O PAPEL DA GOVERNANÇA NA CADEIA DE SUPRIMENTO AUTOMOTIVA NOS FORNECEDORES DE … · 2008. 1....
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CRISTINA BLANCO PADOVANI
O PAPEL DA GOVERNANÇA NA CADEIA DE SUPRIMENTO
AUTOMOTIVA NOS FORNECEDORES DE PRIMEIRO E SEGUNDO
NÍVEL
Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção de Título de Mestre em Engenharia
São Paulo
2007
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CRISTINA BLANCO PADOVANI
O PAPEL DA GOVERNANÇA NA CADEIA DE SUPRIMENTO
AUTOMOTIVA NOS FORNECEDORES DE PRIMEIRO E SEGUNDO
NÍVEL
Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção de Título de Mestre em Engenharia Área de concentração: Engenharia de Produção Orientador: Prof. Dr. Roberto Rotondaro
São Paulo
2007
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu esposo Eolo
e à minha filha Sara pelo carinho e pela
paciência que tiveram comigo.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus meu amigo inseparável, que me guia e
me apóia em todos os momentos da minha vida, pois foi Ele quem permitiu que eu
chegasse até aqui me emprestando Seus dons.
Agradecer a meus pais é mais do que uma obrigação, porque eles sempre me
ampararam e facilitaram meu caminho para que eu chegasse aqui.
A meu marido e a minha filha, que me apoiaram e sempre acreditaram que eu seria
capaz.
A minha irmã, que me apoiou e motivou nos momentos em que eu não acreditei ser
possível concluir meu trabalho.
A meu orientador, Prof. Dr. Roberto Rotondaro que me deu a oportunidade de cursar
meu mestrado, e ao Prof. Dr. Márcio Abraham, que me incentivou a fazer esse
curso.
A todos os amigos da sala dos alunos de pós-graduação da Escola Politécnica, que
me ouviram e auxiliaram, e em especial a Cristina Vieira, que muito me ajudou em
minhas dúvidas e incertezas.
A todos os professores da Escola Politécnica que colaboraram comigo, com seu
conhecimento e determinação constante.
Muito obrigada a todos!
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O futuro pertence aqueles que acreditam
na beleza de seus sonhos.
(Eleanor Roosevelt)
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RESUMO
PADOVANI, C.B. O papel da governança na cadeia de suprimento automotiva
nos fornecedores de primeiro e segundo nível. 2007. Dissertação de mestrado -
Escola Politécnica - Universidade de São Paulo - SP
O estudo das cadeias de suprimentos tem evidenciado que a partir da sua gestão,
qualquer organização pode obter vantagens competitivas para seu próprio negócio
se conhecer as estratégias da governança da cadeia na qual está inserida. A
pesquisa bibliográfica pôde mostrar que os ganhos dessas organizações são
divididos conforme a hierarquia de poder (governança) da cadeia, pela forma como
são usados os recursos comuns e pela atuação do conjunto de empresas em um
mercado específico. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi entender como a
governança da cadeia automotiva influencia os fornecedores de primeiro (tier 1) e
segundo nível (tier 2) isto é, fornecedores e subfornecedores das montadoras em
relação a seus próprios negócios no que diz respeito à competitividade e à
lucratividade. O trabalho visou identificar se os fornecedores de primeiro e segundo
nível são capazes de traçar essas estratégias a partir do conhecimento da
governança. Foi escolhido o estudo de caso múltiplo para se fazer a pesquisa, pois o
que se desejava investigar era à aderência a teoria já existente. Também foi
proposta deste trabalho verificar como a montadora e os fornecedores de primeiro
nível entendem a questão da gestão da cadeia de suprimentos no segundo nível.
Para isso, foi feita uma pesquisa exploratória que mostrou algum entendimento do
fornecedor da segunda camada quanto à influência da governança. Durante a
pesquisa, constatou-se que as organizações percebem a governança de modo
diferenciado e que existem pontos positivos e negativos dessa governança. A
pesquisa revelou que, comparando os fornecedores de primeiro e segundo nível, é
bem mais difícil identificar pontos positivos nos fornecedores de primeiro nível,
enquanto, no segundo nível, já foi possível verificar a gestão da cadeia de forma a
obter vantagens competitivas e aumento de lucratividade.
Palavras chaves: Indústria automobilística. Gestão da cadeia de suprimento.
Governança.
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ABSTRACT
PADOVANI, C.B. The role of governance in the automotive supply chain in tier
one and tier two suppliers. 2007. Master degree dissertation - Escola Politécnica -
Universidade de São Paulo - SP
The supply chain study has evidenced that, starting from supply chain management,
any organization can obtain competitive advantage for its own business if they know
the governance strategies of the supply chain in which they are inserted. The
bibliographical research was able to show that those organizations tend to split their
gains according to the power hierarchy (governance) of the chain, to the way that
common resources are used and to the performance of the company group in a
specific market. In that way, the purpose of this research was to understand how the
automotive supply chain governance influences tier one and tier two suppliers, that
is, the vehicle assembler suppliers and the supplier of their supplier, relative to their
own business, regarding competitiveness and profitability. The research sought to
identify weather or not tier one and tier two suppliers are capable to draw those
strategies, starting from governance knowledge. For the purpose of this research, the
multiple case studies have been chosen, because we wanted to investigate the
adherence to the existent theory. This paper also had the purpose to verify how the
vehicle assembler and the tier one supplier understand the supply chain
management issue in the tier two supplier. An exploratory research was performed,
showing some understanding from the tier two suppliers regarding the influence of
the governance. During the research, it was observed that the organization notices
the governance in a differentiated way, and that are positive and negative points of
this governance. Comparing tier one supplier and tier two suppliers, the research
revealed that it is much more difficult to identify positive points in the tier one, while in
the tier two it is possible to verify the supply chain management in order to obtain
competitive advantages and to increase the profitability.
Key words: Automobile industry. Supply chain management. Governance.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1- Origens da GCS – Pires (2004 p.62).......................................................28
Figura 2.2- Cadeia de suprimento na indústria automotiva por Salerno; Marx;
Zilbovicius (2002 p.59)...............................................................................................40
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LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1-Formas de governança Humphrey e Schmitz (2000)..............................23
Quadro 2.2-Competências para empresas em função do nível nas cadeias producer
driven (Fleury & Fleury, 2000)....................................................................................24
Quadro 2.3-Fases da evolução da logística (ASLOG, 2002).....................................26
Quadro 2.4-Produção mundial, anuário da indústria automotiva brasileira
(2006).........................................................................................................................36
Quadro 2.5- Colocação mundial da produção de veículos (Pires, 2004)...................37
Quadro 2.6- Colocação mundial da produção de veículos (ANFAVEA, 2006)..........38
Quadro 3.1-Métodos de pesquisa e critérios de seleção (baseado em Yin, 1994)....44
Quadro 4.1-Perfil de cada empresa entrevistada de primeiro nível...........................54
Quadro 4.2- Perfil de cada empresa entrevistada de segundo nível.........................60
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ......................................................................................12
1.1 Objetivo da Dissertação ...............................................................................................13
1.2 Justificativas..................................................................................................................13
1.3 Limitações......................................................................................................................14
1.4 Estrutura da Dissertação .............................................................................................15
CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................17
2.1 Cadeia de suprimento...................................................................................................17
2.2 Governança ...................................................................................................................21
2.3 Gestão da cadeia de suprimentos ................................................................................25
2.4 Indústria automobilística .............................................................................................33
2.5 Sistemistas, fornecedores e subfornecedores..............................................................40
CAPÍTULO 3 - MÉTODO.................................................................................................43
3.1 O método de pesquisa e de coleta de dados ................................................................43
3.2 Questões de pesquisa ....................................................................................................45
3.3 Justificativas para a escolha do método .....................................................................46
3.4 Instrumento de coleta de dados...................................................................................47
CAPÍTULO 4 - APLICAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO ........................................49
4.1 A pesquisa exploratória................................................................................................49
4.2 O resultado da pesquisa em campo.............................................................................51
4.2.1 Fornecedores de primeiro nível................................................................................52
4.2.2 O perfil de cada empresa entrevistada de primeiro nível ......................................52
4.2.3 O resultado da pesquisa em campo com os fornecedores de primeiro nível........54
4.2.4 Fornecedores de segundo nível.................................................................................58
4.2.5 O perfil de cada empresa entrevistada de segundo nível .......................................59
4.2.6 O resultado da pesquisa em campo com os fornecedores de segundo nível.........61
4.2.7 A montadora ..............................................................................................................64
4.2.8 O perfil da montadora entrevistada.........................................................................64
4.2.9 O resultado da pesquisa em campo com a montadora...........................................64
4.3 A análise dos resultados ...............................................................................................66
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÃO.........................................................................................69
11
5.1 Conclusões .....................................................................................................................69
5.2 Perspectivas para novos estudos .................................................................................73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................74
ANEXOS..............................................................................................................................80
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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
Atualmente, as organizações são estudadas não somente pela própria forma de ser
e de agir, mas também pelo modo como interagem na cadeia de suprimentos na
qual atuam. É possível verificar que existem diferenças significativas nas estratégias
adotadas pelas organizações, o que depende do nível de fornecimento em que
essas organizações se encontram na cadeia de suprimentos. Algumas delas
ocupam mais de um nível de fornecimento em uma mesma cadeia, situação que
subsiste conforme o que fornecem em um determinado momento. No caso da cadeia
de suprimento automotiva, é mais freqüente encontrar no primeiro nível,
fornecedores sistemistas, já que na segunda camada, uma boa parte das
organizações é fornecedora de componentes. Nessa dissertação, deseja-se verificar
como a governança da cadeia de suprimento automotiva brasileira influência tanto
os fornecedores diretos das montadoras como os fornecedores de segundo nível, os
chamados subfornecedores. Aparentemente, quanto mais distante o fornecedor
estiver do primeiro nível, menor é a influencia da governança da cadeia automotiva
sobre ele. Normalmente, os fornecedores de segundo nível fornecem a mais de um
setor industrial, o que pode fazer com que não desenvolvam um foco pleno na
montadora. Hoje, muitas das ferramentas da qualidade implementadas nos
fornecedores de primeiro nível, por solicitação das montadoras, são também
exigidas dos fornecedores da segunda camada, assim como redução de custos,
melhoria da qualidade, sistema integrado de gestão, entregas 100% no prazo,
metodologia específica para desenvolvimento de produtos e processos, lean
manufacturing e seis sigma. Esse movimento vem, ao longo de anos de parceria,
provocando mudanças nos fornecedores da primeira camada, pois, para que
possam continuar atendendo às montadoras, eles têm de se adequar às mudanças.
Normalmente, estão nesse nível empresas com dependência de trajetória, isto é,
empresas cujo conhecimento está focado potencialmente em desenvolvimento e
produção de produtos especificamente automotivos. No entanto, na segunda
camada, as organizações já têm conhecimento, principalmente, de desenvolvimento
dos processos industriais que podem atender, por meio dos produtos, a diversos
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setores. Medir os dois níveis da cadeia vai mostrar o quanto cada nível é
influenciado pela governança.
1.1 Objetivo da Dissertação
O que se pretende verificar com essa pesquisa é como a governança da cadeia
automotiva influencia os fornecedores de primeira e segunda camada dessa cadeia
no que diz respeito às estratégias de suas organizações e se eles, a partir do
entendimento da governança da cadeia de suprimentos, conseguem aumentar sua
vantagem competitiva e sua lucratividade, isto é, gerir melhor sua organização.
A questão a ser respondida por essa pesquisa, portanto, é:
• Como a governança da cadeia de fornecimento automotiva influencia os
fornecedores da primeira e segunda camada dessa cadeia no que diz respeito a
vantagens competitivas e aumento de lucratividade?
1.2 Justificativas
A cadeia de suprimentos do setor automotivo tem sido muito estudada nos últimos
anos (SALERNO et al. 2003; SACOMANO NETO, 2004; GRAZIADIO, 2004; PIRES,
2005). De acordo com Salerno (1997), esse setor exerce uma atração como objeto
de pesquisa, pois são muitas as mudanças provocadas por ele, desde o ponto de
vista sociológico até o ponto de vista psicoemocional individual (levando em
consideração o fascínio que o automóvel exerce nas pessoas, em geral). Marx
(1995) entende que o setor automotivo concentra seus maiores esforços em favor da
modernização da produção. Segundo ele, esse ainda hoje, é o setor que mais inova
no mundo, mesmo que existam muitos desvios na aplicação de técnicas e métodos.
Muitas organizações que pertencem à cadeia de suprimentos automotiva podem
usufruir vantagens e ganhos.
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É dentro desse contexto que a pesquisa quer se fixar, quanto realmente os
fornecedores usufruem das inovações e mudanças impostas pela governança da
cadeia, identificando que governança, para esse trabalho, conforme será visto no
capítulo 2, é a forma de gerir os ativos–chave da organização, (entendendo ativos–
chave, as atividades estratégicas e as que agregam valor, de modo a evitar que
esses sejam reproduzidos por qualquer participante da cadeia, evitando, assim,
oportunismos e detenção do poder) e como, a partir da governança, as organizações
pertencentes à cadeia podem traçar estratégias para o aumento da competitividade
(CARVALHO; LAURINDO, 2003).
Graziadio (2004) enfatiza que pode ser muito prejudicial para os fornecedores, eles
não conseguirem enxergar a governança da montadora. No caso de fornecedores
de segundo nível, isto é ainda é mais prejudicial, pois conforme Graziadio, os
fornecedores desse nível podem perceber apenas a governança sobre eles do
fornecedor de primeiro nível. A escolha dos dois primeiros níveis da cadeia tem o
objetivo de verificar a força da governança da cadeia. Visto que a cadeia de
suprimentos automotiva é hierárquica, como será explicado no capítulo 2, e que os
ganhos também são distribuídos segundo essa hierarquia, o poder também pode ser
fragilizado ao longo da cadeia.
Logo, o presente trabalho pretende contribuir para o entendimento da influência da
governança da cadeia automotiva nos fornecedores diretos e nos subfornecedores
das montadoras, de forma a identificar como a cadeia lida com essas influências, se
minimiza as influências negativas, se maximiza as influências positivas e como faz
isso.
1.3 Limitações
Essa dissertação irá se limitar ao setor automotivo brasileiro, nos fornecedores
localizados no primeiro e segundo nível da cadeia de suprimentos automotiva,
conforme descrito anteriormente. As empresas escolhidas para o estudo pertencem
à cadeia de suprimentos automotiva brasileira e todas fornecem, direta ou
indiretamente, pelo menos à mesma montadora que foi entrevistada, cuja unidade
matriz situa-se em São Paulo. Os fornecedores diretos foram selecionados a partir
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de uma lista de fornecedores dessa montadora. Em seguida, a partir dos diretos,
foram escolhidos os subfornecedores, que indiretamente fornecem a mesma
montadora entrevistada. Todas as empresas entrevistadas estão situadas na grande
São Paulo. Houve a preocupação de se verificar a influência do setor automotivo nos
fornecedores da segunda camada, visto que a maior parte deles não possui
dependência de trajetória com o setor automotivo. Procurou-se, identificar
fornecedores que reconhecessem a importância de se estar na cadeia de
suprimentos automotiva, isto é, foi verificado se nessas organizações existem,
dentro do planejamento estratégico ou do direcionamento estratégico, ações
voltadas para a permanência na cadeia em questão nos próximos anos. O assunto a
ser tratado está relacionado à área de estratégias de cada organização.
Dependendo do tamanho da empresa, as atividades dessas áreas estão diretamente
relacionadas à alta direção ou a gestores da qualidade, dessa forma os
entrevistados nos fornecedores de primeiro e segundo nível foram diretores
presidentes e gerentes da qualidade, na montadora foi entrevistado o supervisor de
qualidade dos fornecedores, conforme descrito no capítulo 4. O projeto inicial visa
aplicar estudo de caso em no mínimo quatro fornecedores de primeiro nível, em
quatro de segundo nível e em uma montadora, sendo eles escolhidos
propositalmente como acima descrito.
1.4 Estrutura da Dissertação
O presente trabalho inicia-se com uma apresentação enfatizando a importância em
se estudar como a governança influencia os fornecedores da cadeia de suprimentos
automotiva. Essa governança pode afetar positivamente ou não o crescimento e as
estratégias dessas organizações. Com o resultado dessa pesquisa será possível
criar um cenário da situação atual dos fornecedores.
Para isso a Dissertação está dividida em cinco capítulos, sendo eles:
• Capítulo 1 – Introdução;
• Capítulo 2 – Referencial Teórico;
• Capítulo 3 – Método;
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• Capítulo 4 – Aplicação da Pesquisa de Campo;
• Capítulo 5 - Resultados.
Como pode ser visto, no presente capítulo estão descritos o objetivo da Dissertação,
suas justificativas, suas limitações e sua estrutura da dissertação. Esse capítulo visa
posicionar o leitor quanto ao que se refere à Dissertação.
O capítulo 2 está relacionado ao referencial teórico que deve dar base a toda
discussão da Dissertação. Nesse capítulo, estão os conceitos de cadeia de
suprimentos, governança, gerenciamento da cadeia de suprimentos, indústria
automobilística, sistemistas, fornecedores e subcontratados.
No capítulo 3, estão descritos os modelos de pesquisa e de coleta de dados, as
questões de pesquisa, as justificativas para a escolha do método e o instrumento de
coleta de dados.
No capítulo 4, está toda a pesquisa exploratória feita para validar o tema da
Dissertação e o roteiro de entrevista, a pesquisa de campo dos fornecedores de
primeiro e segundo nível e uma montadora e por fim a análise dos resultados
obtidos.
