O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO SOB A ÓTICA DAS … · Também, procuraremos demonstrar que a educação...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO SOB A ÓTICA DAS QUESTÕES DA INFLUÊNCIA SOCIAL E FAMILIAR NO AMBIENTE DA APRENDIZAGEM Por: Patrícia Pontes Ferreira Orientadora Profª: Carly Machado Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO SOB A ÓTICA DAS

QUESTÕES DA INFLUÊNCIA SOCIAL E FAMILIAR NO

AMBIENTE DA APRENDIZAGEM

Por: Patrícia Pontes Ferreira

Orientadora

Profª: Carly Machado

Rio de Janeiro

2010

2UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO SOB A ÓTICA DAS

QUESTÕES DA INFLUÊNCIA SOCIAL E FAMILIAR NO

AMBIENTE DA APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso para

aprovação na disciplina de Metodologia da

pesquisa e monografia, do Instituto A Vez do

Mestre - Universidade Cândido Mendes como

parte dos requisitos para obtenção do Grau de

Especialista em Psicopedagogia.

Por: Patrícia Pontes Ferreira

Rio de Janeiro

2010

3AGRADECIMENTOS

A todas as pessoas que colaboraram com a

realização deste trabalho, sejam com

comentários, críticas e fornecimento de textos,

livros e artigos, sejam com incentivos,

elementos tão importantes para a elaboração

do mesmo.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho monográfico a todas as

pessoas que de alguma forma me deram o

incentivo necessário para a construção desse

trabalho; aos meus pais Elias Gadelha Ferreira

e Eguimar Pontes Ferreira, meu noivo Diogo

Wallace Barbosa S. Sanches por suas valiosas

críticas construtivas e palavras de apoio que

em muitos momentos deram-me a força

necessária para continuar buscando o melhor;

a minha professora orientadora, elemento de

fundamental importância para reflexão e estudo

neste trabalho.

5

“Se não procurares senão a recompensa, o

trabalho vai parecer-te penoso: mas, se

apreciares o trabalho por si mesmo, nele

próprio terás a tua recompensa.”

TOLSTÓI (1828 – 1910 )

6LISTA DE SIGLAS

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

LDB - Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

7RESUMO

Apresentamos o seguinte trabalho monográfico com a proposta de

mostrar o papel exercido pela família no melhor desenvolvimento da

aprendizagem do aluno. Notoriamente, o primeiro contato social do ser humano

é gerado em seu núcleo familiar, a influência da família em determinados

aspectos pode ser considerada como um dos fatores determinantes do

crescimento humano. Tal fator pode ser também um diferencial a ser analisado

na vida cotidiana do aluno. Com a cultura enraizada por cada membro, suas

aspirações e ideologias, visando uma melhor compreensão e exercício de

cidadania e formação plena no desenvolvimento humano.

Palavra-chave: Família. Desenvolvimento. Aprendizagem.

8ABSTRACT

The following monographic term works as an ideal bid in order to demonstrate

the role done by family members in general for a better development of

student’s learning. Notoriously, the first social contact of the human being is

created in its family. Family's influence in certain aspects can be considered as

one of the determinants of human growth. This factor may also be a differential

when analyzed and studied in the daily life of a student, because the culture

rooted in a family environment, aspirations and ideologies, always seeking for

understanding and constant improvement for the preparation turned to a full

exercise of citizenship and character training in human development must be

taken into account and therefore is one of the focuses of our research.

Keywords: Family. Development / Evolution. Learning.

9METODOLOGIA

O presente trabalho monográfico foi baseado em pesquisa bibliográfica

de revisão da literatura cujo foco foi a busca pelo embasamento do tema: “A

aprendizagem nas séries iniciais no ensino fundamental e os elementos que

interferem no processo, com ênfase na participação familiar”.

10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I 15

SOCIEDADE E FAMÍLIA 15

CAPÍTULO II 24

CONCEITO DE APRENDIZAGEM, SEUS PROCESSOS E A

PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE 24

CAPÍTULO III 30

OS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM E A PARTICIPAÇÃO

DA FAMÍLIA 30

CONCLUSÃO 34

ÍNDICE 36

REFERÊNCIA 37

11INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como proposta estudar as

maneiras pelos quais o ambiente familiar pode interferir na aprendizagem em

prol da evolução do ser humano ou, de modo contrário, trazer prejuízos

severos ao processo, em casos de uma estrutura familiar não completamente

estruturada para os parâmetros sociais vigentes.

Entende-se por estrutura familiar não completamente estruturada para

os parâmetros sociais vigentes, a omissão familiar, seja por questões de cunho

social, afetivo ou quaisquer outras que tendam a influenciar e refletir na vida

cotidiana do aluno e possam tornar-se elementos geradores de dificuldades

nos diferentes níveis de aprendizagem.

Este estudo nasce após sucessivas pesquisas e leituras sobre o tema,

além de ter despertado especial interesse em função das constantes

observações in loco, cujo laboratório principal para tal trabalho foi a percepção

de determinados alunos com perfis sociais semelhantes, muitas vezes

colocados à margem, em diferentes ambientes escolares.

A preocupação do educador com fatores que interferem na

aprendizagem é uma constante. O ambiente familiar é, certamente, um destes

fatores e, portanto, torna-se preponderante compreender de forma não apenas

superficial a relação que pode existir entre um possível distúrbio causador da

dificuldade de aprendizagem e a efetiva participação da família e da sociedade

neste panorama.

Certas crianças podem não aprender, ou eventualmente apresentem

certa dificuldade no entendimento e compreensão, e a questão a ser estudada

e que encontra-se implícita na citada dificuldade é: até que ponto a família,

enquanto organismo inserido em um contexto social e pertencente

naturalmente a alguma sociedade definida pode auxiliar ou prejudicar o

processo de aprendizagem? De que maneira as questões ligadas ao apoio

familiar podem ou não interferir no desenvolvimento pleno do discente?

