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O PEDAGOGO EM AMBIENTE NÃO ESCOLAR: HORIZONTES E
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS
Geraldo Magela de Paula1
RESUMO
O pedagogo é um profissional no presente com visão de futuro. Sua formação principal é voltada para
o magistério com atividades de docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental.
O que o pedagogo poderá fazer fora do ambiente escolar? Existem outros locais que não seja a escola
para desenvolver suas atividades? Ainda indagações como quais contextos ou ambientes não
escolares o pedagogo pode trabalhar? Onde estão estes ambientes? O que é necessário para exercer
suas atividades fora da escola? Essas questões poderão ser respondidas com base na legislação e na
literatura de pedagogia associada a outras bibliografias. O objetivo deste trabalho é apresentar ao
profissional pedagogo a sua importância em atividades que extrapolam a sala de aula e a escola. É um
trabalho de pesquisa bibliográfica baseado principalmente nas obras de PIMENTA (2006), LIBÂNEO
(2010), MATOS e MUGIATTI (2014), GAETA e MASETTO (2013), VOGT e ALVES (2005), LIBÂNEO
(2003), LIBÂNEO (2008). Também foram consultados também estudos realizados por pesquisadores
e publicados na internet. Muito se questiona sobre a identidade e campo de atuação do pedagogo, é
preciso mostrá-lo os horizontes e deixá-lo tomar as decisões que competem a ele escolher onde
exercer sua profissão: pedagogo.
Palavras-chave: Pedagogia. Pedagogo. Ambiente. Não escolar. Planejamento.
Treinamento.
Introdução
O termo pedagogia literalmente significa guia condutor de crianças. Na Grécia
antiga pedagogo era considerado o escravo que conduzia as crianças das elites para
a escola. A Pedagogia agora é entendida como um curso atual e para o futuro. O
profissional pedagogo busca ao longo da sua formação aperfeiçoar na docência,
envolvendo-se em atividades voltadas para lidar com crianças e pré-adolescentes e
ainda ensinar jovens e adultos. Ao tratar com as crianças a Pedagogia é essencial,
1 Pedagogo pela Faculdade de Ciências Humanas Católica de Brasília.
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mas quando sua clientela são os jovens e adultos, torna-se imperioso o conhecimento
da andragogia e suas técnicas de ensino para desenvolver sua atividade docente.
A definição do ambiente de trabalho é fundamental para qualquer profissional
e sua formação. Assim o engenheiro com formação na engenharia civil, mecânica,
mecatrônica, eletrônica, elétrica, ambiental, da computação, naval, sanitária, química,
agrícola, entre outras, são todos engenheiros, mas atuam em diferentes áreas.
Educadores são todos aqueles que estão envolvidos diretamente na formação do
caráter de outrem, nem sempre metódico e sistemático, porém, o professor além da
educação é responsável também pela transmissão do conhecimento e instrução do
educado. Segundo Libâneo (2003, p. 64) é “verdade que a profissão de professor vem
sendo muito desvalorizada tanto social quando economicamente, interferindo na
imagem da profissão”.
A importância da Pedagogia é hoje, mas seria paradoxal afirmar que nunca
deixou de ser uma ciência do futuro. Os cursos de formação do pedagogo estão
voltados, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNs, constantes na
Resolução 1/2006, de 15 de maio de 2006, para preparação do profissional para a
docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, porém abre
perspectivas para atuação desse profissional também em ambientes não escolares.
O que vem a ser estes espaços não escolares? Onde o pedagogo poderá emprestar
seus conhecimentos atuando de forma incisiva em outros espaços, senão o escolar?
Pimenta (2006, p. 102), ainda questiona quando fala que muitas ”perguntas ainda
permeiam o assunto, muitas contradições emergem, mas há uma questão crucial: o
curso de Pedagogia deve formar o pedagogo, propriamente dito, ou o professor? ”. As
respostas a estas indagações serão o suporte orientador deste trabalho de pesquisa
bibliográfica.
