O Ofício de Ver TV - A Crítica Televisiva de Helena Silveira (Folha de S.Paulo, 1970-1984)

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PEDRO PAULO DA SILVA O ofício de ver TV: a crítica televisiva de Helena Silveira na F o lha d e S. Pa ulo  (1970-1984) CELACC/ECA-USP 2013

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Artigo sobre a crítica de TV feita por Helena Silveira na Folha de S.Paulo entre 1970 e 1984.

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    PEDRO PAULO DA SILVA

    O ofcio de ver TV: a crtica televisiva de

    Helena Silveira na Folha de S.Paulo(1970-1984)

    CELACC/ECA-USP

    2013

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    PEDRO PAULO DA SILVA

    O ofcio de ver TV: a crtica televisiva de

    Helena Silveira na Folha de S.Paulo(1970-1984)

    Trabalho de concluso do cursode ps-graduao lato sensuMdia, Informao e Culturasob orientao da Prof Dr

    Joana Rodrigues

    CELACC/ECA-USP2013

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    O ofcio de ver TV: a crtica televisiva de Helena Silveira na

    F olha de S.Paulo(1970-1984).

    Pedro Paulo da Silva*

    Resumo

    Este artigo pretende eleger a crtica de TV como objeto de estudo e apontar o potencial

    que ela carrega para as discusses sobre as relaes entre televiso, indstria cultural e

    cultura no Brasil. Para tanto, resgata a produo da escritora e jornalista Helena Silveira,

    que atuou como crtica de televiso no jornal Folha de S.Paulo, entre 1970 e 1984.

    Palavras-chave:Crtica de TV; Helena Silveira; Televiso; Jornalismo; Cultura.

    Abstract

    This article aims to elect television criticism as an object of study and point out the

    potential it carries for discussions on the relationship between television, cultural

    industry and culture in Brazil. Therefore, the article rescues the activity of Helena

    Silveira, writer and journalist who was TV critic in Folha de S.Paulobetween 1970 and

    1984.

    Keywords:Television Criticism; Helena Silveira; Television; Journalism; Culture.

    Resumen

    Este texto tiene como objetivo elegir la critica de televisin como objeto de estudio

    y sealar el potencial que conlleva para los debates sobre la relacin entre la televisin,

    la industria cultural y de la cultura en Brasil. Por lo tanto, recupera la produccinde Helena Silveira, escritora y periodista que se desempe en el papel de crtico de

    televisin del diarioFolha de S.Pauloentre 1970 y 1984.

    Palabras clave:Critica Televisiva; Helena Silveira; Televisin; Periodismo; Cultura.

    *Bacharel e licenciado em Letras pela Universidade de So Paulo, ps-graduado em Histria, Sociedadee Cultura pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Atua no mercado editorial como editor,preparador e revisor de textos. Currculo Lattes disponvel em: .

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    Agradecimentos

    Este trabalho no seria possvel sem a ajuda de diversas pessoas importantes.

    Agradeo primeira e especialmente ao Ivan Sallas, que me auxiliou no mapeamentoprvio da produo de Helena Silveira no site do Acervo Folha. Foi ele o meu

    interlocutor principal nos primeiros contatos com esse objeto de pesquisa, e tambm

    quem me aturou durante vrios fins de semana debruado em leituras e releituras.

    A ele, toda minha gratidoe meu amor!

    Merecem figurar aqui todos os colegas do curso de especializao em Mdia,

    Informao e Cultura. A eles, o meu muito obrigado pelas timas conversas, pelas

    caronas, pelos bares e churrascos, pelos ombros amigos! Todos foram muitoimportantes nesse momento da minha vida. Espero carreg-los, todos, pra vida! Vocs

    so demais!

    Agradeo imensamente aos professores do curso: a Charles Nisz Loureno, pelas

    aulas e timas reflexes em conjunto; a Joana Rodrigues pelas nossas longas conversas

    sobre o passado e o presente, e claro, pelo cuidado e dedicao que devotou orientao

    da minha pesquisa. Ao professor Dennis Oliveira, manifesto minha grande admirao e

    agradeo pelas aulas maravilhosasno s sobre cultura, mas tambm sobre grandeza ehonestidade intelectual! Muito obrigado!

    Ao Celacc, que me concedeu bolsa integral, sem a qual eu no teria conseguido

    realizar esse curso que to importante foi para minha formao como pensador da

    cultura. Espero poder retribuir a generosidade em algum momento e de alguma forma.

    Vida longa ao Celacc!

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    Sumrio

    Introduo ..................................................................................................................... 6

    1. A crtica e a montra condenada.............................................................................. 8

    2. Helena Silveira: das letras tela pequena ................................................................ 13

    3. A TV que Helena Silveira viu ................................................................................. 19

    Consideraes finais: Televiso e cultura ................................................................... 27

    Referncias bibliogrficas .......................................................................................... 30

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    Introduo

    As dcadas de 1960 e 1970 no Brasil viram no s o avano da televiso,

    que ganhou popularidade e adentrou muitos lares, mas um aumento de discursos sobreesse meio na imprensa escrita. Tal fato se confirma quando observados alguns

    fenmenos da imprensa como as revistas Intervalo(1963-1978), Contigo (surgida em

    1963), Amiga TV Tudo (1970-1999), ou publicaes de vida mais curta como Cartaz

    (1971-1973) e TV Sucesso(1973). Em comum, todas tinham o fato de se concentrarem

    no mundo da TV, focalizando celebridades e bastidores, e tinham tiragens bem

    significativas.1

    Alm dessas publicaes dedicadas s amenidades, percebe-se tambm, no

    mbito do chamado jornalismo cultural, o aparecimento de textos que se empenhavam

    na busca de critrios, modos e conceitos para julgar a programao das emissoras.

    Revistas comoRealidade,Veja eVisodedicaram longos artigos promovendo reflexes

    sobre os assuntos da televiso e so hoje boas fontes para se entender um momento da

    histria cultural do pas em que uma era da imagem se anunciava. Porm, nas

    pginas dos jornais, e mais especificamente dos cadernos de cultura, que essa crtica

    televisiva vai ganhando forma. Essa forma crtica de se falar da TV teve pelo menos trs

    expoentes nos anos setenta: Artur da Tvola (que alm de escrever na revista Amiga

    teve coluna em jornais como O Globoe O Dia), Dcio Pignatari (que, no fim dos anos

    1970, assinou crticas no O Estado de S. Paulo) e Helena Silveira, que escreveu por

    quinze anos sobre televiso nas colunas Videonrio e Helena Silveira v TV na

    Folha de S.Paulo.

    a produo crtica de Helena Silveira que este artigo pretende resgatar e alar a

    objeto de estudo sobre a televiso e a cultura no Brasil. Escrevendo regularmente sobre

    TV entre janeiro de 1970 e fevereiro de 1984, Helena Silveira sintetizou em seus textos

    os mais diversos momentos da histria da televiso no Pas. A partir de suas colunas,

    possvel recuperar momentos como o advento da TV em cores, ou o fim de algumas

    emissoras (Excelsior, Tupi) e surgimento de outras (Manchete), ou ainda compreender o

    fortalecimento da TV Globo, que se torna a emissora mais influente ao estabelecer-se

    em rede pelo pas. Ao longo da dcada, a telenovela vai se tornando o gnero televisivo

    1A revistaIntervalo, da editora Abril, por exemplo, chegou ter tiragens da ordem de 200 mil exemplares(cf. MICELI, 2005, p. 325).

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    mais popular do Brasil ao se afastar dos grandes dramalhes que reinaram nos anos

    1960 (cujo maior nome foi a cubana Glria Magadan) e se aproximar dos dramas

    pessoais e sociais que nascem das transformaes pelas quais passam os espaos

    urbanos das grandes cidades. Nas pginas de Helena Silveira, os critrios de anlise

    da programao televisiva so pensados e repensados ao longo dos anos e ao mesmo

    tempo refletem os caminhos tomados pela televiso no momento em que vai ganhando

    corpo uma nova esttica televisiva (RIBEIRO, SACRAMENTO & ROXO, 2010;

    TVOLA, 1996).