12Por isso, a abordagem da necessidade de compreender a trajetória do

desenvolvimento pleno do ser humano e a importância da estruturação da

família, são objetos desta reflexão. Analisar este desenvolvimento, levando em

conta os distúrbios que podem ser ocasionados quando este não recebe o

necessário apoio dentro de seu núcleo familiar é uma proposta a ser seguida,

tendo como pressuposto que a escola não caminha sozinha. Há que existir um

caminhar paralelo entre mestres e pais. Ambos, educadores do ser em

formação, o aluno. Às mães, particularmente importantes neste processo,

cabe o papel de dar a criança os vislumbres iniciais do que seja uma escola, o

novo ambiente que a partir de certa idade ela irá freqüentar.

As diferenças no modo como as mães ensinam seus filhos a lidar com o

sistema escolar podem ter conseqüências importantes para a aprendizagem.

Muitas crianças são desajustadas em uma sociedade por causa dos

próprios ensinamentos – ou pela falta destes – proporcionados pelos

pais. Além disso, as relações de papéis que são requeridas na

sociedade podem estar totalmente ausentes no lar, não porque se

trate, necessariamente de um lar “ruim”, no sentido geralmente aceito

da palavra, mas porque as crenças dos pais são limitadas e

limitadoras. (MORRISH, 1983, p.194)

A família é um vínculo eterno dentro de cada ser humano. E deve ter

como principal objetivo o desenvolvimento e crescimento de seus integrantes.

O apoio da família é necessário e imprescindível, no entanto este deve

respeitar o espaço individual para que possa haver autonomia na tomada de

decisões.

Estudos clínicos relacionam o fracasso escolar de algumas crianças

com as opressivas e escravizantes ambições parentais, e o de outras

com a indiferença parental. Como várias investigações utilizam

diferentes medidas para as atitudes dos pais em relação ao êxito

acadêmico, é difícil avaliar se elas estão num ponto ótimo. Um outro

estudo observa que as exortações e os padrões parentais de êxito

acadêmico, só são aceitos pela criança quando esta se identifica

fortemente com os pais. Essa condição é formentada por uma relação

afetuosa e rica de substância entre os pais e o filho. (BACKMAN,

1971, p.31)

13O objetivo geral do estudo é compreender a participação efetiva da

família e da sociedade na escola enfatizando suas importâncias no processo

ensino-aprendizagem, no desenvolvimento integral do aluno e demonstrando

de que formas e sob quais circunstâncias a parceria escola X família e escola X

sociedade podem promover uma aprendizagem favorável ao aluno,

desenvolvendo propostas que concretizem a interferência destas parcerias em

prol dos benefícios do discente.

Sendo assim, procura-se demonstrar através de dois aspectos, descritos

abaixo, a maneira como a família, a sociedade e a educação podem, sob o

ponto de vista histórico, afetar de maneira benéfica ou não o rendimento

adequado do aluno.

• O papel da família como estímulo no processo ensino-aprendizagem.

• A importância do elo familiar na formação da personalidade dentro do

ambiente escolar e como sua ausência pode vir a causar distúrbios de

aprendizagem.

A pesquisa, de caráter bibliográfico, analisa diferentes situações

familiares, favorecendo um estudo mais detalhado das causas mais freqüentes

dos distúrbios de aprendizagem e a importância da família no desenvolvimento

do aluno. Dessa forma, pretende-se analisar e desenvolver propostas no

ambiente, estimulando e promovendo uma aprendizagem favorável ao aluno

através do apoio familiar.

A investigação, em seu capítulo inicial, enfoca a importância da

sociedade, da família e dos limites singulares de união e interseção dos dois

conceitos – sociedade e família - mostrando os importantes e definidos papeis

desses elementos para o desenvolvimento e formação do indivíduo, já sabida

que a influência social e de familiares se farão presentes e certamente

acompanharão o ser humano por toda a vida.

Contextualizaremos ainda a educação, seja ela escolar ou “do mundo”

como sendo um fenômeno que ocorre apenas em razão de um processo

básico de interação entre as pessoas (família e sociedade).

14Também, procuraremos demonstrar que a educação é um processo

eminentemente social, e que a mesma se manifesta exatamente porque o

homem é um ser gregário e que somente se sente plenamente realizado como

tal a partir do momento em que entra em contato com seu semelhante, como

explicitado no capítulo segundo.

No capítulo final procuraremos mostrar a forma pela qual cada família

possui sua concepção relacionada a área educacional de seus membros, suas

aspirações acerca do desenvolvimento de seus integrantes do núcleo familiar,

não se restringindo mais, portanto, em função das grandes modificações nos

padrões da vida cotidiana da sociedade, a ficar transmitindo apenas suas

experiências que foram passadas às gerações atuais.

15

CAPÍTULO I

1- SOCIEDADE E FAMÍLIA

No relacionamento com a sociedade e a família, à medida que o homem

tenta construir seu ambiente social, vai deixando as suas marcas e também

sendo marcado pelo ambiente ao seu entorno. Esta “educação do mundo”, que

é a primeira e rudimentar forma de educação que se conhece e que se inicia

com as formas tradicionais de desenvolvimento empírico, isto é tentativa-erro,

vai sendo aprimorada aos poucos e com o passar do tempo, até que atinja a

forma mais complexa de educação sistemática e intencional – os centros

escolares como conhecemos habitualmente – voltada para a execução de um

determinado tipo humano que mais se identifica com crenças, valores e

expectativas daqueles que a promovem.

1.1- A Socialização do indivíduo na sociedade

As levas de novos seres, que a todo instante, batem as portas de uma

sociedade definida constituem uma valorosa substância pela qual esta se

perpetuará e constantemente se renovará. No entanto, inicialmente não são

mais que organismos inermes, cheios de potencialidades, incapazes de

sobreviver às custas de suas próprias atividades e, menos ainda, aptos a

fazerem qualquer contribuição à vida social. A transformação se dará por meio

de processos sociais, cuja ação de inserção é chamada de socialização.

