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O PAPEL DA AVALIAÇÃO FORMATIVA NA CONCEPÇÃO E ... · viabilizando a busca da unidade dialética...
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O PAPEL DA AVALIAÇÃO FORMATIVA NA CONCEPÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DAS DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA.
Liane Inês Müller Pereira1 Astrid Baecker Ávila2
Resumo
Este artigo visa traçar o caminho percorrido na dinâmica de um trabalho que permitiu
visualizar um cenário educativo inalterado em relação às práticas avaliativas em
Educação Física presentes no meio educacional. Os aspectos circunscritos nesse
processo dialogam com o desenvolvimento histórico das propostas avaliativas,
enfocando e estruturando as novas formas de avaliar que tem como função
prescípua a apropriação do conhecimento. A concepção materialista e o método
dialético constituíram-se de um importante referencial para o referido estudo na
perspectiva de superação da avaliação classificatória, excludente e punitiva que
ainda permeia parte da Educação brasileira. Os estudos empíricos foram realizados
junto à escola de origem, através da organização de um Grupo de Estudo com as
professoras de Educação Física e da aplicação de um questionário para alunos e
professora, estruturado, que recebeu tratamento categorial.
Palavras-chave: avaliação; Educação Física; dialética; materialista; conhecimento.
Abstract
The present article has the aim of tracing the way followed by the dynamic of a work
which has permitted the visualization of an unmodified educational scenario
concerning the assessment practices in Physical Education present in the
educational system. The circumscribed aspects in this process dialogue with the
historical development of the assessment proposals. They also focus and structure
the new ways of evaluating which have as the main role the knowledge
1 Professora PDE – Rede Estadual de Ensino. Curitiba – PR
2 Orientadora – UFPR. Curitiba - PR
4
appropriation. The materialistic conception and the dialectic method constituted an
important referential for this research aiming at overcoming the excluding, punishing
and classificatory evaluation system which permeates part of the Brazilian
Educational System. The empirical studies were made in the host school through a
Study Group composed by the researcher and the Physical Education teachers who
work for the school. A questionnaire was also given to be answered by the students
and the teachers and the answers were carefully analyzed.
Key-words: evaluation, Physical Education, dialectic, materialistic, nowledge.
1. INTRODUÇÃO
A avaliação em Educação Física Escolar foi o objetivo de um importante
estudo realizado no decorrer do Programa de Desenvolvimento Educacional –
PDE/2008.
O estudo veio reforçar alguns elementos considerados essenciais, quando
pretendemos usufruir de uma avaliação que tem como finalidade superar o quadro
relacionado com a seleção e classificação dos alunos em bons, ruins, aptos ou
inaptos, prática essa, que na maioria das vezes ainda sustenta o trabalho do
professor de Educação Física na escola. A busca de estudos e reflexões trouxe para
esse campo de conhecimento uma ampliação dos fundamentos epistemológicos,
viabilizando a busca da unidade dialética entre teoria e prática.
Esse novo olhar sobre o processo formativo, visou uma reconstrução da
organização do trabalho pedagógico na escola, que reconhece a avaliação como
elemento central do processo de ensino e da aprendizagem. Assim, a avaliação tem
como função primeira orientar o trabalho do professor e o estudo dos alunos,
falamos de uma avaliação formativa, que está presente durante todo o processo
educativo, exigindo uma reflexão e interpretação do trabalho realizado.
Essa ruptura na avaliação, exigiu estudos sistemáticos que foram realizados
durante o período do PDE, trazendo muitas explicações e argumentos enquanto
5
elemento pedagógico adequado à concretização de uma efetiva igualdade de
oportunidades de sucesso, indicando com maior segurança a formação dos alunos
na Educação Básica.
Neste sentido, pode-se afirmar que a ação mais importante durante o
Programa foi a Implementação das ações previstas no Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola, garantindo por sua vez, a efetiva contribuição no processo
educacional, visando assim, assegurar a relação teórico-prática que tem como base
uma concepção de avaliação que contribui para a formação crítica do aluno.
Esse processo ocorreu na escola por meio de um Grupo de Estudo, que
objetivou compartilhar com as professoras de Educação Física do Colégio Estadual
Olívio Belich no município de Curitiba os estudos, as experiências e vivências
desenvolvidas no primeiro e segundo período do Programa. Destaca-se a
construção do material Didático-Pedagógico - O Conhecimento e os Processos
Avaliativos – que resultou a partir do esforço realizado, numa tentativa de garantir a
ampliação da avaliação para além de um mero sistema de juízos.
È inquestionável a necessidade do aprofundamento nos estudos, pois este é
o único caminho para a superação de concepções que não justificam mais o
trabalho com a disciplina na escola. Enfim, o texto que subsidiou as reflexões no
grupo trouxe o suporte necessário para potencializar a prática pedagógica na escola.
O diálogo intenso com as professoras da rede Estadual de Ensino trouxe
problemáticas específicas em relação à avaliação da disciplina. Percebeu-se que a
negação com o trabalho sistemático da Cultura Corporal, advém do processo de
uma formação precária (inicial e continuada), da falta de leitura e muitas vezes a
falta de orientação na escola, o que dificulta no trabalho pedagógico: o
estabelecimento do conteúdo a ser trabalhado, o tratamento dado ao conteúdo,
quais objetivos estabelecer para tal conteúdo, e como avaliar.
Neste sentido, os possíveis indicadores do processo de ensino relacionados
ao conhecimento da Cultura Corporal, estabelecem dimensões imprescindíveis ao
professor de Educação Física quais sejam: o domínio de conteúdos, os métodos de
ensino e as técnicas utilizadas para o tratamento do conteúdo a ser desenvolvido.
As constatações em relação ao trabalho pedagógico na escola ao longo dos
encontros levaram a identificar que o processo decorre, principalmente, do
conhecimento que o professor adquire na sua formação inicial, de forma restrita. O
maior desafio proposto neste momento, foi à implementação na prática de
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procedimentos avaliativos seguindo as Diretrizes Curriculares Estaduais de
Educação Física.
