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IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem 07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR 1942 O olho e a construção da imagem Luiz Antonio de Saboya 1 Resumo Objeto de estudo Não é preciso enfatizar que hoje vivemos em plena “civilização da imagem”, com a explosão da cultura visual (sob a chancela da tecnologia), a partir de uma trajetória dominante no século XX. O estudo dessa temática vem a ser um compromisso interdisciplinar, com contribuições e aportes da sociologia, antropologia, semiótica, Gestalt, os estudos em cinema, fotografia, e até mesmo alguns subsídios de cunho filosófico. Nossa abordagem procurou enfatizar que mesmo a um nível básico - fisiológico perceptivo - alguns aspectos já podem ser destacados sugerindo que “construímos o que vemos”. A contribuição da psicologia da Gestalt é defendida, revelando o modo como esta oferece aportes bastante significativos para o tema da percepção, chegando a uma “pedagogia do olhar”. Metodologia aplicada O trabalho se vale de Jacques Aumont, um teórico de cinema, escritor e professor na Universidade de Paris III e diretor do Instituto de Pesquisas sobre Cinema e Audiovisual dessa mesma universidade. O seu livro “A Imagem” serviu de referência básica no trabalho. Algumas contribuições a partir de Rudolf Arnheim são exploradas: concordando com as posições por ele defendidas, o trabalho aponta para o menosprezo que certas correntes dominantes no campo da teoria do conhecimento devotam ao tema da percepção, em especial a visual. Diversos outros autores são instrumentais, dentre aqueles que ganharam destaque na formulação e consolidação de uma teoria da percepção visual. 1 Doutorando na EBA / UFRJ e professor da ESDI / UERJ e-mail: [email protected] Orientador Prof. Dr. Carlos de Azambuja Rodrigues Imaginata – Grupo de Estudos em Filosofia da Imagem e Estética Contemporânea UFRJ – EBA – Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais

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IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem

07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR

1942

O olho e a construção da imagem

Luiz Antonio de Saboya1

Resumo

Objeto de estudo

Não é preciso enfatizar que hoje vivemos em plena “civilização da imagem”, com a

explosão da cultura visual (sob a chancela da tecnologia), a partir de uma trajetória dominante no

século XX. O estudo dessa temática vem a ser um compromisso interdisciplinar, com

contribuições e aportes da sociologia, antropologia, semiótica, Gestalt, os estudos em cinema,

fotografia, e até mesmo alguns subsídios de cunho filosófico.

Nossa abordagem procurou enfatizar que mesmo a um nível básico - fisiológico perceptivo

- alguns aspectos já podem ser destacados sugerindo que “construímos o que vemos”. A

contribuição da psicologia da Gestalt é defendida, revelando o modo como esta oferece aportes

bastante significativos para o tema da percepção, chegando a uma “pedagogia do olhar”.

Metodologia aplicada

O trabalho se vale de Jacques Aumont, um teórico de cinema, escritor e professor na

Universidade de Paris III e diretor do Instituto de Pesquisas sobre Cinema e Audiovisual dessa

mesma universidade. O seu livro “A Imagem” serviu de referência básica no trabalho. Algumas

contribuições a partir de Rudolf Arnheim são exploradas: concordando com as posições por ele

defendidas, o trabalho aponta para o menosprezo que certas correntes dominantes no campo da

teoria do conhecimento devotam ao tema da percepção, em especial a visual. Diversos outros

autores são instrumentais, dentre aqueles que ganharam destaque na formulação e consolidação

de uma teoria da percepção visual.

1 Doutorando na EBA / UFRJ e professor da ESDI / UERJ

e-mail: [email protected] Orientador Prof. Dr. Carlos de Azambuja Rodrigues Imaginata – Grupo de Estudos em Filosofia da Imagem e Estética Contemporânea UFRJ – EBA – Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais

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O olho e o sistema visual podem ser abordados segundo diversos pontos de vista, mas sabe-

se que mesmo as mais simples situações cotidianas são bem mais complexas do que a mera

reação a estímulos isolados (como certas correntes que estudam o comportamento humano

defendem – em contraste evidente com o que é proposto pelas teorias da Gestalt). A descoberta

em 1912 do “fenômeno phi” por Max Wertheimer foi muito importante, pois desencadeou a

chamada “Revolução da Gestalt”, que mudou a maneira como a percepção era estudada. Temos

então uma visão “panorâmica” quanto à gênese da Gestalt e seus desdobramentos e influências

posteriores. Questões como a da percepção das imagens, a da atenção e da busca visual, a da sua

“dupla realidade”, as ilusões, e a Gestalt em si merecem atenção.

Resultados preliminares

Na conclusão, constatamos que algumas questões permanecem mal resolvidas, pois

envolvem uma experimentação complexa, sendo que as respostas são tímidas e incompletas. A

ideia é que podemos caminhar na direção do conceito de “inteligência visual”: os estudos mais

recentes nesse campo demonstram que os desafios são significativos, mas ao mesmo tempo

existem perspectivas animadoras. De algum modo, a senda aberta pelos teóricos da Gestalt vai

sendo retomada, com outras questões em pauta, assim como com novas informações acumuladas

e novas tecnologias e pesquisas. Cada vez mais nos afastamos de uma visão da percepção visual

como algo estritamente fisiológico - óptico - mecânico para um entendimento de que mesmo

nesse nível básico que foi abordado anteriormente o processo é dinâmico e, com certeza, de certo

modo “construímos o que vemos”.

Abstract

Subject

It is not necessary to overstate that nowadays we all live inside an “image civilization”,

deriving from the blossoming of visual culture (under the umbrella of technology), from a

dominant path along the twentieth century. The study of this subject is an interdisciplinary

endeavor, with contributions from sociology, anthropology, semiotics, Gestalt, and the studies

regarding the movies, photography, and some philosophical insights.

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Our approach tried to stress that, even at a very basic level (perceptual and physiological,

some aspects may be pinpointed suggesting that “we build what we see”. There is also a cleat

defense of the contribution of Gestalt theory showing the way it offers many significant

contributions to the theme of perception, arriving at what may be called a “sight pedagogy”.

Methodology

The text is based upon J. Aumont, a cinema theoretician, writer and professor at Paris III

University and director of the Cinema and Audiovisual Research Institute at that university. His

book called “The Image” was chosen as a basic reference to the work. Some contributions

coming from R. Arnheim and others were gathered: we agree with his views, especially as

regards to the lack of respect and interest shown by some mainstream intellectual currents

towards the subject of perception, and in greater degree, to visual perception.

The eye and the visual system could be regarded from many viewpoints, but it is known

that the simplest pedestrian situations in our daily lives are far more complex than simple stimuli

reactions that could be isolated and studied (as certain well known currents that study human

behavior would support, contrary to what Gestalt theory proposes). The 1912´s discovery of the

“phy phenomenon” by M. Wertheimer was a very important cornerstone to what was later called

“The Gestalt Revolution”, which changed the way perception was viewed. It follows a broad

vision regarding the birth of Gestalt, as well as its outcomes and influences. Some other issues

such as image perception, attention and visual search, the “double reality” of images, visual

illusions and the view of Gestalt are also reviewed.

