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975 O MOVIMENTO COMUNITÁRIO NO BAIRRO MATHIAS VELHO: OS REZADORES, O IRMÃO ANTÔNIO, A PROFESSORA MATILDE, OS CLUBES DE MÃES E OS CARROCEIROS. ODILON KIELING MACHADO UFSM [email protected] VITOR OTÁVIO FERNANDES BIASOLI UFSM [email protected] Resumo: A comunicação enfoca o movimento comunitário no bairro Mathias Velho, em Canoas / RS, entre 1975 e 1984. Este movimento tem como uma das matrizes a Teologia da Libertação e o analisamos a partir das memórias e arquivos pessoais de duas lideranças religiosas: o Irmão Antônio Cechin e a professora Matilde Cechin. Tomamos como ponto de partida as ações de Antônio e Matilde junto aos “rezadores” do bairro e a organização das mulheres em clubes de mães. Na seqüência, a articulação com carroceiros e trabalhadores em geral e a ocupação de terrenos, no Natal de 1979. Essa ocupação resultou na Vila Santo Operário e a consolidação de comunidades eclesiais. Em 1984, os moradores obtiveram na Justiça a posse legal do terreno e a vila existe deste então, legalmente, conquistando significativas melhorias urbanas como água, luz, esgoto e asfalto. Palavras-chaves: movimento comunitário, CEBs, ocupação de terras. INTRODUÇÃO A presente comunicação tem como propósito enfocar um movimento social, de caráter comunitário, que se desenvolveu no bairro Mathias Velho, em Canoas (na região metropolitana de Porto Alegre), entre 1975 e 1984. Este movimento resultou na ocupação de terras no bairro Mathias Velho e na criação de uma vila: a Vila Santo Operário. Como entendemos que o embrião desse movimento tem uma das suas principais matrizes no trabalho religioso do Irmão Antônio Cechin e da professora Matilde Cechin, estabelecemos o ano de 1975 como marco inicial da investigação, pois foi nesta data em que eles chegaram ao bairro. A organização comunitária que enfocamos inicia a partir daí, tendo como eixo o grupo que se reunia para rezar o terço, no “fundão do bairro” (termo usado pelos moradores). No Natal de 1979, ocorreu a ocupação de terras na Mathias Velho, a abertura de ruas e a construção de moradias, e, em 1983, foi obtida a posse legal dos terrenos. A presente comunicação tem como objeto as ações comunitárias no bairro Mathias

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O MOVIMENTO COMUNITÁRIO NO BAIRRO MATHIAS VELHO: OS REZADORES, O IRMÃO ANTÔNIO, A PROFESSORA MATILDE, OS

CLUBES DE MÃES E OS CARROCEIROS.

OdilOn Kieling MachadO

[email protected]

VitOr OtáViO Fernandes BiasOli

[email protected]

Resumo: A comunicação enfoca o movimento comunitário no bairro Mathias Velho, em Canoas / RS, entre 1975 e 1984. Este movimento tem como uma das matrizes a Teologia da Libertação e o analisamos a partir das memórias e arquivos pessoais de duas lideranças religiosas: o Irmão Antônio Cechin e a professora Matilde Cechin. Tomamos como ponto de partida as ações de Antônio e Matilde junto aos “rezadores” do bairro e a organização das mulheres em clubes de mães. Na seqüência, a articulação com carroceiros e trabalhadores em geral e a ocupação de terrenos, no Natal de 1979. Essa ocupação resultou na Vila Santo Operário e a consolidação de comunidades eclesiais. Em 1984, os moradores obtiveram na Justiça a posse legal do terreno e a vila existe deste então, legalmente, conquistando significativas melhorias urbanas como água, luz, esgoto e asfalto.

Palavras-chaves: movimento comunitário, CEBs, ocupação de terras.

INTRODUçÃO

A presente comunicação tem como propósito enfocar um movimento social, de caráter comunitário, que se desenvolveu no bairro Mathias Velho, em Canoas (na região metropolitana de Porto Alegre), entre 1975 e 1984. Este movimento resultou na ocupação de terras no bairro Mathias Velho e na criação de uma vila: a Vila Santo Operário. Como entendemos que o embrião desse movimento tem uma das suas principais matrizes no trabalho religioso do Irmão Antônio Cechin e da professora Matilde Cechin, estabelecemos o ano de 1975 como marco inicial da investigação, pois foi nesta data em que eles chegaram ao bairro.

A organização comunitária que enfocamos inicia a partir daí, tendo como eixo o grupo que se reunia para rezar o terço, no “fundão do bairro” (termo usado pelos moradores). No Natal de 1979, ocorreu a ocupação de terras na Mathias Velho, a abertura de ruas e a construção de moradias, e, em 1983, foi obtida a posse legal dos terrenos.

