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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - UCAM PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Wiviane Alves Ferreira
O PAPEL DA PSICOPEDAGOGIA NO ATENDIMENTO À EDUCANDOS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Orientador Profº. Vilson Sérgio de Carvalho
Rio de Janeiro
Julho / 2007
Wiviany Alves Ferreira
O PAPEL DA PSICOPEDAGOGIA NO ATENDIMENTO À EDUCANDOS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia.
Rio de Janeiro, julho de 2007
AGRADECIMENTOS
Ao meu Orientador, Professor Vilson Sérgio
de Carvalho, pelo exemplo de ser humano,
Mestre incansável no repasse de suas
experiências profissionais, sempre pronto a
nos atender com paciência, carinho e
atenção.
Aos professores do curso, pela disposição e
afinco em partilhar conhecimentos.
Aos colegas de curso, “Amigos para
sempre”, nessa jornada em busca de
ascensão em nossa profissão,
DEDICATÓRIA
À Deus, essa força inspiradora em minha
vida,
Aos meus familiares, pelo carinho e apoio
incondicional nessa procura de realização
profissional,
“Brincar com crianças não é perder
tempo, é ganhá-lo; se é triste ver
meninos sem escola, mais triste ainda
é vê-los sentados enfileirados em salas
sem ar, com exercícios estéreis, sem
valor para a formação do homem.”
(Carlos Drumonnd de Andrade)
RESUMO O presente estudo tem como objetivo reconhecer a importância da
Psicopedagogia no processo de aprendizagem como alternativa no atendimento à educandos com dificuldade de aprendizagem. Assim sendo, ao realizar o estudo das teorias que abordam o constructo do conhecimento há de se reconhecer também a manifestação de questões pertinentes ao processo de aprendizagem. Baseado nesses pressupostos é possível a contextualização das dificuldades que permeiam a demanda desse processo, buscando resgatar a semelhança com o conhecimento, ressignificando a descrição de aprendizagem de cada educando. Para tanto, utiliza-se a metodologia de pesquisa bibliográfica, apoiada por conceitos teóricos, e pela reflexão de trabalhos científicos como os de Jean Piaget e outros autores do campo da Psicopedagogia, tais como Sara Paín e Alicia Fernández, que apresentam trabalhos significativos nesse campo de atuação e que dará suporte as idéias aqui apresentadas. Nesse contexto, procura-se situar o educando enquanto sujeito epistêmico da aprendizagem, trilhando os momentos de construção da inteligência, colaborando não só com os profissionais que atuam na ação educativa integrada, mas com todos os que se interessam pelo tema. Pretende-se ainda reconhecer o momento do desenvolvimento do educando, agindo não somente como Psicopedagogos, interventores do processo em demanda, mas como sujeitos aprendentes, construtores de conhecimento e de aprendizagem.
METODOLOGIA
O procedimento metodológico usado nesse estudo baseia-se no
referencial qualitativo e exploratório, buscando maior aproximação quanto o
real enfoque do objeto de estudo.
Para tanto, recorreu-se a bases cientificas sugeridas por Minayo
(1998) em que diz ser preciso reconhecer o comprometimento, próprio ao
pesquisador enquanto elaborador de informações que possibilitam o ato de
criação que levará a identificação do autor.
Assim sendo, se fará consultas a livros, de cunho científico, nas áreas
da educação, pedagogia, psicologia e outras áreas afins, nomeando,
entretanto, como base fundamental a psicopedagogia para ser trabalhada,
junto ao educando, família, escola e sociedade, construindo assim, o
sustento de tal fundamentação teórica.
Nesse sentido, será importante a coleta de material bibliográfico, onde
livros, artigos, revistas, periódicos e sites de Internet, farão parte do acervo
que norteará o desenvolvimento do tema apresentado.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................
.......................................................................................................................0
8
CAPÍTULO I
12
O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E A PSICOPEDAGOGIA
12
CAPÍTULO II
28
APRENDIZAGEM: DA ANTIGÜIDADE AOS DIAS ATUAIS
28
CAPÍTULO III
.......................................................................................................................3
4
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
.......................................................................................................................3
4
CAPÍTULO IV
.......................................................................................................................5
2
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA: CONTRIBUIÇÃO NO
PROCESSO DE APRENDER NA EDUCAÇÃO INFANTIL
.......................................................................................................................5
2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
.......................................................................................................................5
6
BIBLIOGRAFIA
.......................................................................................................................6
0
ÍNDICE
.......................................................................................................................6
3
INTRODUÇÃO
O objetivo dessa pesquisa visa reconhecer que a abordagem
psicopedagógica pode atender educandos com dificuldades de
aprendizagem, viabilizando a orientação adequada na relação
ensino/aprendizagem criando-se os ajustes necessários para com diferentes
modos de aprender de cada ser humano, valorizando assim, o trabalho do
profissional na área de Psicopedagogia que procura atender o educando, em
conjunto com sua família, com a escola e a comunidade na qual ele se
encontra.
Sua finalidade específica consiste em definir a dificuldade de
aprendizagem, tomando-se como fundamentos teóricos os conceitos de
diferentes autores, e a partir daí, mostrar os diferentes tipos de déficits de
aprendizagem.
Para tanto, será relevante identificar algumas variáveis que podem
caracterizar a dificuldade de aprendizagem, onde se inclui a sua origem, e
se estabelece o reconhecimento de que esse tipo de dificuldade pode
estar associado a disfunções de leitura, escrita e/ou cálculo, o que
mediante ao trabalho da equipe multidisciplinar, pode minimizar as suas
conseqüências.
A partir daí, deve-se proporcionar aos educandos, especialmente
aqueles que apresentam dificuldades de aprender novas experiências,
enfatizando o plano do lúdico, artístico e literário, como requisitos que
podem integrar a sua formação geral.
Diante do exposto e com o intuito compreender melhor o assunto
fez-se a opção de enfatizar uma abordagem reflexiva que trilha pelos
caminhos de uma intervenção facilitadora de ação suscitada pela
Psicopedagogia, no que tange a orientação de diretrizes, que proporcionam
soluções capazes de auxiliar o atendimento à educandos com este tipo de
dificuldade.
É notória a criação de novas tentativas para definir especificamente o
que realmente vem a ser uma dificuldade de aprendizagem, porém, não
existe ainda um consenso sobre os critérios e até sobre o referido termo em
si.
Na realidade, o que se verifica são educandos que trazem em sua
bagagem vivencial, o constitutivo de seu aspecto biológico, psicológico e
social, quando iniciam suas atividades escolares.
Cientificamente, observa-se que há concordância entre alguns
estudiosos, destacando que a aprendizagem pode suscitar uma relação
bilateral, tanto da pessoa que ensina como da que aprende.
Assim, percebe-se que a forma hegemônica de pensar a relação
ensino/aprendizagem, ora privilegia os fatores internos do aprendente, ora
os fatores externos, ou seja, o meio cultural, no qual está inserido o próprio
educando, os professores, e ainda supervisores, coordenadores e demais
funcionários, inclusive, o psicopedagogo.
Tudo isso, implicaria num processo evolutivo e constante que envolve
um conjunto de modificações no comportamento do indivíduo, tanto a nível
físico como biológico, e do seu ambiente, onde tal processo emerge sob a
forma de novos comportamentos.
Com efeito, o distúrbio de aprendizagem pode ser considerado um
termo genérico, que se refere a um grupo heterogêneo de desordens, que se
manifestam por dificuldades particulares, na aquisição e uso das habilidades
de ouvir, falar, escrever e de raciocínio lógico. Essas desordens podem ser
intrínsecas ao ser humano, pois muitos acreditam que as mesmas sejam
disfunções do sistema nervoso central (SNC).
Já existem casos comprovados de que o distúrbio da aprendizagem
pode incidir simultaneamente com outras desordens. Dentre elas cita-se: os
distúrbios sensoriais, emocionais e sociais; o retardo mental. Por sua vez,
estes distúrbios podem receber influências ambientais, oriundas das
diferenças culturais, das instruções inapropriadas e/ou insuficientes, ou
ainda de fatores psicogenéticos, que muitas vezes desencadeiam a doença
e/ou síndrome.
Há de se frisar elas não se efetivam como resultado direto dessas
condições e/ou influências mencionadas. Verifica-se que o distúrbio de
aprendizagem possui significado restrito, mas engloba ainda a disfunção
neurológica. Não resta dúvida de que a depressão, ansiedade, transtornos
emocionais graves, bem como os transtornos de atenção e de concentração,
deficiências visuais, auditivas, intelectuais e síndromes, interferem no
processo de aprendizagem. Mas a complexidade do tema da dificuldade de
aprendizagem habita o fato de que o fracasso escolar não é unideterminado.
Haja vista, que ele não existe apenas única variante dessa responsável e,
portanto, não se deve pensar que para o sucesso escolar existe também um
único responsável.
Acredita-se que só a partir de uma visão interdisciplinar será possível
realizar uma análise do ser humano. Entender e buscar soluções com a
finalidade de aumentar a qualidade do ensino visando à formação social do
educando, procurando minimizar os altos índices de portadores de distúrbios
de aprendizagem.
Diante do exposto, surgiu o interesse em estudar o assunto, sob a
intervenção psicopedagógica que oferece suporte para que esses
educandos continuem a participar efetivamente das aulas ministradas nas
escolas. À guisa de informação, destaca-se que todas as acepções sobre o
não-aprender, podem contribuir de forma relevante para o entendimento
desses condições.
Nesse sentido, para melhor compreensão da questão estudada
dividiu-se o trabalho em capítulos, que serão descritos logo após de uma
resumida introdução que focaliza em linhas gerais a matéria apresentada.
Assim no decorrer do desenvolvimento, se apresentará o capítulo I
que trata sobre o estudo do desenvolvimento humano e a Psicopedagogia
tecendo algumas considerações a respeito do seu contexto histórico,
entre outros pontos relevantes.
O capítulo II enfatiza a aprendizagem traçando um perfil da mesma
desde seu aparecimento até os dias atuais, mostrando apreciações que
dão base para se falar do assunto, sustentadas pela literatura
relacionada.
O capítulo III mostra a dificuldade de aprendizagem, elegendo
conceitos, e evidenciando pontos importantes com relação ao atraso no
desenvolvimento psicomotor e cognitivo na visão teórica de Jean Piaget.
Para tanto, aborda a evolução das estruturas mentais, descrevendo os
estágios do desenvolvimento cognitivo, nas respectivas faixas etárias na
vida do ser humano. Focaliza ainda, o valor da afetividade na relação
professor/aluno, esboçando a relação como condição imprescindível para
o desenvolvimento da criança na escola. Para tanto, recorre-se a autores
como Henry Wallon, Jean Piaget e outros que elegem a questão não só
no ambiente escolar como foco de interesse, mas em um contexto maior,
que é a vida do ser humano.
O capítulo 4 discorrer sobre a intervenção psicopedagógica como
contribuições no processo de aprender, assinalando que através do
brincar, ou seja, do lúdico, abrem-se as possibilidades do pensamento
infantil elevar seu nível intelectual. Procura, então, destacar a capacidade
e metas sob os efeitos educativos no desenvolvimento psíquico da
criança, mostrando essa prática educativa à luz da Psicopedagogia em
contribuição ao processo de aprender.
Com efeito, cabe ao Psicopedagogo manter um bom
relacionamento com o mundo infantil diversificando as situações de
aprendizagem, adaptando-as as suas especificidades, tentando responder
ao problema didático heterogêneo das aprendizagens, que às vezes
rotula as crianças desde a mais tenra idade. Não deve se esquecer à
atuação da escola, que juntamente com a equipe multidisciplinar,
colabora na difícil missão de valorizar os muitos saberes do educando,
oportunizando as verdadeiras potencialidades.
Espera-se, concluir a pesquisa, acreditando não ter esgotado o
assunto, mas que se esteja prestando-se pequena colaboração quanto à
detecção, prevenção e mediação das dificuldades de aprendizagem,
especialmente, como veículo que venha conscientizar os profissionais
não somente da área de Psicopedagogia, como de outras áreas afins.
Todo esse conjunto de idéias faça parte de um desafio que envolve
a aprendizagem como alternativa de ação na Educação Infantil, cabendo
assim, o desenvolvimento do olhar e da escuta, para com os educandos,
enquanto seres humanos singulares e aprendentes.