Esse debate proporcionou para as professoras participantes do grupo de
estudo, inúmeras contribuições a partir de uma análise crítica sobre suas ações na
escola, resultando num conjunto de idéias e estratégias avaliativas que construíram
novas referências, questionando e superando a Aptidão Física ainda muito presente
nas aulas e considerando a Cultura Corporal como elemento central no processo
formativo.
A culminância dos estudos propiciou ao professor participante o planejamento
de aulas para os alunos do Ensino Médio, tendo como referência o Livro Didático
Público. Esse planejamento que resultou num conjunto de aulas e estratégias
avaliativas, foi efetivado em sala, constatando a relevância do trabalho pedagógico
na medida em que houve um constante diálogo com a avaliação Formativa.
Ao final foi elaborado um material que constou de um questionário para os
alunos da 3ª série A do Ensino Médio, 1 (uma) questão anterior ao grupo de estudo
e outra questão após os estudos, quando da aplicação do plano de trabalho docente
construído no decorrer dos encontros e um questionário para a professora,
estruturado, que recebeu tratamento categorial.
2. O CONHECIMENTO E A DIALÉTICA DO PROCESSO AVALIATIVO
A dinâmica escolar ao longo da história da educação, pouco tem considerado
o processo de ensino e aprendizagem como fator primordial da avaliação. A
avaliação do rendimento do aluno, o produto final da aprendizagem, da forma como
se efetiva na escola, fica evidente sua relação com a lógica da produção mercantil
na qual o desempenho do aluno deve ser medido conforme a égide das relações
sociais vigentes. Isto é, através da avaliação estabelece-se o valor de troca. Avalia-
se o potencial de cada um e troca-se por classificações, menções, notas, conceitos,
ou seja, a nota atribuída reflete o valor da mercadoria na sociedade capitalista.
Neste sentido, as funções da avaliação têm que ser compreendidas no
contexto das mudanças educacionais. Não podemos supor mudanças na Educação
mais especificamente na disciplina de Educação Física, sem criar uma outra cultura
7
para a avaliação, isso implica em uma revisão do método que prevê na sua essência
o fator da aprendizagem escolar.
Sabe-se que para propor novos encaminhamentos é fundamental que se leve
em conta à história, o que acontece no cotidiano escolar a partir das práticas
realizadas. Esse cotidiano é conseqüência de uma proposta filosófica e política
amparada pelo Projeto Político Pedagógico da escola que no âmago contém a
concepção de avaliação, a construção dos valores éticos, do projeto de ser humano
de sociedade que se queira formar enfim, de uma concepção de educação assumida
institucionalmente e que deveria transparecer no cotidiano escolar.
Baseada no método dialético de apreensão do conhecimento que reflete o
processo histórico do surgimento e do desenvolvimento das formas do pensamento
buscou-se considerar neste estudo, o caminho percorrido acrescentando novos
dados e ao mesmo tempo apresentando possibilidades de refletir sobre sua prática
social, que se torna relevante na medida em que a leitura da realidade se efetiva em
uma totalidade concreta.
Como então se posicionar frente às novas expectativas relacionadas à
avaliação da aprendizagem?
Como entender a tese, a antítese e a síntese da avaliação do desempenho do aluno
da escola na sua prática cotidiana? Este é o desafio que gerou essa reflexão a partir
da experiência vivida no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), mais
especificamente na Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola
construído no primeiro período do Programa.
A avaliação da aprendizagem foi à temática escolhida para o referido estudo,
por se tratar de um assunto polêmico e ainda não desenvolvida de forma plena nas
aulas de Educação Física. A falta de clareza da concepção de avaliação faz com
que os critérios estabelecidos na disciplina de Educação Física, ainda estejam
relacionados e formalizados pelos princípios que atuam como funções de
mecanismo de controle, resultando assim, no processo de adaptação às exigências
das formas sociais.
Uma das intenções do estudo realizado foi desconstruir alguns conceitos
fortemente incorporados no ambiente escolar, um deles centrado no produtivismo e
no entendimento de que na avaliação o que predomina são os aspectos
quantitativos de mensuração do rendimento do aluno.
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O referido estudo buscou traçar um caminho para a negação da prática
conservadora, assim como, apontar alternativas para a construção de uma nova
prática social, estabelecendo as práticas avaliativas como contínuas e constitutivas
do processo de ensino e aprendizagem.
2.1 Metodologia
A presente pesquisa foi de campo realizado no contexto escolar, mais
especificamente, no Colégio Estadual Olívio Belich no município de Curitiba, com
professoras e alunos da Educação Básica. Neste sentido, a perspectiva
metodológica adotada foi a da pesquisa de natureza qualitativa. “Entendemos
campo, na pesquisa qualitativa, como o recorte espacial que diz respeito à
abrangência, em termos empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto da
investigação” (MINAYO, 2006, p. 62). Assim, essa pesquisa procurou na medida do
possível, esclarecer melhor a relação pedagógica entre os alunos e professoras no
que dizem respeito à avaliação escolar.
O trabalho reuniu informações a partir da observação participante, no
sentido de propiciar a apreensão daquilo que é observado de forma mais plena.
Essa fonte de informação foi adquirida através do grupo de estudo, oferecido para
as professoras do referido estabelecimento de ensino no âmbito da avaliação
escolar, contribuindo assim, para a construção do conhecimento a respeito do objeto
de estudo.
O aprofundamento teórico-prático teve na sua essência elementos que
visaram à construção de estratégias avaliativas, com a finalidade de oferecer
condições à materialização de uma prática pedagógica crítica e responsabilizada
com a formação humana do aluno. As ações concretizadas na prática visaram
principalmente o enfrentamento dos problemas existentes em relação à avaliação
escolar, levando em conta as reais necessidades dos alunos.
O segundo momento foi de entrevistas onde o instrumento básico para a
coleta de dados tratou de um questionário com perguntas abertas para uma
professora e um grupo de alunos da 3ª série A – Ensino Médio. Os alunos
responderam as questões em dois momentos distintos e a professora respondeu o
questionário ao final dos estudos propostos.