A presente comunicação tem como objeto as ações comunitárias no bairro Mathias

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Velho, entre os anos de 1975 a 1984, privilegiando a atuação das suas lideranças religiosas – Irmão Antônio e professora Matilde – e a criação da Vila Santo Operário.

AS TRAjETóRIAS DO IRMÃO ANTÔNIO E DA PROFESSORA MATILDE

Irmão Antônio e Matilde (irmãos de sangue) nasceram em Santa Maria, em 1927 e 1930, respectivamente. Os pais eram chacreiros dos Irmãos Maristas, nos arredores da cidade, e muito devotos. Antônio ingressou na Congregação Marista, da qual é integrante até hoje, enquanto Matilde fez carreira como professora leiga. Na década de 1950, Irmão Antônio vinculou-se à Ação Católica, liderada por D. Hélder Câmara. Nos anos 60, viveu “a busca da relação intrínseca entre os pólos da mística e da ação social e política” (SUSIN, 2009, p. 13) e, dentro desse propósito, elaborou junto com sua irmã Matilde material para ensino religioso (as fichas catequéticas), apresentando-os no Congresso Internacional de Medellin, em 1968.1 As fichas se inspiravam no método Paulo Freire e tinham propósito “libertador”, segundo seus criadores. O material foi divulgado a partir da Regional Sul 3 da CNBB, no RGS e Sta. Catarina, e, mais tarde, declarado “subversivo” pela Inspetoria Regional de Ensino, ligada ao Ministério de Educação (CECHIN, 2010, p. 66).

Em 1969 e 1971, Irmão Antônio foi preso duas vezes pelos órgãos de segurança da Ditadura Militar. Na primeira vez, por ligação com os dominicanos que apoiavam a ANL; na segunda, devido às fichas catequéticas. A realidade vivida nas prisões (especialmente na segunda vez, quando sofreu tortura) marcou profundamente Irmão Antônio: “Usaram o soro da verdade, me deram choques [...], fiquei meio biruta lá pelas tantas” (CECHIN, 2010, p. 69). O apartamento de Matilde também foi invadido por agentes policiais na ocasião e as agressões tiveram desdobramento nas decisões político-religiosas dos irmãos. Segundo depoimento de Irmão Antônio, isto os preparou para “a luta dos pobres”, a decisão de um trabalho efetivo nas áreas populares e não mais nos espaços de classe média.

Concomitante a essas experiências pessoais, mudanças ocorriam dentro da Igreja Católica: a Ação Católica fora dissolvida pela CNBB, em novembro de 1966, enquanto a esquerda católica aprofundava a atuação do MEB (Movimento de Educação de Base). Acompanhando os grupos de esquerda, no início dos anos 70, Irmão Antônio e padre Orestes Stragliotto fundaram o Centro de Orientação Missionário (COM), na diocese de Caxias do Sul. O COM estabeleceu contato com o Instituto Franciscano de Teologia e a Editora Vozes, ambos em Petrópolis, importantes focos de produção teórica da Teologia da Libertação (SUSIN, 2009, p. 17).

1 Este congresso, reunindo educadores católicos, ocorreu em 1968, em Medellín / Colômbia, junto à Con-ferência Geral do Episcopado Latino-Americano.

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Em 1975, ocorreu o 1º Encontro Intereclesial de CEBs, em Vitória, e lá estava Irmão Antônio. No mesmo ano, ele foi morar na Vila Cerne, no “fundão da Mathias”, região limite entre os bairros Harmonia e Mathias Velho. A região era atendida pelos freis capuchinhos da paróquia São Pio X, no bairro Mathias. Os freis eram vinculados às orientações da Teologia da Libertação e acolheram o confrade marista. Em 1976, foi criada a paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Harmonia, também administrada por capuchinhos, abrangendo a Vila Cerne. Esta ampliação da estrutura da igreja bem indica o crescimento populacional na região.

Irmão Antônio se estabeleceu na Vila Cerne, após contato com os párocos locais. Segundo depoimento de Irmão Antônio, seu estabelecimento em Canoas foi comunicado pessoalmente ao arcebispo D. Vicente Scherer, o qual, apesar das divergências políticas, o apoiava, por saber que sua atuação se dava nos marcos da Igreja.

Na Vila Cerne, Irmão Antônio reuniu-se a um casal de “rezadores” analfabetos, conhecido dos freis capuchinhos, que tinham vindo de Santa Catarina.2 O marido, um mineiro aposentado, organizava grupos para a reza do terço. Como havia dificuldades na leitura do texto bíblico e também na reflexão dos mistérios, Irmão Antônio passou a auxiliá-los. Nesses encontros, o religioso estabelecia contato com os moradores do bairro.