CAPÍTULO I O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E A
PSICOPEDAGOGIA
Sabe-se que o desenvolvimento do ser humano, sobretudo, na
criança pode ser marcado por meio de mudanças complexas. Essas
modificações podem acontecer diante da organização e estrutura de
processos comportamentais, bem como no crescimento que se faz presente,
ao longo da vida de cada sujeito.
Fazendo-se uma análise pode-se perceber que na modernidade a
formação da idéia de educando e de seu desenvolvimento está amparada
em diferentes áreas do conhecimento. Nesse sentido, surge a Pedagogia,
que incorpora em uma só concepção, outras diferentes áreas que, por
conseguinte abrem espaços para estudos ligados a Antropologia, Sociologia
e Filosofia e ainda a Psicopedagogia.
Partindo dessas premissas, e baseados num referencial teórico
bibliográfico é que se procura lançar um olhar da Psicopedagogia na
Educação Infantil trabalhando-se o processo de aprendizagem como
alternativa de educação mostrando ainda a importância do desenvolvimento
humano nesse contexto.
1.1 A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Tem-se conhecimento de que o desenvolvimento humano é muito rico
e diversificado. Percebe-se que cada indivíduo tem características próprias,
que as distinguem dos outros, implantando cada um o seu próprio ritmo de
desenvolvimento.
Contudo, por mais que se realize um estudo para se compreender o
comportamento humano e o seu desenvolvimento, ele sempre vai reservar
surpresas e imprevistos. Com frisa Piaget (1896-1980), será o desequilíbrio
que irá gerar o desenvolvimento, já que este compreende uma equilibração
progressiva, ou melhor, explicando seria uma passagem contínua de um
estado de equilíbrio menor para um outro superior.
Com relação ao conhecimento torna-se imprescindível para que o ser
humano viva integralmente, embora tenha a ver com ele mesmo, com seus
objetivos, e ainda com o cultivo de valores e convicções, devendo manter-se
aberto à conversa e transformações, sendo relevante nessa abordagem, o
conhecer o outro entendendo e as mudanças ocorridas no mundo.
Daí se entende que o desenvolvimento é uma busca de um equilíbrio
superior, como um processo de equilibração constante. Nas palavras de
Piccoli (2001, p. 46), o ser humano edifica “sua consciência, seu
conhecimento e seu próprio desenvolvimento na interação, sendo
necessário buscar uma pedagogia que contemple esses aspectos”.
Segundo Gadamer, tais acepções estão em reciprocidade com
conceitos de diversos educadores, filósofos e cientistas, que compartilham
de concepção como:
(...) se as ciências humanas entram em uma relação
determinada com a filosofia, isto não se dá somente
numa perspectiva puramente epistemológica. As
ciências humanas não se limitam a colocar um
problema para a filosofia. Ao contrário, elas demandam
um problema de filosofia. (GADAMER, 1998, p. 20-21)
Isto denota verdadeiramente o próprio exercício de um pensar crucial,
radical e severo, um pensar que se debruça sobre as condições existenciais
do desenvolvimento humano, aponta o autor supracitado.
Mas há de se destacar ainda que o desenvolvimento humano refere-
se ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico. Quando se trata
do desenvolvimento mental este se mostra em construção contínua, mas as
formas de organização da atividade mental se aperfeiçoam e se solidificam,
mas algumas destas composições conservam-se ao longo da vida.
Ao estudar o desenvolvimento humano torna-se relevante considerar
o conhecimento das características comuns das faixas etárias. Ao se
planejar o que se quer, ou como se quer ensinar, isso irá implicar também
em se conhecer quem se educa.
Em verdade, existem formas de perceber, compreender e se de
comportar no mundo, que são características em cada faixa etária. Além
dessas formas, existem fatores que influenciam no estudo do
desenvolvimento humano.
1.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Dentre os fatores mais comuns está o crescimento orgânico, a
hereditariedade, a inteligência, a maturação neurofisiológica, e o meio
ambiente.
Nesse contexto, Campos e Francischini explicam que:
hereditariedade compreende a carga genética
estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não
desenvolver-se. Já a inteligência pode desenvolver-se
de acordo com as condições do meio em que se
encontra. O crescimento orgânico refere-se ao aspecto
físico. A maturação neurofisiológica é o que torna
possível determinado padrão de comportamento e o
meio constitui o conjunto de influências e estimulações
ambientais que altera os padrões de comportamento do
indivíduo. (CAMPOS e FRANCISCHINI, 2003 p. 119 e
ss).
Logo, uma visão renovada e interdisciplinar pode ser produtiva quanto
à apreensão complexa do comportamento e desenvolvimento humano,
mesmo que as novas concepções sejam opostas as já existentes.
1.3 ASPECTOS GERAIS
Conforme explica Calegaro (2001) dentre esses aspectos tem-se em
principio a aspecto físico-motor que diz respeito ao crescimento orgânico, à
maturação neurofisiológica, como por exemplo, a criança que leva a chupeta
à boca. Em seguida aponta-se o aspecto intelectual, em que se insere a
capacidade de pensamento, raciocínio, por exemplo, a criança de dois anos
que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que está em baixo
de um móvel.
Em relação ao aspecto afetivo-emocional, pode-se dizer que é o
modo particular do indivíduo integrar suas experiências, nesse contexto,
aparece a sexualidade.
Outro aspecto é o social, seria amaneira como o indivíduo reage
diante das situações entre outras pessoas. É o caso de um grupo onde
existe uma criança que permanece sozinha.
Adverte-se que não será viável se encontrar um exemplo puro, pois
todos estes aspectos relacionam-se entre si, de forma constante. (Idem,
Ibidem).
1.4 DESENVOLVIMENTO HUMAMO X PSICOPEDAGOGIA
Ao estudar o assunto, percebe-se que a Psicopedagogia não parece
ser como alude o seu nome. Dessa feita, a simples unificação da Psicologia
com a Pedagogia, poderá se trabalhar e recorrer às contribuições das duas
disciplinas, mas não é bem isso. É preciso ir mais além, e verificar que
diversas vezes o vocábulo “psico” pode se referir em maior solicitação
quanto às contribuições da Psicanálise do que efetivamente às da
Psicologia.
Nesse percurso, verifica-se que a Psicopedagogia trata das questões
sobre o aprender e o aprender implica o perguntar e o perguntar-se.
De acordo com Fernández (2001) ao invés de anular ou desqualificar
a pergunta como indicadora de imaturidade, poderá se trabalhar com a
mesma empregando-a num espaço transicional lúdico, de criatividade, que
possibilite se fazer questionamentos sobre ela. Para a autora, para que se
aprenda torna-se necessário, abrir espaço para o perguntar, articulando três
instâncias: desconhecimento, conhecimento e desejo de conhecer.
Dessa forma, a Psicopedagogia, sugere ao perguntar sobre si
mesma, uma construção de seu próprio aprender, colocando alternativas em
função positiva dos conhecimentos já adquiridos e o desejo de continuar
crescendo.
Assim, percebe-se que desde que o homem existe, ele se desenvolve
e aprende, e consequentemente pensa na história da Psicopedagogia a
partir de diferentes linhagens.
Numa atitude de indignação, observa-se que o convite a pensar e agir
deve ser fortalecido pela leitura, embora o fracasso do ensino, seja visto
como a ruína da escola contemporânea que, longe de ser o lugar de
aquisição de conhecimentos e de capacidade de refletir, forma educandos
que não sabem ler, escrever e realizar as quatro técnicas operatórias.
(PATTO, 2005).
Repensando a questão da educação de todos, recorre-se ao referido
autor quando fala palavras dirigidas aos psicólogos, e por que não dizer aos
psicopedagogos, porém, acredita-se que as mesmas sirvam para todas as
pessoas que cuidam da educação e da constituição de sujeitos.
Para ser crítico, é necessária a aproximação da Filosofia, devendo se
tramitar pelo campo das artes e da literatura, rompendo laços que separa as
pessoas das demais Ciências Humanas. (PATTO, 2005)
A partir desses pressupostos, não haverá esperança, e assim se
passará diante da história como uma das práticas de sub-metimento mais
adequadas, em ação no novo século.
1.5 PSICOPEDAGOGIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO
Há de se frisar que a história da Psicopedagogia tem seus principais
expoentes, onde a vertente mais antiga de influência sobre o surgimento da
Psicopedagogia no Brasil foi o movimento Escola Nova. Este procurou
direcionar a política da educação da década de vinte até a década de
sessenta, buscando respostas para os problemas relacionados à educação
brasileira em experiências consagradas em outros países, como Estados
Unidos e Europa, baseada em uma concepção de reconhecimento da
especificidade psicológica da criança.
Contudo, na visão de Mendes (1998, p. 32): “sob a influência do
aparecimento da Escola Nova (na década de 20), o ensino é reformulado, e
então, passa-se a defender a idéia de promover a educação integral do
aluno”.
Dessa forma, o processo histórico da Psicopedagogia no Brasil
posiciona-se somente no final da década de setenta, início da década de
oitenta, juntamente com os profissionais que atuavam com os problemas de
aprendizagem, principalmente nas áreas de leitura e escrita.
As primeiras contribuições na área psicopedagógica foram
apresentadas por especialistas argentinos, que vinham ao Brasil com o
intuito de ministrar palestras e cursos, preocupando-se com a formação,
bem como a capacitação que abarcassem os chamados “distúrbios da
aprendizagem”.
Com isso, a formação do Psicopedagogo no Brasil iniciou-se com
pequenos cursos que forneciam subsídios para a compreensão de aspectos
relacionados com a psicomotricidade, linguagem, assim como a área de
raciocínio, visto que cada profissional construía seu currículo a partir de
oportunidades surgidas. Segundo Scoz (1994, p. 20)
a maior contribuição para a formação dos
psicopedagogos no Brasil foi o argentino Jorge Visca,
fundador dos Centros de Estudos Psicopedagógicos do
Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador no Brasil, que
concebe a aprendizagem como uma construção
intrapsíquica, com continuidade genética e diferenças
evolutivas.
De forma vagarosa, o ensino tradicional foi sendo substituído por uma
visão de escola nova, baseado na necessidade de definir uma pedagogia
coerente com a natureza humana e, assim, reserva-se às especificidades do
processo de desenvolvimento infantil. (SCOZ, 2002).
Para a autora supracitada, a partir da década de 80, surge a
Psicopedagogia, em função da eficiência demonstrada na prática clínica,
tem se estruturado como corpo de conhecimentos e se transformado em
campo de estudos multidisciplinares. A finalidade era desempenhar uma
visão mais global do processo de aprendizagem e, por conseguinte, tratar
dos problemas decorrentes desse processo.
Em sua visão, situa a Psicopedagogia nos dias atuais, fazendo um
breve retrospecto dos caminhos por ela trilhados, considerando a influência
do pensamento educacional brasileiro vigente em cada momento histórico.
Assim, a partir da década de 60, a categoria profissional dos
psicopedagogos começa a expandir-se e a organizar-se buscando,
inicialmente, as causas do fracasso escolar, através da sondagem de
aspectos do desenvolvimento físico e psicológico do aprendiz. (SCOZ,
2002).
Nota-se que a primeiras concepções do histórico da Psicopedagogia
no Brasil, tinham enorme preocupação com técnicas que contribuíssem para
a promoção da recuperação, no sentido da cura.
As dificuldades eram entendidas como distúrbios, patologias e os
atendimentos das dificuldades de aprendizagem estavam relacionados a
uma visão organicista do ser humano, sendo que os educadores buscavam
explicações através da neurologia. Desse modo, os aspectos orgânicos
eram motivos também de apreensão.
Torna-se relevante ressaltar que essa perspectiva patologizante dos
problemas de aprendizagem foi rapidamente incorporada, pois
proporcionava uma explicação mais ingênua para a situação do sistema de
ensino, na medida em que mascarou a natureza verdadeira do problema,
que seria sociopedagógico, conforme salienta Bossa (2001).
