O Papel do Masculino e do Feminino na Cultura Brasileira ...€¦ · sobre qual o quadro nacional...
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1 Graduando em Psicologia pela UNISL de Porto Velho – E-mail: [email protected];
2 Graduanda em Psicologia pela UNISL de Porto Velho – E-mail: [email protected];
3 Graduanda em Psicologia pela UNISL de Porto Velho – E-mail: [email protected];
4 Graduanda em Psicologia pela UNISL de Porto Velho – E-mail: [email protected];
5 Graduanda em Psicologia pela UNISL de Porto Velho – E-mail: [email protected];
O Papel do Masculino e do Feminino na Cultura Brasileira: Uma
análise quantitativa com foco na produção cientifica sobre a
temática
Delcleciano Monteiro Pinto1
Lara Maria Silva Maia2
Luciana Ribeiro Bastos de Sousa Rebouças3
Michelle Pfeifer Marques Pinheiro4
Weidila Nink Dias5
RESUMO: O presente artigo aborda os conceitos de gênero masculino e feminino
baseado na perspectiva da psicologia sócio histórica em que o indivíduo é ativo e passivo na sua construção sociocultural. Questionando o cenário machista no Brasil, o feminismo abrange novas discussões sobre o papel da mulher e do homem na sociedade atual. Utilizando da metodologia quantitativa, analisa-se o ano de publicação, o local, a revista, e o gênero de seus autores. Apresenta-se a problemática sobre qual o quadro nacional contemporâneo de pesquisas sobre gênero está inserido.
Palavras-chaves: gênero, feminino, masculino.
Abstract: This article discusses the concepts of male and female based on the perspective of socio-historical psychology in which the individual is active and passive in its sociocultural construction. Questioning the chauvinismo scenario in Brazil, feminism includes further discussions on the role of women and men in today society. Using quantitative methodology, analyze the year of publication, the location, the magazine, and the gender of the authors. It presentes the issues on which the contemporary national framework on gender research is inserted.
Key words: genre, female, male.
2 Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 3
1. O PAPEL DO GÊNERO NA SOCIEDADE ................................................................................................... 3
2. A LINGUAGEM NA CONSTRUÇÃO DO HOMEM ..................................................................................... 7
3. A CONTEMPORÂNEIDADE E O PAPEL DE GÊNERO ................................................................................ 9
4. A IDEOLOGIA DE GÊNERO NA CIÊNCIA .................................................................................................. 9
4.1 METODOLOGIA ....................................................................................................................................... 10
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................................................... 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 14
ANEXOS ......................................................................................................................................................... 16
3
INTRODUÇÃO
Atualmente, os papéis sociais de homens e mulheres, antes rigidamente
preservados, começaram a ser discutidos na cultura brasileira. Além das diferenças
biológicas, os gêneros atuam diferentemente dentro da sociedade.Com o presente
artigo, instiga-se a reflexão acerca da crença de que um é inferior ao outro.
As representações sociais de gêneros são construídas de forma histórica e
social. Em tempos remotos as mulheres eram vistas apenas como as cuidadoras da
prole e os homens como provedores de alimentação e da segurança da família.
O estudo tem com base teórica a Psicologia Sócio Histórica. Entende-se aqui,
para fins de conceituação, que o ser humano, subjetivo, é construído na objetivação
dos signos sociais através da conversão: um movimento de apropriação e introjeção
das ideologias dominantes, representações sociais e dos significados de mundo.
Para levantar reflexões acerca dessa temática esta pesquisa busca responder,
através da metodologia de pesquisa bibliográfica, como são as publicações sobre os
papéis de gênero na ciência brasileira, levando em conta o local de publicação, a
revista e os gêneros dos autores.
A discussão sobre gênero busca diminuir os estigmas e preconceitos que
atravessam as pessoas na sociedade, resignificados papéis e pensar numa psicologia
que acompanha as mudanças biopsicossociais. Para além disso, é um tema de
interesse dos autores, por estar em consonância com as reflexões sobre seus próprios
espaços.
Acredita-se que a parceria da Psicologia com outras ciências que estudam os
gêneros e seus fenômenos, discorrer sobre o tema se torne algo habitual e de
interesse de todos, pois as representações de gênero são culturalmente intrínsecas a
vida em sociedade.