    Para a elaborao deste artigo, os textos de Helena foram pesquisados

    basicamente em dois sites: TV Pesquisa (projeto de

    Lus van Tilburg com o apoio da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, o

    site rene um nmero bastante grande de textos jornalsticos sobre televiso) e Acervo

    Folha (que rene as edies dos jornais publicados pela

    empresaFolha da Manhdesde seu surgimento).

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    1. A crtica e a montra condenada2

    Em artigo publicado no jornal O Globoem 29 de outubro de 1976, e intitulado

    Existe mesmo a crtica de TV?, o crtico Artur da Tvola apontou:

    A crtica de televiso bem mais intranscendente [em comparao crtica de artes]; mas bem mais influente. Ela parte integrante dosistema que mantm a Indstria Cultural, por mais que se coloque naposio de permanente contestao. Ela contesta dentro do sistema. E isso o que fez muita gente torcer o nariz crtica de televiso. Ou ocrtico sentir-se culturalmente pouco importante por exerc-la, daser impiedoso com a tev.3

    O trecho revela um pouco da forma como a crtica de televiso foi vista at hoje:

    dona de um poder diferenciado, mas tambm como atividade de pouco valor at

    mesmo por quem a executa. Por vezes pouco exegtica e mais impressionista, ora mais

    prxima da crnica, ora do colunismo social, preocupada em desvendar ideologias ou

    em explicar a linguagem televisiva, comentando um desempenho no vdeo, elegendo

    melhores e piores enfim, em sua singularidade, essa crtica parece primeira vista j

    ter nascido sob o signo da frivolidade. Afinal, o que esperar de um texto jornalstico que

    j nasce velho, voltado ao comentrio e anlise de um momento que se desenrolou na

    tela da TV no dia anterior?

    No Brasil, so poucas as reflexes sobre a natureza e o sentido da crtica de TV.

    No raro, elas foram realizadas nos estudos de comunicao e por profissionais ou

    ligados TV ou que em algum momento atuaram como crticos em jornais. No

    difcil tambm que essas reflexes se aproximem do trecho de Artur da Tvola e nasam

    do questionamento da existncia desse tipo de crtica postura que talvez seja resqucio

    do lugar comum que aponta que o Brasil no teria uma crtica cultural .

    Em uma palestra realizada nos anos oitenta, e toda dedicada a esse tema, Gabriel

    Priolli apontava para a crtica de TV como algo recente no pas, mas que j teria seus

    profissionais de destaque (ele cita, por exemplo, Artur da Tvola e Helena Silveira). Na

    tentativa de localizar a singularidade da crtica televisiva, o autor a confronta com outras

    modalidades de crtica tambm presentes nos cadernos de cultura e aponta como a

    grande diferena a postura em relao ao consumo, pois que ela funcionaria muito mais

    2Trecho da cano Santa Clara, padroeira da televiso, de Caetano Veloso3Disponvel em: . Acesso em: 2 abr. 2013

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    como legitimadora de prestgio dos programas e de seus produtores do que

    propriamente indutora ou inibidora do consumo. Para uma arte considerada menor

    como a televiso, a crtica representa o aval, o prestgio cultural (PRIOLLI, 1988, p.

    149). Seria necessrio ainda se distinguir entre crtica e colunismo pois a crtica

    televisiva nasceu muito ligada ao cronismo. uma derivao da velha crnica de

    costumes que comeou a enfocar mais a televiso (PRIOLLI, 1988, p. 149). Segundo o

    autor, esse aspecto frvolo herdado do colunismo o que afetaria a credibilidade da

    crtica de TV dentro do jornalismo.

    Em texto bem posterior ao de Gabriel Priolli, Maria Aparecida Baccega prope

    uma aproximao crtica televisiva destacando seu potencial para os estudos de

    comunicao interessados em recepo e mediao. A autora tambm destaca o carter

    de desprestgio que cerca a televiso e por consequncia a crtica de televiso , mas

    aponta uma razo diferente para essa postura:

    As matrizes culturais populares sobre as quais a televiso se assenta,que vo desde a narrativa caracterizada pelo melodrama at aoralidade presente nesse meio e que nada mais que umamanifestao de aproximao oralidade que caracteriza nossasculturas, permitem, por um lado, que as classes populares seidentifiquem com a televiso, e, por outro, abrem um grande espao

    para o esteretipo referente televiso, cunhado pelas classesdominantes: ela s faz alienar. Parafraseando, a televiso o pio dopovo. [...] [Assim,] o domnio [da televiso e da crtica televisiva] sempre o do desprestgio. (BACCEGA, 2000, p. 46)

    J para Aldo Grasso, crtico do jornal italiano Corriere della Sera, o prprio

    termo crtica televisiva instaura perturbao. Em sua Enciclopedia della televisione

    ele afirma:

    A grande inquietao da crtica de televiso liga-se a uma dificuldade

    lgica insolvel: o substantivo [crtica] refere-se a uma atividadenormalmente exercida no campo da esttica; o adjetivo [televisiva]indica a presena de um assunto que parece ter perdido toda aconotao esttica e que, ao contrrio, frequentemente associado a"lixo". difcil estabelecer critrios sobre os quais se funda. 4(traduo nossa)

    4 A citao original aparece em verbete da Wikipdia italiana: , acesso em: 5 abr. 2013. A ideia de Grasso tambm mencionada por Nelson Hoineff noartigo Existe crtica televisiva?, publicado em 10 de maro de 2004, noJornal do Brasil.

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    Para alm das reflexes interessadas na existncia e natureza da crtica de

    televiso, alguns dos textos que tocam no assunto costumam indicar quais deveriam ser

    as tarefasde uma boa crtica de TV:

    Ora, as tarefas de uma crtica sria de televiso so, justamente,estabelecer critrios de seleo, to rigorosos quanto possvel, quepermitam separar o joio do trigo, que permitam elevar os nveis deexigncia da audincia e, sobretudo, premiar, com estudos ecomentrios crticos, os esforos daqueles que, contra todos osobstculos e a despeito de todas as estruturas e modelos, fazem amelhorteleviso do mundo. (MACHADO, 2000, p. 20).

    Assim, nessa mesma linha, muitas das reflexes no tratam de como a crtica

    televisiva , nem comofoi, nem como tem sido, mas como ela deveriaser. o que sepercebe em artigo de Eugnio Bucci, dedicado ao assunto:

    A crtica de televiso no pode se acomodar crtica de obras isoladasno interior da programao, por mais que admitamos a existncia degneros no interior da TV (a ttulo de exemplo, a telenovela pode serentendida como um dos gneros possveis). Acima dos gneros, acrtica de televiso a crtica de um novo patamar das relaes sociaise das relaes ideolgicas entre os sujeitos, e s a partir da ela ganhao seu sentido poltico [...] A crtica de televiso no lida (apenas) coma esttica. Ela no tem por objeto uma arte, mas um fato social como a

    prpria lngua (ou como a linguagem). Portanto, deve declarar que,discutindo a cultura, est discutindo a sociedade e seus sujeitos. Acrtica de televiso, hoje, uma crtica do poder. (BUCCI, 2004, p.41-42)

    As evocaes feitas at aqui demonstram ento, que as reflexes sobre a crtica

    de televiso (que se deram basicamente na rea da comunicao) ainda no

    ultrapassaram a suposta barreira imposta por uma indefinio de campo. Assim, faltam

    ainda trabalhos interessados em investigar a histria, os sentidos, os valores, os

    critrios, os principais temas evocados pela crtica de televiso realizada no pas, bem

    como suas conexes com os diversos contextos e debates sobre a, no mnimo,

    complicada, relao entre televiso e cultura.

    considerando essa relao que se prope aqui fazer da crtica de televiso

    um objeto de anlise dos Estudos Culturais. No se pretende, no contexto deste artigo,

    retomar a histria dessa rea que vem, no Brasil mais recentemente, lutando por

    seu espao na universidade. Fredric Jameson em sua anlise do sentido poltico

    e acadmico dos Estudos Culturais, v neles um desejo de trazer para a universidade

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    tudo o que considerado no cannico. Constitui, ainda, o espao possvel

    para a interdisciplinaridade e se tornou o refgio de pesquisadores da cultura de massa,

    uma minoria estigmatizada e perseguida no contexto acadmico tradicional

    (JAMESON, 1994, p. 20).