Nesta época, os psicopedagogos prendiam-se a uma concepção
organicista e linear, com conotação nitidamente patologizante, que encarava
os indivíduos com dificuldades na escola como portadores de disfunções
psiconeurológicas, mentais e/ou psicológicas. (SCOZ, 2002, p. 23)
Tem-se conhecimento de que a literatura estrangeira sobre essa
questão mostrava um imenso interesse, especialmente com as contribuições
de Johnson; Myklebust (1987), pesquisadores do Institute for Language
Disorders, que mostravam os conceitos sobre a Disfunção Cerebral Mínima
(DCM) e de Distúrbios de Aprendizagem (afasias, disgrafias, discalculias,
dislexias), desde “que levado em conta os principais responsáveis pela
incapacidade de algumas crianças para aprender”, segundo adverte Scoz
(2002, p. 23)
Tais premissas, inicialmente difundidas através dos consultórios
particulares, acabaram chegando às escolas que, sem nenhum critério,
classificavam as crianças com dificuldades para ler e escrever como
“disléxicas” e, as mais agitadas, como “hiperativas”. (Idem, Ibidem)
Nesse sentido, problemas desse nível eram atribuídos, algumas
vezes as disfunções cerebrais, sendo que essas crianças deveriam ser
encaminhadas a profissionais da área médica, para que fosse reforçado o
diagnóstico dos professores, a assim recorria-se frequentemente, a uma
linha medicamentosa de tratamento. Com isso, os próprios profissionais da
área médica admitem a larga difusão que o termo DCM teve em nosso meio.
Citando palavras de Cypel:
O neuropediatra preocupado com questões
relacionadas à aprendizagem escolar, comenta, em
seus estudos, que nas consultas médicas o diagnóstico
de DCM partia dos próprios pais atingindo o nível de
40% das crianças atendidas no consultório, o que
causava a impressão de que convivíamos com uma
população de anormais. (apud SCOZ, op. cit., p. 24)
Nota-se que o conceito de DCM permitiu uma aceitação maior da
criança pelo professor e pelos pais, uma vez que, portadora de uma “doença
neurológica”, ela não poderia ser responsabilizada pelo próprio fracasso.
Isso serviu ainda para desmotivar os educadores a investirem na
aprendizagem. No entanto, nos consultórios de atendimento
psicopedagógico, “reforçou a explicação organicista de problema de
aprendizagem, enfatizando, mais uma vez, a postura medicalizadora vigente
na época”. (SCOZ, op. cit., p. 24)
Recentemente, autores estrangeiros da área médica, de grande
penetração nos meios psicopedagógicos, como, por exemplo, a chamada de
Ajuriaguerra, Marcelli (1986, passim) para a dificuldade de definir limites
claros e objetivos entre os conceitos de normalidade e de patologia na
aprendizagem escolar. Tal fato decorre da própria variação desses conceitos
em diferentes fases do desenvolvimento da criança. Para esses autores, um
mesmo sintoma pode ser considerado “normal” em uma determinada faixa
etária, e, “patológico”, em outra.
A revelação das idéias escolanovistas ecoa no pensamento
psicopedagógico, dando ênfase aos aspectos afetivos da aprendizagem, que
conduziu os psicopedagogos a utilizarem um número excessivo de testes e
de instrumentos de mensuração, na busca de encontrar índices que os
revelassem um diagnóstico. (SCOZ, 2002)
Depois de alguns anos, tal medida mostrou-se não só ineficaz, mas
prejudicial, pois alguns alunos acabavam estigmatizados como incapazes de
aprender. Todavia, nos últimos anos, os psicopedagogos, “à luz de
contribuições de diversas áreas do conhecimento com, por exemplo, da
Psicologia, Sociologia, Antropologia, Lingüística, Psicolingüística, vêm
reformulando sua linha de análise”, afirma Scoz (op. cit., p. 25).
Tal fundamentação teórica inserida em outras áreas do conhecimento
vem embasar e fortificar o corpo Psicopedagógico, que já possui a sua
especificidade, tanto na área de estudo, como em seu objeto a ser
analisado, o que implica numa nova área com corpo teórico próprio.
(FERREIRO, 1986)
Nas palavras de Bossa (1994) o objeto de estudo da Psicopedagogia
é o próprio processo de aprendizagem e seu desenvolvimento normal e
patológico. Eles podem estar relacionados com a realidade interna ou com a
realidade externa, sem colocar de lado os aspectos cognitivos, afetivos e
sociais que mesmo de forma implícita, estão inseridos em tal processo de
trabalho, ligados ainda com as questões de aprendizagem.
A autora propõe que o objeto de estudo deve ser entendido a partir de
dois enfoques: o de caráter preventivo (que corresponde ao ser humano em
desenvolvimento e as alterações desse processo podem esclarecer sobre as
características das diferentes etapas do desenvolvimento); e o de caráter
terapêutico, (que é a identificação, análise e a elaboração de uma
metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem).
Assim observa-se através do trabalho de pesquisa, que embora seja
ainda um campo jovem de atuação no Brasil, a Psicopedagogia parece já
possuir sua identidade como um todo.
Segundo enfatiza Scoz (1994) a identidade do psicopedagogo, muito
atrelada à sua atuação, remete-se ora à identidade clínica, ora à
institucional, mas explicita que ambas estão vinculadas ao processo de
aprendizagem. De acordo com esse sentido, encontra-se o Psicopedagogo
como sendo um profissional ligado historicamente à educação.
Ao se conceituar a Psicopedagogia, deve-se fazê-lo com devida
precaução, pois um conceito teórico pode atender a determinadas
características, mas ao mesmo deve ser: dinâmico, histórico, flexível e
contextualizado.
Muitos autores entendem que a Psicopedagogia possa ser a
aplicação da psicologia experimental à pedagogia. Tal definição vem a ser
cingido para a ação psicopedagógica. Contudo, foi originada como um
reflexo das concepções iniciais da Psicopedagogia na década de 1950 e de
1960.
A autora esclarece também que mesmo com a falta de nitidez
conceitual e de identificação do corpo teórico psicopedagógico, encontra-se
em nosso país, uma prática psicopedagógica bastante eficaz. (Idem,
Ibidem).
Dessa feita pode-se compreender a Psicopedagogia como uma área
de estudos preocupada em conhecer o ser que conhece e produz
conhecimento e, para tal, necessita superar a visão clássica que separa o
objetivo do seu meio, separa o físico do biológico, o biológico do humano, as
categorias, a disciplina etc. Caracterizando a partir daí, a necessidade de
enquadrar-se em uma totalidade que abrange todos os elos que ancoram o
ser humano ao mundo.
Segundo Visca (1987) foi um dos primeiros psicopedagogos que se
preocupou com a epistemologia da Psicopedagogia e propôs estudos
baseados no que se chamou de epistemologia convergente, resultado da
assimilação recíproca de conhecimentos fundamentados no construtivismo,
estruturalismo construtivista e no interacionalismo. Essas contribuições
influenciaram a Psicopedagogia brasileira, mas diferenciam-se dependendo
da região.
Assim, os estudos mostram que a prática nas áreas clínica,
institucional, preventiva ou curativa, busca um conceito implícito baseando-
se na teoria e na prática psicopedagógica brasileira. Trata ainda sobre uma
visão evolutiva da Psicopedagogia através de três momentos históricos, o
que justifica a pertinência das contribuições de autores de outras
nacionalidades, pois conforme supracitado, a Psicopedagogia não é uma
“invenção” brasileira.
Em seu trabalho, mostra a complexidade desta tarefa por coexistirem
no Brasil diversos perfis de psicopedagogos. Sendo que isso se deve, em
parte, à nossa grande extensão territorial e ao “caldeirão de culturas” em que
estamos submersos. De outra lado, a formação do profissional, em nível de
pós-graduação, recebe graduados de Pedagogia, Psicologia e
Fonoaudiologia, além de outras áreas afins, o que acaba justificando perfis
de atuação diferentes.
Com relação, ao que foi dito anteriormente, sobre os três momentos
históricos, temos que: o primeiro momento é descrito pelo nascimento da
Psicopedagogia na década de 60 na fronteira entre a Pedagogia, a
Psicologia e a Medicina (mais especificamente a Neurologia) e visava ao
atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem e, portanto,
inaptas dentro do sistema educacional convencional.
Sabe-se que naquela época a Psicopedagogia, síntese simplificada
de múltiplos conhecimentos psicológicos, pedagógicos e neurológicos, tinha
como objeto de estudo os distúrbios de aprendizagem e sua etiologia. Eram
freqüentes os encaminhamentos a neurologistas, psicólogos e aos
“reeducadores”, visto que o indivíduo com distúrbios poderia realizar
tratamentos nessas três áreas concomitantemente. (BOSSA, 2001)
Tais distúrbios eram analisados de forma individual, com perspectiva
de origem psiconeurológica, e a prática psicopedagógica, de acordo com
Rubinstein (apud BOSSA, 2001, p. 9) mantinha-se voltada para a ampliação
de “metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades,
tendo como objetivo fazer a reeducação ou remediação e desta forma
promover o desaparecimento do sintoma”.
Com relação ao aspecto reeducativo, daquela época, retratava-se
uma sobrevalorização quanto aos desenvolvimentos perceptivos e motor.
Contudo, em outro momento desta vez, nas décadas de 70 e 80, a
preocupação da Psicopedagogia voltava-se para o aspecto da
aprendizagem. (BOSSA, 2001)
Segundo Bossa (1994, p. 5-6) o reconhecimento do “caráter
interdisciplinar significa admitir a sua especificidade, uma vez que a
Psicopedagogia, na busca de conhecimentos de outros campos, cria o seu
próprio objeto, condição essencial da interdisciplinariedade”.
A autora acrescenta que: “é uma ilusão pensar que tal processo nos
conduza, a todos, a um único caminho. O tema da aprendizagem apresenta
tamanha complexidade que tem a dimensão da própria natureza humana”.
(Idem, op. cit., p. 9).
Nessa mesma década, a prática psicopedagógica tornou-se bastante
variada, dependendo das articulações feitas pelos psicopedagogos com as
demais ciências. Como resultado a visão do Psicopedagogo passa a ser
predominante voltada para as áreas psicológica, psicanalítica,
fonoaudiológica e psicomotricista, em disciplinas como matemática, e outras.
(Idem, Ibidem)
Já o terceiro momento, reconhecido por estar está ligado ao segundo,
sendo marcado pela preocupação do ser em processo de construção do
conhecimento. Assim, de acordo com as pesquisas efetuadas e de acordo
com estes autores que descrevem o processo histórico da ciência
Psicopedagogia, pode-se observar que a interdisciplinariedade e a
transdisciplinariedade, aliadas à reflexão da prática profissional, são elos
que contribuem para que a Psicopedagogia se mantenha nessa caminhada
junto às demais ciências (Idem, Ibidem)
Esse modo de pensar despertou a preocupação com as
potencialidades dos educandos como indivíduos que diferem entre si quanto
à capacidade de aprender. Surge, assim, a necessidade de se avaliar essas
potencialidades através de processos psicométricos que se mostraram, ao
longo do tempo, versados e estigmatizadores de acordo com o asseverado
pela autora supracitada.
Assim, a preocupação com a qualidade da educação ganha primeiro
plano, e a prática dos educadores incorpora crescentes aperfeiçoamentos
técnicos e a metodologia de ensino aprimora-se através de “métodos ativos”
ou “de ensino renovado”. (SCOZ, op. cit., p.8).
Percebe-se que os aspectos emocionais e afetivos da aprendizagem,
destacados por sofisticadas descobertas da Psicologia reforçam, cada vez
mais, a predominância no indivíduo, em detrimento das implicações dos
problemas sociais mais amplos.
Aceitando essa linha de pensamento, Patto (1990) sugere à teoria das
diferenças culturais, segundo a qual as pessoas das camadas mais
desfavorecidas da população não são portadoras de deficiências, apenas
apresentam padrões de vida diferentes, pois possuem uma cultura própria
que deve ser valorizada.
Mesmo sem esta intenção, as teorias das diferenças culturais
reforçam o preconceito, uma vez que responsabilizam os lares
marginalizados pela interferência negativa na formação de atitudes e de
padrões culturais tidos como necessários ao desenvolvimento cognitivo e à
capacidade de ajustamento à escola. Nesse contexto, para solucionar o
fracasso escolar, defendiam-se programas especiais que deveriam
“remediar” as deficiências geradas pela “privação cultural”, oferecendo às
crianças das classes populares uma educação compensatória. (Idem,
Ibidem)
De acordo com o autor supracitado, embora tenha ocorrido avanços
nas investigações sobre a situação da escola e do ensino, a tendência de
conferir ao aluno as causas do fracasso escolar não foi superada, mas,
acrescida de elucubrações acerca da má qualidade oferecida de ensino.
