pensamento algbrico. Definiremos o que vamos chamar de pensamento algbrico e
apontaremos o que a literatura declara como as caracterizaes desse pensamento
algbrico.
No captulo 3, apresentaremos a Teoria da Transposio Didtica e a Teoria
Antropolgica do Didtico, ambas de Yves Chevallard (1991, 1999).
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No captulo 4, descreveremos como os materiais didticos (livros) foram
escolhidos e como as teorias de Yves Chevallard (1991,1999) foram utilizadas para a
anlise.
O captulo 5 apresenta as anlises dos trs materiais pedaggicos luz da Teoria
da Transposio Didtica, enquanto que no captulo 6 apresentaremos as anlises dos
materiais por meio da Teoria Antropolgica do Didtico. O Captulo 7 ser destinado s
concluses desta tese.
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2. ENSINO DE LGEBRA E
PENSAMENTO ALGBRICO
Neste captulo pretendemos discutir o ensino de lgebra, as concepes de
ensino desenvolvidas ao longo dos tempos e como o ensino de lgebra pode ocorrer na
relao entre o desenvolvimento do pensamento algbrico e o da linguagem algbrica.
Mostraremos que algumas deficincias no ensino de lgebra so resultados de
um processo histrico desse ensino e que, atualmente, existem outras concepes de
ensino na literatura que apontam para o desenvolvimento de um pensar algbrico como
marca dessa concepo.
A linguagem algbrica nesse cenrio aparece como expresso desse pensamento.
E, a discusso do ensino dessa linguagem assemelha-se com o desenvolvimento dela na
histria da lgebra. Tomaremos como referncia que o desenvolvimento da linguagem
algbrica acontece em trs fases: retrica, sincopada e simblica.
Para concluirmos o captulo, estudaremos as caracterizaes desse pensamento
algbrico, em especial, a relevncia em desenvolver a percepo dos padres e a
representao das generalizaes por meio da linguagem algbrica, ao longo do Ensino
Fundamental.
2.1. Desenvolvimento da lgebra
O ensino de lgebra atualmente se d por uma relao de regras que devem ser
executadas pelos alunos para encontrar o xis da questo, ou seja, a resposta exigida.
Esse o resultado de um processo de didatizao que a lgebra sofreu ao longo dos anos
e que se mantm at hoje na escola. Mesmo com vrias reformas educacionais,
diferentes diretrizes e orientaes propostas para o sistema de ensino brasileiro, o ensino
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de lgebra permaneceu com poucas alteraes no Ensino Fundamental e, at mesmo, no
Ensino Mdio.
Assim, concordamos com Barbosa e Borralho (2009) quando afirmam que ainda
prevalece, no ensino de lgebra, o desenvolvimento de um conjunto de tcnicas
operatrias que busca apenas resolver equaes. Os alunos aprendem o como fazer, mas
poucos aprendem a respeito do porqu e do para qu. Isso nos leva a questionar o
quanto esse ensino est proporcionando uma aprendizagem de fato. Para entendermos
esse processo no basta criticar as pessoas envolvidas no momento atual. Ressaltamos
que seja necessrio compreendermos como o ensino de lgebra se desenvolveu ao longo
dos tempos e quais as concepes que permearam esse caminho. Para isso, apoiamo-nos
em Fiorentini, Miguel e Miorim (1993a), que procuram descrever cada momento do
desenvolvimento do ensino de lgebra.
Alm disso, Fiorentini, Miguel e Miorim (1993a) destacam que ao longo da
histria do ensino da matemtica elementar, manifestaram-se diferentes concepes
sobre o ensino da lgebra. Uma primeira noo do ensino de lgebra, vigente durante
todo o sculo XIX e a primeira metade do sculo XX, tanto no Brasil quanto em outros
pases, admitia a ideia de que somente a aquisio do transformismo algbrico
(entendido como o processo de obteno de expresses algbricas equivalentes entre si
mediante o emprego de regras e propriedades vlidas) seria necessrio e suficiente para
que o aluno adquirisse a capacidade de resolver problemas, mesmo que esses fossem
quase sempre artificiais. O transformismo algbrico resumia-se numa sequncia de
tpicos, passando pelas expresses algbricas, por operaes, equaes e, finalmente,
pela resoluo de problemas.
O movimento da Matemtica Moderna, cujo predomnio ocorreu desde o final
dos anos 50 ao final dos anos 70, tanto no Brasil, quanto no contexto internacional, iria
se contrapor concepo acima. Nesse segundo movimento, o papel pedaggico da
lgebra passa a ser o de fundamentar os vrios campos da matemtica escolar. No que
se refere, particularmente, forma de abordagem daqueles contedos ditos algbricos,
prevaleceu a ideia de que a introduo de propriedades estruturais das operaes com os
nmeros, que justificassem logicamente cada passagem presente no transformismo
algbrico, capacitaria o estudante a identificar e a aplicar essas estruturas nos diferentes
contextos.
Em busca dessa compreenso, os tpicos algbricos foram reorganizados e
expresses algbricas, valores numricos, operaes e fatorao seriam antecedidos
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pelos conjuntos numricos, pelas propriedades estruturais, pelas sentenas abertas e
fechadas, pelo conjunto-universo e conjunto-verdade, pelas equaes e inequaes do 1
grau e sucedidos por novos contedos algbricos (funes) (Fiorentini, Miguel e
Miorim, 1993a).
Uma terceira concepo do ensino de lgebra tentou fazer a sntese entre as duas
anteriores, uma vez que procurou, por um lado, recuperar o valor instrumental da
lgebra e, por outro, manter o carter de justificao das passagens presentes no
transformismo algbrico. Essa nova forma de justificar baseou-se, na maioria dos casos,
em recursos analgicos geomtricos e, portanto, visuais. Nesse sentido, os adeptos dessa
ideia acreditam que uma lgebra geomtrica, por tornar visveis certas identidades
algbricas, seria didaticamente superior a qualquer forma de abordagem estritamente
lgico-simblica. Isso, porm, no significa defender a impossibilidade de acesso do
estudante a uma forma de abordagem meramente simblica e mais abstrata, mas,
simplesmente, acreditar que a etapa geomtrico-visual constitui-se em um estgio
intermedirio e/ou concomitante abordagem simblico-formal. Outro recurso bastante