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Actividade 1 – Leia o texto que se segue e reflica, tendo em conta, as questões

apresentadas.

O PAPALAGUIO chefe dos índios da ilha de Samoa situada na Polínésía visitou a Europa e

ficou impressionado com o que observou.

Regressado à sua terra fez vários discursos onde contou os costumes e

hábitos do Papalaguí (homem branco de uma forma muito crítica).

O Papalagui mora, como o mexilhão do mar, dentro duma concha dura. Tem

pedras a toda a volta de lado e por cima. A sua cabana assemelha-se a um baú de pedra

posto ao alto; um baú cheio de cubículos e de buracos. É pois nestes baús que o

Papalagui passa a vida.

Há, na Europa, tantos homens a viverem deste modo quantas palmeiras há em

Samoa, ou mesmo muito mais. Alguns hão-de ter, por certo um desejo ardente de ver a

floresta, o sol e a luz; mas isso é geralmente tido por doença a precisar de remédio.

Quando alguém se não mostra contente com aquela vida vivida no meio das pedras,

dizem: «É um indivíduo desnaturado», o que quer dizer: ignora o que Deus destinou para

o homem.

Esses baús de pedra encontram-se em grande número e muito próximos uns

dos outros; nenhuma árvore, nenhum arbusto os separa: encontram-se ombro a ombro,

como homens, e em cada um deles há tantos Papalaguis como numa aldeia de Samoa.

Do outro lado, à distância de uma pedrada, encontra-se uma outra fila de baús,

Escola Secundária Anselmo de Andrade

Curso de Educação e Formação de Adultos (Ensino Básico) Turma – B3 D / Ano Lectivo – 2008 / 2009

Área: Linguagem e Comunicação

Unidade de Competência:LC3B

Critérios de Evidência: 6 – Identificar valores éticos, políticos e religiosos em textos lidos.

Ficha de Trabalho nº _______

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igualmente ombro a ombro e habitados por homens. Entre essas duas filas há uma

estreita greta a que o Papalagui chama «rua». Essa greta é, às vezes, tão longa como um

rio e coberta de pedras duras. Pode-se deambular dias inteiros entre essas gretas antes

de se dar com uma floresta ou um naco de céu azul. Nunca, no meio das gretas, se vê, na

realidade, a cor do céu. É que em cada cabana há pelo menos um, e por vezes vários

sítios onde se faz fogo, e assim o ar está sempre cheio de fumo e de cinza, como

acontece durante a erupção da grande cratera de Savaii. Esse ar insinua-se pelas gretas,

de modo que os baús de pedra mais altos parecem-se com os limos dos pântanos de

«mangrove», e os homens apanham com terra negra nos olhos e nos cabelos e com areia

dura nos dentes. Mas isso não impede que os homens percorram as tais gretas desde

manhã até à noite.

Alguns sentem mesmo com isso um especial prazer. Em certas gretas reina a

confusão: são as ruas que comportam enormes caixas de vidro onde estão dispostas

todas as coisas de que o Papalagui necessita para viver: panos, ornamentos para a

cabeça, peles para os pés e para as mãos, provisões de comida, carne, alimentos a sério

como sejam os frutos, os legumes, e muitas coisas mais. Tudo ali está para tentação dos

homens. Mas ninguém tem o direito de tirar o que quer que seja, mesmo em caso de

extrema necessidade; para isso é preciso ter recebido uma licença especial e feito uma

oferenda.

Nessas gretas, o perigo ameaça por todo o lado, pois não só os homens

caminham em tropel, como também circulam em todas as direcções ou se fazem

transportar em grandes baús de vidro que deslizam sobre rampas metálicas. O barulho é

enorme.

Resumindo: baús de pedra com os seus muitos homens, fundas gretas de

pedra correndo para um lado e para outro, quais mil e um rios, com seres humanos lá

dentro, barulho e estrondo, poeira negra e fumo por toda a parte, árvore alguma no

horizonte e nada de céu azul, nada de ar puro ou de nuvens - a isto chama o Papalagui

uma «cidade», criação de que muito se orgulha; quando muitos há, que ali vivem, que

nunca viram uma floresta, um céu lavado ou o Grande Espírito, face aface.

Orgulhar-se-á o Papalagui desses calhaus que assim juntou?