No último capítulo, capítulo 5, estão as respectivas conclusões e ainda perspectivas
para novos estudos.
Todos os formulários usados foram anexados depois das respectivas referências
bibliográficas.
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CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Cadeia de suprimento
Para trabalharmos o termo “cadeia de suprimento”, é preciso se posicionar na
história. Por que começamos a trabalhar dessa forma? A resposta a essa pergunta é
o fato de termos cada vez mais mercados competitivos, nos quais a somatória de
esforços de uma cadeia e sua gestão pode trazer resultados mais interessantes no
que diz respeito à lucratividade para cada organização pertencente à cadeia
(FURLANETTO, 2002). Esses novos mercados também pedem, a cada dia,
inovação. A inovação é um processo incessante que revoluciona a estrutura
econômica de dentro para fora, incessantemente destruindo a velha estrutura e
criando uma nova (SHUMPETER, 1984), processo chamado de "destruição criativa".
Com a inovação e o capitalismo, as empresas procuraram ser cada vez mais
competitivas, não somente em custo, mas também em qualidade e produtividade.
Na década de 1980, com o novo paradigma tecnológico instalado, foi evidente a
busca de flexibilidade das empresas, que abandonaram aquelas linhas de produção
enormes, baseadas no Taylorismo, e passaram a ter unidades de produção de fácil
programação de forma que pudessem atender às variações do mercado e às
transformações tecnológicas. Essa mudança, segundo Castells (2000), foi devido à
crise da grande empresa e ao aumento da flexibilidade das pequenas e médias
empresas que estavam sendo agentes de inovação e fontes de criação de emprego.
Foi então que o fracasso da atual organização industrial se fez presente.
Começou a surgir um novo jeito de se organizar – em redes / cadeia. As redes
podem se organizar a partir das grandes empresas, no que diz respeito à sua cadeia
de suprimentos, ou como estão estruturadas internamente (em células, por
exemplo), ou ainda a partir de pequenas e médias empresas, que se juntam para
usar os mesmos recursos e atuar em um mercado específico. As redes / cadeias vão
buscar o sucesso juntas multiplicando as competências e usando de forma racional
os recursos.
Como é escopo deste trabalho, vamos enfatizar a cadeia de suprimentos.
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Existem várias definições de cadeia de suprimentos com focos diferenciados, mas
convergentes. Beamon (1998) define cadeia de suprimento como “processo
integrado dentro do qual um número de várias entidades de negócios trabalha junto
num esforço para adquirir matérias-primas em determinados produtos finais e
oferecer esses produtos nos pontos de venda”.
Já Cox (2001) afirma que uma cadeia de suprimento pode ser descrita como uma
“...rede ampliada de relacionamentos de permuta que devem existir para a criação de qualquer produto ou serviço que é fornecido a um cliente final. Para que um produto ou serviço seja fornecido a um cliente ele deve começar com matéria – prima de alguma espécie e então passar por uma série de estágios de permuta entre compradores e fornecedores. Em cada estágio deve ocorrer alguma forma de transformação, ou intermediação, destinada a agregar valor ao produto ou serviço como percebido pelo comprador naquele estágio e, em última instância pelo cliente final”.
Abramczuk (2001), por sua vez, critica essas duas definições e coloca que
“...uma cadeia de suprimento é representada por uma concatenação lógica de atividades diferenciadas e complementares, necessárias para que um produto ou serviço seja criado, elaborado e colocado ao alcance do cliente final. Esse conceito descritivo refere-se a uma concatenação de atividades físicas”.
Todos esses conceitos são focados no descritivo da cadeia de suprimentos, mas de
fato deve-se levar em consideração também o conceito analítico, no qual se deve
enfatizar o fluxo de valor (PORTER, 1985). Quando se fala de valor, porém,
devemos lembrar de pelo menos três facetas, que são o valor exigido pelo cliente,
que é decorrente da aquisição do bem ou do serviço, o processo de agregação de
valor, que está relacionado à transformação de insumos sem utilidade para o cliente
em produtos úteis e a apropriação de valor, que está relacionada ao benefício dos
acionistas e é o propósito real da existência das organizações empresariais. De
certa forma pode-se concluir que em toda a cadeia de suprimentos há no mínimo
uma cadeia de agregação de valor integrada.
Segundo o dicionário da American Production and Inventory Control Society (COX;
BLACKSTONE;SPENCER,1995), uma cadeia de suprimentos pode ser definida
como:
• “Processos que envolvem fornecedores clientes e ligam empresas desde a
fonte inicial de matéria-prima até o ponto de consumo do produto acabado”;
• “Funções dentro e fora de uma empresa que garantem que a cadeia de valor
possa fazer e providenciar produtos e serviços aos clientes” (COX, 1995).
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Outros autores definem a cadeia de suprimentos como:
• Atividades associadas com o movimento de bens desde o estágio de matéria-
prima até o usuário final (QUINN, 1997);
• Rede de trabalho para as funções de busca de material, sua transformação
em produtos intermediários e acabados e a distribuição desses produtos acabados a
esses clientes finais (LEE; BILLINGTON, 1993);
• Rede de organizações que está por meio das ligações a jusante e a montante
nos diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e
serviços liberados ao consumidor final (CHRISTOPHER, 1998);
• Rede de múltiplos negócios e relações (LAMBERT, 1998);
• Rede de companhias autônomas, ou semi-autônomas, que são efetivamente
responsáveis pela obtenção, produção e liberação de um determinado produto e/ou
serviço ao cliente final (PIRES, 2001);
• Um conjunto de relações verticais de compra e venda de ativos
(conhecimento, informação, tecnologia, materiais, bens e serviços) cujos elos,
devidamente conectados como engrenagens de um único mecanismo (por isso
cadeia), produzem pares distintos, mas complementares (interdependência), de um
produto ou serviço, que visa suprir as necessidades de um consumidor final
(FURLANETTO, 2002);
• O conjunto de processos requeridos para obter materiais e agregar-lhes valor
conforme concepção do cliente, disponibilizando-os quando e onde este o desejar
(BERTAGLIA, 2003).
Já Gereffi (1994) não define cadeia de suprimentos, mas cadeia produtiva global e a
caracteriza pela "produção e comercialização de mercadorias envolvendo a tomada
de decisões estratégicas e a formação de redes internacionais de suprimentos".
Segundo esse autor, as cadeias produtivas globais possuem quatro dimensões:
• Uma cadeia de valor agregado de produtos, serviços e recursos em um ou
mais setores industriais;
• Dispersão geográfica das redes de produção e marketing nos âmbitos
nacional, regional e global;
• Uma estrutura de comando (governança) nas relações de autoridade e poder
entre as firmas que determina a alocação de recursos financeiros, materiais e
humanos ao longo da cadeia de valor;
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• Arcabouço industrial que identifica como as condições e as políticas locais,
nacionais e internacionais agem em cada estágio da cadeia.
Gereffi (1994) assinala que existem dois formatos básicos de cadeias produtivas
globais:
• As cadeias dirigidas pelo produtor (producer-driven);
• As cadeias dirigidas pelo comprador (buyer-driven).
Observando as definições aqui listadas, é possível verificar que muitas são
convergentes, mas que, na maioria das vezes são complementares. Para a
Dissertação que aqui se apresenta, toda a vez que o termo cadeia de suprimento for
usado deve assumir a seguinte definição:
Um conjunto de organizações que tem como objetivo agregar valor ao produto
desde a produção das matérias-primas até a distribuição ao consumidor final, por
meio de permutas de ativos (conhecimento, informação, tecnologia, materiais, bens
e serviços) entre compradores e vendedores. O conjunto de organizações deve estar
distribuído por uma lógica, ou seja, as organizações devem estar distribuídas por
meio de um processo de agregação de valor. O valor agregado ao produto ou
serviço pelas organizações da cadeia deve ser reconhecido como apropriado pelo
consumidor final e esse é mais um objetivo da cadeia. Uma cadeia de suprimentos
deve ter uma estrutura de comando (governança) nas relações de autoridade e
poder entre as organizações, de forma a determinar a alocação de recursos
materiais, financeiros e humanos ao longo da cadeia. Para esse trabalho, valor é o
que o consumidor final está disposto a pagar por um bem ou serviço.
Na cadeia de suprimento automotiva, aparentemente existe uma estrutura de
comando que é mais sentida pelas organizações pertencentes aos níveis que estão
mais próximos dela, isto é, da montadora. É também essa estrutura de comando que
identifica as condições e as políticas locais, nacionais e internacionais da cadeia na
proporção do poder dessa governança. No caso da cadeia automotiva ou
automobilística, o formato é de producer-driven, isto é, dirigida pelo produtor, que é a
montadora.
21
2.2 Governança
O termo governança surgiu em 1985 com Williamson (1989), que considera
governança o ato de organizar as transações da companhia de forma a protegê-las
contra os perigos de oportunismo. Mais tarde, Fleury & Fleury (2000) ressaltaram a
idéia de que a análise da cadeia de produção é a "identificação das estruturas de
poder ou de governança, em que uma ou mais empresas coordenam e controlam
atividades econômicas geograficamente dispersas". A racionalidade econômica na
cadeia produtiva decorre do fato de que as empresas que comandam a cadeia
procuram dominar as atividades que são estratégicas e que agregam mais valor.
Conforme Cassiolato (2003), primeiramente esse termo foi usado para descrever
novos mecanismos de coordenação e controle de redes internas e externas às
empresas, estando referenciado ao grau de hierarquização das estruturas de
decisão das organizações.
Posteriormente, governança passou a designar:
• “Processo de tomada de decisão levando à repartição de poder entre governantes e governados, descentralização da autoridade e das funções de governar e à parceria entre público e privado”;
• “Gestão de interações, sistemas de regulação e mecanismos de coordenação e negociação entre atores sociais. Genericamente, então o conceito de governança refere-se às diversas formas pelas quais indivíduos e organizações (públicas ou privadas) gerenciam os seus problemas comuns, acomodando interesses conflitantes ou diferenciados e realizando ações cooperativas".
Stoper e Harrison (1991) procuram incorporar a estrutura de governança presente
nas relações entre as empresas, que diz respeito ao grau de hierarquia, liderança e
comando (ou alternativamente, colaboração ou cooperação) exercido pelas firmas
na coordenação da relação com outras empresas participantes do sistema.
Para Suzigan, Garcia e Furtado (2002) a questão governança da capacidade
produtiva refere-se, "às relações de poder que ocorrem ao longo da cadeia de
produção e distribuição de mercadorias". Para esses autores, a existência de firmas
coordenadoras ou líderes, decorre na verdade da "posse de ativos-chave que, pelo
seu caráter tácito e específico, não são reproduzidos pelos outros agentes que
participam da cadeia, de forma a permitir à firma que detém a governança, impor
seus interesses aos outros participantes da cadeia".
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No caso dos producer-driven os ativos-chave são produzidos, sustentados por
atividades fundamentais de desenvolvimento de produto e gestão de ativos
comerciais. No caso dos buyer-driven, as empresas coordenadoras geralmente não
possuem atividades produtivas e seu poder decorre da posse de ativos comerciais,
como marca de canais de comercialização e distribuição.
Mesmo em casos em que a organização da cadeia se dá por meio de uma empresa
líder, como é o caso das montadoras, também se deve destacar a importância das
formas de governança local.
Jank (1996) defende que governança é “a forma organizacional utilizada para
organizar a produção”.
Uma das principais contribuições ao estudo das relações entre empresas e da
governança da atividade produtiva é o trabalho de Stoper e Harrison (1991), que
abordaram o tema por meio da análise das hierarquias que são formadas dentro da
cadeia de produção e distribuição de mercadorias. Para isso, os autores utilizam o
conceito de "sistema de produção, que definem como a estrutura de coordenação
que se forma a partir das interações que se dão ao longo das cadeias de
suprimento, em que se verificam relações verticais e horizontais entre as firmas”.
A questão governança da atividade produtiva refere-se, portanto, a relações de
poder que ocorrem ao longo da cadeia de produção e distribuição de mercadorias.
Nesse sentido, é necessário verificar se as relações dentro da cadeia produtiva (ou
sistema de produção) são governadas por mecanismos de preços ou, em outro
extremo, se são resultados de fortes hierarquias impostas por agentes com poder de
comando. Há também estruturas intermediárias de coordenação, em que tanto o
mecanismo de preço como as hierarquias são substituídos por interações mais
freqüentes entre os agentes envolvidos, resultando em maior grau de colaboração e
cooperação nas relações entre as empresas.
Carvalho e Laurindo (2003) definem governança somente como poder já para
Suzigan, Garcia e Furtado (2003), as relações entre os agentes da cadeia, em geral
são caracterizadas por fortes hierarquias, decorrentes do poder de barganha
diferenciado das firmas do sistema.
Pires (2004) define que a governança está ligada à maneira como é conduzida a
coordenação das atividades econômicas e dos sistemas produtivos. Zylbersztagn
(1995) define governança como uma "estrutura padrão de transações e contratos
23
que minimizem custos de transação, como unidade analítica, dentro das
organizações".
No caso da indústria automobilística, pode-se dizer que a governança da cadeia está
nas mãos das montadoras, pois são elas que, por enquanto, detêm as atividades
fundamentais de desenvolvimento de produtos e a gestão dos ativos comerciais. Isto
é, elas ainda detêm os ativos-chave dessa cadeia, de forma que nenhuma outra
camada tem mais poder sobre a cadeia do que as montadoras. Embora alguns
fornecedores de primeiro nível já tenham bastante conhecimento dos
desenvolvimentos de produtos, toda a parte de distribuição está sob o comando das
montadoras, que continuam sendo o elo mais forte da cadeia, logo, a governança.
Para Cassiolato (2003), existem duas formas de governança nos sistemas
produtivos locais:
• Hierárquica – a autoridade é geralmente internalizada dentro de grandes
corporações, com real ou potencial capacidade de coordenar as relações produtivas,
mercadológicas e tecnológicas no âmbito local;
• Não hierárquica – caracteriza-se pela existência de aglomerações de micro,
pequenas e médias empresas e outros agentes, sendo que nenhum deles é
dominante.
"As formas de governança permitem entender quais atores têm o poder de afetar o
desenvolvimento dos sistemas produtivos" (STOPER; HARRISON, 1991).
Para Markusen (1995), também se deve destacar a importância das formas de
governança local. Para a autora,
"Mesmo que não se estabeleçam muito comumente relações de cooperação entre os agentes, o dinamismo da aglomeração das empresas depende fundamentalmente das estratégias da empresa líder, que é capaz de coordenar as relações entre diversos agentes que compõem o sistema. As outras firmas locais tendem a se sujeitar aos interesses e às ações da firma líder, mas também se beneficiaram, mesmo que assimetricamente, do desenvolvimento da líder."
O quadro 2.1 mostra as formas de governança ligadas ao desenvolvimento de
produção e da comercialização.
Forma de governança Desenvolvimento da produção
Desenvolvimento da comercialização
Iniciativas coletivas Centro tecnológico local Consórcio de exportação Hierárquica Atividades de P&D da
empresa líder local. Abertura de novos mercados pela empresa líder local
Quadro 2.1 - Formas de governança Humphrey e Schmitz (2000).
24
Fleury & Fleury (2000) enfatizam que, na cadeia automotiva, quem tem exercido o
comando (governança) são as montadoras que pressionam muito os seus
fornecedores. É feita ainda uma comparação das competências nos níveis da cadeia
conforme o quadro 2.2.
Posição na cadeia Competência em operações
Competência em desenvolvimento de produtos
Competência em Marketing
Líder Forte; coordena e controla
Forte; concepção de produtos
Orientada para o mercado
Primeiro nível Forte Forte Orientada para serviços
Segundo nível Forte Dispensável Orientada para serviços
Quadro 2.2 - Competências para empresas em função do nível nas cadeias producer driven (Fleury & Fleury, 2000).
A forma de governança das montadoras é a hierárquica, são elas que detêm o poder
de comercialização e desenvolvimento de produtos. Não existe sinal efetivo de
cooperação ou colaboração nessa cadeia e, sem dúvida, é uma cadeia assimétrica.
Embora não exista efetivamente cooperação ou colaboração nessa cadeia, estar em
uma cadeia de suprimentos é vantajoso. Conforme Furlaneto (2002), todas as
organizações pertencentes à cadeia, juntas, se comportam como uma única grande
empresa e, com a governança conhecida, é possível que as transações sejam
facilitadas, podendo haver maior interação entre as organizações, tendo como
conseqüência, inovação e aumento de ganho em toda a cadeia.
Como na cadeia de suprimentos automotiva existe uma assimetria, os ganhos
também são assimétricos. Para Carvalho e Laurindo (2003), porém, o tipo de
governança é que vai permitir se haverá desenvolvimento entre as empresas da
cadeia, eles ainda destacam a importância de as empresas analisarem a
governança global e local para que possam traçar as estratégias para a
competitividade, isto é, melhorar o resultado dos seus próprios negócios.
Diferentemente da governança, a gestão da cadeia de suprimentos pode ser de
cada elo (organização), por meio das estratégias traçadas analisando-se o tipo de
governança. Essa atividade não é assim tão fácil. Fleury & Fleury (2000) colocam
que, devido ao alinhamento das empresas na cadeia não ser perfeito, existe uma
resistência, em focarem suas estratégias competitivas em uma única cadeia, logo,
não conseguem atender aos requisitos de competitividade, estilo ou critério de
governança.