Diferentemente do adotado pelos Pedagogos Franceses que costumam

atribuir o termo socialização o significado de aquisição de capacidade de

cooperação, trabalharemos com o conceito abordado e consagrado na

literatura anglo americana e na Sociologia Brasileira, que determina

socialização como sendo a aquisição de personalidade social, e por outro lado,

tornar-se membro da sociedade e portador e disseminador de sua cultura,

colaborando com isso para sua perpetuação.

16A socialização envolve a aprendizagem, o domínio de técnicas sociais, a

aquisição de novos conhecimentos, o estabelecimento e a aceitação de

padrões sejam de comportamento social, sejam de interiorização de valores

consagrados pela sociedade. É um ciclo que nunca se completa

definitivamente, a renovação faz parte do contexto. No momento em que

qualquer um dos processos destacados primariamente for interrompido, a

flexibilidade mental, indispensável à sobrevivência no complexo mundo

humano de interações sociais estará fadado a findar.

Quem se socializa incorpora valores e padrões sociais, válidos para

todos os membros da sociedade (universais) e outros, que se aplicam

somente ao exercício de certos papéis sociais (especiais). A criança

aprende a falar português, mas também comportar-se como menino

ou menina. O adolescente adquire as noções morais aceitas pela

sociedade em geral, ao lado daquelas que regem a religião e a

profissão que adota. E cada profissão exige, além de habilidades

comuns a todas, outras que lhe são peculiares. (LENHARD,1995, p.5)

Desta forma, fica evidenciado como fazendo parte do comportamento

humano, a necessidade do indivíduo de se sentir inserido dentro de um

contexto social. Não é obra do acaso, é um movimento cultural natural dos

seres vivos em geral que precisam conviver com os semelhantes em sua

jornada de vida.

1.2- A Socialização do indivíduo na família

O homem é um ser social por natureza. Tem como necessidade, o fato

de conviver em sociedade, em um ambiente propício, desempenhando seu

papel na trajetória da espécie humana, e na sua relação com o meio. Sendo

um ser racional, expressa seu pensamento por meio da linguagem escrita,

falada ou gestual, comunicando-se com seus semelhantes. É o anseio pela

vida em sociedade com seus companheiros que estimula a comunicação entre

seus membros.

Buchon (1964) mostrou que através da família a criança recebe suas

primeiras impressões acerca da vida, onde a criança dificilmente apaga da

17memória as marcas da infância, os detalhes, o gosto, o cheiro, o sentimento, as

sensações vivenciadas durante tão vasto momento de descobertas.

A influência da educação familiar é inegável e imensa. A família é, em

primeiro lugar, o círculo no qual a criança se percebe inserida ao abrir os olhos.

Com o desenvolvimento natural da capacidade analítica, a inteligência, a

criança passa a captar, a “entender” as primeiras impressões, os primeiros

signos são decodificados. Algumas marcas dificilmente se apagam em função

da grande plasticidade da criança, a força do sangue e a identidade de afetos,

costumes, entre outros aspectos que ficam gravados em talhe profundo na

consciência individual de cada um. Daí, a singular importância dos exemplos –

tanto a figura paterna como a materna desempenham um papel importante na

formação - e da necessidade de preparação por parte dos pais para o

cumprimento do dever fundamental de educar seus filhos.

A importância das escolhas feitas pela família pode ser destacada em

segundo lugar na formação do ser que se desenvolve. As relações familiares

normalmente são as que por mais tempo, influem de alguma forma no

indivíduo, mesmo que a criança, o adolescente ou o jovem sejam formados por

escolas, centros especiais, ou mesmo interno em colégios, a escolha de um

determinado lugar em detrimento a outro passará pela égide da tomada de

decisão por parte de membros da família que ao estabelecer critérios procuram

um denominador comum as suas expectativas e forma de pensar e proceder. A

determinação do ambiente escolar apropriado, do qual o jovem cidadão será

inserido, chega para somar na formação do novo ser, no novo ambiente, o

recinto escolar, a criança passa a receber a influência não somente dos pais,

que devem colaborar com os demais educadores, assim como dos novos

“coleguinhas”, dos professores e todo o novo grupo social que acaba de se

abrir nessa nova experiência. A influência familiar é não só a primeira,

cronologicamente, mas é a de maior duração para o educando.

Em terceiro lugar, uma vez que não se possuem meios mais eficazes de

atuação do que a família: o amor dos pais, tão abnegado e pessoal não pode

ser igualado; a autoridade de que dependem em tudo, as crianças pequenas, é

18muito importante mesmo quando vão se tornando maiores; faculdade para

determinar meios que hão de convir mais os filhos, são elementos que dotam

os pais das melhores condições possíveis para a formação. A tudo isso

corresponde o filho com confiança, carinho e docilidade, que fazem com que

exista comunicação e compenetração, e que se dê, realmente, uma influência

decisiva, que se notará no filho por toda a vida.

O ser humano interage com o meio social no qual está inserido. A classe

social a que pertence pode interferir na educação do indivíduo de forma

diversificada, tendo como pressuposto que a reação de cada ser a um mesmo

estímulo ou situação é diferente, levando-se em conta a individualidade

humana. Pais de diferentes classes sociais exercem influência diferenciada

sobre seus filhos e isto se reflete no cotidiano escolar. Assim ocorre, por

exemplo, no que se refere à escolha da instituição de ensino que a criança irá

freqüentar, nas atitudes da família em relação a educação, suas aspirações

educacionais e ocupacionais, seu meio intelectual, a importância que confere

aos esforços para se chegar ao sucesso, a forma de disciplina usada por seus

familiares.

Uma família, num determinado nível de classe social, raramente

corresponde em todas as dimensões à sua posição de classe social.

Assim as pesquisas atuais tendem para ir além da classe social e

para examinar as relações entre progresso educacional e cada uma

das variáveis específicas associadas a classe social. Se as relações

entre essas variáveis específicas da família e o progresso

educacional puderem ser determinadas, teremos uma compreensão

mais precisa do rendimento escolar de qualquer criança dada e

também uma melhor idéia de que gêneros de ação social poderiam

melhorar e aperfeiçoar o sistema educacional. (BACKMAN, 1971,

p.23)

É importante fazer aqui uma ressalva no que diz respeito à diferenças

das classes sociais: trata-se de compreender que esta é fator de interferência e

não determinante absoluto no comportamento e desenvolvimento do ser

humano. Portanto não é pertinente colocar a responsabilidade do insucesso de

um aluno meramente no contexto sócio-econômico no qual estiver inserido.