Alguns estudos, como os de Mello (1987) apresentam alternativas de
ação para a “culpa” dos alunos reforçados pelas pesquisas educacionais.
Ele tenta reverter os altos índices de fracasso escolar e aumentar as
oportunidades de cesso e a permanência das camadas populares no
sistema de ensino, a despeito das interferências provocadas pelas
condições materiais adversas e da ineficiência da escola e de seus
educadores frente a essa questão.
Sobre essa questão o autor, adverte que a falsa representação
ideológica das camadas populares e de suas crianças pode ser utilizada
como mecanismo de camuflagem da incompetência técnica:
(...) no que se refere à prática docente suponho que o
despreparo e a insegurança técnica estão na raiz da
dissimulação, da estratégia de culpar a vítima e ao
mesmo tempo amá-la sem nada poder fazer de objetivo
para evitar-lhe o peso do fracasso. (...) Caso essa
hipótese se sustentasse, e creio que se sustentaria,
pois é também minha aposta, vejo na capacitação
profissional o ponto crítico a partir do qual imprimir um
caráter político à prática docente para esse professor
(...). (MELLO, op. cit., p. 146).
Scoz (2002) adverte que será possível perceber que a realidade
educacional brasileira, requer esforço imenso em ampliar as vagas dentro do
sistema educacional, todavia, ainda não foi viável se estabelecer uma
política clara e segura de intervenção, que tornasse a escola “capaz de
ensinar as crianças e de contribuir para a superação do problema da
marginalidade”. (Idem, op. cit., p. 12).
Contudo, para que isso ocorra, torna-se necessário que os
educadores adquirissem conhecimentos que lhes possibilitasse
compreender sua prática, bem como, os meios necessários para suscitar o
progresso e sucesso dos alunos. (Idem, Ibidem)
De acordo com Rubinstein (apud Scoz, 2002) hoje, concepção de
Psicopedagogia ainda não é uniforme. Ao referir-se ao campo de atuação da
Psicopedagogia ele salienta que dentro desta área que lida especificamente
com a aprendizagem, não se conseguirá jamais construir um curso que
corresponda plenamente a todas as necessidades. O mesmo autor
prossegue dizendo que a formação continuada é uma condição “sine qua
non para todos aqueles que queiram exercer a função de psicopedagogos,
seja na área clínica ou institucional”. (apud SCOZ, 2002, p. 56)
Na atualidade, a contribuição da Psicopedagogia ultrapassa os limites
dos problemas de aprendizagem. Sendo assim os psicopedagogos devem
procurar sensibilizar os profissionais da escola acerca de um novo discurso,
baseando-se nos pressupostos de que dificuldades não correspondem a
sinônimos patológicos e, que assim devem focalizar a importância da
singularidade do sujeito, bem como a relação estabelecida no vínculo
professor/aluno. O desejo de contribuir com essa busca levaram-se a
vislumbrar uma proposta de trabalho que possibilitasse aos educadores o
acesso aos conhecimentos da Psicopedagogia. (Idem, Ibidem)
Nesse contexto, Bossa assevera ainda que a Psicopedagogia
enquanto área de aplicação:
antecede o status de área de estudos, a qual tem
procurado sistematizar um corpo teórico próprio, definir
seu objeto de estudo, delimitar seu campo de atuação,
e para isso recorre à Psicologia, Psicanálise,
Lingüística, Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia.
(BOSSA, op. cit., p.6).
Ressalta-se que o exposto acima, oferece a Psicopedagogia visão
pluricausal de fatores pertinentes ao processo de aprendizagem, assim
como os problemas decorrentes, evidenciando a necessidade de um
conhecimento multidisciplinar. Modernamente, a Psicopedagogia remete-se
a um saber existencial, às condições subjetivas e de relações, sobretudo à
família e à escola. Assim sendo, o conhecimento psicopedagógico realiza
uma avaliação de possibilidades do sujeito, sua disponibilidade afetiva de
saber e fazer.
Com isso, pode-se reconhecer a inerência de cada saber humano,
aprofundando conhecimentos que contribuam eficazmente em relação de
problemas de aprendizagem e, ainda de um modo mais amplo na melhoria
da qualidade do ensino.
CAPÍTULO II APRENDIZAGEM: DA ANTIGÜIDADE AOS DIAS
ATUAIS
Educar os filhos não é tarefa fácil. Cada nova etapa de
desenvolvimento da criança constitui-se numa tarefa árdua a criatividade
e a flexibilidade dos pais. Assim, o processo educativo tem seu inicio no
âmbito familiar ao atendimento das necessidades e a solicitação da
criança coordenado à padrões de conduta a serem aprendidos.
Nesse sentido, Cabral e Nick (2001, p. 59) definem aprendizagem
como: “processo de transformação relativamente permanente do
comportamento, em resultado do desempenho prático ou experiência de
certas tarefas especificas”.
Logo, a complexidade do fenômeno em questão, a aprendizagem
humana, tem a dimensão da própria vida. Para Bleger a aprendizagem
representa:
a conduta e a personalidade têm um
desenvolvimento no qual vão se organizando
progressivamente, respondendo a um processo
dinâmico no qual podem se modificar de maneira
mais ou menos estável. Chama-se aprendizagem
esse processo pelo qual a conduta modifica-se de
maneira estável à raiz das experiências do sujeito.
(BLEGER, 1980, p. 66).
Conseqüentemente, embora o conceito de aprendizagem tenha
sobre si, o peso da noção intelectual, que abrange muito mais. Sobre sua
importância que este aspecto possa ter, destaca-se apenas parte da
aprendizagem total que o ser humano realiza. Assim, essa definição de
aprendizagem, vem justificar o caráter multidisciplinar dos profissionais da
Psicopedagogia, junto ao trabalho de outros profissionais que se revelam
facilitadores dentro do conflito gerado no seio familiar.
Por esse motivo, será imprescindível que todos esses profissionais
possam ter flexibilidade e abertura para integrar, articular e compartilhar
conhecimentos e experiências com outros profissionais, mesmo que seja
na área da educação, cujas abordagens visam o mesmo objetivo.
Não se pode perder de vista, que se trata de um mesmo fenômeno,
analisado através de perspectivas diferentes e que não são excludentes,
ao contrário, se complementam. Nesse sentido, cabe lembrar, que o
trabalho multidisciplinar é sempre uma experiência muito enriquecedora.
Diante dessa linha de pensamento, observa-se que no decorrer da
aprendizagem humana há que se considerar a combinação de diversos
fatores intervenientes dentre os quais se incluem os processos cerebrais
cognitivos em contigüidade com estímulos externos e internos, a partir do
qual elaborará respostas cada vez mais sofisticadas.
A formação o desenvolvimento dos processos cognitivos infantis
serão ponto-chave na educação informal e na educação escolar. Isto
pode ser observado na teoria dos estágios de desenvolvimento cognitivo,
postulada por Jean Piaget, muito presente no terreno da educação
moderna.
Segundo Drouet (2000), a aprendizagem consiste num processo
gradual, pois se aprende aos poucos, durante toda a nossa existência.
Consiste num processo constante contínuo e cada indivíduo tem seu ritmo
próprio de aprendizagem (ritmo biológico) que aliado ao seu esquema
próprio de ação, irá constituir sua individualidade.
Aprendizagem é, portanto um processo pessoal, de cada indivíduo,
isto é, tem fundo genético e depende de vários fatores. Os principais fatores
são os fatores sócio-econômicos-culturais, fatores biológicos nos quais estão
os fatores genéricos; fatores pré, peri e pós-natais; fatores neurobiológicos e
neurofisológicos. (Idem, Ibidem)
Sobre os fatores pré, peri e pós-natais pode-se observar que os
estudos apontam que as crianças, cujas mães tiveram complicações na
gravidez, no parto ou nasceram prematuras, uma grande porcentagem de
dificuldades de aprendizagem. Esse fator é analisado para que se possa
fazer uma reeducação com as crianças que se enquadram nesse limite. Em
grande parte dos casos a aprendizagem se ocorre no meio social e temporal
em que o indivíduo convive e a conduta do sujeito pode se modificar por
todos esses fatores supracitados e ainda por predisposições genéticas.
Conforme explica Drouet (2000) os fatores neurobiológicos e
neurológicos levam a aprendizagem a ser dependente da organização
neurológica do cérebro, e, sabendo-se que tal função pode se apoiar nos
fatores genéticos torna-se acessível que alguns fatores bioetiológicos
possam ser de natureza neurológica e neurofisiológica.
Nesse contexto, entende-se que a aprendizagem pode ser
caracterizada como um processo integrado que sugere transformação
qualitativa na estrutura mental daquele que aprende. Isso ocorre pela
modificação da conduta do sujeito, tanto por condicionamento operante,
experiência ou ambos, de uma forma razoavelmente permanente. (Idem,
Ibidem)
Obviamente, as informações podem ser absorvidas através de
técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de hábitos. Por
conseguinte, o próprio ato ou vontade de aprender seria uma característica
essencial do psiquismo humano, pois somente este possui o caráter
intencional, estando sempre em mutação, procurar subsídios para a
aprendizagem; buscando métodos mais novos objetivando a melhora da
aprendizagem, mesmo que seja pela tentativa de erro. (SCOZ, 1994)
Em síntese, a aprendizagem pode ser entendida como uma mudança
relativamente durável do comportamento, de sistemática, ou não, adquirida
pela experiência, pela observação e pela prática motivada.
Cabe lembrar que nesse contexto, a motivação possui papel
fundamental na aprendizagem. Ninguém aprende se não estiver motivado,
se não desejar aprender. Em análise, percebe-se que o ser humano nasce
potencialmente inclinado a aprender, carente de estímulos externos e
internos (motivação, necessidade) para o aprendizado. (SCOZ, 1994)
Segundo Visca (1991) a aprendizagem surge como uma construção
intrapsíquica, com continuidade genética e diferenças evolutivas, resultantes
das pré-condições energético-culturais do sujeito e das circunstâncias do
meio.
Nessa visão os problemas de aprendizagem podem ser considerados
não como o contrário de aprender, mas como um processo diferente deste,
um estado particular de um sistema que, para equilibrar-se, precisou adotar
um determinado tipo de comportamento que determina o não aprender e que
cumpre assim uma função positiva. (SCOZ, 1994)
Dessa forma, e diante do crescente avanço do campo de atuação da
Psicopedagogia, os profissionais dessa área sentiram a necessidade de
aprimorar a própria formação, adquirindo conhecimentos multidisciplinares e
ainda buscaram ampliar seus conhecimentos com relação a história da
aprendizagem.
2.1 ORIGEM HISTÓRICA DA APRENDIZAGEM
Sabe-se da variedade de fatores que interferem no processo de
aprendizagem e neste sentido a psicopedagogia vem caminhando para
contribuir para uma melhor compreensão desse processo, ou seja, no
processo de construção do conhecimento e nas dificuldades que se
apresentam nessa construção, enquanto prática clínica e de maneira
preventiva; busca construir uma relação saudável com o conhecimento
podendo facilitar a sua construção.
Desde a década de 80, a Psicopedagogia tem se transformado em
campo de estudos multidisciplinares, com a finalidade de resgatar uma visão
mais global do processo de aprendizagem e, por conseguinte, dos
problemas decorrentes desse processo.
Para Fernández (1994), a aprendizagem é a apropriação, a
reconstrução do conhecimento do outro, a partir do saber pessoal. Já as
patologias na aprendizagem, tanto individual como social, correspondem a
uma não coincidência entre o conhecimento e o saber. Como diz a autora, a
Psicopedagogia transita pelas fendas, pelos espaços entre
objetividade/subjetividade, ensinante/aprendente e é aí que está a sua força.
Em sua visão, a Psicopedagogia tem muito a ensinar sobre o vínculo
professor/aluno, professor/ escola e sua incidência na construção do
conhecimento e na constituição subjetiva de alunos e educadores.