25
Carvalho & Laurindo (2003) colocam que o sucesso ou o fracasso das estratégias
empresariais em todo e qualquer segmento do negócio está cada vez mais atrelado
aos novos padrões de relacionamento cliente - fornecedor, e que uma verdadeira
relação de parceria, assim como uma revisão em estruturas organizacionais, mostra
a importância da Gestão da Cadeia de Suprimentos. É preciso se conhecer as
dinâmicas e as relações de poder dentro de uma cadeia/rede para sobreviver,
desenvolver e crescer.
Ao se conhecer como é a estrutura de governança de uma cadeia, isto é, quem
detém o ativo chave, determinado entre as firmas, e a alocação de recursos
financeiros, materiais e humanos ao longo da cadeia de valor, pode-se traçar as
estratégias que devem colaborar para o alcance dos resultados esperados e
planejados.
2.3 Gestão da cadeia de suprimentos
Para essa Dissertação é muito importante explorar o conceito de gestão da cadeia
de suprimento (GCS), pois a literatura mostra que é a partir da GCS que cada
organização pode modificar os resultados de ganho de sua organização,
fundamentando-se no conhecimento da governança da cadeia.
Primeiramente, é necessário conceituar gestão da cadeia de suprimentos e para isto
é preciso que seja analisada a evolução da logística ao longo do tempo. No âmbito
microeconômico, estudo realizado pela Associação Brasileira de Logística (ASLOG),
em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP),
divide a evolução da logística com foco empresarial em cinco fases, com suas
devidas implicações gerenciais, tal qual como reproduzido no quadro 2.3, a seguir.
26
Fase 0 Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4 Fase 5
Áreas Administração de materiais
Administração de materiais + Distribuição
Logística integrada
Cadeia de suprimentos (GCS)
Cadeia de suprimento + cooperação
Cadeia de suprimento + cooperação + colaboração.
Focos Gestão de estoques, gestão de compras e movimentação de materiais.
Otimização do sistema de transportes
Visão sistêmica da empresa e Integração por sistema de informação
Visão sistêmica da empresa, incluindo fornecedores e canais de distribuição.
Amplo uso de alianças estratégicas, subcontratação e canais alternativos de distribuição.
Ambiente colaborativo para gerenciamento da cadeia.
Quadro 2.3 - Fases da evolução da logística (ASLOG,2002).
Carletti Filho (2005) usando o trabalho mencionado acima identifica que o Brasil por
meio de suas organizações, situa-se na primeira fase com algumas organizações
tendendo à segunda fase. Já, empresas na Europa e nos EUA estão focadas entre a
quarta e a quinta fases. Mesmo nesses países, ainda há pouca sincronização entre
todos os elos da cadeia logo, no cenário brasileiro, ainda há muito a evoluir.
Portanto, a evolução empresarial e principalmente os estudos acadêmicos focam as
terceira e quarta fase. Quando se fala do setor automotivo, se pode perceber que
temos, na cadeia, situações que variam entre as segunda e quarta fases
dependendo da montadora e em que camada da cadeia a organização está inserida.
Como já enfatizado anteriormente, ainda na cadeia automotiva há pouca
cooperação, logo são raros os momentos no qual a cadeia se encontra na quarta
fase.
Com o conhecimento da evolução da logística, o importante é conceituar o que é
gestão da cadeia de suprimentos (GCS). O primeiro autor que circundou o conceito
foi Williamson (1985), que, embora não tenha definido como gestão de cadeia de
suprimentos, colocou que a coordenação é o resultado das características das
transações, dos pressupostos comportamentais e do ambiente constitucional. Ele
identificava coordenação como estrutura de governança. Já Lambert (1998) afirma
que GCS é a "integração dos processos de negócio-chave desde o usuário final até
os fornecedores primários que providenciam produtos, serviços e informações que
adicionam valor para os clientes e para os acionistas”. Lembrando que, segundo
Porter (1989), valor é o montante financeiro que os compradores estão dispostos a
pagar por aquilo que uma empresa lhes fornece em termos de produtos ou serviços.
Uma empresa é rentável se o valor que ela consegue impor ultrapassar os custos
envolvidos na criação ou na transformação de um produto ou serviço. Desde 1998, é
27
possível verificar uma forte ligação entre a gestão da cadeia de suprimentos e
ganhos, principalmente quando se relaciona a gestão à identificação de valor, pois
se o cliente percebe o valor, ele paga por ele. Pires (2004) indica que o objetivo da
GCS é foco no Cliente final. Chopra e Meindl (2003) vão além ao afirmarem que o
objetivo de toda a cadeia é "maximizar o valor global gerado, quer seja para o cliente
final, quer seja para toda a cadeia, independentemente do elo”. Christopher (1998)
diz que o gerenciamento global da cadeia de suprimentos é o gerenciamento dos
relacionamentos em todas as direções entre fornecedores e consumidores, para
oferecer mais valor aos consumidores finais a um mínimo custo para toda a cadeia
de suprimentos. Logo, conclui-se que gerenciar essa cadeia envolve controle dos
fluxos entre estágios para maximizar a lucratividade total. Wood e Zuffo (1998)
destacam a importância do gerenciamento da cadeia de gestão, pois o ligam à
redução de custos, minimização de ciclos e maximização do valor percebido pelo
cliente final por meio de rompimento de barreiras entre departamentos e áreas e em
muitos momentos entre empresas.
A GCS envolve atividades principais de planejamento, organização e controle em
todos os estágios nela envolvidos, além de atividades internas das empresas (COX
III; BLACKSTONE JUNIOR, 1998). Russel (1998) conclui que gestão da cadeia de
suprimentos é a interação colaborativa de todos os processos logísticos por todos os
participantes da cadeia, desde os primeiros fornecedores até o usuário final. Em
2001, Mentzer (2001) propõem que a GCS, como filosofia gerencial, tenha as
seguintes características:
• Abordagem sistêmica para visualizar a cadeia de suprimentos (SC) em sua
totalidade e gerenciar o fluxo total de bens dos fornecedores aos clientes finais;
• Orientação estratégica na canalização dos esforços cooperativos buscando
uma sincronização e convergência das capacidades estratégicas e operacionais
intra e interfirmas em um todo unificado;
• Foco no cliente para criar fontes únicas e individualizadas de adição de valor
ao cliente final.
Pires (2004) completa dizendo que a GCS é um modelo gerencial que visa à
integração dos processos-chave ao longo da cadeia de suprimentos, com o objetivo
principal de atender ao consumidor final de forma eficiente e eficaz com produtos e
serviços de maior valor, percebido pelo cliente, ao menor custo.
28
Pires (2004) ainda coloca que a GCS busca a redução de custos produtivos e a
maior agregação de valor ao produto por meio de um processo de gestão focado em
toda a cadeia de suprimento e não mais apenas em suas unidades de negócios
isoladas. Bertaglia (2003) e Pires (2004) citam que a GCS é "a visão expandida de
quatro grandes áreas empresariais: gestão da produção, logística, marketing e
compras, cada uma delas desenvolvendo atividades específicas e principalmente
conjuntas, eventualmente com sobreposição de tarefas e a necessidade de
mudanças gerenciais", como mostra a figura 2.1.
Figura 2.1. Fonte: Potenciais origens da GCS – Pires (2004 p 62).
A gestão da cadeia de suprimento busca a integração das empresas envolvidas nas
cadeias produtivas, desde seus fornecedores primários até seus consumidores
finais, com o objetivo básico de melhor satisfazer os anseios dos consumidores e
obter vantagens sobre seus competidores. Segundo Carletti Filho (2005), a gestão
da cadeia de suprimentos tem como objetivo a integração entre as atividades e os
departamentos internos das empresas a fim de promover à redução do custo dos
estoques e de distribuição. Esse autor tem uma visão mais interna de gestão, isto é,
por sua definição se pode verificar que somente se está analisando a própria
organização e não a cadeia. É claro que a gestão da cadeia de suprimentos
acontece tanto externa quanto internamente às empresas e essa importância é o
que Carletti Filho (2005) quer enfatizar. Então, para essa pesquisa, GCS é a forma
GCS
Produção Compras
Logística Marketing
29
como as organizações, dispostas em cadeia, agregam valor aos seus produtos e
serviços a partir da cooperação, redução de custos e interação dos processos de
negócios (internos e externos). A GCS acontece tanto na interação das
organizações como internamente às organizações pertencentes à cadeia.
Alguns autores identificaram pressupostos de uma cadeia de suprimentos, por meio
dos quais é possível se verificar como acontece a cadeia em um determinado setor.
A partir desses pressupostos, Alves Filho et al. (2004) acreditam que se possa tirar o
máximo resultado quando se está disposto como uma cadeia. Para esses autores,
convencionou-se denominar a gestão da cadeia de suprimentos como o
conhecimento usado para coordenar atividades das empresas ou unidades
produtivas, que são elos que, dispostos como cadeia, geram bens e serviços.
Segundos esses autores, os principais pressupostos da cadeia de suprimentos são:
• Ambiente competitivo
o A competição deve ocorrer entre as cadeias e não mais entre as empresas
isoladas
• Alinhamento estratégico das organizações
o Os benefícios devem ser distribuídos a todos os integrantes da cadeia. Não
deve haver, na cadeia, empresas vencedoras e empresas perdedoras
o As estratégias competitivas das empresas participantes devem estar
alinhadas
• Estrutura da cadeia
o Os fornecedores devem estar organizados hierarquicamente, com um número
relativamente pequeno de fornecedores em cada nível da cadeia
o As atividades e os processos, mesmo aqueles distribuídos por várias
empresas, devem estar integrados na cadeia de suprimentos
o Os fluxos de materiais, serviços e informações devem ser bidirecionais,
ocorrendo entre todas as empresas pertencentes a cadeia
o Cada empresa, em cada elo da cadeia, deve buscar eficiência operacional,
tendo em vista a otimização das atividades da cadeia como um todo.
• Relações entre as empresas na cadeia
o As relações entre as empresas devem ser cooperativas e de longo prazo
Esses mesmos autores verificaram a existência dos pressupostos aqui descritos na
cadeia automotiva e nem todos foram confirmados (toda a análise poderá ser vista
no próximo capítulo dessa Dissertação).
30
Quais são, então, as vantagens de ser integrante de uma cadeia de suprimentos e
de fazer sua gestão? Segundo Sridharan, Caines e Patterson (2005), o objetivo da
gestão da cadeia de suprimentos é "integrar as várias estruturas e processos da
cadeia de suprimentos, facilitando e coordenando o fluxo de produtos e serviços e o
fluxo de informações necessário para prover o valor que o cliente demanda". Com a
globalização, passou a existir uma vasta alternativa de materiais e serviços para
clientes potenciais. Houve uma mudança nas expectativas dos clientes hoje, eles
valorizam produtos e serviços que estão combinados com vantagens tecnológicas e
informações confiáveis, definindo, assim, uma nova forma de relacionamento. Esses
fatores têm estimulado mudanças na natureza das cadeias de suprimentos das
organizações e têm enfatizado a importância da coordenação e da integração das
atividades da cadeia de suprimentos. Furlanetto (2002) afirma que, "pela ótica dos
custos de transação, a coordenação da cadeia de suprimentos atua no sentido de
diminuir os custos entre os agentes e, por conseqüência, na cadeia como um todo”.
Ele também considera que a dependência de recursos faz com que a GCS seja vista
como uma forma de administrar a interdependência entre as diferentes organizações
ao longo da cadeia visto que, as organizações não têm todo o recurso de que
necessitam se dispostas em cadeia, poderão utilizar todos os recursos como uma
única empresa. Assim sendo, a gestão da cadeia de suprimentos é responsável por
promover a cooperação competitiva entre as organizações, uma vez que essas
passam a competir com organizações de outras cadeias. Para Furlanetto (2002) o
importante é que o gerenciador da cadeia passe a se preocupar em transmitir
informações, promover incentivos e exercer controle sobre os agentes que fazem
parte de sua cadeia de suprimentos, ou seja, que procure coordenar o sistema como
um todo. Para o autor, o gerenciamento da cadeia de suprimentos é o lado
operacional da coordenação da cadeia, enquanto o lado estratégico é a inovação,
que é toda uma nova maneira de as empresas se organizarem para ir ao mercado.
Até o momento, os autores citados neste trabalho enfatizam o ganho em se dispor
como uma cadeia, seja na forma de competir, seja na forma de utilização dos
recursos, seja na forma de gerar bens e serviços e, nesse aspecto, Womack (1992)
afirma que quem define o valor do produto e do serviço é o cliente final, cabendo às
organizações buscar entender essas necessidades, ou seja, a cadeia deve trabalhar
para atender à expectativa do cliente. Todas as organizações da cadeia são
responsáveis pelo incremento do valor final, que deve coincidir com o valor dado ao
31
produto pelo cliente. Segundo Carletti Filho (2005) "o valor agregado pela cadeia é a
diferença entre a receita gerada pelo cliente e o custo total no decorrer da cadeia”.
Portanto, para esse autor, a lucratividade deve ser dividida entre todos os estágios
da cadeia de suprimentos, sendo essa mais uma vantagem da GCS.
Pires (1998) mostra que a competição avançou do escopo empresarial para o
escopo de cadeias de suprimentos, ou seja, cadeias virtuais competindo entre si
para atraírem o cliente final. Pôde, desse modo, concretizar o esforço realizado por
um conjunto de empresas para conquistar a venda final. Assim, segundo esse autor,
o sucesso de uma cadeia de suprimentos é mensurado a partir da lucratividade total
e não mais com base nos lucros de um estágio isolado. As estratégias adotadas na
gestão da cadeia de suprimentos são muito importantes, pois são elas que poderão
definir o retorno do investimento, as vendas e a lucratividade das organizações que
compõem a cadeia. Para que a cadeia tenha o sucesso esperado deve-se avaliar as
relações entre as empresas da cadeia, isto é, integração, partilha de informação e
colaboração (OGDEN et al.,2005).
Como já visto, é possível, a partir da gestão de uma cadeia de suprimentos, se obter
muita vantagem, no entanto, é preciso usar dessa gestão para que cada empresa
cresça dentro da cadeia. Nessa direção, alguns autores fazem algumas colocações,
como Lambert (1998), que diz que "um fator chave para se analisar uma cadeia de
suprimentos é entender explicitamente a configuração dela". Pires (2004) expõe que
o primeiro passo para essa configuração é a definição dos elos da cadeia. Ele
sugere que não há necessidade de se desenhar detalhadamente todos os elos da
cadeia, mas o importante é desenhar como acontece a interação entre as
organizações e a empresa central, ou seja, identificar quem detém a governança.
Carletti Filho (2005) coloca a importância de se conhecer cada estágio esta
vinculada ao projeto da cadeia de suprimentos com foco nas necessidades do
cliente e no papel de cada estágio para atingi-las. O conhecimento de como opera a
cadeia, o entendimento dos elos, ou ao menos dos principais é de suma importância
para que cada organização possa usufruir todas as vantagens para a sua própria
empresa. Todo este conhecimento deve servir para que a empresa seja mais
lucrativa. Carletti Filho (2005) coloca que integrar e gerenciar a cadeia de
suprimentos é também integrar processos, os quais devem focar a lucratividade
final. Tal integração é entendida como colaboração entre estágios compradores e
estágios fornecedores, utilização de sistemas compatíveis, troca de informações
32
comuns e até informações físicas compartilhadas. Significa ir além da análise da
cadeia de valor internamente às empresas, extrapolar os relacionamentos, quais
sejam, fornecedores e clientes.
A integração da cadeia de suprimento é considerada uma ação estratégica, com o
objetivo de minimizar os custos de operação e de agregar valor ao produto ou
serviço na visão dos consumidores, clientes e distribuidores. "O planejamento efetivo
de uma cadeia de suprimentos deve estar baseado em partilha de informações e
confiança entre os atores da cadeia" (KNOW; SUH, 2005). "Partilhar informações
quer dizer, desde dados financeiros até informações estratégicas e é a partir dessa
partilha que a confiança é gerada entre os atores" (BROWERSOX, 2002), fazendo
com que um alto grau de interdependência entre as firmas se crie (La LONDE,
2002). Dessa forma é que nasce o comprometimento das organizações que fazem
parte dessa cadeia. É por meio da confiança e do comprometimento que nascem, na
cadeia, eficiência, produtividade e eficácia (MORGAN; HUNT, 1994). O
comprometimento e a cooperação devem fazer parte das ações para que o sucesso
seja atingido. Conforme Marinho e Amato Neto (2004) para que as empresas
participantes de uma cadeia de suprimentos tenham sucesso, é imprescindível
cuidar para que as parcerias gerem sucesso, isto é, que os acordos estejam
claramente definidos, de forma a estabelecer padrões saudáveis de conversação e
negociação. Esses padrões devem tornar as empresas da cadeia mais competitivas
e colaborativas, oferecendo produtos com menor preço e maior qualidade. Para
esses autores, a cadeia toda deve se comportar como se fossem empresas sócias
estabelecendo um padrão na qual possam predominar os conceitos de cooperação,
transparência, compartilhamento e confiança recíproca. Amato Neto (2005) coloca
que a cadeia de suprimento ou as redes estratégias interorganizacionais são uma
forma de organizar os bens e serviços com o objetivo da melhoria contínua em
relação à competitividade e ainda ressalta que a grande vantagem é a interação da
cadeia de valor para o crescimento da competitividade da empresa. Para Lambert e
Cooper (2002), a chave do sucesso para um bom relacionamento entre as
organizações na cadeia é um alto nível de gerenciamento e interação entre as
organizações. Para as organizações, também deve haver um importante
monitoramento de seus concorrentes. A ênfase para esses autores está no
gerenciamento e controle dos parceiros e na extensão dos benefícios por todas as
parcerias. No entanto, outros autores (LANDRY, 1998; TOLHURST, 2001; BALLOU,
33
2000) consideram que a chave para o bom relacionamento é a confiança. Para
esses autores monitorar e gerenciar as organizações da cadeia deve servir para
aumentar o grau de confiança entre os participantes da cadeia. É preciso que haja
cooperação por toda a cadeia e não deve haver situações em que haja benefícios
para uns em detrimento de outros. Dessa forma, o processo de integração da cadeia
de suprimentos deve prover uma efetiva redução de custos e um aumento do nível
de satisfação do cliente. A fórmula para a integração, no entanto, não é simples, é
necessário que a informação flua, juntamente com as necessidades da logística, e
que haja um robusto e durável arranjo de cooperação entre as partes. É necessário,
para o sucesso da rede, que haja um misto de informação, logística física e alto grau
de colaboração (POWER, 2005).