Results

In conclusion, we state that some questions remain unsolved, because they require a

complex experimentation and the answers are incomplete and timid. The idea is that we may

walk towards the concept of “visual intelligence”: recent studies in that field have shown that

there are significant problems to tackle, but at the same time there are very positive perspectives.

In some way, the pathway opened by the Gestalt theoreticians is being reevaluated, with other

issues over the table, as well as new information and new technologies and research. More and

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more we step away from a view that proposes that visual perception is nothing but something

strictly physiological/optical/mechanic; towards an understanding that even at this very basic

level that was treated before the process is dynamic and complex, so for sure in a way “we build

what we see”.

Palavras – chave

Cognição, percepção, Gestalt

Eixo temático escolhido

7 Pesquisa em imagens: debates teóricos

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Introdução

Jacques Aumont é um teórico de cinema, escritor e professor na Universidade de Paris III e

diretor do Instituto de Pesquisas sobre Cinema e Audiovisual (IRCAV) dessa mesma

universidade. Ele é autor de diversas obras, dentre as quais podem ser mencionadas algumas com

tradução em nosso idioma, como “Dicionário teórico e crítico do cinema” (Papirus, 2003) e “O

Cinema e a encenação” (Ed. Texto & Grafia, Lisboa, 2008). Seu pensamento, suas análises e

formulações são considerados rigorosos, elegantes e bem estabelecidos, e no seu livro “A

Imagem” tais qualidades podem ser realmente constatadas.

No livro, encontramos uma bem estruturada visão do tema da imagem, em modo

“panorâmico”. Trata-se de um compromisso interdisciplinar, com contribuições e aportes da

sociologia, antropologia, semiótica, Gestalt, os estudos em cinema, fotografia, e até mesmo

alguns subsídios de cunho filosófico. Não é preciso enfatizar que hoje vivemos em plena

“civilização da imagem”, com a explosão da cultura visual (sob a chancela da tecnologia), a partir

de uma trajetória dominante no século XX. Em nossos dias, diversos autores já salientaram a

“presença invasora” da imagem que se faz onipresente nas grandes aglomerações urbanas, e que

se faz dominante e espetacular em certos locais, como é o caso da “Times Square” em Nova

Iorque (EUA).

No texto, encontra-se um capítulo chamado “A PARTE DO OLHO”, e nele podemos

constatar que mesmo a um nível básico (fisiológico perceptivo) alguns aspectos já podem ser

destacados indicando o fato de que “construímos o que vemos”. Em adição à abordagem desse

capítulo do supracitado livro, o tema da Gestalt será evidenciado, com algumas contribuições a

partir de Rudolf Arnheim e outros, demonstrando o modo como essa teoria oferece aportes

bastante significativos para o tema da percepção e tem a ver com uma “pedagogia do olhar”.

Portanto, não se trata aqui de uma resenha, mas sim de uma abordagem de temas tratados

pelo autor dentro do livro em destaque. A partir daí, são feitos aportes de modo a enriquecer

certos aspectos relevantes, em especial naquilo que tende a reforçar a abordagem “gestaltista” das

teorias da percepção.

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O olho, a percepção visual

Evidente que, se existem imagens, é porque temos olhos. As imagens e as leis perceptivas

estão claramente interconectadas, e nunca se pode esquecer que a percepção visual é uma das

maneiras de como se dá a relação entre o homem e o mundo que o cerca – e certamente a

principal delas. Euclides de Alexandria, eventualmente chamado de o “Pai da Geometria”, em

300 AC funda a óptica. Depois dele, outros estudiosos (cientistas, artistas, pensadores) podem ser

elencados, nomes como Alberti, Dürer, Leonardo da Vinci, Descartes, Berkeley, Newton, que na

era moderna se destacaram nessa área, com estudos de campo. Entretanto, uma teoria da

percepção visual surge “de fato” com Helmholtz e Fechner já no século XIX. Helmholtz (1821 –

1894), por exemplo, demonstrou que a “percepção tem muito em comum com a resolução de

problemas intelectuais” (RAMACHANDRAN, ANSTIS, 1986, p. 102 – 103). Mais

recentemente, a partir da Segunda Guerra Mundial, surgiram os laboratórios de psicofísica (em

especial nos EUA) e com isso o estudo da percepção visual tornou-se mais científico.

O olho e o sistema visual podem ser caracterizados de forma bastante clara e objetiva. Os

olhos são um dos instrumentos da visão, não o mais complexo, e o processo da visão emprega

diversos órgãos especializados. Assim, a visão resulta de três operações distintas e sucessivas:

operações ópticas, químicas e nervosas.

As transformações ópticas podem ser comparadas ao funcionamento de um aparato óptico-

mecânico. A camera obscura (ver figura abaixo) ou câmera escura é um tipo de aparelho óptico

baseado no princípio de mesmo nome, o qual esteve na base da invenção da fotografia no início do século

XIX . Ela consiste numa caixa (ou também sala) com um furo em determinada posição, a luz vinda de um

lugar externo passa por esse furo e atinge uma superfície interna, onde é reproduzida a imagem invertida.

Esse processo resulta em uma imagem pálida. Esse fato levou à invenção, no século XVI, das

lentes, que aumentam a nitidez da imagem, minimizando o efeito de “flou”.

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O olho em si pode ser descrito como um globo aproximadamente esférico, com diâmetro

em torno de 2,5 cm, revestido por camada em parte opaca

(córnea), sendo a córnea aquilo que garante a maior parte da convergência dos raios luminosos. A

íris (um músculo esfíncter comandado de modo reflexo) fica atrás da córnea, e delimita em seu

centro uma abertura, a pupi

com a intensidade da luz no ambiente. O

biconvexa, com convergência

menos abaulado com o intuito de manter a imagem nítida no fundo do olho. Costuma

comparar o olho a uma câmera fotográfica em miniatura, mas é preciso ter

vez que isso se aplica à parte puramente óptica do processamento da luz.

Já as transformações químicas se relacionam de modo mais direto ao fundo do olho e a

retina (uma membrana especializada): lá se encontram receptores de luz de dois tipos: bastonetes

e cones. Os bastonetes (aproximadamente 120 milhões) e os cones (em torno de sete m

contêm moléculas de um pigmento (quatro milhões de moléculas por bastonete)

RODOPSINA. A retina pode ser comparada a um gigantesco laboratório químico. A imagem

retiniana, formada a partir do siste

no fundo do olho; a seguir essa imagem

retiniano.