De acordo com Fernández, (2000) a modalidade de aprendizagem se
constitui numa matriz, ou molde, em que se pode operar utilizando-se as
diversas situações de aprendizagem. Assim, ao se conhecer a modalidade
de aprendizagem do indivíduo poderá se inserir uma ação pedagógica que
atenda às prioridades específicas do aprendente. Isso propicia uma
passagem do geral para o particular, da análise estática para o estudo
dinâmico, de um objeto de conhecimento construído para um outro em
construção.
Entretanto, o essencial aqui seria a forma como ocorre o processo de
construção de conhecimento, no interior do sujeito que aprende.
2.1.1 Na Antigüidade
Há de se ressaltar que a aprendizagem vem sendo estudada e
sistematizada desde os povos da antiguidade oriental. No Egito, na China e
na Índia a finalidade era transmitir as tradições e os costumes.
Contudo, na Grécia e em Roma, a aprendizagem passou a seguir
duas linhas opostas, porém complementares: ou seja, a pedagogia da
personalidade apontando à formação individual e a pedagogia humanista era
desenvolvia numa linha onde o sistema de ensino/sistema educacional era
representativo da realidade social e dando ênfase à aprendizagem universal.
(SCOZ, 1994)
No decorrer da Idade Média, a aprendizagem e consequentemente o
ensino passaram a ser determinados pela religião e seus dogmas. Mas no
fim daquele período, deu-se início a separação entre as teorias da
aprendizagem e do ensino com a independência em relação ao clero.
Salienta-se que em decorrência das modificações ocorridas nessa
época, com o advento do humanismo e da Reforma, no século XVI, sua
ampliação foi a partir da Revolução Francesa. E assim, as teorias do
ensino/aprendizagem continuaram a sua trajetória em curso natural. (Idem,
Ibidem)
2.1.2 Do século XVII ao início dias atuais
Nesse período a doutrina central sobre a aprendizagem era
demonstrar cientificamente que determinados processos universais regiam
os princípios da aprendizagem.
Isso tinha como objetivo explicar as causas e formas de seu
funcionamento, forçando uma metodologia que visava enquadrar o
comportamento de todos os organismos num sistema unificado de leis, à
exemplo da sistematização efetuada pelos cientistas para a explicação dos
demais fenômenos das ciências naturais.
Outros estudiosos acreditavam que a aprendizagem estava
intimamente ligada somente ao condicionamento, cita-se nesse caso, o
exemplo da experiência do condicionamento realizada por Ivan Pavlov, um
russo que condicionou cães para salivarem ao som de campainhas.
Na década de 30 surgem cientistas como Edwin R. Guthrie, Clark L.
Hull e Edward C. Tolman, que descreveram as leis que regem a
aprendizagem. Ja Guthrie acreditava que as respostas, ao invés das
percepção/percepções ou os estados mentais, poderiam formar as
componentes da aprendizagem. Hull, dizia que a força do hábito, além dos
estímulos originados pelas recompensas, constituía um dos principais
aspectos da aprendizagem, a qual se dava num processo gradual e por fim,
Tolman asssegurava que o princípio objetivo direcionado pelo sujeito era a
base comportamental para a aprendizagem, e assim apontava que o ser
humano na sociedade em que está inserido, precisa de uma maior
observação quanto ao seu estado emocional.
CAPÍTULO III
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
A literatura sobre as dificuldades de aprendizagem se caracteriza por
um conjunto desestruturado de argumentos contraditórios. Entretanto, o
objetivo desse capítulo é mostrar alguns conceitos para que se entenda
melhor o assunto.
3.1 CONCEITOS
A dificuldade de aprendizagem compreende uma designação geral
que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e na utilização da compreensão
auditiva, da fala, da leitura, da escrita, e do raciocínio matemático. Essas
podem ser intrínsecas ao indivíduo e presumindo-se que sejam devidas a
uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a
vida, conforme explica Fonseca (1999).
Para o mesmo autor as dificuldades de aprendizagem são:
desordens psico-neurológicas da aprendizagem para
incluir os défices na aprendizagem em qualquer idade e
que são essencialmente causadas por desvios no
sistema nervoso central e que não são devidas ou
provocadas por deficiência mental, privação sensorial
ou por factores psico-genéticos. (FONSECA, 1984, p.
244)
Diante do exposto verifica-se que o conceito de dificuldade não
envolve qualquer perturbação global da inteligência ou da personalidade, ou
de qualquer anomalia sensorial (auditiva, visual) ou motora. Existe todo um
potencial de aprendizagem íntegro ou intacto nessa linha de raciocínio.
3.2 O ATRASO NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Esse pode ser definido como um atraso significativo em vários
domínios do desenvolvimento, nomeadamente ao nível da motricidade
fina/grosseira, da linguagem, da cognição, das competências pessoais e
sociais, das atividades da vida diária, entre outras.
Compreende-se desenvolvimento psicomotor como a interação
existente entre o pensamento, consciente ou não, e o movimento efetuado
pelos músculos, com ajuda do sistema nervoso (Conceição, 1984). Desse
modo, cérebro e músculos influenciam-se e educam-se, fazendo com que o
indivíduo evolua, progredindo no plano do pensamento e da motricidade.
3.3 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO: NA VISÃO DE PIAGET
A vida da criança não começa no nascimento, pois durante os
meses de gestação ele não parou de se alargar. Após o nascimento
começa a experimentar o mundo exterior de forma diferenciada e
gradativa conforme seu desenvolvimento percepto-motor.
Assim, estabelecerá comunicação inicial por uma linguagem
emocional, espontânea, composta de gritos e gestos, além de lúdica, pelo
prazer de emitir sons. Conjuntamente, há a ocorrência do
desenvolvimento afetivo, com a manifestação de diferentes formas de
emoções e sentimentos.
Isto tudo se refere ao transcorrer do desenvolvimento e
crescimento infantis que engloba toda formação do ser, com atenção aos
fatores que nele se envolvem de forma integral, pois é algo dinâmico que
a todo instante se modifica. Este processo biopsicossocial evolutivo
possui uma velocidade própria em seu curso, que varia com o tempo
relacionado à idade do individuo podendo, em determinado momento,
estar mais ou menos acelerado.
É fundamental frisar que cada criança tem seu ritmo próprio e deve,
apesar dos padrões determinados, ser considerada em tal singularidade.
Todavia, a fluidez deste processo como um todo somente acontecerá se a
criança dispuser de liberdade vivencial e de condições favoráveis à
atualização de suas capacidades.
Vale lembrar, que a estimulação é essencial ao desenvolvimento
infantil, principalmente no que concerne a aceitação da criança, apoio
afetivo, estímulos táteis, sonoros, visuais, sociais, participação real dos
adultos.
No âmbito da cognição o trabalho orgânico se dará sobre a
atividade mental que segundo Piaget (1985), se desdobra num processo
de assimilação e acomodação, havendo adaptação a partir do equilíbrio
entre esses processos. O material percebido é incorporado a outros que
fazem parte de esquemas anteriormente estabelecidos. Tudo isto
devidamente operacionalizado pela inteligência.
Logo, cada criança estabelecerá sua estrutura cognitiva que de
acordo com Cabral e Nick (2001, p. 58), apresenta-se sob um: “modo
como o individuo vê os mundos físicos e sociais, incluindo todos os seus
fatos, conceitos, crenças, e expectativas, assim como o padrão de suas
relações mútuas”.
Assim, são constituídos sucessivos e inúmeros complexos padrões na
estrutura do organismo pela experiência vivenciada e que se combinam com
as propriedades do atual estimulo determinando as diferentes percepções do
objeto observado.
Os estudos de Jean Piaget foram norteados na obra “Como se
constrói o conhecimento”, buscando assim, a compreensão da gênese do
mesmo. É nesse cenário, que sua teoria é conhecida como “Epistemologia
Genética”. Partindo desse pressuposto, ele acreditou que cada sujeito
aprenderia através da interação com o meio em que vive, assimilando o
conhecimento referente ao estágio anterior, o que conduz o conhecimento a
desenvolver-se no decorrer de um longo e vagaroso processo de relacionar
as idéias novas as anterior.
O referido autor acreditava que a chave para o estudo do
conhecimento constituía-se em uma abordagem do conhecimento, cunhada
sob a expressão “Epistemologia Genética”, que descrevia o enfoque do
estudo do conhecimento.
De acordo com Pulaski (1986, p. 16) Piaget visava encontrar uma
“embriologia da inteligência” que pudesse lançar lucidez sobre “o problema
da relação entre o sujeito agente ou pensante e os objetos de seu
conhecimento”.
Dessa feita, percebe-se que Piaget postulou estudos a partir do
raciocínio das crianças, construindo perguntas sobre o estabelecimento de
relações e/ou problemas de causa e efeito. Logo, acreditava que a
Psicologia poderia subsidiar o embasamento teórico à respeito do que
achava faltar entre a Filosofia e a Biologia, estabelecendo a partir daí, os
estágios de desenvolvimento cognitivo. (Idem, Ibidem)
A partir de seus três filhos procurou estudar o desenvolvimento
cognitivo minuciosamente, fundamentado suas publicações a respeito da
construção do conhecimento na primeira infância e, posteriormente, na
adolescência. Além disso, interessou-se pela pesquisa sobre a percepção
infantil, o que veio a colaborar de forma significativa com o desenvolvimento
do raciocínio lógico relacionado à quantidade, espaço, tempo, geometria e
também ao movimento. (SEBER, 1995)
Nas palavras de Pulaski (1986), Piaget modificou sua metodologia de
questionários verbais livres, passando a incluir tarefas que utilizavam
materiais concretos para serem manipulados, acompanhados, também, de
perguntas com o objetivo de forçar a criança a justificar sua resposta.
Cabe ressaltar alguns conceitos básicos piagetianos que se
relacionam à construção do conhecimento da criança na fase pré-escolar,
como a Filogênese, a Ontogênese, o Equilíbrio e Desequilíbrio; a
Assimilação e Acomodação e, a Inteligência. (Idem, Ibidem)
O fundamento da Filogênese constitui no estudo da história da
evolução orgânica humana, isto é, o desenvolvimento das capacidades
cognitivas, tais como a memória, a linguagem e o pensamento. Quanto a
Ontogênese caracteriza-se pela relação à adaptação ao meio social sofrida
pelo sujeito desde seu nascimento (SEBER, 1995)
A partir do nascimento, a criança vem provida de aparatos
filogenéticos comuns à espécie, tais como os reflexos. A sucção ou a
preensão, por exemplo, são reflexos característicos de bases orgânicas
inatas que a estrutura humana possui, iniciando através deles o
estabelecimento de relações com o meio.
Assim sendo, observa-se que no contato com o ambiente a criança
passa a modificar seus esquemas de ação, isto é, os reflexos inatos, podem
gerar novos esquemas mentais e formas de adaptação. Mas partindo da
Filogênese, ocorre a Ontogênese, que atua enquanto ambiente estimulador
na aprendizagem de padrões novos de comportamento.
Verifica-se assim, que a Filogênese deve ser a base na qual a
Ontogênese será processada, haja vista que as bases biológicas
permanecerão servindo de apoio constante na interação entre sujeito e
objeto do conhecimento.
Em verdade, a existência humana, sujeito biológico e social ocorre
organicamente e socialmente. Ressalta-se que os fatores orgânicos
constituem-se na base sobre a qual se processam os estágios do
desenvolvimento cognitivo humano na interação com o meio, que podem ser
diferentes para cada pessoa, com relação ao tempo de duração.
O objeto de estudo de Piaget (1975) teve como questão norteadora a
construção do conhecimento por cada ser humano. Ele considerou que esta
faculdade não seria constituída desde o nascimento, concluindo, dessa
maneira, a partir de suas pesquisas, que a aprendizagem teria sal origem na
interação do indivíduo e seu meio ambiente.
Nesse contexto, todas as fases da vida humana, processam-se no
desenvolvimento da consciência, do pensamento, dos sistemas de signos e
da linguagem, por intermédio da cultura de outros seres humanos, somando
novos ingredientes aos já existentes no interior do sujeito.
