O mundo após a 2ª guerra mundial

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A RECONSTRUÇÃO DO PÓS-GUERRA 1. A DEFINIÇÃO DE ÁREAS DE INFLUÊNCIA Com o fim da Segunda Guerra Mundial a Alemanha e o Japão, que sonhavam com grandes domínios territoriais, saíram da guerra totalmente vencidos e humilhados. O Reino Unido e a Franca, embora vencedores, estavam empobrecidos e dependentes da ajuda externa. Perante a ruína do pós-guerra só duas potências permaneciam fortes: - URSS: escudada na força do Exército Vermelho e na sua imensa extensão geográfica; -EUA: indiscutivelmente a primeira potência mundial. A construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz Com o aproximar do fim da Segunda Guerra Mundial os Aliados (vencedores) começam a delinear estratégias para o período de paz que viria. Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt (presidente americano), Churchill (primeiro ministro inglês) e Estaline (secretário geral do partido comunista URSS) reúnem-se nas termas de Ialta (nas margens do Mar Negro), com o objetivo de estabelecerem as regras que devem sustentar a nova ordem internacional do pós-guerra. Conferência de Ialta: - Definiram-se as fronteiras da Polónia, ponto de discórdia entre os ocidentais que não esqueciam ter sido a violação das fronteiras polacas a causa imediata da guerra e os soviéticos que não desistiam de ocupar a parte oriental do país; - Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de ocupação, geridas pelas três potências conferencistas e pela França, sob a coordenação de um Conselho Aliado; - Marcação da reunião da conferência preparatória da ONU; - Supervisão dos três grandes na futura constituição dos países de Leste, ocupadas pelo eixo; - Estabelecimento de 20.000 milhões de dólares como base das reparações da guerra devidas pela Alemanha.

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A RECONSTRUÇÃO DO PÓS-GUERRA

1. A DEFINIÇÃO DE ÁREAS DE INFLUÊNCIA

Com o fim da Segunda Guerra Mundial a Alemanha e o Japão, que sonhavam com grandes

domínios territoriais, saíram da guerra totalmente vencidos e humilhados.

O Reino Unido e a Franca, embora vencedores, estavam empobrecidos e dependentes da

ajuda externa.

Perante a ruína do pós-guerra só duas potências permaneciam fortes:

- URSS: escudada na força do Exército Vermelho e na sua imensa extensão geográfica;

-EUA: indiscutivelmente a primeira potência mundial.

A construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz

Com o aproximar do fim da Segunda Guerra Mundial os Aliados (vencedores) começam a

delinear estratégias para o período de paz que viria.

Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt (presidente americano), Churchill (primeiro

ministro inglês) e Estaline (secretário geral do partido comunista – URSS) reúnem-se nas

termas de Ialta (nas margens do Mar Negro), com o objetivo de estabelecerem as regras que

devem sustentar a nova ordem internacional do pós-guerra.

Conferência de Ialta:

- Definiram-se as fronteiras da Polónia, ponto de discórdia entre os ocidentais – que não

esqueciam ter sido a violação das fronteiras polacas a causa imediata da guerra – e os

soviéticos – que não desistiam de ocupar a parte oriental do país;

- Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de ocupação, geridas pelas

três potências conferencistas e pela França, sob a coordenação de um Conselho Aliado;

- Marcação da reunião da conferência preparatória da ONU;

- Supervisão dos três grandes na futura constituição dos países de Leste, ocupadas pelo eixo;

- Estabelecimento de 20.000 milhões de dólares como base das reparações da guerra devidas

pela Alemanha.

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Alguns meses mais tarde, em finais de julho de 1945, reuniu-se em Potsdam (perto de Berlim)

uma nova conferência com o fim de consolidar os alicerces da paz.

Decorreu num clima mais tenso que a de Ialta.

Vencida a Alemanha, renasciam as desconfianças face ao regime comunista que Estaline

representava e às suas pretensões expansionistas na Europa.

Deste modo, a conferência encerrou sem alcançar uma solução definitiva para os países

vencidos, limitando-se a ratificar e a pormenorizar os aspetos já acordados em Ialta.

Conferência de Potsdam:

- Perda provisória da soberania alemã e sua divisão em quatro zonas de influências;

- Administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em quatro zonas de

ocupação;

- Montante e tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;

- Julgamento dos criminosos de guerra nazis, através da criação do Tribunal Internacional de

Nuremberga;

- Divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes semelhantes aos estabelecidos

para a Alemanha.

Um novo quadro político

Nó pós-guerra aumenta a importância da URSS a nível internacional. No último ano do

conflito, na sua marcha vitoriosa até Berlim, coubera ao Exército Vermelho a libertação dos

países da Europa Ocidental. Na Polónia, Checoslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária, os

soldados russos substituíram os ocupantes nazis.