    Uma rpida observao em trabalhos realizados no mbito dos estudos culturais,

    revela a preocupao de pesquisadores em se voltar para a televiso e consider-la

    objeto de estudo. H pelo menos trs estudos clssicos devotados ao assunto e que

    definem em certa medida como esse objeto foi estudado at o momento. Em 1975,

    Raymond Williams lanou um estudo pioneiro (Television: technology and cultural

    form), em que se dedicou ao estudo da TV enquanto tecnologia e forma cultural,

    focado tambm na distribuio e fluxo da programao. Nos anos 1980, a pesquisadora

    Ien Ang dedicou-se ao estudo de recepo entrevistando telespectadores da srie

    americana Dallas, e lanando seu clssico Watching Dallas em 1985. Uma linha de

    pesquisa que teve grande fora foi o estudo das audincias, de que exemplo o trabalho

    de David Morley, Television, Audiences and Cultural Studies, publicado em 1992, e

    focado em como as diferenas culturais e de classe interferem no modo como se

    interpreta a mensagem televisiva.

    Em que pesem as diferenas de objetivos e os contextos que separam esses

    trabalhos, nenhum chega a tocar no significado da crtica especializada em TV. Os

    estudiosos da histria de teledramaturgia fazem uso aqui e ali de algum texto ao analisar

    alguma obra ou momento especfico da fico televisionada. Assim, pode ser que a

    fora que os chamados estudos televisivos vm adquirindo nos ltimos anos (GRAY

    & LOTZ, 2012) facilite o olhar para a crtica televisiva e sua relao com a cultura. Um

    exemplo de estudo recente, publicado em 2011, TV critics and popular culture: a

    history of British television criticism, de Paul Rixon, que traa um panorama da crtica

    inglesa da dcada de 1950 at o incio da era da internet e constitui um primeiro olhar

    acadmico para a histria e os sentidos da crtica de televiso.

    Para Rixon, a crtica de televiso desempenha um importante papel na formao

    de um discurso pblico sobre a TV. Dessa forma, para se entender os sentidos da TV

    para um grupo ou comunidade, importante passar pelos textos da crtica. No que se

    refere metodologia de trabalho, Rixon considera a amplitude do que est por trs do

    termo crtica de TV e longe de eleger apenas os textos que procedem a uma anlise

    detalhada de um programa, aponta a existncia de uma crtica leve (soft criticism)para se referir aos discursos sobre a TV que circulam em tabloides e publicaes

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    semanais dedicadas s fofocas e bastidores. Para o autor, esse formato, embora distante

    do embasamento terico, tambm pauta de alguma forma a percepo e os discursos

    sobre a televiso.

    Como Rixon, este trabalho observa a crtica de TV como um conjunto de textos

    marcados no pela uniformidade de estilos, formas e assuntos, mas pela diferena e

    multiplicidade. Reconhecer ento, a crtica televisiva acima da categoria de gnero

    permite aumentar o foco e obter um olhar mais amplo para os temas e abordagens que

    podem se dar nos mais diferentes formatos de texto: do perfil das estrelas do vdeo

    crtica da telenovela, do resumo e comentrio dos captulos crnica reflexiva voltada

    para o mundo televisivo, da notcia s entrevistas, das reportagens s to famosas

    fofocas e notas sobre os bastidores da TV.5

    Alm de Paul Rixon, trabalharemos na perspectiva delineada por Douglas

    Kellner em seu A cultura da mdia. Nesta obra, Kellner se prope a analisar a cultura

    veiculada pela mdia por um vis que denomina como multiperspectvico,

    reconhecendo como os produtos da mdia evidenciam as constituies de uma sociedade

    numa determinada poca. Kellner prope que o estudioso da cultura exercite um

    estudo cultural contextual, atentando para as relaes entre texto e contexto, pois as

    formas de cultura da mdia devem ser analisadas como textosideolgicos em contexto e relao [...] em vez de, digamos, apenasrejeitar toda a cultura da mdia como reacionria e meramenteideolgica, conforme costumam fazer certas teorias monolticas deideologia dominante, como a teoria crtica clssica [...]. Um estudocultural contextualista l os textos culturais em termos de lutas reaisdentro da cultura e da sociedade contemporneas, situando a anliseideolgica em meio aos debates e conflitos sociopolticos existentes[...] (KELLNER, 2001, p. 135)

    Neste artigo trabalharemos a crtica de TV realizada por Helena Silveira e o

    modo como ela se relaciona com o pensamento sobre a cultura brasileira delineado a

    partir dos anos 1970.

    5 de se notar que essa particularidade permitiu, por exemplo, que a crtica migrasse dos cadernos decultura e passasse a constituir um caderno autnomo em muitos jornais a partir dos anos oitenta. Soexemplos desse novo modelo o caderno TV Folha (Folha de S.Paulo) e a Revista da TV (O Globo).

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    2. Helena Silveira: das letras tela pequena

    Observar a trajetria intelectual de Helena Silveira uma forma de nos

    aproximarmos de seu mundo e de seu modo de ver TV. Como uma das marcas de seufazer crtico era a mobilizao de seus conhecimentos e vivncia nas letras e

    humanidades, necessrio avaliar a passagem de seu engajamento nas letras ao seu

    engajamento diante do vdeo.

    Helena Silveira pertenceu a uma famlia de grande dedicao ao mundo das

    letras: irm da escritora Dinah Silveira de Queiroz (autora dos romances Floradas na

    Serra e A Muralha), sobrinha do escritor regionalista Valdomiro Silveira, prima do

    diretor e crtico de teatro Miroel Silveira e do editor nio Silveira (que por longos anos

    dirigiu a editora Civilizao Brasileira). Aos 28 anos publicou seu primeiro conto:

    Vida saiu em pgina ilustrada por Belmonte no Suplemento da Folha da Manhem

    20 de outubro de 1940. Em 1943, publicou seu primeiro livro, A humilde espera,

    reunindo contos publicados em jornais at ento. Um ano depois, separada e com dois

    filhos, torna-se colunista social daFolha da Manh, sendo a primeira mulher contratada

    pelo jornal:

    Naquele mundo machista, eu entrava na redao diariamente com

    minha farda de cronista, de longuinho, especiais para as festas a quetinha de ir. Na verdade, quando procurei um trabalho em jornal, penseinuma rea ligada literatura, pois ento, por volta de 1945, j tinhacoisas escritas, contos. Mas Rubens do Amaral ofereceu a vagade colunista e disse: Esquea tudo que seus pais ensinaram,emburrea um pouco, fale de roupas e chapus. Quanto mais tola,mais interessante ser. [...] Eu escrevia sobre a sociedade, masprocurava dar privilgio ao intelectual, esquecendo um poucoo chamado gr-fino. (O pioneirismo de Helena, crtica de TV,15 de abril de 1982)

    No entanto, a literatura acabou surgindo no espao intitulado Paisagem ememria, no qual publicou crnicas entre 1947 e 1957 (que, nos tempos anteriores

    Folha de S.Paulo, tambm saam na edio noturna do jornal, aFolha da Noite).

    Na dcada de 1950, realizou um programa dedicado s mulheres na rdio

    Excelsior e passou pela TV Paulista, onde realizou um programa de debates (nele, sua

    entrevista com Jorge Amado aps voltar do exlio lhe rendeu o afastamento da

    emissora). Estreou como autora de teatro com a polmica pea No fundo do poo,

    escrita em colaborao com o segundo marido, o poeta e tradutor Jamil AlmansurHaddad. Elogiada por Oswald de Andrade, a pea logo seria censurada. Em 1954,

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    lanou a coletnea de contos Mulheres, frequentemente. A viagem ao Oriente Mdio

    realizada no ano seguinte render um volume de crnicas:Damasco e outros caminhos.