A gestão da cadeia de suprimentos é bastante importante para o sucesso de cada
organização, pois qualquer agente da cadeia pode fazer sua própria gestão,
analisando as questões externas (governança) e internas (estratégias da empresa),
assim como entendendo a complexidade da cadeia por meio da análise de cada elo
ou ao menos dos principais, e o grau de cooperação entre os agentes. A
complexidade da cadeia evolui à medida que aumenta o número de empresas
participantes e o número de transações entre as organizações (NOVAES, 2001).
O conhecimento da cadeia de suprimentos tem sido fator de obtenção de vantagens
competitivas naquelas organizações que entenderam o seu papel estratégico.
Embora essa Dissertação tenha foco na influência da governança, esse capítulo foi
colocado para enfatizar a importância da GCS, pois, conhecendo a governança por
meio da GCS é possível que cada organização possa criar estratégias para melhorar
os seus próprios resultados.
2.4 Indústria automobilística
Nessa Dissertação todas as vezes que for citado o termo indústria automobilística ou
indústria automotiva, está se fazendo referência a um setor da economia. Dentro
desse setor, estão tanto as montadoras, com seus fornecedores (sistemistas e
fornecedores de primeiro nível) e subcontratados (fornecedores de segundo,
34
terceiro, quarto nível...), chegando até o nível de componentes, matérias-primas e
serviços relacionados ao produto.
Para se estudar a indústria automobilística, requer que seja feito um posicionamento
na situação atual. Segundo alguns autores, a situação no momento exige mudança
na forma de operar. A indústria automobilística tem servido como setor
paradigmático nas questões relacionadas à Administração da produção e à Gestão
da Cadeia de Suprimentos, especialmente com o advento da produção enxuta.
Em cada parte do mundo, há uma situação diferenciada. Na indústria européia
automobilística, por exemplo, segundo Alves Filho et al. (2004), ainda é preciso
estimular certa competição entre os fornecedores, pois dessa forma poder-se-ía
evitar riscos e ineficiência advindos de relacionamentos estritamente cooperativos.
Segundo os mesmos autores, somente 20% das organizações exibem um conjunto
de boas práticas, enquanto 70% estariam em fase de transição, distante do que se
constitui modelo de referência, e o restante ainda não trabalha com boas práticas.
Na indústria americana, Brunnermeier e Martin (2002) estimam que um bilhão de
dólares são gastos anualmente por inoperabilidade nesse setor. Esses custos estão
ao longo de toda a cadeia e podem representar 12% da receita anual de um
fornecedor pequeno. Na indústria brasileira, segundo Alves Filho et al. (2004), o
fornecimento em módulos, sistemas e subconjuntos é uma realidade no setor, os
contratos com os fornecedores são feitos em longo prazo (maiores do 1 ano).
Alves filho (2001) e Sacomano Neto (2004) indicam que as relações entre as
montadoras e os fornecedores variam e dependem das características diferenciadas
dos fornecedores. Sacomano Neto (2004) mostra que o sistema modular estimulou a
redução e a hierarquização dos fornecedores de autopeças participantes da cadeia.
Segundo a pesquisa de Alves Filho et al. (2004), os benefícios são compartilhados
entre os atores participantes em função da assimetria de poder entre as montadoras
e as autopeças. A assimetria de poder é mitigada nos casos das relações entre as
montadoras e os fornecedores de sistemas e módulos que ocupam posição
privilegiada na estrutura da rede e que assim ampliam sua capacidade de
negociação. Os modulistas, porém, também estão sujeitos a diversas formas de
controle altamente institucionalizadas. Para os autores, seja na Europa, seja nos
EUA, seja no Brasil, a indústria automobilística indica que as possibilidades de
alinhamento estratégico e de propensão a posturas de repartição equânime dos
ganhos são limitadas. No caso específico do Brasil, as empresas de menor porte,
35
em geral, ficam sob controle das montadoras, não pode afirmar que as relações
sejam cooperativas e simétricas, a assimetria de poder é o que marca essas
relações.
Como se pode verificar, na indústria automotiva mundial, ou se tem excesso de
cooperação, de forma a não se obter toda evolução desejada ou se tem assimetria
nos ganhos, o que se manifesta de modo tão acentuado que gera a falta de
cooperação, ou, cooperação insuficiente para se operar em redes e obter as
vantagens dessa configuração.
Apesar da situação descrita acima, a indústria automobilística tem uma história de
mais de cem anos e, não obstante todos os problemas, é considerada ainda hoje a
indústria mais representativa no mundo sob vários aspectos, em especial o
econômico. Conforme Pires (2004), cerca de 10% de todo o comércio mundial
ocorrem dentro do âmbito da indústria automobilística. Por seu pioneirismo e nível
de competitividade, ela se posicionou à frente em termos de inovações tecnológicas
e gerenciais e assim logo se tornou um referencial para o mundo industrial como um
todo. No tocante à gestão da cadeia de suprimentos, isso não tem sido diferente, ou
seja, sob diversos aspectos, a indústria automobilística se desenvolveu e se
posicionou na vanguarda em várias inovações introduzidas nos últimos anos.
Nem tudo, entretanto, é profícuo: como uma indústria considerada madura, nos
últimos anos a indústria automobilística tem presenciado uma competição em escala
global e com mercados altamente competitivos. No âmbito mundial, segundo Pires
(2004), ela tem sido desafiada a enfrentar questões como:
• A forte pressão por redução de preços, por redução dos prazos de entrega,
por melhor qualidade, por melhor atendimento ao cliente em geral e por veículos
ecologicamente corretos;
• A rápida mudança de critérios diferenciadores para critérios qualificadores à
competição (just in time para just in sequence);
• A significativa redução do ciclo de vida dos produtos e a rápida introdução de
novos produtos, com redução do tempo de venda e dos custos de desenvolvimento;
• As pressões de novos mercados, tanto em termos geográficos como em
termos de novos produtos;
• O estreitamento das relações e a intensificação dos canais de comunicação
nas cadeias de suprimento em geral.
36
Entretanto, essas e eventualmente outras questões também podem ser
consideradas como potenciais oportunidades a serem exploradas pelas empresas e
a cadeia de suprimentos do setor. Segundo Pires (2004), porém, o cenário se mostra
mais complexo quando consideramos a existência de um nível de ociosidade em
torno de 30% no âmbito mundial. Se, ainda segundo o mesmo autor, considerarmos
que a produção mundial foi em torno de 58,2 mil veículos em 2000 e 55,7 mil em
2001, poderemos perceber o tamanho da ociosidade. Segundo o Anuário da
Indústria Automobilística Brasileira - ANFAVEA (2006) a produção mundial segue
conforme quadro 2.4.
Ano Produção Mundial (M)
2002 58,9 2003 60,6 2004 64,2
Quadro 2.4 – Fonte: Produção mundial Anuário da Indústria Automobilística Brasileira (2006)
Embora tenha havido um crescimento da produção mundial, ainda é possível se
verificar uma ociosidade na cadeia mesmo quando se compara o número de
habitantes por veículo. No Brasil ainda são oito habitantes por autoveículo
(ANFAVEA, 2006).
No âmbito global, podemos também destacar alguns pontos da realidade atual das
montadoras e de seus fornecedores, em especial dos da primeira camada, conforme
se segue:
Montadoras
• Busca de simplificação dos processos e melhoria na eficiência e eficácia da
cadeia de suprimentos;
• Racionalização e diminuição da base de fornecedores diretos;
• Outsourcing de parte de seu território tradicional;
• Definição de um novo conjunto de necessidades a serem atendidas pelos
fornecedores, tais como global sourcing, follow sourcing, fornecimento de sistema e
módulos em regimes just in sequence e participação no desenvolvimento de novos
produtos.
Autopeças
• Atendimento a um conjunto crescente de necessidades requeridas pelas
montadoras, exposto anteriormente;
37
• Competição em escala global e forte pressão por preços, qualidade, prazos e
atendimento em geral;
• Reestruturação e redução no número de empresas, com significativo volume
de fusões e aquisições;
• Redefinição do escopo de atuação (core business) e concentração dos
esforços nele, em virtude principalmente do acirramento da competição e do
crescente aumento de gastos com pesquisa e desenvolvimento.
O setor automotivo vem sendo vetor de inovações tecnológicas para muitos outros
setores da economia brasileira. Por exemplo, muitas empresas fornecedoras de
autopeças apresentaram durante algum tempo níveis de capacitação tecnológica
compatíveis com os encontrados em empresas estrangeiras que atuavam no mesmo
ramo.
A questão que ora se coloca é se, em um contexto de maior inserção do país na
economia mundial e de forte internacionalização da cadeia automobilística, essas
características podem permanecer presentes. "É o momento de avaliar a
possibilidade de o Brasil configurar-se como pólo de excelência automobilístico e, a
partir disso, estabelecer políticas que facilitem o caminho nessa direção" (SALERNO
et al., 2003).
No entanto, apesar de todo o investimento que foi feito no Brasil pelo setor
automotivo, na atualização tecnológica e na construção de novas e inovadoras
plantas, o aumento da oferta produtiva (3,2 milhões de veículos) não foi
acompanhado pela demanda. Nos últimos três anos, o volume de produção tem
girado com 50% de ociosidade, isso quer dizer que hoje o Brasil tem
aproximadamente 3% da produção mundial, ocupando a nona colocação mundial,
conforme os quadros 2.5 (PIRES, 2004) e 2.6 (ANFAVEA, 2006).
Colocação 2002 Percentual País 1 20,5 EUA 2 17,5 Japão 3 10,2 Alemanha 4 6,5 França 5 5,3 Coréia do Sul 6 5,1 Espanha 7 4,5 Canadá 8 4,2 China 9 3,0 Brasil
Quadro 2.5 – Colocação mundial da produção de veículos (PIRES, 2004).
38
Colocação 2004 Percentual País 1 18,5 EUA 2 16,3 Japão 3 8,5 Alemanha 4 7,7 China 5 5,6 França 6 5,2 Coréia do Sul 7 4,6 Espanha 8 4,2 Canadá 9 3,5 Brasil
Quadro 2.6 – Colocação mundial da produção de veículos (ANFAVEA, 2006)
Numa análise geral, a competitividade na indústria automobilística no Brasil continua
tendo, majoritariamente, o preço como critério ganhador de pedido e a qualidade
como critério qualificador durante o processo de homologação de fornecedores.
A situação da ociosidade pode ser explicada pelo fato de o Brasil ter a grande
maioria da população com renda per capita inferior à necessária para a compra de
um carro, mesmo sendo o carro brasileiro um dos mais baratos do mundo (PIRES,
2004). Embora a situação seja preocupante, os investimentos feitos no Brasil
trouxeram inovações principalmente “no contexto da GCS e da transformação de
custos fixos em varáveis por parte das montadoras” por meio do consórcio modular e
do consórcio industrial (PIRES, 2004).
Outro problema encontrado no setor automotivo é a forma como a modernidade e a
capacitação tecnológica chega aos fornecedores das diversas camadas (segundo,
terceiro, quarto nível...). Lima (2004) enfatiza que a evolução da cadeia não ocorre
na mesma intensidade nem no mesmo ciclo temporal em todas as empresas de
todos os níveis devido às baixas escalas de produção que inibem os investimentos
da cadeia.
Independentemente da situação atual, porém, Furlanetto (2002) conclui que o setor
automotivo está disposto em redes de fornecedores, com as montadoras tendo
responsabilidade pelas etapas de concepção e desenvolvimento do veículo e pelo
planejamento e montagem final dos sistemas entregues. Para esse autor, o poder
percorre os níveis da cadeia de suprimento de cima para baixo, ou seja, quem tem
mais poder é a montadora, depois o primeiro nível, o segundo e assim
sucessivamente. Somente existe uma exceção, os fornecedores de aço, que têm
tanto poder quanto as montadoras.
39
Os fornecedores e as montadoras precisam ter estratégias voltadas para a formação
de parceria e troca de informações de forma a obterem vantagens no mínimo de
custo, na qualidade e na pontualidade de entrega (CASTRO, 2005).
Muitos autores reconhecem que a governança da cadeia automotiva está na mão
das montadoras e devido às assimetrias, os ganhos também são assimétricos. Para
Alves Filho et al. (2004), as montadoras procuram exercer um papel de coordenação
na cadeia e o mesmo pode ser dito sobre alguns dos seus principais fornecedores
multinacionais e isso tende a ser para essas organizações, vantajoso. A
coordenação direta da montadora sobre sua cadeia, embora se estenda em algumas
vezes, até os fornecedores de segundo nível e seja reforçada por mecanismos de
coordenação indireta, como no caso de certificação de normas de qualidade, é
limitada em razão de três fatores. Primeiro, pela estrutura da cadeia, pois, logo no
primeiro nível de fornecedores, estarão fornecedores fortes que atendem a
determinadas montadoras e exercem certo controle sobre seus próprios
fornecedores. Além disso, em estruturas com fornecedores do primeiro nível não-
exclusivos, o compartilhamento das atividades tecnológicas é também limitado.
Segundo, porque muitos dos fornecedores de segundo nível produzem
componentes para outros setores econômicos em que pese a importância do setor
automobilístico. Terceiro, porque nos de terceiro e quarto nível estão posicionadas
empresas multinacionais fornecedoras de matéria-prima em setores oligopolizados,
com grande poder de barganha a jusante e menos propensas à adoção de práticas
orientadas pelo modelo da produção enxuta.
Ao se verificar toda a questão de poder da montadora sobre os níveis de
fornecimento e analisando os pressupostos de uma cadeia de suprimentos, já
identificados no capítulo anterior desse trabalho, versus a cadeia automotiva, Alves
Filho et al. (2004) concluiu que:
• A competição entre as cadeias não acontece de forma integral;
• Os ganhos são distribuídos entre as organizações da cadeia conforme a
distribuição do poder, a estrutura e as relações estabelecidas;
• Os papéis das organizações da cadeia dependem do poder de coordenação
de cada uma delas;
• A interação das organizações depende do grau de cooperação existente.
40
2.5 Sistemistas, fornecedores e subfornecedores
Nesta dissertação chamaremos de sistemistas ou fornecedores de primeiro nível
aquelas empresas que vendem diretamente para as montadoras de veículos e de
subfornecedores ou fornecedores de segundo nível as empresas que fornecem para
os sistemistas ou para fornecedores de primeiro nível. Os fornecedores de terceiro
nível são empresas que fornecem para os fornecedores de segundo nível e assim as
camadas são dispostas na cadeia. Na figura 2.2, está um modelo simplificado da
cadeia de suprimentos automotiva.
Figura 2.2. Cadeia de suprimento na indústria automotiva por Salerno; Marx; Zilbovicius (2002, p.59) A indústria de autopeças também viveu inovações ao longo do tempo, afinal o
relacionamento mais intenso acontece na camada montadora/ fornecedores de
primeiro nível. Segundo Castro (2005), há menor integração e sincronização entre
clientes e fornecedores de primeiro e segundo nível do que entre os de primeiro
nível e as montadoras. Nas outras camadas, a sincronização e a interação são cada
vez menores.
Zilber (1996) classifica a indústria de autopeças em fases:
• 50-62 – Criação de inúmeras indústrias de autopeças;
• 62-64 – Primeira grande crise do setor;
• 65-67 – Crescimento e expansão do setor;
• 68-74 - Intensa inovação, aumento de participação e investimento em P&D;
MONTADORA
Fornecedores de módulos, subconjuntos e sistemas.(sistemistas)
Fornecedores de componentes
Fornecedores de matéria-prima
Mercado de Reposição
Fornecedor
Fornecedores de matéria-prima
Fornecedores de componentes
Fornecedores de módulos, subconjuntos e sistemas
Fornecedores de componentes
Fornecedores de matéria-prima
Fornecedores de componentes
Fornecedores de matéria-prima
41
• 74-80 – Crise mundial do petróleo, desaceleração do setor, avanço japonês e
verticalização dos fornecedores para a montadora;
• 80-90 – Recessão econômica mundial, grandes empresas de autopeças
procuram aumentar seus mercados (mercado de reposição e exportação);
• 90 em diante – Abertura de mercado e globalização, em que a
competitividade e a necessidade de produtos de maior qualidade aumentam a
cada dia.
Miranda (1995) concentrou uma pesquisa na relação de desempenho entre os
fornecedores da indústria automobilística e práticas de gestão. A autora entrevistou
dez fornecedores da cadeia, sendo três do primeiro nível, três do segundo nível e
quatro do terceiro nível. Dentre suas conclusões, pode-se destacar que:
• Em geral, a maior preocupação está concentrada na satisfação do cliente
imediato e na relação com o fornecedor imediato;
• As relações de entrega indicam que os fornecedores de primeiro nível se
preocupam mais com o prazo e o preço, os do segundo nível, em demonstrar
qualidade e capacidade de trabalho em equipe, e os de terceiro nível em,
desenvolvimento de produtos e materiais;
• Preocupação com o custo de manutenção, de estoques (visando à redução);
• A cadeia apresenta certa fragilidade, uma vez que o nível 1 parece possuir
um bom relacionamento com o nível 2, porém, isso não se repete com os
níveis 2 e 3, o que sustenta a hipótese de perda de coordenação entre os
elos mais distantes.