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Para os alunos foi proposta uma questão no início dos estudos relacionado ao
entendimento e a compreensão da avaliação nas aulas de Educação Física e a
segunda questão após a materialização da prática pedagógica, constituída por um
plano de trabalho docente elaborado no decorrer dos estudos. O plano continha um
conjunto de aulas e a construção de novas estratégias avaliativas que objetivavam
um aluno crítico e responsável, vislumbrando a possibilidade de transformação da
sociedade. Os Instrumentos de avaliação foram fundamentais para obtenção de
novos dados para o respectivo estudo.
O questionário respondido pela professora ao final do estudo, resultou em 5
(cinco) questões, visando principalmente, uma reflexão mais sistemática sobre a
sua prática ligadas ao ensino e as relações com o processo avaliativo.
Através do tratamento categorial, busca-se identificar qualitativamente nas
análises das respostas os elementos indicativos de procedimentos que viabilizam ou
dificultam a prática avaliativa nos diferentes momentos da intervenção pedagógica
na escola.
2.2 Constituição do Grupo de Estudo
O Grupo de Estudos foi constituído pelas professoras da disciplina de
Educação Física que atuam na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio) do
Colégio Estadual Olívio Belich no município de Curitiba. São professoras do Quadro
Próprio do Magistério (QPM) e estão lotadas na referida escola há aproximadamente
5 (cinco) e 11 (onze) anos.
As reuniões de estudo, foram realizadas no respectivo Colégio,
quinzenalmente (no período de março até junho), totalizando 7 (sete) encontros.
O referido estudo, além de promover a integração das professoras da escola,
visou principalmente, reflexões e discussões em torno do objeto apresentado. Das
reflexões e estudos resultou um conjunto de idéias e a elaboração de proposições
de estratégias de avaliação que teve como intenção principal orientar o trabalho
pedagógico da Educação Física Escolar mais especificamente, o trabalho das
professoras de Educação Física que atuam na Educação Básica – Ensino Médio e
Fundamental da Rede Estadual.
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2.3 Relato dos encontros de estudos realizados
A primeira ação se constituiu em uma reunião com as professoras
participantes do grupo de estudo, para a exposição da organização do trabalho a ser
realizado. As professoras participantes mostraram grande expectativa e interesse
em aprofundar os aspectos teórico-metodológicos em relação à temática a ser
estudada.
O segundo encontro se efetivou por meio do diálogo e da reflexão crítica,
apontando os elementos considerados constitutivos para a escolha da temática, a
avaliação, que se concretizou na construção do Projeto de Intervenção Pedagógica
na Escola. O debate com as professoras participantes expressou as diferentes
concepções e interpretações decorrentes da prática avaliativa na escola.
Percebeu-se que os encaminhamentos avaliativos na escola, ainda estão
fortemente relacionados aos critérios criados com a função de mecanismo de
controle, ou seja, as práticas avaliativas articulam com a necessidade de controlar e
motivar os alunos. Os instrumentos utilizados têm como função primeira medir os
erros e os acertos dos alunos com o objetivo da classificação por meio de notas.
Essa prática conservadora presente no ato de avaliar encontra legitimidade
na escola ao mesmo tempo, segundo relato, é muito comum realizarem uma
avaliação que condiz com a forma da “troca” ou “barganha”, onde muitas vezes as
professoras encontram uma solução para o trabalho com as práticas corporais nas
aulas. Em troca da nota os alunos participam das aulas com um maior interesse.
Embora, essa prática esteja incorporada no cotidiano das professoras na
escola, o aprofundamento teórico-metodológico procurou com sentido crítico dar
visibilidade às dimensões da avaliação que têm como referência “um espaço
intencionalmente organizado para possibilitar a direção da apreensão, pelo aluno, do
conhecimento específico da Educação Física e dos diversos aspectos da sua prática
na realidade social”. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.87)
O terceiro encontro de estudo visou o aprofundamento teórico-metodológico
da organização do trabalho pedagógico na escola, debatendo a avaliação como um
elemento constituinte da prática pedagógica. O texto de referência foi a Unidade
Temática – O Conhecimento e os Processos Avaliativos – contida no Caderno
Temático: Conhecimento, Prática e Educação Física Escolar, construído no segundo
período do Programa. O referido texto proporcionou as professores participantes,
11
uma análise crítica das suas ações na escola. Assim, constatou-se o envolvimento
das mesmas nas discussões e reflexões, trazendo inúmeras contribuições para o
debate.
A continuidade do estudo em grupo, no quarto encontro, possibilitou uma
maior integração entre as participantes. A leitura prévia do texto propiciou um debate
profícuo em torno da temática apresentada, resultando num conjunto de idéias e
estratégias avaliativas que podem orientar o trabalho pedagógico na escola. O
estudo e o entendimento das dimensões: diagnóstica, processual, formativa e
somativa exigiram uma nova concepção de ser humano, de mundo, de educação.
O quinto encontro visou à retomada de alguns conceitos essenciais do texto,
seguida da análise e debate. As questões norteadoras para o debate, abaixo
relacionadas, proposto na unidade temática – O Conhecimento e os Processos
Avaliativos - dinamizou o trabalho no grupo.
Elementos norteadores para o debate do tema
Questão 1
O texto sobre avaliação, remete a uma reflexão acerca das diferentes
concepções pedagógicas proposta para a disciplina desde a sua gênese, conforme
os interesses ideológicos em cada momento histórico. A avaliação em Educação
Física por muito tempo se estabeleceu em um paradigma que se baseava no
princípio da unilateralidade e visava à padronização e a uniformidade. O que
predomina nesta relação são os aspectos quantitativos de mensuração do
rendimento do aluno, através de gestos técnicos, destrezas motoras e qualidades
físicas, visando principalmente à seleção e a classificação dos alunos.
Como é possível superar essa forma de avaliação e permitir que essa se
realize num processo formativo que contribua de fato para que o aluno se aproprie
efetivamente do conhecimento?
