O Nome da Rosa

2
O filme “O nome da Rosa” se passa no cenário da Idade Média, onde o direito canônico era visto como um direito superior aos demais. O período se caracteriza pela existência de um pluralismo jurídico, embora o direito canônico se destacasse. Este é percebido nas mãos de Bernardo Gui, um inquisidor chamado ao mosteiro. Com base nos conflitos da época, “O nome da Rosa” faz essa discussão sobre o direito divino, canônico, e o direito dos homens, guiado pela razão. Guilherme de Baskerville é um monge franciscano que vai a um mosteiro com seu aprendiz para resolver um mistério que os assombra: a morte de um rapaz. Já é possível perceber nessa junção, de um franciscano com outros monges da Igreja Católica, uma tensão entre as diferentes pregações. Os franciscanos pregavam uma vida serena e humilde, ao contrário dos demais monges, que desejavam gozar de uma vida cheia de privilégios, embora não admitissem. É possível inferir dessa questão também o fato de os monges desse mosteiro beneditino serem muito propensos à corrupção dos dogmas por eles pregados. Eles não admitiam o conhecimento, visto que era uma forma de indagar sobre a realidade e questionar o supremo direito divino que reinava sobre a Terra. Para tanto, permitiam os estudos de livros antigos, como os de Aristóteles, mas somente aqueles que não incitassem o questionamento. Queriam pessoas com conhecimento, mas sem a capacidade de crítica, pois os dogmas eram indiscutíveis. A filosofia levava as pessoas a pecarem. E a alegria fazia com que elas perdessem o temor a Deus Guilherme de Baskerville, embora seja um franciscano, é um homem vaidoso em relação ao seu conhecimento. Ele tem o desejo pelos livros, sendo capaz de pôr sua vida em risco por eles. E é esse seu desejo que o leva a resolver o grande mistério do filme: um livro proibido, envenenado por um monge que deseja que ele nunca seja descoberto. Os crimes chegam aos ouvidos da inquisição. É então que entra em cena, Bernardo de Gui, um homem insensível, que julga todos conforme seus pensamentos e dogmas. Ele é responsável por acusar três pessoas e enviá-las à fogueira. Uma delas é uma pobre jovem, por quem Adson, o aprendiz de Guilherme, apaixona-se. Ela é acusada de bruxaria, embora não tenha cometido crime algum. Mas quem são as pessoas para discutirem com um inquisidor? A Igreja Católica, com seu direito canônico, era a detentora da verdade divina. Seus dogmas deviam ser seguidos a risca. Somente Deus pode decidir e eles eram a voz divina sobre a Terra.

description

Resenha Filme O Nome da Rosa

Transcript of O Nome da Rosa

Page 1: O Nome da Rosa

O filme “O nome da Rosa” se passa no cenário da Idade Média, onde o direito canônico

era visto como um direito superior aos demais. O período se caracteriza pela existência de um

pluralismo jurídico, embora o direito canônico se destacasse. Este é percebido nas mãos de Bernardo

Gui, um inquisidor chamado ao mosteiro. Com base nos conflitos da época, “O nome da Rosa” faz

essa discussão sobre o direito divino, canônico, e o direito dos homens, guiado pela razão.

Guilherme de Baskerville é um monge franciscano que vai a um mosteiro com seu

aprendiz para resolver um mistério que os assombra: a morte de um rapaz. Já é possível perceber nessa

junção, de um franciscano com outros monges da Igreja Católica, uma tensão entre as diferentes

pregações. Os franciscanos pregavam uma vida serena e humilde, ao contrário dos demais monges,

que desejavam gozar de uma vida cheia de privilégios, embora não admitissem. É possível inferir

dessa questão também o fato de os monges desse mosteiro beneditino serem muito propensos à

corrupção dos dogmas por eles pregados.

Eles não admitiam o conhecimento, visto que era uma forma de indagar sobre a realidade

e questionar o supremo direito divino que reinava sobre a Terra. Para tanto, permitiam os estudos de

livros antigos, como os de Aristóteles, mas somente aqueles que não incitassem o questionamento.

Queriam pessoas com conhecimento, mas sem a capacidade de crítica, pois os dogmas eram

indiscutíveis. A filosofia levava as pessoas a pecarem. E a alegria fazia com que elas perdessem o

temor a Deus

Guilherme de Baskerville, embora seja um franciscano, é um homem vaidoso em relação

ao seu conhecimento. Ele tem o desejo pelos livros, sendo capaz de pôr sua vida em risco por eles. E é

esse seu desejo que o leva a resolver o grande mistério do filme: um livro proibido, envenenado por

um monge que deseja que ele nunca seja descoberto.

Os crimes chegam aos ouvidos da inquisição. É então que entra em cena, Bernardo de

Gui, um homem insensível, que julga todos conforme seus pensamentos e dogmas. Ele é responsável

por acusar três pessoas e enviá-las à fogueira. Uma delas é uma pobre jovem, por quem Adson, o

aprendiz de Guilherme, apaixona-se. Ela é acusada de bruxaria, embora não tenha cometido crime

algum.

Mas quem são as pessoas para discutirem com um inquisidor? A Igreja Católica, com seu

direito canônico, era a detentora da verdade divina. Seus dogmas deviam ser seguidos a risca. Somente

Deus pode decidir e eles eram a voz divina sobre a Terra.

Page 2: O Nome da Rosa

Ao final do filme, a biblioteca do mosteiro é queimada. Talvez seja a vontade divina que

acaba por destruir o conhecimento que gera tanta discórdia. Mas, como faz com que as atenções sejam

voltadas ao incêndio, a jovem menina, cujo nome nunca foi revelado, se salva. Tendo sido este o

pedido de Adson à Nossa Senhora, não seria essa então uma forma de mostrar que o direito divino

pode muitas vezes existir, de maneira diferente do canônico? O direito canônico é somente mais um

direito dos homens, apenas com a justificativa divina. Não faço menção a existência ou não de Deus,

mas à utilização de seu nome para o poder na Terra.

Outro direito humano comentado no filme é o direito realmente dos homens, aquele que

surge com o uso da razão, sem apelos a figuras não comprovadas. É dele que se utiliza Guilherme, o

qual procura solucionar os fatos do mosteiro pelo simples uso da razão.

Enfim, o filme consegue resumir o período conturbado que foi a Baixa Idade Média,

quando a Igreja Católica começava a perder o seu poder, pela substituição das teorias divinas pelas

teorias racionais; e comentando o quão injusto poderia ser o direito canônico, além de mostrar que

nem mesmo seus pregadores seguiam fielmente os mandamentos da Igreja.