Roldan e Miyake (2003) fazem uma nova pesquisa com nove empresas dos três
níveis de fornecimento e concluem que:
• Há bom nível de relacionamento entre fornecedores e clientes, buscando
estabelecer contratos duradouros, mas a relação entre os elos se mostrou em
desequilíbrio no poder de governança, favorecendo o elo mais forte;
• Quanto às estratégias de entrega, os fornecedores demonstram tendência em
oferecer flexibilidade a seus clientes, porém, à custa de manter alto nível de
estoque, tanto do produto acabado quanto de matéria-prima, buscando um
atendimento flexível e ágil por meio de estoques, em vez de operações
flexíveis;
42
• Grande variação de demanda e pouca troca de informações entre os elos, o
que indica fraca aderência às práticas de lean production.
Nessa Dissertação, se pretende avaliar principalmente a governança ao longo da
cadeia, enfatizando os níveis 1 e 2. Na pesquisa de Roldan e Miyake (2003), os
resultados foram classificados de forma geral, ou seja , avaliando as atitudes e
tendências dos fornecedores sem a preocupação quanto à diferença dos níveis. Na
Dissertação que aqui se apresenta, um dos objetivos é mostrar que podem existir
diferenças nos níveis de fornecimento da cadeia quanto à influência da governança
e verificar se isso pode fazer diferença na gestão da própria cadeia. No próximo
capítulo, será identificado o método mais apropriado para fazer esse estudo.
43
CAPÍTULO 3 - MÉTODO
Esse capítulo tem como objetivo apresentar o método de pesquisa e coleta de dados
que pode ser aplicado a essa dissertação, as questões de pesquisa, as justificativas
para a escolha do método e o instrumento de coleta de dados (questionário).
3.1 O método de pesquisa e de coleta de dados
Segundo Ghauri; Gronhaug; Kristianlund (1995), o processo científico de pesquisa
tem como partida a definição de um problema a ser estudado, após a identificação
desse problema, é ele quem vai influenciar todas as etapas do processo de
desenvolvimento de pesquisa científica, que são: o método a ser usado, o
arcabouço teórico que ajudará a estudar o problema, a forma de amostragem, a
coleta de dados, a análise de dados e as recomendações. Em geral, esses autores
afirmam que os pesquisadores devem ter a habilidade de responder a duas
questões aparentemente simples. São elas:
. Qual é o problema;
. Como ele deve ser resolvido?
Nakano e Fleury (1996) apresentam uma distinção entre os principais métodos
existentes na Engenharia de Produção, separando-os em dois grupos: a pesquisa
quantitativa e a pesquisa qualitativa. Os autores colocam que os métodos
quantitativos se caracterizam pela busca da solução de um problema por meio de
um aspecto da realidade. São métodos que possuem um rigor metodológico com
hipóteses fortes e que incluem conceitos que possam ser medidos, além de gerarem
conclusões que permitam generalizações e replicação de resultados. Já os métodos
qualitativos, segundo esses mesmos autores, são métodos interpretativos, que
analisam os aspectos ligados às pessoas que são objetos de pesquisa, à
observação dos fatos do ponto de vista de alguém interno ao problema e à
compreensão profunda do contexto da situação estudada. As hipóteses não são tão
fortes como nos métodos quantitativos e o rigor metodológico é menor.
44
Segundo Brymann (1989) existe uma distinção entre métodos de pesquisa e
métodos de coleta de dados. De acordo com esse autor, os métodos de pesquisa
são:
1.Pesquisa experimental: usada em pesquisa de laboratório ou de campo, aplicadas
em situações mantidas sob controle, com o objetivo de estabelecer relações de
causa e efeito entre variáveis. Há intervenção do pesquisador.
2.Pesquisa de levantamento: tem o objetivo de examinar padrões de relacionamento
entre variáveis, obtidos por meio de entrevista e questionário. Não há intervenção do
pesquisador.
3. Pesquisa qualitativa pura: a ênfase está nas interpretações dos indivíduos sobre o
ambiente e sobre o seu comportamento e de outros. A apresentação de dados tende
a ser sensível quanto ao que as pessoas dizem e como elas agem.
4.Pesquisa de estudo de caso: trata-se de uma variação qualitativa, por meio de um
ou poucos casos. A unidade de análise é normalmente a organização.
5. Pesquisa-ação: o pesquisador é envolvido na solução de um problema real,
juntamente com outros membros da organização. O pesquisador recomenda certas
ações e observa o impacto dessas ações sobre a empresa.
Segundo Yin (1994), a seleção do método de pesquisa depende do tipo de pesquisa
proposta, do controle do pesquisador sobre o evento e do foco nos acontecimentos.
Dessa forma, Yin (1994) criou o quadro 3.1, no qual apresenta a relação entre os
métodos de pesquisa e alguns critérios de escolha.
Método de pesquisa Questões Típicas Requer controle sobre o comportamento dos eventos?
Focado em eventos contemporâneos?
Pesquisa experimental Como? Por quê? Sim Sim Pesquisa de levantamento
Quem? O quê? Onde? Quanto?
Não Sim
Análise de arquivos Quem? O quê? Onde? Quanto?
Não Sim/Não
Pesquisa histórica Como? Por quê? Não Não Pesquisa qualitativa/ estudo de caso
Como? Por quê? Não Sim
Quadro 3.1 – Métodos de pesquisa e critérios de seleção (baseado em Yin,1994).
Quanto ao método de coleta de dados, Brymann (1989) propõe os seguintes:
1. Questionário auto-administrado ou surveys: conjunto de questões respondidas
livremente pelo interrogado, sem entrevista.
45
2. Entrevista estruturada: questões específicas, elaboradas de modo preciso e
apresentadas por meio de um entrevistador.
3. Observação como participante: o pesquisador coleta observações ao tomar parte
em determinado contexto organizacional.
4. Entrevista não-estruturada: entrevista conduzida de modo informal, permitindo
grande variação de respostas por não haver perguntas predeterminadas.
5. Observação estruturada: o pesquisador coleta informações segundo um plano
predefinido, sem participar muito da rotina da organização.
6. Simulação: pede-se que os indivíduos que simulem o comportamento da vida real,
a fim de observar suas reações em diversas situações.
7. Informações de arquivos: não se caracteriza como um método de coleta de dados,
mas de uma fonte de dados, no qual o pesquisador utiliza material prexistente para a
realização da análise.
Embora os métodos de pesquisa tenham sido apresentados separadamente dos
métodos de coleta, existe uma correlação ente eles. Segundo Brymann (1989), as
pesquisas de levantamento estão associadas a entrevistas estruturadas e a
questionários auto-administrados, enquanto as pesquisas qualitativas puras são
vinculadas à observação como participante ou as entrevistas não estruturadas, e os
estudos de caso e a pesquisa-ação podem estar associados a diversos métodos de
coleta de dados.
3.2 Questões de pesquisa
Nessa Dissertação, como citado em capítulo anterior, aquilo a que se quer
responder é:
• Como a governança da cadeia de fornecimento automotiva influencia os
fornecedores de primeiro e segundo níveis dessa cadeia no que diz respeito a
vantagens competitivas e aumento de lucratividade?
46
3.3 Justificativas para a escolha do método
Avaliando a questão de pesquisa à que se deseja responder com essa Dissertação,
pode-se identificar que a medição está focada em aspectos relacionados às
pessoas, de forma a se ter um observador dos fatos externo ao problema, para
interpretá-lo e analisá-lo.
Dentro da questão de pesquisa apresentada, não existem hipóteses fortemente
fundamentadas, isto é, as variáveis a serem pesquisadas não estão claramente
determinadas, elas devem surgir durante a pesquisa e devem estar associadas à
própria questão de pesquisa. Logo, a apresentação dos dados tende a ser sensível
ao que os entrevistados dizem.
A questão de pesquisa está relacionada ao Como? e isso demonstra a necessidade
de uma pesquisa qualitativa. Segundo Yin (1994), quadro 3.1 já apresentado
anteriormente, quando as questões de pesquisa estão relacionadas à pergunta
Como?, não requerem controle sobre o comportamento dos eventos se esse está
focado em um comportamento contemporâneo a indicação é de pesquisa qualitativa/
estudo de caso.
A escolha para esta Dissertação foi o estudo de caso. Dentro do estudo de caso
pode-se optar por estudo de caso único ou múltiplo. Como o objetivo é estudar a
governança dentro de uma cadeia de suprimentos que contém muitas organizações,
a opção foi fazer o estudo de caso múltiplo, de forma a estudar organizações
dispersas pelo primeiro e segundo nível da cadeia, partindo do princípio que nesses
dois níveis a governança da cadeia automotiva possa ser mais forte, levando em
consideração o que está na literatura pesquisada, isto é, que quem detém a
governança é a montadora.
Foram escolhidas quatro organizações situadas no nível um da cadeia, quatro
organizações do nível dois da cadeia e uma montadora, totalizando nove estudos de
casos que podem ser relacionados entre si, pois as organizações respondem pelo
seu próprio nível e pela percepção da montadora e do outro nível que está sendo
pesquisado.
Os casos escolhidos se mostraram suficientes para responder à questão de
pesquisa, validar a situação da cadeia nos níveis 1 e 2 e permitir a interpretação e
análise do observador.
47
Assim, esse trabalho adota dois procedimentos metodológicos:
• Pesquisa bibliográfica, que consiste em identificar, na literatura, os conceitos,
princípios e pressupostos do modelo teórico a fim de construir uma
fundamentação para a pesquisa em campo;
• Pesquisa de campo, que permite, por meio de estudos de caso, responder às
questões formuladas nesse trabalho.
A escolha das organizações foi feita por meio de uma lista de fornecedores de
primeiro e segundo nível da cadeia automotiva brasileira, sendo que os fornecedores
de primeiro nível escolhidos fornecem a pelo menos uma montadora em comum.
Quanto aos de segundo nível não há uma correlação de fornecimento com as
empresas entrevistadas de primeiro nível ou com a montadora. O objetivo disso é
não focar apenas na forma de agir de uma montadora, mas, poder avaliar a cadeia
como um todo.
3.4 Instrumento de coleta de dados
Para a coleta dos dados, é importante considerar questões de pesquisa
estabelecidas que devem servir como roteiro a fim de auxiliar o observador a não se
desviar do assunto, que também possibilitem aos entrevistados trazerem dados
adicionais que podem ser incluídos na pesquisa permitindo uma melhor
interpretação e análise dos resultados.
A entrevista deve ser pessoal, in loco, pois alguns conceitos dessa pesquisa são
relativamente novos e precisam ser esclarecidos antes da resposta ao questionário.
A presença do observador facilita a interpretação das questões e permite que a
entrevista não seja superficial, isto é, ela poderá ter a profundidade que o
observador entender como a mais apropriada e que a organização permitir.
Então, como método de coleta foi usada a entrevista semi-estruturada.
A pesquisa foi feita, in loco, com a direção ou a gerência das companhias, nas áreas
relacionadas à estratégia da empresa, pois são essas funções que identificam
oportunidades e ameaças assim como fraquezas e forças de cada organização.
Dependendo do tamanho das organizações pesquisadas, os cargos podem variar
desde a presidência da empresa até gerência da qualidade. Foi feita uma entrevista
48
com cada empresa com o representante do principal cargo relacionado a estratégia
da organização. Foram entrevistadas quatro companhias do primeiro nível de
fornecimento e quatro do segundo nível, o número de companhias foi suficiente para
a validação dos resultados, visto que houve uma convergência de opiniões e ações
estratégicas. Uma montadora também foi entrevistada com o objetivo de validar a
relação e os resultados da cadeia. Desta forma foi possível avaliar a governança ao
longo da cadeia de suprimento automotiva.
A análise e a interpretação dos dados foram feitas por organização por nível de
fornecimento e, depois para a conclusão final todos os níveis foram avaliados
conjuntamente a fim de poder responder à questão de pesquisa com foco na cadeia
automotiva brasileira como um todo.
Na análise dos resultados, não foi usado o método de tabulação de respostas, pois
com uma pesquisa semi-estruturada foi possível usar o questionário apenas como
uma referência e muitas informações foram obtidas a partir da entrevista, logo para
uma melhor descrição dos resultados, foi feita a opção do texto corrido, conforme
capítulo 4.
Foi elaborado um roteiro para entrevista, o qual foi testado em uma pesquisa
exploratória, conforme descrito no próximo capítulo.
49
CAPÍTULO 4 - APLICAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO
4.1 A pesquisa exploratória
Foi feita uma pesquisa exploratória com um fornecedor do segundo nível para se
verificar se existia alguma influência da governança nesse tipo de fornecedor, isto é,
se o tema a ser estudado era apropriado. No início do trabalho, pensava-se em
estudar apenas esse nível da cadeia, entendendo que talvez a governança nele
fosse diferente daquela exercida sobre o fornecedor de primeiro nível, visto que,
normalmente esse, o segundo nível da cadeia fornece a muitos setores industriais.
Para essa pesquisa, um questionário foi criado com o objetivo de ser utilizado na
pesquisa de campo da Dissertação, então a pesquisa exploratória também serviu
para testar esse questionário.
O questionário foi aplicado a um fornecedor de segundo nível, de etiquetas
automotivas, o qual foi escolhido aleatoriamente de uma lista de subfornecedores da
cadeia automotiva brasileira.
O gerente da qualidade da organização, respondeu, via eletrônica, ao questionário,
que depois de recebido e analisado, teve algumas dúvidas respondidas por telefone.
O resultado da pesquisa foi que, para essa organização, a governança da cadeia é a
montadora e que, mesmo fornecendo para outros setores industriais, essa
organização percebe muita influência da montadora em seu próprio negócio.
Foi possível identificar que existem influências positivas e negativas, sendo as
positivas, principalmente, o fortalecimento dos desenvolvimentos de produtos com o
uso de ferramentas específicas como Planejamento Avançado da Qualidade do
Produto (APQP), Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos (FMEA), Planos de
controle, Plano de validação de projeto (DVP&R) dentre outras e o atendimento a
ISO 9001:2000 ou a ISO TS 16949:2002, que trouxe ganhos à organização. Ganhos
esses medidos pelo aumento do faturamento em outros setores, por meio da
aplicação das técnicas aprendidas no setor automotivo. Isso permitiu a exportação
para os mercados europeu e chinês. Ao aplicarem as técnicas e ferramentas
aprendidas para atender ao setor automotivo em outros setores, como o eletro-
50
eletrônico, e a telefonia dentre outros, a organização se coloca em uma posição
mais competitiva, oferecendo produtos de maior qualidade e a custos justos.
As influências negativas identificadas por essa organização estão focadas na
demanda limitada (baixo volume), com constante redução de preços e muitas
exigências relacionadas às especificações de produtos.
A governança também pode ser identificada no desdobramento do planejamento
estratégico feito por meio de indicadores específicos. Os indicadores de qualidade e
atendimento no prazo estão demonstrando uma tendência positiva a caminho das
metas estabelecidas. Esses indicadores demonstram a influência positiva, pois se
um desenvolvimento tornar-se mais robusto os indicadores de qualidade e prazo de
entrega devem melhorar continuamente. Com relação aos indicadores de preço, eles
estão ligados à influência negativa, pois é solicitado pela montadora a redução de
custo. No entanto, o mercado nacional oferece baixo volume de compra, sem uma
ferramenta específica e robusta de melhoria contínua, e assim os resultados não
podem estar adequados aos objetivos da organização.
Foi detectado que, nessa organização pesquisada há uma fragilidade em
implementar programas como seis sigma ou lean manufacturing, que são
recomendações da montadora, logo as reduções de custo pedidas afetam
diretamente a lucratividade da organização.
Quanto ao mercado externo, o preço exercido por essa organização ainda é
bastante competitivo.
Durante a análise das respostas do questionário aplicado, foi possível observar que
o entrevistado não havia parado para pensar de forma estratégica sobre o assunto
governança e que poderiam surgir oportunidades por meio dessa análise. Somente
responder ao questionário, porém, não foi suficiente para que o entrevistado
definisse a forma de medir a influência efetiva da governança da cadeia automotiva.
Logo, o assunto mostrou-se apropriado e interessante para a cadeia automotiva,
principalmente nos fornecedores de segundo nível, nos quais a pesquisa foi
aplicada.
Quanto ao roteiro aplicado, foram identificadas algumas alterações para melhorar
sua aplicabilidade.
Primeiramente, foi identificado que deveria haver entrevista para mais de um nível
da cadeia, pelo menos primeiro e segundo nível e a montadora, pois, quando da
51
aplicação do roteiro na pesquisa exploratória ficou a impressão de que nos níveis
anteriores a influência poderia ser entendida de outra forma.
O roteiro foi revisado para ser aplicado aos níveis um e dois da cadeia e foi criado
um outro roteiro para a montadora. Foi elaborado um novo roteiro para a montadora,
pois durante a entrevista com a montadora deve-se entender a influência da
montadora sobre os níveis da cadeia e não sobre a própria montadora. Pela
pesquisa exploratória, foi predeterminado que quem detém a governança da cadeia
automotiva é a montadora, o que está alinhado com que está escrito em capítulo
específico do referencial teórico dessa Dissertação. No entanto, na revisão do roteiro
foi mantida a questão sobre quem governa a cadeia de suprimentos automotiva,
para que possa ser realmente validada na pesquisa de campo.