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O olho em si pode ser descrito como um globo aproximadamente esférico, com diâmetro

em torno de 2,5 cm, revestido por camada em parte opaca (esclerótica), em parte transparente

(córnea), sendo a córnea aquilo que garante a maior parte da convergência dos raios luminosos. A

íris (um músculo esfíncter comandado de modo reflexo) fica atrás da córnea, e delimita em seu

centro uma abertura, a pupila, cujo diâmetro vai de 2 a 8 mm, se abrindo e fechando de acordo

com a intensidade da luz no ambiente. O cristalino - que pode ser considerado uma lente

biconvexa, com convergência variável (a sua “acomodação”) - fica após a

abaulado com o intuito de manter a imagem nítida no fundo do olho. Costuma

comparar o olho a uma câmera fotográfica em miniatura, mas é preciso ter

vez que isso se aplica à parte puramente óptica do processamento da luz.

nsformações químicas se relacionam de modo mais direto ao fundo do olho e a

retina (uma membrana especializada): lá se encontram receptores de luz de dois tipos: bastonetes

e cones. Os bastonetes (aproximadamente 120 milhões) e os cones (em torno de sete m

moléculas de um pigmento (quatro milhões de moléculas por bastonete)

RODOPSINA. A retina pode ser comparada a um gigantesco laboratório químico. A imagem

formada a partir do sistema córnea + pupila + cristalino, vem a s

essa imagem que ali se configura é então tratada pelo sistema químico

Figura 1

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O olho em si pode ser descrito como um globo aproximadamente esférico, com diâmetro

(esclerótica), em parte transparente

(córnea), sendo a córnea aquilo que garante a maior parte da convergência dos raios luminosos. A

íris (um músculo esfíncter comandado de modo reflexo) fica atrás da córnea, e delimita em seu

la, cujo diâmetro vai de 2 a 8 mm, se abrindo e fechando de acordo

que pode ser considerado uma lente

fica após a íris e se torna mais ou

abaulado com o intuito de manter a imagem nítida no fundo do olho. Costuma-se

comparar o olho a uma câmera fotográfica em miniatura, mas é preciso ter bastante cuidado, uma

vez que isso se aplica à parte puramente óptica do processamento da luz.

nsformações químicas se relacionam de modo mais direto ao fundo do olho e a

retina (uma membrana especializada): lá se encontram receptores de luz de dois tipos: bastonetes

e cones. Os bastonetes (aproximadamente 120 milhões) e os cones (em torno de sete milhões)

moléculas de um pigmento (quatro milhões de moléculas por bastonete) denominado

RODOPSINA. A retina pode ser comparada a um gigantesco laboratório químico. A imagem

vem a ser uma projeção óptica

é então tratada pelo sistema químico

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Finalmente, as transformações nervosas se dão a partir da retina. Cada receptor retiniano é

ligado a uma célula nervosa por um “relé”: a sinapse. Cada uma dessas células nervosas está por

sua vez, através de outras sinapses, ligada a células que constituem as fibras do nervo óptico. A

comunicação entre essas células muito complexas se dá com as células em rede, de modo

altamente elaborado. O nervo óptico vai do olho até região lateral do cérebro (ARTICULAÇÃO)

e dali saem novas conexões nervosas para a parte posterior do cérebro até ao córtex estriado.

Cumpre ressaltar que o sistema visual não apenas copia a informação nos estágios, mas a

processa em cada um deles. Assim, a parte nervosa é muito importante, mas pouco se sabe ainda

hoje a seu respeito – ou seja, não se sabe com exatidão como a informação passa do estágio

químico ao estágio nervoso. A percepção visual, portanto, pode ser equiparada a um processo de

tratamento da informação que certamente está mais próximo dos modelos

cibernéticos/informáticos do que os mecânicos/ópticos.

Aquilo que se percebe, portanto, tem a ver com a percepção visual enquanto um

processamento por etapas sucessivas da informação (ou “fluxo luminoso”) que entra em nossos

olhos. Tal informação pode ser caracterizada como portadora de uma codificação não

semiológica, pois seus códigos não são arbitrários nem convencionais, mas naturais,

determinando uma atividade nervosa em função da informação contida na luz. Assim, dá-se a

codificação da informação visual, e as regularidades nos fenômenos luminosos são localizadas e

interpretadas por nosso sistema visual. Tais regularidades se referem a três características da luz:

intensidade, comprimento de onda e distribuição no espaço.

Quanto à intensidade da luz, nossa percepção da luminosidade envolve uma interpretação

quanto a maior ou menor luminosidade de um objeto versus sua real quantidade de luz emitida

(seja como fonte, seja luz refletida). O olho reage aos fluxos luminosos, sendo que dois tipos de

objetos luminosos correspondem a dois tipos de visão: fotópica e escotópica. A visão fotópica diz

respeito à luz diurna, acionando os cones - associado a isso temos a percepção das cores (visão

cromática), nesse caso usualmente a pupila se encontra mais fechada, há uma maior acuidade de

visão. Já a escotópica é a visão noturna, na qual predominam os bastonetes (visão acromática),

observa-se fraca acuidade e a predominância da periferia da retina.

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O comprimento de onda da luz está diretamente relacionado com

percepção de cor está associada a três variedades de cones retinianos. A cor (e a luminosidade)

não está nos objetos, mas “em” nossa percep

em nos afirmar). A luz branca resulta de uma mistura de luzes, congregando todos os

comprimentos de onda do espectro visível, como pode ser facilmente constatado com o uso de

um prisma e a decomposição

luz de uma determinada maneira

sombreamento. As imagens em preto e branco (como no caso da fotografia) não representam

cores, mas apenas luminosidades. Existe uma classificação empírica das cores, muito utilizada

pelos artistas desde séculos atrás, que se vale de três parâmetros: comprimento de onda, saturação

e luminosidade. Podem ainda ser mencionadas as misturas de cores: as aditivas, que são m

de luzes; e as subtrativas, que são misturas de pigmentos.

A distribuição no espaço se refere primordialmente às

situam que, para um dado ponto de vista, distinguimos uma fronteira entre duas superfícies de

luminância diferente. Sabe-

instrumentos capazes de reconhecer uma borda visual e sua orientação, uma fenda, uma linha, um

ângulo, um segmento; esses perceptos são como as unidades elementares de nossa perc

objetos e do espaço. A interação entre luminosidade e as bordas dá margem a que se construa

uma luminosidade (psicológica) de uma superfície, que é muito determinada por sua relação com

o meio ambiente luminoso (temos e

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comprimento de onda da luz está diretamente relacionado com a

percepção de cor está associada a três variedades de cones retinianos. A cor (e a luminosidade)

não está nos objetos, mas “em” nossa percepção (ao contrário do que nosso senso comum teima

em nos afirmar). A luz branca resulta de uma mistura de luzes, congregando todos os

comprimentos de onda do espectro visível, como pode ser facilmente constatado com o uso de

um prisma e a decomposição da luz branca. Mas é importante lembrar que os objetos refletem a

determinada maneira, que dá margem a certos matizes e variações como o

sombreamento. As imagens em preto e branco (como no caso da fotografia) não representam

idades. Existe uma classificação empírica das cores, muito utilizada

pelos artistas desde séculos atrás, que se vale de três parâmetros: comprimento de onda, saturação

e luminosidade. Podem ainda ser mencionadas as misturas de cores: as aditivas, que são m

de luzes; e as subtrativas, que são misturas de pigmentos.

A distribuição no espaço se refere primordialmente às bordas visuais

situam que, para um dado ponto de vista, distinguimos uma fronteira entre duas superfícies de

-se que o sistema visual está equipado “por construção” com

instrumentos capazes de reconhecer uma borda visual e sua orientação, uma fenda, uma linha, um

ângulo, um segmento; esses perceptos são como as unidades elementares de nossa perc

objetos e do espaço. A interação entre luminosidade e as bordas dá margem a que se construa

uma luminosidade (psicológica) de uma superfície, que é muito determinada por sua relação com

meio ambiente luminoso (temos então a relação figura e fundo).