    Nos anos 1960, continua com a atividade de cronista na Folha de S.Paulo e lana

    Sombra azul e carneiro branco (1960, contos). Uma viagem China resultou em Os

    dias chineses (1961, crnicas de viagem) e trouxe problemas autora, que foi acusada

    de subverso logo no incio do governo militar. Na selva de So Paulo, publicado em

    1966, constitui sua nica experincia no romance. O livro uma espcie de acerto de

    contas com a classe alta de So Paulo e fruto de sua experincia com colunista social.

    Sua ltima obra publicada foiPaisagem e memria, em 1983, um testemunho do mundo

    cultural que vivenciou entre a dcada de 1940 e o Golpe de 1964.

    No obstante toda a dedicao literatura, foi na atuao cotidiana das redaes

    de jornal que o nome de Helena Silveira se firmou e sua extensa obra no jornalismo

    confirma isso. Quando convidada para assumir uma coluna de crtica de televiso no

    caderno Folha Ilustrada, estava na casa dos 60 anos e tinha um passado de lutas diversas

    na literatura e nas questes femininas. J tinha tambm uma histria de atuao dentro

    do jornal e demonstrava uma disposio para ver e entender o que chamava de nossa

    maquininha domiciliar. Em Paisagem e memria, Helena relembra as circunstncias

    profissionais e pessoais que a levaram crtica:

    Quando Cludio Abramo me sugeriu, na redao das Folhas, queeu me tornasse crtica de televiso, creio que, ao contrrio do queele esperava, aceitei com prazer. Vivi um tempo com nojo da palavraescrita. Uma coisa estranha. Achava que as palavras estavam gastascomo as pedras pudas e limosas das velhas ruas. E a imagem,sobretudo aquela imagem que nos chegava a domiclio, era umgolpe rude na fico romanesca. Incumbi-me de uma pgina de jornalinteira, semanalmente, com o ttulo de Helena Silveira v TV. [...] O veculo com propostas ainda abertas, uma linguagem que seiria descobrindo todos os dias, me estimulava. Parecia-me que, noterreno literrio, todas as frmulas j tinham sido encontradas,enquanto a TV guardava todos os seus segredos, suas boas chaves.(SILVEIRA, 1983, p. 237)

    Naquele perodo, a Folha passava por uma modernizao empreendida por

    Cludio Abramo, figura notria e notvel do jornalismo brasileiro, que vinha de uma

    passagem pelo O Estado de S. Paulo. Abramo atuou em diversas frentes, mas como

    chefe de redao que trar uma reformatao do jornal, atraindo diversos colaboradores

    importantes e levando-o liderana que atingiu nos anos 1970 (ABRAMO, 1988).

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    No que se refere Folha Ilustrada, Cludio Abramo prope uma elevao de seu

    status, apostando na grande diferena em relao ao que ocorria em termos de editoria

    de cultura no Estado, por exemplo. Surgido em dezembro de 1958, o caderno reunia

    diferentes assuntos. Era de fato um caderno de variedadesdistante, por exemplo, do

    Suplemento Literrio do Estado de S. Pauloou o Suplemento Dominical do Jornal do

    Brasil, marcadamente voltados literatura e s artes. A Folha Ilustrada no se

    aproximava plenamente desse conceito de cultura que vigorava nos primeiros

    suplementos culturais nela, havia desde notas sobre celebridades, notcias da rea

    cultural, quadrinhos, o colunismo social de Tavares de Miranda, matrias sobre

    comportamento e basicamente tudo o que no cabia em outras editorias

    (GONALVES, p. 22).

    Na dcada de 1960, o caderno j possua uma seo voltada para os assuntos da

    televiso. Esse espao era dividido com notcias e textos a respeito da programao de

    outro veculo, at ento, mais popular: o rdio. Basicamente, os textos se resumiam a

    destaques e informaes sobre a programao das emissoras. Comentrios crticos no

    eram longos. Numa poca em que o grande destaque da televiso eram os programas

    musicais e os festivais da cano, no difcil entender o porqu de a coluna ser

    assinada pelo mesmo jornalista encarregado da editoria de msica: Adonis de Oliveira,

    que escreveu regularmente sobre esses assuntos durante quase toda a dcada at ser

    substitudo por Helena.

    Retomar o contexto da Folha e do caderno cultural no perodo em que Helena

    atuou como crtica ir ao encontro da ideia de Robert Darnton, que, num ensaio em que

    relembra sua atuao como jornalista noNew York Times, aponta para o fato de o local

    e o modo de trabalho de um jornalista interferir na sua forma de contar uma histria

    (DARNTON, 2010, p. 109). O historiador sugere, ainda, que se considere uma

    duplicidade que marca o texto jornalstico: ele ao mesmo tempo uma mercadoria e

    uma forma de ver o mundo. Darnton est se focando mais na atuao de uma figura

    especfica da redaoo reprtere na sua forma de se inserir na estrutura da empresa

    jornalstica. No entanto, seu apontamento tambm serve para se considerar a atuao de

    todo profissional no mundo moderno.

    No que se refere figura do crtico, ainda que a relao estabelecida com o

    espao da redao possa ser diferente, inegvel que esse contexto interfere em sua

    forma de atuao, quando no afeta tambm espao disponvel para sua produo. Noperodo em que atuou como crtica de TV, a Folha Ilustrada teve basicamente quatro

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    editores: Moacyr Corra (que cuidou do caderno do surgimento at 1971), Victor Cunha

    Rego (1971-1974), Hel Machado (editora na segunda metade dos anos 70) e Caio

    Tlio Costa (contratado em 1981).

    Esses diferentes contextos editoriais afetam a frequncia da coluna de Helena

    Silveira no jornal. Entre janeiro de 1970 e maio de 1972, a jornalista escreveu todas as

    segundas-feiras na ltima pgina da Ilustrada. Durante pouco mais de um ano, de

    meados de maio de 1972 a julho de 1973, a coluna foi publicada no Caderno de

    Domingo, mas ainda ocupando pgina inteira. Em agosto de 1973, volta Ilustrada,

    onde escrever ininterruptamente at cinco vezes por semana.

    O ms de maro de 1974 marca o incio de uma coluna diria: Videonrio

    passa a ser publicada entre tera e sexta e convive com a coluna maior Helena Silveira

    v TV, que sai aos sbados. A partir de julho de 1977 todas as colunas passam a se

    chamar Helena Silveira v TV. Deste momento at 1984, Helena no ter mais um

    espao grande semanal, nem a prestigiosa pgina final da Ilustrada: suas colunas ficam

    menores e dispostas no meio do caderno e, embora em alguns momentos se possa

    reconhecer alguma regularidade, no h um lugar fixo para ela.

    Reconhecida pelo pblico e pelos profissionais da televiso, a dedicao plena

    de Helena Silveira s questes do mundo televisivo trouxe-lhe autoridade e

    credibilidade. A veterana atriz Vida Alves se referiu a ela como verdadeira dama do

    jornalismo paulista e lembra seu prestgio entre os profissionais de TV: Sua coluna na

    Folha de S.Paulo era de muito prestgio na classe. Observadora, educada, o que ela

    escrevia era lei. Helena Silveira disse..., era uma frase ouvida por todos (ALVES,

    2008, p. 277). Entre 1971 e 1973, j como crtica reconhecida, criou o Trofu Helena

    Silveira, por sugesto do radialista da Rede Globo Milton Faria. Considerado um

    substituto do extinto Roquette Pinto, a premiao fez muito sucesso e distinguiu

    profissionais da televiso. No mesmo perodo, sua coluna se torna o local de encontro

    entre os envolvidos nas produes televisivas e o pblico fato que pode ser percebido

    no espao aberto para apresentao de cartas dos leitores e intitulado AHora e a Vez

    do Telespectador. Segundo ela mesma, tratava-se de um cantinho para a opinio do

    leitor, que amarrado sua cadeira, diante do vdeo, no pode externar agrado ou

    desagrado e tem que engolir o bom e o pssimo sem exteriorizaes (Um programa

    primitivo e uma plateia imatura, 9 de maro de 1970).