Outros pontos do roteiro foram alterados, são eles:
1. Abertura das questões, possibilitando que outros dados, além dos que espera ou
enxerga o entrevistador, sejam colocados;
2. As questões foram focadas em governança e gestão da cadeia de suprimentos,
direcionando todo o questionário para a questão de pesquisa;
3. Foram colocadas e revisadas questões com o objetivo de provocar no
entrevistado um momento de questionamento quanto às estratégias de sua
organização;
4. Foram colocadas questões relacionadas à governança da cadeia automotiva em
outros mercados.
O roteiro/questionário usado para a pesquisa exploratória e os roteiros usados para
a pesquisa em campo estão anexados ao final desse trabalho.
Após a aplicação da pesquisa exploratória e revisão do questionário fica validado o
método de coleta por entrevista semi estruturada, in loco, com o uso de questionário
específico como roteiro da entrevista.
4.2 O resultado da pesquisa em campo
O objetivo desse capítulo é apresentar as empresas entrevistadas, os resultados
obtidos em cada nível da cadeia e uma análise geral dos resultados na cadeia de
suprimento automotiva.
52
4.2.1 Fornecedores de primeiro nível
Foram entrevistadas quatro empresas que ocupam a posição de fornecedor de
primeiro nível, na maior parte do tempo enquanto fornecedoras do setor automotivo.
É muito comum na cadeia de suprimentos automotiva que não haja fornecedores
exclusivos de um único nível, isto é, no caso específico de fornecedores de primeiro
nível, pois há uma troca de posições com o objetivo de usar as organizações que já
estão desenvolvidas na cadeia. Então, muitos fornecedores de primeiro nível
procuram seus fornecedores na própria cadeia de suprimentos automotiva.
Nesse trabalho, as organizações entrevistadas serão chamadas de organização 1,
2, 3 e 4.
4.2.2 O perfil de cada empresa entrevistada de primeiro nível
A organização 1 tem 140 funcionários, é uma empresa nacional com 61 anos de
vida, cuja área de atuação é fabricação e venda de peças técnicas injetadas em
plástico. No seu faturamento, 98% é focado para o atendimento da indústria
automotiva, sendo que em 71% do faturamento ela se coloca no primeiro nível de
fornecimento e no restante, no segundo nível. Não atua diretamente no mercado de
reposição nem exporta. O atendimento ao mercado de reposição e externo se dá
indiretamente pela montadora por meio de veículos e peças de serviço. É uma
empresa certificada ISO 9001:2000, ISO TS 16949:2002, ISO 14001, OHSAS 18001
e Q1 FORD. Seus principais clientes são: VW, Ford, Faurecia, Valeo e Jonhson
Controls. Seus principais fornecedores são: Dacarto, Basel, Dupont, GE e
Macroplast. A empresa não possui dependência de trajetória e a entrevista foi feita
com o diretor presidente.
A organização 2 tem 390 funcionários, é uma empresa brasileira com 46 anos, atua
na área de fabricação de elementos de fixação para a indústria automobilística. Ela
53
tem 75% de seu faturamento como primeiro nível de fornecimento e 25% como
segundo nível. Embora não tenha dependência de trajetória, ela atua somente no
mercado automotivo. É uma organização que exporta 5% de seu faturamento e atua
no mercado de reposição com 1% do seu faturamento. A organização possui as
seguintes certificações: ISO 9001:2000, ISO TS 16949:2002, ISO 14001 e Q1
FORD. Os principais clientes são VW, GM, Daimler Chrysler, Caterpillar, Volvo e
Ford. Os principais fornecedores são Prosdac, Trateme, Maxitrate e Nylok. A
entrevista foi feita com o gerente da qualidade.
A organização 3 tem 800 funcionários, sua área de atuação é autopeças. É uma
empresa brasileira com 50 anos de vida, atua somente no primeiro nível de
fornecimento e tem dependência de trajetória. Do seu faturamento 30% pertencem
ao mercado de reposição e 30% é do mercado externo, sendo que as exportações
acontecem para os Estados Unidos da América e para mais de sessenta países por
intermédio de distribuidores próprios pelo mundo todo. Essa organização tem as
seguintes certificações: ISO 9001:2000, ISO TS 16949:2002, ISO 14001, OHSAS
18001 e Q1 FORD. Seus principais clientes são VW, Fiat, Ford, GM, Scania, Renault
e Peugeot. Seus principais fornecedores são ARMCO, BASF, Cia Mineira e ITW. A
entrevista foi feita com o gerente da qualidade.
A organização 4 tem 1100 funcionários, atua na área de eletromecânica e eletrônica,
tem dependência de trajetória com a cadeia automotiva e fornece nessa cadeia 90%
como fornecedor de primeiro nível e 10% como fornecedor de segundo nível. Do seu
faturamento 8% vêm da exportação e 10%, do mercado de reposição. É uma
empresa alemã que está a 27 anos no país. A organização tem as seguintes
certificações: ISO TS 16949:2002 e ISO 14001. Seus principais clientes são: Brose,
Daimler Chrysler, Delphi, Fiat, Ford, GM, Honda, Yamaha e VW. Seus principais
fornecedores são: Amplicabos, Freescale, Tyco, Ingecom, Arteb e Panasonic. A
entrevista foi feita com o diretor da qualidade.
54
Em resumo:
Organização 1 Organização 2 Organização 3 Organização 4 N. de funcionários 140 390 800 1100 Origem Nacional com 61
anos Nacional com 46 anos
Nacional com 50 anos
Alemã com 27 anos no país
Produto Peças técnicas injetadas em plástico
Elementos de fixação para a indústria automotiva
Autopeças Autopeças
% Faturamento focado na Ind. Automotiva
98% 100% 100% 100%
% Faturamento como tier 1
71% 75% 100% 90%
Mercado de reposição
Não 1% do faturamento 30% 10%
Exportação Não 5% do faturamento 30% 8% Certificações ISO 9001:2000,
ISO TS 16949:2002, ISO 14001, OHSAS 18001 e Q1 FORD
ISO 9001:2000, ISO TS 16949:2002, ISO 14001 e Q1 FORD
ISO 9001:2000, ISO TS 16949:2002, ISO 14001, OHSAS 18001 e Q1 FORD
ISO TS 16949:2002 e ISO 14001
Dependência de trajetória
Não Não Sim Sim
Entrevistado Diretor Presidente Gerente da qualidade
Gerente da qualidade
Diretor da qualdade
Quadro 4.1 – Perfil de cada empresa entrevistada de primeiro nível
4.2.3 O resultado da pesquisa em campo com os fornecedores de
primeiro nível
Das quatro organizações entrevistadas, três colocaram que a governança da cadeia
automotiva está nas mãos da montadora e apenas uma, a organização 3, identificou
que a governança da cadeia está nas mãos dos grandes jogadores. Como grandes
jogadores foram identificados os fornecedores de base (aço, alumínio, resinas dentre
outros), as montadoras e alguns grandes fornecedores de primeiro nível, que hoje,
muitas vezes, já são maiores que as montadoras.
A resposta sobre quem detém a governança sempre foi dada pelas quatro
organizações de forma rápida, mas ao se colocar o porquê dessa afirmação, foi
preciso um momento de reflexão dos entrevistados e as respostas não convergiram,
porque, se conclui, a governança está ligada a como a organização está posicionada
estrategicamente na cadeia de suprimentos automotiva, isto é, quanto essa empresa
55
realmente tem uma direção estratégica de seu próprio negócio. Foram colocados os
seguintes motivos: alto volume ou volume previsível, lucratividade, crescimento das
organizações de primeiro e segundo nível da cadeia, tecnologia organizacional e
liderança.
Fortemente a influência da cadeia automotiva tem pontos mais negativos do que
positivos. Das quatro organizações entrevistadas, somente a organização 3
constatou aspectos positivos. Essa empresa coloca que o que é solicitado sempre é
o óbvio e que o sofrimento que se vê na cadeia é que as empresas, em sua maioria,
são reativas e não pró-ativas. As demais empresas entrevistadas colocaram como
ponto negativo a forma de compra da montadora, que é feita sempre pelo preço,
quase um leilão, a qualidade é avaliada depois que a organização foi escolhida pelo
preço. Outro ponto negativo identificado é a falta de parceria, as solicitações devem
ser executadas conforme solicitado pela montadora e isso deve ser feito sem
nenhuma participação de fornecedor, o que muitas vezes torna os desenvolvimentos
difíceis de serem executados, caros e aplicáveis de forma questionável no veículo.
As organizações entrevistadas colocaram que, no Brasil, existe mais um ponto muito
negativo: o baixo volume e a solicitação constante de redução de custo, que não
permite o investimento adequado para garantir a qualidade requerida pela
montadora.
Quanto aos pontos positivos identificados pelas organizações entrevistadas, está a
influência da governança na cadeia automotiva na flexibilização dos
desenvolvimentos com a implantação local das engenharias de desenvolvimento e
aplicação na maior parte das montadoras instaladas no Brasil. Está também o
desenvolvimento da segunda camada da cadeia de suprimento automotiva, com
práticas de engenharia de produção solicitadas pelas montadoras, fazendo com que
esse nível fique cada vez mais capaz de atender às exigências da cadeia.
Fica claro que toda a influência positiva ou negativa é um esforço de cada
montadora em manter-se de forma lucrativa nesse mercado altamente competitivo.
Muitas montadoras estão vivendo momentos bastante complicados, sem
lançamentos de veículos e com lucratividade muita inferior ao planejado; as ações
das montadoras estão sendo bastante efetivas e por isso a maior parte das
organizações de primeiro nível tem sentido tanto a falta de parceria e a
agressividade no relacionamento.
56
As organizações entrevistadas, de uma forma geral, quando medem a governança
fazem por meio de um indicador de medida de mercado, ou seja, quanto estão
ganhando em cada mercado. A organização 3 colocou que não é preciso medir a
governança, ela enfatiza que quem está na cadeia automotiva tem de fazer tudo o
que a montadora está pedindo. A organização 4 mede a governança de modo
indireto por uma pesquisa de satisfação do cliente externo, que é feita in loco por
pessoas específicas e em várias áreas da montadora. Os indicadores e as
estratégias são desdobrados para a organização por meio de reuniões até que
estejam desdobrados em todos os níveis. Todas as organizações entrevistadas, que
possuem indicadores para medir a influência da governança, consideraram esses
indicadores como estratégicos, isto é, são desdobrados do planejamento
estratégico.
Quanto à gestão da cadeia de suprimentos, todas as organizações entrevistadas
reconheceram que é possível cada uma gerir seus fornecedores para melhoria de
sua lucratividade, mas a forma como fazer isso difere um pouco de uma para outra.
A organização 1 gerencia qualidade, preço e prazo, exatamente nessa seqüência, e
diz que é bastante flexível no que dizem respeito a preço, principalmente quando
são produtos que há muito tempo não têm aumento. A organização 2 divide seu
negócio entre veículo e caminhões e por montadoras e gerencia a cadeia com
estratégias focadas para os diferentes mercados e montadoras. A organização 3
minimiza o desperdício nos fornecedores de segundo nível, a partir de técnicas
aplicadas a ela da montadora, que ela desdobra nos fornecedores estratégicos. A
organização 4 gerencia a cadeia, mas acredita que ainda há muito por fazer, que é
preciso melhorar a forma de escolher, avaliar, monitorar e cobrar as ações de
melhoria contínua dos fornecedores e essa organização tem como objetivo, em curto
prazo, aplicar técnicas de redução de custo a seus fornecedores como Team Value
Mangement (TVM).
Na visão das organizações entrevistadas, as estratégias da governança da cadeia
de suprimentos automotiva, no que se refere à montadora, são redução de custos,
fidelização por escravidão, pressão e terror e manter-se competitivo para manter-se
no mercado. Para o primeiro nível da cadeia, as estratégias são negativas, pois não
dão oportunidade de uma negociação, se não fizerem o que a montadora manda a
concorrência entra em seu lugar. A organização 3 tem uma visão diferente, ela
enxerga que o terror está dentro da própria montadora, que tem de ser mais
57
competitiva a todo o momento e cada vez que isso não acontece, ela se volta a seus
fornecedores tentando retomar, por meio de suas estratégias, uma posição mais
confortável no mercado.
Para minimizar o efeito das estratégias das montadoras, as organizações
entrevistadas tomam as seguintes ações: contratar pessoas influentes para contato
com as montadoras nas áreas de compras, qualidade e desenvolvimento de
produto; atuar em outros mercados; analisar a real viabilidade financeira do negócio
e saber dizer não; gerir com eficácia a cadeia de suprimentos, e fazer o que a
montadora manda, desdobrando ações na cadeia de forma a minimizar os
desperdícios. Essas ações são consideradas estratégicas e são desdobradas por
meio de reuniões desde a alta direção até o último nível da organização, de forma
que todos os colaboradores possam estar alinhados as essas estratégias.
Na exportação, após analise das respostas das organizações entrevistadas, pode
ser verificado que há diferença entre quem exporta para disponibilizar em
concessionárias e quem exporta para o mercado. No caso da primeira forma de
exportação, a governança continua sendo da montadora, pois é ela quem dita as
regras, e, conforme a organização 4, toda essa forma de governar vem de fora do
Brasil, o que ocorre devido aos problemas econômico-financeiros que as grandes
montadoras estão passando. Quando a exportação é para o mercado, as demais
organizações colocaram que não há nenhuma influência da montadora, aqui os
grandes jogadores podem influenciar no volume, no preço e na quantidade, no
entanto, é um mercado muito bom no que diz respeito à lucratividade, mas se
precisa saber exportar, pois é um processo muito burocrático. Na exportação, os
grandes jogadores começam a ser incomodados pelos copiadores, que também já
estão crescendo.
Quanto ao mercado de reposição, a governança da montadora, na visão das
organizações entrevistadas, é muito fraca. Ela tem governança somente no que será
disponibilizado na concessionária, gerenciando a logomarca e os volumes. Para as
organizações entrevistadas é uma alternativa de aumento de faturamento num
mercado mais dócil, no qual as organizações têm mais liberdade em criar
alternativas de produtos sem terem de submeter os desenvolvimentos à montadora.
Para a organização 3, é um mercado com a característica de vaca caixeira, isto é,
que mantém o negócio. A organização 1 não fornece para o mercado de reposição.
58
Na visão das organizações entrevistadas, a governança do setor automotivo não
influencia outros setores; inclusive na visão da organização 3, existem setores que
hoje estão mais adiantados em inovação do que a cadeia automotiva.
A influência da governança da cadeia no segundo nível de fornecimento foi
considerada moderada, pois vai depender muito de quanto representa o setor
automotivo para essa organização e vai depender também de como é a direção da
empresa desse nível, pois muitos não acreditam em ferramentas da qualidade e/ ou
planejamento. A organização 3 ainda colocou que existem grandes jogadores que
são de segundo nível, e nesses não há influência.
Quanto à margem de contribuição, as organizações entrevistadas estão hoje com
uma faixa de 0% a 15%, sendo que se a empresa trabalha com grandes volumes,
mercado de reposição e exportação, sua margem de contribuição pode variar de 5%
a 10%. Após todas as certificações pedidas, não foi sentido um aumento de
faturamento, logo, as certificações ajudaram essas organizações a se manter no
mercado.
4.2.4 Fornecedores de segundo nível
Foram entrevistadas quatro empresas que ocupam a posição de segundo nível, na
maior parte do tempo enquanto fornecedoras do setor automotivo. Algumas delas,
ainda são fornecedoras de primeiro nível em pequeno percentual de faturamento,
pois algumas montadoras ainda compram componentes ou pequenos subsistemas
diretamente desses fornecedores. É possível que, com o tempo, esses fornecedores
passem a ter a posição única de segundo nível.
Nesse trabalho as organizações entrevistadas serão chamadas de organização 5, 6,
7 e 8.
59
4.2.5 O perfil de cada empresa entrevistada de segundo nível
A organização 5 tem 82 funcionários, sua área de atuação é etiquetas e peças
técnicas estampadas, fornece 90% do seu faturamento como fornecedor de segundo
nível e 10% como terceiro nível. É uma empresa brasileira fundada há 35 anos. Não
possui dependência de trajetória, e do seu faturamento, de 30% a 35% é o que
representa o mercado automotivo, 20% o eletro-eletrônico, 15% o setor médico/
farmacêutico, e o restante, está diluído entre vários setores industriais. Nos últimos
cinco anos, assumiram a estratégia de diminuir a dependência do mercado
automotivo passando de 60% para de 30% a 35%. Desse percentual, 5% pertencem
ao mercado de reposição. A organização não exporta e é certificada ISO 9001:2000.
Os principais clientes são: Visteon, Pirelli, Jonhson, Parker e Sun Chemical e os
principais fornecedores são 3M e Fason. A entrevista foi feita com o gerente de
qualidade e fabricação e o diretor técnico.
A organização 6 possui 40 funcionários e sua área de atuação é peças técnicas anti-
ruído e fitas automotivas. O setor automotivo representa 90% do seu faturamento,
sendo que o fornecimento como fornecedor de segundo nível é de 70% e como
primeiro nível é de 30%. É uma organização brasileira fundada há 27 anos. Atende a
outros mercados como eletro-eletrônico, brinquedos e móveis e exporta 3% do seu
faturamento para a Argentina. Não possui dependência de trajetória. É certificada
ISO 9001:2000. Seus principais clientes são: VW, GM, Fiat, Autometal, Zanini e
Magna; e seus principais fornecedores são: 3M, Plásticos NN, Papéis Havir e Filtros
Santa Fé. A entrevista foi feita com o diretor geral.