O objetivo fundamental deste artigo é esclarecer e orientar o estudante do curso
de Pedagogia que sua formação não está limitada a sua atuação somente como
docente em escolas e outras instituições de ensino. Existem outros ambientes, além
dos muros da escola, que favorecerão o desenvolvimento das suas atividades
didático-pedagógicas devendo, inclusive, serem valorizados profissional e
financeiramente. É necessário no decorrer do curso de Pedagogia apresentar aos
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alunos estudos como os andragógicos e heutagógicos. Os estudos andragógicos
estão baseados “em premissas que indicam distinções, do ponto de vista da
aplicabilidade do conhecimento e do método de ensinar, entre o ensino voltado para
alunos adultos e o ensino de crianças”, (VOGT E ALVES, 2005, s.p.). Os heutagógicos
conduzem o aluno a administrar sua própria aprendizagem, o que servirão de base
para lidar com jovens e adultos e autodidatas, como na educação continuada e em
outras áreas pedagógicas.
Este é um trabalho de pesquisa bibliográfica baseado principalmente nas obras
de Pimenta (2006), Libâneo (2010), Matos e Mugiatti (2014), Gaeta e Masetto (2013),
Vogt e Alves (2005), Libâneo (2003) e Libâneo (2008). Foram consultados também
estudos realizados por outros pesquisadores e publicados na internet, principalmente
no tocante a legislação. Baseado nestes estudos pode-se observar que a sociedade
vê o pedagogo como um profissional voltado somente para uma atuação docente,
mas o seu horizonte de trabalho extrapola as salas de aula e os muros das escolas.
Segundo Libâneo (2008), o curso de Pedagogia
deve formar o pedagogo stricto sensu, isto é, um profissional qualificado para atuar em vários campos educativos para atender demandas socio-educativas de tipo formal e não-formal e informal decorrentes de novas realidades – novas tecnologias, novos atores sociais, ampliação das formas de lazer, mudanças nos ritmos de vida, presença dos meios de comunicação e informação, mudanças profissionais, desenvolvimento sustentado, preservação ambiental [...], nos movimentos sociais, nas empresas, nas várias instâncias de educação de jovens e adultos, nos serviços de psicopedagogia e orientação educacional, nos programas sociais, nos serviços para a terceira idade, nos serviços de lazer e animação cultural, na televisão, no rádio, produção de vídeos, filmes, brinquedos, nas editoras, na requalificação profissional etc.(LIBÂNEO, 2008, pp.38-39).
É necessário ao pedagogo buscar sempre a sua valorização junto ao mercado
de trabalho. No Brasil, os governantes não valorizam esses profissionais. Quando
comparado com outros países, o índice salarial classifica o Brasil nos finais de
qualquer pesquisa no ranking educacional, inclusive a desvalorização do professor. É
necessário mostrar o pedagogo como um profissional diferenciado, partindo das suas
atividades com crianças e jovens pré-adolescentes, como matéria prima a ser
trabalhada por uma pessoa capaz de mudar todo o seu comportamento.
A formação do profissional pedagogo não se limita a uma área específica, haja
vista que as matrizes curriculares dos cursos de pedagogia são compostas por
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disciplinas com características voltadas para o conhecimento do ser humano como
um todo. O pedagogo é um profissional cujos conhecimentos estão embasados na
psicologia, na sociologia, na filosofia, na antropologia, na linguística, política, história,
cultura, economia, no ambiental-ecológico e no histórico social da criança, além das
metodologias de ensino geral e específicas, entre outras. Esses conhecimentos
associados ao estágio supervisionado na docência da educação infantil e dos anos
iniciais do ensino fundamental constituem o grande elo que liga a universidade com a
comunidade, teoria e prática, sonhos e realidade. E ainda, liga o conhecimento
endógeno e exógeno, conhecimento científico e conhecimento empírico, que é a razão
e emoção e ainda o divisor que vai nortear a reafirmação da identidade profissional
do futuro pedagogo.
A matriz curricular do curso de Pedagogia vai além das disciplinas elencadas,
formando um especialista em projetos, planejamentos, gestão de recursos humanos
e treinamento. O pedagogo fora do ambiente escolar é um profissional que se encaixa
em empresas, instituições de serviço público, em todas esferas, hospitais, museus,
shoppings, entre outras. Com isso não quer dizer da existência da pedagogia
hospitalar, pedagogia social, pedagogia ambiental ou pedagogia empresarial, não
enquanto formação, mas quanto ao campo de atuação como profissional pedagogo,
conforme Resolução CNE/CP Nº 1, de 15 de maio de 2006.