Entre 1946 e 1948, estes países encaminharam-se para o socialismo, constituindo as

democracias liberais.

Este rápido processo de sovietização foi, de imediato, contestado pelos ocidentais. Churchill

denunciou a criação, por parte da URSS, de uma área de influência impenetrável, isolada do

ocidente por uma “cortina de ferro”1.

1 Expressão utilizada para a divisão em dois da Europa: Europa Ocidental e Europa

Oriental.

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2. A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Após o fracasso da SDN a ideia de uma organização internacional que assegurasse a paz e a

segurança permaneceu.

Deste modo, Franklin Roosevelt, nas cimeiras da “Grande Aliança” criou uma organização mais

consistente – a ONU.

Este projeto ficou acordado em 1943 na Conferência de Teerão e foi ratificado em Ialta onde

se decidiu a convocação de uma conferência para redigir e aprovar a carta fundadora das

nações unidas.

Esta, iniciou-se no dia 25 de Abril de 1945 em São Francisco, tendo como princípios

fundamentais:

- Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizando meios pacíficos, de acordo com os

princípios da justiça e o direito internacional;

- Desenvolver relações de amizade entre os países do mundo, baseadas na igualdade entre os

povos e no seu direito à autodeterminação;

- Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural e promover a

defesa dos Direitos Humanos;

- Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes propósitos.

A defesa dos Direitos do Homem

Após as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial com o holocausto e

disposta a impedi-las no futuro, a ONU tomou uma feição profundamente humanista, através

do reforço, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos do Homem substituindo a

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que passou a integrar os documentos

fundamentais das Nações Unidas.

Este documento definia os direitos e as liberdades fundamentais (direito à vida, liberdade de

reunião, expressão, etc.) e também tivera sido atribuído um papel importante às questões

económico-sociais (direito ao trabalho, ao descanso, ao ensino…).

Órgãos de funcionamento

A Carta das Nações Unidades definiu também os órgãos básicos do funcionamento da

instituição:

- Assembleia Geral: formada pela generalidade dos Estados-membros, funciona como um

parlamento;

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- Conselho de Segurança: formado por 15 membros (cinco dos quais permanentes – EUA,

URSS, Reino Unido, França e República Popular da China) e 10 flutuantes eleitos pela

Assembleia-Geral por dois anos. É o órgão diretamente responsável pela manutenção da paz e

da segurança: atua como mediador, decreta sanções económicas e em último caso decide a

intervenção das forças militares;

- Secretariado-Geral: representa a ONU e, com ela, praticamente todos os povos do mundo;

- Conselho Económico-Social: encarregado de promover a cooperação a nível económico,

social e cultural entre as nações. Atua através de instituições especializadas e outros órgãos

específicos que se encontram sob a sua tutela: BIRD, FAO, OIT, OMS. É um dos órgãos mais

ativos e importantes da ONU.

- Tribunal Internacional da Justiça: é o órgão máximo da justiça internacional;

- Conselho de Tutela: órgão criado com o fim principal de administrar os territórios que

outrora se encontravam sob a alçada da SDN;

A ONU tem sede em Nova Iorque desde 1952, contando com 192 países.

3. AS NOVAS REGRAS DA ECONOMIA INTERNACIONAL

O ideal de cooperação económica

O planeamento do pós-guerra não se processou somente a nível político. Em julho de 1944,

um grupo de economistas (dos quais um deles era Keynes, ligado ao intervencionismo) reuniu-

se em Bretton Woods (EUA) a fim de prever e estruturar a situação monetária e financeira do

período de paz.

Com o fim da guerra tornava-se essencial regularizar o comércio mundial, os pagamentos e a

circulação de capitais, evitando o círculo vicioso de desvalorizações monetárias e a

instabilidade das taxas de câmbio dos anos 20 e 30.

Assim, para garantir a estabilidade das moedas criou-se um novo sistema monetário

internacional: o dólar era a moeda-padrão e as restantes moedas tiveram sido convertidas em

ouro ou dólar.

Na mesma conferência e com o objetivo de operacionalizar o sistema criaram-se dois

organismos importantes:

- FMI (Fundo Monetário Internacional) ao qual recorreriam os bancos centrais dos países com

dificuldades em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos;

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- Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) também conhecido

como Banco Mundial, destinado a financiar projetos de fomento económico a longo prazo.

Em 1947, na Conferência Internacional de Genebra, assina-se um Acordo Geral de Tarifas e

Comércio (GATT) onde 23 países se comprometeram a negociar a redução dos direitos

alfandegários e outras restrições comerciais. Isto permitia melhorar as condições de vida,

garantia o emprego, permitia o crescimento da produção e do consumo e a expansão das

trocas de mercadorias.

Esta ideia de um espaço económico alargado deu origem, nesse mesmo ano, à BENELUX:

aliança entre a Bélgica, Holanda e Luxemburgo, prevendo a abolição das tarifas alfandegárias

entre os três países.