Figura 2

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a percepção da cor. A

percepção de cor está associada a três variedades de cones retinianos. A cor (e a luminosidade)

ção (ao contrário do que nosso senso comum teima

em nos afirmar). A luz branca resulta de uma mistura de luzes, congregando todos os

comprimentos de onda do espectro visível, como pode ser facilmente constatado com o uso de

z branca. Mas é importante lembrar que os objetos refletem a

, que dá margem a certos matizes e variações como o

sombreamento. As imagens em preto e branco (como no caso da fotografia) não representam

idades. Existe uma classificação empírica das cores, muito utilizada

pelos artistas desde séculos atrás, que se vale de três parâmetros: comprimento de onda, saturação

e luminosidade. Podem ainda ser mencionadas as misturas de cores: as aditivas, que são misturas

bordas visuais, que por sua vez

situam que, para um dado ponto de vista, distinguimos uma fronteira entre duas superfícies de

se que o sistema visual está equipado “por construção” com

instrumentos capazes de reconhecer uma borda visual e sua orientação, uma fenda, uma linha, um

ângulo, um segmento; esses perceptos são como as unidades elementares de nossa percepção dos

objetos e do espaço. A interação entre luminosidade e as bordas dá margem a que se construa

uma luminosidade (psicológica) de uma superfície, que é muito determinada por sua relação com

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Conforme se vê na Figura 2 acima, um mesmo objeto, iluminado de modo idêntico

(emitindo a mesma luminância) será julgado (regra geral) mais luminoso diante de um fundo

mais escuro. Os elementos da percepção (luminosidade, bordas, cores) nunca são produzidos de

modo isolado, analítico, mas sempre simultâneo, sendo que a percepção de alguns afeta a

percepção de outros: trata-se mais uma vez da proposição da Gestalt de que o todo é mais que a

soma das partes. Os pintores de claro-escuro (Rembrandt, Caravaggio) em suas obras trabalharam

de modo magistral o contraste sombra e luz.

Embora a visão seja antes de tudo um sentido espacial, os fatores temporais são muito

importantes: a maioria dos estímulos visuais varia com a duração, ou se produz sucessivamente.

Nossos olhos estão em constante movimento, o que faz variar a informação recebida pelo

cérebro; a própria percepção não é um processo instantâneo - certos estágios são rápidos, outros

são mais lentos.

Quanto à variação dos fenômenos luminosos no tempo, dois fenômenos são os mais

importantes. O primeiro é a adaptação, cabendo aqui ressaltar que a adaptação à luz clara é muito

mais rápida do que a adaptação ao escuro (por exemplo, ao entrarmos em uma sala de cinema); a

explicação para esse fenômeno é química, se relacionando com a rodopsina. O segundo é o poder

de separação temporal do olho, tendo a ver com o fato de que o olho só percebe dois fenômenos

luminosos como não síncronos se estiverem muito distantes no tempo (e isso se relaciona com o

fenômeno phi, a ser visto mais adiante). Os fatores temporais da percepção envolvem dois tipos

de células do nervo ótico (como foi descoberto em 1974): as “permanentes” e as “transitórias”.

Foram detectados dois tipos de resposta temporal do sistema visual: a) a resposta “lenta”, com

acumulação e integração temporal, resultando no fenômeno da persistência retiniana; e b) a

resposta “rápida”, abrangendo estímulos que variam rapidamente, cintilação e mascaramento

visual.

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Os movimentos oculares também devem ser considerados, pois não apenas os olhos estão

quase sempre em movimento, mas a cabeça e o corpo também se movem; com isso, a retina está

em movimento incessante em relação ao meio ambiente que ela percebe – na realidade, a

percepção depende desses movimentos. Ficou famoso o experimento realizado por Helmholtz,

que paralisou os músculos dos próprios olhos usando anestesia local; toda vez que tentava mover

os olhos (e não conseguia), o mundo parecia se mover na direção oposta – mas nem os olhos nem

a cena estavam se movendo. Sabe-se ainda que podem ser elencados diversos tipos de

movimentos oculares: irregulares, de perseguição, de compensação, à deriva, sem objeto

determinado.

Da organização do visível pela percepção

Mesmo as mais simples situações cotidianas são bem mais complexas do que a mera

reação a estímulos isolados (e aqui de novo vêm à baila as teorias da Gestalt). A percepção do

espaço nunca é apenas visual, estando vinculada ao corpo e a seu deslocamento, ou seja, o espaço

envolve além do visual, a parte tátil e cinésica. O estudo da percepção do espaço se depara com

um fenômeno complexo, que pode ser pesquisado de modo muito imperfeito nas condições

“assépticas” de laboratório. Dada a complexidade envolvida, a percepção do espaço é um

domínio de estudo teórico.

A constância perceptiva é um tópico de grande importância nesse campo de estudos.

Intuitivamente sabemos que o mundo tem, “grosso modo”, “sempre” a mesma aparência, ou pelo

menos esperamos nele encontrar, dia a dia, certa quantidade de elementos que não mudam. A

constância perceptiva se relaciona diretamente com a percepção desses aspectos invariáveis do

mundo (tamanho dos objetos, formas, localização, orientações, propriedades das superfícies,

etc.). Outra noção próxima é a de estabilidade perceptiva, uma vez que interpretamos nossa

percepção como a de uma cena estável e contínua. A constância e a estabilidade perceptivas,

cumpre aqui ressaltar, não podem ser explicadas se não se admite que a percepção visual aciona,

quase automaticamente, um saber sobre a realidade visível.

Outro tópico se relaciona com a geometria mono e a binocular. Inicialmente, pode ser

mencionado o espaço físico e sua relação com o modelo das coordenadas cartesianas, modelo

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esse que deriva da geometria euclidiana, associado a

(tridimensional). Intuitivamente ligamos o nosso corpo e a verticalidade, assim como a linha dos

ombros ao horizonte visual e

profundidade. Ao mesmo tempo, é p

imagem de duas dimensões no fundo do olho

camera obscura apenas aproximativa.

Como já abordado anteriormente, sabe

incessantemente variável. Em regra geral os índices estáticos têm equivalentes dinâmicos que são

bastante instrumentais quando da avaliação da profundidade. Trata

complexa, todavia completa de modo indispensável à

quando nos deslocamos, por exemplo, em um automóvel

diversa os objetos próximos em relação aos objetos distantes.

Charles Wheatstone, cientista e inventor britânico do século XIX, contri

inovações científicas da era vitoriana, dentre elas o Estereoscópio, aparato que criava a ilusão de

ver imagens tridimensionais. Neste dispositivo, uma imagem dupla é apresentada, e ela se mostra

em nosso cérebro como uma única, estereosc

ainda hoje intrigando os pesquisadores. Uma vez que, para uma fixação dada, nossas duas

imagens retinianas são diferentes, como é que percebemos os objetos como únicos (e “em

relevo”)? A resposta, ainda ho

de pontos correspondentes (

paralela á linha que une os centros dos olhos, e que passa pelo ponto em que coincidem os eixos

ópticos, simulando um olho ciclópico virtual e uma profundidade estereoscópica; b) a teo

aceita é a da “fusão”, em que

partir das duas informações difer

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esse que deriva da geometria euclidiana, associado a um espaço formado por três dimensões

(tridimensional). Intuitivamente ligamos o nosso corpo e a verticalidade, assim como a linha dos

horizonte visual e à horizontalidade; e a projeção do nosso corpo no espaço à

profundidade. Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que a projeção retiniana se refere a uma

imagem de duas dimensões no fundo do olho - fundo esse esférico, o que torna a analogia com

apenas aproximativa.