    Com uma trajetria peculiar e uma vasta produo, Helena Silveira constituiuma figura importante para se pensar o significado da televiso para a cultura brasileira.

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    Num momento em que se anunciavam mudanas em diversos setores da sociedade, a

    escritora se ocupou de um elemento cada vez mais popular e rechaado pela

    intelectualidade: a mquina de fazer doidos, como chamava Stanislaw Ponte Preta,

    em expresso sempre retomada por Helena.

    Em entrevista ao caderno Folhetim em 1980, a crtica comentou um pouco de

    sua atuao e de como no falava para o vazio6:

    O crtico um vedor de televiso como qualquer outra pessoa.O que talvez ele tenha mais sensibilidade, mas no tem nenhumaforma mgica. Ele tem de saber o que h por trs da tev: comofunciona cada coisa, quais exigncias e limitaes de cada setor e decada profissional. [...] [Porm, o] tecnicismo s interessa prpriacrtica; para o leitor muito chato quando se limita aos aspectos

    tcnicos de uma produo. Acho que a crtica s deve se deterem detalhes tcnicos como recurso para o aprofundamento da anlisedirigida aos profissionais de TV. (Helena Silveira comenta seuprprio trabalho: No falo para o vazio, 28 de setembro de 1980)

    Sobre os critrios de crtica, explica que eles variam de acordo com o tipo de

    produo. Enquanto num musical ou show de entretenimentos a forma pesa bastante,

    num telejornal ou reportagem especial essencial o contedo:

    No concebo um telejornal incuo, que no leva a nada. A reportagemno pode ser alienante, preocupada apenas em ser bem feitaformalmente. Ao analisar um telejornal eu procuro ver se um fundofoi atingido, se aprofundou os problemas, se a informao foi dadacorretamente ou deturpada. (Idem)

    Segundo a colunista, a funo da TV seria semelhante a dos rapsodos: contar

    histrias para quem jamais poderia l-la. Sua compreenso da TV vai alm ao v-la

    como veculo de cultura, arte, respaldo forte de comrcio e grande poder de

    produtividade enquanto indstria, embora poucas vezes sua misso de arte e cultura

    tenha sido cumprida.

    A devoo de Helena Silveira maquininha durante tantos anos possibilitou

    jornalista ver e rever posicionamentos, um movimento prprio de honestidade

    intelectual que ela foi exercendo mais nos ltimos anos de sua atuao como crtica,

    rtulo que ela rejeita em texto de 1982:

    6Como argumento, Helena Silveira conta como sua crtica acabou auxiliando na modificao da grade de

    programao da Globo. Tal influncia foi reconhecida por Boni em carta endereada colunista, quecriticava a presena massiva da programao estrangeira (os chamados enlatados). Como resposta, logoa emissora produziu o festivalAbertura.

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    Este convvio com programao, gentes e coisas do vdeo, no meucaso, cria um relacionamento parelho quele que se estabelece emsociedade entre pessoas que se frequentam, convivem, tm afinidades,desafetos, impulsos afetivos e repulsas s vezes inexplicveis. Vdeo e

    vida se parecem na forma vocabular e vdeo compulsivo, como omeu caso, torna-se vivncia tal e qual as ocorrncias de nossocotidiano.Por isto, por este liame que se estabelece entre a maquininha e seumirador, repilo a palavra crtica. No sou crtica. Amarro-me ssingularidades das produes no bom e no mau sentido. Sofro comcertas calamidades de TV, alegro-me com acertos. Desta forma,comprometo-me. [...]. Sou da famlia das heras. Fico ligada aos murosdo mundo e, se me arrancam, despedao-me.Bem, eis que, de repente, fico dramtica (influncia tremenda dosnoveles?). No. Apenas quero declarar aqui, alto e bom som, que nosou isenta, que ningum isento. Que este colocar-se entre fatos ecoisas como que revestida de invisvel toga jogo marotssimo.Ningum julga ningum porque na vida todos somos comprometidosatravs de nossa sensibilidade. [...] (Sucupira recebe aula depoltica, 15 de outubro de 1982)

    Ainda que recusando o rtulo, foi como crtica de televiso que Helena

    encontrou seu lugar. notvel como sua postura diante da tela pequena vai se

    transformando ao longo dos anos, deixando de lado parmetros rgidos esse exerccio

    de honestidade intelectual o que torna sua produo mais singular por refletir as

    diferentes maneiras como se viu a televiso brasileira.

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    3. A TV que Helena Silveira viu

    Foi em 12 de dezembro de 1969, na Folha Ilustrada, em texto intitulado Uma

    viso da TV que Helena Silveira tocou no assunto que desenvolveria nos quinze anosseguintes. Nele, a escritora defende o veculo e critica a viso de muitos intelectuais que

    no viam um potencial artstico na televiso, alm de incursionar pelo debate sobre a

    qualidade da programao que vigorava poca:

    [...] Falei da pichao sistemtica feita pelos intelectuais que noaceitam a TV ou, se a aceitam, como uma soluo profissional, emque nem se pode cogitar da parte artstica, se no se admite a TVcomo arte [...] A verdade que, durante muito tempo, os produtoresde TV apostaram na burrice da plateia. [...] Sem dvida alguma, ostempos presentes se mostram bem melhores. Consultando o Ibope naFolha de So Paulo, um dia desses, vi que um programa que tivera empocas passadas grande audincia e era degradantemente ruim,passara para nono lugar na parada de espetculos. Assim o produtorest vendo que se o pblico aceitava o ruim porque no se lhe serviamelhor prato. Hoje, existe uma emulao entre os canais. Aschanchadas, a demagogia barata, a explorao do mau gosto, doescandaloso, da cafonice, j no rende audincia. A mentalidade dosprodutores est se modificando. Comea a se apostar se no nainteligncia, pelo menos no bom senso do pblico e em suacapacidade de discernimento da barata explorao frente a limpeza e

    honestidade do programa.

    No mesmo texto, a jornalista j destaca as qualidades percebidas naquele que se

    tornaria um gnero televisivo muito popular: a telenovela. Nessa poca, o gnero

    tentava se livrar da influncia forte do melodrama cubano que at ento preponderava.

    O grande destaque dessa transformao foi, sem dvida, a telenovela Beto Rockfeller,

    de Brulio Pedroso, apresentada pela TV Tupi entre 1968 e 1969, e que inovou ao

    mostrar personagens comuns no cotidiano da cidade de So Paulo. Em seu texto, Helena

    identifica essa mudana em curso no gnero, e o valoriza como sendo uma espcie deneorrealismo brasileira:

    O que se deve ressaltar no captulo telenovela a excelncia doselencos, da direo, do trabalho das equipes tcnicas. [...]Sabemos que, em nosso pas, as frmulas artsticas chegam com certoatraso. Isto vlido em literatura e em outros setores. A TV sendouma arte mais popular do que o cinema recebe a influncia destedepois de inteiramente consagradas e ultrapassadas. No Brasil, ademora da repercusso , obviamente, maior. Assim, temos agora,com resultados positivos, o neorrealismo italiano a vigorar. Merc dafrmula arcaica, mas vlida de uma direo certa e de artistas degrandeza de um Juca de Oliveira de uma Angelina Muniz, de uma

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    Araci Balabanian, consegue-se o justo xito de Nino, o Italianinho.Daqui por diante esse trabalho poder valer como roteiro-lio emnossa TV. Lio de que o cotidiano, como enredo, condimentomelhor do que o grandiloquente. Claro que, apesar de tudo Ninono sem falhas. Os tipos muito caricaturais, muitas vezes, tm um grifodemasiado. Mas de Redeno [telenovela apresentada pela TVExcelsior entre 1966 e 1968] (para citar roteiro parecido) a Nino,tivemos uma grande melhoria. (Uma viso da TV)

    Os trechos desse primeiro texto j apresentam um pouco do universo da crtica

    realizada por Helena: a preocupao em inserir a TV num contexto maior da cultura

    brasileira e a valorizao de seus pontos e gneros mais fortes (o afinco de tcnicos e

    profissionais de dramaturgia, a telenovela como gnero narrativo capaz de se utilizar

    das mais diversas frmulas artsticas, etc.)