191.3- A Socialização da família na sociedade

As famílias contemporâneas se organizam de forma relativamente

isolada. Os vínculos existentes entre diferentes núcleos e as conexões com

organizações mais amplas são tênues.

Mais do que elas, são as pessoas, enquanto universo singular, que se

relacionam entre sim e com as organizações. Assim mesmo, o núcleo familiar e

a comunidade em que este núcleo está inserido desempenham um papel na

socialização e esta age no sentido de conservar o relativo viço destas

estruturas intermediárias.

Tanto os avós como os tios ainda representam, para o jovem urbano de

hoje, uma posição peculiar na trama das suas relações sociais. Aprende a

pensar neles como potenciais protetores, diferentemente de quando vivíamos

em uma estrutura feudal quando representavam o elo de ligação entre eles e a

sociedade concebida como organizada. Podem influir na educação familiar não

apenas como virtuosos modelos que apresentam qualidades pessoais ou

grandes conquistas alcançadas, mas também pela autoridade discreta que

aquele papel social eventualmente lhes confere.

As relações entre a vizinhança, ou seja, elementos próximos em uma

mesma comunidade, chegam a ser uma área de exercícios em que o jovem

pode aprender a arte de se equilibrar entre relações primárias e secundárias,

de ser amigo com suas reservas e de reservar-se ao direito de resguardar-se

cortesmente. Pelo fato de tudo que for feito fora dos limites da residência poder

de alguma forma refletir-se dentro do ambiente familiar, a prática dos contatos

vicinais ensina a olhar para duas direções antes caminhar – tal como

analogamente na vida do adulto, no qual a necessidade de atenção antes de

caminhar em uma direção se faz constantemente presente no teor de suas

decisões.

Por outro lado, um certo controle social difuso, embora mais fraco do que

nas sociedades tradicionais, não deixou de existir, por parte da comunidade em

relação às famílias.

20A adolescência, período de mudança que levará o jovem a transcender

do período infantil e alça-lo a uma idade adulta, é marcada por uma redefinição

do equilíbrio entre o poder exercido sobre o jovem pela família e a comunidade,

a favor da mesma.

A heterogeneidade dos valores e das normas dominantes na

comunidade moderna faz desta passagem o momento de ruptura de uma vida

ordenada por controles relativamente consistentes para uma liberdade que se

assemelha à ausência de limites, cujas restrições o jovem terá que aprender a

perceber lentamente, á medida que amadurece.

Os membros adultos do núcleo familiar, que já vivenciaram esta

experiência anteriormente, ou provêm de uma sociedade mais homogênea,

apresentam certa dificuldade em acompanhar os jovens neste processo de

adaptação e novas descobertas, o que poderá acarretar tensões quando se

esforçarem para assisti-lo. Por outro lado a compreensão e o diálogo passam a

figurar como elementos importantes nesta nova fase adaptativa a realidade da

qual o jovem passa a estar atrelado.

1.4- A Família pensada pela educação

A família tem o direito inalienável à educação, sendo assim o direito e o

dever da educação pesam sobre os pais, onde possuem o direito de escolher

quem os represente a ministrar a educação de seus filhos.

Este direito de educar da família é inalienável, porque é dever

indeclinável da paternidade.

Os pais, pelo fato de o serem, tem o título de educadores, não pela

capacidade cultural, mas pelo cargo. Os que educam os filhos dos

outros, tem de fazer jus a um duplo título, o de aptidão, adquirido em

centros de ensino apropriados, e o de jurisdição, de que, em ultima

análise, só que podem valer como representantes dos pais. Logo, é

claro que o direito e o dever da educação pesam sobre os pais, e

quando eles não podem atuar diretamente sobre a criança, no todo

ou em parte, tem o direito de escolher quem os represente, e o dever

de não discordar da formação que recebem.(BUCHON,1964, p.110)

21A educação, se analisada pelo viés da escolaridade, permite a

observação de vários fatores facilitadores ou contrários ao esperado bom

rendimento escolar. A célula familiar é instrumento legítimo de apoio ao

indivíduo e inegavelmente importante em sua formação. Para um melhor

desenvolvimento e crescimento de qualquer criança, independente de sua

classe social, é necessário que haja um sentimento de segurança e

estabilidade. Quanto mais estável for a família, maior segurança os filhos irão

sentir no decorrer da sua vida.

A família é o agente intermediário de cultura ao filtrar e interpretar os

valores e comportamentos de subgrupos diferentes dos seus. Em

nossa sociedade superlativamente móvel, a criança está exposta,

com freqüência, a tais grupos, não só nos contatos diretos mas,

especialmente, através da televisão e do cinema. Embora essa

exposição amplie a sua experiência, em certa medida, a família limita

essa ampliação ao interpretar essas experiências externas para a

criança de maneira que reforce os padrões culturais do seu próprio

subgrupo. (BACKMAN, 1971, p. 38)

Se por um lado, desenvolver estabilidade e segurança no lar, parecem

soluções definitivas no que se relaciona à criança no elo escola x família, o

poder aquisitivo surge como um diferencial inserido neste mesmo contexto. As

famílias com maior poder aquisitivo possuem mais acesso à compra de livros,

dispõem de um melhor espaço físico dentro do lar para a leitura e, geralmente

estimulam seus filhos ao hábito de ler.