1. O PAPEL DO GÊNERO NA SOCIEDADE
Os primeiros seres humanos enfrentavam alguns desafios contribuíram para a
forma com que vemos os papéis de homens e mulheres atualmente Moraes (2014)
expõe que os homens apresentam maior agressividade por terem sido submetidos a
4
condições ambientais evolutivas que exigiam a luta. Seleção sexual (disputa por
fêmeas férteis contra outros machos), caça para alimentação da prole, lutas
territoriais, proteção e sobrevivência são algumas das situações enfrentadas pelos
primeiros indivíduos.
O mesmo ocorre com as mulheres. A função de conceber os sucessores e
mantê-los vivos, cuidar da casa e das plantações deixou marcas percebidas até hoje.
Nesse sentido, as construções de origem histórica vêm sendo trazidas até os dias de
hoje. A humanidade conforme estabelecida hoje, só foi possível através do movimento
dialético que é a construção da cultura: ela é criada, perpassada ao passo que
modifica e constitui o indivíduo.
Os papéis de gênero não se conformam mais em obediência às normas
patriarcais opressoras na qual mulheres e mulheres eram obrigados a se submeter.
O que há, doravante, é uma perversão do biológico, isto é, que o fato de ser ter macho
ou fêmea não garante o vir a ser homem ou mulher
Os seres humanos são passivos e ativos na construção da sociedade. A
existência do indivíduo é tida por meio das relações de produção que ele estabelece
no mundo. Com essas relações estabelecidas, firmam-se as estruturas econômicas
que geram superestruturas sociais e políticas. Tendo em vista que o ser humano é
ativo e passivo na construção da sociedade, são através de ferramentas e dispositivos
que consegue-se a modificação, dessa forma, Carloto (2001), entende que as
diferenças entre gêneros são causadas da divisão de responsabilidades sociais.
A existência de gêneros é a manifestação de uma desigual distribuição de responsabilidade na produção social da existência. A sociedade estabelece uma distribuição de responsabilidades que são alheias as vontades das pessoas, sendo que os critérios desta distribuição são sexistas, classistas e racistas. Do lugar que é atribuído socialmente a cada um, dependerá a forma como se terá acesso à própria sobrevivência como sexo, classe e raça, sendo que esta relação com a realidade comporta uma visão particular da mesma. (CARLOTO, 2001).
As diferenças entre os papéis masculino e feminino são vistas também a partir
do âmbito das organizações do trabalho. Na visão da mesma autora, os arranjos de
trabalho apenas refletem a desigualdade de gêneros de outras esferas sociais. O
sistema capitalista encontra na desigualdade de gênero uma forma exercer seu
5
controle independente da volição de cada um, determinando e segregando as
pessoas por sexo, raça, classe social, nacionalidade, entre outros aspectos.
Quando a problemática de gênero ultrapassa o biológico e ameaça os modelos
estabelecidos como o certo, o padrão, isto é, o modelo heteronormativo, acessórios
pelo patriarcado, machismo, os racismos e os fascismos. Não se pode recuar. O
reconhecimento e legitimação da pluralidade e diversidade estão inscritos nas práticas
democráticas, nas quais não é desejo da maioria sobre a minoria, a maioria proteger
as minorias.
A partir de Butler (2003), a questão posta diz respeito ao sexo, que é natural e
o gênero, uma construção cultural. Esta última ligada a uma naturalização do gênero
e desejo. Ainda segundo a autora, nunca houve uma separação entre os dois,
compreendida como uma metafísica única. Para a autora não existe homem ou
mulher; o que existe são performances.
A face do machismo, que foi por muitos anos aceita como a ideologia
dominante, sendo produto da alienação (o indivíduo não tem consciência da origem
da ideologia e das mudanças cabíveis) e do patriarcado, agora vem sendo
questionada de forma a trazer uma conscientização sobre o real significado da ideia,
buscando cada vez mais esclarecer o comportamento dos indivíduos ao passar do
tempo.
Na cultura cristã, a mulher foi tida como precursora do pecado e por isso foi e
é vista como uma criatura mítica, que deve ser desvendada, entendida e dominada.