Como já abordado anteriormente, sabe-se que a estimulação da retina é

incessantemente variável. Em regra geral os índices estáticos têm equivalentes dinâmicos que são

bastante instrumentais quando da avaliação da profundidade. Trata-se de informação mais

completa de modo indispensável às informações estáticas, fazendo

quando nos deslocamos, por exemplo, em um automóvel – o deslocamento nos faz ver de forma

diversa os objetos próximos em relação aos objetos distantes.

Charles Wheatstone, cientista e inventor britânico do século XIX, contri

inovações científicas da era vitoriana, dentre elas o Estereoscópio, aparato que criava a ilusão de

ver imagens tridimensionais. Neste dispositivo, uma imagem dupla é apresentada, e ela se mostra

em nosso cérebro como uma única, estereoscópica (tridimensional). A visão binocular

ainda hoje intrigando os pesquisadores. Uma vez que, para uma fixação dada, nossas duas

imagens retinianas são diferentes, como é que percebemos os objetos como únicos (e “em

relevo”)? A resposta, ainda hoje, é incompleta. Uma noção e uma teoria são

de pontos correspondentes (lugar geométrico ou horóptero), que é definido como uma linha reta,

paralela á linha que une os centros dos olhos, e que passa pelo ponto em que coincidem os eixos

ópticos, simulando um olho ciclópico virtual e uma profundidade estereoscópica; b) a teo

, em que conexões nervosas “fabricam” uma informação única, “fundida”, a

partir das duas informações diferentes dadas pelas duas retinas.

IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem

um espaço formado por três dimensões

(tridimensional). Intuitivamente ligamos o nosso corpo e a verticalidade, assim como a linha dos

horizontalidade; e a projeção do nosso corpo no espaço à

reciso lembrar que a projeção retiniana se refere a uma

fundo esse esférico, o que torna a analogia com a

se que a estimulação da retina é algo

incessantemente variável. Em regra geral os índices estáticos têm equivalentes dinâmicos que são

se de informação mais

táticas, fazendo-se presente

o deslocamento nos faz ver de forma

Charles Wheatstone, cientista e inventor britânico do século XIX, contribuiu com diversas

inovações científicas da era vitoriana, dentre elas o Estereoscópio, aparato que criava a ilusão de

ver imagens tridimensionais. Neste dispositivo, uma imagem dupla é apresentada, e ela se mostra

visão binocular continua

ainda hoje intrigando os pesquisadores. Uma vez que, para uma fixação dada, nossas duas

imagens retinianas são diferentes, como é que percebemos os objetos como únicos (e “em

je, é incompleta. Uma noção e uma teoria são aventadas: a) noção

, que é definido como uma linha reta,

paralela á linha que une os centros dos olhos, e que passa pelo ponto em que coincidem os eixos

ópticos, simulando um olho ciclópico virtual e uma profundidade estereoscópica; b) a teoria mais

conexões nervosas “fabricam” uma informação única, “fundida”, a

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07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR

1954

Um problema com múltiplos aspectos é o da percepção do movimento. Um deles seria

esclarecer como percebemos o movimento dos objetos e porque percebemos um mundo estável

durante nossos próprios movimentos; e outro expor as relações existentes entre percepção do

movimento, orientação e atividade motora. Ao serem abordados os modelos de percepção do

movimento, primeiramente dois fatos muito importantes devem ser mencionados: 1) o sistema

visual possui detectores de movimento; e 2) o sistema visual incorpora informações sobre nossos

próprios movimentos. A detecção do movimento é feita por células especializadas (detectores)

que reagem quando receptores retinianos são ativados em rápida sucessão. Ao sinal eferente do

cérebro (informação que vai do cérebro aos órgãos sensóriomotores) é atribuído o papel de captar

informação sobre nossos próprios movimentos, com apoio em modelos baseados numa

comparação entre sinal eferente e sinal reaferente. Os movimentos do olho que não são

comandados pelo cérebro nos fazem perder a estabilidade do mundo visual (lembrar a

experiência levada a cabo por Helmholtz). Existem limiares da percepção do movimento, ou seja,

o movimento só é perceptível entre certos limites. Os limiares superior e inferior se dão em

função de diversas variáveis, como: as dimensões do objeto, a iluminação e o contraste, o meio

ambiente (os pontos fixos de referência).

Outra questão que não se pode olvidar é a do movimento real versus o movimento

aparente. Eventualmente, pode haver uma percepção de movimento até na ausência de qualquer

movimento real: trata-se do movimento aparente. O “efeito phi” está relacionado com

processos pós retinianos. A descoberta em 1912 do “fenômeno phi” por Max Wertheimer foi

muito importante, pois desencadeou a chamada “Revolução da Gestalt”, que mudou a maneira

como a percepção era estudada. O “phi” é o movimento aparente (uma ilusão) visto quando em

uma determinada sequência de itens em arranjo geométrico (uma linha, um círculo), cada item

dessa sequência é apagado e depois religado de modo “sequencial”, em determinada velocidade –

como em uma cena de cinema de animação.

Percepção, Gestalt: aspectos históricos breves

Figura 3

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07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR

1955

Dada a sua importância, aqui passa a ser abordada, de modo sintético, a teoria da Gestalt

quanto à sua gênese, com seus principais formuladores e acontecimentos históricos relativos à

sua formação. A teoria da Gestalt contou com alguns precursores de renome, como Ernst Mach

(1839 – 1916), que possuía formação em matemática, física e filosofia; Carl Stumpf (1844 –

1936), principal discípulo de Franz Brentano e aluno de Hermann Lotze; Christian Von Ehrenfels

(1859 – 1932), que havia estudado com Brentano em Viena, tendo sido o “formulador” do termo

Gestalt; e Friedrich Schumann (1863 – 1940), que foi aluno de Georg Elias Müller em Göttingen

e assistente de Carl Stumpf em Berlim. Carl Stumpf (1848 – 1936), por sua vez, havia sido

também discípulo de Franz Brentano, e foi reconhecido como o mestre que influenciou os

teóricos da Gestalt e os treinou para o trabalho experimental e a pesquisa. Ainda em 1873, ele

publicou livro seminal abordando as origens psicológicas do espaço.

Em linhas gerais, sabe-se que desde a sua gênese, o movimento da Gestalt se dividiu

“grosso modo” em duas escolas, a de Graz e a de Berlim. Na de Graz se situavam figuras como

Ehrenfels e posteriormente Benussi, com uma abordagem de cunho construtivista, e a visão da

formação da Gestalt por meio das qualidades emergentes dos objetos, sendo que no processo a

mente produz as “percepções resultantes”. A de Berlim assumia uma postura “objetivista”,

entendendo a Gestalt como a formação de um todo “sui generis”, no qual há uma auto-

organização por mútua interação dos elementos constituintes do processo perceptivo (trata-se da

corrente mais aceita e mais conhecida). Nela se encontravam Wertheimer, Köhler e Koffka, os

representantes mais eminentes da teoria da Gestalt na sua fase inicial.