Essas mesmas famílias vivem em áreas residenciais com melhores

condições sócio-econômicas, têm uma alimentação mais variada, procuram

escolas que tenham uma infra-estrutura adequada ao seu modo de vida, quase

sempre instituições privadas que valorizem o que julgam ser o melhor. Estas

instituições, por sua vez, usam os recursos financeiros para possibilitar a oferta

de melhores condições aos alunos. É certo mencionar que um bom poder

aquisitivo não se restringe à escolha da instituição de ensino, a alimentação e à

compra de livros. Especialmente se a este fator estiver relacionado um outro de

grande importância, qual seja o fator cultural. Assim, filhos de pais que tiveram

22acesso à cultura e dispõem de recursos financeiros, terão, em sua grande

maioria, possibilidades em maior quantidade e qualidade em todos os setores.

Em contrapartida, as famílias econômica e culturalmente desfavorecidas,

que vivem em áreas mais pobres, muitas vezes acabam envolvendo-se menos

na educação de seus filhos. Embora não caibam aqui questões estatísticas, é

visível a diferença do apoio familiar num quadro social desigual e, por vezes,

injusto. São muitos os problemas enfrentados por pais que se encontram nessa

camada social mais desfavorecida. A distância do local do trabalho a moradia,

a necessidade de pai e mãe trabalharem para complementar a renda familiar,

sem ter muitas vezes com quem deixar os filhos, o baixo índice de escolaridade

dos pais, a falta de esclarecimento , a falta de tempo para lazer, são alguns dos

fatores que contribuem para que essas pessoas não cumpram

satisfatoriamente seus deveres e nem tampouco exijam plenamente seus

direitos.

A família não só é uma instituição que permite uma certa segurança

para a criança durante o seu período de imaturidade biológica, mas

também é uma instituição que proporciona a socialização primária e a

educação inicial da criança. G.D. Mitchell sublinhou que a

paternidade e a maternidade estão “se convertendo rapidamente

numa vocação altamente autoconsciente”. (MORRISH, 1983, p.192)

Cada grupo familiar possui distintas aspirações em relação à educação,

valorizando em maior ou menor escala qualitativa o apoio que irá promover na

vida escolar de seus descendentes. Assim, estímulos ao desenvolvimento, a

forma de disciplina imposta e os progressos desejáveis para os filhos

alcançarem, estão intimamente relacionados a estas aspirações.

Segundo Spiro (apud Morrish, 1983, p. 187)

Os pais são de considerável importância no desenvolvimento

psicológico de seus filhos, dentro da coletividade; pois servem como

os objetos de suas mais importantes identificações e proporcionam-

lhes uma certa segurança e amor que as crianças não podem obter

de outras pessoas.

23 Portanto, independentemente do nível sócio-econômico e cultural dos

pais, o papel por eles desempenhado é de suma importância para o futuro do

jovem cidadão, haja visto que a figura representativa dos pais funciona como

uma espécie de modelo para as personalidades que ainda estão em formação.

24CAPÍTULO II

2- CONCEITO DE APRENDIZAGEM, SEUS PROCESSOS

E A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE

O conceito de aprendizagem tem como um dos objetivos primordiais a

motivação do indivíduo, uma vez que deste jeito, o mesmo tenderá a relacionar

o que aprende com o que já sabe.

Quando estimulamos alguém de alguma forma, esse indivíduo passa a

desenvolver um senso de desejo que poderá otimizar suas capacidades

favorecendo uma aprendizagem significativa. Deve-se proporcionar, portanto

um significado real às ações para que uma motivação verdadeira possa ser

despertada.

Cada ser humano possui uma maneira única de se fazer presente no

mundo. Aprender é conseqüência de uma autonomia que é dada ao ser

humano após a construção de conhecimentos e sua respectiva interiorização.

A responsabilidade não é uma qualidade com que nascemos, mas

promana das oportunidades que tivermos de aprender, de acordo

com o nosso grau de maturidade, como agir responsavelmente, para

que, com o passar do tempo, estejamos aptos a desenvolver um

conceito do que isso significa. (MORRISH, 1983, p. 217)

O conceito literal de aprendizagem, como menciona Aurélio Buarque de

Holanda Ferreira em seu Dicionário da Língua Portuguesa - Século XXI, é “[de

aprendiz + agem] s.f.V. aprendizado de 1 a 3. Aprendizado- s.m. 1. Ato ou

efeito de aprender. 2. O tempo que dura tal aprendizagem. 3. O exercício ou

prática inicial da matéria aprendida; experiência; tirocínio.” (p.172)

A aprendizagem, em toda a vida do ser humano, acontece de forma

contínua. Desde nossos primeiros momentos de vida estamos em contato com

imensuráveis mudanças, sujeitos a diferentes adaptações e readaptações de

ordem mundana, social ou mesmo profissional e que se mostram necessárias.

Estamos sempre percorrendo um caminho diário de novos conhecimentos e

25estabelecimento de conhecimentos previamente adquiridos que fluem de forma

natural no cotidiano do detentor do mesmo.

A aprendizagem nasce como um resultado da estimulação do

ambiente sobre o indivíduo já maduro, que expressa, diante de uma

situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento

em função de experiência. (COELHO&JOSÉ, 2002, p.11)

Cada ser constrói sua história individualmente, sob influências diretas e

indiretas do meio social e mais especificamente do meio familiar onde estiver

inserido, havendo uma constante relação de troca e estabelecimento de inter

relações que permeiam a trajetória evolutiva de cada um.

A aprendizagem é gradual, isto é vamos aprendendo pouco a pouco,

durante toda nossa vida. Portanto, ela é um processo constante,

contínuo. Cada indivíduo tem seu ritmo próprio de aprendizagem

(ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá

constituir sua individualidade.(DROUET, 2003, p.8)

Sabe-se que a modernização nas relações familiares se alterou.

Atualmente a mulher entrou no mercado de trabalho e com isso muitas

crianças ficam com a educação a cargo da escola, porém é necessária a

participação familiar para um êxito satisfatório na aprendizagem.

Através de pesquisas realizadas é possível perceber que muitas

famílias, devido a ausência, acabam não dando limites a seus filhos, na

tentativa de evitar o fracasso, frustrações e insucessos. Assim, diferentes

distúrbios podem ser ocasionados levando a dificuldade na aprendizagem. O

conceito de distúrbios da aprendizagem, segundo Martin & Marchese (1995,

p.25) é: “distúrbio de aprendizagem como qualquer dificuldade observável

enfrentada pela criança para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus

colegas de mesma faixa etária seja qual for o fator determinante desse atraso”.