Desenvolvimento
A Pedagogia, que ainda vive em busca de uma identidade, encontra explicação
no campo do magistério, onde o exercício da atividade de docência a partir de 1996,
com o advento da Lei Darcy Ribeiro (9394/96), na qual tornou-se obrigatória a
formação superior do professor. Esta obrigatoriedade impôs uma situação no mínimo
sui generis, ao estabelecer a todo professor que atua na educação infantil ou nos anos
iniciais do ensino fundamental deva ser portador de diploma de ensino superior, uma
vez que não existia no Brasil mão de obra que atendesse a esta exigência.
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A história da educação mostra o cenário terrível onde o Marquês de Pombal
expulsou os jesuítas da colônia portuguesa, incluindo o Brasil, em 1759, sem
apresentar um sistema educacional alternativo que suprisse o ensino ministrado pelos
religiosos na colônia. Em BRASIL (2006), no período de 1934 a 1964, diante do
crescimento do número de crianças entrando na idade escolar, o professor teve seu
salário desvalorizado não conseguindo mais reconquistar as melhorias como um
profissional da educação. São esses desmantelamentos na educação que acabaram
deixando um vácuo sem resultado positivo. Por mais que se esforce, se não tiver uma
política educacional séria centrada na valorização do professor será difícil reverter
essa realidade.
Ainda hoje muitas universidades e instituições de ensino superior promovem
encontros, seminários, mesas-redondas, fóruns, entre outros eventos, com temas
voltados para a identidade do pedagogo. Apesar das discussões em diversas esferas,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN no artigo 62 diz que
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (LDBN, 1996, ART. 62, CAPUT).
A Lei de diretrizes e Bases da Educacional Nacional de 1996 põe fim ao
Magistério de nível médio, exigindo a formação de nível superior. A formação para o
exercício do magistério passa a ser de nível superior. Foram feitas várias tentativas
como magistério de nível superior, normal de nível superior, entre outras, culminando
com o curso de Pedagogia sendo o responsável pela formação dos professores para
atuarem na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental.
O artigo 3º da Resolução CNE/CP 1/2006 diz que a formação do pedagogo,
estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética. (RESOLUÇÃO CNE/CP, 1/2006, ART. 3º, CAPUT).
Entende-se que a prioridade da formação do pedagogo é para atuar em
ambiente escolar, no exercício da docência, coordenação ou gestão. Deixa a entender
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que também em outras áreas exigem conhecimentos pedagógicos abrindo portas para
o pedagogo fora do ambiente escolar conforme consta na Resolução CNE/CP 1/2006,
de 15 de maio de 2006, o artigo 4º que traz no bojo
O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (BRASIL, Resolução CNE/CP 1/2006, artigo 4º).
O pedagogo, segundo a Resolução 1/2006, ao concluir o curso de Pedagogia,
está apto para exercer suas atividades de docência na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental nos ambientes escolares. Sua aptidão se estende ao
exercício de atividades pedagógicas em empresas privadas, serviços públicos, estatal
e não estatal, nas esferas municipais, estaduais e federais. Segundo Libâneo (2010,
p. 62) o “pedagogo entra naquelas situações em que a atividade docente extrapola o
âmbito específico da matéria de ensino”.
O parágrafo único do artigo 4º da Resolução CNE/CP 1/2006, diz que as
atividades docentes compreendem participação do pedagogo na organização e
gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: inciso II “planejamento,
execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências
educativas não-escolares”; e o inciso III complementa a “produção e difusão do
conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e
não-escolares.
A atuação do pedagogo nos ambientes escolares é ampla e irrestrita. Assumir
cargos como secretário de educação e membros de conselhos de educação
(municipal, estadual e federal), deveria ser prioritário do pedagogo e não só político.
Muitos setores dentro dos órgãos educacionais são extremamente técnico-
pedagógico-administrativo e sociocultural, que exigem conhecimentos próprio da
formação do pedagogo, porém, são exercidos por outros profissionais sem
qualificação, onde o político prevalece sobre o especialista. Longe da presunção de
que tudo é para o pedagogo, mas no campo do direito, é para o advogado, da
medicina o médico, da administração o administrador.