Max Wertheimer (1880 – 1943) foi um psicólogo de origem tcheca. Passou a parte inicial

de sua vida acadêmica entre Praga, Berlim e Viena. Estudou, junto com W. Köhler e Kurt

Koffka, Fenomenologia com Carl Stumpf, principal discípulo de Franz Brentano. Eles fundaram

a Escola de Berlin de Psicologia da Gestalt. Wertheimer e seus companheiros estudaram

fenomenologicamente a percepção, inspirados nos princípios de Brentano, em sua polêmica com

a perspectiva elementarista de Wundt. A tese básica da teoria da gestalt pode ser formulada

assim: existem contextos em que o que está a acontecer no todo não pode ser deduzido das

características das partes separadas, mas, ao contrário, o que acontece com uma parte do todo é,

em casos claros, determinado pelas leis da estrutura interna de seu todo.

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07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR

1956

O neuro psiquiatra Kurt Goldstein (1878 – 1965, considerado já como parte da segunda

geração de gestaltistas) se juntou a eles posteriormente. Ele se destacou desenvolvendo

a psicologia organísmica, uma perspectiva fenomenológica da psicologia, enfatizando o ponto de

vista da integração corpo-mente, o organismo. As concepções de Goldstein, que se

desenvolveram a partir dos princípios da Psicologia da Gestalt, foram fundamentais para as ideias

de Fritz Perls e de Carl Rogers, em tempos mais recentes.

A partir de suas concepções fenomenológicas e gestálticas, Wertheimer realizou estudos

críticos de psicologia, da educação e da pedagogia. Quando perseguido pelos nazistas, em 1933,

refugiou-se nos EUA, onde se integrou à New School of Social Research, lecionando até o fim de

sua vida. Editado em 1945 (após a sua morte em 1943), “Productive Thinking” foi o seu principal

livro, que trouxe uma grande influência sobre os psicólogos humanistas norte americanos.

Nascido em Berlim, Kurt Koffka (1886 – 1941) veio a ser um dos mais criativos dentre os

fundadores da psicologia da Gestalt. Interessou-se por ciência e filosofia, frequentando a

Universidade de Berlin. Lá estudou psicologia com Carl Stumpf, obtendo o seu Ph. D. em 1909;

e já no ano seguinte começou a trabalhar com Wertheimer e Köhler, na Universidade de

Frankfurt. Em 1911, Koffka aceitou uma posição na University of Giessen, onde permaneceu até

1924.

Após a primeira guerra mundial e percebendo que os psicólogos norte americanos estavam

começando a se interessar pela psicologia da Gestalt, escreveu um artigo para a revista americana

Psychological Bulletin intitulado “Perception: an introduction to the Gestalt-Theorie” (em 1922),

onde explicava os conceitos básicos daquilo que seria um novo método de pensamento e trabalho,

na medida em que era mais do que apenas uma teoria da percepção e mesmo mais do que uma

mera teoria psicológica. Este artigo teve grande importância, pois divulgou para os psicólogos

americanos os seus conceitos básicos; entretanto os mesmos acreditaram que a psicologia da

Gestalt trabalhava apenas com percepção e que não serviria para nenhuma outra área da

psicologia. Em 1921, Koffka tinha publicado “The growth of the mind”, um livro que falava a

respeito do desenvolvimento infantil. Ele lecionou como professor visitante na Cornell University

e na University of Wisconsin e, em 1927, foi indicado para lecionar na Smith College onde

permaneceu até a morte, em 1941.

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1957

Köhler (1887 – 1967) foi considerado o porta-voz do movimento da Gestalt. Como seus

livros eram escritos com cuidado e precisão, acabaram se tornando os trabalhos-padrão da

psicologia da Gestalt. Ele nasceu na Estônia em 1887 e com cinco anos se mudou para o norte da

Alemanha. Seus estudos universitários se deram em Tübinger, Bonn e Berlim, tendo obtido o seu

doutorado na Universidade de Berlim, em 1909, orientado por Stumpf.

No seu início de carreira, Köhler passou sete anos estudando o comportamento dos

chimpanzés. Registrou o trabalho no clássico volume “The mentality of the apes” (1917), lançado

em segunda edição no ano de 1924. Em 1922 Köhler substituiu Stumpf como professor de

psicologia da Universidade de Berlim. Com o seu livro “Static and stationary physical gestalts”

(1920), Köhler aprofundou a posição de Wertheimer, sugerindo que a teoria da Gestalt consistia

em uma lei geral da natureza que poderia ser amplamente aplicada em todas as ciências. Em

1929, publicou “Gestalt Psychology”, uma descrição completa do movimento da Gestalt. Deixou

a Alemanha nazista em 1935. Após emigrar para os Estados Unidos, Köhler lecionou na

Swarthmore College, publicou diversos livros e editou a revista gestáltica Psychological

Research. Em 1956, recebeu o Prêmio de Destaque pela Contribuição Científica da APA, órgão

que, em 1959, elegeu-o seu presidente.

A segunda geração dos gestaltistas incluiu, além do já mencionado Kurt Goldstein, os

nomes de Kurt Lewin (1890 – 1947), que obteve seu doutorado em Berlim com Stumpf e em

1944 criou no MIT o “Research Center for Goup Dynamics”, depois vindo a influenciar nomes

como Solomon Asch e Leon Festinger; Wolfgang Metzger (1899 – 1979), que havia estudado

com Wertheimer, Koffka e Kohler em Berlim e se tornou o assistente e posteriormente o sucessor

de Wertheimer em Frankfurt; Fritz Heider (1896 – 1988), que trabalhou com Wertheimer em

Berlim e com Koffka nos EUA; e ainda Hans Wallach (1905 – 1998), que em 1934 obteve seu

doutorado em Berlim com Wertheimer e em 1936 fugiu para os EUA para integrar o Swarthmore

College. Essa segunda geração incluiria ainda o nome de Rudolf Arnheim (1904 – 2007), que

estudou com Wertheimer, Köhler e Lewin em Berlim, tendo emigrado em 1933 para a Itália, para

a Inglaterra em 1939 e finalmente para os EUA em 1940, onde obteve cargo na New School for

Social Research. Arnheim ganhou notoriedade principalmente por ter introduzido as teorias da

Gestalt na arte e na teoria da arte. A sua estada na Itália não foi por acaso, na medida em que as

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07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR

1958

ideias da Gestalt tiveram grande influência nesse país, a partir de nomes como Vittorio Benussi

(1878 – 1927), que foi o introdutor do pensamento da Gestalt por lá; Cesare Musatti (1897 –

1989), que foi assistente de Benussi, Fabio Metelli (1907 – 1987), que em 1943 se tornou diretor

do Instituto Psicológico em Pádua; e Gaetano Kanizsa (1913 – 1993), que ficou muito conhecido

por suas pesquisas com contornos subjetivos, modos de manifestação das cores, e fenomenologia

da transparência (WAGEMANS et al., 2012, p. 5 – 9).