Uma das contribuições de Piaget diz respeito a inteligência erguida
numa construção da Ontogênese sustentada na Filogênese, ou seja, o
psiquismo amparado no fisiológico enquanto aparato orgânico. Com efeito,
demonstra a importância de olhar as possibilidades individuais, percorrendo,
sobretudo a singularidade na construção do conhecimento, que vem a ser
um dos aspectos privilegiados pela Psicopedagogia.
De acordo com Pulaski (1986) Piaget entende o conceito de equilíbrio
como a obtenção de um estado constante em um sistema de equilíbrio-
coordenação, em constante mutação entre o organismo e seu meio. Em sua
vertente esse “é um sistema aberto, no qual a resposta ao ambiente
contribui para um processo constante de reorganização interna, auto-
regulada.” (Idem, op. cit., p.24).
Dessa forma, a mente humana busca respostas através de impulsos
motivacionais em direção às fases mais complexas do pensamento. E a
cada instante, a ação da criança desequilibra-se pelas transformações
ocorridas no mundo, externo e interno e, a cada ação nova, visa
restabelecer o equilíbrio; sendo que este equilíbrio apresenta-se sempre
mais estável que o anterior, o que leva a ação humana a um movimento
contínuo e perpétuo de equilibração ou reajustamento.
Nas palavras de Piaget, a equilibração por auto-regulação constitui:
o processo formador de estruturas, cuja constituição a
psicologia da criança nos permite seguir passo a
passo, não no abstrato, mas na dialética viça e vivida
dos sujeitos que se acham às voltas, em cada geração,
com problemas incessantemente renovados para
redundar, às vezes, afinal de contas, em soluções que
podem ser um pouquinho melhores do que as das
gerações precedentes.(PIAGET, op. cit., p. 136).
Partindo desse pressuposto, uma estrutura equilibrada torna-se capaz
de manter compensações, sendo também aberta no sentido de adaptar-se
às condições do meio, evoluindo, em conseqüência, na construção do
conhecimento, bem como das estruturas de pensamento. Quando o
equilíbrio é atingido em um determinado ponto, a estrutura é motivada a ir
em busca de um novo equilíbrio mais estável e complexo.
Nesse contexto, o desequilíbrio ocorre no momento em que o
organismo depara-se com uma necessidade o que exige a busca de um
novo equilíbrio, impulsionando em direção às novas aprendizagens. Assim,
no processo de aprendizagem, esses conceitos são presentes, mostrando-
se como processos eficazes na construção do pensamento.
Na visão de Piaget (1976), uma das tendências básicas inerentes a
todas as espécies é o conceito e adaptação, que representa a essência do
funcionamento intelectual e biológico, que possibilita a harmonia com o
meio.
O organismo humano constrói mentalmente estruturas mentais na sua
interação com o ambiente, objetivando sua adequação ao mesmo. Nesse
sentido, Pulaski (1986, p.22) assevera que para Piaget, “a adaptação é um
processo dinâmico e contínuo no qual a estrutura hereditária do organismo
interage com o meio externo de modo a reconstituir-se, com vistas a uma
melhor sobrevivência”.
Dessa forma, na medida em que a criança adquire novas estruturas
durante sua interação, cria elementos mediadores para a construção do real,
capacitando-se de forma cada vez mais complexa com o intuito de assimilar
e acomodar conceitos, adaptando-se ao meio em que vive.
A organização consiste na habilidade de integração das estruturas
físicas e psicológicas de forma coerente. Na medida em que o organismo
discrimina entre a grande variedade de estímulos bem como sensações,
organizando-os em alguma outra forma de estrutura, aí temos a adaptação
ocorrendo através da organização. Logo, conclui-se que a eficiência da
adaptação está intrinsecamente ligada a uma boa organização interna.
Nesse contexto, Matui comenta:
organização é uma operação que consiste em colocar
em ordem os elementos da estrutura cognitiva. A
mente é uma estrutura de totalidade, cujas partes
internas estão integradas. Com a inclusão de novos
elementos pela assimilação ou com a transformação de
elementos já existentes em outros elementos pela
acomodação, a estrutura se desorganiza ou se
desequilibra. A organização é justamente a ação de
reorganizar os elementos no todo ou de colocar ordem
nas coisas. (MATUI, 1995, p.99).
Cabe ressaltar que os movimentos de adaptação e organização são
essenciais no processo de aprendizagem, propiciando ao sujeito aprendente
a socialização pertinaz ao mundo em que está inserido, gerando, dessa
forma, mais estruturas mentais.
A assimilação constitui-se no processo de entrada de estímulos
incorporados à atividade de um indivíduo. Acerca desse conceito, Piaget
(1975, p.32) diz, “a assimilação, é, essencialmente, a utilização do meio
externo pelo sujeito, tendo em vista alimentar os seus esquemas hereditários
e adquiridos.”.
A criança nasce com reflexos que se constituem no primeiro apoio,
sobre o qual se constroem as estruturas mentais como processo cognitivos.
O reflexo é inato ocorrendo independente do objeto presente, como por
exemplo, o de sucção, em que o bebê suga na presença do seio, assim
como em sua ausência.
Contudo, o reflexo constitui-se em um dispositivo que não garante a
sobrevivência do bebê humano, assim sendo, ocorre a demanda por um
outro (pais ou substitutos) para garantir a alimentação e, dessa maneira, a
sobrevivência.
Como os reflexos são plásticos, transformam-se, possuindo como
característica a tendência a repetição, onde a criança repete o ato de sugar,
o objeto seio, dedo, entre outros) é incorporado ativamente.
Dessa forma, o reflexo é o disparador da ação, onde a criança entra
em contato com o objeto, assimilam traços, fragmentos do mesmo,
retornando como assimilação funcional.
Na repetição do ato de sucção, a criança incorpora novos elementos
aos seus registros internos já construídos. Dessa forma, ocorre a
assimilação generalizadora, onde o bebê aplica o novo conceito aprendido a
todas as situações.
Quando ocorre o reconhecimento do objeto ao qual se aplica um
esquema, alcança-se a discriminação, a identificação e a diferenciação do
objeto, caracterizado pela assimilação recognitiva, onde se inicia a memória,
já que há uma intenção (PIAGET, 1976).
Assim sendo, na coordenação de dois ou mais esquemas ou
estruturas pela criança, para produzir um efeito, coordenando ação e
pensamento, ocorre a assimilação recíproca. Respectivamente, a
assimilação, ocorre a acomodação, mecanismo complementar. A
acomodação se processa enquanto transformação das estruturas orgânicas
em consonância aos estímulos do meio. Tal acomodação significa a
mudança cognitiva do sujeito a partir da criação de novos esquemas ou a
modificação de antigas estruturas. Comumente, acredita-se que a
acomodação acontece somente após a assimilação, mas, pode ocorrer
antes como depois, já que a acomodação relaciona-se a qualquer alteração
do sujeito em função do objeto.
Acerca do tema acima tratado, Piaget assevera que a assimilação,
bem como a acomodação é:
os dois pólos de uma interação que se desenvolve
entre o organismo e o meio, a qual constitui a condição
indispensável de todo o funcionamento biológico e
intelectual; e essa interação supõe, desde o início, um
equilíbrio entre as duas tendências dos pólos opostos.
(...) Mas, se no começo, essas duas funções são
antagônicas, o papel da vida mental, em geral, e da
inteligência, em particular, é precisamente coordená-las
entre si (PIAGET, 1975, p.328).
Em suma, a construção do conhecimento processa-se de acordo com
movimentos assimilatórios e acomodatórios. Para o autor, acima
mencionado a inteligência pode ser definida como função e estrutura.
Enquanto função ela visa à adaptação do sujeito ao meio, objetivando
modificá-lo para uma melhor adaptação ao meio. Para a inteligência
constitui-se na passagem de um estado de menor equilíbrio para o de um
equilíbrio superior. Como estrutura, é variável, consistindo na organização
de processos que permitem determinados níveis de conhecimento; assim, a
inteligência é uma estratégia de ação que possui uma lógica.
Na concepção de Piaget (1975) a inteligência pode ser uma estrutura
cognitiva caracterizada por ser muito mais da ordem das relações do que
dos conteúdos, sendo processada por uma espiral crescente voltada para a
equilibração, sendo resultante da combinação dos processos de assimilação
e de acomodação. Logo, a construção da inteligência não é linear, ocorrendo
por rupturas, saltos. Esses saltos qualitativos na teoria piagetiana são os
estágios do desenvolvimento da inteligência, tratados mais adiante.
A questão norteadora das estruturas lógicas da inteligência baseia-se
na adaptação do sujeito por meio de ações e, assim, modificam-se, tornam-
se complexas, gerando o sujeito humano através de sua ação, isto é, a
inteligência constitui-se numa construção da ontogênese sustentada na
filogênese. Assim, Piaget celebra a inteligência como dimensão qualitativa,
ao marcar a importância da relação do sujeito com o mundo na construção
do conhecimento.
3.4 AS ESTRUTURAS MENTAIS
Observa-se que para Piaget (1976) todas as crianças passam por
determinados estágios de desenvolvimento intelectual relativos a evolução
das estruturas do conhecimento no transcurso de sua adaptação ao mundo,
onde a progressão de uma estrutura para a outra aparece semelhante para
as crianças em geral.
Já La Taille (1998) aponta que baseado em suas pesquisas, Piaget
percebeu que a inteligência é construída de acordo com três estruturas ou
qualidades. Logo, os estágios do desenvolvimento cognitivo são
processados como: Sensório-Motor, que abrange a idade de zero a dois
anos; o Pré-Operatório, que aborda a faixa etária de dois a sete anos, e, por
último, o estágio Operatório, que se subdivide nas duas categorias
Operatório Concreto, que enfatiza crianças de sete a doze anos e, o estágio
Operatório Formal, dos doze anos em diante.
Pulaski, diz que Piaget não observa a criança como um adulto
minituarizado, logo, a identifica como:
alguém que vive num mundo completamente diferente
do nosso e, por vezes, extremamente incompreensível
para nós. Interessa-se não apenas pelas diferenças
individuais, mas pela constância dos modos de
conceituação das crianças de todas as raças e
períodos da história. (...) em geral, a teoria de Piaget
sobre uma seqüência constante de estágios de
desenvolvimento intelectual. (PULASKI, op. cit., p. 23)
Em suma, na área de atuação desse trabalho, apenas serão
mostrados os estágios Sensório-Motor e Pré-Operatório, já que a faixa etária
aqui abordada compreende a idade de dois a seis anos.
3.4.1 Período sensório-motor
Nesse estágio, que vai de zero a dois anos, esboça-se o pensamento
infantil em relação ao meio, que são de natureza sensorial e motora, que vão
aperfeiçoando-se aos poucos, com a maturação biológica. Já os movimentos
corporais nessa faixa etária são golobalizados e tornam-se cada vez mais
específicos com o amadurecimento infantil.
Esse estágio compreende a idade de zero a dois anos, subdividindo-
se em seis outros sub-estágios, que de acordo com Pulaski (1986) podem
ser:
a) reflexo (zero a um mês) - o comportamento do recém-nascido
caracteriza-se por apresentar reflexos inatos, tais como o da sucção e o de
buscar com os lábios, que vão aprimorando-se, combinando-se de forma
mútua na formação de esquemas primitivos. O bebê reage ao desconforto e
ao prazer, no entanto, não possui consciência de si mesmo, bem como do
mundo que o cerca.
b) reação circular primária (um a quatro meses) - as primeiras ações
mais coordenadas ocorrem nesse período. Essas coordenações ocorrem por
meio de descobertas acidentais, como por exemplo, quando a criança
apresenta um comportamento casual, levando a um resultado interessante,
com tendência a repetição. Ela começa a definir os limites do próprio corpo,
reproduzindo movimentos para prolongar tais experiências, desenvolvendo o
reflexo de preensão, sendo que, nesse momento já possui capacidade de
olhar e agarrar um objeto.
c) reações circulares secundárias (quatro a oito meses). – aqui o bebê
aprende a adaptar esquemas familiares as novas situações, prolongando,
dessa maneira as ações interessantes. Nesse período, seu desenvolvimento
é direcionado para o meio em que vive e, menos no próprio corpo, dando
início as primeiras ações intencionais. Busca alcançar os objetos que
estejam em sua linha de visão, denotando o desenvolvimento da
coordenação óculo-manual. Nessa fase, para o bebê seus esquemas são
utilizados de forma “mágica”, levando em conta que as ações são
determinantes na vigência de eventos externos não-relacionados.
d) coordenação de esquemas secundários (oito a doze meses) -
caracterizado por grandes aquisições em que ocorre uma intensa
experimentação, a capacidade de sentar-se sem apoio, bem como a
manipulação de objetos pequenos. Surge o comportamento intencional de
afastar objetos ou obstáculos do caminho utilizando as mãos dos pais ou
substitutos para alcançar objetos; adquire também a capacidade de procurar
objetos ocultos ou escondidos próximo aos seus olhos. Assim, quando
nasce, o bebê não possui clareza da existência do objeto, necessitando,
assim, construir essa noção. Por volta do oitavo mês ocorre um salto
qualitativo na inteligência do bebê, onde há o início do trabalho do objeto
permanente, isto é, embora não o veja, sabe de sua existência.