    J em 5 de janeiro de 1970, a jornalista iniciar sua dedicao semanal ao

    veculo, assinando o espao como Helena Silveira v TV. Nascia assim uma das

    colunas mais longevas sobre a televiso brasileira e num momento bastante peculiar da

    cultura nacional, em que a indstria cultural ganhava fora e o mercado de bens

    simblicos se transformava em ritmo acelerado.

    Renato Ortiz analisa detidamente a modernizao que vai ocorrendo via

    indstria cultural no regime autoritrio instalado em 1964 e o discurso sobre a cultura.

    Para ele, No perodo em que a economia brasileira cria um mercado de bens materiais,

    tem-se que, de forma correlata, se desenvolve um mercado de bens simblicos que diz

    respeito rea da cultura (ORTIZ, 2006, p. 81). Nesse contexto, o Estado vai se

    preocupar cada vez mais com a questo, criando instituies para cuidar da organizao

    e produo de cultura. No que se refere produo audiovisual, sempre lembrada a

    criao da Embrafilme, que teve um impacto importante na produo e distribuio de

    fitas nacionais. Mas, e a televiso? Que ateno mereceu do governo e como se pensou

    a sua relao com a cultura naquele momento?O ano de 1970 um marco importante para a discusso. Para o telespectador, o

    ano de fenmenos televisivos como a Copa do Mundo e a telenovelaIrmos Coragem,

    de Janete Clair, produo famosa por ter conseguido angariar o pblico masculino. No

    contexto poltico, marca o incio da preocupao dos governos com a televiso. A

    elaborao de um novo Cdigo de Censura e a cassao dos canais da TV Excelsior (a

    nica emissora a se posicionar contra os militares) so ndices dessa inquietao do

    governo com relao ao veculo. No mesmo perodo, o Ministrio das Comunicaespassar a se preocupar com a qualidade da programao televisiva. Duas figuras

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    despontam nesse mbito: Hygino Caetano Corsetti, ministro no governo Mdici, e

    Euclides Quandt de Oliveira, ministro das Comunicaes durante o governo Geisel. As

    decises desses ministros (e eventualmente dos ministros da Educao) para a TV vo

    se refletir no modo de falar do veculo naquele momento.

    No comeo da dcada, tem incio uma transformao na esttica televisiva

    (RIBEIRO, SACRAMENTO & ROXO, 2010; TVOLA, 1996). A busca de uma

    linguagem prpria e as transformaes tcnicas da televiso s se completam no fim dos

    anos 1970. O que se v na tela pequena, so caminhos e descaminhos, tentativas que

    beiram a vanguarda, testam limites das linguagens e gneros.

    Essa transformao ter sua frente a Rede Globo, talvez a nica emissora com

    capital (adquirido nos anos 1960 num acordo com o grupo estrangeiro Time-Life) para

    investir fundo nas mudanas capital que lhe permitia, por exemplo, contratar os

    melhores artistas e profissionais da TV de ento. Preocupada em limar de sua

    programao tudo o que houvesse de mais popularesco e oferecer produes de nvel

    tcnico elevado, como desejava o governo, a prpria emissora vai evidenciar essa

    transformao para o pblico ao assumir em seu discurso a ideia de um padro de

    qualidade.

    Na crtica televisiva, a questo foi largamente explorada. Srgio Miceli comenta

    brevemente a forma como a crtica da poca incorporou esse discurso:

    [os crticos e comentaristas especializados em TV] apoiam seusdiscursos na distino entre programas de alto nvel e baixo nvel,querendo indicar, assim, que o nvel de competncia culturaldos respectivos pblicos determina o modo de recepo e aposio relativa de cada programa na hierarquia da indstriacultural (MICELI, 2005, p. 29).

    As colunas de Helena Silveira nesse perodo assumem como vlida essainquietao e a cronista se mostra preocupada com o avano de programas que no

    considera serem de bom gosto, como os shows de auditrio de Chacrinha.

    Comentando a clssica frase Quem no se comunica se trumbica, a crtica diz :

    Muito engraado, que, dentro dessa nova ordem que a comunicaoalgumas pessoas achem que o vale tudo serve desde que atinja seuescopo. Segundo aqueles comentadores, Chacrinha seria o gnio comoexpresso de comunicao de povo subdesenvolvido. [...] Bem,Chacrinha comunica nesse sentido, no tenhamos dvidas. umaespcie de bota pra quebrar. [...] Atirar postas de bacalhau a umaplateia pobre, por certo, comunica. Comunica to tremendamente que

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    ante a diverso proporcionada temos vontade de chorar. Essa aanarquia primitiva e desencadeadora e deflagradora de emoo,mago sempre presente dentro da arte desinteressada? [...] Nadah de inventivo nem nenhum belo ou feio primitivo em seusespetculos. H, sim, uma avacalhao incontestvel visando umapobre plateia imatura e indefesa. [...] (Um programa primitivo e umaplateia imatura, 9 de marode 1970)

    O que interessante observar, tendo em vista a trajetria de Helena Silveira,

    sua honestidade em assumir, no seu espao de crtica, uma reviso de critrios e

    opinies. E Chacrinha um tema a que a colunista voltar diversas vezes. Em uma

    coluna de 1971, Helena j assume um olhar diferente diante do apresentador:

    E l fui eu, quarta-feira passada receber um trofu das mos doChacrinha. Pensei em fazer um balano, ou melhor, uma equao comos prs e os contras de minha viso crtica sobre seus programas, aoagradecer a lurea. Todavia, fui envolvida pelo movimento, os gritos,o barulho da arena e quase no pude ouvir minha prpria voz. Umagentil chacrete empurrava-me o microfone nos lbios e at tive medode que ele me escorregasse garganta abaixo. Em verdade, o clima daDiscoteca [do Chacrinha] , ao vivo, algo alucinante. Disse muitoobrigada ou qualquer coisa parecida e me retirei.Os que acompanham esta minha pgina devem ter notado que, aoincio destes comentrios, eu era muito severa em relao aoChacrinha. Outro dia, no programa de Silvio Santos, ele indagava a

    representantes da Classe A se eles se envergonhavam em dizer queviam os programas do apresentador, devido, naturalmente, aopopularesco do mesmo...[...] Acontece que tempo correu, Abelardo Barbosa fora de sua arenapde desenhar-se em dimenses humanas e a... ele me ganhou. Hoje,vejo Chacrinha encastoado em sua poca, em meio ao seu pblico,dentro de sua arena, como algo absolutamente consequente. Ele . Ele gente. O resto sofisticao. [...] (Que a nossa msica seja, apenas, nossa. 22 de novembro de 1971)

    Em texto de 1975, a relao entre a crtica e o apresentador ganha novo contorno

    uma coluna Videonrio:

    Eu vim para confundir, no para explicar.No fio, soa a voz de Chacrinha, pedindo o meu abrao, posto que 30de setembro era seu aniversrio. Mas eu estava encucada.Que frase esta?Eu vim para confundir, no para explicar tomou o lugar de Quemno se comunica se trumbica. [...]E, a esta altura, eu prpria que acabo de falar com ele ao telefone,estou incerta. O Graham Bell prega peas. Ele disse confundir ou

    contundir? Eu venho para contundir, no para explicar. Isto melhor. Po e circo tambm pode ser traduzido por bacalhau e circo.