A análise e as respostas dadas pelas professoras neste momento, vêm com
maior clareza e consistência que nos encontros anteriores. Observando a
contribuição das professoras que reconhecem a necessidade de superar o aspecto
marcante na Educação Física relacionada à instrumentalização do corpo, que
restringe o entendimento da Educação Física à realização de movimentos
12
mecânicos e repetitivos, formação unilateral, e o espontaneísmo – sem propósitos
explícitos e conscientes - que, muitas vezes orienta o trabalho do professor na
escola. No entendimento das professoras participantes se torna fundamental a
revisão do método de ensino na prática da avaliação.
Nesta direção, expressam a necessidade de estabelecer diferentes
instrumentos avaliativos com a finalidade da apropriação do conhecimento como,
por exemplo, a criação de espaços para: as dinâmicas de grupo; o trabalho de
pesquisa; debates; a capacidade criadora dos movimentos; a relação interdisciplinar;
os seminários entre outros que promovem a ampliação do conhecimento.
Questão 2
A Educação numa perspectiva crítica defende o envolvimento da escola na
formação de um cidadão crítico e atuante para possibilitar uma mudança social.
Esse redirecionamento exige uma nova concepção de ser humano, de mundo, de
educação. A avaliação neste sentido busca uma leitura crítica da realidade de cada
sujeito histórico-social envolvido no processo com vistas a sua transformação.
Como se efetiva na Educação Física a avaliação numa perspectiva crítica?
Quais os princípios vinculados nesse processo?
Essa questão fez com que as participantes do grupo retomassem os aspectos
teórico-metodológicos estudados anteriormente, a fim de vincular a avaliação da
aprendizagem aos elementos constitutivos da prática pedagógica, tais como:
A valorização da práxis (reflexão e ação);
O compromisso com a formação humana e com o acesso a cultura
(conhecimento historicamente produzido pela humanidade);
A horizontalidade no processo educativo;
O compromisso com a transformação social;
O constante diálogo com os alunos estabelecendo discussões e
reflexões sobre a Cultura Corporal, com a finalidade e compromisso de
constituir uma melhor compreensão sobre a realidade social.
As questões propostas para o debate no quinto encontro foram relevantes
no sentido de sinalizar as ações para o sexto encontro assim como, a apreensão do
13
conhecimento que visa um melhor enfrentamento dos problemas existentes em
relação à avaliação em Educação Física escolar.
O sexto encontro visou o planejamento das aulas aliada à construção de
estratégias avaliativas. Os instrumentos de avaliação propostos nesse encontro,
condizentes com a natureza formativa, foram elaborados a fim de orientar a prática
pedagógica. Criar condição concreta para o desenvolvimento de uma prática
pedagógica crítica e responsabilizada com a formação do aluno, foi um dos desafios
proposto para o grupo.
A culminância dos estudos propiciou para as professoras participantes o
encaminhamento da Avaliação Formativa, nas aulas planejadas anteriormente, para
os alunos da 3ª série do Ensino Médio. Os resultados da aplicação dos estudos na
prática, trouxeram elementos importantes para a sistematização das experiências,
visando seu aprofundamento no diálogo com um conjunto de conceitos que
procuram compreender o cotidiano da Educação Física Escolar.
2.4 Concepções e práticas correntes sobre avaliação
Este estudo foi destinado a explorar as concepção e práticas de avaliação dos
alunos da 3ª série A do Ensino Médio e professora da respectiva série do Colégio
Estadual Olívio Belich da cidade de Curitiba.
A questão Inicial proposta para 14 (quatorze) alunos da 3ª série A
procurou retratar, de acordo com os dados, como o professor realiza a avaliação na
disciplina de Educação Física.
Os dados apresentados expressam o entendimento que os alunos da rede
Estadual de Ensino trazem sobre a avaliação. Os alunos foram orientados a dar
informações sobre: como a avaliação se efetiva na disciplina de Educação Física?
A segunda questão apresentada ao grupo de alunos: quais as
modificações ocorridas em relação à avaliação na disciplina de Educação Física?
Essa questão foi respondida ao término dos estudos decorrentes da aplicação de
um conjunto de aulas planejadas nos referidos encontros nas quais o processo
avaliativo foi constitutivo.
Nesta mesma ocasião, foi proposto um grupo de questões, para a
professora, da série correspondente (3ª série A), que expressam a finalidade que ela
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atribui a sua própria prática avaliativa. O grupo de questões fez vários tipos de
solicitação a respondente quais sejam:
1. Como você efetuava a avaliação com seus alunos anterior ao grupo de estudo?
2. Após o Grupo de Estudo como compreendes o processo avaliativo?
3. Destaque os principais elementos em relação à avaliação escolar.
4. No planejamento da atividade a ser desenvolvida na aula, como você considera
a construção dos instrumentos de avaliação?
5. Como esses instrumentos foram avaliados?
Relato 1
A questão apresentada, abaixo, corresponde a primeira entrevista feita com
os alunos da 3ª série A, anterior ao grupo de estudo.
Como a avaliação da aprendizagem se efetiva nas aulas de Educação
Física?
As respostas dos alunos contidas no relato 1 (um) foi verificada a partir das
informações obtidas. Os alunos descreveram as formas mais utilizadas para a
avaliação na escola, onde se buscou fazer a leitura e o agrupamento das questões.
As classes encontradas configuram em ordem de importância os instrumentos
utilizados na efetivação da avaliação.
1. avaliação escrita, teórica e provas práticas (69,2%).
2. O conhecimento é obtido por meio do esporte (23,07).
3. Avaliação da capacidade dos alunos (7,6%).
4. Avaliação por meio de trabalhos (7,6%);.
Análise dos dados no campo de constatações.
Observa-se que a avaliação escrita, teórica e provas práticas ocupam um
lugar de destaque nas respostas dos alunos. Esse resultado demonstra um
distanciamento entre teoria e prática, ou seja, a teoria de um lado e a prática de
outro lado, como se a prática não correspondesse às teorias. Para Demo (1990)
“não se pode realizar prática criativa sem retorno constante a teoria, bem como não
se pode fecundar a teoria sem confronto com a prática”. (p.27). Essa dissociação
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entre teoria e prática não permite a reflexão ou questionamentos acerca da relação
que existe entre eles.