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A estrutura e a organização das escolas competem as secretarias de educação,
mas sua gestão e o funcionamento estão na alçada da direção, coordenações,
professores e pessoal envolvido (administrativo, cantina, transporte, vigias, limpeza e
manutenção) e toda comunidade na qual a escola está inserida. Desde a estruturação
e organização até funcionamento da escola, os cargos de gestão devem ser
preferencialmente de pedagogos. Para Libâneo (2010, p. 56), ainda
que as práticas educativas hoje se encontrem bastante ampliadas, não se reduzindo ao ensino, continua pertinente reconhecer nesses elementos constitutivos do pedagógico o núcleo de referência dos conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais que compreendem a competência profissional do pedagogo.
Exigir que sejam criados cargos e funções com salários compatíveis
exclusivamente para pedagogos é um desafio a ser enfrentado. O pedagogo é um
expert projetista na área social. Facilidade para coordenar equipes de trabalho,
planejamento e assistência em treinamentos, programação de eventos,
responsabilidade em brinquedotecas, clubes, elaboração materiais instrucionais,
turísticos, comunicação social, interação com visitantes em museus, acompanhar e
assistir crianças internadas em casas de saúde, hospitais e no domicílio, são alguns
ambientes que necessitam do pedagogo.
É importante saber que a Pedagogia é uma só. Não é necessário rotular como
pedagogia hospitalar, pedagogia empresarial, pedagogia institucional ou outro nome.
O curso é de Pedagogia, porém, onde o profissional pedagogo vai exercer suas
atividades não importa. O pedagogo deverá buscar sua especialização em áreas
afins, pois ele um pedagogo. Sua formação inicial o torna um estudioso, especialista
e um cientista da educação.
Indagações como quais contextos ou ambientes não escolares o pedagogo
pode trabalhar? Onde estão estes ambientes? O que é necessário para exercer suas
atividades fora da escola? Essas questões poderão ser respondidas com base na
legislação e na literatura de pedagogia associada a outras bibliografias. Algumas
tentativas de respostas surgirão no decorrer deste estudo, como diz Gaeta e Masetto
(2013, p. 29) uma vez que envolve “aprender a perceber e analisar valores éticos,
culturais, sociais, econômicos, políticos, ambientais, presentes nas atitudes e
decisões técnicas e profissionais”. Para esses autores o
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profissional precisa se formar com ampla competência técnica em sua área, mas ao mesmo tempo com profundo comprometimento com a cidadania. Deve compreender e ter como objetivo o fato de que, ao exercer sua função, ele está prestando um serviço à coletividade, contribuindo de forma consciente para atender suas necessidades e melhorar sua condição de vida. (GAETA E MASETTO, 2013, p. 29).
O profissional, qualquer que seja formação, ao entrar num mercado de trabalho
competitivo é necessário além de procurar especializar e atualizar o máximo, ser
determinado ao vestir a camisa da empresa, da instituição ou qualquer outro lugar que
vá trabalhar. Nesse campo o pedagogo deve ter uma postura ética, ser um crítico
construtivo, possuir competência técnica e humana, comprometimento e saber que
vestir a camisa é ter compromisso, é acreditar, entregar-se, sentir-se motivado,
interessado, ser otimista e saber que é capaz de modificar de forma consciente toda
uma realidade em prol de melhorias e condições de vida. Mas onde estão as
oportunidades que o mercado de trabalho oferece para o pedagogo? Como acessá-
lo?