Os distúrbios de aprendizagem podem ocorrer tanto no início como

durante o período escolar e mesmo antes do período de escolarização.

A aprendizagem, como parte de um processo de comunicação - a

Educação apresenta quatro elementos: - comunicador ou emissor

(professor)- mensagem (conteúdo educativo) - receptor da

26mensagem (aluno) -meio ambiente (escolar, familiar, social).

(DROUET, 2003, p.43 )

Como mostram as citações acima, percebe-se que os distúrbios da

aprendizagem podem ter diferentes causas sejam estas físicas, emocionais,

sócio-econômicas, intelectuais, neurológicas ou cognitivas. A família, porém, é

vista como um fator determinante na aprendizagem. Se qualquer um desses

fatores falhar, haverá um obstáculo à comunicação, o que poderá causar

problemas de aprendizagem.

Sabe-se que o ser humano, desde o seu primeiro momento de vida,

necessita de convívio social para que possa sobreviver e desenvolver-se.

É sabido que a ausência de assistência por parte dos pais ou de outrem

que lhes façam às vezes, o pequeno recém-nascido não conseguiria sobreviver

por longo período em função da necessária dependência a que está sujeito.

Da mesma forma que um bebê precisa de estímulos desde seu primeiro

sopro de vida quando saí do ventre materno, analogamente o ser humano

assim por toda a sua jornada necessita do outro.

Num lar bem harmônico, as primeiras lições de relações humanas e

socialização são aprendidas sob a guia de professores agradáveis, porém

sábios. O sentimento de segurança dado pela conhecida proteção confere a

primeira influência estabilizadora.

À medida que a inteligência e a apreciação se apuram, há um

significativo aumento do encanto do prazer cultural compartilhado.

Ainda está por se descobrir algo que tenha o poder de ultrapassar um

círculo familiar composto por integridade e respeito para ensinar as pessoas a

se comportarem em um ambiente macro e de ordem social.

No ambiente familiar é possível encontramos todas as variedades

possíveis de companheirismo: juventude com velhice, menino com menino,

menina com menina, e homem com mulher. Aqueles que foram de alguma

forma privados de tal oportunidade ou não tiveram a chance de se deleitar com

27um lar feliz tiveram estirpados do seu íntimo um dos mais valiosos bens da

espécie humana: o convívio social.

Mesmo que alguém esteja sozinho, estará mantendo uma relação

educativa com alguém, na medida em que assimilou valores, crenças,

hábitos, maneiras de falar, de sentir, etc. (Garcia, 1977, p.63)

A aprendizagem pensada por diferentes teóricos educacionais tem em

comum o desenvolvimento da criança. Onde cada um expõe a sua teoria de

desenvolvimento, que independente de certa ou errada demonstra com clareza

uma linha de pensamento que pode ser seguida.

Na teoria Psicogenética de Piaget os conhecimentos são apresentados

espontaneamente, as atividades mentais são construídas pelos alunos onde

estes se apropriam do sentido do conhecimento, os temas são

contextualizados, os alunos criam, questionam, participam do processo de

ensino-aprendizagem na construção do próprio sujeito em interação com o

objeto.

Segundo Piaget (1991) “A maturação cerebral fornece certo número de

potencialidades (possibilidades) que se realizam, mais cedo ou mais tarde (ou

nunca), em função das experiências e do meio social.” (p.34)

Baseando-se na concepção de ensino sócio-histórica de Vygostsky a

criança já nasce inserida num mundo social, onde existe um repertório dentro

de cada sujeito e este vai recebendo informações e aprimorando-as

diariamente.

É fundamental para a construção do conhecimento a interação social,

a referência do outro, por meio do qual se podem conhecer os

diferentes significados dados aos objetos de conhecimento. Essa

mediação, ressaltando-se aí o papel da linguagem, é fundamental

para o desenvolvimento do pensamento, dos processos intelectuais

superiores, nos quais se encontra a capacidade de formação de

conceitos. (VYGOTSKY, 1993, p. 50)

A aprendizagem é construída dia após dia de forma contínua. Novas

formas de comunicação são geradas e assim, novas habilidades e atitudes

podem ser ocasionadas através do elo familiar e das experiências originadas

28através desse suporte inserido dentro de cada indivíduo. Aprender é o

resultado das relações internas e mentais de cada ser humano respeitando o

meio.

O ser humano está em um processo contínuo de evolução e o elemento

família procura auxiliar o indivíduo com valiosas orientações que possam

acompanhá-lo pela vida afora, haja vista que a família é responsável pela

transmissão dos primeiros ensinamentos, as primeiras orientações, as

primeiras diretrizes formadoras de caráter do novo ser, universo único que está

sendo inserido em sociedade.

A participação familiar é essencial na vida diária do educando e esse

trabalho tem a proposta de mostrar à interação da família acerca do

favorecimento da aprendizagem promovendo práticas pedagógicas favoráveis

ao aluno.

Observam-se valores educacionais e suas relações no processo

educacional tendo em vista que a família é constantemente presente desde

quando fomos concebidos no ventre materno e forma o primeiro grupo social

concreto no qual participamos, Dada a importância deste primeiro grupo social,

podemos levar em conta que as características ocasionadas por falta de apoio

familiar podem prejudicar no processo de aprendizagem.

“A aprendizagem nas séries iniciais no ensino fundamental e os elementos

que interferem no processo, com ênfase na participação familiar”, tema deste

trabalho, encontra fundamentação na legislação vigente.

No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), destaca-se o pleno

desenvolvimento da pessoa, preparando-a para uma cidadania digna e

assegurando por lei os direitos da criança e do adolescente. De acordo com o

estatuto, as instituições bem como a família e a sociedade como um todo,

devem propor conteúdos e atividades que tenham significados para que os

alunos consigam aprender novas informações e buscar cada vez mais novos

conhecimentos, desenvolvendo o potencial de cada educando e estimulando-o.