Em seguida, aparece o esporte como a expressão hegemônica nas aulas de
Educação Física e consequentemente na avaliação. Percebe-se que os alunos
encontram no esporte a finalidade da Educação Física. Essa cultura arraigada na
escola obscurece a riqueza dos demais conteúdos da disciplina. A limitação do
conhecimento está relacionada à influência dos meios de comunicação e da própria
herança da Educação Física brasileira.
A resposta pelos alunos sobre a avaliação da capacidade contida no item 3,
mostra claramente a compreensão dos alunos sobre a avaliação, ou seja, a
capacidade motora constituída pelos aspectos quantitativos de mensuração do
rendimento é primordial para corresponder com as expectativas da avaliação na
disciplina de Educação Física.
Relato 2
A segunda questão apresentada, corresponde à entrevista feita com os
alunos da 3ª série A, após a implementação de um conjunto de aulas mediada pelo
processo avaliativo, planejadas no decorrer dos estudos.
Quais as modificações ocorridas em relação à avaliação na disciplina
de Educação Física?
Esse relato procurou retratar, de acordo com os dados, como os alunos
identificaram as mudanças ocorridas em relação à avaliação, após os estudos e a
construção de um plano de trabalho docente - contendo um conjunto de aulas,
mediada pelo processo avaliativo - com a finalidade de um maior aprofundamento
teórico-metodológico, compreendido como constitutivo no processo de ensino e
aprendizagem.
As respostas foram agrupadas a partir das informações dadas pelos alunos e
transcritas na forma original em ordem de importância, como as modificações
ocorreram em relação à avaliação na disciplina de Educação Física.
1. “As avaliações não se dão somente em uma prova. As avaliações ocorrem
através de discussões em sala de aula mediante construção de painéis com
imagens e reportagens, a criação de regras na prática”. (46,2%)
16
2. “A avaliação ocorre de várias formas: apresentações, debates e aulas
práticas”. (37,5%)
3. “A avaliação teve métodos diferentes. A aula estava relacionada à mídia com
o esporte. Foram elaboradas questões a partir do tema estudado e a
avaliação aconteceu na discussão dessas questões”. (9,3%)
4. “Não houve avaliação em folha como a velha conhecida. Dessa vez a
avaliação foi em partes. Primeiro estudamos sobre a mídia e o esporte,
aprendemos tudo, respondemos um questionário, depois construímos um
cartaz sobre um esporte e citamos as características e as regras. Tudo o que
fizemos foi avaliado, não apenas uma avaliação como prova bimestral, mas
por meio de debates apresentações”. (3,1%)
5. “Ela é baseada no que a professora ensina dentro e fora de sala”. (3,1%)
6. “Eu mais gostei nas aulas de Educação Física, foi que eu mais entendi sobre
esportes, futebol, as questões das regras, debates, prática”. (3,1%)
7. “Tudo o que nós fazemos é avaliado, não tem uma prova que a professora
passa o conteúdo e a gente tem que decorar. Começa com questões e
exemplos ilustrativos a partir de figuras, fazemos um trabalho com as nossas
idéias e depois colocamos em prática”. (3,1%)
Análise dos dados no campo de constatações
Em geral os indicadores desse relatório apontam para uma nova
compreensão dos alunos sobre a avaliação. Percebe-se que a professora
informou aos alunos os critérios com os quais seriam avaliados. Os diversos
instrumentos utilizados no processo avaliativo ampliaram o conhecimento tratado
nas aulas de Educação Física quando constituída:
- no debate relacionado à análise de questões problematizadoras relativas à
mídia e o esporte;
-nas questões propostas para a montagem de painéis que enriqueceram e
alargaram a compreensão sobre o tema estudado;
-na construção de regras que se materializou na capacidade criadora;
É importante ressaltar que o ato avaliativo esteve a serviço da formação do
aluno. O que chama a atenção nos questionários dos alunos é a referência que
fazem sobre o processo de aprendizagem assim como, quando o aluno se refere
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ao trabalho realizado a partir das suas idéias, retrata ali um encaminhamento
metodológico partindo da primeira leitura da sua realidade. As questões
problematizadoras em seguida, proporcionaram um grande desafio na
construção do conhecimento.
Em seguida, a professora disponibilizou aos alunos o conhecimento
sistematizado, em que o processo de assimilação ocorreu por meio das práticas
corporais do esporte, dos debates, das discussões, da construção de painéis
acrescentando novos dados e a partir desses elementos os alunos fizeram uma
nova leitura da realidade.
Relato 3
A auto-avaliação da professora, em relação à avaliação e sua forma de
realização.
Este relato visa identificar a compreensão de avaliação antes e após os
encontros de estudo. A professora que respondeu o questionário atua no Ensino
Médio e Fundamental mais especificamente com o grupo de alunos que
responderam as questões elaboradas anteriormente.
O questionário foi elaborado com 5 (cinco) questões que reúne informações
relevantes para delimitar o âmbito dos conceitos utilizados pela professora para
caracterizar a avaliação escolar. A consistência das respostas revela a coerência
entre as informações obtidas pelos alunos com a finalidade que a professora atribuiu
à avaliação. As respostas foram transcritas na forma original.
Questão 1
Como você efetuava a avaliação com seus alunos anterior ao grupo de
estudo?
“Era uma avaliação estanque. Os alunos faziam uma prova teórica sobre o
conteúdo daquele bimestre e uma prática. Além de trabalhos. Já procurava algumas
modificações através de debates, apresentações e construção de movimentos, mas
sem muito embasamento”.
Análise dos dados no campo de constatações
18
Os dados descritos pela professora vêm confirmar o que os alunos suscitaram
nas respostas do relato 1 (um). A cisão entre teoria e prática revela um ensino
fragmentado que se caracteriza como um obstáculo para uma educação, quando se
tem como elemento central o processo formativo. A professora destaca que já
procurava algo a mais para a avaliação, mas sem um suporte teórico necessário
para estruturar melhor o processo avaliativo na escola.