O TEMPO DA GUERRA FRIA – A CONSOLIDAÇÃO DE UM MUNDO

BIPOLAR

1. UM MUNDO BIPOLAR

A rutura

Quando em 1946, Churchill afirmou que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o processo de

sovietização dos países de Leste era já irreversível. Sob a tutela diplomática e militar da URSS,

os partidos comunistas ganhavam forças e, progressivamente, tomavam o poder. Para

coordenar a sua atuação, tornando-se mais eficiente, criou-se, em 1947, o Kominform

(Secretariado de Informação Comunista) que se tornou um importante organismo de controlo

por parte da URSS.

Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os EUA assumem a liderança da oposição aos

avanços do socialismo2.

É neste contexto que o presidente Truman alarga a divisão europeia ao mundo que está

dividido em dois sistemas antagónicos: um baseado na liberdade e outro na opressão. Aos

americanos cabe a liderança do undo livre na contenção do comunismo.

À doutrina Truman opõe-se a doutrina Jdanov, que segundo o dirigente soviético afirma que o

mundo se divide, de facto, em dois sistemas contrários: um, imperialista e antidemocrático –

liderado pelos EUA – e outro em que reina a democracia e a fraternidade entre os povos,

correspondente ao mundo socialista – liderado pela URSS.

Para além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman

deixava também clara a necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente. 2Esta posição inverte a tradicional postura de isolamentos dos EUA que olharam

sempre com relutância a interferência direta na política internacional.

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As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e os EUA tiveram ajudado a Europa.

É neste contexto que o secretário de Estado americano Marshall anuncia, em junho de 1947,

um plano de ajuda económica à Europa.

Este plano foi oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se encontravam já sob

influência soviética, mas esta ténue tentativa de aproximação não teve êxito. Moscovo

classifica a ajuda americana de “manobra imperialista” e impede os países sob sua influência

de a aceitaram.

Em janeiro de 1959, Moscovo lança o plano Molotov, que estabelece as estruturas de

cooperação económica da Europa Oriental.

Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica

Mútua), instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas,

sob proteção da União Soviética.

Os países abrangidos pelo Plano Marshall e os países do COMECON funcionaram como áreas

transnacionais, coesas e distintas uma da outra.

A divisão do mundo em dois blocos antagónicos consolidou-se, tal como a liderança das duas

superpotências.

O primeiro conflito: a questão alemã

Este clima de desentendimento e confrontação refletiu-se de imediato na gestão conjunta do

território alemão, que na sequência da Conferência de Potsdam se encontrava dividido e

ocupado pelas quatro potências vencedoras.

A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que ingleses e americanos

olhassem a Alemanha, não já como o inimigo vencido, mas como um aliado imprescindível à

contenção do avanço soviético.

O renascimento alemão tornou-se uma prioridade para os americanos, que intensificaram os

esforços para a criação de uma república federal constituída pelos territórios sob ocupação das

três potências ocidentais – República Federal Alemã (RFA).

A União Soviética protestou vivamente contra aquilo que considerava uma violação dos

acordos estabelecidos, mas acabou por desenvolver uma atuação semelhante na sua própria

zona que conduziu à criação de um Estado paralelo, sob a alçada soviética – República

Democrática Alemã (RDA).

Esta divisão fez com que houvessem discórdias quanto a Berlim, uma vez que ainda lá estavam

as forças militares das três potências ocidentais.

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Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os

acessos terrestres à cidade.

O Bloqueio de Berlim, que se prolongou de junho de 1948 a maio de 1949, foi o primeiro medir

de forças entre as duas superpotências.

Assim, três anos passados sobre o fim da Segunda Guerra, os antigos aliados tinham-se

tornado rivais e a sua rivalidade dividia o mundo, pondo em risco os esforços da paz.

Nas décadas que se seguiram, as relações internacionais refletiram esta instabilidade e

impregnaram-se de um clima de forte tensão: foi o tempo da Guerra Fria.

A Guerra Fria

O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos

anos 80, altura em que o bloco soviético mostrou os primeiros sinais de fraqueza.

Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente gerando um clima

de hostilidade e insegurança que deixou o mundo num permanente sobressalto. É este clima

de tensão internacional que se designa por Guerra Fria.

A Guerra fria caracterizou-se por cada bloco se procurar superiorizar ao outro, quer em

armamento como na ampliação das suas áreas de influência. Enquanto isso, a propaganda

incutia nas populações a ideia da superioridade do seu sistema e a rejeição e o temor do lado

contrário, ao qual se atribuíam as intenções mais sinistras e os planos mais diabólicos.

As duas superpotências defendiam conceções opostas de organização política, vida económica

e estruturação social: de um lado, o liberalismo assente sobre o princípio da liberdade

individual; do outro, o marxismo, que subordina o indivíduo ao interesse da coletividade.