É citado no Art.° 4° do ECA

29É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do

poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos

direitos referentes à vida, a saúde, à alimentação, à educação, ao

esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

(BRASIL/ECA, 2003, p.03)

De acordo com o artigo supracitado, toda criança possui direitos e estes

são assegurados por lei para a formação plena e integral do cidadão. Assim

também, na Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu Art.

1° , o assunto é recorrente:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na

vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de

ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da

sociedade civil e nas manifestações culturais. (BRASIL/LDB, 2006,

p.31)

Tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente quanto a Lei 9.394 de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional contêm em sua essência e registram

legalmente a preocupação fundamental que deu origem a esta pesquisa: a

presença da família no processo de desenvolvimento do ser humano e o que

pode ocorrer em caso contrário, ou seja, no caso de ausência total ou parcial

de apoio familiar. As leis pretendem de alguma maneira garantir esta presença

de forma a tornar a trajetória evolutiva da criança, principalmente na fase

escolar, um processo destinado ao sucesso. Um olhar menos atento não

perceberia o objetivo maior destes artigos e parágrafos da legislação, qual seja

a construção de uma sociedade mais justa e digna, consciente de seus

deveres e de seus direitos, em suma, uma sociedade melhor.

30CAPÍTULO III

3 - APRENDIZAGEM, DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM

E A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA

A família vem se reorganizando a cada dia com o progresso e

incontáveis inovações tecnológicas, que conjuntamente acabam por assim

dizer influenciando modificações profundas nas sociedades. A estagnação, as

lembranças do passado, dos dias de glória, do sucesso da família não se

fazem mais essenciais, estão no passado de um tempo que não se repete e

que não volta mais. Cabe a todos os integrantes do núcleo familiar se aterem

ao presente fazendo com que comecem a construir suas respectivas histórias,

seus aprendizados e sua era a partir do aqui e agora.

3.1- A Participação da família no processo ensino-

aprendizagem

As famílias, bem como outros grupos sociais, são dotadas de

especificidade que lhes atribui diferenças e lhes confere diversidade de

características, seja de cunho social ou temporal. Alguns fatores influenciam

nas mudanças ao longo do tempo e de forma peculiar na estruturação destas

famílias.

Antigamente, a aprendizagem infantil era concebida através da

reprodução de dados, sendo a criança vista como um ser que imitava o outro.

Nesse contexto, o papel do mestre era fundamental. Ele era o detentor do

conhecimento e responsável por transmiti-lo ao seu aluno. Para verificar o nível

de aprendizagem, para saber efetivamente se o aluno havia ou não aprendido,

eram utilizados os testes. Depois, através de estudos, foi possível perceber que

o conhecimento estava dentro do aluno e que era viável extrair informações

dentro da vivência de cada ser humano.

313.2 – Aprendizagem

O ser humano ao nascer já chega ao mundo pronto a observar o seu

redor e o comportamento de quem o cerca. Os bebês possuem uma

capacidade de imitação que os cientistas após inúmeras pesquisas

compreenderam fazer parte do desenvolvimento do ser humano. Não é apenas

o ato de reproduzir e sim perceber o mundo que está inserido.

3.3 - Influência do ambiente familiar na aprendizagem

Nem sempre a família percebe as mensagens que transmitem aos filhos,

pois estas são transmitidas por seus atos, emoções, pensamentos, crenças.

Mas a participação familiar pode influenciar na personalidade, caráter, atitudes

e valores dos filhos.

Atualmente a família vem sofrendo severas mudanças e a relação

familiar não é mais apenas relação homem e mulher. A família pode ser

composta por diferentes formas de relações, ou seja, uniões homossexuais,

uniões informais, separações de casais, famílias nucleares.

A família exerce grande influência no desenvolvimento do aluno, cada

uma possui um contexto histórico social, uma religiosidade, cujos hábitos são

transmitidos de geração a geração. Isso é possível observar logo quando a

criança entra para a escola através do seu currículo oculto.

As funções desempenhadas pelas famílias no conjunto da vida de

qualquer sociedade são tão importantes, independentemente da sua

natureza e extensão, que se compreende facilmente a universalidade

da sua institucionalização. (LENHARD, 1985, p.55)

A família e a escola na sociedade atual possuem tarefas

complementares, pois ambas não conseguem êxito total se agirem

isoladamente.

32A presença dos pais no recinto escolar e sua maior participação em

determinadas atividades tornam-se mais comuns. Os contatos formais e

informais se multiplicam e se diversificam. No cotidiano, os canais de

comunicação parecem se ampliar para além da tradicional participação nas

associações de pais e mestres e da presença em reuniões oficiais com

professores. A escola deve propor em seu projeto político pedagógico,

estratégias para envolver de forma espontânea a participação da família de

maneira participativa.

Hoje na escola há palestras, cursos, jornadas e “festas da família”, a

agenda escolar do aluno, os bilhetes, os contatos telefônicos, as conversas na

entrada e na saída das aulas e a participação da própria criança.

Para que possa ocorrer uma integração e favorecimento do bem estar

do educando a família e a escola devem trabalhar em sistema de parceria.

O professor não tem um papel terapêutico em relação à criança e sua

família, mas o de conhecedor da criança, de consultor, apoiador dos

pais, um especialista que não compete com o papel deles. Ele deve

possuir habilidades para lidar com as ansiedades da família e

partilhar decisões e ações com ela. Se assim ocorrer, a família terá

no professor alguém que lhe ajude a pensar sobre seu próprio filho e

a se fortalecer como recurso privilegiado do desenvolvimento infantil.

(OLIVEIRA, 2002, p.181)

Pais, educadores e pessoas participantes no desenvolvimento da

criança devem interagir com o educando, fazendo com que se sintam seguros

para desenvolver suas potencialidades. Nenhuma criança nasce sabendo e

cabe aos pais, familiares e a sociedade vigente fornecer estímulos para que

possa realizar a tomada de decisões de forma crítico participativa com base na

realidade da estrutura social em que vive.