Diante do exposto, pode-se dizer que, se por um lado nas discussões teóricas
sobre a avaliação da aprendizagem o avanço foi significativo, por outro lado, na
prática, os professores enfrentam dificuldades no que se refere à ampliação dos
fundamentos epistemológicos. Percebe-se que a falta de um diálogo dialético entre
teoria e prática evidenciam um ensino fragmentado, impossibilitando assim, um novo
olhar sobre o trabalho pedagógico na escola.
O modo de expressar da professora indica claramente a falta de um método
que sustenta uma melhor forma de agir na avaliação. Isto permite visualizar os
caminhos do conhecimento que trazem visões de mundo estabelecendo formas
pedagógicas específicas. Neste contexto, os limites impostos requerem um novo
entendimento quanto aos pressupostos, os princípios e fundamentos que organizam
o plano de trabalho na escola. Assim, torna-se claro que a falta do pleno domínio
teórico faz com que o professor não identifique na sua prática as possibilidades que
permitem readequar o processo formativo dos alunos.
Questão 2
Após o Grupo de Estudo como compreendes o processo avaliativo?
“Como um processo contínuo que deve ser muito importante e de várias
formas de modo que valorize a construção e a transformação do pensamento lógico
e crítico. Deve ser feito de várias formas, partindo da problematização do conteúdo
sem esquecer do âmbito social, passando por uma análise crítica, percebendo o
desenvolvimento da criatividade e valores”.
Análise dos dados no campo de constatações
Este relato revela a mudança de concepção atribuída a sua prática avaliativa
na escola após os estudos. Como um processo de reflexão, os encontros de estudo
contribuíram para o acréscimo de novos dados no âmbito da Cultura Corporal. Os
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dados empíricos construídos a partir da experiência pedagógica das professoras
permitiram um entendimento mais elaborado, tendo em vista a análise e a
compreensão de novos dados epistemológicos e ao mesmo tempo, os estudos
possibilitaram uma maior reflexão sobre a sua prática social na escola.
Desse modo, a avaliação é vista como um processo importante para o ensino
e a aprendizagem. Assim, o encaminhamento dado no decorrer desse processo
abriu um horizonte de possibilidades para a superação das atuais práticas
pedagógicas que legitimam a exclusão dos alunos na escola.
Questão 3
Destaque os principais elementos em relação à avaliação escolar.
-“Diversidade de aplicações das avaliações”.
-“participação dos alunos no processo – auto avaliação (reflexão sobre a prática)”.
-“valorização da construção do pensamento e análise crítica do conteúdo”.
Análise dos dados no campo de constatações
Esse conjunto de indicadores aponta para uma mudança qualitativa no
processo avaliativo. A diversidade de avaliações - efetuadas com alunos -
demonstra um aspecto sistemático da avaliação (formal), não mais centrada no
professor, mas em ambos, professor e aluno, estabelecendo dessa forma, a
horizontalidade no processo educativo.
A professora ao se referir sobre o contexto da reflexão sobre a prática social e
análise crítica do conteúdo, compromete-se pedagogicamente com a apropriação do
conhecimento da Cultura Corporal, superando o entendimento imediato das coisas.
O conhecimento é determinado em movimento, num princípio dinâmico onde os
alunos possam refletir e acrescentar novos dados na história corporal.
Questão 4
No planejamento da atividade a ser desenvolvida na aula, como você
considerou a construção dos instrumentos de avaliação?
“Avaliação 1 – instrumentos: observação das respostas sobre perguntas chaves: O
que é mídia? E o que significa esporte espetáculo”?
20
“Avaliação 2 – leitura que os alunos fizeram das imagens (sobre o esporte), e
criação de regras que não evidenciem a competição”.
“Avaliação 3 – Análise da discussão da prática e volta às perguntas chaves, se neste
momento conseguiram responder”.
Análise dos dados no campo de constatações
Consideramos que as respostas dadas nesta questão revelam unidade e
coerência em relação às demais questões. A professora tentou desconstruir na
prática o uso da avaliação como elemento de legitimação da exclusão social e
estruturou situações que permeou o conjunto das ações pedagógicas. Os
procedimentos adotados serviram para o detalhamento de conhecimentos
considerados relevantes para o processo de aprendizagem de todos os alunos.
Questão 5
Como esses instrumentos foram avaliados?
“Avaliação 1 - Observação e anotações”.
“Avaliação 2 – Observação e apresentação dos grupos”.
“Avaliação 3 – Observação e respostas escritas”.
Análise dos dados no campo de constatações
Os procedimentos de avaliação descritos denotam uma grande dinamicidade
no ato avaliativo. “Considerar no processo de avaliação somente a intenção ou
somente a realidade do que aparece na aprendizagem, é um procedimento
unilateral, que não consegue cumprir uma lógica dialética”. (WACHOWICZ, 2000).
Percebe-se que as estratégias da professora em relação ao conjunto de
procedimentos estabelecidos na avaliação, permitiram de certa forma a atitude de
aprender, pois na concepção dialética todos são responsáveis pela ação educativa
ou seja, aluno e professor posicionam-se como sujeitos do ato do conhecimento.
21
2.5 Categorias de análise
Na interpretação dos dados empíricos e na observação participante realizada
por meio dos grupos de estudo emergiram 3 (três) categorias importantes a serem
destacadas, quais sejam:
Práxis pedagógica.
Instrumentos de Avaliação.
Avaliação e a Organização do Trabalho Pedagógico.
Práxis Pedagógica
Recorrer à práxis pedagógica como categoria, permite reconstruir o
conhecimento de forma crítica segundo condições objetivas determinadas ao longo
da história, contrapondo assim, aos dados descritos na pesquisa realizada com a
professora e alunos do Ensino Médio que destacam como principais procedimentos
adotados para a prática avaliativa na escola, a prova prática e teórica. A pesquisa
realizada demonstra claramente tanto na fala da professora quanto na fala dos
alunos, a falta de um diálogo dialético entre teoria e prática, mantendo uma visão
fragmentada e estanque do conhecimento o que dificulta e impossibilita a
compreensão do todo. A ação educativa neste sentido perde seu significado
pedagógico crítico, tornando-se apenas mecânico, ou seja, “o fazer pelo fazer”.