Irmão Antônio seguia a “metodologia bíblica”, conforme estabelecida pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), e enfatizava a atividade comunitária para o “encontro com a palavra de Deus” e também para a resolução de problemas práticos:

Estabelece-se, após a leitura de um trecho da Bíblia, o que [a Bíblia] diz para nós. Cada um lia um pedaço mais fácil [...] salmos ou fatos históricos. Após, cada um falava o que tocava nossos corações e o que mais impressionou [...]. Tudo isso era a preparação para a ocupação de famílias que vinham do interior e não tinham onde construir suas casas. (Entrevista de Irmão Antônio ao Autor, 2011.)

As CEBs, segundo Frei Betto, são o nascedouro da Teologia da Libertação, a qual foi sistematizada por Gustavo Gutiérrez em 1971. Nascida da experiência das CEBs, a Teologia da Libertação é “a reflexão da fé dos pobres, dentro das suas lutas de libertação [...]. Ou um novo olhar sobre as fontes bíblicas da revelação cristã e a tradição da Igreja” (BETTO, 1991, p. 172). Irmão Antônio acompanhara o surgimento da nova teologia e, no início dos 70, como integrante do COM acompanhava a criação de CEBs no Rio Grande do Sul. Em 1977, publicou o livro São Sepé, rogai por nós, construindo a mística capaz mobilizar as massas, articular as CEBs e “concretizar [,] no cotidiano, o dinamite escondido na Bíblia” (CECHIN, 2005, p. 2).

2 O termo “rezadores” é empregado no relato oral de Irmão Antônio

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Refletindo a respeito da Igreja Católica no Brasil, Irmão Antônio escreveu:

A Igreja, nos anos difíceis que se seguiram [ao Golpe Militar de 1964], deu cobertura e proteção a não poucas lideranças populares. [...] ela já estava de posse de todos os ingredientes para a formação e a organização do povo na base. [...] Os anos mais terríveis de repressão foram os anos áureos das Comunidades Eclesiais de Base. [...] A opção pelos pobres [...] colocou nossas Igrejas imediatamente em face aos índios, os mais pobres entre os pobres do continente. (CECHIN, 1990a, p. 3.)

Como se vê, Irmão Antônio se alinhava à “Igreja dos pobres”. Por meio de seus textos e depoimentos orais, sabemos que participou da fundação do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), em 1974, e, no ano seguinte, estava no 1º Encontro de Pastoral Indigenista, também no Rio Grande do Sul. Na seqüência, se envolveu nas lutas pela terra e elaborou a mística capaz impulsionar a luta no campo. Suas reflexões em torno da figura de São Sepé – “o maior de todos os heróis, já que enfrentou ao mesmo tempo os exércitos de Espanha e Portugal” – combinaram-se com as de D. Pedro Casaldáliga e deram origem à Missa da Terra Sem Males (CECHIN, 2005, p. 2). A partir de 1975, Cechin foi morar na Vila Cerne e trabalhar com os rezadores. Sua orientação, além de unir atividades no campo e na cidade, era a de sempre atuar junto “aos mais pobres”: os índios, os moradores das vilas.3 Atuando junto aos moradores do “fundão” do bairro Mathias, população marginalizada, Irmão Antônio estava plantando o embrião da “mobilização população” ou do “empoderamento popular”.4 O grupo de orações tinha grande presença feminina, as necessidades e angústias das mulheres se destacavam, e Irmão Antônio chamou sua irmã Matilde para atuar junto a elas.

Matilde Cechin, então professora na UNISINOS, começou seu trabalho dentro da perspectiva da “teologia das mulheres pobres” e as organizou em Clube de Mães. Como explicou em entrevista, passou a “dar uma metodologia” ao trabalho do irmão. A respeito da atuação das mulheres, Matilde escreveu:

o Evangelho entrou em nosso continente através de duas vertentes: a Missão [por meio das instituições religiosas] e a Devoção [desenvolvida pelo povo]. [...] Na esfera devocional, coube à mulher transmitir de geração em geração [...] as primeiras orações, juntamente com as primeiras práticas e representações religiosas. Daí ter sido ela a propulsora principal do Catolicismo Popular [...]. (CECHIN, 1990b, p. 8.)

3 Atualmente, Ir. Antônio é agente pastoral em diversas periferias da região metropolitana de Porto Alegre, assessor de CEBs no RS, atuando junto a catadores e recicladores. Desempenha também função de coorde-nador do Comitê Sepé Tiarajú e da Pastoral da Ecologia da Regional Sul-3 da CNBB.4 A noção de “empoderamento popular” surge mais tarde nas reflexões de Irmão Antônio. Ele entende que os conceitos “conscientização” e “emponderamento” são fundamentais no método Paulo Freire e centrais na “Prática da Liberdade”, a qual ele devota sua vida. (CECHIN, 2010b, p. 20.)

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Se entendemos que as mulheres têm papel chave na dinâmica das CEBs (como, por sinal, sempre tiveram na história da Igreja), vemos que Matilde é figura central no desencadeamento dessas ações femininas. É ela quem coloca o “fermento”, ao enfatizar que o comportamento das mulheres é comunitário, agrega pessoas e contribui para o “jeito novo de ser Igreja” (as CEBs, a Igreja enraizada nas comunidades).