A organização 7 possui 150 funcionários e sua área de atuação é serigrafia técnica
para os setores automotivo, eletro-eletrônco e automação bancária. Atua no setor
automotivo 100% como segundo nível. No faturamento, o setor automotivo
representa de 30% a 35%, sendo que exporta de 2% a 3% desse faturamento. O
faturamento para os demais setores está dividido da seguinte forma: 60% para
eletro-eletrônico e de 5% a 10 % para a automação bancária. É uma empresa
60
brasileira fundada há 15 anos. É certificada em ISO TS 16949:2002 e ISO
9001:2000. Os principais clientes são: Visteon, TRW, Bitron, Whirlpool, Electrolux e
Panasonic; e os principais fornecedores são: 3M, Daybrasil, Coates, Tecnopaint e
Quimycril. A entrevista foi feita com o gerente da qualidade.
A organização 8 possui 1.600 funcionários sendo que sua área de atuação é peças
estampadas de médio porte, peças injetadas em termoplástico, corte laser, pintura,
solda e galvanoplastia. Não tem dependência de trajetória, do seu faturamento 37%
pertencem à cadeia automotiva, 33%, ao mercado de duas rodas, 13%, ao eletro-
eletrônico e, o restante, a outros setores. Dos 37% para a indústria automobilística,
em 97% ela está como fornecedor de segundo nível e em 3%, como de primeiro.
Desses 37%, também exporta 5%. É uma empresa brasileira, foi fundada há 43 anos
e é certificada em ISO TS 16949:2002 e ISO 9001:2000. Os principais clientes são:
Delphi, Sodécia, Iramec e Imbi, e os principais clientes são: Cosipa, Rio Negro,
Dufer e Inal. A entrevista foi feita com o gerente comercial e o assistente da garantia
da qualidade.
Em resumo:
Organização 5 Organização 6 Organização 7 Organização 8 N. de Funcionários 82 40 150 1600 Origem Nacional com 35
anos Nacional com 27 anos
Nacional com 15 anos
Nacional com 43 anos
Produto Etiquetas e peças técnicas estampadas
Peças técnicas anti-ruído e fitas automotivas
Serigrafia técnica Peças injetadas em termoplástico, corte laser, pintura, solda e galvanoplastia
% Faturamento focado na Ind. Automotiva
30% a 35% 90% 30% a 35% 37%
% Faturamento como tier 2
90% 70% 100% 97%
Mercado de reposição
5% Não Não Não
Exportação Não 3% do faturamento 2% a 3% do faturamento
Não
Certificações ISO 9001:2000 ISO 9001:2000 ISO TS 16949:2002 e ISO 9001:2000
ISO TS 16949:2002 e ISO 9001:2000
Dependência de trajetória
Não Não Não Não
Entrevistado Gerente da qualidade e fabricação e Diretor técnico
Diretor Geral Gerente da Qualidade
Gerente Comercial e Assistente da garantia da qualidade
Quadro 4.2 – Perfil de cada empresa entrevistada de segundo nível
61
4.2.6 O resultado da pesquisa em campo com os fornecedores de
segundo nível
Diferentemente do primeiro nível da cadeia, a definição de governança para o
segundo nível não é tão clara. Das quatro empresas entrevistadas, a organização 5
declarou que a governança está na mão do sistemista e as demais, que está na mão
da montadora, mas as organizações 6 e 7 identificaram que o sistemista tem mais
poder hoje do que já teve no passado. A organização 6, inclusive, teve dúvida se
realmente a governança está absolutamente na mão da montadora. Já a
organização 8 identificou que a governança está dividida entre a montadora e os
fornecedores de matéria-prima.
O motivo pelo qual cada organização determinou a governança também não é
convergente. Os motivos apontados foram os seguintes: o sistemista define quem
participa da cadeia de suprimentos, ele participa dos projetos e influencia nos
custos, dá a solução dos problemas e as sugestões nos projetos de
desenvolvimento de produtos. Montadoras e sistemistas têm o poder de barganha,
pois o mercado automotivo é constante e tem uma boa margem, talvez a melhor do
setor industrial. Os fornecedores de matéria-prima são, na maior parte do tempo,
monopólios.
Quanto às influências, todas as organizações entrevistadas identificaram influências
positivas e negativas. As influências positivas foram desenvolvimento técnico e de
gestão das organizações, aumento da competência dos colaboradores, tornando a
organização diferenciada nos mercados em que atua, possibilidade de diversificação
de produtos e mercados e contas recebidas conforme contratado. Das quatro
organizações entrevistadas, três identificaram que o setor automotivo é altamente
lucrativo, enquanto uma não compartilha dessa afirmação. Outro ponto positivo
identificado foi a possibilidade de a organização se atualizar em tecnologia e
inovação. Quanto às influências negativas estão investimentos muito altos, se
comparados a outros setores, obrigatórios, não planejados, no período requisitado
pelo sistemista, riscos muito altos (recall) com punições muito altas que já estão
chegando ao segundo nível da cadeia, e política de redução de custos muito
62
agressiva, forçando o fornecedor a mudar ou melhorar produtos e processos,
melhorar o processo de compras ou desistir do negócio.
As organizações entrevistadas listaram várias estratégias para lidar com a
governança da cadeia automotiva. As estratégias convergiram mesmo tendo a
situação da governança diferenciada. De forma geral, nenhuma mede a governança,
as quatro organizações entrevistadas não possuem ou não está fortemente
implementado um planejamento estratégico formal, sendo muitas estratégias são
emergentes. A principal estratégia é migrar para outros mercados, aplicando a
competência aprendida do mercado automotivo. Outros mercados podem ser duas
rodas, eletro-eletrônica, telecomunicações, agrícola, alimentos, informática entre
outros. O migrar para outro mercado deve ocorrer sem que se diminua o faturamento
atual, isto é, ser uma organização reconhecida e ser a opção do sistemista e não ter
dependência dessa parceria. Essas estratégias foram identificadas pelas
organizações pela falta de transparência na relação com os fornecedores de
primeiro nível. O segundo nível da cadeia não consegue enxergar nem o negócio e
nem as necessidades da montadora.
Todas as organizações entrevistadas sugeriram indicadores, para medir a
governança, relacionados com rentabilidade por mercado. Elas não medem, mas,
após a entrevista ficaram interessadas em fazê-lo. As estratégias dessas
organizações não são desdobradas para a organização, ficam com a alta direção e
com cargos específicos.
Apesar de a parceria não ter a transparência esperada, foi possível medir o ganho
de faturamento que essas organizações tiveram após certificarem-se, que era uma
imposição do sistemista. As organizações cresceram seu faturamento de 30% a
500% após a certificação, e esse é um dos motivos pelo qual elas acreditam ser
importante permanecer nesta cadeia. Outros motivos são a lucratividade, o volume
constante e o status de estar nessa cadeia de suprimentos.
Quanto à gestão da cadeia de suprimentos, a organização 5 acredita ser o
sistemista e as demais acreditam ser a montadora; todas concordam que somente
os fornecedores de segundo nível não podem fazer a gestão, pois são muito
pequenos comparados aos de primeiro e terceiro nível, não têm previsibilidade nem
informações do mercado e muitas vezes, mesmo quando desenvolvem produtos
inovadores com os fornecedores de terceiro nível, não conseguem usufruir o lucro
dos desenvolvimentos, pois são oferecidos diretamente à montadora ou aos
63
fornecedores de primeiro nível. Todas as organizações também acreditam que,
assim como na governança, a gestão vai se enfraquecendo quando se vai descendo
nos níveis da cadeia, logo, em muitas vezes o terceiro nível da cadeia tem regras
próprias de gestão, focadas para o seu próprio negócio. Na visão das organizações
6, 7 e 8, a montadora faz a gestão focada em redução de custos, terceirização e
desenvolvimento de produtos para o seu próprio negócio, mas já existem situações
em que os fornecedores de primeiro e segundo nível trabalham juntos gerenciando a
cadeia de suprimentos com foco de ganho nos dois negócios.
Na visão das organizações entrevistadas, as estratégias da governança são tornar o
fornecedor dependente, fazer a gestão de preços e qualidade ao longo da cadeia,
conhecer toda a cadeia para gerenciar os riscos do fornecimento, definir o primeiro
nível, influenciar o segundo nível e aplicar política de redução de preços no terceiro
nível.
Conhecendo as estratégias da governança, as organizações entrevistadas estão
abrindo novos mercados, procurando desenvolver produtos que não possam ser
copiados, procurando fornecer pequenos sistemas, isto é, os que têm mais valor
agregado do que peças simples e algumas organizações estão pensando em mudar
seu core business.
Quanto à exportação, depende muito do produto que fabricam para que seja um
bom negócio. Para a organização 8, com a subida do preço da matéria-prima e com
a baixa do câmbio, a lucratividade ficou muito baixa quase que inviabilizando
completamente as exportações. Entretanto, as organizações 6 e 7 acham a
exportação muito lucrativa, e todas as quatro organizações não percebem nenhuma
governança na exportação, nem por parte da montadora nem por parte dos
sistemistas. A organização 5 não exporta.
As organizações 5, 6 e 7 participam do mercado de reposição, mas indiretamente,
isto é, pelo sistemista. Os lucros são baixos e a governança é do sistemista.
Quanto a outros setores da economia, a influência é notada fortemente por todos os
entrevistados. A influência está na gestão e no desenvolvimento de produtos, onde
os outros mercados usam o que é bom e deu certo do mercado automotivo, muitos
setores desenvolvem seus fornecedores escolhendo os que pertencem à cadeia
automotiva, e muitos profissionais migraram do mercado automotivo para outros
mercados, levando as boas práticas e desenvolvendo sistemas similares.
64
A visão da governança no fornecedor de primeiro nível, para a organização 6, é de
que eles são a governança; na visão dessa organização, a montadora perdeu a
governança quando transferiu o desenvolvimento dos produtos para eles. As
organizações 7 e 8 acreditam que a montadora manda e os fornecedores de
primeiro nível obedecem, pois há dependência de trajetória . Todas as organizações
identificaram que o poder é diluído ao longo dos níveis de suprimentos.
4.2.7 A montadora
Foi escolhida uma montadora com o objetivo de validar algumas das posições
relatadas pelos fornecedores de primeiro e segundo nível. O perfil dessa montadora
segue abaixo. Essa organização será identificada no trabalho como montadora.
4.2.8 O perfil da montadora entrevistada
A montadora tem 12.000 funcionários e é uma empresa americana instalada no país
há 80 anos. Representa hoje 11% (350.000 veículos/ano) do mercado nacional,
sendo que do volume produzido exporta 30%. A entrevista foi realizada com o
supervisor de qualidade dos fornecedores.
4.2.9 O resultado da pesquisa em campo com a montadora
Na visão da montadora, a governança é dela mesma, mas a força dessa governança
é diluída conforme desce nos níveis da cadeia. A governança também concorre com
outros mercados a partir do segundo nível da cadeia. Essa concorrência está
relacionada ao poder de compra.
65
A governança está na mão da montadora por todas as exigências que ela faz. Essa
governança é imposta e trabalha com a dependência de trajetória do fornecedor de
primeiro nível.
A montadora vê que essa governança tem pontos positivos, que estão relacionados
à melhoria dos sistemas de gestão e à qualidade dos produtos, e pontos negativos,
que estão relacionados ao custo de manter esses sistemas versus a constante
cobrança de custos menores. A estratégia do fornecedor em fazer essas duas coisas
acontecerem é o que vai melhorar seu próprio negócio. Um pouco mais de 50% dos
fornecedores dessa montadora, lidam bem com a governança, o restante tem
problemas com falta de recursos, foco no negócio, agravados por baixo volume.
Hoje, a montadora enfrenta um grande problema no primeiro nível da cadeia que é a
alta rotatividade dos profissionais qualificados. São poucas as empresas que têm
políticas de fidelização de funcionários e isso prejudica bastante os sistemas de
gestão e o atendimento das montadoras.
A montadora espera que, a partir dos sistemas e das estratégias solicitadas para os
processos de manufatura, os produtos fiquem mais estáveis e com maior qualidade,
de forma a gerar saúde financeira às organizações e essas consigam gerar lucro a
partir das ferramentas. Hoje, 10% dos fornecedores já conseguem atingir esses
objetivos. Essas empresas, na sua maioria, são multinacionais, que recebem
diretrizes de sua matriz para atuarem dessa forma.
A montadora acredita ter governança no máximo até o terceiro nível da cadeia, mas
vai depender da criticidade do produto, isto é, se está relacionado à segurança ou à
legislação.
A montadora não tem estratégias definidas de governança, ela enxerga as
necessidades e influencia o primeiro nível da cadeia e às vezes também o segundo
nível se o produto estiver ligado à segurança e ou à legislação. Ainda não existe na
montadora um nível bom de indicadores para medir a influência da governança,
mas, se os indicadores existentes forem analisados com esse foco, podem ser
respondidas algumas questões. Os indicadores existentes são partes por milhão
(PPM), prazo e parada de produção. Na Europa, já existem outros indicadores como
performance de campo e efetividade de APQP (Planejamento avançado de
qualidade de peças) / PPAP (Processo de aprovação de peças de produção), que
em médio prazo serão implementados no Brasil.
66
A montadora faz a gestão da cadeia de suprimentos primeiramente com foco em
desenvolvimento de produto, um trabalho feito pelos departamentos de engenharia e
compras e depois no fornecimento, avaliando a qualidade e a logística.
É possível que cada fornecedor faça a gestão da cadeia de suprimentos, mas a
montadora acredita que fazem isso como rotina, não tendo foco em ganhos com
essa atividade. A montadora identificou que de 60% a 70 % dos fornecedores fazem
a gestão da cadeia de suprimentos quando do fornecimento normal e que apenas de
20% a 30% fazem a gestão do desenvolvimento dos produtos.
No mercado de reposição, segundo a montadora, não existe, no Brasil, governança
definida. Existe uma política ligada ao mercado original, mas ainda não é bem
gerenciada. Nesse mercado, a qualidade deixa de ser o principal e o preço é que
vale.
No mercado de exportação, a governança é da montadora e os critérios são os
mesmos do fornecimento direto.
Nos distribuidores, a governança é da montadora, mas a influência não é a mesma
do mercado original, falta uma melhor definição dos sistemas e um monitoramemto
eficaz do processo. Nesse mercado, existe muita oportunidade, para a montadora,
ele precisa ser explorado.
4.3 A análise dos resultados
O fornecedor de primeiro nível está bastante pressionado para redução de custos e
manutenção ou aumento da qualidade do produto e do serviço. Não exerce sobre o
seu fornecedor a mesma influência que a montadora exerce sobre ele. Trabalha com
percentuais de lucratividade cada vez menores e não tem volume suficiente para
fazer os investimentos necessários e nem os requeridos pela montadora. As
estratégias para melhorar a parceria ou aumentar a lucratividade ainda são frágeis e
trazem pequeno resultado ao serem aplicadas. A estratégia do não, isto é, um
estudo técnico da viabilidade do negócio, pode começar a mudar a influência da
governança. A indicação de que, em curto prazo, as empresas estejam usando o
conhecimento adquirido nesse mercado em mercados mais lucrativos faz com que a
67
influência da governança da cadeia seja fragilizada, de forma que os valores de
parceria possam ser restituídos. O mercado de reposição começa a ser visto como
fonte de aumento de lucratividade, visto que, dependendo da característica do
produto a ser fabricado, isto é, produtos de reposição, os volumes são
consideravelmente maiores do que os requeridos pela montadora. Nesse mercado, é
importante ser original, mas pode-se ser também alternativo com uma marca forte. A
exportação é outro mercado importante, mas, como ficou evidenciado, ainda é
preciso ter mais conhecimento sobre o processo de exportação.
No segundo nível da cadeia não está muito claro quem detém a governança nem
porque, mas as estratégias para vencer as influências negativas e usufruir as
positivas estão muitas claras e convergem nas empresas entrevistadas. A falta de
um planejamento estratégico acadêmico, isto é, trabalhando somente com
estratégias emergentes, não inviabiliza o negócio dessas organizações, que
possuem hoje uma margem de contribuição que varia de 7% a 203 %, estando a
maior parte do tempo entre 25% a 35%. O conhecimento obtido na cadeia
automotiva e ganho que já pode ser medido a partir das certificações viabilizam a
entrada em outros mercados e também viabilizam o desenvolvimento de produtos,
sistemas e processos inovadores que podem até mudar o core business de cada
organização. Das quatro organizações entrevistadas, três possuem uma estratégia
bastante interessante, nunca deixam o percentual de faturamento do mercado
automotivo subir mais do que aproximadamente 30%, eles não querem ser
dependentes, mas querem continuar aprendendo e ter o status de ser um fornecedor
da cadeia automotiva. O que mais incomoda os fornecedores de segundo nível é a
imposição de investimentos e o processo de redução de custos, que sempre
fragilizam a parceria. A situação do fornecedor de segundo nível é sempre bastante
delicada, porque normalmente ele está entre grandes empresas na cadeia de
suprimentos automotiva e talvez seja por esse motivo que tem desenvolvido muitas
estratégias e tem mantido suas organizações ainda bastante lucrativas.
Como na maioria das organizações entrevistadas, a montadora acredita que a
governança é dela mesma e tem consciência de que o seu poder está limitado a no
máximo os três primeiros níveis da cadeia. O fato de não existirem estratégias
definidas faz com que as emergentes vindas das necessidades do mercado tenham
uma interpretação inadequada dos outros níveis, como a falta de parceria. Depois de
68
todos os anos de atuação, ainda é muito baixo o percentual de fornecedores (10%)
que têm sucesso com essa gestão da montadora.
Quanto aos mercados de reposição e distribuição, a influência é baixa, mas a falta
de políticas pode definir outras organizações para a governança.