O profissional pedagogo no ambiente hospitalar poderá exercer diversas
atividades, porém seu contrato deverá ser o cargo de Pedagogo e suas atribuições
deverão estar voltadas para planejamento, construção de projetos, acompanhamento,
execução, coordenação e atuação junto as crianças em idade escolar enfermas. O
acompanhamento à criança deverá ser além do escolar como a ludoterapia,
brinquedoteca, entre outras. O cargo deverá ser efetivamente de Pedagogo. Para
desenvolver suas atividades no ambiente hospitalar o ideal é que o mesmo busque
um maior entrosamento com o corpo médico e demais profissionais envolvidos no
atendimento e assistência aos pacientes. A Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, no
artigo 4º, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente diz que
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (ECA, 1990, artigo 4º)
Não importa onde a criança esteja, é necessário assegurar efetivamente os
seus direitos, entre eles à educação. Outro aspecto muito importante é o
acompanhamento e assistência como estabelece o artigo 18 do ECA onde a criança
e o adolescente “têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico
ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação
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ou qualquer outro pretexto, pelos pais”, inclusive “pelos integrantes da família
ampliada”, (ECA, 1990, art. 18, incluído pela Lei nº 13.010, de 2014). Assistir a criança
no ambiente hospitalar coloca o pedagogo entre os membros de uma equipe de saúde
em busca do melhor para o menor, além do corpo, além do físico. Segundo Matos e
Mugiatti (2014), em
síntese, a finalidade da ação educativa continuada no âmbito hospitalar é própria de um saber e de uma profissão específicos, juma ação pedagógica que não expõe nem confunde com a ação e a finalidade que são conaturais à medicina e ao ato médico. (MATOS E MUGIATTI, 2014, p. 46).
A criança hospitalizada tem seus direitos garantidos legalmente e cabe ao
estado assisti-la visando a minimizar o prejuízo da frequência escolar. É necessário
buscar soluções definitivas e não paliativas na resolução do problema da criança
internada, ainda que esteja no domicílio sob cuidados médicos. No aspecto
educacional o pedagogo é o agente indicado para fazer este acompanhamento tanto
no hospital como no domicílio do enfermo.
Outro cenário em voga no qual o pedagogo tem um papel relevante é o meio
ambiente. Não se refere a uma pedagogia ambiental, mas ao local ou as atividades
desenvolvidas pelo profissional pedagogo num setor ou segmento responsável pelo
ambiente de forma geral. Nesse sentido o trato da educação como programa
ambiental passa a preocupar-se com o desenvolvimento e sustentabilidade, inclusive
na participação em projetos socioambientais. No seu artigo intitulado
Ecopedagogia, Pedagogia da Terra, Pedagogia da Sustentabilidade, Educação
Ambiental e Educação para a Cidadania Planetária (2001), Gadotti afirma que
A ecopedagogia está se desenvolvendo seja como um movimento pedagógico seja como abordagem curricular. Como a ecologia, a ecopedagogia também pode ser entendida como um movimento social e político. Como todo movimento novo, em processo, em evolução, ele é complexo e pode tomar diferentes direções. A ecopedagogia também implica uma reorientação dos currículos para incorporarem certos princípios e valores. (GADOTTI, 2001, p. 4).
Entende-se que por se tratar de um movimento, torna-se imperioso rever e
reestruturar o currículo do curso de Pedagogia. Todavia se para incorporar como uma
nova área de atuação do pedagogo não se torna necessário incorporar novos
princípios e valores ao currículo uma vez que o conteúdo poderá ser trabalhado
através da interdisciplinaridade.
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Em shoppings e hipermercados o pedagogo será muito útil nas programações
infanto-juvenis para comemoração de diversas datas. Além de um excelente projetista
nos recursos humanos poderá também ser um forte aliado a área da mídia por saber
como motivar através dos olhos, preparando um ambiente e criando uma atmosfera
favorável ao consumo. Claro que muitas pessoas podem até pensar em
brinquedotecas, mas nesse segmento do comércio não é tão importante manter a
criança fora das lojas, pois são elas consumidoras em potencial, enquanto os pais são
os clientes preocupados em satisfazem suas vontades.
A pedagogia social, em discussão em vários setores da educação no Brasil,
tem sua regulamentação travada na CNE/CP Nº 1, de 25 de maio de 2006, como nas
demais nomenclatura. Ao se tratar da atuação do pedagogo em área social é
importante conhecer antes disso a educação social. Machado (2009, p. 11390) faz um
alerta importante quando afirma que os “concursos públicos para educadores e
educadoras sociais, em mais de 100 municípios de 21 Estados do país, confirmam o
campo de trabalho”. Cabe aqui questionar: onde diz que é só o pedagogo é um
educador? O termo educação é amplo e irrestrito e quando se trata do educador
social, não é necessariamente com formação em Pedagogia. Machado (2009), ainda
afirma que
As discussões iniciais da Pedagogia Social no Brasil dirigiram as reflexões e análises para intervenções fora da escola em processos não formais. Estabeleceu-se inicialmente uma pedagogia da negação: o não escolar, o não formal. A própria relatividade histórica e política forçam um repensar desses conceitos, isto porque o não formal pode passar a ser formal dependendo do contexto, e, mais, pode ser formal em um país e não o ser em outro. (MACHADO, 2009, pp. 11388-11389).