Sabe-se que a teoria está vinculada a toda e qualquer prática desenvolvida na
escola, desde ao mais simples movimento presente no esporte, na ginástica, na
dança ou lutas, até um ato mais complexo como um sistema técnico, tático. Nessa
relação entre atividade prática e atividade teórica se configura a práxis. Neste
sentido, busca-se o conhecimento através da atividade entendida como práxis
pedagógica, como fundamental para a indissolubilidade entre teoria e prática. Para
Sánchez Vázquez (1977,p.185) “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é
práxis”.
A atividade do professor será entendida como práxis pedagógica quando se
constitui na unidade entre a atividade prática e atividade teórica na transformação da
realidade escolar. A práxis pedagógica ao ter como fundamento a prática docente,
busca a teoria de modo que esta possa esclarecê-la e servir-lhe de guia ao mesmo
22
tempo em que, num processo contínuo, permite o enriquecimento da teoria pela
prática.
Faz-se necessário entendermos que a Educação Física é uma disciplina
voltada ao acervo de conhecimento que constitui a Cultura Corporal, que se
expressa pelos movimentos na prática social, refletindo-se na forma de teoria que é
devolvida a prática num movimento incessante e contínuo.
[...] tratar o conhecimento não significa abordar o conteúdo
teórico, mas, sobretudo, desenvolver uma metodologia que
tenha como eixo central à construção do conhecimento pela
práxis, isto é, proporcionar, ao mesmo tempo, a expressão
corporal, o aprendizado das técnicas próprias dos conteúdos
propostos e a reflexão sobre o movimento corporal.
(DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA, 2008, p. 72)
Desta forma, entendemos que o conceito de práxis, ao contribuir para que o
professor supere a alienação de seu trabalho, propõe aos seus alunos atividades de
ensino que vise uma melhor compreensão dos contextos históricos, sociais, culturais
correlacionados ao conhecimento da disciplina de Educação Física, permitindo uma
reflexão crítica na formação de um cidadão capaz de entender e transformar a
realidade onde esteja inserido. A dinâmica da reflexão da práxis garante o
estabelecimento do pensamento pedagógico.
Vasquez (1990, p.117) aponta que “A relação entre teoria e práxis é para
Marx teórica e prática; prática na medida em que a teoria, como guia da ação, molda
a atividade do homem, particularmente à atividade revolucionária; teórica, na medida
em que essa relação é consciente”.
O que significa dizer que a atividade deve ir além da simples ação. Ou seja,
quando o aluno expressa seu próprio processo de aprender do qual toma
consciência, ao mesmo tempo em que explica os significados está fazendo uma
metacognição. É uma atividade revolucionária na medida em que se constitui numa
relação dialética de homem e de sociedade, onde a práxis une a compreensão
teórica à ação com vistas à transformação da sociedade.
23
Instrumentos de avaliação
A categoria Instrumentos de avaliação tem seu lugar de destaque no referido
trabalho, tendo em vista, a dificuldade apontada pelas professoras da escola em
organizar estratégias avaliativas que tem como finalidade precípua a formação dos
alunos assim como, potencializar o trabalho pedagógico na escola.
Pode-se dizer que um dos aspectos mais importantes na prática avaliativa
está relacionado à elaboração e a escolha dos instrumentos. O plano de trabalho do
professor vai muito além da proposição dos conteúdos, dos objetivos, da
metodologia e da avaliação. O compromisso está em estabelecer metas para o
trabalho pedagógico de modo que o processo de ensino e aprendizagem
corresponda com as expectativas de ambos (professor e aluno).
Neste sentido, uma forma apropriada para a elaboração dos instrumentos
desejados para conduzir a prática avaliativa na escola, está relacionada à
capacidade do pensar com rigor o trabalho pedagógico na escola, problematizando
questões que se colocam na complexidade da Educação Física escolar que vão
desde os elementos metodológicos, conteúdos, até questões mais gerais como: o
que é ensino? O que é aprendizagem? O conteúdo a ser desenvolvido com os
alunos contribui para o processo de formação? Essas entre outras questões
possibilitam um melhor entendimento dos inúmeros instrumentos adotados e do
momento mais adequado para utilizá-los.
Os critérios de uso das práticas avaliativas dependem das informações que o
professor pretende obter sobre o processo de ensino e aprendizagem. Os
parâmetros escolhidos precisam ter clareza e coerência com os objetivos,
conteúdos e a metodologia, bem como, discutidos com os alunos anteriormente.
Portanto, os instrumentos utilizados devem justificar a intencionalidade
daquele momento pedagógico, que podem resultar desde a simples observação e
registro das aulas, que permite ao professor uma reflexão do trabalho pedagógico
realizado assim como, a busca de novas alternativas que venham auxiliar na
atuação pedagógica.
Essa prática conduz o professor para muito além das aulas de um
determinado conteúdo da Educação Física, pois, a dimensão de investigador
24
possibilita uma intervenção adequada de orientação do trabalho pedagógico,
buscando o apoio necessário nos estudos teóricos e metodológicos.
A abrangência da avaliação formativa permeia todo processo de construção
do conhecimento que acontece nos diferentes espaços que o professor de
Educação Física vem desenvolvendo as aulas, ligados as expectativas da
aprendizagem. A construção dos instrumentos mais apropriados deve estar
relacionada a uma concepção que tem como objetivo a formação do aluno. Para
tanto, se torna fundamental determinar os instrumentos avaliativos a partir dos
conteúdos trabalhados.
Neste sentido, os diferentes procedimentos metodológicos (discussão,
debates, elaboração de sínteses integradoras, pesquisa bibliográfica, pesquisa de
campo, seminários, recursos audiovisuais entre outros) permitem organizar
instrumentos de avaliação que reside em sua capacidade de fornecer subsídios para
desencadear um melhor processo de ensino e aprendizagem, que pode ser assim
constituída:
1- no debate relacionado à análise de questões problematizadoras referente aos
aspectos da Cultura Corporal (transformações históricas, técnicas, táticas, sociais).