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    D no mesmo. Parabns, Velho Guerreiro, aquele abrao! (Eu vimpara confundir, no para explicar, 1 de outubro de 1975)

    A relao entre crtica e seu objeto, j se transformara a esta a ltura, o que se

    pode perceber nas entrelinhas do texto, que sugerem uma maior proximidade e simpatiaentre Helena e o apresentador. Este era, porm, um novo momento da televiso, distinto

    daquele do incio da dcada. Helena Silveira j se fixara como crtica e suas

    preocupaes vo se ampliando.

    Um dos temas que aparecem em sua produo a necessidade de se aprender a

    ver TV. Em junho de 1975, ela usa o espao da coluna Videonrio para responder a

    uma carta de leitora, preocupada com o que o filho poderia aprender vendo um

    programa de televiso no destinado sua faixa etria:

    o caso da me zelosa a dizer que surpreendera o filho, noite alta, acasa toda dormindo, abrindo, s para ele, a plpebra do vdeo, fruindoas imagens roubadas. O programa era proibido para menores dedezesseis anos. [...] Minha senhora, em primeiro lugar devo dizer-lheque o que aconteceu com seu filho em relao TV aconteceu comigoem relao literatura. Havia na biblioteca da casa uma coleo deobras de Machado de Assis. Tomara de um volume, indagando sepodia ler. A resposta veio: Isto no leitura pra menina de suaidade. [...]

    Permita-me que lhe diga o seguinte: minha famlia, se fosse prevenida,trancaria a coleo de Machado, deixando-a longe do meu alcance. Asenhora pode fazer o mesmo em relao ao receptor de TV. Quandofor dormir, deixe-o trancado, sigiloso, de plpebra descida. E a purezade seu filho ser preservada...Mas no aconselho que faa exatamente isto. No seria melhor deix-lo ver o que quisesse desde que fosse algo vlido como linguagemtelevisivacaso de Gabrielae depois explicar o que desejava dizero baiano Jorge Amado com suas imagens e o que consegue dizerValter George Durst com sua adaptao? No creio que fossepernicioso para ele saber sobre a coisificao da mulher, em Ilhus,naqueles idos de 1925. [...]

    Ensine-o a ver TV. Fiz por mim, sozinha, s escondidas, a descobertade Machado. Deixe-o fazer suas descobertas e acredite que elas noo lesaro irrevogavelmente. [...] Se as histrias que a TV contano so mgicas, no tem a menor importncia. A magia, minhasenhora, est dentro dele... [...] (O pecado, ou o mundo mgico?,4 de junho de 1975)

    A crnica-crtica revela um pouco da misso que Helena vai desenvolver ao

    longo dos anos: a de desmistificar a televiso e entend-la como um veculo capaz de

    levar cultura s mais diversas classes.

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    A associao entre televiso e arte/cultura reflete o contexto j referido por

    Renato Ortiz: um momento em que os governos militares paulatinamente se preocupam

    com a organizao e produo da cultura e seu papel na integrao nacional (ORTIZ,

    2006). E, neste ltimo aspecto, a televiso foi o meio principal de integrao, a ponto de

    se poder falar que nossa integrao nacional chegou antes pela televiso que pelas

    estradas (PRIOLLI, 1988, p. 147).

    A discusso que marcou a TV naqueles anos 1970 dizia respeito a uma grade de

    programao nacional, que rejeitasse produes enlatadas estrangeiras. Surge, ento,

    no contexto da crtica televisiva a discusso sobre a cultura nacional, a busca da

    manifestao genuinamente brasileira. A resposta polmica quase sempre pode ser

    resumida ideia do nacional por subtrao (SCHWARZ, 1987): a recusa ao produto

    estrangeiro seria catalisadora para a produo nacional, que, esta sim, poderia dizer algo

    aos brasileiros.

    Nas colunas de Helena Silveira, a defesa de uma televiso mais culturalest

    ligada defesa da veiculao de um contedo nacional. Em notinha na coluna Helena

    Silveira v TV de 4 de janeiro de 1975, ela aponta que os enlatados estariam na

    mira do ministro Quandt de Oliveira, que v nessa excessiva dose de programas

    aliengenas, uma descaracterizao de nossa cultura. J em texto de 15 de maro de

    1975, por exemplo, ela se dirige ao ministro ao lamentar o fim de duas atraes

    televisivas: A Grande Famlia (seriado humorstico da Globo, escrito por Oduvaldo

    Viana Filho) e Srie Documento (srie de documentrios musicais apresentado por

    Pinky Wainer na TV Bandeirantes):

    Num veculo de comunicao como a TV, a todo momento sentimosque ao contrrio dos propsitos dos ministros Nei Braga [da educao]e Quandt de Oliveira [das comunicaes], a avalanche de enlatados

    estrangeiros, a maioria das vezes de duvidosa qualidade, vai tornandomenor a programao genuna que possa expressar nossa cultura,que possa nos afirmar como povo e nao. E isto triste. [...] Socorro-me, apelando para os ministros da Educao e das Comunicaes,to brasileiros e patriotas como este jornal e esta cronista e aosquais indaguei certo dia: Se temos 200 milhas de mar, quantasteremos de ar para nossa cultura? (Danar um tango argentino?,15 de maro de 1975)

    Se h aqui um discurso que pode ser entendido como valorizao da indstria

    cultural brasileira, deve-se atentar tambm para o fato de que a crtica apela ao poderinstitudo (aos ministros do regime militar) e no ao pblico ou aos produtores como

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    capazes de estabelecer uma programao de qualidade. O apelo s faz sentido se se

    tem em mente a forma como a cultura virou assunto de poltica no contexto em que o

    Estado atua com uma normatizao da esfera cultural por meio de leis, decretos e

    portarias que disciplinam e organizam os produtores, a produo e a distribuio dos

    bens culturais (ORTIZ, 2006, p. 88). Assim, o encontro entre ministros e profissionais

    da TV vai se tornando frequente. Em abril, uma notinha na seo Acontecendo da

    coluna Helena Silveira v TV evidencia isso:

    E por falar em Srie Documento, Roberto de Oliveira e CludioPetraglia foram a Braslia conversar com o ministro Quandtde Oliveira sobre a questo dos enlatados e discos estrangeiros ea atitude que podem ter as emissoras e gravadoras na defesa de nossa

    cultura. O ministro, provavelmente, em maio, vir a So Paulo paradar uma entrevista no programa Informao do Canal 13.Mas necessrio que a Bandeirantes acredite, mesmo, na prata dacasa, partindo de sua programao e expurgando-a de tantos e tovelhos enlatados. (Gabriela: muito folclrica?, 26 de abril de 1975)

    A discusso que ope nacional e enlatado marca o pensamento sobre o sentido

    cultural da TV e ressurge em diversos momentos. Entre 1982 e 1983, a Rede Globo

    incorpora o pensamento numa chamada de sua programao: S aqui, no horrio

    nobre, uma programao 100% nacional!. A chamada evidencia de certa forma, comoesse discurso foi incorporado pela emissora, como item do seu chamado padro de

    qualidade.

    Em 1977, com a chegada de Boris Casoy Folha de S.Paulo, outras mudanas

    vo afetar o caderno de cultura do jornal. Assumindo o lugar que fora de Cludio

    Abramo, a postura de Casoy diante da Ilustrada era de que nele no haveria matria

    cultural (GONALVES, 2008). O que se viu, ento, foi a contratao de novos

    profissionais. No campo da crtica de TV, o que ocorre que Helena Silveira deixar de

    ser a principal responsvel pelo assunto. A coluna Helena Silveira v TV deixa de ser

    veiculada em pgina inteira a partir de meados daquele ano. O tamanho diminui, mas a

    jornalista continua escrevendo pelo menos cinco vezes na semana.