As grandes abordagens da percepção visual e a teoria da Gestalt

Duas grandes abordagens vêm sendo debatidas, ao longo de três séculos: a abordagem de

tipo analítica e a de tipo sintética. A abordagem analítica se volta para a análise da estimulação

do sistema visual pela luz. Nos anos 60 do século XX, ganharam notoriedade certas teorias

“combinatórias” ou ainda “algorítmicas”. Antigas teorias analíticas, como as de Berkeley (1709)

e de Helmholtz (1850) se voltavam para as associações adquiridas por experiência e a

aprendizagem. A hipótese da invariância, ligada ao fenômeno da constância perceptiva, tem

grande relevância nessa abordagem. O papel do observador é importante.

A abordagem sintética, existindo desde o século XIX, nessa época era representada pelo

inatismo de Hering. No início do século XX essa visão ganha ímpeto com os teóricos da forma

(Gestalt). A Gestalt afirmou um princípio psicológico “que se estendeu a outros domínios de

conhecimento, segundo o qual não percebemos jamais senão conjuntos de elementos. [...] Esse

conjunto percebido se chama forma, significando configuração, estrutura e organização”

(JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p. 116). Existiria, portanto, uma capacidade inata do cérebro

de organizar a percepção visual segundo leis bem definidas. Outro nome de referência, seguindo

dentro da linha da Gestalt, foi J. J. Gibson, nos anos 1950, com a sua teoria psicofísica, depois

chamada teoria ecológica da percepção visual. Em síntese, ela propunha que o processamento que

envolve a transferência da projeção retiniana ao cérebro é um todo indissociável e não analisável.

Essa abordagem ecológica insistia ainda em que o papel do aparelho visual não é nem decodificar

inputs nem construir perceptos, mas extrair informação do meio ambiente e das criaturas que nele

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1959

vivem. De qualquer modo, não há uma melhor abordagem. As duas têm suas vantagens e

utilidade própria, sendo difíceis mesmo de se comparar.

Partindo do visual para o imaginário

O olho em si não é o olhar, que envolve outras questões. Esse “olhar” presume alguém,

uma intenção que o dirige e orienta. O olhar é o que define uma intencionalidade e a finalidade da

visão. A psicologia da percepção visual se relaciona com o estudo do olhar, pelo ângulo da

atenção e da busca visual.

A atenção visual não se define com muita exatidão. Envolve atenção central e periférica. A

central tem a ver com a focalização e a segmentação do campo em objetos e fundos (figura e

fundo). A atenção, desde que necessário, pode se fixar sobre um desses segmentos. A periférica é

mais vaga, se refere aos fenômenos novos na periferia do campo, ou ao campo visual útil.

A busca visual envolve o encadear de diversas fixações sucessivas sobre uma mesma cena

visual, para explora-la em detalhe. Essa busca depende de quem olha, pois a mesma cena pode

desencadear buscas diferentes para diferentes atores (por exemplo, a visão da colina e os

diferentes olhares do geólogo, do agricultor e do arqueólogo). Não olhamos as imagens de modo

global, de uma só vez, mas por fixações sucessivas, e isso aparentemente vai contra as teorias da

Gestalt. Tais fixações visam àquelas partes da imagem mais providas de informações. Sabe-se

que não há uma varredura regular da imagem, mas um percurso complexo por regiões da mesma

– a visão da imagem se dá por uma integração da multiplicidade de fixações particulares, o que

mais uma vez seria a busca da integração “holística”.

A percepção das imagens, a sua “dupla realidade”, as ilusões, e a Gestalt

O estudo das imagens visuais planas: pintura, gravura, desenho, fotografia, cinema,

televisão, imagem de síntese (computação gráfica), assim como tentativa de se separar a

percepção em si da sua interpretação; se constituem nos pilares centrais do que está exposto a

seguir. Uma imagem plana com arranjo espacial pode trazer simultaneamente a sua interpretação

como fragmento de superfície plana e como fragmento de um espaço tridimensional: trata-se da

dupla realidade perceptiva das imagens. A imagem como porção do mundo em três dimensões

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existe unicamente pela vista (isto é, pela percepção visual). Temos a informação sobre a realidade

bidimensional das imagens que é veiculada pela condição plana da superfície que serve como

suporte; já no caso da informação

percepção da realidade tridimensional se dá apenas se esta tiver sido cuidadosamente construída,

de modo a mimetizar características da visão natural. A hipótese da compensação do ponto de

vista defende que ao se perceber a imagem em seu suporte plano o espectador tende a perceber

com mais eficácia a terceira dimensão imaginária representada na imagem. Há também o aspecto

da aprendizagem: a percepção das ima

próprio. Hoje em dia já se sabe que as crianças passam por certos estágios de aprendizagem da

visão, especialmente nos seus primeiros meses de vida. De acordo com Donald Hoffman (2000,

p. 12):

por volta de um mês de idade, os bebês pestanejam

colisão. Por volta dos três meses, utilizam a moção visual para construir fronteiras de objetos. Por volta dos

sete meses, também utilizam sombreamento, perspectiva, interposição (na qual um objeto parc

esconde outro) e familiaridade anterior com objetos para construir profundidade e forma.

Outro aspecto a ser ressaltado é o princípio da maior probabilidade. Entre diferentes

configurações geométricas possíveis, o cérebro “escolhe” a mais prová

oferecer características contraditórias, a imagem trará problemas: é o caso das “figuras amb

e “incertas” (ver figura 4 abaixo).

Existem ainda as ilusões elementares, que são ilusões relativas à avaliação das dimensões e

das distâncias (na figura abaixo, as mesas têm o mesmo comprimento).

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1960

existe unicamente pela vista (isto é, pela percepção visual). Temos a informação sobre a realidade

bidimensional das imagens que é veiculada pela condição plana da superfície que serve como

suporte; já no caso da informação sobre a realidade tridimensional das imagens temos que a

percepção da realidade tridimensional se dá apenas se esta tiver sido cuidadosamente construída,

características da visão natural. A hipótese da compensação do ponto de

ende que ao se perceber a imagem em seu suporte plano o espectador tende a perceber

com mais eficácia a terceira dimensão imaginária representada na imagem. Há também o aspecto

da aprendizagem: a percepção das imagens se desenvolve com a idade e a experiên

próprio. Hoje em dia já se sabe que as crianças passam por certos estágios de aprendizagem da

visão, especialmente nos seus primeiros meses de vida. De acordo com Donald Hoffman (2000,

por volta de um mês de idade, os bebês pestanejam se algo se move em direção a seus olhos num curso de

colisão. Por volta dos três meses, utilizam a moção visual para construir fronteiras de objetos. Por volta dos

sete meses, também utilizam sombreamento, perspectiva, interposição (na qual um objeto parc

esconde outro) e familiaridade anterior com objetos para construir profundidade e forma.

Outro aspecto a ser ressaltado é o princípio da maior probabilidade. Entre diferentes

configurações geométricas possíveis, o cérebro “escolhe” a mais provável, em dada imagem. Se

oferecer características contraditórias, a imagem trará problemas: é o caso das “figuras amb

abaixo).

Existem ainda as ilusões elementares, que são ilusões relativas à avaliação das dimensões e

s distâncias (na figura abaixo, as mesas têm o mesmo comprimento).