Em Canoas, Matilde Cechin enfatizou as práticas das mulheres do bairro, as quais se reuniam nas suas casas, formavam Clubes de Mães e, na seqüência, Comunidades Eclesiais de Base. Como é o caso de dona Erondina (viúva recém chegada do interior, com filhos) que reuniu mulheres para fazer acolchoados de trapos, na sua casa, e com isso deu origem à Comunidade N.S. do Perpétuo Socorro, na Vila Santo Operário (CECHIN, 1990b, p. 11). Mulheres que, na perspectiva de nossos agentes religiosos, tiveram o “fogo comunitário despertado por Maria, seguidora fiel dos apelos do Espírito Santo”. Uma mística religiosa que acompanha os textos e depoimentos produzidos por Irmão Antônio e Matilde, e que registramos certos de que eles formam uma das matrizes do movimento comunitário que proporcionou a ocupação de terras na Mathias Velho, a partir do Natal de 1979.

O BAIRRO MATHIAS VELHO

O bairro Mathias Velho pertence ao município de Canoas, o qual faz parte da região metropolitana de Porto Alegre, e tem uma história muito recente. Canoas tornou-se município em 1939 e logo teve suas áreas rurais transformadas em zonas de loteamento. O território do bairro Mathias Velhos era uma fazenda de gado e de plantio de arroz. Isto até a década de 1940. Em 1951, foi realizado loteamento da área, acompanhando a febre imobiliária que atingia Canoas. A propriedade do loteamento ficou com os herdeiros de Saturnino Mathias Velho e a Sociedade Territorial São Carlos Ltda. Como não havia plano diretor para a área, as obras de infra-estrutura ficaram ao encargo da empresa loteadora, mas essas não foram feitas à contento. A antiga fazenda não era apropriada para residência devido à umidade e às constantes cheias do Rio dos Sinos. Frequentemente havia enchentes e só encerraram no final dos anos 60, quando foi construído um dique para conter as águas do rio.

A vida do bairro, na memória de seus habitantes, bem pode ser sintetizada por esse depoimento de uma moradora (antiga agricultora) que chegou ao bairro na década de 70:

Prefeito, advogados, polícia, isso tudo era contra nós em Canoas, nunca tivemos apoio. Fizemos campanha para a água e não conseguimos. Na campanha pra luz também nada. Se nós queríamos alguma coisa dessas

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nós tínhamos que ir para Porto Alegre. De Porto Alegre vinha a ordem de fazer alguma coisa. (PENNA, CORBELLINI & GAYESKI, 2000, p. 34.)

A memória dos moradores é marcada pela luta por melhores condições para o bairro, tanto o problema das cheias, quanto do fornecimento de água, luz, canalização do esgoto, melhoria das ruas, do transporte e da segurança. Uma memória marcada pelo descaso das autoridades, tanto públicas quanto privadas. Uma situação que vai criar terreno fértil para as propostas de trabalho e organização comunitárias.

Em 1961, foi criada na zona inicial do bairro Mathias Velho a Igreja São Pio X, admistrada por freis capuchinhos até hoje. Os capuchinhos, sensíveis às demandas da comunidade, cedo encamparam diversas ações em favor dos moradores. Freis e seminaristas ligados à Teologia da Libertação foram morar no bairro e muitos se engajaram nos movimentos comunitários e chegaram a assumir posição de liderança – como foi o caso de frei Ivo Fiorotti, que chegou em 1981 e tornou-se “animador” das comunidades Divino Mestre e N.S. dos Romeiros.5 Em 1976, foi fundada a paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Harmonia, acompanhando o crescimento populacional, provocado por grande migração do campo para a cidade.

Na década de 70, o movimento migratório era impulsionado pela criação do Pólo Petroquímico, em Triunfo, dentro dos marcos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), lançado pelo presidente Geisel, em 1975. Os trabalhos iniciaram em 1976, com a criação da COPESUL (Companhia Petroquímica do Sul), empresa de economia mista. Triunfo se localiza na vizinhança de Canoas e a construção do complexo industrial atraiu uma mão-de-obra variada para a região. Irmão Antônio, que chegou a Canoas no ano anterior, recorda aqueles tempos:

Era o tempo do Pólo Petroquímico. Vieram 10 mil trabalhadores do interior e se estabeleceram em torno de Canoas. A periferia estava superlotada. A cada dia, em cima de caminhões, eles iam até o Pólo. Esse era um campo maravilhoso para ser trabalhado. Era gente que chegava do interior imbuída dos valores interioranos. O homem vinha para trabalhar no Pólo e a mulher ficava em casa com os filhos. (CECHIN, 2010, p. 72.)