O debate possibilita que o professor avalie:
O conhecimento sobre o conteúdo da disciplina envolvido no debate;
Os argumentos relacionados sobre o assunto específico debatido;
O registro das idéias surgidas no grupo.
2- na forma da experiência prática, analisando novas questões corporais.
Nessas atividades o professor pode avaliar:
Conhecimento do conteúdo;
Compreensão da origem da construção histórica do conteúdo trabalhado e
sua relação com a contemporaneidade.
3- nos seminários que englobam os conteúdos trabalhados, desdobrando questões
que possam enriquecer e alargar a compreensão das práticas corporais que surgem
no cotidiano escolar.
Pode-se avaliar:
A consistência nos argumentos;
25
A compreensão dos textos utilizados;
A participação dos alunos com relatos que visam o enriquecimento da
apresentação.
4- nas dinâmicas em grupo permitindo aos alunos a expressão do pensamento e do
movimento que se materializam na capacidade criadora (construção de painéis,
mural, jogos entre outros).
Nessas atividades o professor pode avaliar:
O conhecimento socializado em grupo;
A participação de todos na construção do conhecimento;
5- na criação de novas sínteses corporais (seja na ginástica, nos jogos, no esporte,
nas danças, nas lutas).
Nessas atividades o professor pode avaliar:
A expressão das idéias com clareza;
A criatividade e envolvimento na atividade.
Avaliação e a Organização do Trabalho Pedagógico
O grupo de estudo juntamente com a pesquisa efetuada com as professoras
de Educação Física da escola mostrou que a falta de uma organização no trabalho
pedagógico mais consistente, artificializa o processo de ensino e consequentemente
a avaliação recai sobre a “velha” forma de medir e classificar pela sua aptidão física.
As práticas avaliativas na disciplina de Educação Física geralmente são
constituídas por um paradoxo, ou seja, existe um fator contraditório nos conteúdos
presentes no plano de ação docente e aqueles presentes nas estratégias de
avaliação. O conhecimento específico da Cultura Corporal nem sempre é levado em
conta. Encontramos com freqüência a escolha de conteúdos desenvolvidos nas
aulas relacionados a práticas que o professor da disciplina mais se identifica como,
por exemplo, o professor que foi atleta de uma determinada modalidade esportiva,
assume o direito exclusivo de tratar do referido conhecimento para as suas aulas.
Assim, a avaliação também decorre sobre aquele conteúdo trabalhado, ao
invés de considerar que, necessariamente, deveriam ser avaliados sobre a
26
aprendizagem de tudo que elegemos em nossos planejamentos de ensino. Se há
conteúdos que não são levados em consideração enquanto tratamento nas aulas,
qual o critério estabelecido na escolha dos conteúdos e processo avaliativo? Por que
esses conteúdos foram incluídos no planejamento e excluídos nas aulas?
A forma fragmentada com que os conteúdos da disciplina vêm sendo tratados
na escola, impõe uma estratégia de avaliação também fragmentada e conduzida
isoladamente pelos professores que, muitas vezes, impede aos alunos a visão da
totalidade. Nessa perspectiva Freitas (2008, p.256) destaca:
alienado do processo de trabalho pedagógico, individualizado,
sujeito a avaliações fragmentadas e longe do material produtivo,
o aluno é condenado a uma situação de ensino sem maior
sentido para ele. As resistências do aluno brotam em sala de
aula, nas mais variadas formas, gerando conflitos que
conduzem o professor a fazer uso das práticas de avaliação,
para controlar o comportamento do aluno e assegurar o controle
em classe.
Não há como pensar uma organização do trabalho pedagógico na escola,
sem antes pensar no papel que cabe ao Projeto Político Pedagógico, nem garantir
que a existência de um projeto na escola seja suficiente para as mudanças
necessárias em relação à concepção de avaliação. Pode-se dizer que o referido
documento construído verticalmente exerce a mera função burocrática, onde as
situações pedagógicas são construídas a partir da sua experiência prática e a visão
de mundo parte da história pessoal.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo visou socializar, alguns caminhos percorridos durante o
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). A reflexão foi além do pensar da
simples forma de avaliar na disciplina de Educação Física, mas como entender o
processo dialético que se caracteriza pela tese, antítese e síntese da avaliação do
desempenho do aluno na sua prática cotidiana.
27
Contudo, durante toda a trajetória do Programa, as experiências com as
leituras, os grupos de estudo realizados, as observações dos discursos de outros
colegas, enfim, da gama de informações e conhecimentos recebidos, houve uma
constante preocupação e angustia com o paradoxal cenário avaliativo que se
apresenta no cotidiano escolar mais específicamente na disciplina de Educação
Física.
O conjunto de dados da pesquisa realizada com os alunos e professora do
Ensino Médio trouxeram significativas contribuições para o estudo. Procurou-se
entender o fenômeno avaliativo às funções sociais da escola. Neste sentido, houve
uma constante dificuldade em estabelecer critérios avaliativos condizentes com a
formação do aluno, que mostrou claramente o maior desafio proposto nas ações
propostas para as professoras participantes.
No decorrer dos estudos encontramos várias ações positivas que facilitaram a
superação dos métodos tradicionais, classificatórios que apresentam um caráter
excludente dentre outras pode-se citar:
-a reflexão crítica sobre a maneira como o processo avaliativo se relaciona com a
organização do trabalho pedagógico;
-a desconstrução da avaliação como elemento de legitimação da exclusão social,
isso implica lutar por uma escola e um ensino de qualidade para todos;
-uma concepção de conhecimento que oriente a unidade entre teoria/prática,
sujeito/objeto.
Com certeza não esgotamos o campo da avaliação ao longo de nosso estudo,
mas pode-se dizer que é bem mais complexa do que apresentar um conjunto de
definições sobre a avaliação. O plano de trabalho do professor precisa refletir a
unidade entre objetivos, conteúdo, métodos e avaliação. É preciso ter clareza entre
a finalidade da avaliação, bem como o destino a ser dado aos resultados, enfim dar
transparência ao processo de avaliação com o propósito de orientar novas ações
que permitirão uma melhor qualidade de ensino.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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28
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