Figura 4

Figura 5

IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem

existe unicamente pela vista (isto é, pela percepção visual). Temos a informação sobre a realidade

bidimensional das imagens que é veiculada pela condição plana da superfície que serve como

sobre a realidade tridimensional das imagens temos que a

percepção da realidade tridimensional se dá apenas se esta tiver sido cuidadosamente construída,

características da visão natural. A hipótese da compensação do ponto de

ende que ao se perceber a imagem em seu suporte plano o espectador tende a perceber

com mais eficácia a terceira dimensão imaginária representada na imagem. Há também o aspecto

e a experiência, em ritmo

próprio. Hoje em dia já se sabe que as crianças passam por certos estágios de aprendizagem da

visão, especialmente nos seus primeiros meses de vida. De acordo com Donald Hoffman (2000,

se algo se move em direção a seus olhos num curso de

colisão. Por volta dos três meses, utilizam a moção visual para construir fronteiras de objetos. Por volta dos

sete meses, também utilizam sombreamento, perspectiva, interposição (na qual um objeto parcialmente

esconde outro) e familiaridade anterior com objetos para construir profundidade e forma.

Outro aspecto a ser ressaltado é o princípio da maior probabilidade. Entre diferentes

vel, em dada imagem. Se

oferecer características contraditórias, a imagem trará problemas: é o caso das “figuras ambíguas”

Existem ainda as ilusões elementares, que são ilusões relativas à avaliação das dimensões e

IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem

Uma ilusão decorrente da interpr

que a imagem é percebida, quase de modo automático, por uma interpretação em term

espaciais e tridimensionais.

Quanto à teoria da Gestalt e a percepção da forma, essa teoria privilegia a percepção da forma

global ou forma de conjunto. Assim, para a Gestalt há a percepção da forma como unidade, como

configuração – um todo que estrutura suas par

Os aspectos a serem ressaltados são:

• Forma, bordas visuais, objetos

• A separação figura e fundo

contorno – a propriedade organiz

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1961

ma ilusão decorrente da interpretação dos desenhos (ver figura 6 abaixo) se dá pelo fato de

que a imagem é percebida, quase de modo automático, por uma interpretação em term

e tridimensionais.

Quanto à teoria da Gestalt e a percepção da forma, essa teoria privilegia a percepção da forma

global ou forma de conjunto. Assim, para a Gestalt há a percepção da forma como unidade, como

um todo que estrutura suas partes de maneira racional.

Os aspectos a serem ressaltados são:

Forma, bordas visuais, objetos – importância das bordas (ver figura

A separação figura e fundo – campo visual com duas regiões, separadas por um

a propriedade organizadora (ver figura 8 abaixo);

Figura 6

Figura 7

IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem

abaixo) se dá pelo fato de

que a imagem é percebida, quase de modo automático, por uma interpretação em termos

Quanto à teoria da Gestalt e a percepção da forma, essa teoria privilegia a percepção da forma

global ou forma de conjunto. Assim, para a Gestalt há a percepção da forma como unidade, como

ortância das bordas (ver figura 7 abaixo);

campo visual com duas regiões, separadas por um

;

IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem

• Estruturas regulares da forma

lei de similaridade, lei de continuidade, l

• Forma e informação

princípio do mínimo, chegando

Conclusão

De todo modo, algumas questões permanecem mal resolvidas:

• Movimento aparente e movimento real referem

• Quais atributos de um objeto veiculam a impressão de movimento?

• Que papel desempenha o mascaramento?

• Que relação existe entre percepção da forma e percepção do movimento?

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1962

Estruturas regulares da forma – as leis da Gestalt ainda válidas

lei de similaridade, lei de continuidade, lei do destino comum (ver figura 9

Forma e informação – trabalhos de Shannon e Weaver – informação e redundância,

princípio do mínimo, chegando até à cibernética de N. Wiener

De todo modo, algumas questões permanecem mal resolvidas:

Movimento aparente e movimento real referem-se aos mesmos receptores?

tributos de um objeto veiculam a impressão de movimento?

Que papel desempenha o mascaramento?

Que relação existe entre percepção da forma e percepção do movimento?

Figura 8

Figura 9

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leis da Gestalt ainda válidas - lei da proximidade,

ei do destino comum (ver figura 9 abaixo);

informação e redundância,

até à cibernética de N. Wiener (WIENER, 1968).

se aos mesmos receptores?

tributos de um objeto veiculam a impressão de movimento?

Que relação existe entre percepção da forma e percepção do movimento?

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1963

Todas essas questões envolvem uma experimentação complexa. As respostas são tímidas e

incompletas. O cinema, por exemplo, utiliza imagens imóveis, projetadas em uma tela (com certa

cadência regular), e separadas por faixas pretas resultantes da ocultação da objetiva do projetor

por uma paleta rotativa, quando da passagem da película de um fotograma ao seguinte. Então,

temos um estímulo luminoso descontínuo que gera a impressão de continuidade, assim como a

impressão de movimento interno à imagem. Tudo isso está ligado ao movimento aparente e ao

efeito “phi”. O cinema parece acionar o mesmo mecanismo que a percepção do movimento real,

por isso pode ser considerado uma “perfeita ilusão”. A percepção do filme congrega o efeito

“phi” junto com o mascaramento visual.

De qualquer maneira, as questões abordadas neste texto se constituem nos “blocos de

construção” básicos para um melhor entendimento do fenômeno da percepção visual. Indo além,

podemos caminhar na direção do conceito de “inteligência visual”, proposto por Donald

Hoffman. Ele nos alerta que

A inteligência visual ocupa quase metade do córtex do seu cérebro. Normalmente, está intimamente ligada à

sua inteligência emocional e à sua inteligência racional. [...] Somos seres complexos com muitas facetas,

incluindo a visual, a emocional e a racional. Compreender cada uma dessas facetas e como cada uma delas

interage com todas as outras é algo crítico para o entendimento de quem somos como seres humanos, e de

como podemos nos aprimorar e melhorar nosso meio ambiente. Se percentagem de córtex é medida de algo,

então a inteligência visual é uma faceta principal de quem somos como espécie, e a sua compreensão é uma

chave para o que podemos nos tornar. (HOFFMAN, 2000, p. 193).

Os estudos mais recentes nesse campo, multidisciplinar por excelência, demonstram que os

desafios são significativos; mas ao mesmo tempo apontam para perspectivas animadoras. De

algum modo, a senda aberta pelos teóricos da Gestalt vai tendo continuidade, claro que com

outras questões em pauta, assim como com novas informações acumuladas e o suporte de

tecnologias que eles nem sonhavam em sua época. Cada vez mais nos afastamos de uma visão da

percepção visual como algo estritamente fisiológico - óptico - mecânico para um entendimento de

que mesmo nesse nível básico que foi abordado no texto o processo é dinâmico e, com certeza, de

certa maneira “construímos o que vemos”.

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1964

Para finalizar, o que pode ser dito de modo muito sintético e objetivo é que ”não há imagem

sem percepção de uma imagem”.

Referências

AUMONT, Jaques. A Imagem. Trad., Estela dos Santos Abreu e Claudio C. Santoro. Campinas,

SP: Papirus, 1993.

HOFFMAN, Donald D. Inteligência visual: como criamos o que vemos. Trad. de Denise Cabral

C. de Oliveira. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 3a ed.rev. e ampliada. – Rio

de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.

RAMACHANDRAN, V, S., ANSTIS, S. M. The perception of apparent motion. In: Scientific

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