A partir disso, as pesquisas acerca do papel feminino começaram por provar que as
mulheres são inferiores aos homens, além da compreensão biológica.
Os primeiros escritos feministas datam do século dezoito, com a publicação do
livro A Vindication of The Rights of Woman de Mary Wollstone Craft’s, onde começa
a questionar a desigualdade de gênero no âmbito econômico, pretendendo a
independência pessoal e respeito pela igualdade de direitos.
Conceição (2001) considera a revolução industrial e as duas grandes guerras
como catalisador (histórico, cultural e político) do feminismo, trazendo mudanças
como o direito ao voto através do movimento sufragista e desempenhar trabalhos que
os homens exerciam antes de se tornarem combatentes nas guerras.
6
O feminismo vem ganhando forças no cenário contemporâneo e causando
reflexões por todo o mundo. Esta ideologia parte de uma luta pela equidade entre os
gêneros nos aspectos social, profissional, cultural, econômico, etc. Naturalmente,
trata-se de um longo processo, que é possível, apesar das dificuldades. Se há um
movimento social, novas gerações têm a chance de se apropriar destes conteúdos e
assim modificar a estrutura hoje instaurada.
As questões de gênero perpassam as relações de trabalho, o papel do
masculino e feminino diferenciam-se não somente em aspectos relacionados à dupla
jornada de trabalho assumida pelas mulheres, como também pela segregação sexual,
particularmente no que tange à distribuição dos tipos de tarefas e dos postos de
trabalho.
Divisões entre trabalho considerado intelectual e manual existem, mesmo
quando mulheres encontram-se empregadas nas mesmas ocupações que os homens,
têm-se observado diferenças relevantes, recebem salários inferiores e menos
valorizados socialmente. A competência profissional é colocada em xeque
constantemente e cargos de confiança são atribuídos por gênero ou aparência física
da mulher.
As dificuldades com as políticas neoliberais, principalmente na atual conjuntura
política brasileira, reiteram a importância de discutir esses aspectos dentro dos
espaços sociais, principalmente nas universidades, através das produções científicas,
eventos, congressos e disciplinas.
Apesar de ser culturalmente aceito, o machismo é percebido em muitas
mulheres, que contribuem para manter essa dinâmica, reproduzindo discursos
sexistas, às vezes implícitos, em atividades do cotidiano, repetindo costumes de
gerações passadas.
Nos últimos anos, o debate em torno da identidade masculina tem apontado para uma verdadeira crise da masculinidade do homem contemporâneo. O homem estaria sendo colocado em xeque porque estaria perdendo a noção de sua própria identidade, passando a buscar uma melhor descrição de si. Este fato, conjuraria um certo mal-estar2 semelhante àquele provocado pelo estado de decadência masculina no final do século passado, conforme descreve Badinter (1993), Schowalter (1993) e Ceccarelli (1997). Hoje, assim como ontem, a discussão em torno da diferença entre os sexos conformaria
7
uma das características da crise da masculinidade a que nos referimos. (SILVA, 2000).
Deste modo, a visão entre masculino e feminino perpassa a construção social,
bem como índices conjunturais a nível inter e intrafamiliar, micro e macrossocial. As
pessoas não podem ser vistas como vítimas das ideologias dominantes da sociedade
em que estão inseridas, mas tendem a serem parte do sistema sem ao menos
perceberem, por tão elevado teor de naturalização, no entanto é na esfera social e
coletiva que têm responsabilidade fundamental na construção das subjetividades.
2. A LINGUAGEM NA CONSTRUÇÃO DO HOMEM
A linguagem é o instrumento essencial na interação do homem com o mundo:
através dela que se faz entender e se entende o ambiente. Desde a gestação a criança
é exposta a linguagem. A partir do momento que ela compreende que pode ser
entendida através do choro, risos, sons, ela começa a exercer seu papel ativo no
ambiente.
Através dessa ferramenta é possível colocar-se no mundo. De acordo com Rojo
(2006),
O desenvolvimento da linguagem da criança começa a partir do seu nascimento (talvez até antes), pois, desde o início, a mãe interpreta o choro, as ações, os sons e os gestos do bebê (índices), atribuindo-lhes sentido. Com isso, por meio das “conversas” com o bebê, das cantigas e de muitos jogos de linguagem, os adultos vão tornando presentes e perceptíveis para o bebê, processos e ações do mundo/no mundo. (ROJO, 2006)
Essa apropriação da linguagem pela criança simboliza a inserção dela no
mundo. Vygotski (2010) entende que a aprendizagem – que inclui a apropriação da
linguagem, interação social, capacidade de raciocínio, pensamento, e não tão
somente aprendizagem escolar – são resultantes da maturação e da inserção social
em conjunto. Para ele a maturação biológica compõe o desenvolvimento intelectual,
mas este não seria possível caso não houvesse a interação social.
Neste sentido, o meio social é de extrema importância para o desenvolvimento
da criança. Luria confirma esse pensamento em:
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As primeiras relações sociais e as primeiras exposições a um sistema linguístico (de significado especial) determinam as formas de sua atividade mental. Todos esses fatores ambientais são decisivos para o desenvolvimento sócio-histórico da consciência. (LURIA, 1990).
Luria ainda desenvolveu estudos que comprovam esse discurso. Ao estudar
uma cidade que passava por mudanças sociais, mas que tinha como habitantes
pessoas analfabetas, algumas com pouca instrução e outras matriculadas em escolas
de professores, ele encontrou diferenças entre tipos de pensamento. O pensamento
prático-funcional e pensamento abstrato fazem parte do processo de aprendizagem
dos indivíduos.
Através desses estudos, pode-se perceber o quanto a estimulação é importante
para o desenvolvimento. As pessoas que tinham apenas estimulações práticas,
voltadas ao objeto, reconheciam apenas objetos funcionais, demonstrando pouca
habilidade em formar conceitos abstratos.
Tais significados são construídos desde antes o nascimento, a ideia se traduz
inicialmente pela cor que se é atribuída a cada gênero, como rosa e azul, algo
estreitamente social visto que em outros momentos históricos as atribuições do
feminino e masculino eram com cores inversas a apresentado atualmente. Dessa
maneira o símbolo que se é atribuído a distinção entre os gêneros, traz consigo a
função de representar características enquadradoras de personalidade,
comportamento, expressadas pela linguagem, seja ela verbal ou comportamental.
Esse é um ponto importante para este artigo. Se o ambiente influencia o
indivíduo e sua atividade de tal formal, pode-se pensar em como os papeis de gêneros
continuam tão demarcados até os dias de hoje. Estes foram trazidos através da
atividade humana, sua linguagem e seus conceitos. É através deles que os
significados de homem e mulher foram construídos nos indivíduos contemporâneos.
Novamente os discursos podem ser trazidos como a representação do
ambiente em que a pessoa que o transmite está inserido. A palavra traduz não apenas
a subjetividade do homem, mas é carregada das ideologias do seu meio. Lane (2003)
ressalta a importância da palavra nos comportamentos dos sujeitos. A linguagem diz
sobre o meio que aquele indivíduo está sendo construído. O mesmo ocorre com as
ideologias de gêneros.
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Enfim, o objetivo nessa etapa é fazer considerações sobre o processo de
construção das ideologias, tanto no campo objetivo quanto no subjetivo.
3. A CONTEMPORÂNEIDADE E O PAPEL DE GÊNERO
É percebido um questionamento acerca da construção do que se entende sobre
gênero, sua modificação através do tempo e da carga histórica que cada papel carrega
consigo. A sociedade se desenvolve em conjunto com movimentos que reivindicam
novas possibilidades e quebram com modelos que por muito tempo vigoravam,
ocupando novos espaços que eram pré-determinados de acordo com o sexo
biológico.
Mudanças ficam evidentes nesse novo cenário brasileiro, não aceita-se como
antes a naturalização do machismo, questiona-se essa ideologia e assim fomenta-se
o pensamento crítico e não alienante. Costumes vão se moldando e se adaptando a
essa forma de pensar e assim diminuindo segregações e preconceitos.
4. A IDEOLOGIA DE GÊNERO NA CIÊNCIA
A ciência é uma das áreas do conhecimento humano. Ela se preocupa com
métodos rigorosos, comprovações, conceitos possíveis de reprodução e de
generalização. Outra preocupação importante da ciência é que ela continue se
atualizando constantemente, há necessidade de desenvolvimento e aprimoramento
de ferramentas, métodos e aplicabilidade em diferentes contextos e diversas funções.
Através da produção de conhecimento, molda-se o papel e a expressividade
de cada gênero, conduzindo indiretamente a criação da personalidade de cada ser e
a forma como os mesmos enxergam o mundo a sua volta, categorizando que tais
diferenças como traços de personalidade, concebidas como naturais e não como uma
construção social de papéis.
A condição humana não pode ser vista como uma característica universal, que
esteja presente em todos os seres humanos, como inata e atemporal, e sim por aquilo
que cada um produz de si mesmo. Referindo-se a fatores históricos, culturais e
sociais, estando em transformação continua. Nessa concepção não existe
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determinação de ser humano, estando em discordância com a ideia de natureza
humana.
Tira-se o foco da essência e o coloca na existência. Podendo ser compreendida
através de fatores observáveis como suas vivencias, interação com o meio ambiente
e com os demais indivíduos. Cada atividade realizada no dia a dia corresponde a uma
condição humana distinta.
Não seria diferente com os papeis de gênero na sociedade, visto que as
vivências perpassam não só a cultura da época, como as funções e o dito cultural
imposto através do gênero, reiterando assim, determinadas circunstâncias, escolhas
e possibilidade por meio do biológico somado a construção social perpassada e não
questionada.
Visto isso, a produção científica feminina traz consigo não somente a
representação de possíveis modificações frente a produção científica, como também
indica o quanto foram negligenciadas ao longo da história pela representação de
gênero mais fraco ou dito inferior, inviabilizando o acesso à educação, ou a educação
dita científica, em nível de produção que produzem conhecimento ampliado a nível
acadêmico. Percebe-se também, quanto a ocupação de cargos de referência no
âmbito de pesquisa, por exemplo, sendo em sua maioria categorizada como
surpreendente, ou inesperada o fato de ser uma mulher (seja ela cis ou trans) como
ocupante de um cargo chefia, fato naturalizado, mas fruto de uma percepção machista
e perpetuada por gerações.
Dada a contemporaneidade do assunto, bem como sua relevância, inclusive no
campo científico, esse artigo se propõe a discorrer sobre pesquisas relacionadas ao
tema, e é nisso que consiste a problemática: qual o quadro nacional contemporâneo
das pesquisas científicas sobre gêneros.
4.1 METODOLOGIA
A produção científica brasileira em Psicologia na base de dados Pepsic é de
larga escala. Com essa visão, o presente estudo buscou verificar o número de artigos
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publicados que problematizam essa temática nessa mesma base de dados com
filtragens apropriadas.
Para obter os resultados dessa pesquisa foram usados os artigos que
continham a palavra “gênero” e selecionados os artigos entre 2015 e 2019, para que
assim se pudesse conhecer as publicações contemporâneas sobre o tema.
Grosso modo foi percebida uma quantidade satisfatória de publicações,
considerando o número de artigos para outros termos bem explorados em Psicologia,
por exemplo, para “personalidade”, foram encontrados 131 artigos científicos, para
“subjetividade”, o resultado foi de 211 publicações e para “comportamento”, 339
artigos encontrados. Esses resultados não tinham filtragem do ano de publicação.
Com a palavra-chave desse estudo, fora obtido, como resultado, um total de 214
artigos.
Os dados coletados foram o ano de publicação, o local, a revista e o gênero
dos autores. Esperava-se encontrar maior número de publicações nos últimos anos
por ter sido um tema amplamente explorado: a configuração da família mudou, o
modelo patriarcal começou a ser questionado, surgiram debates sobre identidade de
gênero e como a sociedade se adapta isso, direitos da mulher e os dos homens
começaram a ser revisados.
5. DISCUSSÃO
De acordo com o levantamento exposto no gráfico 1, o ano que teve maior
número de publicações foi o de 2017. Em 2016 há uma queda e no ano seguinte têm-
se mais que o dobro de publicações de artigos sobre a temática.
Atualmente o número de artigos possui a média de treze artigos por ano, se
calculada a partir do número de anos no intervalo de 2015 a 2019.
Não foram criadas expectativas sobre o local de maior atividade científica sobre
a temática, mas os resultados não surpreendem, sendo que a maioria das publicações
se encontram no sudeste do país, onde há bastante incentivo para pesquisas. As
revistas que tiveram maior número de publicação foram Temas em Psicologia e
Estudos e Pesquisa sem Psicologia. Com os resultados, buscou-se uma explicação
quantitativa para os dados obtidos.
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Como exposto no gráfico 2, a revista Temas em Psicologia é que teve o maior
número de publicação da amostragem. Ao todo foram seis artigos. Aparentemente,
não há nenhuma razão especial para essa quantidade de artigos. A revista aceita
temas de todas as áreas, com poucas restrições de artigos.
A média foi de 2 a 3 artigos por revista, entretanto os resultados foram bem
desiguais entre as bases de dados. Talvez exista algum interesse pessoal entre
algumas regiões ou outras.
O gráfico 3 ilustra os locais onde houve publicações. São Paulo está no primeiro
lugar com 17 publicações. Como causa, considerou-se o grande número de
profissionais da Psicologia nesse estado, são 87034 psicólogos no estado de acordo
com o sitio do Conselho Federal de Psicologia (2016, [online]), a diversidade cultural
e social influenciam na discussão sobre o tema, possibilitando maior produção
científica, assim como no Rio de Janeiro que ficou em segundo lugar com diferença
de apenas um artigo.
Em relação ao gênero dos autores dos artigos (gráfico 4) se fez necessário,
para o presente estudo, mergulhar no universo dos papeis de masculino e feminino,
verificando, principalmente, as mudanças que têm acontecido. Para tanto, buscou-se
verificar qual o gênero que mais contribui para essa mudança.
Vale ressaltar que essa preocupação não é, em nenhum sentido, vista pelas
autoras desse artigo como uma forma de distanciar homens e mulheres por suas
importâncias na ciência, e sim de entender de quem é o maior interesse nessa
mudança.
Entende-se que essa ideologia prejudica os dois lados, em concordância com
Beauvoir (1967). O homem é opressor e é oprimido ao mesmo tempo. Ao passo que
a mulher é vista como a parasita, a castrada e a passiva, o homem deve se esforçar
para ser o macho, que protege, que tem a força e a virilidade. Pode-se pensar no
sofrimento que isso causa nos indivíduos. Se o homem foge do socialmente esperado,
ele também sofre, não só com o julgamento dos outros, mas com seu próprio, pois já
foram internalizadas as ideologias.
Ao todo se chegou ao resultado de 53 homens na autoria ou coautoria de
artigos e 90 mulheres na construção dos artigos da amostra, apenas em 2017 o
13
número de homens autores ou coautores superam o de mulheres. Atualmente, as
mulheres estão em maior quantidade na Psicologia, no entanto, números tão
significativos são no mínimo atraentes. Não se pode correr da ideia de que as
mulheres contemporâneas estão mais interessadas na diferença de gêneros de que
os homens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise da amostra foram obtidos resultados importantes para a
compreensão das faces contemporâneas dos papeis de gênero na sociedade. Os
dados foram em boa parte surpreendentes: o ano de maior número de publicações foi
em 2017 com um declínio no ano seguinte, a revista com maior quantidade de
publicações é renomada na área de psicologia, porém não há especificidade no
estudo da temática.
As mulheres são mais numerosas nessa amostragem do que os homens, o que
surpreende positivamente as autoras envolvidas, e que possuem uma relação íntima
com a temática e os estudos feministas.
Isso reafirma como o cenário nacional tem mudado por vezes de forma
vagarosa, mas constante. Hoje as mulheres estão mais conscientes do pape que
podem ocupar diante do cenário atual, contribuindo para alcançar sua independência,
autoestima, eficiência profissional e pessoal.
Aproveitamos para relembrar um discurso de Beauvoir que traduz de forma
objetiva o pensamento que se apreende sobre os dados obtidos.
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. Enquanto existe para si, a criança não pode apreender-se como sexualmente diferençada. Entre meninas e meninos, o corpo é, primeiramente, a irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que apreendem o universo. (BEAUVOIR, 1967).
Considera-se válido recomendar estudos mais aprofundados para verificar as
causas que geram grande produtividade nesse tema em regiões como em São Paulo.
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A análise de número de psicólogos não parece ser suficiente para avaliar, de forma
qualitativa, as razões que geram tantos estudos sobre o assunto.
De forma geral o objetivo dessa pesquisa foi alcançado gerando a
compreensão da importância de se pensar no contexto histórico-social para
compreender o indivíduo.
A partir da discussão sobre o tema, ressalta-se que os preconceitos
vivenciados pelas pessoas são culturalmente enraizados, perpassando gerações.
Pensa-se que a fomentação dos estudos de gênero podem contribuir na atenuação
dos preconceitos dentro da classe não só dita elitizada que possui acesso à produções
científicas do meio acadêmico, mas a abrangência e possibilidades de modificação
social por meio do instrumento de alcance e transformação que é o conhecimento.
Não podemos esquecer que dentro de algumas esferas sociais, não somente
de classes, mas de ambiente como um todo da construção familiar, como a influência
religiosa e financeira, ainda é existente o tabu em falar-se sobre gênero, papeis e
representações sociais, bem como sobre a igualdade de direitos e defesa dos
mesmos.
Logo, para a produção de um novo pensar, concluímos que a modificação deve
ser permanente e constante. Deve-se falar sobre, fomentar a representatividade de
gêneros, raças, classes. Trata-se de pensar o indivíduo biopsicossocial em um espaço
dialético e seu lugar de fala e de modificação social.
Os autores apresentados no decorrer desse artigo são concisos em dizer da
importância da conscientização para alterar o comportamento, livrar-se da alienação
ou das ideologias dominantes. Em todo caso é papel do psicólogo, nessa abordagem,
incentivar a tomada de consciência, levando o indivíduo a refletir sobre seus
comportamentos e como eles foram gerados: histórico e socialmente.
REFERÊNCIAS
● BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo II: experiência vivida. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967;
15
● CARLOTO, C. M. O Conceito De Gênero e Sua Importância Para a Análise Das Relações Sociais. SOF-Sempreviva Organização Feminista. São Paulo, 1990;
● Conselho Federal de Psicologia. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/>,
acesso em: 04 de abril de 16;
● LANE, S. T. M. Emoções e pensamento: uma dicotomia a ser superada. IN: BOCK, A. M. B. A perspectiva sócio-histórica na formação em psicologia. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2003. (p. 100-112);
● LURIA, A. R. Desenvolvimento Cognitivo: seus fundamentos culturais e sociais.
São Paulo: Ícone, 1990. (p. 17-35);
● MORAES, T. P. B. A Discrepância Quanto à Frequência de Comportamentos Agressivos em Homens e Mulheres. Um Estudo Evolucionista Sobre o Comportamento Agressivo em Humanos. UNOPAR. Cient., Ciênc. Human. Educ. Londrina, v. 15, n. 1, p. 73-82, 2014;
● NOGUEIRA, C. Feminismo e discurso do género na psicologia social. 2001.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/1822/4117>Acesso em: 13 de maio de
2018
● ROJO, R. A apropriação da linguagem oral pela criança - o valor do diálogo. In: Desenvolvimento e Apropriação da Linguagem Pela Criança. Belo Horizonte: Ceale, 2006. (p. 25-28);
● SILVA, S. G. Masculinidade na história: a construção cultural da diferença entre
os sexos. Psicologia: ciência e profissão. Brasília, vol.20 no. 3, 2000;
● VIGOTSKII, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade
escolar. In: VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2010. (p.103-117).
16
ANEXOS
Gráfico 1 – Ano de publicação. Fonte: dos autores.
Gráfico 2 – Publicações por Revistas. Fonte: dos autores.
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18
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Publicações por Revistas
17
Gráfico 3 – Local de Publicação por Estado. Fonte: dos autores.
Gráfico 4 –Publicação por gênero dos autores. Fonte: dos autores.
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Local de Publicação
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2015 2016 2017 2018
Gênero dos autores
Feminino Maculino