    O fim dos anos 1970 constitui um perodo interessante da histria da TV, que

    vir, no bojo da to falada Abertura poltica, com novas ideias e assuntos. So desse

    perodo os ltimos momentos de vanguarda e experimentao da TV, com produes

    como as novelas Espelho Mgico (de Lauro Csar Muniz), Dancin Days(de Gilberto

    Braga), esta ltima, verdadeiro fenmeno televisivo; alm das chamadas sries

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    brasileiras um novo formato de fico seriada que teve como ponto altoa discusso das

    questes femininas emMalu Mulher.

    O fim da rede Tupi e o fracasso de uma novela polmica como Os Gigantes(de

    Lauro Csar Muniz, que tematizava a eutansia e a presena das multinacionais no

    pas), mudam o cenrio da TV. No terreno da teledramaturgia, a Rede Globo se v livre

    da concorrncia e interessada em no correr riscos as novelas das oito da dcada de

    1980 representaro a necessidade de manuteno do status adquirido.

    No terreno da crtica, a produo de Helena Silveira vai refletindo sobre essas

    mudanas ao mesmo tempo que toca nas questes polticas candentes naquele

    momento: eleies diretas, censura, anistia, etc. No contexto da Folha de S.Paulo, a

    jornalista no atua mais sozinha: o espao para se debater a TV ampliado com a

    chegada de Gabriel Priolli e de Tarso de Castro.

    Helena Silveira continuar com produo intensa at pelo menos o incio de

    1984, quando afastada do jornal. Sua ltima coluna, publicada em 16 de janeiro de

    1984, portanto oito meses antes de falecer, reproduz o trecho de Paisagem e memria

    em que ela conta do convite de Cludio Abramo para ser crtica de TV. O ttulo desta

    ltima Helena Silveira V TV sintetiza o combate que travou durante quinze anos

    como telespectadora e crtica contumaz: Palavras que tentam compreender as

    imagens.

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    Consideraes finais: Televiso e cultura

    Os trechos da produo de Helena Silveira destacados at aqui constituem s

    alguns exemplos de como, no terreno especfico da crtica de televiso, confluemdiscusses sobre a cultura brasileira num momento bem especfico do pas.

    Os anos 1970 constituem um perodo notvel para se pensar as tenses da

    cultura. Iniciada sob o peso do AI-5, a dcada conheceu um momento duro de represso

    ao mesmo tempo em que um discurso ufanista oficial glorificava o desenvolvimento do

    Brasil Grande como milagre brasileiro. Os fatores por trs do milagre so

    conhecidos: maior explorao da classe trabalhadora, que sofria com arrocho salarial, e

    avano do capital estrangeiro no pas na forma de emprstimos e de multinacionais.

    Dizia-se que quem conheceu a represso no conheceu o milagre, e vice-versa. No

    cotidiano, esse milagre era visvel no poder de compra de uma classe mdia urbana

    emergente, que se endividava para adquirir os ltimos eletrodomsticos (entre eles, o

    televisor, pago em muitas prestaes), usava o FGTS para se aventurar no Banco

    Nacional da Habitao, sonhava com um Chevette, um Passat ou uma Braslia, mas

    sofria ainda com a parca infraestrutura das cidades e tinha como principal lazer sentar

    todas as noites para acompanhar na TV dramas parecidos com os seus.

    Nessa dcada, a televiso passou por um momento notvel, pois buscava a todo

    momento testar as linguagens. Janete Clair, Dias Gomes, Lauro Csar Muniz, Jorge

    Andrade, Walter George Durst, Ivani Ribeiro, Gilberto Braga entre outros delineavam

    com a televiso um novo imaginrio nacional. Talvez por isso mesmo, muitas das

    produes em teledramaturgia da poca sejam lembradas e refilmadas at hoje: h algo

    sobre o Brasil ali, que se insiste em recuperar ou reavaliar. As duas maiores emissoras

    da poca, a Tupi e a Globo, apostaram ambas no poder das telenovelas para a garantia

    da audinciacom elas, criava-se uma fidelidade do telespectador e se economizava a

    longo prazo. Com resultados bem distintos, e que revelavam o quanto cada emissora

    dispunha de oramento, as produes teledramatrgicas da Globo e da Tupi, por

    exemplo, compem facilmente um painel do pas naqueles anos de chumbo, que aos

    poucos foram se tornando os anos da esperana da abertura.

    Escrevendo regularmente entre janeiro de 1970 e fevereiro de 1984, Helena

    Silveira sintetizou em sua crtica de TV um momento da cultura no pas. Seus textos

    permitem recuperar a dimenso do cotidiano de um homem que via nas imagens da TVseu ter caseiro (MICELI, 2005). Como afirmou Maria Rita Kehl, em um dos

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    primeiros textos a analisar retrospectivamente o significado da televiso nos anos

    setenta: A este homem, expropriado de sua condio de ser poltico resta a televiso

    como encarregada de reintegr-lo sem dor e sem riscos vida da sociedade (NOVAES,

    2005, p. 409).

    Observar esse perodo a partir dos textos de Helena Silveira uma maneira de

    repensar os discursos sobre a relao entre televiso e cultura. A quem se prope a

    analis-la, a questo espinhosa, como j apontou Jess Martn-Barbero, em sntese da

    polmica:

    Poucos mal-entendidos so to persistentes e intricados quanto esseque sustenta e no qual desemboca a relao televiso/cultura. [...]Talvez em nenhum outro lugar o contraditrio significado do massivose faa to explcito e desafiante quanto na televiso: a juno

    possivelmente inextricvel daquilo que nele desativao dediferenas sociais e, portanto, integrao ideolgica, e daquilo queele tem de presena de uma matriz cultural e de um sensoriumque nas elites produz asco. Desconhecer essa tenso, vendo apenas aeficcia do mecanismo integrador e o jogo de interesses comerciais, o que justificou e continua a justificar que a televiso nunca sejaconsiderada quando se trata de discutir polticas culturais, nem porparte dos governos, nem por parte das oposies. A televiso no seriaassunto de cultura, s de comunicao. E, como prova, argumentam:onde esto as obras-primasproduzidas pela televiso? [...] Mais umavez, como afirmou Benjamin a propsito da fotografia, os mandarinsda Cultura continuaro a se perguntar se a televiso pode ser

    considerada como cultura enquantogostemos ou no, para o bem oupara o mal a prpria noo de cultura, sua significao social,o queest sendo transformado pelo que a televiso produz e em seu modode reproduo. (MARTN-BARBERO, 2009, p. 299-300)

    No Brasil, a discusso no ficou no passado. Em 2012, o sucesso de Avenida

    Brasilalentou o debate ao trazer tona a questo da representatividade da propalada

    nova classe C e da qualidade esttica e dramatrgica da telenovela. No faltou

    tambm a oposio enlatado versusnacional quando a imprensa noticiou que a novela

    era inspirada numa srie estadunidense chamadaRevenge.

    Em 2013, a questo voltou em tintas polticas quando a ministra da Cultura do

    governo Dilma, Marta Suplicy (que substituiu Ana de Holanda) afirmou que o Vale-

    Cultura (benefcio a ser oferecido a trabalhadores que ganhem at cinco salrios

    mnimos) poderia ser utilizado no pagamento de assinatura de TV a cabo. O lugar-

    comum que afirma que televiso no cultura voltou a circular, desta vez ganhando

    fora com a argumentao falaciosa das redes sociais. A anulao dessa possibilidade

    aventada pela ministra da Cultura eliminou qualquer possibilidade de debate. No

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    mesmo perodo, as TVs por assinatura se agitam por conta da lei que determina uma

    cota de programao nacional a ser exibida diariamente. Desse modo, a polmica

    relao entre TV e cultura permanece, mas com pouco espao para ser debatida,

    pensada e repensada.

    A crtica de televiso guarda dimenses desses debates e constitui um meio

    profcuo para se pensar e repensar as tenses culturais que se encenam na televiso e

    que se do fora dela. Este trabalho, primeira aproximao ao tema, se desenvolver a

    partir daqui em nvel de mestrado, propondo um aprofundamento das questes tendo

    como ponto de partida a produo crtica de Helena Silveira.

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