O adulto“faz andaimes para” ou “apóia” as consecuções da criança,

forçando-a a entrar na “ zona de desenvolvimento proximal” mediante

o jogo e “ ensinado-o” a conseguir o controle consciente do que vai “

aprendendo’, graças às relações sociais estabelecidas. (SALVADOR,

1994, p.106 )

33A construção familiar é um elo permanente, não basta termos sido

gerados naquele núcleo familiar, se faz necessário a cada a dia vencermos os

obstáculos da falta de tempo, atrativos tecnológicos que acabam dispersando a

convivência com o outro ser humano.

É necessária, a valorização da conquista a cada passo de seus

membros, a descoberta do outro, o sentir-se importante e especial, a liberdade

para constante construção sabendo que se pode recorrer a estrutura familiar no

momento de conflitos, incertezas e alegrias.

A família tem papel essencial na vida de seus membros, pois cada um

assume papéis no grupo, portanto cada ser é único e têm suas características,

sonhos, desejos e cabe a todos respeitar as divergências e contribuir através

da transmissão de suas experiências na descoberta de novos caminhos de

cada integrante, para que estes possam construir seu próprio caminho.

Parafraseando Sayão (1964), a família pode dar aos filhos o bem mais

precioso que é a sua presença afetiva, constante e orientadora mostrando que

o mundo é cercado de inúmeras possibilidades e cabe a cada indivíduo a

conquista de alcançar os resultados.

34CONCLUSÃO

No triângulo família - sociedade - aprendizagem reside a essência desta

pesquisa. As múltiplas reflexões ao longo do trabalho monográfico permeado

pelo pensamento de teóricos da educação trazem à tona uma questão de

considerável importância no cenário educacional dos tempos modernos, qual

seja a influência familiar na aprendizagem. Pesquisas e observações do

cotidiano escolar e familiar buscam reunir dados que tragam suporte

consistente ao trabalho do educador, seja este um membro da família ou o

professor. A educação não pode se ater somente aos muros escolares, é na

família que precisam nascer os primeiros e principais estímulos para o

desenvolvimento sócio afetivo do ser humano. É da qualidade desta

semeadura que irão brotar os frutos mais saudáveis ou menos saudáveis, ou

seja, a participação efetiva da família no crescimento dos filhos, a dedicação, o

afeto e a atenção são fatores preponderantes em seu desenvolvimento.

A escola, como instituição de cunho transformador, pode e deve

detectar as causas das dificuldades de aprendizagem, no entanto, não cabe a

esta, prover ao educando o equilíbrio socialmente desejável que deveria haver

em todos os lares. Sabedores que somos de que a sociedade está longe do

que poder-se-ia chamar de ideal, há que se construir metas concretas na busca

da qualidade de vida e consequentemente na melhoria da educação como

instrumento da formação de cidadãos.

Desta forma, lidando com alunos oriundos de uma sociedade

multifacetada, a escola depara-se com a diversidade, e na seqüência imediata,

com a dificuldade de aprendizagem. Não que a diversidade por si só seja

elemento único e gerador das dificuldades detectadas nos educandos, no

entanto são agravantes num sistema que prioriza políticas assistencialistas em

detrimento de dignidade social.

Não basta construir escolas, matricular crianças e contratar mestres. Isto

a sociedade em que vivemos já possui parcialmente. Fundamental é avaliar a

sociedade como um todo, os porquês do fracasso escolar e sua íntima relação

com o apoio familiar. Censos escolares anuais para coletas de dados sem

35reavaliação do sistema escolar também são ineficazes. Em contrapartida não

basta acusar a família por sua ausência e promover julgamento inadequado

àqueles que , muitas vezes, por total ausência de oportunidades, deixa a

desejar no cumprimento do pátrio poder. Ficam as questões para refletir: se

somos capazes de tão facilmente julgar, porque não conseguimos, da mesma

forma, reverter esse quadro de desamparo social? Onde reside a

responsabilidade de cada um ? O cada um de nós deveria estar fazendo neste

exato momento para que não houvessem questionamentos como

estes?Quando formos capazes de dar respostas exatas à estas perguntas e

mensurar seu verdadeiro teor, talvez estejamos a caminho das soluções.

Se vivemos numa sociedade democraticamente organizada, é

necessário exigir dos governantes, condições mínimas para que pais e mães

possam viver dignamente sem ter que necessariamente estar ausente o dia

inteiro, privando a criança de seu convívio. Políticas públicas inteligentes

podem e devem contribuir para que a família esteja presente no

desenvolvimento de seus filhos. Lamentavelmente, implícito nesta questão,

está a escolha dos gestores públicos, feita por esta mesma sociedade

desamparada que clama por dignidade .

Cabe, em suma, a cada um de nós e à sociedade como um todo fazer

as devidas cobranças,bem como participar efetivamente para que num futuro, o

mais próximo possível, laços família – escola, tragam de forma definitiva e

contundente o sucesso do aluno e seu pleno e integral desenvolvimento,

culminando com a construção de uma sociedade justa e sã.

36

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I 15

1 - SOCIEDADE E FAMÍLIA 15

1.1 - A SOCIALIZAÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE 15

1.2 - A SOCIALIZAÇÃO DO INDIVÍDUO NA FAMÍLIA 16

1.3 - A SOCIALIZAÇÃO DA FAMÍLIA NA SOCIEDADE 19

1.4 - A FAMÍLIA PENSADA PELA EDUCAÇÃO 20

CAPÍTULO II 24

2- CONCEITO DE APRENDIZAGEM, SEUS PROCESSOS E

PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE 24

CAPÍTULO III 30

3 - APRENDIZAGEM, DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM E A

PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA 30

3.1 - A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM 30

3.2 – APRENDIZAGEM 31

3.3 – INFLUÊNCIA DO AMBIENTE FAMILIAR NA APRENDIZAGEM 31

CONCLUSÃO 34

ÍNDICE 36

REFERÊNCIA 37

37REFERÊNCIAS

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