O Papalagui, Discursos de Tuiavii Recolhidos por Erich Scheurmann

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Este texto não deixa de nos fazer sorrir (e reflectir) devido à forma como o Índio

expõe a sua visão da cidade.

• Como é que ele a via? ___________________________________________________

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• Quais os termos que ele utiliza para designar “casas”, “ruas”, “prédios” e “carros”?

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• Que sentimentos lhe despertou essa visita?

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• Qual terá sido a intenção do autor ao escrever o texto?

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Quais os valores (princípios de vida) que estão subjacentes neste texto.

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Actividade 2 – Leia o seguinte texto.

Era uma montanha à beira-mar, alta, tão alta que parecia tocar o céu, áspera,

abrupta, medonha, com ravinas negras, cheias de rochas escalvadas onde não nascia

uma árvore, nem uma flor, e onde não chegavam homens nem animais.

Todos os dias, fizesse sol ou tempestade, com vento ou chuva, um pássaro,

tão negro como as ravinas, voava constantemente da terra para o mar e do mar para as

rochas, onde parecia impossível qualquer ave procurar abrigo ou fazer ninho. Talvez por

isso ele era o único pássaro que vivia nessas paragens solitárias, pairando lá no alto, tão

alto que mal se via do chão, como se quisesse alcançar o infinito.

E olhando lá de cima tudo quanto abarcava o seu voo e o seu olhar agudo e penetrante

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sete léguas em redor, o pássaro dizia para com as suas penas:

- Sou senhor de tudo isto, deste reino imenso de pedra e água. Ninguém me

pode fazer sombra, atacar-me ou roubar os meus domínios. Por isso sou forte, e

poderoso e único.

E grasnava, com uma voz rouca que parecia a gargalhada de um ser diabólico.

Havia na mesma montanha à beira-mar uma pedra tão negra como o pássaro

que, arrancada às rochas abruptas, viera a rolar aos trambolhões por ali abaixo, e ficava

em equilíbrio entre dois pedregulhos, em risco de cair à menor enxurrada ou sopro de

vento. E pelos dois buracos disformes que lhe serviam de olhos, a pedra observava o

pássaro que todos os dias voava cada vez mais alto, descrevendo curvas cada vez

maiores para aumentar os seus domínios.

Sem se poder desviar nem um palmo do sítio onde o acaso a pusera, a pedra

invejava aquela coisa voadora, a vida voadora, que podia ir onde quisesse, sem dar

satisfações a ninguém.

- Maldito sejas, pássaro do mar e das tempestades - gritava a pedra pelo

buraco disforme que lhe servia a boca. - Ave de mau agoiro, que voas em redor como se

fosses dona de tudo isto, enquanto eu não sou ninguém, e às vezes até chego a pensar

que não existo. - E chorava baixinho: - Ai, quem me dera ter asas que me levassem daqui

para fora a correr mundos que devem existir para além desta montanha e deste mar!

Quando passava perto dela, o pássaro orgulhoso ouvia às vezes estes

queixumes, e, grasnando com a tal voz rouca, dizia-lhe:

- Não voa quem quer, minha rica! É um dom da natureza. E mesmo assim, não

é nada fácil. É preciso fazer esforço. Tu, alguma vez te esforçaste por alguma coisa?

- Eu? Como é que eu posso? - lamentava-se a pedra. - Sem patas nem asas,

nem coisa parecida, nem alguém que me ajude?

- Nunca tentaste fazer nada pelos teus próprios meios, sempre à espera que te

empurrem, aos trabalhões da sorte. Ainda por cima és pequena, feia, disforme...

- É dos encontrões que tenho levado - gemeu a pedra.

- Enquanto eu, com as minhas asas abertas, lá no alto, sou forte, belo,

superior, e invulnerável.

- Não és tão invulnerável como julgas - tornou-lhe a pedra. - Também estás

sujeito à tua sorte, e não sabes qual possa ela ser quando menos esperas. Eu própria,

apesar de pequena, posso matar-te com uma pedrada.

- Tu? Grande atrevida – grasnou o pássaro. – Não, sabes, minha parva, que

para uma pedrada não basta a pedra? É preciso haver quem a atire. E por estes sítios,

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desde que eu me lembro, nunca passou ninguém. E ria, ria fazendo muita troça da pedra.

- Ah, que se eu um dia te puder ser boa – rosnou a pedra entre os dentes -,

conta a minha pedrada.

E eram sempre conversas deste género, cheias de ódio, inveja, orgulho, ironias

e ameaças, quando afinal um pássaro do mar ou uma pedra da montanha não valem

grande coisa, porque existem na terra e no mar mil outras coisas importantes, e tudo o

tempo destrói.

E o tempo que tudo destrói foi passando, até que um dia apareceu por ali um

homem vindo não se sabe de onde nem porquê. Viu um pássaro, num sítio onde não

havia mais nenhum e quis caçá-lo. Mas como não levava qualquer arma, apanhou uma

pedra – a tal pedra – e, segurando-a com força, esperou que o pássaro lhe ficasse ao

alcance quando descesse para ousar nas rochas. Fez a pontaria e Zás!, assobiando ao

vento e descrevendo uma curva no ar como se voasse, a pedra foi bater em cheio no

coração do pássaro. Berrou o pássaro com a dor, e a pedra riu desta vez, satisfeita

porque chegara a hora da vingança.

- Então – gritou a pedra -, qual de nós é agora o mais forte?

A história não podia acabar aqui. Mas não, porque o pássaro, embora ferido,

continuou o seu voo alto, enquanto a pedra caiu na vertical sobre as rochas mais além,

onde rolou um bocado, e ficou outra vez parada, não sabemos para quanto tempo mais. E

depois do homem se ir embora, o pássaro descreveu uma larga curva, e com os olhos

agudos viu onde tinha caído a pedra. E descendo sobre ela numa fúria, segurou-a nas

garras e, afastando-se outra vez para o largo, deixou-a cair no abismo, onde ela

mergulhou, descendo devagar, devagar, durante muito tempo, até ao fundo do mar, que

era dos mais fundos.

E a pedra lá ficou, desta vez para sempre, e agora nem sequer vê a luz do Sol,

nem ouve o assobio do vento, nem a tempestade, e muito menos pássaros ou homens.

A história também podia acabar aqui. Não acaba. O pássaro, ferido de morte, ainda voou

o mais alto que pôde, numa despedida, soltando gritos de dor - desta vez não ria - até

esgotar as forças e cair também, longe, lá longe, devagarinho até ao fundo do mar, onde

ficou para sempre, e onde não se vê o céu, nem as montanhas, nem as pedras, e onde

muito menos pode voar.

Agora sim, acabou a história. É uma história triste. Se o pássaro e a pedra

quisessem, não poderia ter sido tudo de outra maneira ?

Ricardo Alberty, Fábulas que Ninguém me Contou (conto na íntegra)

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Estas são respostas dadas a um questionário sobre o texto. Formule as

respectivas perguntas.

1._____________________________________________________________________?

Estava situada à beira-mar, era alta, áspera, abrupta e medonha, tinha ramos e

não possuia qualquer tipo de vegetação; o único ser vivo que a visitava era um pássaro.

2. _________________________________________________________________?

Essa expressão significa falar consigo próprio.

3. _________________________________________________________________ ?

Ele julgava-se o senhor do mundo.

4. __________________________________________________________________ ?

Uma pedra pequena e negra.

5. ________________________________________________________________ ?

Através de dois buracos disformes.

6.___________________________________________________________________?

Desejava ter asas e poder voar como um pássaro.

7. ___________________________________________________________________?

Um homem.

8. ___________________________________________________________________?

Atirou-lhe uma pedra

9.___________________________________________________________________ ?

Não. Continuou a voar. ..

10.__________________________________________________________________ ?

Porque estava com raiva dela.

11.___________________________________________________________________?

Ficaram ambos no fundo do mar.

12.___________________________________________________________________ ?

A maldade e o egoísmo não fazem bem a ninguém.

Agora dê um final diferente ao conto, partindo da questão final do mesmo.

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A partir desta história poderá partir-se, ainda, para um pequeno debate em

torno das questões ligadas à protecção ambiental: de que modo a maldade e o egoísmo

interferem na nossa relação com a natureza?

Anote as ideias a ser discutidas e os valores a defender, para dar início ao

debate.

Bloco de notas

Bom Trabalho!

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