Ressalta-se que nesse momento, a criança passa a utilizar seus
esquemas anteriores de maneiras várias, sempre os combinando e
coordenando-os objetivando sua adaptação ao ambiente.
e) reações circulares terciárias (doze a dezoito meses) - durante essa
fase, o bebê passa pela experimentação sistemática do ambiente, variando
os sistemas em um tateamento orientado, empregando novos meios na
obtenção dos objetivos desejados, bem como encontrando usos novos para
objetos conhecidos. Em algumas situações é capaz de acompanhar o
deslocamento de um objeto escondido e, encontrá-lo onde o viu pela última
vez. Reconhece também, fotos de pessoas ou objetos, assim como
acompanha instruções verbais simplificadas.
f) início do simbolismo (dezoito meses a dois anos) - fase
caracterizada pela transição da atividade sensório-motora para a
representação mental, já que o bebê constrói meios novos através da
dedução mental e do simbolismo. O bebê consegue inferir deslocamentos
invisíveis de um objeto escondido, utiliza símbolos na linguagem e nas
brincadeiras, lembra de acontecimentos passados, imitando-os
posteriormente. Assim, revela intencionalidade de ação, orientação, o início
do raciocínio dedutivo e uma compreensão primitiva de espaço, bem como
tempo e causalidade. (Idem, Ibidem)
Sobre essa questão Pulaski (1986) ressalta que Piaget, nesses seis
estágios revela como o bebê evolui de organismo biológico para organismo
social, descrevendo o crescimento da cognição desde o primeiro reflexo
primitivo até as combinações complexas e variadas do comportamento que
serão integradas ao pensamento.
No período de dois anos ou menos, o bebê terá elaborado a idéia de
permanência do objeto, compreendendo que os objetos e pessoas possuem
uma existência permanente, independentemente de sua percepção. Nesse
período, também terá desenvolvido noção primitiva de causalidade, já que,
também descobrirá que suas ações produzem certos resultados.
Em síntese, o autor supracitado, menciona que o bebê terá ainda
desenvolvido uma noção primitiva de causalidade, pois, descobrirá que
algumas de suas ações produzem certos resultados.
Assim, em sua experimentação com os objetos, deve adquirir
conceitos rudimentares de espaço e tempo, saberá localizar seus
brinquedos e saberá que os acontecimentos cotidianos têm uma
determinada seqüência. Dessa feita, todas essas descobertas terão
contribuído para aumentar sua consciência de si mesmo, como alguém
separado das outras pessoas, reduzindo o seu egocentrismo. (Idem, Ibidem)
3.4.2 Período pré-operatório
A faixa etária de dois a sete anos compreende o estágio pré-
operatório, marcado pelo desenvolvimento da capacidade simbólica, já que a
criança consegue distinguir significados, ou seja, palavra, imagem ou
símbolo daquilo que ela realmente significa.
Nessa fase ocorre a aquisição plena da linguagem, o pensamento
possui característica egocêntrica, ou seja, a criança possui dificuldade em
colocar-se na perspectiva alheia, supondo que tudo foi criado para ela.
O pensamento egocêntrico caracteriza-se pelo animismo, onde a
criança crê que o mundo da natureza, bem como os objetos é vivo e
consciente. Em ligação estreita como o animismo, está o artificialismo,
constituído pela crença de que os humanos foram responsáveis pela criação
dos fenômenos naturais.
A criança pequena percebe sua perspectiva como absoluta, em que
sonhos, palavras, retratos são iguais, pensando que já que é real para ela,
deve existir. Para Piaget (1975) isso é realismo.
A criança pré-operatória possui o raciocínio sincrético, onde ela
presume que os objetos e acontecimentos ocorridos de forma concomitante
possuem uma relação causal, como, buzinar faz com que o carro ande.
A noção de conservação diz respeito à capacidade de reconhecer que
determinados aspectos de um objeto ou pessoa permanecem constantes.
Isto é, o pensamento é rígido e muito concreto, movendo-se de uma
configuração estática à outra, sem haver reversibilidade ou flexibilidade,
segundo o entender de Oliveira (apud BOSSA, 2001)
Para Piaget (1975) esse aspecto do pensamento infantil é por ele
denominado de figurativo, onde a criança focaliza a percepção no objeto,
não em suas transformações.
Pulaski (1986) ressalta que ocorre uma divisão do pensamento pré-
operatório em dois estágios. O primeiro que compreende dois a quatro anos,
denomina-se pré-conceitual, onde a pré-concepção simboliza a primeira
tentativa da criança no sentido de generalização.
Entretanto, na segunda metade do estágio pré-operatório a mente da
criança começa a aprender de forma intuitiva as relações grupais e espécies
uns com os outros, e, a raciocinar da parte para o todo, “sendo denominado
esse momento por estágio intuitivo, abrangendo aproximadamente a faixa
etária dos quatro aos sete anos”. (Idem, op. cit., p.62).
A criança opera mentalmente, através da representação simbólica, no
estágio pré-conceitual. Isso se torna evidente na imitação e na memória, as
quais vão refletir em seus desenhos, sonhos, linguagem, brincadeiras de
faz-de-conta. Surgem as primeiras tentativas generalizadoras de
conceituação, nas quais os representantes de uma classe não se distinguem
da mesma.
Para a criança o mundo se apresenta como ela o vê. Os objetos
naturais estejam vivos e dominados por sentimentos, raciocinando que todos
os eventos que ocorrem entre ela e o mundo, são possuidores de uma
relação de causa e efeito.
No estágio intuitivo, há o surgimento do raciocínio pré-lógico, baseado
nas aparências perceptuais em que o erro conduz a descoberta intuitiva das
relações corretas. Na visão do autor:
Piaget denomina estágio intuitivo (de aproximadamente
quatro a sete anos), por faltar-lhe o caráter estável e
reversível do verdadeiro pensamento operacional. O
raciocínio ainda é simbólico, baseado mais na intuição
subjetiva do que na lógica objetiva. (PULASKI, op. cit.,
p. 63).
Em suma, a criança é incapaz de considerar mais de um atributo por
vez. A linguagem é usada de maneira egocêntrica, pois reflete as
experiências, ainda que limitadas dessa faixa etária.
3.4 O VALOR DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO
Para Wallon (1971) a afetividade, além de ser uma das dimensões da
pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem
logo que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da
afetividade, lentamente passou para a vida racional.
Na visão de Dantas, a afetividade e inteligência:
se misturam, havendo o predomínio da primeira e,
mesmo havendo logo uma diferenciação entre as duas,
haverá uma permanente reciprocidade entre elas. (...) a
afetividade depende, para evoluir, de conquistas
realizadas no plano da inteligência, e vice-versa.
(DANTAS, 1992, p. 90)
Portanto, refletir e avaliar as situações de dificuldades, buscando
compreender seus motivos e reações já é um meio de reduzir a atmosfera
emocional. Para tanto, se faz necessário identificar os fatores responsáveis
pelos conflitos, o que possibilitará o aperfeiçoamento da prática pedagógica.
Segundo Dantas (1997, p. 70) a libertação das inteligências “pode ser
buscada numa redução das duas emoções antifisiológicas e anticognitivas
por excelência: o medo e a raiva”. O trabalho humano realizado sob a
cognição estará intimamente ligado ao desenvolvimento afetivo. Esta
percepção de mundo será atravessada por diferentes formas de emoções
e sentimentos.
As primeiras manifestações afetivas que emergem na criança são
as emoções e os sentimentos. Diretamente ligados aos desejos,
tendências e aspirações expressam-se sob a forma de prazer e alegria
frente ao objeto desejado ou medo e temor frente ao objeto que ameaça a
segurança ou realização.
As emoções permitem liquidar as tensões que renascem
periodicamente das necessidades do organismo, das sobrecargas de
energia nervosa acumulada, de esforços realizados, proporcionando
assim, relaxamento e satisfação. Isto fica registrado dos prazeres de uma
boa refeição, distrações, afeições familiares, amizades.
Já os sentimentos surgem das relações travadas com o ambiente
humano, o que de inicio se estabelece no âmbito familiar. Ao nascer, a
criança poderá estabelecer vínculos afetivos com a mãe ou aquele que
exerce a função materna. Esta relação sentimental será ampliada para o
pai e demais membros da família.
Segundo Maldonado, o discernimento do relacionamento afetivo
entre pais e filhos está num lugar onde:
os pais podem atuar como agentes terapêuticos da
maior importância, ajudando a criança a desenvolver-
se saudavelmente para que possa ser uma pessoa
capaz de utilizar recursos e potencialidades de forma
plena, confiante, responsável, gostando de si mesmo
e dos outros. (MALDONADO, 1987, p. 12).
Isto elucida as bases da constituição social do indivíduo. Para viver
em sociedade, o ser humano precisa aprender a respeitar os costumes e
tradições já estabelecidas pelo grupo (ou grupos), em que se encontre.
Poderá estabelecer intercomunicação e cooperação com outras pessoas,
socializando-se.
Progressivamente, da família à escola, a espaços sociais na
comunidade, a criança vai ampliando sua socialização, basicamente por
um processo de aprendizagem social. Este principia na família, numa
tarefa complexa de educar os filhos, onde os código morais passam a ser
transmitidos, limites são pré-disponibilizados mais ou menos rígidos sob
padrões de conduta que podem pertencer a uma cultura transgeracional.
A criança como pessoa se constituirá sob esta tríade: cognitivo,
afetivo e social. O desafio de colaborar e de se implicar neste
desenvolvimento biopsicossocial humano será também destinado a
escola, lugar de socialização que se segue a família, no qual serão
observados com maior destaque a aprendizagem e o desenvolvimento
escolar.
CAPÍTULO IV A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA:
CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE APRENDER NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Sabendo-se que a Psicopedagogia tem por acepção o trabalho com a
aprendizagem, com o conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e
distorções. Realiza este trabalho através de processos e estratégias que
levam em conta a individualidade do aprendente. É uma praxe, portanto,
empenhada com a melhoria de condições de aprendizagem.
Huguet, diz que no processo de ensino/aprendizagem:
pais e professores para que se obtenha esta boa
relação entre família-escola, atribui fundamentalmente
a responsabilidade na escola. O grau em que os
familiares possam elaborar expectativas positivas em
relação ao bem-estar e à educação de seus filhos na
escola vai depender da colhida que esta oferecer não
somente aos alunos, mas à família em seu conjunto,
assim como dos esforços destinados a manter e a
cuidar dessa relação (HUGUET, 1996, p. 26)
Torna-se necessário ainda a figura do psicopedagogo, como o
profissional que também se dedica ao assessoramento da instituição
escolar, visando assegurar ao profissional desta instituição as condições
necessárias para uma melhor compreensão do complexo processo de
ensinar e aprender.
Mas devido a grande complexidade dos problemas de aprendizagem,
a Psicopedagogia passa a ter um caráter multidisciplinar, buscando
conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento, além da
psicologia e da pedagogia. Há necessidade da noção de lingüística, para
explicar como ocorre o desenvolvimento da linguagem humana, enfatizando
os processos de aquisição da linguagem oral e escrita.
Ele nos reporta à conhecimentos sobre o desenvolvimento
neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a
aprendizagem; de conhecimentos filosóficos e sociológicos, que nos oferece
o entendimento sobre a visão do homem, seus relacionamentos a cada
momento histórico e sua correspondente concepção de aprendizagem.