Assim, numa visão mais holística, a Pedagogia denominada social, é uma ideia
longe de se ver, mas uma coisa é certa que os cursos de Pedagogia por sua natureza
já possuem um caráter social pela sua própria estrutura curricular. O pedagogo pode
e deve atuar em áreas onde a educação social é exigida, principalmente onde as
medidas socioeducativas são aplicadas, inclusive à frente de equipes de trabalho. A
Pedagogia continua sendo um curso com formação voltada principalmente para a
docência, mas como, aqui no Brasil, somente através de uma especialização é que
poderia, como o próprio nome diz, especializar em outra área, acrescentando
ecologia, ambiente, empresa, hospital, saúde, social, psicopedagogia, entre outras.
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Nas áreas da cultura, do lazer e do turismo e, principalmente em colônias de
férias, o pedagogo pode atuar como um excelente programador e organizador,
preparador de ambientes para as empresas que atuam no ramo de excursões,
passeios, viagens, entre outras. Aqui pode-se acrescentar ainda por se tornar um
braço direito para o museólogo, pois cabe ao pedagogo planejar e receber visitantes,
falando uma linguagem simples e profissional com sua clientela. É o pedagogo que
vai preparar toda a atmosfera ambiental para favorecer a presença e participação dos
visitantes nas atividades programadas.
Quando se fala do profissional pedagogo nessas áreas de atuação, isto é, fora
do ambiente escolar, não quer dizer que se limita somente as áreas citadas neste
artigo, porém este material servirá de balizamento para não ver somente a escola,
mas o horizonte que poderá exercer suas atividades pedagógicas. A Lei Nº 13.083,
de 08 de janeiro de 2015, institui o Dia Nacional do Pedagogo, a ser comemorado no
dia 20 de maio de cada ano. Esta conquista é um resultado de uma luta travada
durante cinco anos no Congresso Nacional. É um dia a ser comemorado com toda
equipe e em todos ambientes, escolares e não escolares.
Conclusão
A Pedagogia vista como um curso formador de mentes e cabendo ao formando
exercer suas atividades na escola ou fora dela. O mercado de trabalho, como de
consumo, de cultura, saúde, lazer e entretenimento tanto nos setores primários,
secundários e terciários são fontes de emprego e colocação para o profissional
pedagogo, principalmente se há predisposição em criar, fazer o novo e exercer com
consciência suas novas atividades pedagógicas.
O pedagogo precisa ter consciência da sua capacidade baseado na sua
formação onde as portas abertas ainda significam desafios a serem vencidos dentro
e fora da escola. Os obstáculos a serem superados não podem ser vistos como
impossíveis de serem transpostos, mas que com sabedoria, conhecimento e garra
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nada poderá impedir a realização de seus sonhos. A conquista num mercado de
trabalho depende unicamente da sua disposição, competência e estudo.
Terminar a graduação do curso de Pedagogia é conseguir vencer uma
importante etapa da sua profissionalização. Em uma empresa, hospital ou outra área
que se preste a utilizar seus conhecimentos profissionais, exigem que o pedagogo se
comprometa com o segmento envolvido e demonstre o interesse em produzir para o
seu crescimento pessoal, profissional e financeiro. O pedagogo precisa reconhecer
que sua responsabilidade ultrapassa os limites de uma formação didático-pedagógica
e social e que deve buscar novos horizontes e perspectivas profissionais para sua
realização.
REFERÊNCIAS
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elaboração Ignez Pinto Navarro... [et. al.]. – Brasília: Ministério da Educação,
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_______. Parecer CNE/CP Nº 3/2006. Reexame do Parecer CNE/CP nº 5/2005, que
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