O aumento populacional dos bairros em Canoas vinha num crescente, desde a década de 1940, e se intensificou nos anos 70 e 80. O município e os arredores se constituíam em área industrial e as obras do Pólo colaboraram para isto. Em 1983, o Pólo Petroquímico foi inaugurado e hoje ocupa uma área de 3.600 hectares e emprega 6.300 funcionários. Canoas, por sua vez, não comporta mais nenhuma zona com características

5 Ivo Fiorotti mais tarde deixou a vida religiosa e hoje é vereador em Canoas, pelo Partido dos Trabalha-dores.

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rurais, segundo critérios do IBGE. Em 2005, a população era estimada em 329.000 habitantes e mesmo o “fundão” dos bairros Mathias e Harmonia (com populações estimadas em 52 mil e 37 mil, respectivamente) se encontrava urbanizado. Nos anos 70, o cenário era outro – e cabia dizer que era um território limítrofe entre o rural e o urbano. As condições de infra-estrutura eram praticamente inexistentes, mas, nem por isso, a região deixava de atrair moradores.

As migrações nas décadas de 1940 a 70, devido à mecanização das atividades agrícolas e à expansão industrial, se dirigiam principalmente para a região metropolitana de Porto Alegre. A partir dos 80, acompanhando o crescimento industrial de outras cidades (com destaque para Novo Hamburgo, Caxias e Osório) surgem outros pólos atrativos. (KOUCHER, 2011, p. 20 e 32.) Referindo-se aos anos 70 e 80, Carlos Giacomazzi, ex-prefeito de Canoas, deu o seguinte depoimento:

Foi aquela fase de migração violenta do homem do campo para os grandes centros. [...] Então a migração para cá foi algo fantástico porque contavam aquelas histórias que Canoas era um medalha de ouro que tinha um só verso, não tinha dois! Eles mostravam só o bom. O pessoal aqui chegava não encontrava emprego, não tinha moradia. (PENNA, CORBELLINI, GAYESKI, 2000, p. 80)

Significativamente, em 1980, a Campanha da Fraternidade, promovida pela CNBB, teve como tema as “migrações no Brasil” – colocando a seguinte pergunta como slogan: “Para onde vais?” Em publicação produzida por intelectuais católicos e endereçada aos agentes pastorais, líderes e membros de comunidade e do clero, as migrações são encaradas como:

fenômeno global que abrange dois pólos: o pólo da saída e o pólo da chegada. A problemática rural e a [...] urbana [...] O processo da espoliação no campo [...] [a] implantação do sistema capitalista no campo [...] não é uma realidade estranha ao arrocho salarial, às más condições de vida, à falta de infra-estrutura e aos conflitos sociais [vividos pelos migrantes nas cidades]. (CENTRO DE ESTUDOS MIGRATÓRIOS, 1980, p. 104.)

Note-se na análise do texto para subsidiar a ação dos agentes religiosos que há a preocupação de articular campo e cidade. É uma análise, arriscamos afirmar, afinada com a orientação política seguida pelas pastorais comunitárias e, em especial, pelas CEBs. Os migrantes que chegavam ao bairro Mathias Velho eram em grande número antigos agricultores (como podemos ver ao verificar as fichas organizadas pelas comunidades religiosas, no Arquivo Pessoal de Matilde Cechin) e viviam esta realidade. Irmão Antônio estava atento a isto e, como apontamos anteriormente, vinha atuando também na área rural.

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A ocupação de terrenos na Mathias Velho

Segundo testemunhos do Irmão Antônio e de Matilde, a primeira ocupação de terras no bairro Mathias Velho teve origem no trabalho desencadeado com os rezadores, com as mulheres (nos clubes de mães), chegando às comunidades eclesiais. Seguindo a metodologia das CEBs, as mulheres da Vila Cerne começaram a se reunir, orientadas por Matilde, e a se auxiliarem para resolver problemas do cotidiano. Este foi o embrião do movimento comunitário, conforme os depoimentos de Antônio e Matilde. Irmão Antônio e Matilde recordam que o problema da moradia se colocava a todo instante. A população migrante continuava chegando e, diante da Vila Cerne, havia terrenos “vazios” que eram ocupados irregularmente. No segundo semestre de 1979, porém, estimulados pela ocupação da Fazenda Macali, pelos trabalhadores rurais sem terra, Irmão Antônio relata que teve início um planejamento de ocupação sistemática. “[N]aquele final de ano, nós não podemos ficar pra trás. [...] Então organizamos [...] grupos de vizinhos, a ocupação planejada dois meses antes do Natal, bem planejada.” (CECHIN, entrevista, 2011.) Desta maneira, aproveitando os feriados do Natal daquele ano, deu-se a tomada dos terrenos pelo “povo humilde”. O trabalho iniciado por Antônio e Matilde transbordara da organização das mulheres e se dirigira para a ocupação organizada de terrenos para moradia. Como dissemos acima, algumas famílias já moravam na área e o que foi feito foi a ocupação sistemática do espaço.

Identificar, porém, a criação dessa organização mais complexa que possibilitou a invasão e ocupação dos terrenos tem sido o desafio da pesquisa que realizamos. Supomos que outras organizações atuavam e colaboravam. Segundo o testemunho de Irmão Antônio e Matilde, o movimento comunitário originado das CEBs foi ganhando dinamismo, autonomia e sabendo colocar – e realizar – tarefas cada fez mais complexas.

No Natal de 1979, simbolicamente, os carroceiros, trabalhadores humildes numa área industrial como Canoas – com a Refinaria Alberto Pasqualini já consolidada, com as obras do Pólo Petroquímico em curso –, tomaram a dianteira da ocupação. Como vemos na foto nº 1, acima das carroças estava uma faixa com os contundentes dizeres: “Jesus ocupou uma gruta. Nós ocupamos esta terra.” A luta da comunidade – a invasão de uma propriedade privada – estava respaldada na história bíblica: o nascimento de Jesus Cristo. A Sagrada Família em peregrinação por Belém e a ocupação de uma gruta para passar a noite eram ressignificados à luz do drama dos migrantes do século XX. Os migrantes que chegavam ao Mathias Velho também buscavam um chão para morar.

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Foto nº 1: ocupação do Prado, em Natal de 1979.Fonte: Acervo pessoal de Matilde Cechin

Entendemos que o trabalho político-religioso de Irmão Antônio e Matilde tem sua grande força nessa capacidade de articular verdades bíblicas com as demandas das camadas populares. Para isto, é muito importante a observação de Irmão Antônio quanto àquelas famílias: elas vinham do interior, onde era viva a tradição religiosa católica.

Em setembro de 1979, como escreveu Irmão Antônio, “as CEBs de Ronda Alta” realizaram a primeira ocupação de terra: a da Fazenda Macáli. Seguiu-se a da Fazenda Brilhante e Encruzilhada Natalino.

No meio urbano, não ficamos atrás de nossos valentes irmãos da roça. Em Canoas, no Natal de 1979, fizemos a primeira grande ocupação: a Vila Santo Operário. Ronda Alta foi o berço do MST e de outros movimentos camponeses. Canoas foi o berço dos movimentos populares urbanos. Lá e cá os movimentos desencadeados pelas CEBs, quando adultos, tornaram-se autônomos. (CECHIN, 2005, p. 2)

No bairro Mathias Velho, “o povo foi muito e a organização boa”, como apontou um site luterano, fazendo o histórico da Vila Santo Operário:

Da noite pro dia germinavam, como brotando do chão, dezenas de barracos ao lado dos que já estavam plantados firmemente. Havia comissões para coordenar as atividades: os terrenos eram demarcados, as ruas eram traçadas; em seus aspecto externo essa vila em nada perde para qualquer loteamento feito por engenheiro. Água e luz foram imperativos para a Prefeitura, evidentemente precisavam ser conquistados, como tudo na periferia. (O EVANGELHO NO CLUBE DE MÃES, s/data.)

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Os terrenos foram ocupados de forma planejada – e isto é sempre lembrado por todos que participaram do movimento ou conheceram a ocupação posteriormente. Rapidamente as ruas foram traçadas, os terrenos demarcados e feita a construção de casas de madeira. Valas para esgoto foram abertas, e água e luz puxadas das áreas limítrofes. Segundo o relato de moradores antigos e de militantes políticos, era uma ocupação organizada, “profissional”. Parecia feita por engenheiros, como está no texto citado acima.

Na foto nº 2, vemos Irmão Antônio com violeiros e cantores populares, organizando os cantos capazes de motivar a ação. Sua principal tarefa nos parece ter sido a de criação da mística religiosa capaz de motivar os homens, concretizar “o dinamite escondido na Bíblia”, como ele escreveu. Reconhecendo a sua liderança, o vereador Ivo Fiorotti, em recente cerimônia de regularização da Vila Santo Operário, agradeceu a “sua atuação nos inícios da ocupação, encorajando os moradores a resistir na luta pela moradia”.6 Um reconhecimento que encontramos em diversos depoimentos (ANTÔNIO CECHIN: 80 ANOS, 2007).

Na foto nº 3, vemos Matilde Cechin na primeira fila de uma reunião das CEBs, em Canoas, atenta ao movimento dos integrantes das comunidades eclesiais. Na sua expressão, enxergamos a professora que estabeleceu a metodologia capaz de congregar as pessoas e criar os passos de ações efetivas, de caráter religioso e político. Na foto, vemos uma platéia de moradores da periferia da região metropolitana – do bairro Mathias Velho, segundo Matilde. São mulheres e crianças na sua maioria – mães, esposas e filhos de trabalhadores, muitos deles sem qualificação profissional.

As fotos de números 2 e 3, ambas da década de 1980, nos mostra os agentes religiosos que servem de eixo para narrarmos o movimento comunitário no bairro Mathias Velho e a criação da Vila Santo Operário. Sabemos que outras lideranças estavam presentes. Mas entendemos que é a mística religiosa desses atores que articulam e dão origem ao movimento popular que se difunde nessa região de Canoas.

6 Discurso pronunciado pelo vereador em cerimônia realizada no dia 5 de julho de 2012, em Canoas, dando início à regularização dos terrenos da Vila Santo Operário e da Sete de Outubro. (Blog do Vereador Fiorotti)

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Foto nº 2: Irmão Antônio e violeiros (década de 1980). Fonte: Acervo pessoal de Matilde Cechin

Foto nº 3: Professora Matilde (canto direito), reunião de CEBs (década de 1980).Fonte: Acervo pessoal de Matilde Cechin

No processo de consolidação da ocupação, foi fundada a Associação dos Moradores da Santo Operário. Em janeiro de 1983 é criado o boletim da Associação e nele lemos que os moradores foram recebidos pelo Prefeito de Canoas.7 Na audiência, tratou-se do fornecimento de água e luz, mais conserto das ruas e, principalmente, das áreas que alagavam com as chuvas. A associação estava reivindicando condições básicas de infraestrutura e forçando a autoridade municipal a resolver uma situação complexa do ponto de vista legal: atender a um bairro que foi fruto de uma “invasão”.

A situação se normalizou em 1983, segundo depoimento do advogado Jacques Alfonsin, quando os moradores obtiveram o direito de posse na Justiça. Segundo Ivo Fiorotti, Alfonsin defendia a tese do “estado de necessidade social” e, enquanto isso os moradores estavam reunidos “em oração”, na capela da comunidade Divino Mestre, na Mathias Velho. (FIOROTTI, 2011)

A partir desse ano, começa a consolidação da ocupação. A regularização dos terrenos, no entanto, apenas iniciou no início do mês de julho deste ano de 2012. Um

7 BOLETIM da Associação dos Moradores da Vila Santo Operário. [Canoas] janeiro de 1983. (Acervo Matilde Cechin.)

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processo muito lento, mas com conquistas efetivas para a comunidade pobre que se motivou e agiu, a partir do trabalho religioso de Irmão Antônio e Matilde.

CONSIDERAçõES FINAIS

Entendemos que o movimento comunitário no bairro Mathias Velhos, em especial aquele que resultou na ocupação do antigo Prado, teve sua origem no trabalho de agentes religiosos, com destaque para Irmão Antônio Cechin e a professora Matilde Cechin. Estes agentes religiosos visavam a criação de Comunidades Eclesiais de Base e, para isso, engajaram-se nas “lutas do povo”. Suas atuações eram orientadas pela Teologia da Libertação e, como sintetizou Irmão Antônio, pretendiam concretizar “a dinamite que se encontra na Bíblia”.

Irmão Antônio e Matilde vivenciaram as transformações que a Igreja Católica passou pelas décadas de 1950, 60 e 70. Primeiro, o envolvimento na Ação Católica, depois a reorientação da mesma a partir da liderança de D. Hélder Câmara. Suas atividades eram no campo educacional e formativo, e dessa maneira se colocaram em cena, quando deixaram de atuar em escolas de classe média e foram para a região da Mathias Velho, em Canoas. A escolha pela periferia da região metropolitana de Porto Alegre era uma escolha para agir junto aos setores mais oprimidos da sociedade.

Canoas vivia um processo de crescimento populacional e o bairro Mathias Velho era emblemático dessa situação: alvo de migrantes vindos do campo, esperançosos das oportunidades oferecidas pelos grandes centros urbanos. Mas a realidade era bem outra. As carências que as famílias dos migrantes passavam a viver eram enormes e foi com essa população que Antônio e Matilde escolheram trabalhar. Eles iniciaram suas atividades com rezadores analfabetos e logo partiram para organizar as mulheres em clubes de mães.

A partir dos clubes de mães, Irmão Antônio e Matilde propuseram trabalhos comunitários e, a partir daí, motivaram e mobilizaram a população para outras atividades e lutas. Entendemos que Irmão Antônio atuava a partir do seu carisma e liderança, assim como pela preocupação com a criação de uma mística religiosa capaz de empolgar as pessoas para a luta. Matilde, por sua vez, ingressava com a metodologia necessária para efetivar e organizar o entusiasmo que Irmão Antônio desencadeava.

Entendemos que a ocupação de terras no Natal de 1979 é desencadeada pelas comunidades eclesiais que os religiosos criaram, porém outros grupos (e talvez organizações políticas) se fizeram presentes. A invasão, ocupação e organização da vila denominada Vila Santo Operário foi um trabalho de extrema organização, com criação de comissões encarregadas dos mais diversos aspectos de construção de um bairro, e isto demandava trabalho “profissional”. O slogan da ocupação, mais os argumentos usados

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para empolgar e legitimar a luta social, estes vinham do campo religioso. Significativo disto é a faixa utilizada sobre as carroças, durante a ocupação: “Jesus ocupou uma gruta. Nós ocupamos esta terra.”

A ocupação resultou numa Vila que adquiriu “direito de posse” na Justiça, quatro anos depois. Um movimento exitoso. A ocupação resultou em maior organização da população – em Associação de Moradores – necessário para garantir a criação de infraestrutura para a vila: água, luz, calçamento, etc. A regularização, no entanto, está ocorrendo apenas agora, em 2012.

Do ponto de vista dos agentes religiosos, Antônio e Matilde, que são o eixo de nosso enfoque, o resultado foi proveitoso. Plantaram a semente da organização e do trabalho comunitário e, no final da década de 1980, se retiraram do bairro Mathias Velho. As comunidades eclesiais, por sua vez, continuam até hoje. Menos aguerridas que no passado (agora que estão asseguradas as conquistas, conforme os religiosos), mas ainda presentes e capazes de proporcionarem festas religiosas como a da procissão de N.S. Aparecida, no dia 12 de outubro de cada ano. Uma procissão que atravessa a Mathias Velho e tem presença de diversas comunidades eclesiais, rezando, agradecendo e mantendo viva a chama do trabalho comunitário que assegurou benefícios para muitos.

REFERêNCIAS BIBLIOgRÁFICAS:

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- ________. Um pouco de história das CEBs no Rio Grande do Sul. In: Clareando, Informativo do 11º Encontro Estadual de CEBs/RS, nº 2, abr. 2005, p. 3.

- ________. A Igreja dos Pobres. In: PADRÓS, E.; BARBOSA, V.; LOPEZ. V.; FERNANDES, A. (orgs.) A Ditadura de Segurança Nacional no Rio Grande do Sul (1964-1985): história e memória. POA: CORAG, 2010a. Vol. 2, p. 65-79.

- _________. Empoderamento popular: uma pedagogia de libertação. POA: ESTEF, 2010b.

- CECHIN, Matilde. A mulher na Igreja. In: Clareando, [POA] Regional Sul 3 / CNBB, nº 242, nov. 1990b, p. 7-13.

- CENTRO DE ESTUDOS MIGRATÓRIOS. Migrantes: êxodo forçado. SP: Paulinas, 1980.

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- GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e luta pela moradia. SP: Loyola, 1991.

- KOUCHER, Ademir. Concentração e desconcentração populacional: uma análise das migrações internas no espaço do Estado do Rio Grande do Sul entre 1970 e 2000. In: HERÉDIA, V.B.; MOCELLIN, M.C.; GONÇALVES, M.C. (orgs.). Mobilidade humana e dinâmicas migratórias. Porto Alegre: Letra & Vida, 2011. p. 17-42.

- PENNA, R.; CORBELLINI, D.; GAYESKI, M. Mathias Velho. Canoas – para lembrar quem somos – nº 6. Canoas: La Salle, 2000.

- PEREIRA, Pilatos. O irmão dos pobres; Antônio Cechin, uma biografia. POA: ESTEF, 2009.

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REFERêNCIAS ELETRÔNICAS:

- ANTÔNIO CECHIN: 80 ANOS. (Revista do Instituto Humanitas Unisinos, 11 jun 2007)

www.uhuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1026. Acesso 20 / 07 / 2012.

- FIOROTTI, Ivo. Bairro Mathias Velho: conhecer o ontem para entender o hoje e construir o amanhã. (2010) www.discursosivo.blogspot.com.br/artigos-publicados-no-jornal-da-mathias. Acesso: 20 / 07 / 2012.

- _________. União dos Operários: novas conquistas. (2011)

www.discursosivo.blogspot.com.br/artigos-publicados-no-jornal-da-mathias. Acesso: 20 / 07 / 2012.

- FREIRE, João Ruy; VILLAS-BÔAS, Marco Antônio. Pólo Petroquímico de Triunfo. www.revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/article/viewFile/1656/2025. Acesso: 18 / 07 2012

- Prefeitura de Canoas. www.canoas.rs.gov.br/site/home. Acesso: 18 / 07 / 2012.

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DOCUMENTOS:

- Arquivo Pessoal de Matilde Cechin: fotos, anotações, fichas, textos de reflexão.

- Irmão Antônio Cechin e Matilde Cechin: entrevista [29 abr. 2011]. Entrevistador: Odilon Kieling Machado. Porto Alegre, 2011. Arquivo de gravador de voz digital.

- Jacques Alfonsin: entrevista [22 jul. 2011]. Entrevistador: Odilon Kieling Machado. Porto Alegre, 2011. Arquivo de gravador de voz digital.