O que se contata é que o exercício da Psicopedagogia não é para
quem quer, e sim, para quem pode. Não se deve ter domínio teórico, mas
cabe uma percepção seletiva a crítica. É importante unir a saúde emocional,
do Psicopedagogo a sua capacidade em transitar entre as relações
familiares, muitas vezes de fundo complexo, haja vista que as famílias estão
sempre em processo de reorganização e suscitando sempre possíveis
saídas.
Deve-se mostrar de modo simples e claro, a complexidade do fazer
psicopedagógico, e, assim, amparar o leitor nesse aspecto. Com isso pode-
se alimentar um saber prático dentro da dinâmica de experiências,
fundamentado por algumas teorias. Lembra-se que a Psicopedagogia,
“como uma das áreas responsáveis pela aprendizagem, tem muito a
aprender e muito a contribuir na visão diagnóstica dos problemas de
aprendizagem escolar”. (WEISS, 2001, prefácio)
Para Vigotsky (1989 apud WEISS, 2001, p. 26) a aprendizagem da
criança começa “muito antes da aprendizagem escolar e que esta nunca
parte do zero. Toda aprendizagem da criança na escola tem uma pré-
história”.
Assim, construção poderá ocorrer sob forma de estruturas complexas,
e a idéia já vem sendo aceita pela maioria dos autores que lançam mão de
Psicopedagogia para cuidar do assunto. Há de se destacar as capacidades
e metas na questão do aprender que são substanciais para esse
aprendizado.
4.1 CAPACIDADE E METAS NA QUESTÃO DO APRENDER
Uma das idéias bem difundidas é aquela que pensa a inteligência
como uma capacidade, dom ou vocação que possuímos independentemente
de nossos esforços ou dos ensinamentos que recebemos na escola ou na
vida. Segundo a visão inatista, a doutrina que afirma o caráter inato das
idéias no homem, sustentando que independe daquilo que ele experimentou
e percebeu após o seu nascimento.
Segundo Houaiss (2002) o que somos, ou seja, o essencial de nossa
constituição ou inteligência se expressa como revelação de nossas
capacidades. Sendo uma revelação cabe-nos descobrir, desvendar as
qualidades que lhe são inerentes e que guardam um segredo que vale a
pena ser descoberto e respeitado como uma limitação, ainda que no melhor
de seus sentidos.
Lima (2005) comenta que a visão inatista valoriza uma dimensão
estrutural de inteligência: forma de organização mental, capacidade de
resolver problemas, conjunto de padrões ou esquemas conceituais, físicos
ou de raciocínios cujo processo de desenvolvimento não pode ser reduzido,
por exemplo, aos mecanismos de aprendizagem ou qualquer outra forma
externa de intervenção. Por isso, nessa visão a inteligência muda muito
pouco com a experiência.
Nessa linha de raciocínio a inteligência é concebida como limitação,
algo que não pode avançar além de certo ponto. Já do ponto de vista de
aprendizagem, o modelo valorizado nesse contexto, está na seleção de
objetos e materiais adequados às necessidades e possibilidades das
crianças, à cópia ou rotinas.
Outra visão muito comum de inteligência é aquela que advém do
empirismo, no qual ela é resultante das qualidades positivas ou negativas da
experiência de cada um e seu desenvolvimento compõem-se de um
somatório das aprendizagens que houve oportunidade de se fazer. (LIMA,
2005)
Trata-se de uma visão causal ou dependente de inteligência, pois é
conseqüência de ações ou estimulações positivas em favor de seu
desenvolvimento ou daquelas que puderam inibir a expressão de aspectos
negativos ou de contextos desfavoráveis, o que poderá prejudicá-la.
É preciso necessário acreditar na capacidade das pessoas, devendo
ajudá-las a ascender ao nível representativo do pensamento. Não se sabe
muito sobre o assunto, entretanto, o que se conhece permite que se
elaborem projetos buscando parceiros ideais para transformar a escola de
um espaço de exclusão num espaço de inclusão, solidariedade,
aprendizagem, desenvolvimento e amor. Pois, aprender é ampliar o
significado da vida. (LIMA, 2005).
Para o autor o aprendizado é algo que permeia a vida de qualquer
indivíduo, independente de sua formação escolar, e ocorre a todo instante,
pois é incrível a capacidade de captura e armazenamento de informações
que possui o cérebro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que hoje, a Psicopedagogia vem construindo seu corpo
teórico principalmente por meio da integração entre a Psicanálise e a
Epistemologia Genética, que tentam explicar os problemas de aprendizagem
que podem surgir no decorrer da trajetória escolar de uma criança.
Refletindo sobre o desenvolvimento cognitivo e da construção do
conhecimento, juntamente com os processos inconscientes e afetivos do
sujeito, é possível prevenir e detectar o que pode estar ocorrendo com ele
de uma maneira mais profunda e singular, tendo a possibilidade de se
chegar ao cerne das questões que impossibilitam a sua aprendizagem.
Portanto, os procedimentos de intervenção do Psicopedagogo são
realizados a partir da observação sistematizada das atividades espontâneas
da criança. No caso de crianças menores é essencial refletir principalmente
sobre suas brincadeiras, e o discurso parental frente às suas dificuldades de
aprendizagem.
Logo, a ação da criança ou de qualquer pessoa reflete em sua
estruturação mental, o nível de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo-
emocional.
Em verdade, quanto mais ele se adapta à realidade externa,
gradativamente aumenta sua necessidade interna de organização coerente.
O oposto também ocorre, ou seja, quanto mais se amplia à realidade interna,
há a necessidade de se organizar perante a realidade externa.
Quanto mais a criança organiza de forma sistemática e consciente
suas representações, mais ela caminha para o período operatório, como a
escrita e o número.
Do ponto de vista afetivo-emocional, percebe-se como parte de um
todo significativo, quer na família, escola, como alguém ativo, participativo,
criativo e aceito, verdadeiramente ligado de forma interativa e dócil num
meio coerente requerendo uma compreensão subjacente.
Há de se frisar que a criança, através do uso de várias manifestações
simbólicas, como a linguagem, a brincadeira e até mesmo a imitação, pode
descobrir-se como protagonista da própria história de vida com gradativa
tomada de consciência e a ressignificação da realidade, conforme sua
capacidade de assimilá-la.
Acredita-se que o brincar impele a criança para socializar-se, já que
ela precisa aceitar o outro como um ser separado dela. Com o decorrer dos
tempos, adquire um conceito social de regras, na medida em que os
combinados devem ser respeitados, a agilidade mental aumenta
consideravelmente, as dramatizações são muito mais complexas e emotivas.
Nesse contexto, deve-se dizer que a expressão gráfica se apresenta
como manifestação da totalidade cognitiva e afetiva. Quanto mais a criança
confia em si e no meio, mais ela se arrisca a criar e a se envolver com o que
faz.
Assim, pode-se avaliar que a criança segura, consegue se concentrar
na atividade porque ameaças internas e externas não a pressionam, além do
mais, se soltar com mais facilidade, acreditando no que faz, identifica-se
com suas representações. Nesse modo de agir, não existe, entretanto, treino
ou exercício de coordenação motora que leve a criança a vir a se expressar
a criatividade.
A avaliação Psicopedagógica efetiva pode ser construída através do
levantamento e integração de um bom número de informações significativas,
tal como a dinâmica familiar, os processos ocultos nela envolvidos e através
das informações obtidas no âmbito escolar. Esta é fundamental para a
análise dos procedimentos de ensino, sobre a afetividade e as relações
significativas que o sujeito estabelece.
Dessa forma, as questões que o circundam envolvem a possibilidade
de aceitar a lei da cultura e de que o conhecimento é sempre parcial, já que
proporciona sempre a possibilidade de novas buscas.
A partir, das primeiras experiências de aprendizagem escolar, a
criança revive, repete e expressa sua maneira pessoal, particular de lidar
com a realidade, esta maneira representa uma reedição da história de suas
relações passadas.
Adverte-se que a questão da aprendizagem deve ser tomada também
sob o ponto de vista transferencial, já que nela o sujeito repete seu modo
particular de se relacionar com os objetos da mesma maneira com que
vivenciou em seus acontecimentos passados.
É importante o papel da família, vista como objeto de análise, já que
trazem as formas ocultas de inter-relações entre seus membros, as regras
que governam sua dinâmica e os papéis que cada membro desempenha
dentro dela. Disso se extrai a seguinte vertente: não compete apenas à
escola a função de educar, mas também à família.
Por conseguinte, a linguagem pode ser caracterizada como um objeto
efetivo de avaliação acerca do desenvolvimento cognitivo e afetivo dos seres
humanos. Ela se edifica a partir da ação da criança no mundo em que vive,
sendo expressa, num primeiro momento, através da ação e do gesto, e em
seguida, por meio do levantamento de hipóteses.
Quanto aos distúrbios de linguagem, há enorme preocupação quanto
a compreensão do que significa comunicar-se, como fazê-lo oralmente, de
como será sua construção e de sua relação com todo o desenvolvimento da
criança.
Com efeito, a escola, a família e o Psicopedagogo podem servir de
apoio para auxiliar a criança no desenvolvimento de sua linguagem. Assim, a
avaliação Psicopedagógica parte do pressuposto de que a aprendizagem
compreende uma tarefa de construção e de domínio do objeto do
conhecimento, sendo o sujeito o principal agente de apropriação do saber.
Dessa forma, pode-se entender que as dificuldades de aprendizagem
como questão pertinente à etapa de desenvolvimento da criança,
reconhecendo-se as condições de aprendizagem, bem como a identificação
de suas áreas de facilidade e de dificuldade.
Conclui-se que a trajetória de aprendizagem da criança pode em
momentos de sua vida permear o processo de formação integral de suas
capacidades cognitivas, motoras, afetivas e também das capacidades
relacionadas à linguagem, à lógica e à socialização.
Entretanto, para se detectar problemas de aprendizagem existem
inúmeros meios e instrumentos para se prevenir tais obstáculos na trajetória
escolar dos educandos.
Mas o ideal é desenvolver uma nova compreensão acerca de cada
criança enquanto sujeito singular, desvencilhando-a de rótulos e patologias.
Por isso, o papel da Psicopedagogia possibilita o atendimento à
educandos com dificuldade de aprendizagem, de forma única e integral,
viabilizando um amplo e rico embasamento teórico de apoio, estejam os
sujeitos aprendentes em qualquer faixa etária de aprendizagem e de
desenvolvimento humano.
Finalmente, com o apoio oferecido através dessa pesquisa, espera-se
que a Psicopedagogia voltada para uma ação multidisciplinar, possa ter
como fundamento o processo global da compreensão do mundo presente,
pela unidade do conhecimento e pela criação de uma nova forma de
gerenciar a vida.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO........................................................................................................................08 CAPÍTULO I 12 O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E A PSICOPEDAGOGIA 12
1.1 A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO........................................................................................................................12 1.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESENVOLVIMENTO HUMANO 14 1.3 ASPECTOS GERAIS 15 1.4 DESENVOLVIMENTO HUMAMO X PSICOPEDAGOGIA 15 1.5 PSICOPEDAGOGIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO 17 CAPÍTULO II 28 APRENDIZAGEM: DA ANTIGÜIDADE AOS DIAS ATUAIS 28 2.1 ORIGEM HISTÓRICA 31 2.1.1 Na Antigüidade 32 2.1.2 Do século XVII ao início dias atuais 33 CAPÍTULO III........................................................................................................................34 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM........................................................................................................................34 3.1 CONCEITOS........................................................................................................................34 3.2 O ATRASO NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR........................................................................................................................35 3.3 O DESENVOLVIEMNTO COGNITIVO NA VISÃO DE PIAGET........................................................................................................................35 3.4 AS ESTRUTURAS MENTAIS........................................................................................................................43 3.4.1 Período sensório-motor........................................................................................................................44 3.4.2 Período pré-operatório........................................................................................................................47
3.4 O VALOR DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO........................................................................................................................49 CAPÍTULO IV........................................................................................................................52 A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA: CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE APRENDER NA EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................................................................................52 4.1 CAPACIDADE E METAS NA QUESTÃO DO APRENDER........................................................................................................................53 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................56 BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................60 ÍNDICE........................................................................................................................63
ATIVIDADES CULTURAIS