69
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÃO
5.1 Conclusões
Todas as conclusões aqui descritas não possuem base estatística, estando
baseadas apenas nos resultados da amostra, isto é, nove estudos de casos
executados, distribuídos da seguinte forma: quatro estudos no fornecedor de
primeiro nível, quatro no de segundo nível e um em uma montadora.
Respondendo à questão de pesquisa dessa Dissertação, a governança da cadeia
automotiva influencia o primeiro nível de fornecimento com uma gestão de preços,
enfatizando a redução de custos; solicitação de robustez e aplicação de novas
tecnologias no desenvolvimento de produtos e processos; aplicação de novos
métodos para redução de variabilidade e gestão de produção; exigência de
desenvolvimento dos fornecedores do segundo nível da cadeia com aplicação das
mesmas técnicas e métodos empregados no primeiro nível; e robustez nos sistemas
de gestão integrado. Quanto aos fornecedores de segundo nível, a governança da
cadeia de suprimento influencia com a solicitação de robustez nos sistemas de
gestão da qualidade e ao atendimento das solicitações e exigências indiretamente
repassadas pelas montadoras, como técnicas de redução de variabilidade, estudo
de causas especiais e técnicas para aplicação nos desenvolvimentos de produtos e
processos.
Com relação ao entendimento da governança da cadeia de suprimento,
proporcionando aumento de vantagem competitiva e lucratividade, verificou-se que
no fornecedor de primeiro nível, as exigências são atendidas por causa da
dependência de trajetória e não por questões estratégicas, porque não há o
entendimento claro das estratégias da governança e nem se procura ter. No
momento atual, todas as exigências são atendidas e no máximo o que se consegue
é manter o faturamento existente sem muitas vantagens competitivas. As estratégias
aplicadas até hoje não minimizaram os efeitos negativos da governança.
No entanto, começa, agora, ainda de forma bastante acanhada, um movimento no
primeiro nível da cadeia de suprimento, que, antes de se submeter a qualquer
70
exigência, a analisa criticamente com o objetivo de verificar se o que está sendo
solicitado vai proporcionar à própria organização vantagens competitivas e aumento
de lucratividade. Foi possível verificar que três das quatro organizações
entrevistadas, já adotaram essa prática, e essa atitude proporcionou a essas
organizações chegar aos resultados planejados de faturamento e lucratividade.
No segundo nível da cadeia, a prática do não, como foi chamada pelos fornecedores
de primeiro nível, já é comum. A influência da governança da cadeia automotiva é
moderada. E para que a influência seja moderada, o segundo nível da cadeia
mantém o faturamento desse mercado em torno de 35%. Isso faz com que os
fornecedores do segundo nível possam analisar as exigências e somente assumir o
que eles entendem ser bom para suas próprias organizações, aumentando a
lucratividade e/ou criando vantagens competitivas, o que pode ser evidenciado por
meio dos resultados de crescimento do faturamento após as certificações. Os
fornecedores de primeiro nível, ao alcançarem as certificações, somente mantiveram
o faturamento existente, enquanto que os de segundo nível cresceram em
faturamento de 30% a 500%.
A influência positiva nos fornecedores de segundo nível é evidente eles ganham
conhecimento atuando na cadeia automotiva e aplicam no mercado que quiserem,
ampliando os negócios, diversificando seus produtos e se disponibilizando em outros
mercados, oferecendo qualidade e preços justos.
A definição de quem governa a cadeia a partir do segundo nível, não é clara, mas
aparentemente não importa, pois eles criam estratégias para crescimento de seus
próprios negócios olhando para o primeiro nível e a montadora, quando isso é
possível. Independentemente do tamanho das empresas, e mesmo sem ter
planejamento estratégico definido e robusto, o fornecedor de segundo nível é
proporcionalmente mais lucrativo que o do primeiro. E normalmente são empresas
com menos recursos e tecnologia envolvidos. O único fornecedor de segundo nível
entrevistado que tem mais de 35% do faturamento voltado para o mercado
automobilístico tem competência de criar ativos chave que não podem ser copiados
e, neste momento, é ele quem detém a governança e pode ter lucros excessivos por
grande período de tempo.
Durante as entrevistas, foi possível notar que o ambiente no fornecedor de primeiro
nível é tenso e pouco criativo, pois eles estão muito pressionados e cansados. No
71
segundo nível, o ambiente é de inovação e criatividade, porque estão motivados a
continuar.
Foi possível notar que quem governa é o cliente da organização, isto é, para o
fornecedor de primeiro nível é a montadora e, para o de segundo nível, é o de
primeiro, e isso acontece no máximo até o terceiro nível, porque, a partir desse nível,
a governança vem dos fornecedores de matéria-prima.
A parceria da cadeia automotiva é frágil, pois, com a política de redução de custos
versus o aumento de qualidade do produto, o fornecedor fica obrigado a reduzir sua
lucratividade, o que faz com que ele pense que isso é uma estratégia para torná-lo
cada vez mais escravo. Pode ser percebido, porém, que essa atitude da montadora
não é real, e que isso acontece porque é a única forma de a maior parte das
montadoras permanecer no mercado, que é muito competitivo e não é muito grande,
pois, no Brasil tem baixo volume.
Toda a situação do fornecedor de primeiro nível se apresenta em menor escala no
segundo nível, afinal, ele não tem dependência de trajetória.
Não foi possível medir influências positivas da governança no fornecedor de primeiro
nível. Eles evidenciaram que tudo o que está sendo solicitado nos dias de hoje no
máximo mantém o faturamento atual.
Quanto à gestão da cadeia de suprimento, ninguém gere a cadeia com o objetivo de
obter vantagens competitivas ou lucratividade. Os que fazem alguma gestão
normalmente são os fornecedores de primeiro nível e são motivados a fazer a
gestão dos fornecedores por conta de alguma necessidade vinda da montadora. Por
sua vez, a montadora tem a mesma atitude com relação ao primeiro nível da cadeia,
mas por uma necessidade vinda do mercado. O fornecedor de segundo nível não
faz normalmente a gestão da cadeia, faz pouco a gestão dos fornecedores e se
sente muito pequeno diante dos fornecedores de terceiro nível.
Não foi escopo desse trabalho, mas, pelas entrevistas há indícios de que os grandes
jogadores, principalmente as organizações fornecedoras de matéria-prima, fazem a
gestão da cadeia a seu favor, criando estratégias tanto para clientes como para
fornecedores. Para a validação completa dessa afirmação, seria necessária
pesquisa específica nesse tipo de organização.
O foco principal seja da montadora ou seja do primeiro e segundo nível da cadeia, é
o atendimento ao cliente, sendo essa é a única forma evidenciada nas entrevistas de
se obter vantagens competitivas ou aumento de lucratividade. A pró-atividade em
72
ações diferenciadas junto a fornecedores e clientes, isto é, redução de custo,
melhoria de produto ou processo, ainda não é uma prática. O primeiro e segundo
níveis da cadeia são reativos e o atendimento ao cliente é mais efetivo no primeiro
nível da cadeia do que no segundo, conforme relatado anteriormente.
Quanto ao mercado de reposição, com exceção do que está disponível em
concessionária (peças de serviço), a governança é do primeiro nível de
fornecimento, pois ele tem normalmente uma marca forte, conhecida no mercado
pelo consumidor final, tem muitos desenvolvimentos como produto original e também
muitos produtos similares que vendem por conta da marca conhecida. Nesse
mercado, normalmente a organização de segundo nível não atua, ou atua
indiretamente, mas os lucros são pequenos. Essa governança, no mercado de
reposição, dá ao primeiro nível da cadeia liberdade para definição de preços e
desenvolvimento de produtos sem ter de atender a todos os quesitos solicitados pela
montadora e, muitas vezes, isso é feito com produtos inovadores, que atendem ao
mercado de reposição, cumprindo a legislação vigente. No mercado de reposição, os
lucros e o volume são maiores. No entanto, nem toda a organização de primeiro
nível pode participar desse mercado, somente podem participar aqueles cujos
produtos tenham características de troca por manutenção.
O mercado de exportação, não tem governança direta, a legislação dos países
lideram o tramite legal, os fornecedores da cadeia automotiva de qualquer nível
podem jogar. As regras de governança não são claras.
Quanto a outros mercados, existe uma influência positiva percebida somente no
segundo nível da cadeia de suprimento automotiva, pois é a partir desse nível que
os fornecedores podem ser usados por outros setores industriais. Não há uma
governança do setor automotivo em outros setores industriais.
Resumindo, não importa quem governa a cadeia, o importante é entender a
governança, isto é , como ela é, suas estratégias, e criar estratégias para maximizar
as influências positivas e minimizar as influências negativas. A segunda camada da
cadeia automotiva faz isso de forma a obter vantagens competitivas e aumento da
lucratividade estando na cadeia de suprimento automotiva e atuando em mercados
diversos. A primeira camada percebe a governança, mas ainda tem atitudes muitos
frágeis para minimizar as influências negativas, de forma que não consegue
perceber as positivas. Quando percebe o mercado de reposição, esse nível da
cadeia atua como governança e consegue obter vantagens competitivas e
73
lucratividade. Essa situação também é valida para qualquer nível da cadeia para o
mercado externo. Quanto à gestão da cadeia de suprimentos, não se verificou em
nenhuma camada e nem na montadora, a gestão efetiva buscando pró-ativamente
vantagens competitivas e aumento de lucratividade.
5.2 Perspectivas para novos estudos
A pesquisa mostrou que a gestão é feita somente levando em consideração as
exigências do cliente. Há uma oportunidade de estudos futuros na pesquisa do
porquê isso ocorre, visto que, toda a bibliografia diz que a gestão da cadeia de
suprimentos deve ser feita tanto a montante como a jusante e é nessa gestão que se
tem melhores resultados para a organização, resultados esses focados em aumento
de lucratividade e vantagens competitivas.
Durante as entrevistas, foi possível identificar outros níveis da cadeia onde poderiam
ser feitas muitas pesquisas, como por exemplo, as concessionárias. Durante a
entrevista com a montadora, ficou claro que a governança nas concessionárias, não
está claramente definida e que não existem regras estabelecidas nesse nível da
cadeia, mas com certeza é um fator crítico de sucesso para a montadora o trabalho
junto às concessionárias, pois são elas que entram em contato direto com os
consumidores finais, vendendo também a marca.
Outros mercados interessantes a serem estudados são os mercados de reposição e
exportação, que aparentemente têm governanças distintas na mesma cadeia de
suprimento automotiva.
Durante uma entrevista com uma organização de primeiro nível, foi pedido que se
estudassem as entidades de classe, porque a entidade de classe das montadoras
tem muita força diferentemente de a entidade de classe das autopeças, que não tem
força, visto que o número de empresas é muito maior e juntas essas empresas têm
mais poder.
Ficam aqui oportunidades para mais estudos e pesquisas da cadeia automotiva
brasileira.
74
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80
ANEXOS
Anexo A. Questionário para teste da dissertação aplicado à pesquisa
exploratória.
QUESTIONÁRIO PARA A CADEIA AUTOMOBILÍSTICA
1. Quem governa a cadeia automobilística na visão do fornecedor levando em
consideração cada um dos seguintes tópicos: desenvolvimento de produto,
preços e planejamento de produtos?
2. Definida a governança (entendendo governança como quem governa a
cadeia). Quais são as implicações da mesma sobre sua organização e seus
fornecedores?
3. O que você acredita que possa acontecer ao longo do tempo com
fornecedores da cadeia automotiva por conta desta governança,
principalmente com fornecedores que não tem dependência de trajetória
(fornecem somente para a automobilística)?
4. Como você acredita que a montadora enxerga a governança e as respectivas
implicações da cadeia automotiva quando o tema é preço?
5. Como você acredita que os fornecedores de matéria-prima enxergam a
governança e as respectivas implicações da cadeia automotiva quando o
tema é preço?
6. Como você acredita que fica o relacionamento entre os fornecedores e a
montadora e os fornecedores de matéria-prima quando o tema é preço,
levando em consideração tanto o primeiro como o segundo e terceiro nível da
cadeia?
7. A governança pode influenciar positivamente ou negativamente as questões
de exportação e sobrevivência das empresas da cadeia de fornecimento?
8. Você mede indicadores de preço, qualidade e prazo? Em caso positivo como
foi a evolução destes indicadores ao longo do último ano e do ano corrente?
Como estão as tendências para o próximo ano?
9. Como estão os indicadores de margem e custo? A que você liga esses
resultados? Quais são as tendências e porque?
81
10. Sua organização exporta? Em caso positivo você sente que as implicações da
governança podem melhorar ou piorar as exportações?
11. Qual seria a saída em sua opinião?
12. Liste os seus principais fornecedores para que eu possa continuar a pesquisa
com eles. Se possível coloque algum contato.
13. Liste seus principais clientes.
82
Anexo B. Questionário para dissertação (fornecedores nível 1 e 2).
QUESTIONÁRIO PARA A CADEIA AUTOMOBILÍSTICA
1. Quem governa a cadeia automobilística na visão do fornecedor (fornecedores
de nível 1 e 2)? Durante a entrevista levar em consideração os seguintes tópicos:
desenvolvimento de produto, determinação de preços e custos e implementação
de práticas da engenharia de produção (lean, seis sigma, sistemas integrados de
gestão, etc.).
2. Por que a empresa acredita que a governança esteja na mão dessa
organização?
3. Como é a influência dessa governança em sua organização? Levar em
consideração tanto à influência na área técnica administrativa como nas
estratégias da organização.
4. Como sua organização lida com essa governança? Verificar se é possível
medir a influência dessa governança. Em caso positivo, se é prática medir a
influência, o que se faz com essa medição dentro da organização? Se ainda não
se mede, mas é possível medir porque não se mede?
5. Se a organização não puder medir a influência da governança, como ela pode
definir se há ou não influência?
6. Quando é possível medir, isto é feito por meio de indicadores? Quais são os
indicadores? E como estão esses indicadores? São estratégicos? São
desdobrados do planejamento estratégico?
7. Como a sua organização enxerga a gestão da cadeia de suprimentos? Quem
faz a gestão? Você acredita ser possível fazer a gestão da cadeia de forma a
obter vantagens para seu próprio negócio? Se sim, como você faz isso? Se não,
por que você não faz isso?
8. Como você acredita serem as estratégias da governança da cadeia de
suprimentos automotiva?
9. A partir deste conhecimento quais são suas ações para que esse
conhecimento possa ser revertido em sua organização para resultados positivos?
10. Como você desdobra essas ações para a sua organização?
11.Quanto ao mercado externo, como é a influência da governança da cadeia
automotiva?
12. E ao mercado de reposição?
13. A governança da cadeia automotiva é sentida em outros setores?
83
14. (Somente para o fornecedor de nível 1) Como você vê toda essa situação de
governança no fornecedor de segundo nível?
15. (Somente para o fornecedor de nível 2) Como você vê toda essa situação de
governança no fornecedor de primeiro nível?
Dados da empresa:
Número de funcionários:
Área de atuação:
Nível que ocupa na cadeia automotiva (podem ser colocados percentuais de
cada nível de atuação):
Quanto representa a setor automotiva em suas vendas:
E o mercado de reposição:
E a exportação:
Nacionalidade da empresa:
Tempo instalada no Brasil:
Percentual de atendimento de mercados (todos os mercados em que atua):
Principais clientes:
Principais fornecedores:
Dependência de trajetória: ( ) sim ( ) não
Cargo/função dos entrevistados:
A organização exporta produtos: ( ) sim ( )não Quais países: Há quanto
tempo:
84
Anexo C. Questionário para dissertação (montadora)
QUESTIONÁRIO PARA A CADEIA AUTOMOBILÍSTICA - Montadora
1. Quem governa a cadeia automobilística na visão da montadora? Durante a
entrevista levar em consideração os seguintes tópicos: desenvolvimento de
produto, determinação de preços e custos e implementação de práticas da
engenharia de produção (lean, seis sigma, sistemas integrados de gestão, etc.).
2. Por que a empresa acredita que a governança esteja na mão dessa
organização?
3. Como é a influência dessa governança em seus fornecedores? Levar em
consideração tanto à influência na área técnica administrativa como nas
estratégias da organização.
4. Como seus fornecedores lidam com essa governança? A partir de que dados
se pode validar essa influência.
5. Partindo do princípio que a governança é da montadora, como essa espera
que os fornecedores atuem a partir de sua governança?
6. Como as montadoras enxergam que seu tipo de governança influencia a
cadeia de suprimentos automotiva, assim como cada fornecedor?
7. Como a montadora gostaria de influenciar a cadeia de suprimentos automotiva
e o fornecedor?
8. Até que nível da cadeia de suprimentos a montadora acredita ter a
governança?
9. A montadora tem estratégias para influenciar cada vez mais níveis da cadeia?
10. É possível medir esta influência ao longo do tempo?
11. Em que nível a montadora acredita não ter mais a governança e porque?
12. Como a montadora faz a gestão da cadeia de suprimentos?
13. A montadora acredita que é possível que cada fornecedor possa gerir uma
parte da cadeia de suprimentos a seu favor? Porque sim ou não. E como?
14. Como a montadora acredita que seja a governança dessa cadeia no que diz
respeito ao mercado de reposição e na exportação?
15. Qual a influência da governança da cadeia automotiva nos distribuidores?
16. Quando se fala de distribuidor, quem detém a governança?
Dados da empresa:
Número de funcionários:
Área de atuação:
85
Quanto representa no setor automotivo:
E a exportação:
Nacionalidade da empresa:
Tempo instalada no Brasil:
Principais fornecedores:
Cargo/função dos entrevistados: