O Monoteísmo Na Religião Tradicional
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O Monoteísmo na Religião Tradicional Yorùbá
Abril 19, 2015 por Da Ilha
O Monoteísmo na Religião Tradicional Yorùbá
Por: Kofi Johnson, Ph. D. (Fayetteville State University), Raphael Tunde Oyinade, Ph.
D. (Claflin University), Traduzido por Mário Filho*, M.A., (PUC/SP),
Original em:
http://organizations.uncfsu.edu/ncrsa/journal/v03/johnsonoyinade_yoruba.htm
(Thinking About Religion, Magazine, Volume 3, 2004)
Introdução
Os Yorùbá, uma população aproximada em 40 milhões, ocupam o sudoeste da Nigéria.
É um dos maiores grupos étnicos daquele país, dotado de uma rica cultura e, de várias
maneiras, uma das populações mais interessantes da África. Sua tradição lhes dá um
lugar único entre as sociedades africanas. Têm contribuído pelo estabelecimento das
culturas do Caribe e da América do Sul, particularmente Cuba e Brasil, locais onde a
religião Yorùbá é praticada. Na Nigéria os Yorùbá são um dos três maiores grupos
étnicos. Segundo Ìdòwú (1962) “os Yorùbá compreendem vários clãs que se aproximam
pela língua, tradições, crenças religiosas e práticas” (p.4). O propósito deste trabalho é
descrever o conceito monoteísta de Deus entre os Yorùbá e suas divindades (òrìşà) de
apoio. É nossa convicção que qualquer tentativa de construir uma teoria que descreva o
conceito de Deus entre os Yorùbá não nos dará um quadro verdadeiro; portanto, este
trabalho discutirá os pontos de vista de alguns estudiosos, seguindo por descrições dos
atributos do Ser Supremo, concluindo com uma discussão de Olódùmarè como um Deus
monoteísta, comparável com o conceito judaico-cristão. Uma certeza sobre os Yorùbá é
o fato de que é muito difícil encontrarmos um Yorùbá que não crê no Ser Supremo. Se
existe tal pessoa, ele ou ela deve ter sido exposto/a influências não africanas. Os Yorùbá
creem no Ser Supremo, que é responsável pela criação e manutenção do Universo
(Awólàlú 1979). Boudin, Sacerdote católico de descendência francesa, escreveu sobre o
Deus Yorùbá nestas palavras: Os negros não possuem estátuas ou símbolos que
representem Deus. Consideram-no como Ser Supremo Primordial, criador e pai das
divindades e seres espirituais. Ao mesmo tempo, creem que este Deus, após iniciar a
organização do mundo, encarregou Obàtálá de concluí-lo e governá-lo, então Ele se
retirou para descansar e desfrutar de Sua felicidade (Awólàlú 1979, P. 4). Boudin está
absolutamente correto ao dizer “os negros não possuem estátuas do Ser Supremo”
(Awólàlú 1979). A razão é que Deus “é demasiadamente grande e impressionante para
ser retratado ou ter uma forma concreta” (P. 4). Ele está em todo lugar e Ele é o Ser
Supremo. O que é preocupante na análise de Boudin é que isso parece implicar que o
Ocidente tem uma clara compreensão do conceito de Deus na cultura Yorùbá. Este não
é o caso como anota Ìdòwú (1962): “… os autores desse conceito erraram; eles erraram
dessa maneira porque ignoraram aquilo que constitui o verdadeiro núcleo da religião
que se esforçam em estudar” (p.44). Ìdòwú (1975) aponta que o Ocidente não tem uma
clara apreensão do conceito de Deus. O conceito de Deus não é um monopólio da
sociedade ocidental tradicional. Examinando-se minuciosamente a declaração de
Boudin, observa-se que ele não aprecia a ideia fundamental de Deus como é concebida
pelos Yorùbá, especialmente no que diz respeito à criação. O mais preocupante é sua
insinuação racial e sua atitude condescendente com os Yorùbá. Outro erudito francês,
Bouche (Awólàlú 1979), diz: O homem Yorùbá pensa que Deus é demasiado grande
para tratar diretamente com Ele, e Ele delegou os cuidados dos negros aos òrìşà. Senhor
do Céu, Deus desfruta da abundância e do descanso, guardando Seu favor para o
homem branco. Que o homem branco reze a Deus é natural. Quanto aos negros, eles
devem sacrifícios; suas oferendas e orações são somente para os Òrìşà. (P. 4) As
observações de Bouche demonstram sua carência de compreensão das crenças e
simbolismo da cultura Yorùbá e suas relações com as práticas religiosas. O
etnocentrismo de Bouche resulta em uma interpretação baseada na “opinião pessoal
[que] é inspirada pelo orgulho racial e pela cegueira” (Awólàlú 1979 p.5). Se Bouche
houvesse sido mais sensível culturalmente em seus estudos das crenças Yorùbá, saberia
que os Yorùbá creem que todos os seres humanos são criados iguais por Deus e são, de
fato, todos da raça humana. Ademais, observamos que Bouche não entendeu a relação
entre o Ser Supremo e as divindades (òrìşà) (Awólàlú 1979). No século XIX, um oficial
britânico, chamado A. B. Ellis, afirmou: Ọlọrun é o deus do céu dos Yorùbá, quer dizer,
Ele é o firmamento deificado, o céu personificado… Ele é meramente um deus
naturado, a personificação divina do céu, ele controla somente os fenômenos
conectados, na mente nativa, como o “telhado” do mundo. Posto que Ele é demasiado
preguiçoso ou completamente indiferente para exercer o controle sobre os assuntos
terrenos; o homem, por sua vez, não perde tempo em esforçar-se para propiciar-lhe algo,
mas reserva sua adoração e sacrifícios para agentes mais ativos. De fato, cada deus,
Ọlọrun inclusive, tem, por assim dizer, seus próprios deveres […] ele não pode violar os
direitos de outros (P. 5) Novamente, percebe-se o etnocentrismo dos eruditos ocidentais.
Na observação anterior, a primeira, Ellis mostra sua falta de entendimento sobre Ọlọrun,
associando-o a um “deus naturado”. Em seguida, Ellis mescla Ọlọrun com Eléèdá. O
que Ellis diz está longe da verdade (Awólàlú, 1979; Ìdòwú, 1975) quando afirma que
Eléèdá e Ọlọrun significam duas coisas diferentes. Ọlọrun, na terminologia Yorùbá, se
refere ao Ser Supremo e Eléèdá se refere a Aquele que controla a chuva, enquanto
Olódùmarè é o Recompletador dos riachos. Atualmente, esses termos (Ọlọrun,
Olódùmarè, e Eléèdá) são intercambiáveis para o mesmo Deus, Ọlọrun. Eléèdá, na
língua Yorùbá, significa aquele que cria e Olódùmarè significa o Todo Poderoso, o Ser
Supremo. O erro de Ellis é que ele coloca Ọlọrun num mesmo patamar com as
divindades, quando diz: “Ọlọrun não pode violar os direitos dos outros” (Awólàlú,
1979, p.5). Ellis indica que Ọlọrun não é, de maneira alguma, superior às divindades.
Isto é falso (Ibid). Os Yorùbá creem que os òrìşà não podem existir independentes do
Ser Supremo. Os Yorùbá veem as divindades como “seres espirituais e intermediários
entre o homem e o Ser Supremo”. Pode-se compará-los aos anjos de Deus, que são os
intermediários do Ser Supremo, de acordo com os conceitos cristãos. Ellis demonstra,
claramente, sua ignorância quando ele aponta que a adoração é feita inteiramente aos
agentes que seriam mais ativos que Ọlọrun. Seus comentários refletem outras
inadequações quando diz que o Ser Supremo é muito preguiçoso, distante e indiferente.
Em resposta aos erros de Ellis, Fádípè (Awólàlú, 1979) diz: Nenhuma outra observação
poderia apontar o quão Ellis é ignorante sobre a rotina diária dos Yorùbá. Apesar de
Ọlọrun ser uma concepção distante para o povo, o Yorùbá mediano usa o nome
frequentemente em provérbios, orações e desejos, promessas, no planejamento do
futuro, em tentativa de se livrar de acusações, para lembrar seu oponente do dever de
falar a verdade em nome d’ele etc. De fato, para todos os fins, é muito natural invocar o
nome de Ọlọrun que o de qualquer outro òrìşà. (p.6). Fádípè aclara os erros de Ellis e
exibe o impacto de Ọlọrun sobre os Yorùbá. S.S. Farrow apoia Fádípè e vai mais longe,
afirmando que “encontramos entre os Yorùbá (…) uma crença em um Ser chamado
Ọlọrun, cuja posição é única em vários aspectos… Esta ideia não advém dos
muçulmanos ou cristãos” (P. 34). O problema com Farrow, honestamente, encontrasse
no seu entendimento do conceito de Ọlọrun, especificamente na frase “um Ser chamado
Ọlọrun” (Lucas 1948). Ele parece sugerir que o Deus concebido pelos Yorùbá é
diferente do Deus Supremo, que é o Criador de toda a terra (Lucas 1948; Awólàlú
1979). A melhor investigação acadêmica sobre o conceito do Ser Supremo entre os
Yorùbá vem de E. B. Ìdòwú. Em seu livro, intitulado Olódùmarè – God in Yorùbá
Belief, no qual Ìdòwú afirma que “Olódùmarè é o nome tradicional do Ser Supremo e
que Ọlọrun, embora comumente usados na linguagem popular, acabou se tornando
proeminente em consequência do impacto do cristianismo e do islamismo sobre os
Yorùbá. ” (Awólàlú, 1979).
Nomeando Deus: Terminologia Yorùbá e suas definições.
Nossa revisão das opiniões dos estudiosos acerca do conceito de Deus foi uma tentativa
de identificar importantes erros em suas assertivas acadêmicas. Infelizmente a maior
parte dos estudiosos citados demonstra, em suas análises, uma carência de senso
cultural para aqueles que lhes são diferentes. Para alcançar um acurado olhar do
conceito Yorùbá do Ser Supremo, é importante examinarmos os nomes e significados
que são associados a Ele. Deve ser enfatizado que os Yorùbá, alternativamente, usam os
termos listado abaixo para descrever o Deus Supremo, que são conhecidos como
“oríkì”, traduzido livremente como “apelidos”. Segundo Ìdòwú, o Ser Supremo é
reconhecido por todas as divindades como o Líder a quem pertence toda autoridade e a
quem é devido lealdade. Ele não é ninguém entre muitos. Seu estado de supremacia é
absoluto… Na adoração, os Yorùbá O têm como última instância, considerando-o o
primeiro e o último de cada dia. Ele é o proeminente. (Ibid, p.53). Esses nomes e suas
definições estão abaixo (ver Bascom): Olódùmarè: O conceito denota aquele que tem a
plenitude ou grandeza superlativa, a majestade eterna sobre tudo aquilo do qual o
homem possa depender; Ọlọrun: literalmente o dono do Céu. O dono do céu ou senhor
do lugar que está acima. Às vezes os Yorùbá usam Ọlọrun Olódùmarè juntos. Esta
dupla palavra significa o supremo cujo domicílio está no céu. Eléèdá: O criador. Como
o nome sugere o Supremo. É responsável por toda a criação. Àláàyé: A palavra significa
o vivo. Isso significa que o Yorùbá crê que Deus é eterno. Elémìí: Encarregado da vida,
Senhor do sopro vital. Usado para se referir ao Ser Supremo, sugere que todos os seres
vivos devem sua respiração ao Supremo. Os Yorùbá creem que ao ser retirada a
“respiração vital” pelo doador da respiração a alma também é retirada. Olojo Oni:
Significa o dono ou o regulador deste dia ou dos sucessivos dias. Para chamar o Ser
Supremo de Olojo Oni depreende-se que todos os homens e mulheres dependem
totalmente do Ser Supremo.
Atributos do Ser Supremo
Para reforçar melhor a compreensão da crença Yorùbá, é necessário explorar as
características de Olódùmarè que O diferenciam de todas as outras coisas que Ele criou.
Ele é o Criador. Entre os Yorùbá, o mito da Criação sustenta que no princípio o mundo
era um pântano, um deserto aquoso. Olódùmarè e algumas divindades viviam no céu,
descendendo e ascendendo através de teias de aranha ou de correntes. Eles
freqüentemente visitavam a terra, especialmente para caçar. A humanidade ainda não
existia, pois não havia terra (Parrinder 1986). Um dia, Olódùmarè convocou Seu
Comandante-em-chefe, Òrìşà-ńlá (Obàtálá), a Sua presença e lhe disse que Ele
(Olódùmarè) queria criar a terra firme e que Òrìşà-ńlá seria responsável por isso. Como
materiais Olódùmarè lhe deu terra fofa, uma casca de caracol, um pombo e uma galinha.
Òrìşà-ńlá desceu à terra pantanosa. Ele lançou a terra da casca do caracol, colocando o
pombo e a galinha sobre a terra e eles começaram a ciscar e a dispersar a terra ao seu
redor. Òrìşà-ńlá reportou-se a Olódùmarè dizendo-lhe que o trabalho havia terminado.
Olódùmarè, então, enviou um camaleão para examinar o trabalho. O camaleão voltou e
disse à Olódùmarè que o trabalho estava feito, mas a terra não estava seca o bastante. O
camaleão foi enviado uma segunda vez. Desta feita relatou que a terra era grande e seca.
Olódùmarè orientou novamente a Òrìşà-ńlá, o Chefe das divindades, a equipar a terra.
Òrìşà-ńlá tomou para si Ọrùnmìlá, a divindade do oráculo, como seu conselheiro e
orientador. A missão era plantar árvores e dar alimentos e riquezas aos seres humanos.
Ele providenciou a palmeira (Igi Ope) que ao ser plantada proporcionaria alimento,
bebida, azeite e folhas para abrigo. Após equipar a terra, Òrìşà-ńlá pediu para liderar
uma delegação de dezesseis pessoas já criadas por Olódùmarè. Para povoar a terra,
Olódùmarè pediu a Òrìşà-ńlá que moldasse formas humanas. Òrìşà-ńlá moldou formas
humanas e as guardou sem vida, ainda. Ocasionalmente, Olódùmarè viria e sopraria a
vida nestas formas. Tudo o que Òrìşà-ńlá poderia fazer era modelar as formas humanas,
mas lhe faltava o poder de lhes dar vida. A criação da vida era confiada, unicamente, ao
Deus Supremo, Olódùmarè. Diz-se que Òrìşà-ńlá chegou a ficar com inveja de
Olódùmarè por não compartilhar a capacidade para criar vida com Ele. Então, um dia,
quando ele havia terminado de moldar formas humanas, ele se escondeu, próximo às
formas moldadas, durante a noite, de modo que pudesse ver Olódùmarè. Mas,
Olódùmarè, sendo Onisciente, colocou Òrìşà-ńlá para dormir, e quando este acordou, as
formas humanas moldadas haviam vindo à vida (Parrinder 1967). Esta é a história da
criação contada pelos Yorùbá. Ele é único. Os Yorùbá creem que Olódùmarè é único.
Isso significa que Ele é único; não há nada como Ele. Esta crença em sua unicidade
previne as pessoas de criar imagens gravadas ou pinturas ilustrativas d’Ele. Há símbolos
ou emblemas, mas nenhuma imagem que possa ser comparada a Ele. Talvez, essa seja a
razão pela qual os observadores estrangeiros da religião Yorùbá, afirmem,
equivocadamente, que Olódùmarè é um Deus distante e sobre quem os homens são
incertos. Ele é Onipotente. Como Onipotente o Yorùbá crê que para Olódùmarè nada é
impossível. Descrevem-no como “Oba a sè kan ma kù” (o Rei cujos trabalhos são feitos
com perfeição). As coisas que ele aprova são bem sucedidas, mas as que não recebem
sua bênção tornam-se difíceis ou impossíveis. Os Yorùbá cantam: “A dùn íșẹ bi ohun tí
Olódùmarè l’ọwó sí. A sòrò íșẹ bi ohun tí Ọlódùmarè kò l’ọwó sí” (Fácil de fazer como
aquilo que recebe a aprovação do criador; difícil como aquilo que o criador não aprova).
Por esse motivo chamam-no também de Ọlọrun Alágbára (Deus poderoso), Oba ti
dandan re ki Ìşèlè (Rei cujas ordens nunca deixam de ser cumpridas). Ele é Imortal.
Olódùmarè nunca morre. Os Yorùbá creem que é inimaginável para o Elémìí (O Dono
da Vida) morrer. Eles o louvam cantando “A kí ìgbò ikú Olódùmarè” (Nunca se ouvirá
sobre a morte de Olódùmarè). Ele é Onisciente. Olódùmarè sabe tudo. Nada Lhe é
ocultado. Ele é o Sábio. Tudo está ao alcance de Olódùmarè. O Seu conhecimento
penetra todas as coisas (Mbiti, 1975). Os Yorùbá descrevem-no “A rínú rode Olumọ
Okàn” (Aquele que vê o exterior e o interior do coração). Ele é rei e juiz. Os Yorùbá
veem Olódùmarè na importante posição de Rei. Eles o chamam de “Oba Ọrun” (Rei do
Céu). Referem-se, às vezes, a Ele como “Oba a dáké dájò” (O Rei que se senta em
silêncio e distribui justiça). Ọlọrun, conhecido como Olódùmarè, é o Senhor do Céu,
conceito reminiscente do Deus judaico-cristão ou do Allah dos muçulmanos. O Senhor
do Céu é o criador de todas as coisas e de outros òrìşà, e parecido com o Nyame dos
Asanti e de outras culturas da África Ocidental. Ele está acima e além de outros
semideuses. Ao contrário de outros òrìşà, Olódùmarè não possui templos; no entanto,
orações Lhe são dirigidas, mas não Lhe são oferecidos sacrifícios. Olódùmarè não
somente cria, mas sustenta e protege os homens; Ele também protege as pessoas de
maquinações de outros homens. Por sua vez, Olódùmarè não está distante e nem
desligado para que não intervenha nos assuntos terrenos. A maioria dos sacrifícios
prescritos pelo Bàbáláwo, Sacerdote de Ọrúnmìlá, são levados a Ọlọrun por Èsù. De
acordo com os Yorùbá todas as pessoas são crianças de Deus. Como deidade a quem se
atribui o controle do destino da humanidade, Ọlọrun pode ser considerado como Deus
do destino. O que devemos destacar é que os Yorùbá dão ao Ser Supremo vários nomes
e que as òrìşà não vivem independentes do Ser Supremo, pois Ele é O Criador deles.
O papel das divindades
Para complementar a compreensão do leitor sobre a crença Yorùbá, é, também,
importante entender as divindades. Nosso trabalho irá, agora, identificar as divindades e
explicar seus papéis.
– Èsù, o Mensageiro divino: Èsù, também conhecido como Elégbà ou Elégbára, é o
mais jovial e astuto das òrìşà (Bascom, 1969). Ele é o mensageiro divino que entrega os
sacrifícios prescritos pelo Bàbáláwo a Ọlọrun, após terem sido colocados nos altares. O
altar é feito de um pedaço de laterita (uma terra vermelha) encontrada em Ilé-Ifè,
Nigéria. Os Yorùbá creem que Èsù é um trapaceiro que se delicia em causar problemas
ou que ele serve outros òrìşà trazendo problemas aos seres humanos que os ofenda ou
que os negligenciem. Para ilustrar, vejamos o que dizem de Sàngó, deus do trovão, que
desejava matar uma pessoa com seus raios: ele deve, primeiro, pedir a Èsù que
desobstrua os caminhos para ele. Esse pensamento é errôneo! Èsù, na verdade, pode
utilizar várias penalidades que tem à sua disposição, pois ele é conhecido como
guardião da lei, Olopàá, porque ele pune aqueles não fazem os sacrifícios prescritos
pelos Sacerdotes e recompensa aqueles que os fazem. Quando algum dos òrìşà deseja
recompensá-los na terra, envia Èsù para fazê-lo. Alguns estudiosos ocidentais têm feito
grandes esforços para pintar Èsù como o equivalente do “Diabo” judaico-cristão. Isto é
um erro. O papel de Èsù é o de um mensageiro que entrega os sacrifícios a Olorun e
para outros òrìşà. Sua notável destreza em realizar seu papel como guardião divino não
é coerente para identificá-lo como o Satã dos cristãos ou dos muçulmanos (Bascom
1969). Sem se importar a qual òrìşà é devoto, todos rogam a Èsù com frequência de
modo que ele não lhes traga problemas.
– Ifa (Ọrúnmìlá), Òrìsà da adivinhação: É um amigo muito próximo de Èsù. É
conhecido como “clérigo” de outros òrìşà e visto como Bàbáláwo. Bàbáláwo é definido
como um homem instruído ou um erudito por causa de seu conhecimento e sabedoria
nos versos de Ifá. Ele trabalha como intérprete das mensagens entre os òrìşà e os seres
humanos. Ọlọrun, o Deus Supremo, deu-lhe poder (Àse) de falar para os òrìşà e se
comunicar com os seres humanos através do oráculo. Por exemplo, quando o deus do
trovão ou qualquer outro òrìşà requer um sacrifício especial, ele envia essa mensagem
aos seres humanos por meio de Ifá. Importante frisar que Ọrúnmìlá é aquele que
transmite e interpreta os desejos de Ọlọrun à humanidade. Ọrúnmìlá prescreve
sacrifícios os quais são levados por Èsù. Qualquer òrìşà pessoal pode ser adorado,
porém todos os crentes da religião Yorùbá recorrem a Ifá em casos de necessidade.
Baseados no parecer do Bàbáláwo, os sacrifícios apropriados a Èsù são identificados e
feitos sendo levados por Èsù a Ọlọrun (Bascom 1969). Nem todos os devotos de Ifa
podem se tornar um Bàbáláwo. O título de Bàbáláwo é dado somente aos devotos
especiais que tenham um largo conhecimento de Ifá. Requer-se uma iniciação de alto
custo financeiro e muitos anos de aprendizagem para interpretar as figuras (Odù),
prescrever sacrifícios e remédios.
– Odùduwà. O Criador da Terra (O Legislador) Os Yorùbá creem que ele é o criador da
terra. Consideram-no como progenitor de todos os Yorùbá e o primeiro a governar a
terra como rei de Ilé-Ifè.
– Òrìşà-ńlá. Grande Òrìsà Òrìşà da brancura. Òrìşà-ńlá, Òṣàalá ou Obàtálá é melhor
descrito como o rei da brancura. Acredita-se que ele seja o criador da humanidade,
fazendo os primeiros homem e mulher. Tem o papel de amoldar os seres humanos no
ventre, antes que nasçam. Trabalha na escuridão com uma faca; ele esculpe seus corpos
como um escultor, separando os braços, pernas, dedos das mãos e dos pés e faz as
aberturas para os olhos, nariz e boca. Aquele que ele formou como albino (àfín),
corcunda (abuké), aleijados (arò), anão (aràrá) e mudos (odi) serão consagrados a ele.
Não são resultado de erros; ele os faz assim para marcá-los como seus seguidores e que
sua adoração não será esquecida. Òrìşà-ńlá é conhecido como o “Rei do pano branco”.
Seus devotos podem usar outras roupas, mas o branco lhes é o traje mais apropriado.
– Ògún, o deus do ferro:
Ògún é deus do ferro e patrono de todos aqueles que se utilizam de ferramentas de ferro.
Conhecem-no como patrono dos caçadores, e dos guerreiros e, em consequência, deus
da guerra, patrono dos ferreiros, barbeiros e, recentemente, patrono das locomotivas e
automóveis. Os Yorùbá creem que sem Ògún as pessoas não poderiam cortar seus
cabelos, fazendas não poderiam ser lavradas, os cursos dos rios e nascentes seriam
tomados pelo crescimento de ervas daninhas e ninguém poderia fazer fogo sem as
faíscas que eram usadas antes dos fósforos serem importados. Os demais òrìşà
dependem de Ogún porque ele limpa os caminhos para eles com seu machete. Ele é
notabilizado como ferreiro e guerreiro. Se Ògún é enraivecido ou luta contra qualquer
um dos inimigos de seus seguidores, ele poderá causar a morte destes. Por exemplo, a
pessoa pode ser mordida por uma serpente; levar um tiro, por engano, de um caçador;
ser ferido em um acidente de veículo; ser cortado por uma faca ou um ferreiro pode
atingir seu dedo. Ògún é sempre utilizado para validar um juramento, enquanto os
cristãos usam a bíblia para fazê-lo.
Ọránmíyàn (Ọrányàn), o filho de Ògún e de Odùduwà: Diz-se que Ọránmíyàn possui
dois pais Ògún e Odùduwà. Um mito conta que Ògún, certa vez, trouxe muitos escravos
da guerra e os deu a Odùduwà, o rei, exceto uma mulher, conhecida como Lankange.
Como Ògún se apaixonou por Lankange, ele a manteve consigo. Quando Odùduwà
soube disso ele deu ordens para que Ògún lhe trouxesse Lankange. Antes de fazê-lo,
Ògún explicou à Odùduwà que ele havia copulado com Lankange. Não obstante,
Odùduwà tomou Lankange como sua esposa. Quando Lankange deu à luz a Ọránmíyàn,
a criança era meio branca como Odùduwà e meio negra como Ògún (Bascom, 1969).
– Sàngó, o deus do trovão: Filho de Ọránmíyàn. Vivendo no céu, ele lança tempestades
de raios à terra, matando aqueles que o ofendem ou deixando suas casas em chamas.
Sàngó luta contra aqueles que causam problemas e com os que se utilizam de magias
para prejudicar outros, bem como seus devotos que o ofendem. Sàngó é ligado ao fogo
porque ao falar, fogo sai de sua boca. Veneram-no pelos seus poderes mágicos.
Segundo um dos mitos, Sàngó deixou Ilé-Ifè (cidade a sudoeste da Nigéria) quando foi
derrotado em um combate mágico e, por isso, se enforcou. Quando começou a
relampejar, seus devotos gritavam: “Oba kò so” (o Rei não se enforcou) (Tidjani-
Serpos, 1996).
Discussão Os Yorùbá, assim como os Akan de Ghana, reconhecem o providencial
cuidado de Ọlọrun e de deuses menores dos quais eles se aproximam quando estão em
apuros. Creem que a maioria dos deuses menores são agentes de Ọlọrun, o Deus
Supremo. Ọlọrun não destrói a vida, ele cria e alimenta a vida. Ele é aquele que atribui o
destino. Quando Ọlọrun lhe dá enfermidade, Ele o provê da cura apropriada. Antes do
nascimento de uma criança, a alma se apresenta ante Ọlọrun, para receber um novo
corpo, novo sopro e seu destino para sua vida na terra. Ajoelhando-se ante Ọlọrun, essa
alma recebe a oportunidade de eleger seu próprio destino. Acredita-se que a alma pode
fazer qualquer pedido, seja razoável ou não. Destino envolve um dia fixado, no qual a
alma retornará ao céu, a personalidade individual, a ocupação e a sorte. A hora da morte
não pode ser adiada, mas outros aspectos de seu destino podem ser modificados pelos
atos humanos. Os òrìşà ajudam os indivíduos a usufruir o destino prometido por Deus
(Ọlọrun). Como resultado, por toda sua vida, deverá fazer sacrifícios ao seu guardião
ancestral e aos deuses. Os encantamentos e as magias serão prescritos pelo Bàbáláwo
para assistir os indivíduos quando em apuros. Quando se está em apuros, deve-se
consultar um Bàbáláwo para determinar o que deverá ser feito para melhorar seu legado
na terra. O Yorùbá acredita que quando a pessoa morre, ela se despede visitando os
membros do clã. Se a pessoa teve uma vida repleta, suas múltiplas almas prosseguem
para o outro mundo, onde vive o Deus do Céu. Quando a alma alcança o céu, ela
prestará contas a Ọlọrun. Se a pessoa foi boa e destacada na terra suas almas serão
enviadas ao céu bom (Òrun rere). Se seus atos foram maus, como o envenenamento de
seu vizinho, assassinato de alguém de quem tinha confiança, ser mentirosa e
fraudulenta, ela será condenada ao céu mau (Ọrun burú) ou ao “Ọrun àpadì” pelo Deus
do Céu. Aqueles que não viveram completamente suas vidas permanecerão na terra
como fantasmas. Por exemplo, aquele cuja vida foi tirada por um acidente de automóvel
ficará na terra como um fantasma. Uma coisa é certa sobre o destino atribuído: nenhum
mortal poderá mudá-lo. Se cada ser humano vem ao mundo com um destino pré-fixado
e se Ọlọrun é tão bom, como os Yorùbá explicam as ocorrências de morte prematura?
Os Yorùbá tentam responder a tal questionamento das seguintes maneiras: Primeiro: a
pessoa pode ter ofendido aos deuses menores de tal modo que atraíram para si o castigo;
Segundo: a pessoa pode ter sido destinada a isso, e isso é o que ela requereu a Ọlọrun
antes de ter nascido;
Terceiro: podem culpar outras pessoas por terem colocado um “feitiço” nele de modo a
lhe causar a desgraça.
Portanto, os Yorùbá creem no poder benevolente de Ọlọrun, ainda que para eles seja
possível a ambos (homens e poderes sobrenaturais) induzir as pessoas em certos atos
que interfeririam no destino designado por Ọlọrun a cada ser humano individualmente.
Assim, quando infortúnios acontecem ninguém culpa Ọlọrun, pois os Yorùbá creem que
os agentes (òrìşà) de Ọlọrun é que são os culpados, por terem sido irresponsáveis
(Agyakwa 1996, p.59). A questão central é: Como poderá o criador africano, tal como
Olódùmarè ser supremo e não ser adorado? A resposta a essa questão levou S. S.
Farrow, J. O. Lucas e outros a interpretar erroneamente as funções e as relações entre as
deidades e Olódùmarè (Awólàlú P. 7). Em resposta a Farrow e Lucas, John Mbiti e
Bòlájí Ìdòwú esclarecem esse mal entendido que tem afetado o monoteísmo africano.
Esses eminentes eruditos evidenciam que “os deuses supremos africanos são, de fato,
estreitamente envolvidos nos assuntos humanos e foram objeto de adoração religiosa em
muitas sociedades. ” (Ray 2000, P. 25-26). Ambos enfatizam que o “conceito africano
de Deus se encaixa perfeitamente no modelo de monoteísmo judaico-cristão” (Ibid.).
Bòlájí Ìdòwú, em sua obra, Olódùmarè: God in Yorùbá Belief, apresenta evidências de
que o conceito do Ser Supremo é um princípio monoteísta da religião Yorùbá. Segundo
Ìdòwú, a religião Yorùbá é um “monoteísmo difuso” na qual muitas divindades Yorùbá
“não são mais que conceitualizações de atributos de Olódùmarè, o Deus Supremo
Yorùbá” (Ray). Como Ray aponta em African Religious: Symbol, Ritual and
Community, “Ìdòwú baseou sua interpretação no fato de que a religião Yorùbá concebe
Olódùmarè como o regente (Oba) e os deuses menores podem ser pensados como Seus
ministros, analogamente à hierarquia política da tradição na qual o rei Yorùbá
estabelecia regras aos seus subordinados por meio de seus ministros (veja Awólàlú, p.
17-18; Ray 2000, p. 26). Outra perspectiva diferente que apoia as observações de Ìdòwú
foi feita por Philip John Niemark em seu livro The way of Orisha no qual considera
Olódùmarè como o Deus Supremo da religião Yorùbá o que significa que o Yorùbá é
monoteísta. Ele concebe os òrìşà ou deidades como “energias” ou intermediários de
Olódùmarè, que lidam com os seres humanos nos afazeres diários ou frustram o
cumprimento dos destinos na terra (ver Neimark, p.14 e Ray. p. 26). A fim de colocar
em discussão o argumento de o Yorùbá ser monoteísta, Ray escreve: Semelhante a um
regente Yorùbá, ou Oba, Olódùmarè reina supremo no céu distante e regula o mundo
através de seus intermediários, os òrìşà. Olódùmarè habita o céu e Ele é transcendente,
Onisciente, Todo-Poderoso. Diferentemente dos òrìşà, Ele não tem templos ou
sacerdotes, e nenhum sacrifício ou oferendas Lhes são feitas, porque ele não pode ser
influenciado ou conquistado por isso. Ainda assim, Olódùmarè pode ser invocado por
qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer hora e deixá-Lo saber das
necessidades do peticionário. (Ibid. P. 10) Opoku (1978, p. 5) apoia o posicionamento
de Ray ao afirmar que é um erro descrever a religião Yorùbá como politeísta. Segundo
ele, (…) politeísta é grosseiramente inadequada como descrição da Religião Tradicional
Africana, pois uma religião não pode ser tachada de politeísta simplesmente por haver
muitas divindades nesta religião. A questão fundamental no que diz respeito ao
politeísmo está na relação existente entre os deuses e o panteão, e aqui, a crença
religiosa dos egípcios, babilônios e gregos, que são exemplos clássicos do politeísmo,
pode lançar considerável luz na nossa compreensão do termo. No politeísmo clássico,
os deuses no panteão são independentes uns dos outros. Um dos deuses pode ser
considerado como chefe, mas ele nunca poderá ser visto como criador dos outros
deuses. Na Religião Tradicional Africana, no entanto, o quadro é totalmente diferente:
Deus, o Ser Supremo, está fora do panteão de deuses. Ele é o Criador eterno de todos os
demais deuses, do homem e do Universo. Isto O faz absolutamente único, e Ele se
distingue de outros deuses ao ter um nome especial. Este nome é sempre no singular, e
não é um nome genérico, como Obosom (para os Akan) ou òrìşà (para os Yorùbá).
Todas as outras divindades possuem um nome genérico em adição ao seu nome
específico. Esta é a maneira africana de mostrar a unicidade de Deus. Isso ilustra a
estrutura hierárquica da tradição Yorùbá. Awólàlú lamenta que algumas pessoas que
escreveram sobre a religião Yorùbá falharam em considerar a interação da cultura e
como a transmite as crenças religiosas aos Yorùbá. O uso do domínio secular para
ilustrar o conceito monoteísta de Deus pelos Yorùbá é demonstrado na posição do Oba
como Pontifex Maximus (Awólàlú, P. 17) e, perceptivelmente, Olódùmarè representa o
Deus conceitual, assim como ele é percebido na cultura ocidental. Awólàlú observa que
dessa maneira, Olódùmarè tem a palavra final (Awólàlú, P. 17). Esta interpretação
errônea da posição de Olódùmarè levou Tidjani-Serpos (1996, p. 18) a nos advertir:
Sim, nós podemos, com humildade e tolerância, ouvir conscienciosamente a crítica à
nossa herança cultural, sem, no entanto, recusar-nos a estar em completa sintonia com
nosso tempo. Nós podemos, calma e abertamente, discutir com serenidade nosso
passado sem optar por olhar nossa própria cultura através do ponto de vista dos valores
de outros povos. Essa é a razão pelas qual alguns estudiosos como Mbiti, Ìdòwú,
Awólàlú, apenas para citar alguns, não quiseram iniciar um debate entre as antigas e as
modernas crenças, mas sim definir um correto registro.
Conclusão Os modernos investigadores são tendenciosos e prejudiciais em suas análises
do conceito Yorùbá de Deus. O que aprendemos ao examinar o conceito de Deus pelos
Yorùbá é que a religião Yorùbá é monoteísta. Dos vários nomes dados a Olódùmarè,
um claro quadro de Deus emerge. Veem-no como o Senhor do céu, o Criador de toda
humanidade, o Doador da vida e Ele é entendido como invisível. Por Sua invisibilidade,
os Yorùbá não se preocupam em Lhe erigir um altar ou uma “representação física”
(Opoku, P. 18). Ainda que as divindades sejam reverenciadas, elas são criadas por Deus
para realizar funções específicas, à semelhança dos anjos, que foram criados para servir
a Deus.
Referências:
Agyakwa, K. O. (1996). The problem of evil according to Akan and Whiteheadian
metaphysical systems. Ìmódòye: A journal of African philosophy, 2, 45-61. Awólàlú, J.
O. (1979). Yorùbá beliefs and sacrificial rites. London: Longman Group Ltd. Bascom,
W. (1969). The Yorùbá of southwestern Nigeria. New York: Holt, Rinehart, and
Winston. Ìdòwú, E. B. (1962). Olódùmarè: God in Yorùbá belief. Ikeje: Longman
Nigerian Plc. Ìdòwú, E. B. (1975). African tradition religion. Maryknoll, N. Y.: Orbis
Books. Lucas, J.O. (1948). The religion of the Yorùbá. Lagos, Nigeria. Mbiti, J. S.
(1975). Introduction to African religion. Postsmouth: Heinemann Educational Books,
Ltd. Niemark, P. J. (1993). The way of Orisha. New York: Harper Collins. Opoku, K.
A. (1978). West African traditional religion. Accra, Ghana: FEP International Private
Ltd. Parrinder, G. (1954). African traditional religion. Westport: Greenwood Press.
Parrinder, G. (1967). African mythology. New York: Peter Bedrick Books. Parrinder,
G. (1969). Religion in Africa. New York: Praeger Publishers. Ray, B.C. (2000). African
religions: Symbol, ritual and continuity (2nd ed). Upper Saddle River, New Jersey:
Prentice-Hall. Tidjani-Serpos, N. (1996). The postcolonial condition: The archeology of
African knowledge: from the feat of Ògún and Sàngó to the postcolonial creativity of
Obatala. Research in African Literatures, 27, 3-19. Thinking About Religion, Volume 3
Copyright © 2004
* Mestre em Ciência da Religião e em Ciências Policiais. Professor universitário no
CAES/SP.
Obs. Muitas lendas têm pequenas ou grandes variações de uma região para a outra em
território nigeriano, não devemos levar todos os dados ao pé da letra. Devemos nos ater
ao conjunto da obra e sua mensagem principal que fala do monoteísmo da religião.
Odé Gbàfáomi
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Caboclo Boiadeiro
Abril 16, 2015 por Fernando D'Osogiyan
Caboclo Boiadeiro
Os Boiadeiros utilizam chapéus de vaqueiros, laços de corda, chicotes de couro,
normalmente chegam girando a mão ou batendo no peito. Com cantigas e ritmos
diferenciados dos caboclos da Umbanda, os Boiadeiros enchem de alegria os
terreiros com sua forma típica sertaneja. Alguns gostam de ser chamados de
Vaqueiro, Laçador, Peão Valente, Tocadores de Viola, etc. Genuinamente mestiço
das misturas do índio, branco e negro, Os Boiadeiros representam a própria
essência brasileira com costumes, crendices, superstições e muita fé.
Os Boiadeiros também são conhecidos como “Encantados”, pelo povo da região
nordeste. São trabalhadores e defendem a todos das influências negativas com
muita garra e força espiritual.
Sabem que a prática da caridade os levará a evolução, trabalham incorporados na
Umbanda e em algumas nações do Candomblé. Fazem parte da linha de caboclos,
mais na verdade são bem diferentes em suas funções. Formam uma linha mais
recente de espíritos, pois já viveram mais com a modernidade do que os caboclos,
que foram povos primitivos. São rudes nas suas incorporações, com gestos velozes
e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é a consulta como os Pretos-velhos,
nem os passes e muito menos as receitas de remédios como os Caboclos, e sim o
“dispersar de energia” aderida a corpos, paredes e objetos. É de extrema
importância essa função pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o
teor das consultas e dos passes, existe essa linha “sempre” atenta a qualquer
alteração de energia local (entrada de espíritos).
Quando bradam alto e rápido, com tom de ordem, estão na verdade ordenando a
espíritos que entraram no local a se retirar, assim “limpam” o ambiente para que a
prática da caridade continue sem alterações. Esses espíritos atendem aos
boiadeiros pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são
levados por eles para locais próprios de doutrina.
Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ”e no descarrego e no preparo dos
médiuns. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo a portas para a entrada
dos outros guias e tornando-se grandes protetores, como os Exus.
Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de
um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes. Costumam proteger
demais seus médiuns nas situações perigosas. São verdadeiros conselheiros e
castigam quem prejudica um médium que ele goste. “Gostar” para um boiadeiro, é
ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele
“filho”. Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa.
Trabalham também para Orixás, mais mesmo assim, não mudam sua finalidade de
trabalho e são muito parecidos na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um
boiadeiro que trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhe para
Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo no entanto
as características deles.
Dentro dessa linha a diversidade encontra-se na idade dos boiadeiros. Existem
boiadeiros mais velhos, outros mais novos, e costumam dizer que pertencem a
locais diferentes, como regiões diferentes principalmente o norte, nordeste e
centro-oeste. Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do
povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.
A linha dos boiadeiros é uma das mais conhecidas e uma das mais importantes
linhas de Umbanda, devido a importância e necessidade de se desenvolver e
trabalhar com essa maravilhosa linha.
A linha dos boiadeiros é composta por eguns homens que em vida trabalharam
eram homens que trabalhavam com gado, guiando suas boiadas nas comitivas.
Essa entidade é muito requisitada em trabalhos de obsessão, pois laçam esses
obsessores e os dispersam no ar.
Segundo pesquisa de Estudiosos de teologia umbandista foi relatado que existem
algumas “categorias” de boiadeiros,entre elas :
–Boiadeiros laçadores : boiadeiros que,quando estão em terra giram o braço como
se estivessem com um laço na mão (e realmente estão!), são estes os boiadeiros que
laçam os kiumbas.
–Boiadeiros de berrantes : boiadeiros que,quando em terra costumam soltar um
brado forte e vibrante, estes com seu brado, afastam os kiumbas e dissolvem
qualquer miasma de negatividade que possa estar ou no local ou com alguém que
esteja no local.
Alguns nomes de boiadeiros: Zé do laço, Capitão do Mato, Zé Vaqueiro, Cerca
viva,Chicote bravo, Zé do berrante, Boiadeiro do Sertão, Boiadeiro Navizala,
Bugre do Sertão, Boiadeiro Rei, etc, etc.
Cantiga básica:
“Seu boiadeiro por aqui choveu
choveu que água rolou
foi tanta água que o seu boi nadou”
Comprimento: Getrua, Xeto marrumba xeto
Comidas: Raízes, cana, carne,frutas, etc
Bebidas : Cerveja branca, vinho, cachaça com mel, etc.
Fumo: Charutos, cigarro de palha
Objetos de trabalho : chicote, laço
Objetos de vestimenta : Chapéu, berrante, capa, corda, etc.
Cantiga de Barra Vento:
” A minha boiada é de 31 (bis)
Já contei 30 ainda me falta 1″ (bis)
Pesquisa/texto: sites Internet/Casa Oxóssi Caçador/Fernando D’Osogiyan
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A Decepção!
Abril 14, 2015 por Fernando D'Osogiyan
A DECEPÇÃO:
Certamente todos os sacerdotes de Candomblé já se depararam com este sentimento. A
decepção é a emoção mais recorrente dentre as queixas daqueles que comandam uma
comunidade de Terreiro.
Não há quem não tenha relatos pessoais, ou histórias para contar dentro de uma Casa de
Santo que não tenha experimentado a decepção.
Isto talvez porque o Candomblé seja uma Religião atípica, na qual os adeptos tratam os
sacerdotes como “pais” e “mães”.
O convívio no Terreiro faz com que em pouco tempo crie-se um elo consistente que
aproxima estranhos, de idades, cores, culturas, origens e educações distintas ao ponto de
torná-los “pais” e “filhos”. E esta relação muitas vezes acaba por suprir, ou reproduzir
as dinâmicas das famílias biológicas.
A relação ainda se avoluma, porque no Candomblé a ritualística implica em períodos
longos de recolhimento no Terreiro, aumentando a convivência e aproximando as
pessoas por dias e às vezes semanas contínuas.
Cada obrigação, seja ela iniciática ou periódica, acaba por demandar toda esta
mobilização daquela comunidade em torno do “recolhido” (obrigacionado).
E esta mobilização redunda em certos sacrifícios que todos os envolvidos se dispõem a
fazer em prol do outro. Isto implica em abdicar durante estes períodos de bebidas
alcoólicas, sexo, festas, compromissos pessoais, do convívio de sua família biológica e
do conforto de seu próprio lar para participar das obrigações dormindo dias seguidos no
Terreiro.
Tudo isto indiscutivelmente propicia um sentimento coletivo de solidariedade, mas
também de decepção, quando algum desses membros abandona a comunidade.
Nesse momento, por mais que a comunidade sinta, é o sacerdote que sofre o maior
impacto, já que ele lidera o egbé e é ele quem cria o mais intenso laço de união com o
frequentador, ou filho da Casa.
Há a quebra de um elo. E esse rompimento traz consigo a decepção e a tristeza de saber
que a dedicação devotada não foi correspondida e quase sempre não foi sequer
compreendida.
Pior quando esta decepção vem adicionada a falatórios e fofocas de conhecidos em
comum, que revelam que aquele que deixou o Terreiro ainda saiu se queixando, ou
criticando a própria Casa e o sacerdote que tanto se dedicou a ele.
Muitas vezes são anos de preparação, informação, esclarecimentos e ensinamentos
diversos. Tempo em que se investiram esperanças no futuro daquele filho. Anos durante
os quais este mesmo filho teve suas atitudes compreendidas, corrigidas e perdoadas pelo
sacerdote. Mas diante dos menores ou dos mais inusitados motivos, ele se revolta, se
enche de razões para discordar de determinadas decisões. Achando-se injustiçado e
dono da verdade, simplesmente vai embora sem nem dizer um simples “obrigado”, ou
ao menos despedir-se, como a decência e a boa educação recomendam a qualquer um.
Muitos destes que se sentem vítimas, incompreendidos e revoltados, no momento de dor
e de necessidade, foram acolhidos pela Casa, por seus membros e sacerdotes que lhes
deram amparo, roupas, comida, teto e força espiritual quando mais precisaram.
Abraçaram, beberam e festejaram junto à comunidade. Não raro, custeados pelos até
então “pais”, “mães” e “irmãos” de outrora.
No momento da dor e da necessidade, proferiram juras de amor e fidelidade à Casa,
gestos e homenagens de uma gratidão que parecia sincera e inabalável… Para no
momento seguinte, tudo se dissipar como o vento, sem nem sabermos onde foi parar
toda aquela amizade e gentileza.
A decepção acaba por ser uma terrível armadilha que fere de surpresa os sacerdotes e
membros do egbe.
Por mais experientes que sejam e por mais que se digam preparados para lidar com ela,
a decepção sempre age como uma lâmina gelada perfurando o peito.
Claro que algumas decepções são maiores, ou piores. Mas sempre este sentimento se
revela fruto das próprias expectativas criadas (porque não dizer: fantasiadas) em torno
de filhos de santo e frequentadores da Casa.
O desejo de que aquela pessoa traga alegrias, que seja amiga fiel ao zelador e à Casa,
geram uma expectativa que, quando rompida pela decepção, desmorona como um
castelo de areia, que diante de uma onde furtiva, se transforma rapidamente em
escombros tão diferentes da beleza lúdica que tinha.
Diante da decepção, muitos e bons pais e mães de santo sofreram tanto que não tiveram
mais forças para prosseguir com seu sacerdócio.
Outros revoltaram-se de tal maneira, que transformaram o amor paterno em ódio,
rebaixando filhos à condição de inimigos mortais.
A decepção é dor. E dor é difícil de descrever. Só quem sente consegue entende-la em
sua amplitude.
É difícil, quase impossível prevenir-se contra a decepção. Quem ama espera, sonha, se
dedica. Não há como chamar alguém de filho e não criar expectativas. E também não há
como ser chamado de pai e banalizar esta relação, tornando-se frio como uma pedra de
gelo ambulante.
O sacerdote é como um professor, que prepara os alunos a cada ano, mas que nem
sempre participará da formatura deles. O sacerdote prepara os filhos, se preparando
também para não mais os ver.
Não sei se ameniza, ou consola, mas encarar os atos de dedicação aos filhos, como
sendo devotados unicamente em prol dos Orixás e não em prol das pessoas, muda um
pouco a configuração das coisas. Assim se, ou quando, a decepção chegar, teremos a
consciência tranquila de que o objetivo principal foi sempre atingido. Logo, se o filho
decepcionar, saberemos que o Orixá foi bem servido e atendido e por isso reconhecerá
sempre, na cabeça do filho ingrato, ou não, aquilo que foi feito por ele.
Mas a única atitude realmente eficaz e propedêutica contra a decepção é tentar respeitar
o momento de cada um. Antes de criar sonhos e gerar expectativas acerca daquele filho,
precisamos antes enxergá-lo como pessoa. Uma pessoa que não é nossa. E como pessoa
livre, ele terá seu tempo para amadurecer, terá suas chances de errar e sua própria forma
de fazer escolhas (certas e erradas).
É sempre bom lembrarmos que, como pessoas que somos, também já decepcionamos
muita gente que nos amava e muitas que criaram expectativas diante de nós. Por
inúmeras vezes fomos e somos imaturos e egoístas ao ponto de agirmos sem considerar
o sentimento dos outros. Isso nos faz iguais e tão falíveis quanto aqueles que nos
feriram.
Uma avaliação honesta sobre cada caso, feita ainda que silenciosamente pelos
envolvidos, é sempre bem vinda. O tempo se encarrega do restante. Tempo também é
Orixá.
***********
Texto: Babalorixá Márcio de Jagun
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Ipeté D’Oxun
Março 30, 2015 por Fernando D'Osogiyan
Ipeté D’Oxun.
Ipeté é o nome de uma comida especial do Orixá Oxun e que também dá o nome a
festividade dedicada a Oxun que comumente chamamos de Ipèté D’Oxun. Essa
cerimônia acontece sempre após 8 ou 16 dias após a grande festa anual de Mãe Oxun,
normalmente da Iyalorixá de Oxun ou uma Egbon antiga que tenha tomando obrigação.
Na verdade o Ipeté é uma festa de congraçamento, finalizando um ciclo, pois não há
sacrifícios de animais, não há o ritual do Ipadê de Exú. O candomblé se caracteriza pela
harmonia, a beleza e todo o encanto de mãe Oxun, a grande protagonista que convida à
todos e elegantemente oferece o Ipeté. O Candomblé tem o mesmo formato com as
cantigas básicas e tradicionais de abertura de Casa começando o xirê em Ogun indo até
a roda de Oxun. Neste momento todos esperam pela chegada de Mãe Oxun que chegará
fulgurante de energia trazendo muita alegria a todos na Casa, alguns outros Orixás
também marcarão presença na chegada de Oxun e o convidado especial de Mãe Oxun é
o guerreiro Ogun que será paramentado com seu mariwo para dançar as cantigas do
Ipeté sendo saudado e homenageado pois foi Ogun que indicou o ixú que é fundamental
na magia do Ipeté, com cantigas de orô ligadas a Ogun puxadas pelo alagbê de Oxun.
Orin:
“Ipeté Ògún Já Ògún té dèró”.
“Ipeté akún yan Ode mò dèrò A járe o Ofé”
Folha: Abre caminho-
Hydrocotyle,
A lenda do Ipeté – o Ìtòn
Oxun encontrava-se com problemas no ventre e isso lhe causava dificuldades para
engravidar, Mas era do desejo de Oxun engravidar; Diante dessa dificuldade ela
decide consulta Orunmilá. Orunmilá diante do problema de Oxun lhe ofereceu uma
ajuda, Indagando que ela deveria seguir um preceito e nesse preceito ela deveria
oferecer comida a todas as Oxun, todas as irmãs; Oxun lhe disse que era impossível,
pois cada uma comia uma coisa e sem muito pensar Orunmilá lhe respondeu : Se
esforce, tens que criar um prato onde todas irão comer! Oxun então responde: Mas
como? Orunmilá de pronto lhe responde: você vai procurar uma estrada que parece
não ter fim, caminhará e caminhará, algum tempo depois encontrará um homem que
lhe presenteará com um fruto! Oxun ficou meio desconfiada, mas era a única maneira
de se livrar do problema, então, Oxun no primeiro raiar do sol, no dia seguinte, saiu a
procura dessa estrada, passou por matas, rios, caminhos de pedras e ventanias.. Mas
no fim encontrou a estrada, e tornou a caminhar, parou e descansou, mas voltou a
caminhar… Até que avista um homem, parado na estrada, esse Homem era Ogun.Ogun
ficou espantado de ver Oxun ali, pois todos sabiam que Oxun não saía de seus rios pra
quase nada, ficava sempre no rio esperando os presentes e se banhando… Ela não
gostava de sair de seu palácio de águas e naquele momento ela estava alí em uma
estrada quente e sem acomodação! Com esse espanto de Ogun ele lhe pergunta: O que
lhe traz aquí Oxun? E Oxun conta a Ogun o que lhe passava. Então Ogun vai até a
beira da estrada e colhe um fruto chamado Ixú (inhame) e entrega a Oxun e lhe diz
para preparar uma comida chamada Ipeté, a comida que acalma, e entregue as suas
irmãs. Oxun lhe pergunta: O que quer em troca? E Ogun muito encantado com a beleza
de Oxun lhe responde: Nada! Você só terá apenas que sustentar sobre o seu Orí e sob a
panela de Ipeté a folha de Abre-Caminho, e não esqueças de acomodar todos os Okutas
de suas irmãs sobre o Ipeté. Oxum ouviu atentamente as recomendações de Ogun e
seguiu as suas orientações; pouco tempo depois nascia Logún-edé (O filho querido de
Oxun)
Após o orô dedicado a Ògún, o cortejo de mãe Oxun adentra o barracão ao ritmo do
Ijexá com a firme marcação dos agogôs, as ajôies de Mãe Oxun ajudam a trazer o Ipeté
sobre a rodilha do abre caminho (ewé lorogún) para ser servido no centro do barracão
nas conchinhas de Oxun, (igi odán) folha em formato de coração dedicada a Oxun. No
final da cerimônia Mãe Oxun vai dançar e aproveita para agradecer abraçando os
convidados, filhos dando adobale, iká e depois lentamente vai embora com todos
cantando:
Orin:
“Lewá, Lewá, Lewá, Oxun a dé àwa omi s’orò
Lewá, Lewá, Lewá, Oxun a dé àwa omi s’oró”
Tradução:
“Linda, linda ,linda, Oxun entre nós vem das águas consagradas”.
Salve mãe Oxun:“Rora yèyé ó fi dé rí omon”
Uma muda, Folha onde é servido o Ipeté. Polyscias scutellaria- Àbèbè kó (ipeté de
oxum, falso abebê)
http://gunfaremim.com
Texto: Fernando D’Osogiyan
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A força das mães negras
Março 24, 2015 por Dayane
Levantando-se contra a escravidão, o machismo e o preconceito, a negra
brasileira encontrou em sua espiritualidade ancestral os mitos, os símbolos e os
exemplos que lhe inspiraram insubordinação e lhe permitiram construir uma nova
e altiva identidade
por Sueli Carneiro
A luta das mulheres adquiriu diferentes perfis em nossa história, pois diferentes
também eram as inserções sociais e as origens étnicas de suas protagonistas. Em
comum, traziam o desejo de liberdade. Para as mulheres brancas, foi a luta contra
o domínio patriarcal. Para as negras, a luta contra o jugo colonial, a escravidão e o
racismo. Dentre as formas de resistências engendradas pelas mulheres negras
brasileiras, destaca-se o exemplo das Yalorixás: uma estirpe de notáveis
lideranças espirituais, como Yya Nassô (século XIX), Tia Ciata (1854-1924),
Mãe Aninha (1869-1938), Mãe Senhora (1900-1967) e Mãe Menininha do
Gantois (1894-1986), entre outras.
Essas mulheres traziam para o presente modelos sacralizados de sua
ancestralidade, evidenciados na mitologia preservada e na estrutura religiosa que
aqui recriaram. A mitologia africana, apontando insistentemente as estratégias
mais diversas de insubordinação, simbólicas ou reais, lhes ofereceu a
possibilidade de criar mecanismos de defesa para a sobrevivência e a conservação
de seus traços culturais de origem.
O universo mítico, do qual o candomblé é remanescente, se estrutura, como várias
outras mitologias, no princípio da sexualidade. É da interação dinâmica entre
pares de contrários que tudo é gerado. Assim, a Terra (aiyé) e o Céu (órun)
expressam, respectivamente, os princípios arquetípicos Feminino e Masculino.
Sua união, que é a garantia da continuidade de tudo, nem sempre se dá de forma
harmoniosa. E os conflitos, que são relatados nos mitos, expressam muitas vezes
a luta entre os poderes feminino e masculino, em disputa pelo controle do mundo.
Essa disputa expressa também o fato de que, em algumas sociedades africanas,
mulheres e homens pertenciam a associações demarcadas pelo gênero: Geledé e
Ialodé para as mulheres e Oró para os homens.
Segundo a antropóloga Terezinha Bernardo: “Ialodê era uma associação feminina
cujo nome significa ‘senhora encarregada dos negócios públicos’. Sua dirigente
tivera lugar no conselho supremo dos chefes urbanos e era considerada uma alta
funcionária do Estado, responsável pelas questões femininas, representando,
especialmente, os interesses das comerciantes. Enquanto a Ialodê se encarregava
da troca de bens materiais, a sociedade Gueledé era uma associação mais próxima
da troca de bens simbólicos. Sua visibilidade advinha dos rituais de propiciação à
fecundidade, à fertilidade — aspectos importantes do poder especificamente
feminino”. No Brasil, o culto Geledé desapareceu e Ialodé tornou-se título de
mulheres importantes do candomblé.
A organização social do candomblé procurará recriar as estruturas hierárquicas
das sociedades africanas que a escravidão destruiu, reorganizar a família negra,
perpetuar a memória cultural e garantir a sobrevivência do grupo. Ela permitiu
que os “terreiros” se tornassem territórios de organização comunitária, de cura aos
destituídos do direito à saúde, de resistência cultural e de negociação com a
sociedade abrangente e excludente. Leni Silverstein afirma, a propósito do caso
baiano, que “a família-de-santo, com mulheres em seus pontos focais, se torna
crucial para a perpetuação de um sistema alternativo de valores, costumes e
culturas”1.
Esse passado de resistência marca profundamente o povo-de-santo, em especial
suas mulheres. Matriarcas negras que foram reverenciadas no livro A cidade das
mulheres (1932), da antropóloga e pesquisadora norte-americana Ruth Landes.
Diz ela que a mulher negra “era, no Brasil, uma influência modernizadora e
enobrecedora”. E explica: “Economicamente, tanto na África como durante a
escravidão no Brasil, contara consigo mesma. E isso se combinava com a sua
eminência no candomblé para dar um tom matriarcal à vida familiar entre os
pobres. Era um desejável equilíbrio para o rude domínio dos homens em toda a
vida latina”2.
Ruth observou que as mulheres do candomblé jamais se prostituíam, mesmo
quando pobres, que eram livres no amor, mas não o comercializavam, que eram
seres humanos bem desenvolvidos na época em que o feminismo levantava a voz
pela primeira vez no Brasil. Suas vidas compõem parcela significativa da história
do oprimido deste país e vêm sendo fonte de inspiração para a luta das mulheres
negras contemporâneas. A pesquisadora e feminista negra Jurema Werneck
compreende suas estratégias como “formas contra-hegemônicas de produção
cultural”. E as vê construindo identidades com base em recortes territoriais,
lingüísticos ou afetivos.
Pela apropriação e atualização desse patrimônio cultural, as mulheres negras vêm
conformando organizações inspiradas na mitologia africana e nas histórias de suas
antepassadas. Nesse processo de afirmação identitária, buscam, em instituições
femininas da tradição religiosa, nas figuras míticas e nas ancestrais coletivas, os
valores e modelos de insubordinação para confrontar a ordem patriarcal e racista.
Tal processo tem sido objeto da investigação científica de pesquisadoras negras
contemporâneas, que buscam iluminar as linhas de continuidade entre a tradição e
as estratégias de luta atuais. É o caso, por exemplo, do estudo realizado por
Angélica Basti, que demonstra que o processo de rememoração implica em dois
movimentos simultâneos: a lembrança do passado e a produção de um novo
sentido no presente. E faz do mito “uma poderosa ferramenta para a re-
significação da memória coletiva”.
Para a pesquisadora, as organizações femininas negras são as novas guardiãs da
produção discursiva do grupo. Pois resgatam, registram, arquivam e difundem a
história das mulheres negras. E lutam por essa re-significação como instrumento
para a transformação do presente.
Do interior dos mitos, emergem os símbolos que inspiraram e inspiram o
protagonismo religioso e político de parcelas da população feminina negra
brasileira e demarcam as especificidades de sua perspectiva. Assim, Oxun, Iansã,
Obá, Ewá, Iemanjá, Nanã conformam arquétipos que alargam e complexificam
nossa compreensão do feminino. Cada orixá personifica uma linha de força da
natureza, um papel na divisão sexual e social do trabalho, um conjunto de
características temperamentais e emocionais. A existência de orixás femininos,
masculinos e andróginos expressa uma compreensão profunda da própria
sexualidade humana. Os indivíduos concretos serão percebidos do ponto de vista
de seus caracteres psíquicos básicos, de sua ação concreta sobre o real e das
múltiplas possibilidades de combinações desses componentes.
Esse sistema de representações, particularmente suas mulheres míticas, oferece
vivências que a sociedade machista nega. O conservadorismo cristão, que moldou
a moral brasileira passada, impôs às mulheres a escolha entre os estereótipos da
Virgem Maria e de Maria Madalena. Do ponto de vista patriarcal, esta última só
encontra redenção ao abdicar de sua sexualidade. As deusas africanas legitimaram
a transgressão dessa dicotomia maniqueísta. As deusas africanas são mães
dedicadas e amantes apaixonadas.
A partir do exemplo de Mãe Menininha de Gantois, Ruth Lande nos mostra o tipo
de comportamento que essa visão alternativa de mundo ensejou: “Menininha não
se casou legalmente […] pelas mesmas razões que as outras mães e sacerdotisas
não se casam. Teria perdido muito. De acordo com as leis daquele país católico e
latino, a esposa deve submeter-se inteiramente à autoridade do marido. Quão
incompatível é isso com as crenças e a organização do candomblé! Quão
inconcebível para a dominadora autoridade feminina! E tão poderosa é a
tendência matriarcal, em que as mulheres se submetem apenas aos deuses, que os
homens […] nada podem fazer além de enfurecer-se, censurar e brigar com as
sacerdotisas que amam”3.
Inspiradas nos exemplos dessas precursoras poderosas, as mulheres negras,
mestiças e brancas exibem hoje suas saias coloridas e vestem ojás e batas brancas
engomadas durante as festas. Trabalham, cantam e dançam noite adentro para
seus orixás. Entendem que, apesar de Oxalá ser o grande genitor masculino, ele se
curva em adobale (prostração reverencial) diante de Oxum, o poder genitor
feminino.
Sabem que, embora Oxalá só possa usar a cor branca, ele põe nos cabelos a pena
vermelha, o ekodide, em homenagem ao sangue menstrual, símbolo da fertilidade
e da concepção. Então, percebem que a dominação masculina não se explica pela
natureza inferior da mulher, mas pelo reconhecimento de suas potencialidades e
pelo temor que isso inspira. Enfim, descobrem que a Virgem Maria e Maria
Madalena são forças vivas em seu interior e que não precisam abdicar da
sexualidade para atingir o reino dos céus.
Sueli Carneiro é doutora em Filosofia da Educação pela USP, escritora e
diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra. Este artigo nasceu da pesquisa
realizada por ela na década de 1980, sob o título “O poder feminino no culto aos
orixás”.
1 Leni Silverstein, “Mãe de Todo Mundo: modos de sobrevivência nas comunidades de candomblé da Bahia”, em Religião e
Sociedade, número 4.
2 Ruth Landes, A cidade das mulheres, 2a ed. Rio de Janeiro, Editora da UFRJ, 2002.
3 Idem.
4 Terezinha Bernardo, “O poder feminino no candomblé”, em Revista de Estudos da Religião, no 2, 2005.
Fonte: http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=79
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Não fique em silêncio! Ajude a combater a
Intolerância Religiosa.
Março 20, 2015 por Fernando D'Osogiyan
O Babalorixá Pecê de Oxumarê convoca todo o povo-do-santo, para darmos um basta
aos ataques as religiões de matriz africana no Brasil. Chega de Terreiros queimados,
imagens destruídas, chega de intolerância. Nossa hora chegou! Vamos mostrar a nossa
força, pois juntos podemos muito. Dia 23 de março, as 14h, vamos ao Ministério
Público em todas as capitais munidos da carta-protesto, emitida por Baba Pecê, contra
os atos de intolerância a nós direcionados protocolando representação contra os ataques
que viemos sofrendo ao longo de décadas e que não podem ser mais tolerados. Reúna
seu Terreiro, entre nessa luta. É uma luta de todos, por liberdade, justiça e respeito.
Vamos nós despir da vaidade e nos armarmos de fé, e através disso, darmos um basta no
ódio religioso promovido pela Igreja Universal.
Segue a carta a ser protocolada:
EXMO. SR. DR. PROCURADOR REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO –
PRDC/PGR/MPF NA CIDADE DE ______________________.
REPRESENTAÇÃO / MANIFESTO ELABORADO POR INSTITUIÇÕES
RELIGISOSAS, SACERDOTES, ADEPTOS, ATIVISTAS E CIDADÃOS CONTRA
A CONTINUAÇÃO DE PRÁTICA DE INTOLERÂNCIA/DISCRIMINAÇÃO
RELIGIOSA
CARTA ABERTA ÀS AUTORIDADES BRASILEIRAS:
PROTEÇÃO DAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA CONTRA OS
“GLADIADORES DO ALTAR” , E OUTRAS QUESTÕES RELATIVAS À
DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA.
Por décadas a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) promove um massacre
cultural e religioso contra as Religiões Tradicionais de Matriz Africana, perpetrando
uma contínua, incansável, declarada e brutal perseguição através dos meios de
comunicação social. A IURD promove o ódio religioso e através da bancada evangélica
no Congresso Nacional estimula o fundamentalismo nas instâncias legislativas de nosso
país, atentando contra o princípio constitucional que garante a laicidade do Estado.
Os principais alvos da IURD são o Candomblé e a Umbanda, religiões brasileiras
edificadas com base nas tradições milenares de culto aos Orixás, N’kisis e Voduns,
responsáveis pela preservação e difusão da cultura africana no país. Religiões estas que
serviram de instrumentos de resistência para o povo negro e contribuíram de forma
significativa para a cultura e identidade do Brasil. No entanto, o prejuízo vai muito além
da desvalorização cultural e religiosa deixada pelos africanos no país. Para as
comunidades tradicionais de matriz africana, os danos causados são incalculáveis,
atingindo desde os seus espaços sagrados, que são destruídos e fechados, até a processos
criminais, como o repercutido caso que levou a óbito a Ialorixá Gildásia dos Santos e
Santos, em 1999, e tantos outros frequentemente noticiados em jornais.
As comunidades tradicionais de matriz africana não revidam estes ataques com base nos
seus próprios dogmas de respeito a vida e à convicção de que a paz, a fraternidade, a
irmandade e o amor nos garantem estar de fato ligados em harmonia com o poder
superior. Acreditamos ainda que compartilhamos a crença em um mesmo Deus, único e
onipotente, senhor de todo universo, porém, por uma diferença cultural, o chamamos de
Olodumare, e isto igualmente nos faz irmãos na fé. De forma pacífica, na tentativa de
coibir os ataques da IURD contra os Povos de Santo, reivindicamos diariamente o
direito constitucional da liberdade religiosa, lutamos por políticas públicas e buscamos
o diálogo inter-religioso, contudo sem lograr o devido êxito. A IURD, continua
oprimindo as Religiões de Matriz Africana, munida de uma imensa fortuna, de poder
político e agora de um exército, que poderá levar a Umbanda e o Candomblé a vivenciar
uma releitura da santa inquisição.
Nos últimos dias, foram publicados vídeos de uma recente iniciativa da IURD, os
Gladiadores do Altar. Em meio a pregações lotadas, adentram ao culto dezenas de
rapazes, trajados uniformemente, marchando e repetindo palavras de ordem, com
evidente inspiração militar. Segundo informações da própria IURD, os Gladiadores
existem há somente dois meses – desde janeiro deste ano – e nesse curto período, já
agregaram mais de 4 mil jovens. Se as cenas do “exército de evangelizadores” já são
assustadoras no ambiente controlado das igrejas, há que se imaginar o que esses
“soldados da fé” podem fazer nas ruas, longe da vigília de seus “comandantes-pastores”.
A mistura explosiva entre fé e força produz resultados imponderáveis. O Povo de Santo,
vitimado por tantos atos de violência perpetrados por pastores da IURD e seus fiéis, não
tem condições de “pagar para ver”, até porque, são obviamente previsíveis os
desdobramentos dessa iniciativa irresponsável: o fortalecimento de um ideário de ódio
contra tudo e todos que não se conformam à pregação estreita da IURD – nas quais se
enquadram também outras religiões, os povos indígenas, a população LGBT e grupos
com ideologias libertárias.
No plano internacional o tema da intolerância religiosa não poderia ser mais atual. O
mundo assiste atônito à escalada de movimentos paraestatais militarizados criados a
partir de leituras fundamentalistas de textos religiosos. É este o caso do Boko Haram, na
Nigéria, e do Estado Islâmico, na Síria. Supostamente seguindo mandamentos
religiosos, esses grupos sequestram, matam e torturam quem não se converte à sua fé,
numa estratégia de expansão religiosa fundada na violência e no mais completo e
sórdido desrespeito à diversidade. Muitos poderão dizer que exageramos ao comparar os
tais “Gladiadores” com extremistas islâmicos, mas e resposta é simples: não é exagero.
Trata-se de uma preocupação fundada em experiências reais que demonstram que o
fundamentalismo religioso, quando aliado simbólica ou objetivamente a um ideário de
violência, pode despertar uma energia incontrolável e destruidora, intransigente e
emburrecedora.
Assim, não podemos permitir que essa iniciativa se expanda e se consolide. A liberdade
de consciência e de crença, garantida em nossa Constituição, não pode servir de guarida
para atos de intolerância e de violência, e, no caso concreto, nos parece que esse direito
fundamental colide com outro dispositivo elencado no mesmo artigo 5º da Carta Magna
– a vedação de organização paramilitar, que configura crime previsto em nosso Código
Penal (art. 288-A). A conceituação de organização paramilitar pode ser depreendida de
julgados e da doutrina jurídica, embora não haja uma definição legal clara. Podemos
defini-la como associações de civis armados, organizadas a partir de ideologia política,
ideológica ou religiosa, com estrutura semelhante à militar. O comportamento e
uniformização dos Gladiadores revela, de forma evidente e alarmante, a estruturação de
um embrião paramilitar. É certo que até agora, não há evidências de que disponham de
armamentos, mas igualmente não há evidências de que não os tenham. É possível que
entre esses 4 mil jovens se encontrem pessoas com treinamento militar prévio, ou
mesmo pessoas com porte de arma de fogo e outros tipos de armas.
Diante de tamanha incerteza sobre os objetivos dessa organização, sobre a sua natureza,
o real controle que a Igreja conseguirá exercer sobre esses jovens e da possibilidade
palpável de que essa alegoria se converta em ódio e violência real, CONCLAMAMOS
os líderes religiosos de todas as tradições, a sociedade civil organizada, a classe política,
as instituições democráticas e todos aqueles comprometidos com a consolidação do
Estado Laico a se manifestarem veementemente contra a manutenção das atividades dos
“Gladiadores da Fé”, organização que abertamente atenta contra o Estado Democrático
de Direito e que deve ser suprimida antes que se torne uma força incontrolável, que
produza agressão, dor e morte.
“Senhor, tu que és autor da vida e consumador da fé, guia-nos em nossa jornada, e nos
ajuda a ficar de pé, combater o bom combate, completar a carreira e guardar a nossa fé.
Diante das nossas dificuldades, não nos deixe esmorecer. Somos homens de caráter,
escolhidos pelo senhor, para dar vida em favor dos perdidos e façamos com amor.
Temos força, coragem e determinação para nunca fracassar no cumprimento da nossa
missão. Graças ao senhor, hoje estamos aqui, prontos para batalha, e decididos a te
servir, somos gladiadores do teu altar, isso é uma decisão, todos os dias enfrentamos o
inferno, confiantes na tua santa proteção. Eterno é o senhor que nos ama, e a ti pertence
o sucesso de nosso trabalho, pois teu é o reino, o poder, a honra e a glória para sempre,
amém” – Oração proferida pelos Gladiadores do Altar, da IURD
Diante do sofrimento que vivemos, do contexto brasileiro permeado de intolerância
religiosa, da herança execrada do período escravocrata e do preconceito racial, rogamos
às Autoridades Brasileiras um maior direcionamento de políticas públicas para
assegurar os nossos direitos enquanto comunidades religiosas e tradicionais, assim
como o reconhecimento das nossas contribuições para a formação cultural do Brasil,
como a efetiva implementação da Lei 10.639/03. Do mesmo modo, diante das
evidências aqui apresentadas, solicitamos ao Governo Brasileiro que tome as
providências necessárias para investigar rigorosamente como, por que e com qual
finalidade os Gladiadores do Altar foram criados. E, caso seja constatada a incitação ao
ódio e à violência física, psicológica e moral, pedimos que seja minucioso e criterioso
na aplicação da Lei.
Por fim, os subscritores do presente entendem, S.M.J., e em tese, que além dos
instrumentos internacionais de proteção de direitos humanos fundamentais, com recorte
étnico, racial cultural e religioso, e a legislação interna nacional constitucional e
infraconstitucional, não por ser um instrumento de perseguição politico-ideológico, mas
como uma ferramenta, hermeneuticamente entendida – busca dos sentidos segundo a
perspectiva gadameriana – em defesa do Estado Democrático de Direito e das
instituições democráticas, que a legislação infraconstitucional a ser aplicada no caso,
não é o Código Penal , e sim a Lei de Segurança Nacional. Veja que o objeto do tipo
penal do art. 288-A são as organizações criminosas, tais como os esquadrões da morte,
as milicias e outras organizações de natureza paramilitar sem contudo serem de natureza
politica ou religiosa, isto adveio de um contexto de combate ao crime organizado. Essas
organizações Gladiadores do Altar, em tese, tem como desafetos outras religiões,
notadamente as afro-ameríndias, e isto traz uma desestrutura do tecido social de tal
forma que ameaça o Estado Democrático de Direito. A LSN tipifica a hipótese
examinada, E mais: o autor da ação penal é o MPF, pois se trata de crime federal, ou
mesmo o Ministro da Justiça , cabendo à Policia Federal a investigação.
LEI Nº 7.170, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1983.
Define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu
processo e julgamento e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 1º – Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão:
I – a integridade territorial e a soberania nacional;
Il – o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito;
Ill – a pessoa dos chefes dos Poderes da União.
Art. 22 – Fazer, em público, propaganda:
I – de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social;
II – de discriminação racial, de luta pela violência entre as classes sociais, de
perseguição religiosa;
III – de guerra;
IV – de qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Pena: detenção, de 1 a 4 anos.
§ 1º – A pena é aumentada de um terço quando a propaganda for feita em local de
trabalho ou por meio de rádio ou televisão.
§ 2º – Sujeita-se à mesma pena quem distribui ou redistribui:
a) fundos destinados a realizar a propaganda de que trata este artigo;
b) ostensiva ou clandestinamente boletins ou panfletos contendo a mesma propaganda.
Art. 24 – Constituir, integrar ou manter organização ilegal de tipo militar, de qualquer
forma ou natureza armada ou não, com ou sem fardamento, com finalidade combativa.
Pena: reclusão, de 2 a 8 anos
Art. 31 – Para apuração de fato que configure crime previsto nesta Lei, instaurar-se-á
inquérito policial, pela Polícia Federal:
I – de ofício;
II – mediante requisição do Ministério Público;
III – mediante requisição de autoridade militar responsável pela segurança interna;
IV – mediante requisição do Ministro da Justiça.
Parágrafo único – Poderá a União delegar, mediante convênio, a Estado, ao Distrito
Federal ou a Território, atribuições para a realização do inquérito referido neste artigo.
Além disso a aplicação do disposto no Art. 20 e ss, da Lei n. 7716/89 (Lei Caó).
Em face do exposto, as entidades religiosas e as pessoas que vivenciam as religiões de
matriz africana subscrevem o presente, para requerem a Vossa Excelência as seguintes
providências:
1) Que seja instaurado um inquérito civil público e criminal para a apuração dos fatos
apresentados no texto acima, nas cópias das reportagens jornalísticas impressas da
internet, e no dvd contendo as diversas apresentações desses grupos nos programas
religiosos patrocinados pela IURD, anexados ao manifesto/representação, quanto à
violação dos atos normativos internacionais e nacionais;
2) A realização de uma audiência pública na sede do MPF, objetivando não somente
esse fato, mas também, a prática do proselitismo, conversões forçadas ou mediante
coação psicológica e ideológica praticadas nos programas religiosos veiculadas nas Tvs
patrocinados pela IURD. A apropriação e desfiguração e ainda desqualificação de
rituais e liturgias das religiões afro-brasileiras objetivando pratica de captação e
conversão de fiéis, e as práticas de discriminação religiosa mediante atos, expressões e
ritualização de atos considerados como sendo de exorcismo, etc. Bem como o
chamamento da diretoria das redes de televisão que veiculam esses programas,
considerando a legislação que regula a concessão e o funcionamento dos canais de TVs
abertas e fechadas;
3) Após a realização dessas atividades e constada violação da legislação em relação aos
fatos denunciados, a propositura de um termo deajustamento de conduta com a IURD e
as TVs para acabarem com os fatos denunciados, além de reservar uma parte do horário
da programação às religiões afro-brasileiras se expressarem quanto a sua existência e
finalidades;
4) Que sejam.ajuizadas ações de cunho civil e criminal, objetivando a aplicação de
sanções penais e civis, tais.como: a) proibição da manutenção desses grupos; b) a
proibição da veiculação desses programas religiosos nos moldes que foram
denunciados; c) a reserva de horário na grade de programação da TV, em horário nobre,
para as religiões afro-brasileiras se posicionaram sobre os fatos narrados; d) a
condenação da IURD e da rede de televisão ao pagamento de uma indenização que se
destine a criação de um fundo para financiar a produção de mídias diversas contra a
intolerância religiosa, bem como a veiculação em jornais, rádios e emissoras de TV’s
(abertas e fechadas, de grande circulação e audiência), e ainda a implantação das leis
10.639/03 e 11645/08 (e suas alterações) nas escolas públicas de ensino fundamental e
médio; e) a dissolução da IURD e a perda da concessão das redes de rádio e TV do
Sistema Record.
______________________, 23 de março de 2015.
ASSINAM A REPRESENTAÇÃO / MANIFESTO:
NOMEE/OUINSTITUIÇÃO:_______________________________________________
______________________________________________________________________
____________________________________;CARGO:__________________________
____:CPFE/OUCNPJ:___________________________________:NACIONALIDADE:
_____________;IDENTIDADE:__________________,ÓRGÃO
EXPEDIDOR___________;ENDEREÇO COMPLETO COM
CEP:__________________________________________________
Ass: __________________________________________________
NOMEE/OUINSTITUIÇÃO:_______________________________________________
______________________________________________________________________
____________________________________;CARGO:__________________________
____:CPFE/OUCNPJ:___________________________________:NACIONALIDADE:
_____________;IDENTIDADE:__________________,ÓRGÃO
EXPEDIDOR___________;ENDEREÇO COMPLETO COM
CEP:__________________________________________________
Ass: __________________________________________________
NOMEE/OUINSTITUIÇÃO:_______________________________________________
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____________________________________;CARGO:__________________________
____:CPFE/OUCNPJ:___________________________________:NACIONALIDADE:
_____________;IDENTIDADE:__________________,ÓRGÃO
EXPEDIDOR___________;ENDEREÇO COMPLETO COM
CEP:__________________________________________________
Ass: _______________________________________________
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O Candomblé é a Religião da Natureza! Mas Nós
Sabemos Preservá-la?
Março 19, 2015 por Fernando D'Osogiyan
O Candomblé é a Religião da Natureza! Mas Nós Sabemos Preservá-la?
Podemos afirmar que o Candomblé é uma religião que cultua a natureza, sendo que os
nossos Òrìsàs possuem o domínio sobre cada elemento: água, terra, ar, fogo, etc. Nossos
cânticos evocam os poderes das águas dos rios, lagos, poços e oceanos. Nós
reverenciamos a chuva, tão sagrada e especial. Os Òrìsàs se comunicam por meio do
bril…ho do raio, pelo som que brada do trovão. Òsùmàrè desenha o céu com as cores
do arco-íris. Òsanyìn está vivo em cada planta, desde a mais singela à mais frondosa,
onde habita Iroko Oluwere Baba Igi. Obaluwaiye está vivo no redemoinho, na sagrada
terra em que os grãos de Òrìsà Oko se multiplicam, enfim, os Òrìsàs e a natureza se
misturam, se confundem, se completam. Mas, apesar de tudo isso, estamos sabendo
como preservar essa natureza tão rica e essencial para a sobrevivência da nossa religião?
No último mês, quando da realização de uma obrigação em uma cachoeira, nosso
querido Pai Pecê, ficou assustado e muito decepcionado com a quantidade de materiais
que agridem de forma brutal a natureza, depositados naquele local, como se fosse uma
espécie de lixão. Naquele espaço, que temos como sagrado, onde a natureza deveria ser
ovacionada pelo nosso povo, encontravam-se centenas de garrafas, plásticos, restos de
velas e muitos, muitos alguidares, sendo que grande parte já quebrados.
Em verdade, a cena remetia-nos as imagens de um filme de terror ou de um filme
futurista, no qual o único sinal de natureza é a existência de antigas fotos em museus,
para que as crianças tenham ideia de um mundo já inexistente. Sequer era possível
apreciar o espelho d’água, que insistentemente tentava burlar as barreiras criadas pelo
lixo acumulado.
Somos Àbòrìsà (adoradores de Òrìsà), por consequência, adoradores da natureza, dessa
forma, é inadmissível imaginar que alguém que adora e venera a natureza, possa
igualmente agredi-la de forma tão agressiva.
É muito importante conscientizarmo-nos de que:
Alguidar não é oferenda!
Garrafa não é oferenda!
Plástico não é oferenda!
Existem centenas de alternativas sustentáveis que podem e, principalmente, devem ser
utilizadas pelo nosso povo.
O antigo provérbio yorùbá já diz: Sem folhas, não há Òrìsà. As folhas são excelentes
alternativas aos alguidares. Quando for à natureza, realizar qualquer tipo de oferenda, ao
invés de utilizar alguidares ou terrinas de louça, utilize Ewé Lará (Folhas de Mamona)
ou Ewé Agba-o (Folhas de Embaúba). Líquidos podem ser colocados em Ado
(pequenas cabaças), ao invés de garrafas ou copos de vidro/plástico.
Dessa forma, você estará contribuindo para a preservação de um bem excessivamente
precioso para a nossa religião. Tanto as folhas (mamona e embaúba) como as pequenas
cabaças, são elementos que se decompõem de forma muito breve, não trazendo dano
algum à natureza, muito pelo contrário. Além disso, não causam riscos às pessoas, como
os pedaços de vidros e louças que podem causar ferimentos.
Em uma mata que há tempos não recebe a água das chuvas, uma vela pode causar
incêndios. Por isso, é essencial que, a utilização de velas seja restrita ao espaço físico
dos Terreiros. Nós somos os verdadeiros guardiões da natureza, por isso, devemos
pensar e agir como tal.
Faça a sua parte, conscientize os seus filhos, netos e amigos da religião, para que
protejam a nossa natureza. Se você for à mata, rio ou cachoeiras e deparar-se com
materiais que degradam os nossos espaços sagrados retire-os jogando-os no lixo.
Em breve, nós do Terreiro de Òsùmàrè, vamos nos reunir para retirar o lixo de um
importante espaço sagrado de Salvador (vamos comunicar com antecedência para que
todos também possam participar), mas essa iniciativa deve ser multiplicada. Reúna a
sua comunidade, escolha uma mata, um rio, uma cachoeira e recolha os materiais como
garrafas, plásticos e alguidares. Convoque as pessoas por meio das redes sociais e
contribua para a preservação e edificação da magnifica religião dos Òrìsàs. Registre a
iniciativa por meio de fotos e nos encaminhe para que possamos divulga-las.
Não se esqueça, cada um de nós possui um importante papal na sociedade!
Que Òsùmàrè, o Pai da nossa Comunidade, cubra cada um com bênçãos e felicidades!
Terreiro de Òsùmàrè
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Curso gratuito de mitologia Afro-brasileira
Março 13, 2015 por Dayane
Curso de MITOLOGIA Afro-brasileira
A RoundTable Mitológica Rio de Janeiro, segmento da Joseph Campbell Foundation,
através do SESC-RAMOS (RJ) administrará um curso GRATUITO sobre mitologia
afro-brasileira, que serão realizados em 4 encontros, começando pelo dia 17/03.
Caso queiram participar, entrem em contato com o SESC Ramos-RJ em horário
comercial no número 2290 2305.
Apresentação da Oficina
Mitos são histórias sobre o passado ancestral humano. O fenômeno mitológico é
encontrado em cada povo, cultura e nação do planeta, e consiste na dramatização em
linguagem lúdica e ficcional dos dramas e condições a que a natureza está submetida.
Não é diferente na Ásia, Europa, Oceania, Américas ou África. Cada continente, e cada
povo habitante desse continente, possui seu conjunto de mitos e crenças; estas histórias
são responsáveis por fundamentar a consciência comunitária, e estabelecer e fomentar
entre os indivíduos as suas relações sociais, psicológicas, religiosas, políticas.
Vamos aproximar o tema de outras mitologias e estudos de simbolismo comparado.
Plano da Oficina Mitologia dos Orixás – 2º Módulo
SESC Ramos – RJ – das 15h às 17h
Apresentação
1º Encontro – 17/03/2015
Omulu – O Curador Ferido
2º Encontro – 19/03/2015
Irôko – A Árvore e o Centro do Mundo
3º Encontro – 24/03/2015
Orunmilá – As Figuras do Destino
4º Encontro – 26/03/2015
Iansã – Os 9 Degraus do Círculo
Maiores informações: http://monomito.org/2015/03/08/mitologia-afro/
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Orixá Ozun
Março 9, 2015 por Fernando D'Osogiyan
Orixá Ozun
Ozun é um Orixá que atua como mensageiro de Obatalá, Olofim e Orunmilá, guardião
protetor das cabeças e daqueles que creem. É um espirito que nunca cai, sustentando
tudo de pé, o pilar, vida, saúde e mente; se, por infortúnio, cai, é precisa imediatamente
fazer-lhe uma oferenda e convocar o seu padrinho de Ifá, para realizar a cerimônia
correspondente. O cálice não poderá ser destampado nunca para ver o seu interior –
somente o Oluwo possui tal autoridade, pois é ele quem sabe o que ele contém e de
onde se origina o suporte nos odús de Ifá destinados para tal fim. Da mesma forma, o
osefá para o fechamento do cálice deve ser feito utilizando sinais específicos. Ninguém,
em nenhum tipo de cerimônia, poderá abri-lo, nem menos Oriatés, Babalorixás,
Iyalorixas. A única coisa que podem lhe dar é Obi.
Há pelo menos duas maneiras de se escrever o nome deste Orixá: Ozun e Ossu.
Segundo o Awô Eduardo Miguel Perea, em Cuba a maneira mais usada de se escrever é
Ozun.
Ozun ou Ossun, representa a união entre o aiyé e o orun, ou seja, o mundo material e o
céu metafísico habitado por diferentes entidades espirituais.
Ele é representado por um Galo sobre uma coluna e que nunca dorme e nunca
cai, sempre se mantém firme e de pé. Este Orixá tem a forma deformada e imperfeita e
está ligado diretamente com Orunmilá e se alimenta das mesmas oferendas de
Orunmilá.
O segredo de OZUN- A lenda.
OZUN vivia junto com OLOFIN e este lhe deu a virtude de guardar a saúde de todos os
filhos de OLOFIN na Terra. OZUN se pôs no caminho da casa de ORUNMILÁ,
vivendo ali como um guardião de ORUNMILÁ e seus filhos.
ORUNMILÁ era caçador e todos os dias pela manhã, quando saía para caçar, se
ajoelhava diante OZUN e o rogava e rezava:
OZUN LAYERE NIFA, OSIN TIKI TIKI KASORO SHANGÓ AWÓ OMÓ OSÁ
META IRE ARIKÚ.
Então fazia sacrifícios a OZUN e levava ao pé de IGUI MORURO e pegava elese ewé
(várias ervas) para ebó misin (banho de ervas).
Em uma dessas vezes que ele foi caçar, seus três filhos aproveitaram a ida de
ORUNMILÁ e foram ver, por curiosidade, que coisa OZUN tinha em seu segredo. Ao
abrir OZUN, os três morreram.
Quando ORUNMILÁ se deu conta do que tinha acontecido, ORUNMILÁ se ajoelhou e
começou a implorar a OZUN para que salvasse seus três filhos. Então ele fez outra
oferenda a OZUN cantando:
BABA ILASHÉ BABALASHÉ IBA OZUN
AGAGA LAWN OZUN LAYENIFÁ
Então OZUN devolveu a vida aos três filhos de ORUNMILÁ, mas com a condição de
que para abri-lo, teriam que fazer sacrifícios a ele.
No Brasil este Orixá é pouco conhecido. Seu culto está relacionado com o de Orunmilá,
mas cada Orixá pode ter o seu Ozun especifico. Cada um é montado de maneira
diferente e com ingredientes específicos, como o de Mãe Iansã que feito de cobre e que
leva nove facões como adorno e o do Pai Omolu que tem como Guardião um cachorro.
O Ozun de Obatalá leva ao invés do Galo um Pombo de asas abertas, que lembra a
história de Eiye kan, o primeiro pombo que veio reproduzir graças a Ifá. Este pombo
passou a chamar-se Eiyele ( no Brasil é chamado de Ilé), simboliza a honra e a
autoridade, por este motivo é ali colocado.
O SEGREDO DE OZUN- A lenda.
OZUN vivia junto com OLOFIN e este lhe deu a virtude de guardar a saúde de todos os
filhos de OLOFIN na Terra. OZUN se pôs no caminho da casa de ORUNMILÁ,
vivendo ali como um guardião de ORUNMILÁ e seus filhos.
ORUNMILÁ era caçador e todos os dias pela manhã, quando saía para caçar, se
ajoelhava diante OZUN e o rogava e rezava:
OZUN LAYERE NIFA, OSIN TIKI TIKI KASORO SHANGÓ AWÓ OMÓ OSÁ
META IRE ARIKÚ.
Então fazia sacrifícios a OZUN e levava ao pé de IGUI MORURO e pegava elese ewé
(várias ervas) para ebó misin (banho de ervas).
Em uma dessas vezes que ele foi caçar, seus três filhos aproveitaram a ida de
ORUNMILÁ e foram ver, por curiosidade, que coisa OZUN tinha em seu segredo. Ao
abrir OZUN, os três morreram.
Quando ORUNMILÁ se deu conta do que tinha acontecido, ORUNMILÁ se ajoelhou e
começou a implorar a OZUN para que salvasse seus três filhos. Então ele fez outra
oferenda a OZUN cantando:
BABA ILASHÉ BABALASHÉ IBA OZUN
AGAGA LAWN OZUN LAYENIFÁ
Então OZUN devolveu a vida aos três filhos de ORUNMILÁ, mas com a condição de
que para abri-lo, teriam que fazer sacrifícios a ele.
1. Bibliografia: Awô Eduardo Miguel Perea/ Ifa Ni L’Óru/Walter de Oxaguian
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Rio 450, belezas e durezas
Março 2, 2015 por Fernando D'Osogiyan
Rio 450, belezas e durezas
A cidade do Rio de Janeiro comemorou neste domingo 450 anos de fundação por
Estácio de Sá, sobrinho do terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá. Cidade de
inigualável beleza natural e acolhedora para alguns, mas tem na história a inglória dos
maus-tratos aos que considera indesejáveis.
No período das capitanias hereditárias, a orla do Rio, desde Cabo Frio, estava no âmbito
de São Vicente. As capitanias não eram propriedades daqueles a quem se entregavam os
títulos. Chamados donatários, tinham apenas a concessão de uso da terra que deveriam
cultivar e proteger. Este modelo de ocupação possibilitava a retomada da terra
improdutiva ou desprotegida.
O centro do Rio é similar à planta de Lisboa. Não fosse a derrubada do Morro do
Castelo, teríamos dois ladeando o Paço Imperial, que aqui passou a se chamar Praça 15,
mas lá ainda é Paço. Adentrando a cidade aqui temos a Praça Tiradentes, que já foi
Largo do Rocio, nome que ainda é ostentado por lá. Mas, em ambas, temos a estátua de
D. Pedro, que por aqui foi primeiro e por lá o quarto.
A história da cidade não pode estar dissociada do período que antecede sua fundação.
Dez anos antes, franceses fugidos das perseguições religiosas na Europa se
estabeleceram onde hoje é a Praia do Flamengo, na foz do Rio Carioca, e também
construíram um forte na Ilha de Serigipe, atual Ilha de Villegagnon, que sedia a Escola
Naval, atrás do Santos Dumont. Foram dizimados, juntamente com os povos nativos
que a eles se aliaram. A união de tribos que lutaram com os franceses ficou conhecida
como Confederação dos Tamoios e reunia a nação tupinambá, os guaianazes e os
aimorés. Tal reunião fora motivada pelos ataques portugueses que capturavam indígenas
para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar na Capitania de São Vicente, a única
que prosperou além da de Pernambuco.
Quem passa pelo Aterro e vê a Igreja da Glória, uma das mais belas obras da arquitetura
colonial do Brasil, não imagina que tem este nome em decorrência da glória sobre os
tamoios. O nome evoca o genocídio dos povos originários, que, recusando a
escravização, se aliaram aos protestantes que por aqui buscavam refúgio da intolerância
religiosa em seus países de origem.
Uma cidade não é uma abstração. É o conjunto de pessoas que nela se estabelecem. O
presente que podemos dar ao Rio em seus 450 anos, reescrevendo a história, pode ser a
convivência sem exclusões, indiferenças e a negação de direitos aos ‘indesejáveis’.
Texto: João Batista Damasceno -Doutor em Ciência pela UFF e Juiz de Direito
Não podemos esquecer dos Índios verdadeiros donos dessa terra, a Confederação dos
Tamoios, o grande Araribóia. O aniversário da Cidade exclui os Índios do tijuco e a
triste cina vivida por eles até hoje, servindo e sendo servido aos interesses, ora como
parceiros defensores de sua própria terra, ora como escravos devastando a própria
mata carregando o pau brasil.
A cidade do Rio de Janeiro embora linda e maravilhosa e tão decantada, é e sempre
foi, uma abstração total que muitas vezes se escondeu em falsos movimentos sociais de
aristocratas duvidosos e de políticos oportunistas.
No mais, o Rio de Janeiro continua lindo!
Fernando D’Osogiyan
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As eternas deliberações entre pais, mães e filhos
Março 1, 2015 por Da Ilha
O eterno conflito de geração.
Este (conflito) é muito mais forte em função da liberdade de expressão em todos os
níveis e incluiremos o salto tecnológico que esta geração de pais não conseguiu
alcançar.
Pais e Filhos, educação e religião.
Um tripé difícil de analisar, mesmo que individualmente.
Ifá fala seriamente sobre o respeito e louvor aos pais. A parte masculina eternamente
ligada ao Ará Ợrùn (Ancestrais masculino/Eégúngún) e a parte feminina ligada as Mães
Idosas (Ìyàámi), e dito por Ọlódùmarè, que elas são um òrìşà vivo e que todos devemos
nos prostrar perante o sexo feminino (Odù Òsétúrá).
A palavra de Deus é um bom tema para reflexão, um tema muito íntimo, onde seu Orí
deverá passar algumas horas lhe aconselhando e com certeza serão bons conselhos (ou
não).
O texto abaixo fala do respeito devido aos pais e a punição que será entregue em suas
mãos pelo próprio Èşù a mando de Ọlódùmarè (Odù Ìká‘fún, onde estão escritas as Leis
Sagradas de nossa religião).
A importância da abordagem é importante, pois, ela está ligada diretamente a algo que
saiu de moda há muito tempo. A educação esmerada dos filhos. As noções básicas de
direito, respeito, hierarquia e vocês podem completar a lista.
Se não tivermos o parágrafo acima, na ‘unha’, não conseguiremos fazer com que pais e
mães sejam honrados, eles seram meros pagadores de contas e fornecedores de abrigo e
abrigos cada vez mais longevos (os filhos estão demorando a sair de casa).
Não proponho e nem desejo de maneira nenhuma conduzir esta conversa dando palpite
sobre a melhor forma de se educar um filho ou a melhor maneira para se criar um filho.
Eu não sou a pessoa indicada.
Creio que o legado de nossa matriz nigeriana seja um pouco mais fértil no modelo
educacional social/religioso, não daremos peso a mentes brilhantes e nem formação
acadêmica, daremos peso a forma psicológica de educar e conduzir os anos infantis e a
puberdade de crianças nascidas em uma família yorùbá.
Veja matéria publicada anteriormente em:
https://ocandomble.wordpress.com/2013/06/27/ifa-e-a-familia-estendida/
Um exemplo bem prático de educação pessoal partiu de uma tribo Africana que teve um
de seus jovens pego em flagrante delito.
Ele foi colocado no centro da aldeia e durante dois dias ele ganhou um ‘sabão’ de todos
os moradores locais e parentes.
Todos, sem exceção, faziam questão de lembra-lo da pessoa boa que ele era, o que
esperavam dele e sua missão de bondade e bom caráter neste mundo.
Todos trabalharam para garantir o resgate deste caráter, que poderia se perder e seria
considerado uma derrota para a comunidade.
Um belo exemplo de trabalho em conjunto.
Os primeiros passos tortos, os primeiros deslizes, as primeiras ‘caneladas’, devem ser
conversadas/deliberadas a exaustão. A questão do assunto pessoal fez com que os
problemas/dúvidas dos filhos não fossem mais discutidos à mesa de almoço/lanche ou
jantar. Acabaram com a reunião familiar. Computador, som e televisão. Vídeo game,
Cam, instrumentos e ferramentas dos mais variados gostos e preços, fazem com que a
distância aumente cada vez mais e se desfaça os laços familiares.
Eu te amo se tornou tão banal, qualquer um diz no Face ou What Zap:
“Eu te amo amiga”.
E algum tempo depois este amor se desfaz. Tornando este sentimento banal e
corriqueiro, como é a Diva do Teatro ou a celebridade que fez apenas uma novela,
diferente daquela atriz que construiu uma carreira ao longo de meio século para ter o
devido reconhecimento.
Hoje tudo é celebridade, diva, te amo e amiga (o).
O texto pode nos levar a pensar que o saco vai encher rapidamente. Porém, educar é
encher o saco de alguém. É cobrar postura e atitude de alguém. E incentivar, dar apoio e
ajudar a descobrir a coragem escondida em algum lugar no peito de alguém.
Estas obrigações não devem ser transferidas para a professora, para o sacerdote ou para
o mago de plantão e livros de autoajuda.
Cansamos de ver pais e mães ligarem para o sacerdote pedindo para ele puxar a orelha
do filho que anda fazendo besteira.
Ele deveria ser repreendido dentro de casa, com a autoridade de quem educa, porém,
eles acham que o sacerdote tem mais força e poder sobre o seu próprio filho.
Não se deve comprar comportamentos com regalos e presentes, a responsabilidade de
um filho não deve ser uma mercadoria para sofrer escambo.
Se você passar no Enem te dou a viagem ou um carro.
O que é melhor, te deixo livre por um mês sem encher o saco e perguntar onde você foi.
As pessoas fazem qualquer coisa para se livrarem da frustração de ver a sua derrota
estampada na vida dos filhos.
O sentimento de culpa vai corroer como ferrugem e cupim.
E a velha pergunta virá à tona:
Onde foi que eu errei?
Erramos na educação, na cobrança, em saber dizer não e ter certeza que eles não vão
deixar de nos amar por causa disto.
Este apanhado de situações vão descambar, vão descer a ladeira e veremos muitas
famílias desequilibradas, pessoas medindo força e impondo a lei do grito ou do mais
forte (falo da mão pesada mesmo).
É a síndrome de Ọbàrà ìbì (negativo), impor sua vontade como se fosse um rolo
compressor e tome Bori para tentar alinhar as energias e acalmar o agente da
negatividade.
E a pessoa sai deste ritual e na primeira semana de descanso volta a querer viver aquela
vida de confronto novamente e tudo vai por água abaixo.
O sacerdote leva a culpa, como sempre.
Marmoteiro, não sabe fazer nada, cadê o resultado, gastei uma nota preta e ai…
Nada aconteceu!
É verdade. Umbigo só existe nos outros.
Estes são exemplos de filhos (todos inclusos) que passaram pelo processo de educação
social e não conseguiram terminar o ciclo enquanto outros felizmente conseguiram.
Neste momento entra nossa religião que oferece a oportunidade de ouro.
Morrer e renascer!
Quem não gostaria?
E mais, renascer com a sua maturidade, experiência e nível escolar/profissional
mantido!
É o céu na terra.
Engano!
Não é o céu na terra.
E o processo mais doloroso que um ser vivo pode experimentar em sua vida, nesta ou
em qualquer outra galáxia.
Iniciação não é passaporte para nada!
Assim escreveu um Babalawo:
Toda vez que expandimos a nossa consciência, o velho homem deve morrer e renascer
em uma nova e profunda sabedoria.
Deixando de lado o velho homem, deixando de lado velhas ideais, deixando de lado os
velhos modos de enxergar o mundo/vida, pode ser difícil e doloroso.
A experiência de viver a vida, no contexto da iniciação, nos dá uma experiência
simbólica de mudanças internas e externas que ocorrem a cada vez que expandimos a
nossa consciência.
Aqueles que procuram dar um fim às dificuldades, aos conflitos e aos desafios estão
buscando o fim desta vida e querem as bênçãos de uma nova vida (pós iniciação).
Na cosmologia de Ifá/Òrìşà, todas as formas de riqueza vêm como resultado da
transformação.
Palavras bonitas, mas, não é fácil e você não vai conseguir sozinho. Se não pedir ajuda a
pessoas que realmente estejam engajadas e preparadas para lhe ajudar, vai dar ruim!
No Odù Èjì Onilè (Èjì Ogbè) acharemos um verso bem atual:
Iniciamos você nos segredos de Ifá.
Você deve se reiniciar.
Foi assim que Èjì Ogbè (Èjì Onilé) foi iniciado.
Então ele mergulhou na floresta (autoconhecimento).
Iniciamos você nos segredos de Ifá.
Você deve reiniciar-se (você deve mudar sua conduta).
Se você chegar ao topo da palmeira (Igi Òpé).
Não deixe suas mãos soltas (não volte a viver aquela vida de antes).
Èjì Ogbè, o mais elevado de Odù, passou por auto iniciação, mesmo depois de ser
levado a floresta sagrada (Igbòdù) para a iniciação (Itelodù), ele mergulhou de volta
para a floresta. Este ato mostra que mesmo um iniciado deve voltar para a floresta, a fim
de ensinar a si mesmo.
É desta forma que a religião vai ajudar, vai te empurrar em direção a vida e manter o
reservatório de energia sempre cheio. Para que você tenha forças para lutar, foco para
desenvolver, perseverança para alcançar e humildade para aprender.
Educação para agradecer, conhecimento para repartir e saber que a Verdade é um ponto
sagrado e sensível para todos os òrìşà, incluindo nosso Deus/Ọlódùmarè.
O Odù Òsá’túrá nos brinda com uma das máximas de Deus:
Nesta pequena estrofe Ifá nos lembra que mesmo ao atingir nosso auge de entendimento
e conhecimento, nossa arrogância deve desaparecer, para que nossa mão não se solte e
possamos cair da palmeira.
Òsá Aláwo (Òsá’túrá) diz:
O que é a Verdade?
Eu digo:
O que é a Verdade?
A Verdade é o sacerdote do Ợrùn que protege o mundo.
Òrúnmìlá diz que a Verdade é o espírito que protege o mundo invisível.
A Verdade é o conhecimento que Ọlódùmarè está aplicando.
Òsá Aláwo a questão novamente é:
O que é o certo?
Eu digo:
Que é a Verdade?
Òrúnmìlá disse que a natureza de Òtító é o caráter de Ọlódùmarè
A Verdade é a palavra que não muda.
A Verdade é Ifá (A voz de Deus e todos os ensinamentos legados).
A Verdade é a palavra indestrutível.
A Verdade é o poder sobre todas as atribuições.
A bênção que dura para sempre.
Esta foi a declaração do Ifá aos habitantes da Terra.
Eles sempre foram avisados a fazer a coisa certa.
É preciso ser honesto.
Quem é correto será apoiado pelas divindades.
Àse.
Sobre isto Ogbè-Alárá (Ogbè’Òtúrá) diz e Ợbàtálá nos ensina:
Itọn
Ợbàtálá estava viajando de um lugar ao outro. Ele não conseguia engravidar sua esposa
por causa de suas frequentes viagens. Isto o deixava muito triste. No entanto, ele foi ao
Áwo para uma consulta com Ifá.
Ele foi aconselhado a oferecer sacrifício.
Ele cumpriu.
Também lhe pediram que levasse sua esposa nas viagens.
Ele também cumpriu.
Quando ele foi para a casa de um de seus amigos chamado Ládùbí, sua esposa ficou
grávida.
Ele teve que deixá-la para dar à luz, para que ele continuasse com suas viagens
frequentes. A mulher deu à luz a um menino que recebeu o nome de Agbon.
Quando a criança tinha dois anos de idade, Ợbàtálá pediu a sua esposa que o
acompanhasse novamente em suas viagens. A esposa concordou. Quando eles foram à
beira do rio. Ela deu à luz a outro menino.
Este menino recebeu o nome de Okunkun.
Dois anos depois, a esposa de Ợbàtálá, o seguiu novamente na viagem. Ela mais uma
vez ficou grávida e deu à luz a outro bebê masculino que recebeu o nome de Òpé Ìsàgá,
e ficou popularmente conhecido como Òpẹ.
Todos estes filhos ainda não estavam bem treinados.
Ợbàtálá deixou de viajar por causa deles. Ele foi residir em Ilè Ifè e lhes deu educação
social, moral, espiritual e econômica. A melhor que um pai poderia lhes dar naquele
momento. Quando eles se sentiram seguros que os filhos tinham crescido até uma fase
madura, eles se casaram e foram morar em suas próprias casas, um após o outro.
Quando Ợbàtálá estava seguro que eles poderiam tomar conta deles mesmos, ele
continuou com suas viagens.
Ợbàtálá então viajou ao outro lado do oceano, ao alto mar, onde os dezesseis reis viviam
(este local está dentro do oceano Atlântico. Esta civilização foi submergida pela água).
Isto levou dezesseis anos até ele voltar a Ilè Ifé. Quando ele regressou, seu primeiro
porto de parada foi à casa de Agbon. Ợbàtálá foi tratado miseravelmente por seu filho.
Ele não lhe ofereceu água, nem comida e nem ao menos foi hospitaleiro com seu pai.
Quando a noite chegou, ele pediu ao filho permissão para dormir, o filho lhe negou
bruscamente.
Ợbàtálá deixou a casa de Agbon e se dirigiu a casa de Okunkun. Ợbàtálá foi tratado pior
ainda. Ợbàtálá foi empurrado para fora de casa, quando já era tarde da noite. Ele então
se dirigiu a casa do terceiro filho Òpé-Ìsàgá.
Na casa deste, ele foi muito bem-vindo. Òpé-Ìsàgá acordou a casa inteira para anunciar
a chegada de seus pais. Ele lhes deu água fresca para beber, lhes deu comida, água para
se banhar e o melhor quarto da casa para eles dormirem. Ợbàtálá estava muito contente
com o tratamento que lhe foi dado na casa de Òpé-Ìsàgá
Uma semana depois de sua chegada, Ợbàtálá foi a sua própria casa. Ele se recolheu por
dezesseis dias. Durante este período Òpé-Ìsàgá foi o responsável por tudo que seus pais
precisaram. No décimo sexto dia Ợbàtálá convocou seus três filhos. Ele perguntou a
Agbon por que ele havia lhe tratado daquela maneira tão rude.
Agbon disse que era por que Ợbàtálá não informou sobre sua chegada a tempo e que ele
não tinha planos para a chegada deles.
Ợbàtálá perguntou a Òkùnkùn a mesma coisa. Òkùnkùn fez a mesma defesa, que Agbon
havia feito. Ợbàtálá perguntou a Ópè-Ìsàgà por que ele preferiu em vez de tudo, cuidar
de seus pais.
Ele disse que era responsabilidade de cada filho cuidar de seus pais.
Ợbàtálá então, disse à Agbon que não importa que esforços que se tenha que fazer na
vida, ele poderia fazer apenas pentes, mas, nunca poderia produzir mel. Ợbàtálá disse à
Òkùnkùn que ele também nunca seria útil a ele ou a qualquer pessoa na vida. Ele disse a
Òpé-Ìsàgá que ele seria abençoado em qualquer lugar que fosse e que nenhuma parte de
seu corpo seria inútil na vida. Tudo isso veio a acontecer.
Desde esse dia que Agbon (Cocô) não pode mais produzir mel ou ser útil, Òkùnkùn
(Trevas) não era útil ao tentar conseguir algo de valor ou que valesse a pena. As piores
coisas foram atribuídas a Òkùnkùn. Não haveria uma só parte de Òpẹ-Ìsàgà (Palmeira)
que não seja útil, sua raiz serve como combustível, de seu tronco se faz medicina
(remédios de Ifá) e pequenas pontes, suas sementes rendem azeite de palma (epo), suas
folhas servem como vassoura e a semente também se usa em adivinhação, faz-se
também uso para comida animal, combustível e assim sucessivamente.
Ifá diz que a chave do sucesso da pessoa em sua vida, é estar enquadrado junto com
seus pais. Se seus pais estiverem contentes com ele, seu sucesso estará garantido.
Por outro lado, se os pais não são bem tratados, não haverá milagre que trará qualquer
tipo de êxito a esta pessoa.
É este tripé que deve estar sempre alinhado, digo tripé, pois, aqui falamos para os
adeptos/ suplicantes, abìan e iniciados do culto de òrìşà.
É este tripé que deve sofrer investigação e estudo, não podemos simplesmente confiar
em nosso taco ou no deles (os filhos).
O respeito a pais e mães deve ter seu lugar especial dentro do caráter de cada um.
Finalizamos com um verso do Odù Èjì Onilè (Èjì Ogbè) que diz:
Eu me comporto como o meu Deus me criou.
Eu sempre faço o bem e também sou honesto.
Eu não faço o mal.
Eu não abrigo maus pensamentos.
Para que eu não morra miseravelmente.
O que nós iniciamos em nossa juventude irá persistir até a velhice.
Estas foram às declarações do oráculo para Òrúnmìlá e os 401 Irùnmolè
Quando vieram do Ợrùn para o Ayè.
Òlódùmarè os instruiu a fazer o bem sempre.
Na estrofe acima é evidente que com bons sentimentos, todos os obstáculos podem ser
superados. Somente com estes sentimentos teremos paz de espírito sempre. Por outro
lado, aqueles que fazem mal ou abrigam maus pensamentos, certamente vão ter
problemas, a menos que comecem o processo de mudança e comecem a se vigiar
constantemente. É o doloroso processo de mudança que trará a benção de uma vida
abençoada pelo òrìsà, pelo Odù e por Ǫlódùmarè.
Após, termos tomado conhecimento da importância e sacralidade de nossos pais não
poderemos mais nos comportar como antes:
Sobre isto o Odù Ọyẹku Ọbàrà diz:
Um rato nunca vai lamber uma melancia estragada e sobreviver
Essa foi à revelação de Ifá para Lásílo
Quem tinha uma ferida na perna esquerda
Porém optou por aplicar a medicação na perna direita
Aquele que acha que tem uma ferida na perna direita
Está enganando a si mesmo
Ire Aláàfià.
Texto de Odé Gbàfáomi
Esè Ifá (Versos de Ifá): Propriedade imaterial da Humanidade.
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O que é mediunidade?
Fevereiro 23, 2015 por Fernando D'Osogiyan
O que é mediunidade?
Mediunidade é a faculdade humana pela qual se estabelecem as relações entre homens e
espíritos. É uma faculdade natural, inerente a todo ser humano, por isso, não é privilégio
de ninguém. Em diferentes graus e tipos, todos a possuimos. O que ocorre é que, em
certos indivíduos mais sensíveis à influência espiritual, a mediunidade se apresenta de
forma mais ostensiva, enquanto que, em outros, ela se manifesta em níveis mais sutis.
A mediunidade é, pois, a faculdade natural que permite sentir e transmitir a influência
dos espíritos, ensejando o intercâmbio e a comunicação entre o mundo físico e o
espiritual. Trata-se de uma sintonia entre os encarnados (vivos) e os desencarnados
(mortos), permitindo uma percepção de pensamentos, vontades e sentimentos. O
Espiritismo vê a mediunidade como uma oportunidade de servir, de praticar a caridade,
sendo uma benção de Deus que faculta manter o contato com a vida espiritual. Graças
ao intercâmbio, podemos ter aqui não apenas a certeza da sobrevivência da vida após a
morte, mas também o equilíbrio para resgatarmos com proficiência os “débitos”, ou
seja, desajustes adquiridos em encarnações anteriores.
É graças à mediunidade que o homem tem a antevisão de seu futuro espiritual e, ao
mesmo tempo, o relato daqueles que o precederam na viagem de volta à erraticidade,
trazendo informes de segurança, diretrizes de equilíbrio e a oportunidade de refazer o
caminho pelas lições que absorve do contato mantido com os desencarnados. Assim,
possui uma finalidade de alta importância, porque é graças a ela que o homem se
conscientiza de suas responsabilidades de espírito imortal.
Sendo inerente ao ser humano, a mediunidade pode aparecer em qualquer pessoa,
independentemente da doutrina religiosa que abrace. A história revela grandes médiuns
em todas as épocas e todos os credos. Além disso, a mediunidade não depende de lugar,
idade, sexo ou condição social e moral.
A ação dos espíritos
Diz a questão 459 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: “Os espíritos influem
sobre nossos pensamentos e ações? A este respeito, sua influência é maior do que
podeis imaginar. Muitas vezes, são eles que vos dirigem”.
A idéia da ação dos espíritos não nasceu com o Espiritismo, já que sempre existiu desde
as épocas mais remotas da vida humana na Terra. Todas as religiões pregam sobre a
ação dos espíritos de forma direta ou indireta e nenhuma nega completamente estas
intervenções. Inclusive, criaram dogmas e cerimônias relativas a elas, como promessas
(pedir alguma forma de ajuda para um espírito em troca de um sacrifício) e exorcismos
(cerimônia religiosa para afastar o “demônio” ou os espíritos maus).
A ação mediúnica não está limitada às sessões, vivemos mediunicamente entre dois
mundos e em relação permanente com entidades espirituais. Isto se dá porque muitos
espíritos povoam os mesmos espaços em que vivemos, muitas vezes nos acompanhando
em nossas atividades e ocupações, indo conosco aos lugares que freqüentamos,
seguindo-nos ou evitando-nos conforme os atraimos ou repelimos.
Estamos cercados por espíritos e sua influência oculta sobre os nossos pensamentos e
atos se faz sentir pelo grau de afinidade que mantivermos com eles. Inúmeros espíritos
benfeitores também se comunicam conosco, por via inspirativa ou intuitiva, todas as
vezes em que nos dispomos a ser úteis aos nossos irmãos em nossa vida social. Quantas
vezes um conselho sensato e oportuno que damos sob a intuição de um benfeitor
espiritual consegue mudar o rumo de uma vida e até, em certos casos, salvar ou evitar
que uma família inteira seja precipitada no abismo de uma desgraça? O amor verdadeiro
e desinteressado não requer lugar nem hora especial para ser praticado, pois o nosso
mundo, com o sofrimento da humanidade torturada, é igualmente um vasto campo de
serviço redentor.
Entretanto, não julguemos que a mediunidade nos foi concedida para um simples
passatempo ou para a satisfação de nossos caprichos. Ela é coisa séria e, possuindo-a,
devemos procurar suavizar os sofrimentos alheios. Ao desenvolvermos a mediunidade,
lembremo-nos de que ela nos é dada como um arrimo para conseguirmos mais
facilmente a perfeição, para liquidarmos mais suavemente os pesados “débitos” que
contraímos em existências passadas e para servirmos de guia aos irmãos que se
encontram mais desajustados espiritualmente.
Mediunidade em desarmonia
Existem alguns sinais mais freqüentes do aparecimento da mediunidade em desarmonia,
que são: cérebro perturbado, sensação de peso na cabeça e ombros, nervosismo (ficamos
irritados por motivos sem importância), desassossego, insônia, arrepios (como se
percebêssemos passar alguma coisa fria), sensação de cansaço geral, calor (como se
encostássemos em algo quente), falta de ânimo para o trabalho e profunda tristeza.
Precisamos usar nosso bom senso para percebermos com clareza se os sintomas acima
citados são frutos de uma obsessão espiritual, indicando uma mediunidade
desequilibrada, ou o resultado de uma auto-obsessão, um desequilíbrio nosso mesmo,
gerando neuroses e outros tipos de distúrbios. Muitas vezes, a ajuda de um psicólogo, de
preferência espírita ou espiritualista, é necessária.
Mas o que o médium deve fazer nestes momentos de alterações emocionais? Todo
iniciante, a fim de evitar inconvenientes na prática mediúnica, primeiramente deve se
dedicar ao indispensável estudo prévio da teoria e jamais se considerar dispensado de
qualquer instrução, já que poderá ser vítima de mil ciladas que os espíritos mentirosos
preparam para lhe explorar a presunção.
Junto com o conhecimento teórico, o médium deve procurar desdobrar a percepção
psíquica sem qualquer receio ou temor. Na orientação do desenvolvimento mediúnico, é
importante que ele procure as instruções espíritas, para evitar percalços e dissabores. É
aconselhável o desenvolvimento mediúnico em grupos especialmente formados para
isto, pois pessoas bem orientadas, que se reúnem com uma intenção comum, formam
um ambiente coletivo bem favorável ao intercâmbio. É importante também que o
médium jamais abuse da mediunidade, empregando-a para a satisfação da curiosidade.
Reforma Íntima – o fundamental
Educar e desenvolver a mediunidade é aprender a usá-la. Para que sejamos bem-
sucedidos, devemos cultivar virtudes como a bondade, a paciência, a perseverança, a
boa vontade, a humildade e a sinceridade. A mediunidade não se desenvolve de um dia
para o outro, por isso, devemos ter muita paciência. Sem perseverança, nada se alcança,
pois o desenvolvimento exige que sejamos sempre persistentes. Ter boa vontade é
comparecer às sessões espíritas com alegria e muita satisfação. A humildade é a virtude
pela qual reconhecemos que tudo vem de Deus e, se faltarmos com a sinceridade no
desempenho de nossas funções mediúnicas, mais cedo ou mais tarde sofreremos
decepções.
Ensinamentos é que não faltam em todas as circunstâncias de manifestações da vida. A
faculdade mediúnica em harmonia pode fazer grandes coisas. A educação pode começar
no simples modo de falar aos outros, transmitindo brandura, alegria, amor e caridade em
todos os atos da vida.
A mediunidade se desenvolve naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para a
captação mental e sensorial de coisas e fatos do mundo espiritual que nos cerca, o qual
nos afeta com suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma que a inteligência e
as demais faculdades humanas, a mediunidade se desenvolve no processo de relação.
Quando a mediunidade aflorar sem um preparo prévio do médium, é preciso orientá-lo
para que os fenômenos se disciplinem e ele empregue acertadamente sua faculdade. Não
se deve colocar em trabalho mediúnico aqueles que apresentam perturbações ou que
possuam desconhecimento sobre o assunto. Primeiramente, é preciso ajudar a pessoa a
se equilibrar no aspecto psíquico, através de passes, vibrações e esclarecimentos
doutrinários.
É fundamental que o médium busque sua reforma íntima com sinceridade. Através de
uma compreensão maior acerca da vida, despertando sentimentos como compaixão,
respeito, humildade etc, e da prática da caridade, seremos, com certeza, instrumentos do
Amor Universal. O médium também precisa ser amigo do estudo e da boa leitura, além
de moderado. Por fim, deve sempre cultivar a oração diária, pois ela é um poderoso
fortificante espiritual e um benéfico exercício de higiene mental.
Muito diferente da Umbanda , no Candomblé a palavra médium não é usada , pois
entendemos os Orixás como espíritos da natureza, forças sobrenaturais que,
independente de religião, credo e cultura, entende-se que todo ser humano tem seu
Orixá. Esse conjunto de energias que está invisivelmente ao nosso redor, dispõe-
se gratuitamente ao nosso alcance, cabe-nos despojarmos e estar atento para os
sinais que nos são enviados por Orunmilá. Quando o Orixá nos escolhe, cabe-nos a
necessidade voluntária de dispor-nos a sua vontade, o livre arbítrio fica à prova. O
importante é seguir os sinais e entender que existem: dogma, liturgia, e teologia, como
princípios básicos em nossa religião.
Texto: Revista Cristã de Espiritismo/ Fernando D’Osogiyan
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Aves Sagradas
Fevereiro 19, 2015 por Fernando D'Osogiyan
AVES SAGRADAS
As Aves Sagradas do Candomblé
O Candomblé é uma religião que tem na natureza a base para a sua sobrevivência. Para
nós, existem muitos animais que são sagrados e venerados. Hoje vamos falar sobre das
7 mais importantes aves do Culto ao Orisa. Aves que possuem prestígio inigualável,
frente as demais: Agbe, Aluko, Lekeleke, Odidere, Akoko, Agbufon e Opere.
Uma antiga história yorùbá, diz que Olodunmare Eleda Ohun Gbogbo, o criador de
todas as coisas, disse que 06 pássaros seriam primordiais, inigualáveis e de prestígio
inquestionável no Aye. Disse que esses pássaros seriam respeitados como as próprias
Divindades.
Os Adivinhos queriam saber quais seriam os pássaros e o que os diferenciariam dos
demais. Olodunmare disse que esses pássaros seriam transformadores de Asè, ele disse
que esses pássaros carregariam o próprio Asè. Mas como eles seriam detentores de Asè,
como eles carregariam o Asè?
Olodunmare então chamou o pássaro Agbe e disse: Agbé você será detentor de Asè,
você carregará em seu corpo o próprio Asè. Agbé questionou o que deveria fazer. Você
deverá banhar sua plumagem no Aro. Agbe o fez, ganhou beleza e passou a receber
honrarias. Agbé agora é um primordial inigualável.
Mas, ainda faltavam 05 pássaros. Olodunmare então chamou o pássaro Aluko e disse:
Aluko você será detentor de Asè, você carregará em seu corpo o próprio Asè. Aluko
questionou o que deveria fazer. Você deverá banhar sua plumagem no Osun. Aluko o
fez, ganhou beleza e passou a receber honrarias. Aluko agora é um primordial
inigualável.
Mas, ainda faltavam 04 pássaros. Olodunmare então chamou o pássaro Odidere e disse:
Odidere você será detentor de Asè, você carregará em seu corpo o próprio Asè. Odidere
questionou o que deveria fazer. Você deverá banhar sua plumagem no Epo Pupa.
Odidere o fez, ganhou beleza e passou a receber honrarias. Odidere agora é um
primordial inigualável.
Mas, ainda faltavam 03 pássaros. Olodunmare então chamou o pássaro Lekeleke e
disse: Lekeleke você será detentor de Asè, você carregará em seu corpo o próprio Asè.
Lekeleke questionou o que deveria fazer. Você deverá banhar sua plumagem no Efun.
Lekeleke o fez, ganhou beleza e passou a receber honrarias. Lekeleke agora é um
primordial inigualável.
Mas, ainda faltavam 02 pássaros. Olodunmare então chamou o pássaro Akoko e disse:
Akoko você será detentor de Asè, você carregará em seu corpo o próprio Asè. Akoko
questionou o que deveria fazer. Você poderá usar a coroa vermelha. Akoko vestiu a
coroa, ganhou beleza e passou a receber honrarias. Akoko agora é um primordial
inigualável.
Mas, ainda faltava 01 pássaro. Olodunmare então chamou o pássaro Agbufon e disse:
Agbufon você será detentor de Asè, você carregará em seu corpo o próprio Asè.
Agbufon questionou o que deveria fazer. Você receberá a outra coroa. Agbufon vestiu a
coroa, ganhou beleza e passou a receber honrarias. Agbufon agora é um primordial
inigualável.
Depois disso, Olodunmare disse que nenhuma outra ave seria inigualável e de prestígio
inquestionável no Aye. Mas havia outro pássaro, que não parava de reclamar, ele queria
ser inigualável e de prestígio, esse pássaro era Opere. Olodunmare então disse que
cortassem a cauda de Opeere e que isso o diferenciaria dos demais, uma cauda muito
curta.
Assim, essas 7 aves tornaram-se importantes no culto ao Orisa, sendo veneradas. Em
outras oportunidades, abordaremos outras aves também muito importantes, como
Adaba, Akalamagbo, Tangalá, entre outras.
Que Osumare Araka continue olhando e abençoando todos!
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Èwé Akòkó
Fevereiro 9, 2015 por Fernando D'Osogiyan
AKOKO
A árvore do Akoko é uma das mais importantes e sagradas do culto aos Deuses
Africanos.
A folha do Akoko chegou ao Brasil por meio dos africanos que aqui aportaram e
perpetuaram a sua cultura. Seu nome científico é Newboldia Laevis. Embora não seja
uma árvore nativa do nosso País, é comum encontrar árvores de Akoko nos Terreiros de
Candomblé do Brasil, sendo que suas folhas e tronco são indispensáveis para a nossa
religião.
As folhas de Akoko são tão importantes, que são utilizadas para consagrar os títulos
honoríficos e religiosos que os seguidores do Candomblé recebem. Uma antiga cantiga
yorùbá, versa que não há título sem Akoko. Em outra cantiga diz que a consagração do
título ocorre por meio das folhas de Akoko (Akoko Ewe Oye Akoko, Ewe Oye Ni….).
Outra cantiga fala da ligação da sagrada ave Agbe com a árvore de Akoko, explicando a
ligação dela com os títulos.
As folhas de Akoko são utilizadas em diversos rituais, bem como, o seu tronco. Os seus
galhos possuem uma forte ligação com os ancestrais, uma cantiga discorre sobre isso
“Olorun Olopa….”. Nesse caso, “Olopá” faz alusão aos galhos consagrados de Akoko
para os ancestrais.
Há ainda, Divindades que moram aos pés dessa árvore. Na África, por exemplo, existem
assentamentos de Ògún, o Deus Guerreiro, aos pés dessa árvore.
Não podemos aqui, falar sobre todas as utilidades da Árvore, Folhas, Tronco e Galhos
do Akoko, mas, à exemplo do Igi Ope (Dendezeiro) é uma árvore que no Candomblé,
todas as suas partes possuem uma importante função.
O Terreiro de Òsùmàrè espera ter contribuído um pouco, para o esclarecimento dos
temas relacionados ao nosso Candomblé.
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Nasce o termo Ìyàwò
Fevereiro 4, 2015 por Da Ilha
O Odù Ogbè’Ògúndá revela:
Iton:
Ìyà era a filha de Oníwòó o rei de Ìwò. Ela era muito bonita e trabalhadora. Ela era
muito querida por Oníwòó. No entanto, Oníwòó resolveu ativar sua opção de um
companheiro para ela. Oníwòó queria se assegurar que qualquer um que quisesse casar
com sua filha deveria ser paciente e não deveria perder o controle facilmente. Ele
colocou a provo todos os pretendentes de sua filha e todos falharam. Òrúnmìlá então foi
a alguns de seus estudantes para consultar Ifá e determinar se ele se casaria ou não com
a filha de Oníwòó e também quis saber se a relação seria frutífera e feliz para os dois.
Os estudantes o asseguraram que seria muito bom se ele entrasse neste projeto. No
entanto ele foi aconselhado a ser muito paciente e não perder o controle. Ele estava
informado que os pais de Ìyà colocariam muitas provas em seu caminho para determinar
o nível e o tamanho de sua paciência. Então ele foi aconselhado a oferecer um galo, epo
e dinheiro (tanto ele/a devem realizar ritual para Ifá com dois ratos, peixe e dinheiro).
Ele cumpriu sua tarefa.
Quando Òrúnmìlá chegou ao palácio de Oníwòó, ele foi recebido calorosamente e foi
convidado a ir para seu quarto dormir. Desconhecido de Òrúnmìlá o quarto era uma
pocilga dos porcos de Oníwòó. Acima dele era onde as galinhas de Oníwòó ficavam.
Òrúnmìlá foi mantido dentro deste quarto sem comida e sem água. Ele fedia muito e as
galinhas defecavam sobre o seu corpo. Ele não saiu de seu quarto, não pediu comida ou
água ele não pediu para tomar banho e limpar seu corpo.
No quarto dia, Oníwòó chamou Òrúnmìlá ao palácio, quando se apresentou ele estava
completamente coberto de fezes e fedia terrivelmente. Ele perguntou se Òrúnmìlá havia
desfrutado de sua estadia no seu quarto. Òrúnmìlá disse que o quarto era como se fosse
um segundo palácio para ele. Ele pediu para Òrúnmìlá trocar de quarto e ficasse ao lado
da cozinha, ele estava se afogando no calor e na fumaça.
Ele permaneceu no quarto durante outros três dias sem comida ou bebida, no quarto dia
ele foi convidado para ir ao palácio na presença de Oníwòó. Oníwòó lhe perguntou se
ele havia desfrutado de sua estadia no novo quarto. Òrúnmìlá disse que o quarto era
muito agradável. Oníwòó pediu que Òrúnmìlá fosse alimentado pela primeira vez. Ele
comeu da comida do rei.
O próximo quarto dado a ele estava cheio de água rançosa, vermes e insetos, ele não
pôde dormir durante três dias e quando chegou o quarto dia pediram-lhe para deixar o
quarto, ele tinha muitas picadas de inseto por todo seu corpo. Quando Oníwòó lhe
perguntou se ele havia desfrutado sua estadia no novo quarto Òrúnmìlá respondeu
afirmativamente.
Durante três meses Òrúnmìlá estava passando prova em cima de prova. Ele suportou
tudo sem queixa. Os próximos três meses foram provas físicas, como reduzir árvores
imensas, limpar grandes extensões de terra e carregar cargas pesadas por longas
distancias de um lugar ao outro. Ele fez tudo sem queixa.
Depois disto Oníwòó convocou Òrúnmìlá para encontrá-lo, tomar um banho e trocar de
roupa (presente do rei). Antes que ele fosse até a corte do palácio, ele descobriu que em
todos os lugares as pessoas estavam muito felizes por ele e havia um clima festivo.
Todos estavam cantando, dançando e festejando. Oníwòó pediu a Òrúnmìlá que se
sentasse ao seu lado, ele fez. Oníwòó entregou a mão de Ìyà como esposa de Òrúnmìlá.
Oníwòó louvou a paciência de Òrúnmìlá e gentileza ao longo de todas as provas por que
passou. Ele então pediu a Òrúnmìlá para cuidar de Ìyà, já que havia se mostrado capaz
de tomar conta de uma mulher.
Òrúnmìlá estava cheio de alegria, ele havia tido êxito onde muitos haviam falhado. Ele
então disse aos seus estudantes que todas as mulheres que se casassem com um homem
e passassem a viver debaixo de sua capa deveria ser chamada de Ìyà-Ìwo ou Ìyàwò (o
sofrimento de Ìwo). Ele chamou sua nova Ìyà-Ìwo de Èrè (os ganhos para o sofrimento
do povo de Ìwo). Todos eles e também seu chefe.
Depois deste dia todas as noivas se tornaram conhecidas como Ìyàwò.
A raiva não é frutífera
Paciência é o pai do bom caráter
O ser superior possui tudo
Estas foram às declarações do oráculo de Òrúnmìlá
Quando ele ia buscar a mão de Ìyà (sofrimento).
A filha de Oníwòó (rei de Ìwò)
Ele foi aconselhado a oferecer sacrifício
Ele cumpriu.
Logo depois, não muito tempo depois.
Encontremo-nos em meio a todo iré
O sofrimento que Òrúnmìlá experimentou em Ìwó
Não merece pena.
Olhem minha Ìyàwò (o prêmio pelo sofrimento de Ìwó).
Ire Aláàfià;
—
Coletado em Ifá Dida 2.
Oluwo Popoola
Tradução Odé Gbàfáomi
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Òşún cura com agbo (a bebida medicinal) e o local da
cura em Ọșogbo se chama Idi Oru.
Janeiro 28, 2015 por Da Ilha
Òdí’Ìrètè – Ìdin’Ìrẹtẹ – Idin-Amileke (Nomes deste Odù) diz:
Itọn:
Nos tempos em viagens missionárias de Ọrúnmìlá a terra yorùbá de Ọșogbo, ele se
encontrou com Òşún. Ọrúnmìlá encontrou Òşún através de Alárè Ountoto que era o
Baàlè (o chefe dos pagamentos) antes de se tornar conhecido em Ọșogbo. Ifá disse que
Alárè Ountoto convidou Ọrúnmìlá para adivinhação e trabalhos espirituais.
Neste momento Alárè consultou Ifá através de Ọrúnmìlá para a paz, bem estar e
tranquilidade de pagamentos. A divinação de Ọrúnmìlá ia descrever o ebo necessário
para Alárè Ountoto. Ele manteve os rituais para o ebo. O ebo foi devidamente feito.
Como esperado, as orações de Ọrúnmìlá se inflaram e as coisas mudaram para melhor
em Ọșogbo.
Ọrúnmìlá ainda estava na casa de Alárè Ountoto quando Òşún ouviu falar dele e foi
visitá-lo. Chegando a casa, Òşún consultou Ifá. Ọrúnmìlá lhe disse que seu problema
era a falta de filhos e que a posse de seu marido e amor foi conseguida com inúmeros
encantos e feitiços e isto era a causa da falta de filhos. Ọrúnmìlá disse à Òşún que para
ter filhos ela deve deixar seu marido, Okokoro. Entretanto Okokoro era muito poderoso
e organizava o pagamento de Ifá, Okokoro tem muitos encantos potentes e muitos
feitiços para serem usados.
Òşún estava desesperada por filhos, ela estava preparada para assumir qualquer risco,
mesmo que isto envolvesse a ira de seu marido. Òşún teve determinação para enganar
seu marido. No entanto, enquanto ela estava pensando sobre as mensagens de Ifá, ela
estava ao mesmo tempo cheia de admiração por Ọrúnmìlá. Ela decidiu propor amizade a
ele. Ela disse à Ọrúnmìlá que havia gostado muito dele e propôs ser sua amante.
Ọrúnmìlá concordou. As coisas começaram a acontecer. Alguns meses de aventura
amorosa e Òşún engravidou, não de seu marido, mas de Ọrúnmìlá.
A gravidez de Òşún era muito inquietante para seu marido Okokoro. Antes disso,
Okokoro recebeu informações e muitas dicas sobre o que se passava entre sua esposa
Òşún e Ọrúnmìlá. Como resultado desta gravidez ele decidiu desafiar Ọrúnmìlá para
uma luta.
Okokoro estava seguro de seus poderes, encantos e magias. E que a figura de Ọrúnmìlá
não seria problema por que tudo que ele precisava fazer seria lançar todos os feitiços e
magias fortes em Ọrúnmìlá.
Durante o tempo das ameaças de Okokoro, Ọrúnmìlá havia deixado Ọșogbo para ir a
outro lugar de acordo com seu trabalho missionário.
Quando Alárè Ountoto quis fazer nova consulta a Ifá, ele mandou aviso para Ọrúnmìlá,
no entanto, antes de partir de Ọșogbo, ele já havia ouvido falar das más intenções de
Okokoro contra ele. Típico de Ọrúnmìlá, ele estava tranquilo.
Quando chegou a Ọșogbo, como de costume, ele ficou na casa de Alárè Ountoto. A
notícia de sua chegada espalhou-se rapidamente. Como um morador da cidade Okokoro
ouviu a notícia e foi ao encontro de Ọrúnmìlá. Ele encontrou Ọrúnmìlá. Ele desafiou
Ọrúnmìlá para uma luta, porém, encontrou uma parede de pedra. O fato de Ọrúnmìlá
nem demostrar que sua presença era importante o enfureceu e ele não perdeu tempo
soltando seus feitiços perigosos em Ọrúnmìlá. As magias e feitiços que foram lançadas
por Okokoro tornaram Ọrúnmìlá mais forte, porém, ele seguiu lançando.
Inicialmente Ọrúnmìlá estava calmo e tranquilo, quando Okokoro começou a se
enfurecer, porém, quando ficou claro que Okokoro não venceria, Ọrúnmìlá determinou
a ele parar com a luta e ao mesmo tempo ele o transformava em um rio. Okokoro
imediatamente foi transformado em um rio. Este rio tornou-se conhecido como Odò
Okokoro. Odò Okokoro é um rio muito conhecido em Ọșogbo. A transformação
misteriosa de Okokoro em rio significava que Òşún estava livre dele. Assim ela propôs
casamento a Ọrúnmìlá. Ọrúnmìlá aceitou e eles se casaram. Òşún deu muitos filhos a
Ọrúnmìlá em Ọșogbo. O local onde Ọrúnmìlá e Òşún tiveram seu primeiro contato
físico, mais tarde, foi designado como um local sagrado.
É conhecido como Idi Òşún, o centro de um igbà de Òşún. Este local, Idi Òşún, ainda
mantém este nome em Ọșogbo.
Embora Ọrúnmìlá tivesse família em Ọșogbo, ele não estava ligado a esta terra. Ele
continuou seu roteiro de trabalho missionário que o levou para fora de Ọșogbo e muitos
outros lugares e povos em sua missão curativa.
Uma coisa era certa, de tempos em tempos ele estava em Ọșogbo, ele sempre enchia
Òşún com medicamentos especiais de Ifá para que ela administra-se em seus numerosos
clientes enquanto ele estava longe. Ọrúnmìlá sempre se assegurava que as medicinas
(remédios) seriam suficientes até seu retorno a Ọșogbo. Estas medicinas especiais de Ifá
normalmente eram em forma de agbo (chá medicinal, que também pode ser chamado de
uma invenção nativa ou uma bebida). O uso deste agbo: bebida, banho ou guarda
bênçãos.
O lugar designado para fazer este agbo se chamou Idi Oru e agora é um local sagrado
em Ọșogbo.
O agbo que Ọrúnmìlá preparou para Òşún era particularmente muito poderoso e hábil
para vários trabalhos de cura, durante sua ausência deste povoado. Este poder de cura
trouxe Òşún para o foco, que sua proeza espiritual era sempre o assunto da cidade.
O reconhecimento do povo por Òşún foi trazido por Ọrúnmìlá que agregou respeito, por
que as pessoas sabiam que seu poder e fama vieram pela graça especial de Ọrúnmìlá.
No entanto, enquanto a maioria dos cidadãos adorava Ọrúnmìlá e esperava
ansiosamente sua próxima visita ao povoado, os Adahunse (Espiritualistas,
clarividentes, os leitores de mão, herbalista e outros nesta linha) o odiavam. Seu ódio
por Ọrúnmìlá vinha dele fazer com que todos do povoado viessem até ele para
adivinhação e sanar seus problemas físico-espirituais, sempre que ele visitava Ọșogbo.
Em vez de trabalhar para melhorar os seus difíceis serviços espirituais e ganhar o
respeito do povo, os Adahunse culpavam Ọrúnmìlá pela lentidão em seus ganhos
sempre que Ọrúnmìlá visitava o povoado. Eles viram Ọrúnmìlá como uma grave
ameaça a seus negócios. Conscientes de suas limitações espirituais, os Adahunse não
poderiam se confrontar com Ọrúnmìlá por que ele superaria seus parcos poderes. Pior
ainda, eles perceberam que qualquer confronto seria suicídio. Consequentemente eles
marcaram uma reunião para decidir o que fazer com ele. Os Adahunse consideraram
muitas opções, para adotar um plano contra Ọrúnmìlá fora de Ọșogbo, na próxima visita
que ele fizesse.
Eles não poderiam fazer isto sozinho, eles precisariam da ajuda do Baàlè (o cabeça dos
pagamentos). Felizmente para eles, Ọrúnmìlá sempre se alojou na casa do Baàlè e foi a
ele que recorreram. Os Adahunse foram a Alárè Ountoto, seu Baàlè e contaram muitas
histórias falsas sobre Ọrúnmìlá. Eles disseram que ele era muito imprudente em
continuar a convidar Ọrúnmìlá para vir em Ọșogbo. Ao final da longa narrativa, eles
persuadiram o Baàlè a dizer a Ọrúnmìlá que da próxima vez que viesse a Ọșogbo sua
presença não era mais benvinda. Alárè Ountoto estava de acordo e lhe prometeu sua
plena cooperação.
Uma vez mais era hora e tempo de Ọrúnmìlá visitar Ọșogbo. Quando ele chegou à
cidade, ele foi direto, como de costume, aos aposentos do Alárè Ountoto. Alárè Ountoto
não poderia mandar Ọrúnmìlá voltar imediatamente sendo ele querido por tanta gente.
Devido a sua boa amizade ele permitiu que ele passasse a noite em sua casa. De acordo
com sua promessa, sem demora, ele foi até Ọrúnmìlá muito cedo na manhã seguinte e
lhe disse que seus serviços não eram mais necessários e que ele deveria deixar sua casa
e o povoado imediatamente. Ọrúnmìlá lhe pediu uma explicação para sua súbita decisão
de mandá-lo embora de seus aposentos e da cidade. Ele disse que não tinha nenhuma
explicação para lhe dar ou outra maneira de lhe falar que o queria fora de seus aposentos
e da cidade. Sem argumento ou mais alguma informação Ọrúnmìlá arrumou suas coisas
que eram basicamente seu adorno de Ifá e os colocou em seu Àmininjekun apo (sacola
sagrada de Ifá). Entretanto ele decidiu pagar as pessoas com sua própria moeda antes de
ir.
Ele pegou seu Òsòòrò Òpá (osun Ifá / Ifá pessoal) e o apontou para o òrun.
No momento em que fez isto, um eclipse súbito se apoderou do povoado inteiro e cada
espirito vivo foi dormir imediatamente. Ọrúnmìlá amaldiçoou a cidade pela plenitude
do seu tratamento ingrato e injusto para com ele através de seu Baàlè, Alárè Ountoto.
Ele deixou a cidade e foi para outro lugar.
Òşún foi a primeira pessoa a ver os sentidos da esquerda de Ọrúnmìlá. Òşún olhou em
volta e ficou assustada com o que viu.
Ela rapidamente supôs que uma calamidade havia se sobrepujado sobre a cidade. Ela
também sabia que o que aconteceu estava acima de seus poderes, ela precisava mirar o
òrun.
Porém, ela precisava mandar alguém chamar Ọrúnmìlá. Para fazer isso significava que
ela teria que recorrer a seus escravos. Ela trabalhou freneticamente com alguns deles,
porém, apenas um se prontificou. Ela se alegrou com o êxito por que ela não precisaria
usar os escravos de Alárè Ountoto, ela ficou feliz em saber que não era a única pessoa
acordada em toda a cidade. Ela enviou seu escravo aos aposentos do Alárè para ver
Ọrúnmìlá. Como um vento ele correu até os aposentos do Alárè, porém, voltou para
dizer a Òşún que Ọrúnmìlá já havia partido. Òşún supôs imediatamente que o fenômeno
antinatural que ocorreu era um tipo de punição para alguma coisa que o povo da cidade
tivesse feito. Ela também supôs que somente Ọrúnmìlá poderia controlar a situação.
Correndo contra o tempo, Òşún correu em perseguição a Ọrúnmìlá e rastreava seu
caminho pelas trilhas. Entre andar rápido e correr, Òşún alcançou Ọrúnmìlá no ponto
em que ela estava para cruzar a fronteira de Ọșogbo para outro povoado. Ela se agarrou
a Ọrúnmìlá e lhe disse que ela não permitiria que ele partisse sem que dissesse o que
havia acontecido de errado. Ọrúnmìlá lhe disse que alguns Adahunse ficaram contra ele
e ficou surpreendido com o conluio do Alárè Ountoto com eles. Ele concluiu que se os
filhos e as pessoas queriam os Adahunse para eles, eles deveriam cuidar do que havia
ocorrido com o povo. Òşún concluiu que Ọrúnmìlá era o único que poderia desfazer a
calamidade. Ela começou rogando o perdão em nome de seu povo. Ela rogou e rogou.
Logo depois, Ọrúnmìlá rendeu-se e disse que antes dele reverter à maldição, o povo
necessitava proporcionar eku, ejá e eran ao ìgbà que deveria ser: 200 eku, 200 bagres
defumados e 200 cabras e muitas outras coisas como ebo para a expiação de sua falta de
respeito com Ifá. Rapidamente todos os elementos ritualísticos foram proporcionados.
Ọrúnmìlá perdoou as pessoas de Ọșogbo e reverteu a maldição. Além disso, ele orou
para Ọșogbo e seu povo. Com grande remorso as pessoas rogaram e persuadiram
Ọrúnmìlá a regressar com eles ao povoado, porém Ọrúnmìlá se negou a ir. Ele lhes
disse que tudo estaria em ordem e o povo estaria também salvo, de fato ele fez as
pessoas experimentarem um pouco do ódio que os Adahunse sentiram dele como um
lembrete. Ele disse que Ọșogbo seria uma ótima cidade, mas teria que lidar com o
problema do ódio que nasce na inveja. Com este pedido Ọrúnmìlá partiu para Ilè Ifè e
deixou Òşún cuidando de Ọșogbo.
Tão misteriosamente como o súbito eclipse que as pessoas experimentaram, segue
crescendo na terra o local onde Ọrúnmìlá e Òşún resistiram inesperadamente. Òşún olha
para baixo e pede a nação dela para explicar a água misteriosa de Ọrúnmìlá. Ọrúnmìlá
lhe disse que ele acostumou a água a lavar a maldição que ele havia colocado no povo
muito tempo atrás e que ele havia quitado esta dívida com o ebo que foi realizado. A
água crescente logo se tornou um riacho, O riacho foi nomeado Odò Ikin-tu-okun (Ikin
Ifá-Solta a corda).
O significado profundo de Ikin-tun-Okun é:
Ifá lava as negatividades e impurezas das pessoas.
Odò Ikin-tu-okun é muito conhecido como Odò Akintokun em Ọșogbo.
Este riacho é agora um riacho sagrado onde os Áwo de Ọșogbo realizam rituais.
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Importante!
Esta história sobre a relação de Ọrúnmìlá e Òşún nunca deverá ser usada fora de
contexto.
Ọrúnmìlá é colocado na posição de condição humana, coisa que é feita na maioria dos
relatos de suas histórias.
Por: Oluwo Solagbade Popoợlà
Os Itọn e Esè do Corpus Literário de Ifá pertencem a humanidade (Unesco).
Tradução Odé Gbàfáomi.
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O que é Axé.
Janeiro 23, 2015 por Fernando D'Osogiyan
Axé Força vital que promove os acontecimentos.
É uma qualidade de energia latente mobilizada pelo aspecto sensível dinamizado nas
relações, daí dizer que é doada.
Energia primordial que promove a vitalidade enraizada do ser humano com o que se tem
de mais antigo dentro de si mesmo, o Orí.
É possível de ser “redistribuída” em ritual entre homens e mulheres que saibam
conservá-la como dádiva do universo.
De forma sagrada é passada de mãe para filhos, todos a possuem; é relíquia de
nascimento selada durante o parto.
Na cultura africana religiosa, esta energia se cultiva, cultua e renova numa dimensão
religiosa.
O preceito da redistribuição do axé se estende ao fundamento de criar e manter as
relações sagradas entre pessoas, amigos, ou entes que se amam.
Portanto, é considerada o arqueiro do amor entre os povos.
É o princípio que torna possível o processo vital.
O Axé é nutrido no âmago líquido, nas entranhas do nosso corpo, no sangue, força que
sustenta e move a Tradição.
A palavra Axé também pode ser pronunciada e ouvida como forma de agradecimento e
louvor.
Àse é transmitido através do hálito, do sopro e do contato físico e da energia espiritual.
Artigo de Maria Rodrigué/ Fernando D’Osogiyan
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Meu corpo, meu altar.
Janeiro 20, 2015 por Dayane
“A igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina. A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa”. Eduardo Galeano
Ver o nascimento do orixá, perceber o desenvolvimento da interação entre filhos e seus orixás e sentir em minha própria pele uma morada para Oyá me faz perceber na vivência religiosa atos de amor e devoção onde o divino, o sagrado, não está acima, não está ao meu lado: ele está em toda parte, inclusive dentro de mim, e faz do meu corpo, do corpo de todas as filhas de santo uma festa para si e para os que veem a chegada do orixá, a presença do orixá.
Nosso corpo é um altar e como altar precisa de cuidados e preparo para receber a energia que levanta nossos poros. É por isso que desde o princípio é o nosso corpo como um todo que recebe os devidos preparos para ser purificado e facilitar a manifestação e chegada do orixá. É interessante sentir e presenciar o começo do surgimento dessa relação: as primeiras dúvidas, os primeiros medos, as primeiras reações ao sentir o desconhecido palpitando no meio do peito, que com o tempo se tornará mais do que conhecido: se tornará natural, necessário, amado. O corpo se transforma. Aos poucos, a sensação que causara algum desconforto por ser desconhecida passa a ser uma sensação de entrega, de arrebatamento, de encontro com a energia que mais converge com a nossa própria energia individual. O momento de dar as mãos ao orixá e deixar que ele tome conta do nosso corpo e dite a sua própria dança, a sua própria história e traga para este mundo tão caótico, tão cansativo, a suspensão, ainda que momentânea, das dores, dos alvoroços no meio do peito, das agonias e preocupações tão cotidianas que nós estamos fadados a passar no dia a dia.
O meu corpo é um altar e sentiria falta de Oyá se ela me faltasse. E é para que ela não me falte que eu cuido dele, é para que ela não me falte que ele é cuidado periodicamente dentro dos rituais da minha casa, dentro dos nossos preceitos.
Percebo essa questão do corpo (e quando falo corpo também incluo a cabeça) como um elemento de suma importância desde a entrada da pessoa na religião até o seu processo contínuo de renovação de axé. E isso pode ser observado para onde os rituais são direcionados: primeiro se faz as limpezas, os ebós para transferir as energias negativas para os elementos utilizados e propiciar a abertura para as energias positivas, posteriormente a isso temos o ritual da lavagem de cabeça (dentro da minha raiz) que já pegará um corpo limpo para purificar ainda mais o elemento principal nosso: nossa cabeça, para assim continuar com os rituais que já foram predeterminados pelo jogo. Falo de maneira bastante superficial dessas etapas, pois cada um tem suas particularidades, mas já aqui podemos perceber que se o cuidado com o corpo é tão intenso e presente é porque ele passa a representar algo muito importante a partir do momento que decidimos nos ligar ao axé. Isso não significa que deverá haver algum tipo de celibato ou resguardo eterno, pois o corpo não é culpa, é também nosso e serve para nos propiciar prazer também. A alegria de viver está também dentro disso.
Quando falo do corpo espero que compreendam que não falo somente da parte física, material da questão. Quando atento para a importância do corpo não é só para o fato de que ele esteja “limpo” nos momentos em que deve estar. Falo do corpo como um elo, como um elemento que foi transformado num elo e é partir dele que estabelecemos o nosso contato, a nossa conexão com o orixá não somente através da manifestação, mas do pensamento, da reza, da fala, da conversa… Tudo isso gira em torno do nosso corpo, sai de nós.
Noto que há uma necessidade, uma busca incessante de conhecimento (e isso é muito bom), mas noto também que há uma falta de responsabilidade individual enorme entre adeptos e adeptas da religião. A minha ligação mais importante é com Oyá! Não é somente com a minha casa, não é somente com a minha mãe de santo. Se nós duas estamos bem, tudo fica bem, se não estamos outros tantos problemas surgirão. Nossos principais rituais visam a construção e fortalecimento desta ligação, mas se não nos comprometemos individualmente na hora do silêncio, na hora em que estamos sozinhos em recolhimento ou em reza essa ligação não criará essência e não vai ser somente tempo de feitura que nos fará construir isso. O cuidado é contínuo.
Axé,
Dayane de Oyá
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Candomblé – A origem do nome
Janeiro 13, 2015 por Fernando D'Osogiyan
“Ka Nzo Ndombe”!!!
“Ka Ndombe”!!!
“Candomblé”!!!
Prometemos que a partir de julho voltaríamos com publicações quem tenham por
objetivo, esclarecer alguns temas relacionados a Religião dos Òrìsàs e, para iniciar essa
nova série de postagens, escolhemos falar sobre a origem do nome “Candomblé”, bem
como, compreender o motivo que fez com que essa expressão fosse escolhida para
denominar a Religião dos Deuses Africanos no Brasil, ao passo que essa denominação é
desconhecida em terras yorùbá. Vale salientar que esse termo surgiu na Bahia, sendo
que em outros Estados, o “Candomblé” originalmente recebeu outras denominações.
Exemplificamos com o “Xangô” (Recife) ou Batuque (Rio Grande do Sul).
Há algumas teorias para a etimologia do termo “Candomblé”. Para nós, o que parece
fundamentalmente plausível é que a expressão seja a corruptela de uma frase do idioma
Kimbundo, falado em Angola por milhões de pessoas. A frase seria: “Ka Nzo
Ndombe”.
“Ka Nzo Ndombe” significa em Kimbundo “Pequena Casa de Negros” ou “Pequena
Casa de Nativos”. O “Ka” é utilizado como diminutivo. “Nzo” significa “Casa” (vide o
nome de diversos Terreiros de origem Angola, que carregam em seus nomes a palavra
“Nzo”) e por fim, “Ndombe” (Negro/Nativo).
Assim, acreditamos que o “Ka Nzo Ndombe” tornou-se “Ka Ndombe”, até popularizar-
se como conhecemos e falamos hoje “Candomblé”.
Desse modo, não é difícil imaginar um grupo de negros provindos de Angola, dizer:
“Vamos ao Ka Nzo Ndombe”. Afinal, eles deixaram como herança para o português do
Brasil, uma infinidade de termos e expressões que tem na sua origem, o Kimbundo.
Exemplificamos: “Marimbondo”, “Quitanda” (Kitanda), “Farofa” (Falofa) e tantas
outras palavras.
Também não é difícil de imaginar, que nos primórdios do Candomblé na Bahia, os
lugares de louvação aos Deuses Africanos fossem casebres em lugares distantes do
comércio, onde se agrupavam os negros nativos, ou seja, “Ka Nzo Ndombe” (Pequena
Casa de Negros/Nativos).
Mas fica a questão da razão da utilização de um termo Kimbundo para nomear uma
religião, não somente dos negros de Angola, mas Yoruba, Dahome (Jeji), Egba, etc.
Sobre isso, é importante destacar que no Brasil, originou-se um fenômeno de irmandade
e de laços étnico-religiosos que no continente africano, a princípio era inexistente.
Inexistente por questões como a distância física entre Angola e Nigéria (mais de 2 mil
quilômetros), bem como, as disputas territoriais entre Nigéria e Dahome (Benin). Esse
conglomerado religioso e de respeito mútuo emergente no Brasil, dificilmente pode ser
imaginado no continente africano.
Isso é, sem dúvidas, um aspecto cultural que nos diferencia. Esse respeito e ligação
entre os povos são identificados igualmente em alguns cânticos. Basta observar, como
exemplo, aquele que se tornou um hino no Brasil para as casas de origem Yorùbá, que
diz que os Filhos do Alaketu (Rei de Ketu) devem-se abraçar (…Omo Alaketu
Famora…)
Essa união ora edificada pelos negros religiosos que aqui se estabeleceram responde a
questão do surgimento do termo “Candomblé”, bem como, sua utilização por povos
distintos à origem Angola. Mas se a expressão “Candomblé” nasceu no Brasil, qual
então é o nome para a religião dos Òrìsàs em terra yorùbá? No ventre da nossa cultura, a
Religião dos Òrìsàs é conhecida como “Isese Lagba” (Ixéxé Lagba) ou ainda como
“Esin Ibile Yoruba”.
O Terreiro de Òsùmàrè espera ter contribuído um pouco, para o esclarecimento dos
temas relacionados ao nosso Candomblé.
Que Òsùmàrè Araka abençoe todos com paz, saúde e felicidades!!!
Texto: Casa de Òsùmàrè
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Aroni, A Divindade que Mora no Âmago da Floresta
Janeiro 8, 2015 por Fernando D'Osogiyan
Na magnífica Religião dos Òrìsàs, acreditamos que existe um conjunto de espíritos que
moram no âmago da floresta. Esse conjunto de espíritos é chamado de Ajáà. Um desses
espíritos e, talvez, um dos mais temidos é Aroni, que mora na parte mais escura da
floresta, onde mesmo a luz do sol não consegue penetrar.
Acreditamos que ele guarda seus poderes… em um pedaço de carvão vegetal, o qual ele
usa para potencializar as propriedades mágicas das ervas. O conhecimento de Aroni
acerca das propriedades mágicas e medicinais das folhas é gigantesco, prova disso, é
que Aroni foi um dos mestres da botânica de Osanyin.
Aroni é temido até mesmo pelos Òrìsàs, primeiro pelo seu elevado conhecimento sobre
a magia das folhas e, segundo, pelo seu aspecto inumano. Acreditamos que Aroni seja
um espírito com cabeça e cauda de cachorro. Cremos, ainda que, em razão de Aroni
sempre estar agachado à busca das ervas mais preciosas ele acabou ficando corcunda.
Existem histórias Nàgó que discorrem que quando alguém se atreve a entrar no âmago
da floresta, sem oferecer as oferendas corretas e pronunciar os Ofós (palavras mágicas)
corretamente, Aroni as toma para si. Nesse âmbito, Aroni pega essa pessoa que passa a
morar com ele na parte mais escura da floresta e, com ele, aprende os segredos mais
poderosos das folhas, sendo novamente devolvido para o convívio com a humanidade,
somente após ter aprendido o uso e magias de todas as ervas.
Aroni fuma constantemente um cachimbo feito com a casca do Igbin, o qual ele também
usa para potencializar as propriedades das folhas e encantar as pessoas que se deparam
com ele.
Em verdade, a floresta é um lugar sagrado, mas muito perigoso e todo cuidado deve ser
tomado ao adentrá-la, por isso, inúmeros preceitos são realizados para pode entrar na
morada dessas Divindades.
Esperamos uma vez mais, ter contribuído para o esclarecimento e disseminação da
nossa rica e importante cultura.
Texto: Terreiro de Òsùmàrè
Particularmente entendo que a magia Ossayin transcende e vai além, caipora, saci
pererê, duente, anãozinho, etc, transforma-se e confunde, sua camuflagem está na
poeira, num rastro, nos bolos de folhagens, nas sombras frias da floresta e participa
ativamente na proteção da liturgia de um Axé. Assim podemos chamá-lo de Ossayin,
Agué, Akaká,Agá, Aroni, Orô e tantos outros nomes. Dividi-se e sub-dividi-se com uma
ou duas pernas ao mesmo tempo. Holá Ossaiyn! Um lagarto, um carijó, um bom vinho,
cachimbinho de barro com fumo de rolo, mel, fradinho torrado, sapucaia, moedas. Ewé
Ásà ò!
Texto: Fernando D’Osogiyan
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Uma mensagem para 2015.
Janeiro 3, 2015 por Da Ilha
Amigos,
Encontramos diversos Odù e òrìsà regendo o ano de nossas vidas em vários sites e blog
na web, seria o caso de analisarmos o que realmente nos pertence e o que é apenas uma
mensagem.
O que lhe pertence é o jogo que você irá fazer e lhe dizer, dentro do seu universo
pessoal, qual a energia que poderá lhe apoiar dentro deste ano que se inicia.
A mensagem é aquilo que podemos extrair e confrontar com nosso modo de vida,
nossas, atitudes, nossos pensamentos e desejos inconfessáveis.
Eu encontrei esta mensagem que fala muito sobre algo que estamos sempre alertando os
iniciados, abìan e simpatizantes da religião, o Caráter.
Aquilo que é olhado dentro de você pelo òrìsà, com ou sem a sua aprovação.
Não há desejos inconfessáveis e vacas sagradas para Ọlódùmarè.
Como diz Ọrùnmìlá, tudo será exposto, mais dia menos dia.
Que possamos aprender com o Corpus Literário de Ifá, nossa Escritura Sagrada, e
evoluir dentro deste corpo físico e para nos libertarmos em nossa casa permanente e
verdadeira que se chama Ợrùn.
Da Ilha.
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Òsá’túrá – Odù do ano de 2015 (Revelado para o Ilè Àse do autor da matéria).
A energia ou Odù vai fazer uma aliança com você durante todo o ano “Òsá’túrá”. A
vibração vai iluminar aqueles que querem alcançar um grande sucesso, prosperidade,
saúde, proteção divina e amor divino.
Òsá’túrá é a energia que cobre toda a existência do homem na criação. Ele fala de
verdade, honestidade e dignidade. Ọlódùmarè e suas inúmeras Divindades deve
favorecer aqueles que falam a verdade. Este ano, todos os filhos de Erinwo (Ọrùnmìlá)
devem se planejar para ter uma mudança de caráter e começar a dizer a verdade, para
que a sua consciência vai se libertando do rancor e outras vibrações negativas da
criação. Verdade de acordo com Ifá é a linguagem de Deus, a força da vida e do poder
de divindades.
Ifa diz que a verdade é o alicerce sobre o qual milagres, mistérios e maravilhas da vida
são estabelecidos.
A verdade garante a proteção de divindades e o apoio do poder cósmico.
A verdade do universo é a maioria das energias manifestadas e as forças não
manifestadas, que se movem em torno do cosmos para dar a todos o desejo secreto de
seu coração e os seus passos invisíveis (secretos) no mundo da matéria.
Verdade é a sua oração, o seu sacrifício, o seu ritual e passo espiritual que você dá para
reverter todos os dissabores em fortuna.
A verdade é o passo para buscar a face de Ọlódùmarè e suas divindades.
A verdade é a sabedoria que você adquiriu de Ifá transformando em bom caráter a ajuda
e apoio de outras energias no cosmos.
A verdade é a ousadia e o poder que move você e suas alianças na cara dos desafios.
A verdade é o poder e a compreensão de que você não é apenas um ser humano no
corpo físico, mas a essência completa da energia abundante de Deus com o espírito,
alma e poder cósmico vulnerável apenas à luz da bondade, mas intransponível para o
poder das trevas e da energia dos Ajogùn do Ợrùn (o cavaleiro punitivo da desgraça
celeste).
A verdade é o poder que libera a justiça para aqueles que são ignorantes das leis divinas
e regras espirituais e regulamentação de trabalho no cosmos.
A verdade é o significado da existência do universo que gira em torno do poder de
Ọlódùmarè, nada está além e nada está fora deste ciclo misterioso e divino. Tudo o que
é criado e visto ou organismos invisíveis que se manifestam dentro deste perímetro
reúne a comunidade da consciência divina.
Verdade é o entendimento de que Você é um pequeno cosmos dentro de si mesmo,
manifestando o poder do sol, lua, estrelas e outros objetos de iluminação dentro do
ambiente cósmico.
A verdade é a ousadia e a precisão espiritual que todas as coisas vão trabalhar a seu
favor.
A verdade é a sensação de poder e energia abundante de tudo o que foi criado, visível e
invisível e irá atuar também na sua direção e mudar todos os dissabores em glória,
sucesso e felicidade.
A verdade é o preço que temos de pagar, sempre, pela ignorância e a insensatez. Sempre
que sentirmos a dor ou o sofrimento, a etapa divina, a sabedoria espiritual e
entendimento espiritual humano do poder de Ifá e Òlódùmarè nos dará a paz de manter
a calma diante dos desafios e das ondas do mar de problemas.
A verdade é a sabedoria da presença das divindades dirigindo nossas vidas, quando elas
não são vistas fisicamente com nossos olhos nus, uma vez que temos a sabedoria que a
mais profunda e as vibrações mais fortes são energias invisíveis que operam na ordem
universal das coisas.
A verdade está esperando pacientemente para receber a bênção de Ọlódùmarè, e a
verdade nos ensina que os eventos mais profundos ou acontecimentos de nossas vidas,
muitas vezes acabam por ser os eventos mais inconsequentes ou mesquinhos.
A verdade é que todo o universo é formado por milagres, maravilhas e os mistérios
como base do fundamento de Ọlódùmarè.
A verdade é a moralidade, o bom caráter e a espiritualidade levando a disciplina
espiritual, física, emocional e divina, que nos transforma para se tornar um verdadeiro
discípulo de Ọlódùmarè e seus mensageiros mais especificamente Ọrúnmìlá.
A verdade é a nossa consciência como indivíduo, a extensão real do todo universal,
perfeito, completo e infinito que é chamado de Òlódùmarè.
De acordo com Odù ” Òsá’túrá ”, a verdade é a consciência que estabelece a presença
de Ọlódùmarè na vida de um homem.
A verdade é o líquido amargo que bebemos na manhã do nosso destino que dá e suaviza
a nossa vida nos últimos anos dela.
Quem diz a verdade sempre recebe o apoio das divindades. Dizer a verdade para si
mesmo, como forma de corrigir o seu mau hábito ou caráter através da sabedoria de
Ọlódùmarè é o fundamento da maior glória e manifestação do que Ifá chama de Ợmợ
Erinwo (os filhos da verdade).
Portanto a verdade é a sua vida.
A verdade é o bom caráter dentro de você para o universo e a resposta do universo será
a mesma verdade que vai melhorar a sua vida na ordem universal das coisas, a verdade
é plantada, a verdade é colhida, o que você planta deve ser o mesmo que você colhe.
A verdade é o que quer que você plante, tornar-se o vosso fruto de recompensas no
futuro, a verdade é tudo o que foi bem plantado, será colhido também no final.
A verdade é que, a vida vem do desconhecido e vai para o invisível, a morada de
Ọlódùmarè e suas inúmeras divindades no cosmos.
A verdade é tudo o que gira em torno de seu ser e nada fora de você pode causar o seu
problema ou azar se você não o merece (mesmo trabalhos de magia má, podem ser
repelidos por esta energia).
A verdade é o seu ser, o seu caráter e o seu hábito.
Moldar o seu hábito e caráter, irá moldar o seu destino e o destino do que está para vir, a
geração que ainda não nasceu.
A verdade é o mecanismo de vigilância e sabedoria, força e energia de Ọlódùmarè
manifestado na palavra, na vida, na alma e com o espírito de tudo o que se manifesta e o
que não se manifesta.
Ifá diz: seja sincero e reconheça que a verdade é o carácter que será exibido no início do
ano que cederá a recompensa máxima no meio e no final dele.
Pegue um copo de água limpa e fale a verdade para ela antes de beber e você verá e
testemunhará o milagre, o mistério e a maravilha de Ǫlódùmarè em sua vida este ano,
este mês, hoje, nesta hora e neste minuto. Sua vida não vai permanecer do mesmo jeito,
a bênção de Ǫlódùmarè será atraída através da palavra e do Odù Ifá.
Ifá é uma atração e você estará atraindo o seu sucesso, o seu progresso, o seu amor, a
sua vitória, sua boa saúde, sua riqueza, sua prosperidade, a bênção de maior dimensão e
entendimento das coisas, de harmonia, de paz, de serenidade, de vida longa e dignidade,
desde que haja a aparição do Sol (a luz dentro de você, traduzindo o poder de
Osalá/Ợbàtálá).
Repita o verso abaixo e conclua com estes pedidos, reze segurando este copo com água.
Àse
De acordo com o Odù (Fonte do verso de Ifa, uma adivinhação completa por Ayo
Salami, pp 556 publicado em 2002)
Aquele que entra no rio
Gostaria de saber a profundidade da água
Aquele que grita em voz alta por ajuda
Será que amplia sua visão do ợrùn?
Ifá foi lançado para Ọrùnmìlá (Foi feito jogo divinatório).
No dia em que ele estava perguntando dos segredos de Ọlódùmarè
Será que vou descobrir o segredo de tudo sobre a Terra?
Ele perguntou.
Disseram-lhe para executar o sacrifício.
Mas ele deve ir e colocar seu sacrifício aos pés do oceano que é a praia.
Ọrùnmìlá realizou o sacrificio
Ele levou o seu sacrifício e foi para a praia (do mar)
Quando estava prestes a colocar seu sacrifício
Ọlódùmarè havia retirado seu pano
Ele estava completamente nu
Mas a parte sólida da nádega de Ọlódùmarè é o oceano
Conforme Ọlódùmarè inala
A corrente marinha é a brisa da Terra.
Ifá respira dentro e fora de Ọlódùmarè
É a razão para a circulação da corrente do oceano
Conforme Ọrùnmìlá estava prestes a colocar o sacrifício
Ọlódùmarè ficou desconfiado
Você, Ọrùnmìlá
Hiin, Ọrùnmìlá respondeu.
Você não viu o meu segredo?
Ele perguntou.
Eu apenas vi a parte robusta de suas nádegas.
Respondeu Ọrùnmìlá.
Não haverá mais nada, que você não conhecerá, a partir de agora.
Ọrùnmìlá se alegrou.
Ele estava elogiando seu babalawo.
Seu babalawo estava louvando Ifá.
Ele disse que foi exatamente como seu Babalawo havia dito.
Aquele que entra no rio
Gostaria de saber a profundidade da água.
Aquele que solta um grito de ajuda
Será que amplia sua visão do ợrùn?
Ifá foi lançado para Ọrùnmìlá
No dia em que estava perguntando sobre os segredos de Olodumare
É você e nós
Realmente é você e nós.
Ifá Ọrùnmìlá deixe-me saber todos os segredos da vida através de sua sabedoria e ter a
coragem de viver de acordo com as regras.
Deus nunca permita que seu discípulo e seu devoto seja confundido (seja maltratado)
durante este ano.
Èlá, o mistério e o ancião dos dias, que todos os devotos de Ifá/Òrìşà atraiam grandes
bênçãos e vitórias este ano.
Àse.
Então, beba a água, você pode repetir este passo espiritual duas vezes por mês e vinte e
quatro vezes em um ano, com o apoio de Ọlódùmarè e suas inúmeras divindades, você
será vitorioso.
Chief Ogunsina Babatúnde Olayinka Adewuyi.
Tradução: Odé Gbàfáomi.
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Jagun- Orixá Guerreiro
Dezembro 30, 2014 por Fernando D'Osogiyan
Jagun – Orixá Guerreiro
Jagun, era Guerreiro dos Exércitos de Osogiyan, é cultuado em
algumas nações como “Qualidade de Omolú”, por ter passado
vários anos em terras de Omolú, ele foi agregado ao panteão de
Omolú. Jagun é um Orixá Funfun, pois o culto a Jagun nasceu
no Ekiti Efon, por esse motivo Jagun é cultuado no Axé Efon
como um Orixá separado de Omolú. Antes dele ter ido para as
terras de Omolú já existia seu culto no Ekiti, onde era sua terra
natal. Assim também conta seus itans que Jagun teve
passagem não só nas terras de Omolú, mas também nas terras
de Ifé (Terra de Ogun) e Elegibô (Terra de Osagiyan). Jagun
responde no Odú Ejionile, Odú regido por Osogiyan, Odú que
também respondem outros Orixás como Ogun’Já e Airá Modé. O
culto a Jagun nasceu no Odu Okaran, daí sua ligação também
com Exú que o acompanha.
Jagun, é uma palavra Yorubá, e significa guerreiro, é também
um título militar. Trilogia dos guerreiros funfum, os inseparáveis
Ogun, Jagun e Osogiyan.
Jagun é um Orixá Funfun (branco), é considerado e cultuado
como Orixá da guerra lança de ferro (okó) na mãos e
dependendo do caminho de Jagun ele usa até um ofá nas mãos,
pois conta se um itan que Oxalá o nomeia como o guerreiro de
todas as armas. Usa contas brancas rajadas de preto e gosta
também de contas feitas de búzios e marfim. Jágun é Orixá
Jovem, tem caminhos com Ogun Já, Oxaguian e Ayrá. Tem
caminhos também com Yemanjá e quase todas as Iyabás. Se
apresenta através do Odú Ejionilê. Por ser considerado Orixá
Funfun (branco) leva apenas um dedo de azeite de dendê, azeite
doce , mel e suas comidas são todas brancas, duburú, fatias de
inhame cozido, bolas de arroz, acaçá, obí e Ebô. Seus bichos
também devem ser todos brancos. A dança de Jágun é
extremamente guerreira, começa com movimentos lentos,
dança empunhando sua lança ( Okó). Jagun, assim como Ogun e
Oxóssi, é um grande caçador. Um grande guerreiro que se
veste de branco e usa obiokô. Jagun um Orixá exclusivo do axé
Efon, mas por ser andarilho seu culto migrou para as terras de
Jeje Mahí e Ketu onde são cultuados dentro dos preceitos. De
meu conhecimento existem 07 caminhos de Jagun:
Jagun Arawé
Jagun Itunbé
Jagun Àgbá
Jagun Sòjí ou Ajòjí
Jagun Igbònàn ou Topodun
Jagun Odé ou Ipopo
Jagun Itètú
Pesquisa de itans: Axé Efon
Texto: Fernando D’Osogiyan
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Oranian-O Fundador de Oyó
Dezembro 23, 2014 por Fernando D'Osogiyan
O Fundador de Oyó
ORANIAN (ÒRÀNMÍYÀN)
“Òrànmíyàn (Oranian) foi o filho mais novo de Odùduà e tornou-se o mais poderoso de
todos eles; aquele cuja fama era a maior em toda a nação iorubá. Tornou-se famoso
como caçador desde a juventude e, em seguida, pelas grandes, numerosas e proveitosas
conquistas que realizou. Foi o fundador do reino de Oyó. Uma de suas mulheres, Torosí
(Torosi), filha de Elempe, o rei da nação Tapa (ou Nupê), foi a mãe de Xangô, que mais
tarde, subiu ao trono de Oyó. Oranian instalou um outro filho seu. Eweka, como rei em
Benim, tornando-se ele próprio Óòni de Ifé.
Oranian foi concebido em condições muito singulares, que, sem dúvida, espantariam os
geneticistas modernos. Uma lenda relata Omo Ogum, durante uma de suas expedições
guerreiras, conquistou a cidade de Ogatún, saqueou-a e trouxe um espólio importante.
Uma prisioneira e rara beleza chamada Lakanjê agradou-lhe tanto que ele não respeitou
sua virtude. Mais tarde, quando Odùduà, pai de Ogum, a viu, ficou perturbado, desejou-
a por sua vez e fez dela uma de suas mulheres. Ogum, amedrontado, não ousou revelar a
seu pai o que se passara entre ele à bela prisioneira. Nove meses mais tarde. Oranian
nascia. Seu corpo era verticalmente dividido em duas cores. Era preto de um lado, pois
Ogum tinha a pele escura do outro, como Odùduà, que tinha a pele muito clara.
Essa característica de Oranian é representada todos os anos em Ifé, por ocasião da festa
de olojo, quando o corpo dos servidores do Óòni é pintado de preto e branco. Eles
acompanham Óòni de seu palácio até Òkè Mògún, a colina onde se ergue um monólito
consagrado a Ogum. Essa grande pedra é cercada de màrìwò òpè, franjas de palmeiras
desfiadas, e, nesse dia, os sacrifícios de cão e galo são aí pendurados. Óòni chega
vestido suntuosamente, tendo na cabeça a coroa de odùduà, É uma das raras ocasiões,
talvez mesmo a única do ano, em que ele a usa publicamente, fora do palácio. Chegando
diante da pedra de Ogum, ele cruza por um instante sua espada com Osògún, chefe do
culto de Ogum em Ifé, em sinal de aliança, apesar do desprazer experimentado por
Odùduà quando descobriu que não era o único pai de Oranian.
Oranian, como já dissemos, foi o fundador da dinastia dos reis de Oyó. O mito da
criação do mundo tal como é contado em Oyó atribui-lhe esse ato e não a Odùduà.
Estes dois personagem são os fundadores das respectivas linhagem reais de Oyó e de
Ifé, o que bem demonstra que o mito da criação do mundo é, de uma lado e outro, o
reflexo da lenha histórica da origem das dinastias que dominam nesses dois reinos.
A supremacia estabelecida por Oranian sobre seus irmãos nos é narrada em uma lenda
recolhida no século passado Oyó:
“No começo, a terra não existia… No alto era o céu, embaixo era a água e nenhum ser
animava nem o céu nem a água. Ora, o todo-Poderoso Olodumaré, o senhor e o pai de
todas as coisas… criou, inicialmente, sete príncipes coroados… Em seguida… sete
sacos nos quais havia búzios, pérolas, tecidos e outras riquezas. Criou uma galinha e
vinte e uma barras de ferro. Criou, ainda, destro de um pano preto, um pacote volumoso
cujo conteúdo era desconhecido. E, finalmente, uma corrente de ferro muito comprida,
na qual prendeu os tesouros e os sete príncipes. Depois, deixou cair tudo do alto do
cér… No limite do vazio só havia água… Olodumaré, do alto de sua morada divina,
jogou uma semente que caiu na água. Logo, uma enorme palmeira cresceu até os
príncipes, Oferecendo-lhe um abrigo grande e seguro, entre as suas palmas. Os
príncipes se refugiaram ali e se instalaram com suas bagagens. Eram todos príncipes
coroados e conseqüentemente, todos queriam comandar. Resolveram separar-se. Os
nomes desses sete préncipes eram: Olówu, que se tornou rei do Egbá; Onisabe, que se
tornou rei de Savé; Orangun, que reinou em Ila; Óòni, que foi soberano de Ifé; Ajero,
que se tornou rei de Ijerô; Alákétu, que reinou em Kêto; e o último criado, o mais
jovem, Òrànmíyàn, que se tornou rei de Oyó.
Antes de se separarem para seguirem seus destinos, os sete príncipes decidiram reparti
entre eles a soma dos tesouros e das provisões que o Todo-Poderoso lhes havia dado. Os
seis mais velhos pegaram os búzios, as pérolas, os tecidos e tudo o que julgaram
precioso ou bom para comer. Deixaram para o mais moço o pacote de pano preto, as
vinte e uma barras de ferro e a galinha… Os seis príncipes partiram à descoberta nas
folhas de palmeira. Quando Oranian ficou sozinho, desejou ver o que continha o pacote
envolto no pano preto. Abriu-o e viu uma porção de substância preta que ele
desconhecia… sacudiu então o pano e a substância preta caiu na água e não
desapareceu. Formou um montículo. A galinha voou para pousar em cima. Ali
chegando, ela pôs-se a ciscar essa matéria preta, que se espalhou para longe. E o
montículo se ampliou e ocupou o lugar da água. Eis aí como nasceu a terra.
Oranian apresou-se em descer para o domínio, assim formado pela substância negra, e
tomou posse da terra. Por sua vez, os outros seis príncipes desceram da palmeira.
Quiseram tomar a terra de Oranian, como já lhe haviam tomado, na palmeira, sua parte
dos búzios, das pérolas, dos tecidos e dos alimentos… Mas Oranian tinha armas; suas
vinte e uma barras de ferro haviam se transformado em lanças, dardos, fechas e
machados. Com a mão direita, ele brandia uma longa espada, e lhes dizia: “Esta terra é
só minha. Lá em cima, quando me roubaram, vocês me deixaram apenas esta terra e este
ferro. A terra cresceu e o ferro também; com ele defenderei a minha terra! Vou matar
todos vocês. Os seis príncipes pediram clemência, rastejaram aos pés de Oranian,
suplicantes. Pediram-lhe que cedesse uma parte de sua terra para que pudessem viver, e
continuar príncipes… Oranian poupou-lhes a vida e deu-lhes uma parte da terra. Exigiu
apenas uma condição: esses príncipes e seus descendentes deveriam permanecer sempre
seus súditos e de seus descendentes; deveriam, todo ano, vir presta-lhe homenagem e
pagar os impostos na sua cidade principal, para demonstrar e lembrar que eles tinham
recebido, por condescendência, a vida e sua parte de terra. Eis aí como Oranian tornou-
se rei de Oyó e soberano da nação iorubá é, de toda a terra.”
Porém, Ifé reivindica a preponderância sobre Oyó. É em Ifé que está guardado o sabre
de Oranian, chamado “sabre da Justiça”, que os reis de Oyó devem segurar nas mãos
durante as cerimônias de entronização, para garantir sua futura autoridade.
Vêem-se ainda em Ifé duas outras relíquias de Oranian: um grande monólito, o Òpá
Òrànmíyàn, seu escudo.
Texto: Pierre Fatumbi Verger – Livro Os Orixás.
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Babalòrìsà e Ìyálòrísá o Sacerdócio Igualitário
no Candomblé
Dezembro 20, 2014 por Fernando D'Osogiyan
Ao longo dos anos, o pensamento de que o homem possui uma importância menor no
Candomblé frente à mulher, foi muito difundido. Isso foi reforçado, pelo fato de muitos
terreiros tradicionais, durante décadas, não iniciarem homens Adosù e, permitindo que a
única figura masculina nas Casas de Candomblé, fosse a dos… Ogans (não Adosù).
Muitos creem que o surgimento dos homens Adosù e Babalòrìsàs, foi fruto de uma
mudança cultural, ocorrida nos últimos 20 anos.
Sobre isso, o objetivo desta publicação é elucidar que, em verdade, tanto o homem
quanto a mulher possuem o mesmo grau de importância no Candomblé. É ainda,
esclarecer que, a figura do Sacerdote Homem (Babalòrìsà) existe desde a fundação da
Religião no Brasil e, muito antes disso, no próprio berço da cultura dos Òrìsàs, a África.
Antes de tudo, é importante salientar que não é o sexo que difere a importância de uma
pessoa na Religião dos Òrìsàs, mas sim, o grau hierárquico que essa pessoa possuí.
Assim, o que confere a uma pessoa a distinção hierárquica na sociedade religiosa, é o
título sacerdotal e não o sexo.
A estrutura do Candomblé do Brasil foi fundamentada e edificada, tendo como a figura
máxima do terreiro àquele que zela pelo Òrìsà, que em idioma yorùbá é a Ìyálòrìsà ou
Babalòrìsà (Mãe ou Pai que zela pelo Òrìsà). Na África, por exemplo, existe a figura do
Arabá, título masculino não existente nos tradicionais Terreiros de Candomblé da
Bahia.
A consagração de uma Ìyálòrìsà ou Babalòrìsà ocorre da mesma forma, sendo
necessários os mesmos predicados para ambos. Sendo eles: Iniciado (Adosù), ter
concluídos as obrigações de 1, 3 e 7 anos e, principalmente, ter recebido essa missão
pelo Òrìsà (ou seja, isso deve estar no seu destino e não em sua vontade e como já
discorrido em nossas publicações, somente a obrigação de 7 anos, não confere à
ninguém o cargo de Sacerdote/Sacerdotisa). Dessa forma, quando um homem recebe
um título de Babalòrìsà ele está em igual posição sacerdotal de uma Ìyálòrìsà (não há
distinção).
O que existe em nossa religião, é a condição cronológica ou como versado nos Terreiros
aqui de Salvador “Idade é Posto”. No entanto, esse ditado se refere quando ambas as
pessoas (independente do sexo) possuem o mesmo título Sacerdotal (posto). O
Sacerdote/Sacerdotisa, possuí posição igualitária, no entanto, o mais velho sempre terá
o maior respeito (nessa visão a idade prevalece).
No início da abordagem desse tema, mencionamos que o Sacerdote homem, existe
desde a fundação da Religião no Brasil e mesmo antes, na África. No berço da cultura
dos Òrìsàs, sempre existiu a figura do Babalòrìsà, do Babalawo e do Arabá (supremo
sacerdote masculino).
No Brasil, contrário do que muitos acreditam, a figura masculina sempre existiu e com
grande destaque. Na fundação das mais antigas e tradicionais Casas de Candomblé os
homens (Sacerdotes) estavam presentes, com importância singular na formação desses
Terreiros.
Podemos exemplificar, com alguns dos nomes mais venerados e ainda hoje
reverenciados nos Ipade dos Candomblés da Bahia, tais como; Gbongbose Obitiko e
Baba Asesu Bérégédé (que tiveram importância singular na fundação do Terreiro da
Casa Branca do Engenho Velho), Okarinde (no Terreiro do Gantois) e Oje Lade –
Martiniano Eliseu do Bonfim, no Ilé Asè Opo Afonjá.
Isso, sem mencionar Talabí, o fundador do Terreiro de Òsùmàrè e, por exemplo, o
aclamado Manoel Bernadino da Paixão, que fundou o Terreiro do Bate-Folha. Isso
evidencia de forma muito clara, que o homem sempre esteve presente no Candomblé da
Bahia.
Fato é que, na Bahia, as mulheres negras, tiveram ascensão social mais precoce que os
homens, contribuindo de forma decisiva para o seu posicionamento religioso. As
mulheres, antes dos homens, conseguiram acumular bens (na grande maioria das vezes,
em razão da venda em escala de quitutes), permitindo-lhes a edificação dos Terreiros.
Para os homens esse processo foi tardio, contribuindo para o cenário de distinção.
Apesar dessa diferença social à época, a importância do Sacerdote masculino sempre
existiu, prova disso, conforme mencionado anteriormente é a evocação desses nomes no
Ipade. Lembrando que, os ancestrais (Esá) saudados nessas cerimônias, invariavelmente
são de pessoas iniciadas (Adosù), sejam elas mulheres, sejam homens, como os já
mencionados; Esa Oburo, Esa Asesu Bérégéde, Esa Okarinde, Esa Danjemi, dentre
muitos.
Desse modo, podemos afirmar que, no Candomblé, não existe diferença de grau
sacerdotal em razão do sexo. Existem sim, alguns cultos específicos que a liderança
masculina ou feminina prevalece à outra, mas isso, em cultos específicos, tais como
Egúngún, no qual o homem é o Sacerdote Supremo (Alapini) ou nas Sociedades de
Culto às Ìyàmì, Òsun ou Obà (Eleeko), nas quais as mulheres são as grandes matriarcas.
Assim sendo, podemos dizer que o Candomblé talvez seja, uma das poucas religiões, na
qual o homem e mulher, desde que com o mesmo titulo hierárquico, possuem a mesma
importância diante do clero. Mostrando que, há séculos, já pregamos a igualdade.
Nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos uma vez mais, ter contribuído com o
esclarecimento da cultura dos Òrìsàs no Brasil.
Que nosso patrono, Òsùmàrè Aràká, continue sempre olhando e abençoando todos com
vida longa com saúde!
Texto: Terreiro de Òsùmàrè
Salvador – BA
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Intolerância Religiosa
Dezembro 16, 2014 por Da Ilha
Amigos o Ogan Airton nos fez o favor de endereçar esse post para que publicássemos e
aconselhássemos as pessoas a ter este material em suas casas de Àse.
São informações importantes que podem nos respaldar na hora que mais precisarmos.
Uma boa leitura a todos e não deixem de baixar, imprimir e encadernar estes
documentos.
Intolerância Religiosa
As liberdades de expressão e de culto são asseguradas pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos, pela Constituição Federal e muitas outras Leis sobre o assunto.
O Blog Axé Contém todas as Leis referentes à Liberdade Religiosa, como também
informa os endereços e telefones dos Órgãos Públicos competentes no Estado do Rio de
Janeiro para realização de denúncia contra a intolerância religiosa. Os visitantes poderão
salvar e imprimir todo o material disponível.
Recomendamos que após a impressão, esse material seja encadernado e levado para a
Casa de Axé. Vale a pena ressaltar que a discriminação religiosa é crime e deve ser
combatida e denunciada por todo cidadão.
Blog Axé – http://intoleranciareligiosa.wordpress.com/legislacao/
Bom dia. Informo que todos os endereços dos Órgãos Públicos contidos neste Blog
foram localizados através de pesquisas realizadas na Internet.
As Leis Federais e Estaduais citadas sempre existiram, o meu trabalho foi simplesmente
agrupá-las em um só lugar.
Sou Técnico Judiciário e a minha intenção foi somente tentar contribuir com
informações importantes sobre a fundamentação legal que garante a prática da nossa
religião.
Entendo que qualquer cidadão que tenha conhecimento de Legislação, também poderia
ter tido essa iniciativa.
Aproveito a oportunidade para comunicar que o Blog ” O Candomblé ” já está contido
na “Lista de Links” do Blog Axé.
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A Ekede no Candomblé
Dezembro 10, 2014 por Fernando D'Osogiyan
A Ekede no Candomblé
Em atenção às dezenas de solicitações que recebemos após as postagens sobre os
Ògáns, vamos falar sobre outra importante figura dentro dos Terreiros de Candomblé,
as Ekedes (Èkèjí, Àjòyè, Ìyároba, Makota, a depender da tradição da casa ou nação).
As Ekedes são mulheres que não são incorporadas, mas sim, escolhidas pelas
Divindades, para zelar por elas e pelo Sacerdote da Cas…a. São pessoas de grande
importância na estrutura religiosa da comunidade, que são admiradas por todos.
Em grande parte das ocasiões, ao longo das festividades, algum Òrìsà escolhe entre as
pessoas presentes, uma mulher para suspender/indicar como Ekede, é um momento de
grande alegria para todos, onde os filhos da comunidade comemoram. Futuramente,
essa mulher poderá, então, ser confirmada como Ekede.
Se fossemos “ranquear” a principal função de uma Ekede, poderíamos afirmar que é
zelar pelo Òrìsà quando esse está incorporado em um filho/filha. Uma grande Ekede,
sempre está muito atenta aos passos do Òrìsà, ela verifica se há a necessidade de
enxugar o rosto da pessoa incorporada, analisa as paramentas, se estão machucando ou
se, por ventura, estão se desprendendo das demais vestes.
As Ekedes, em verdade, começam a zelar pelo Òrìsà, antes mesmo da manifestação,
sendo que elas verificam todas as roupas e ferramentas com antecedência, garantindo
assim, que as Divindades sejam tratadas com muito carinho. Algumas, inclusive, se
especializam como costureiras, bordadeiras, somente para ter o prazer de confeccionar
as roupas dos Òrìsàs.
O que observamos, com bastante atenção, é que esse carinho/amor desprendido por
muitas Ekedes as tornam referência em um Terreiro, sendo respeitadas e admiradas pela
comunidade. Quando o Órìsà manifesta alguém, elas rapidamente aprontam tudo,
garantindo tranquilidade aos Omo Òrìsà. Elas acompanham os Deuses ao longo das
danças, se comunicam com eles e, por vezes, intermediam a sua vontade aos
Babalòrìsà/Ìyálòrìsà, Ògáns e outras Ekedes.
Esse trato direto com os Òrìsàs as torna muito próxima deles, razão pela qual, as Ìyáwò
e Egbon possuem tanto carinho e respeito por essas senhoras, por vezes, as chamando
de mães.
As Ekedes, também, dispensam igual carinho e atenção aos seus Sacerdotes, zelam
pelos seus pertences e ficam sempre atentas a qualquer pedido/necessidade. Muitas
vezes, atuam como uma espécie de “relações públicas”, representando o Terreiro e
recepcionando os visitantes mais ilustres.
As Ekedes, diferente das Ìyáwò e Egbon, não utilizam as saias de baiana com anáguas.
A vestimenta das Ekedes varia entre as casa, mas aqui em Salvador, elas usam os
chamados “vestidos nago” ou saia sem roda (anágua), permitindo dessa forma, uma
maior flexibilidade para as suas atividades (veja a foto do título, com as Ekedes do
Terreiro de Òsùmàrè). Aqui em Salvador, somente pela roupa já conhecemos quem são
as Ekedes do Terreiro.
As Ekedes são pessoas de grande importância nas Casas de Candomblé, que por meio
das suas ações, conseguem contribuir de forma significativa para que o período em que
o Órìsà permanece incorporado, seja tranquilo e apaziguador, seja para o filho
incorporado, para o Órìsà e, mesmo para toda a comunidade.
O que torna uma Ekede referencia para as demais e para o Terreiro, essencialmente é
sua postura perante o Òrìsà e, perante o seu Sacerdote. Para uma grande Ekede, o seu
objetivo principal é conseguir tratar o Òrìsà como carinho e amor, essas são as
características que tornam uma Ekede em uma grande Ekede.
Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos!
Terreiro de Òsùmàrè
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Nossa Religião tem gênero?
Dezembro 4, 2014 por Da Ilha
Por: Áwo Falase Adesoji Òyasanya Fatunmbi
No capítulo de abertura do livro Paz Interior (Falokun Fatunmbi), há uma citação
yorùbá que diz:
As divindades (Òrìsà/Irùnmolè) não podem dar o que sua cabeça (Ori) não quer aceitar.
É a parte mais profunda da sabedoria, já que implica na nossa participação em nossas
vidas e a interação com o mundo é crucial.
O Espírito por si só não vai colocar nosso ego em alinhamento com o nosso Eu mais
elevado e o nosso destino, ele não é participante ativo (Pois, Orí é determinante).
Em outras palavras, somos co-criadores quando se trata de manifestar os nossos
destinos escolhidos. As escolhas são fruto do livre arbítrio, isto é soberano/imperativo,
por este motivo estamos sempre prestando conta de nossas atitudes e escolhas, não
existe perdão sobre faltas cometidas, caímos, levantamos, seguimos em frente e
buscamos não incorrer novamente no mesmo erro, neste ponto vem a elevação espiritual
e aplicação do conhecimento que aos poucos se transforma em sabedoria, este é o
grande salto (o pulo do gato) de nossa religião, ver o ser humano se transformar e
buscar o primórdio de sua formação esta é a atividade fim de nossa religião, melhorar o
Ser enquanto humano. Pois, ele é o produto da Fonte (Deus), a razão da existência do
culto de òrìsà.
Sim. Você e Ori são a razão de tudo isto que acontece dentro de um Ilè Àse.
Este foi o motivo de Olódùmarè ter mandado seus 400+1 òrìsà/irùnmolè para este
mundo físico, cada um com sua responsabilidade e poder sobre um parte da natureza e
dos homens, ligados como uma manta holográfica.
Não temos cor, gênero, culturas e etc., diferentes, apenas somos todos intransigentes e
Deus não nos deu a faculdade mental para ser usada desta forma míope e mesquinha.
Ifá nos ensina que cada pessoa escolhe o seu destino e sua preparação para vir ao mundo
entre os estágios de ida e vinda ou atunwa, o processo de nossa viagem através do canal
de parto faz com que o Orí esqueça os detalhes do nosso destino escolhido.
O propósito e o processo do ritual e também várias cerimônias de Ifá nos colocam em
alinhamento com o nosso Eu superior, para que nos lembremos daqueles detalhes que
estavam escondidos, como resultado de nossa jornada aqui na Terra, o que nos permite
cumprir o acordo que fizemos no reino espiritual.
Como participamos ativamente de vários rituais e cerimônias, informamos a memória
antiga o nosso papel e o propósito de estar aqui na Terra, para que possamos cumprir
nossos respectivos destinos.
Em Paz Interior, Awo Falokun Fatunmbi nos ensina o seguinte:
A forma de ver o mundo, informa como vemos a nossa vida.
A forma como vemos nossa própria vida, informa como tratamos os outros.
A forma como tratamos os outros é uma medida de caráter.
Na linguagem da religião yorùbá tradicional, Ayanmo não é Ìwà Pèlé.
Ìwá pèlé ni Ayanmo.
Que significa:
Ayanmo não é o bom caráter.
O bom caráter é destino.
Se é através de um bom caráter que se cumpre seu próprio destino, então ele confunde a
mente, como se poderia negar a outra pessoa o seu destino, um assunto que ela tem
direito.
A adivinhação por Ifá é uma das pedras angulares da nossa prática, nós consultamos
Ifá, òrìsà e os antepassados com freqüência para ajudar a guiar-nos através da vida de
maneira mais eficaz. É através da adivinhação que aprendemos a melhor maneira de
alcançar este fim. Isso pode significar que podemos dedicar nossas vidas para o culto de
uma divindade em particular ou a Ifá e isto seria revelado através do processo de
consulta ao oráculo.
Eu não sei como outro ser humano pode negar o destino de outro ser humano
simplesmente por causa de orientação sexual ou gênero; para mim esta postura está
dizendo que você sabe mais do que Ifá e nem mais do que Òlódúmarè.
Se nossa capacidade é tão grande e não há necessidade do culto de Ifá / Òrìsá como
teríamos a capacidade de transcender as nossas limitações com tanta facilidade se não
apagá-los todos juntos.
Voltando ao ponto onde Áwo Falokun diz:
A forma como nós nos vemos informa como tratamos os outros.
Há um debate em curso sobre a função do local onde gays e lésbicas se encaixam no
mundo de Ifá, tanto tradicional, com os diversos sistemas na diáspora.
Primeiro, pessoalmente, estou cansado dessa conversa porque eu sinto que não serve
para nada.
Segundo que eu compartilho minha vida com alguém e isto não é nenhum motivo de
preocupação para ninguém.
Em terceiro lugar, homens gays e mulheres lésbicas precisamos parar de dar o seu poder
a nossos irmãos e irmãs em linha reta (de forma aberta e direta) para que possamos nos
sentir validados.
Eu entendo que ter aliados, é importante, contudo, devemos ter certeza de que nos
valorizam em primeiro lugar. Nos meus trinta anos ou mais, crescendo nestas várias
tradições tanto homens como mulheres gays (tanto lésbicas e heterossexuais) têm estado
na vanguarda em manter estas tradições vivas e funcionando, apesar da discriminação,
obviamente.
Àse.
Tradução:
Odé Gbàfàomi.
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O Ritual de Ìmótótó e Osé
Novembro 26, 2014 por Fernando D'Osogiyan
O Ritual de Ìmótótó e Osé
É tradição nas principais casas de candomblé ketu/Nagô, fazerem anualmente o
ritual de Ìmótótó e Osé. O Ìmótótó e Osé é feito em todos os Igbás, pejís, ajubós e no
Ilé Àse como um todo. Este ritual ficou mais conhecido e generalizado por
chamarmos apenas por Osé.
Osé é o nome do sabão preto especial da costa da África e Ìmótótó quer dizer limpeza,
higiene, asseio.
O Ìmótótó e Osé começará sempre pelo Orixá patrono da casa ou de acordo com os
fundamentos da casa, assim, por exemplo, a minha casa é consagrada a Oxalá então
ele será o primeiro.
Um Ogan antigo e exclusivo, confirmado de Oxalá será responsável por descer Oxalá
do Pejí para o Ìmótótó e Osé, que será feito por uma Ajoie antiga e experiente. O
mesmo ato se repetirá para todos os Igbás do Babalorixá e demais Oyes antigos, o
Ìmótótó e Osé será feito individualmente pelos demais filhos até o mais novo Abiyan
com sua quartinha.
As tarefas para o Ìmótótó e Osé deverão ser muito bem distribuídas entre os filhos, de
forma ordenada, rápida e silenciosa para não haver lorogun, pois este ritual não
deixa de ser é um Ebó.
Para cada Igbá de Orixá é necessário que se deixe separado: 5 bacias de ágata para
montagem dos banhos; sabão da costa africano e preparado; owaji, osun, efun; no
mínimo 4 ervas quinadas específicas do Orixá + 1 molhe de saião; omim; omieró;
omitorô; gingibre; bucha; esteira nagô; morim branco.
Alguns Axés também passam dendê nos ferros de Ogun e Oxóssi, após o osé e
algumas casas usam outros elementos para o Ìmótótó e Osé.
Embora não seja uma regra, os Igbás dos Orixás podem ser colocados no barracão
para que seus quartos sejam lavados com água e sabão, numa boa faxina sempre de
forma hierárquica e faxina pode se estender a todas as dependências da casa,
barracão e no portão da Casa.
Dependendo do números de Igbás de cada quarto de santo, poderemos especificar a
quantidade de ervas/folhas a ser comprada para ser divididas entre todos e assim, por
cada quarto de santo.
Somente o ronkó ou camarinha não passam pelo Ìmótótó e Osé pois neste caso é feito
o Ariasé que é o ritual de preparação para o recolhimento nas obrigações de
iniciação e de tempo.
É importante dizer que os ilús, agogô, aquidaví e todos instrumentos musicais,
apetrechos dos Orixás, também passam pelo Ìmótótó e Osé, enfim, nada dentro do Ilé
Àse fica sem Ìmótótó e Osé, em especial, no Ilé Àse de Oxalá a limpeza é
fundamental.
Os encarregados de dar Ìmótótó e Osé nos Orixás que levam dendê em suas
ferramentas e Okutás não podem ajudar no Ìmótótó e Osé dos Orixás funfun.
No final do Ìmótótó e Osé, arriamos um Ebô em todos os quartos de Exú a Oxalá,
damos um bom defumador com atins e ervas específicas, e de acordo com o odú que
se apresentou no jogo feito para casa, e se fizer necessário, uma oferenda.
O Ritual de Ìmótótó e Osé é pré-determinado através do calendário anual do Ilé Àse
para que todos saibam a responsabilidade, a importância e renovem o
comprometimento com seu Orixá e a Casa. Existem Casas antigas que fazem Ìmótótó
e Osé a cada 6 meses.
Tenho observado que este ritual está se extinguindo principalmente nos novos
candomblés, novos zeladores não adotam deforma sistemática, sabemos que é
muitíssimo cansativo, mas sabemos também, que é além de tudo, uma renovação de fé
e intimidade com nosso Orixá e sem dúvida, uma liturgia importante com as águas a
fonte da vida
Texto: Fernando D’Osogiyan
ATENÇÃO: Estão copiando os textos postados aqui no Blog e republicando em
outros blogs “sem dar o devido crédito aos autores”, isso é lamentável. Passaremos
a denunciar essas pessoas aqui no Blog e em toda rede.
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Òrisà Oko
Novembro 22, 2014 por Fernando D'Osogiyan
Òrìsà Oko
Òrìsà Oko é o Deus da Fazenda, o Deus da Agricultura, uma Divindade de suma
importância na Cultura Yorùbá, mas pouco conhecido no Brasil. No Terreiro de
Òsùmàrè ele é festejado há séculos, por meio de obrigações internas e cânticos que
destacam o seu grande poder sobre a agricultura. No Candomblé, a exemplo das folhas e
água, usamos em abundância os grãos, tubérculos e frutos que a agricultura nos fornece,
razão que já evidencia quão importante esse Òrìsà é para a nossa cultura.
Uma antiga história Nàgó, conta que um grupo de pessoas de uma cidade resolveu
tramar contra “Olasi”, eles falaram que quando Olasi saísse da sua fazenda eles iriam
roubá-lo e bater nele. Essas pessoas tinham grande inveja de Olasi, pois ele tinha grande
facilidade em cultivar a terra.
Quando Olasi ficou sabendo da intenção dos seus inimigos, resolveu consultar Ifá, o
grande Deus do Oráculo. Ifá disse à Olasi que ele deveria permanecer em sua fazenda
por um longo período, cuidando das coisas da terra e que não retornasse à cidade, num
período mínimo de um ano. Assim Olasi fez. Nesse período, as pessoas da cidade
próxima a fazenda de Olási começaram a passar por grandes dificuldades. As mulheres
não engravidavam mais… Os homens não conseguiam trazer alimentos para casa…
Toda a cidade ficou em caos.
Nesse período, Olási ficou plantando tudo o que conseguia, criando dessa forma, uma
grande produção. Na fazenda de Olasi havia de um tudo. Inhame, milho, feijão, Obì,
tudo em abundância. Mas ninguém da cidade desfrutava de toda essa fartura, pois Olasi
não retornou mais à cidade.
Prestes de completar um ano, um ancião da cidade consultou Ifá para saber o que a
população deveria fazer para que tudo voltasse ao normal. Por meio do jogo, ele
descobriu que tudo o que estava acontecendo foi em razão da traição que algumas
pessoas da cidade iriam fazer à Olasi. Ifá disse ao ancião, que ele deveria reunir todas as
pessoas da cidade e que juntos, eles deveriam ir à fazenda (Oko) de Olási, levando
bebidas, tambores e tocando flautas. Quando lá chegassem deveriam pedir perdão à
Olasi, pedindo que ele regressasse à cidade.
No outro dia, o ancião reuniu a população da cidade e comunicou o recado de Ifá. Todos
foram tocando tambores até a fazenda, quando lá chegaram ficaram maravilhados com
tanta fartura, com tantos inhames, com tanto milho. Quando Olasi foi recebê-los eles
começaram à gritar: “Òrìsà Oko!!! Òrìsá Oko!!! Òrìsà Oko!!!” (Deus da Fazenda, Deus
da Fazenda, Deus da Fazenda).
A partir daquele momento, ele nunca mais foi chamado de Olasi, todas as pessoas o
chamavam de “Òrìsà Oko”. Ele perdoou a população, mas disse que, todos os anos as
pessoas deveriam fazer uma grande procissão agradecendo por tudo de bom que a terra
lhes oferecia. Òrìsà Oko deu a população muitos grãos e inhames e eles voltaram para a
cidade em procissão, agradecendo à Òrìsà Oko.
Assim nasceu a procissão de Òrìsà Oko, o Deus da fazenda, o Deus da Agricultura.
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Asè Ògòdó
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Candomblé
Orisa Oko
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Consciência Negra
Novembro 20, 2014 por Fernando D'Osogiyan
Símbolos de resistência, quilombos
preservam cultura negra em PE
No estado, há atualmente 112 quilombos reconhecidos
pelo governo federal.
Em Vicência, antiga casa-grande virou sede de
associação quilombola.
Imagem de Zumbi fica na praça de entrada do Quilombo Trigueiros, em Vicência
(Foto: Renan Holanda/ G1)
Logo na entrada do distrito, uma imagem de Zumbi dos Palmares em azulejos
recepciona quem chega. E, de certo modo, anuncia que ali se passaram episódios
emblemáticos da nossa História. No Quilombo Trigueiros, em Vicência, na Mata Norte
de Pernambuco, os resquícios do tempo de escravidão estão impressos em cada ruela da
comunidade, onde moram 367 famílias. No Brasil, a Fundação Palmares, ligada ao
Ministério da Cultura, é o órgão responsável por formalizar a existência de quilombos e
assessorá-los no acesso a políticas públicas de ingresso à cidadania.
Na definição da Fundação, “quilombolas são descendentes de africanos escravizados
que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos”. O
povoado de Trigueiros foi assim reconhecido em 2008. No Brasil, são 2.431
comunidades quilombolas. Em Pernambuco, há 130 atualmente. Outras dez estão em
processo de reconhecimento no estado.
Quando aboliram a escravidão, ficamos escravos do dinheiro. Meu pai queria que eu
estudasse e, ainda novinho, lembro o patrão falando: ‘Pra quê estudar? Pra cortar cana?’
Eu sentia cheiro de escravidão”
José Severino da Silva, 67 anos,
neto de escravos
Muitas das mudanças realizadas ou em curso no Quilombo Trigueiros se devem a esse
reconhecimento formal da Fundação Palmares. “A gente se achava diferente, mas não
tinha essa ideia de quilombola. Toda comunidade tem seus costumes. Aqui, por
exemplo, pode trazer a banda mais cara para tocar no São João, mas se não tiver uma
palhoça e um sanfoneiro, nem adianta. No outro dia, o pessoal não estaria satisfeito”,
explica a presidente da Associação Quilombola de Trigueiros, Edriane Barbosa.
Curiosamente, a sede da instituição funciona na antiga casa-grande do povoado. As
iniciais do antigo senhor de engenho ainda cravadas no imóvel – JGCP, José Gomes da
Cunha Pedrosa – mostram que a comunidade não nega suas memórias, mas deseja
reescrever essa parte da história. “Quando aboliram a escravidão, ficamos escravos do
dinheiro. Meu pai queria que eu estudasse e, ainda novinho, lembro o patrão falando:
‘Pra quê estudar? Pra cortar cana?’ Eu sentia cheiro de escravidão”, lembra o
aposentado José Severino da Silva, 67. Seu avô era jagunço de senhor de engenho; o pai
fazia trabalhos braçais.
Com o gradual desenvolvimento de Trigueiros, as heranças do período escravocrata vão
desaparecendo. Seu Severino, por exemplo, que é mais conhecido por Goió, conta que a
comunidade cresceu tanto que os cachorros precisam tomar cuidado ao dormir nas ruas,
devido à quantidade de carros. Os três que ele tinha – Chaves, Chapolin e Chiquinha –
morreram atropelados. O aposentado guarda quase nenhum ressentimento dos tempos
de exploração: “Hoje, sou rico”. A casa onde vive com a mulher tem sala com televisão
e cadeira de balanço, além de um quintal onde criam algumas galinhas.
Seu Dito largou o trabalho nos
engenhos de açúcar
para vender os balaios que ele mesmo produzia
(Foto: Renan Holanda/ G1)
Relato parecido tem Benedito José da Silva, 72, ou simplesmente Seu Dito. Trabalhou
em engenhos de cana-de-açúcar por anos até resolver despender esforço em causa
própria. Era final dos anos 1960. “Tive fé em Deus que nunca mais ia cavar sulco para
ninguém”, lembra. Aprendeu a fazer balaios e ia ao Recife pelo menos uma vez na
semana para tentar vendê-los a comerciantes do Centro de Abastecimento e Logística de
Pernambuco (Ceasa). “Os primeiros que eu fiz eram meio ruins. Um cara lá pegou,
olhou e disse que era uma bomba”, conta, bem humorado. Depois se aperfeiçoou na
prática e ganhou a vida vendendo balaios até ano passado.
Quilombo urbano Para dificultar sua localização e ainda recriar, de certa forma, as estruturas de
convivência africanas, os quilombos se assentavam em locais distantes, geralmente
cravados em áreas de mata ou floresta. O surgimento dessas comunidades muito está
ligado à cultura açucareira. Entretanto, a Fundação Palmares também reconhece os
chamados quilombos urbanos, localizados em capitais e grandes centros. No Brasil, há
três desse tipo, um deles em Olinda.
Rua principal do Quilombo Portão do Gelo leva o nome de Severina Paraíso da
Silva, a Mãe Biu (Foto: Renan Holanda/ G1)
A comunidade Portão do Gelo foi reconhecida como quilombo urbano, o único de
Pernambuco, em 2006. Sua história é vinculada diretamente à religião, mais
especificamente à Nação Xambá. Os cultos dessa tradição foram trazidos ao Recife pelo
babalorixá Artur Rosendo nos anos 1920. Após seguidas perseguições às religiões de
matrizes africanas, o terreiro, chamado Santa Bárbara, instalou-se definitivamente em
Olinda, em 1951, no bairro de São Benedito. Ali, fruto da resistência da Nação Xambá,
nasceu e se desenvolveu o Quilombo Portão do Gelo.
Todas as pessoas que vieram a esse país vieram como imigrantes. Elas tiveram a opção
de vir ou não. Nós não, nós fomos obrigados, porque viemos na condição de escravos.
Não somos escravos, mas fomos escravizados, é bom que se diga. Então o governo tem
por obrigação fazer esse reparo social com essas pessoas que vieram para um lugar que
não queriam”
Babalorixá Ivo de Xambá, responsável pela comunidade Portão do Gelo, único
quilombo urbano de Pernambuco, situado em Olinda
O babalorixá Ivo de Xambá é, atualmente, o responsável por preservar as tradições da
comunidade. Para ele, a partir do momento em que se classifica uma comunidade como
quilombola, o governo passa a reconhecer formalmente sua responsabilidade em levar
políticas públicas àquele local. “Todas as pessoas que vieram a esse país vieram como
imigrantes. Elas tiveram a opção de vir ou não. Nós não, nós fomos obrigados, porque
viemos na condição de escravos. Não somos escravos, mas fomos escravizados, é bom
que se diga. Então o governo tem por obrigação fazer esse reparo social com essas
pessoas que vieram para um lugar que não queriam”, assevera.
Para preservar a identidade, memória e evolução do terreiro e da Nação Xambá em
Pernambuco, foi criado o Memorial Severina Paraíso da Silva, nome de batismo de Mãe
Biu, que reagrupou a família dispersada pela repressão dos anos 1930. No local,
inaugurado em 2002, há fotos, pertences e vestimentas usadas pelas ialorixás da Nação.
As limitações de tamanho e também de ordem financeira impedem que o espaço,
localizado nos fundos do Terreiro Santa Bárbara, abrigue ainda mais itens.
saiba mais
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Na visão de Ivo, o senso de preservação das tradições Xambá faz com que o Portão do
Gelo seja uma espécie de fortaleza para questões religiosas e sociais. Eles estão
buscando, junto ao poder público, a realização de um censo dentro da comunidade para
que se possa saber sua população exata, as principais demandas e prioridades. “Criar o
quilombo não é só uma área de resistência, mas é fazer com que o governo faça
intervenções para privilegiar aquilo que eles [quilombolas] não tiveram, que é uma
educação de melhor qualidade, a questão profissional. Toda as benesses que o cidadão
comum teve ao longo desse tempo e que essas pessoas não tiveram”, explica.
Ivo de Xambá observa imagens de
Memorial criado
nos fundos de terreiro (Foto: Renan Holanda/ G1)
Legislação A definição legal de quilombo só veio a ser formalizada por meio do Decreto 4.887, de
2003, que assim considera os remanescentes dessas comunidades: “Os grupos étnico-
raciais, segundo os critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados
de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada
com a resistência à opressão histórica sofrida”. O próprio termo “quilombo”, que na
legislação colonial era enquadrado como crime, sumiu da base legal brasileira durante o
período republicano.
Segundo um documento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir), vinculada à Presidência da República, o termo apenas veio a reaparecer
na Constituição de 1988, como uma categoria de autodefinição. Por meio do artigo 68
da Constituição, finalmente se reconheceu aos remanescentes de quilombos o direito à
propriedade definitiva das terras que ocupavam.
Por serem quilombolas, os moradores do Portão do Gelo, por exemplo, têm um
cadastramento diferenciado no Bolsa Família. No Quilombo Trigueiros, também por
meio do governo federal, estão sendo construídas 40 casas populares e outras 49 já
foram autorizadas. “O quilombo hoje é, nada mais nada menos, essa fortaleza que não
vai só proteger a questão social e religiosa do homem negro, mas também vai junto ao
governo buscar mecanismos de melhoramento”, resume Ivo de Xambá.
Antiga casa-grande foi transformada na sede da Associação Quilombola de
Trigueiros (Foto: Renan Holanda/ G1)
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Culto a Orô e a sociedade
Novembro 16, 2014 por Fernando D'Osogiyan
Culto a Divindade Orô
Orô é uma divindade masculina que representa a ancestralidade dos Homens, é um Deus
similar à Iyámi, o Culto a Orô representa o culto indireto a Ikú, é um dos cultos aos
mortos, Deus da Destruição é considerado como o portal para a ressurreição. Segundo
um de seus mitos, toda alma ancestral masculina para que pudesse renascer na Terra
deveria ir ao seu encontro, a alma teria de ser devorada pelo Deus. Orô é considerado
como um Deus incontrolável, conta-se que quando Orô sai pelas ruas ninguém deve
ficar em seu caminho ou será sacrificado. Orô possui uma voz extremamente grossa e
cavernosa, seu grito ecoa como um trovão na floresta da morte, ele absorve a vida de
tudo. A única divindade que trata com Orô é Xangô, pois foi o único a fazer os Ebós
necessários para isso. Apenas homens podem prestar culto a Orô.
Muitas sociedades alcançaram o título de “poderosas” na Religião Yorubá, mas
nenhuma alcançou o prestígio da Sociedade Secreta Orô. Na antiguidade esta sociedade,
semeava o terror dentro do poder, já que seus emissários ocultos, por baixo de máscaras
impediam o abuso de sacerdotes, monarcas inclusive de anciões, que formavam o
conselho central do reino. A missão desta sociedade, prevalecia em todas as exigências
religiosas e era tão poderosa, que possuía o direito de vigiar se os governantes
respeitavam os preceitos morais divinos. Eles são os defensores e reguladores da ordem
tradicionalista, do cuidado com o conhecimento, do folclore, da história e dos mitos. Os
membros desta sociedade, desempenhavam múltiplas funções sociais. Os membros da
Sociedade Orô, se preocupavam, com o adequado “respeito ao culto dos ancestrais”,
mantendo-o vivo, por tanto, os membros desta sociedade se encarregavam de conseguir
que os mortos fossem enterrados conforme determinados rituais apropriado e sua almas
chegassem com segurança ao reino dos mortos, inclusive aquelas pessoa, que por
infelicidade fossem mortas em acidentes ou tivessem mortes trágicas. Orô Aboluaje, é o
título que se lhe dá e seu significado seria: “o que pode recolher da areia da vida o chefe
dos feiticeiros”, é um espírito deificado dos homens. Orô recebe o nome de Ita e tem um
companheiro com o qual lhe chama ao vento, seu nome é Irelê, com o qual caminha e se
alimenta. Ele é representado por um filete, cuja confecção é um segredo e vive encima
dele. Orô é chamado de Deus do mistério. Segundo o Odu Ogbe-Osa, onde disse que
vagava pelo bosque e fundou o estado de Kwara, a deidade do segredo do retiro e do
encanto. Na antiguidade a Sociedade Orô, estava vinculada à Sociedade
Ogboni(Osugbo), eram os executores dos criminosos; quando um criminoso era
condenado pela Corte Ogboni, eram os membros do Culto de Orô, os que executavam a
sentença. Quando Orô, saía à rua durante a noite, os que não pertenciam a esta
sociedade deveriam ficar recolhidos em suas casa ou corriam o risco de morrer. Eles
estabeleciam “o toque de recolher”. Durante o ano havia de sete à nove dias dedicados
as festividades de Orô, especialmente em lua nova, onde as mulheres teriam que
permanecer trancadas dentro de suas casas, com exceção as poucas horas, em que era
permitido saírem para diversos fins. No sétimo dia nem sequer isto seria permitido, sob
rigorosa pena de morte. Deveriam permanacer trancadas, sem importar qual era seu
status social ou título de nobreza. Quem desobedecia as regras desta sociedade era
executado. Orô é uma das forças sobrenaturais que atuam durante a noite. Esta
divindade trás prosperidade, mas ao mesmo tempo a destruição.
Oró Aféfé Ikú! (Orô o vento da morte!)
A Sociedade Orô (Orùn ou Oró Lewé)
A Sociedade Orô é considerada entre os Iorubás a mais poderosa. Entre os Oyo e os
Egba (cuja capital é Abeokuta) seu poder político supera as exigências religiosas. Orô
possui o direito de vigiar se os governantes respeitam os preceitos morais divinos. Orô
está basicamente a serviço dos espíritos dos mortos e por isso só aparecem de noite. Seu
emblema é um pedaço plano de ferro ou madeira (sobre tudo de madeira de Óbó ou
Kam, que as bruxas (Aje) não podem ver nem farejar, presa a um cabo com corda, o que
a converte em uma madeira que zúmbi (emitindo um som todo particular ao ser
manuseada). Cada Sociedade dispõe normalmente de dois tipos destes utensílios. Um é
pequeno e se conhece com o nome de Ise (moléstia) e o tom estridente que produz, se
conhece como Ajá Orô / Aaja Orò ( Cachorro de Orò / Vento de Orò = Orò Afefe Ikú! ).
O outro provem dos madeiros grandes chamados Agbe (espada) e emite um tom surdo
que é considerado como a mesma voz de Orô, este som anuncia que a morte está
ameaçando alguém. Orò reproduz a voz dos mortos e por isso se diz que os mortos os
chamam. A adoração de Orô deve ser realizada de preferência sob a Lua Nova. Os
adeptos da sociedade, costumavam levar máscaras de madeira, porém estas não chegam
a cobrir todo o rosto.
Oriki Orô
“Óró mà nì kó.
Óró mà jà kó.
Óró Tóhùn tíré síté.
Óró Óhùn Ótòhùn nì ímà wà kírì.
Ásè!”
Tradução
“Orô causa confronto.
Orô não me cause confronto.
Orô tem a voz do poder.
Orô tem uma voz que ressoa por todo o Universo.
Que assim seja.”
Ofo t’Orô
Werewere Orô yê o! Werewere Orô yê o!
Werewere Orô yê o! Werewere!
Orô yê o!
Werewere Orô yê o! Werewere!
Sesé kurú ru
Obà nen yê!
Tradução
Oh! Orô que vive com pressa, oh! Orô que vive com pressa
Oh! Orô que vive com pressa, impaciente!
Oh! Orô o eterno
Receba a oferenda, poder que surge da morte
Rei eterno.
Texto: Oba kaloje/Internet
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Ìyàmì- A Grande Mãe Ancestral
Novembro 11, 2014 por Fernando D'Osogiyan
Ìyàmì
Ìyàmì
Uma das mais importantes e perigosas Divindades do Candomblé, a grande mãe
ancestral Ìyàmì. Essas grandes senhoras são, sem dúvidas, o maior símbolo do poder
feminino da cultura yorùbá.
Antes de tudo, é importante recordarmos que o culto às Mães Ancestrais, chegou ao
Brasil, ainda à época da escravidão, sobretudo por meio de Maria Júlia Figueiredo, do
Terr…eiro da Casa Branca do Engenho Velho, que possuía dois dos mais importantes
títulos nas sociedades femininas yorùbá, o de Ìyálode (chefe entre as mulheres) e Erelu
(supremo título feminino na sociedade Ogboni). É muito importante salientar o papel de
Maria Júlia Figueiredo (Ìyá Omoniké), para a formação desse culto no Brasil, bem
como os seus títulos honoríficos, trazidos da África, pois há quem erroneamente
acredite que o conhecimento litúrgico acerca das Ìyàmì seja algo recente no Brasil.
Fato é que nas mais antigas e tradicionais comunidades de Candomblé da Bahia, o culto
à Ìyàmì sempre existiu, no entanto, o respeito que existe em relação a essa Divindade
fez e faz com que o seu culto seja restrito e não participado à maioria. A evocação dessa
importante Divindade em rituais como o Ipade, bem como, os assentos mais que
centenários existentes nos tradicionais terreiros, corroboram a constatação desse culto
ter sido introduzido no Brasil, juntamente com o surgimento do Candomblé na Bahia.
Ìyàmì é tida como a perigosa feiticeira yorùbá, por isso recebe o nome de Ìyàmì Ajé
(minha mãe a feiticeira). O medo e respeito acerca dessa divindade são tão
significativos que, o seu principal nome (Osoronga), quase nunca é pronunciado nas
Casas de Candomblé. Quando isso ocorre, a pessoa que está sentada se levanta,
cruzando a barriga e a nuca em sinal de respeito e reverência. O mesmo ocorre na
cerimônia do Ipade, quando as filhas da comunidade cruzam a barriga e nunca, sempre
que pronunciado o nome, por completo, da grande mãe ancestral.
O primeiro nome Ìyàmì, que significa “Minha Mãe”, antecede os diversos “apelidos”
que são utilizados para mencionar a grande mãe ancestral, tais como o mencionado
“Ìyàmì Osoronga” (que não deve ser pronunciado em momentos indevidos), “Ìyàmì
Eleye”, “Ìyàmì Ajé”, “Ìyàmì Agba” dentre muitos nomes.
O poder de Ìyàmì é intangível e desmedido, ela é sem dúvida alguma, uma das
Divindades mais poderosas do Candomblé e, essa é uma das razões para que as pessoas
tenham tanto receio e medo em relação a Ìyàmì. No Ipade, Ìyàmì é louvada por meio de
cânticos específicos que enaltecem as suas características e por meio de oferendas que
apaziguam a sua cólera, fazendo com que exista o equilíbrio necessário para a
realização das festividades.
Em momento algum podemos deixar de lado o perigo existente acerca de Ìyàmì, no
entanto, não podemos igualmente deixar de recordar que Ìyàmì, é também, o próprio
princípio genitor feminino, a representação máxima da ancestralidade feminina. Muitos
dizem, de forma indevida, que Ìyàmì é uma divindade do mal. A verdade é que Ìyàmì
jamais pode ser deixada de lado, isso sim desperta a sua cólera e seus aspectos mais
perigosos.
Ìyàmì é o maior símbolo da ancestralidade feminina e a maior representação feminina é
o ventre, simbolizado na cultura yorùbá pela cabaça (igba) e pelo ovo (eyin adiye).
Ìyàmì é a grande dona do ventre, razão pela qual, muitas mulheres com dificuldade de
engravidar recorrem a ela, para conseguir realizar o sonho da maternidade. Ìyàmì tem
grande poder sobre toda a parte genitora, uma das reverências que as mulheres realizam
para Ìyàmì, é justamente tocar a árvore sagrada dessa Divindade com a barriga, em sinal
de respeito e clamando por proteção e filhos.
Os terreiros de Candomblé que colocam em suas portas ou assentos de Ìyámì, um
pequeno alguidar com ovos e azeite de dendê, estão apaziguando a grande mãe e
pedindo para que as intrigas, confusões e discórdias não adentrem ao terreiro. Como já
mencionado, o ovo representa o ventre e, por consequência Ìyàmì, o azeite de dendê,
diferente do que muitos acreditam, por sua vez, tem o poder de apaziguar, de trazer a
calma (eró).
Outro símbolo dessa poderosa Divindade é o pássaro, por isso, ela também é chamada
de Ìyàmì Eleye (a mãe dona do pássaro, em especial, a coruja). Aqui em Salvador, é
comum se ouvir das antigas egbon do Candomblé que, quando uma coruja (owiwi)
canta, Ìyàmì está anunciando a sua chegada o que pode em muitos casos, ser um mau
presságio. Quando isso acontece, elas imediatamente cruzam a barriga e a nuca.
Muitas histórias discorrem sobre a ligação das Ìyàmì com os pássaros, com as penas das
aves (Mãe poderosamente emplumada). Em uma antiga foto constante no terreiro da
casa branca, Ìyá Júlia (Ìyá Lode, Erelu) aparece com uma pena de um pássaro na
cabeça, mostrando novamente a sua ligação com o culto dessa Divindade. Ainda hoje, é
comum veremos antigas egbon do Candomblé, carregando entre os cabelos, uma pena
de pássaro.
Algumas historias de Ifá, ilustram que Ìyàmì tem o poder de se transformar em pássaro,
empoleirando-se em algumas árvores como Iroko e Ajanrere. Esse, por sinal, é um dos
motivos para que as pessoas não fiquem debaixo da copa de Iroko durante a noite, pois
acreditamos que ela se esconde em seus grandes galhos.
Muito embora, grande parte do culto de Ìyàmì é destinada às mulheres, existe a dança
de Gèlèdè, realizada por homens. Nessas danças, os homens prestam homenagem à
Ìyàmì, com máscaras que simbolizam a própria imagem da Grande Mãe Ancestral. A
dança realizada por homens, mostra de forma contundente que a mulher tem o poder da
vida, pois todos são gerados no ventre feminino, todos nasceram de uma mulher, sendo
fundamentalmente importante se curvar ante à poderosa mãe. No Brasil, a dança de
Gèlèdè não perdurou, talvez pelo fato da supremacia da mulher nos terreiros e, ainda
talvez, pelo forte culto à Egúngún, os grandes ancestrais masculinos, que diferente do
culto à ÌYámì, tem quase que sua totalidade de rituais, liderados por homens.
Todas as mulheres e todas as Divindades femininas – principalmente Òsun, Oba, Yewa,
Oya, Nana e Yemoja, possuem uma grande ligação com Ìyàmì. Cada uma dessas
Divindades possui uma justificativa que ilustra sua ligação com Ìyàmì, mas o fato de
todas serem mães e poderosas em suas sociedades, reflete de forma abrangente esses
laços.
No Asè Òsùmàrè, à época das festividades de Òsun, existe um ritual carregado de
simbolismo, na qual as mulheres do Terreiro carregam as águas para a árvore
consagrada à grande e poderosa mãe. As mulheres do Terreiro, principalmente as Agba,
dançam e cantam em homenagem àquela que representa o maior poder da mulher na
sociedade Nàgó. Nessa ocasião, a nossa Agba, Mãe Walquíria de Òsun, que possui no
Terreiro de Òsùmàrè, o título de Ìyálode, carrega a máscara consagrada à Ìyàmì,
evidenciando-nos de forma contumaz a manutenção desse importante culto no Brasil.
Embora seja um ritual interno, realizado diante somente dos filhos da casa, é uma
cerimônia muito importante para todos, pois revitaliza a importância da mulher e do
poder feminino, remetendo-nos à mais pura essência da nossa cultura ancestral. É
fundamental, ainda, pois apazigua os poderes dessas grandes mães, transformando sua
energia num poderoso agente de proteção, seja para casa, seja para os filhos do egbe.
Obviamente, esse culto é cercado de segredos que não podem ser revelados aos não
iniciados e, em momento algum, podemos esquecer que estamos escrevendo num
ambiente que é aberto a todos. No entanto, mesmo com o cuidado de não participar o
Awo (mistério) desse culto, nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos ter contribuído para
o esclarecimento sobre essa importante Divindade do Candomblé, Ìyàmì Agba.
Terreiro de Òsùmàrè
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Ensinamentos de Ifá para um melhor entendimento da
vida na Terra.
Novembro 5, 2014 por Da Ilha
Por Áwo Falokun Fatunmbi
Em minha opinião, o único, o mais importante, é a premissa sobre a qual se baseia Ifa, é
a crença de que a vida funciona.
Ifa diz:
Ọlọkún ma npese onje fun àwọn ợmợ okun.
Que significa:
O Espírito do Oceano sempre fornece alimento para os filhos do mar.
Ifa é baseado na crença de que, se viver em harmonia com o Eu interior e o mundo,
recebemos uma bênção, ire ợmợ (filhos), ire ọwó (dinheiro), ire agbo ato (vida longa).
A partir desta premissa, surge a noção de que se a minha vida fica melhor, a sua vida
fica melhor.
Quanto mais eu sou capaz de cuidar de meus filhos, recebo a bênção de
abundância e de boa saúde, mais fácil se torna para os outros fazer o mesmo.
Como isso é possível?
É possível, porque como minha vida fica melhor, tenho mais recursos
disponíveis para ajudar aqueles que me rodeiam.
Sua vida não fica melhor se eu gastar meu tempo com ciúmes do que você tem e
se envolver em esquemas que podem me levar para longe de você.
Qualquer difamação do outro é uma difamação de si mesmo.
O fundamentalismo em todas as suas manifestações religiosas é baseado em uma
consciência da escassez.
Dizendo que eu sou o intérprete da vontade de Deus é frequentemente uma
justificativa mal disfarçada para a ganância.
Se você acredita que a escassez é uma lei universal da natureza, a ganância é
necessária para a sobrevivência.
Se você acredita que a abundância é a Lei Universal, a generosidade é a
consequência inevitável.
Minha experiência como estudante de Ifa me diz que a natureza se sustenta a
partir de um poço com potencial infinito.
Abundância é a Lei Universal da Criação.
Se isso é verdade eu não sou dependente dos outros para criar a minha boa sorte.
Se eu cuidar das questões pessoais a abundância e a autotransformação vão me
encontrar.
Nenhuma mudança interna ocorre quando eu estou preso a questões de ciúme,
inveja e ganância.
Se eu perder meu tempo querendo o que você tem, vou usurpar a experiência de
aprender com o que eu preciso.
Tenho me divertido com um trombone de Jazz por 50 anos.
Durante os primeiros vinte anos eu queria tocar como JJ Johnson e eu sempre ficava
decepcionado com meus esforços.
Um dia eu decidi tocar como eu sabia e passei a gostar do meu som desde então.
Em contraste com uma perspectiva dogmática, o ponto de vista dinâmico é
baseado em uma metodologia de ver o mundo que envolve a possibilidade de
crescimento contínuo e constante mudança.
Teólogos ocidentais se referem a esta perspectiva como gnóstico.
Ifa não se baseia em dogma, é apenas uma maneira de olhar o mundo.
Ele está firmemente enraizado na abordagem gnóstica, o que significa que
abrange a busca da autodescoberta, em vez de propagar uma doutrina definida.
A palavra gnóstica deriva do grego gnoses que significa conhecimento das coisas
espirituais ou aquele que possui um conhecimento místico.
Um ponto de vista gnóstico é muitas vezes difícil de descrever, pois qualquer tentativa
de conceituação prejudica sua premissa.
O que pode ser dito sobre a visão de mundo gnóstico é que ele abraça a ideia de a
consciência humana é capaz de tornar-se elevada em estados alterados (possessão por
parte do òrìşà ou profunda reflexão), abrindo as janelas da percepção humana e nos
permitir ver interações que são outra forma de ver o oculto.
Ifa refere-se a essa mudança como:
Òrúnmìlá wa l’onà Ayè.
Que significa:
Voltar ao tempo em que o Espírito do Destino (Ọrúnmìlá) andou na terra.
É também uma referência ao nome do louvor do Espírito do Destino, o Elérìípín, ou
seja, testemunha da criação.
Testemunhar a criação é perceber as forças invisíveis da natureza que sustentam
a dinâmica e a forma no mundo visível.
Em termos práticos, isso sugere que é possível concentrar a nossa atenção de
uma forma que ilumine tanto um problema como a sua solução
simultaneamente.
A minha experiência de meditação sobre os símbolos sagrados usados para
identificar os vários versos dos Odu Ifa tem o potencial de iluminar a polaridade
entre causa e efeito.
Os símbolos usam linhas simples para representar as linhas de expansão e linhas
duplas para marcar a contração.
Cada Odu tem oito conjuntos de linhas simples e duplas agrupadas em dois
conjuntos verticais de quatro.
Se você inverter todas as linhas do símbolo do Odù, tornando as linhas
simples em duplas e as linhas duplas em simples você pode identificar o
versículo que é a fonte do problema descrito no verso original.
Esta é uma maneira de começar a entender e compreender a ideia de
polaridade e equilíbrio (Aqui falamos para os Bàbáláwo) Toda ação na Natureza tem uma reação igual e oposta.
Qualquer um que tenha passado algum tempo na floresta sabe que para qualquer
coisa viver outra coisa deve morrer.
A palmeira que chega a maturidade coloca seus pequenos brotos em sua sombra.
A cobra come o rato, o rato come o lagarto e assim por diante até a cadeia
alimentar se completar.
Nada é intrinsecamente bom ou mau.
Cada sim carrega um não.
Bênçãos exigem um sacrifício.
A alegria do casamento inclui limitações à independência pessoal.
A realização de aprender uma habilidade inclui a negligência de algum outro
campo de estudo.
Ambiguidade é à base de toda a experiência.
Quem aprecia a dinâmica da natureza e da vida no mundo, vai ver a futilidade da
criação do dogma.
O elemento do caos e da mudança faz todas as conclusões serem limitadas e
eventualmente obsoletas.
A crença em qualquer doutrina não é garantia de ser apropriado no momento.
Ifa não tem credo e não tem mandamentos.
Ifa usa a adivinhação como um processo de comunicação com o espírito e com o
Eu superior (ìpọnri).
A adivinhação se torna uma fonte de tabu pessoal e orientação individual e não
uma fórmula para o condicionamento de uma comunidade inteira.
Eu talvez precise ser monogâmico nesta vida.
Você pode precisar ser polígamo.
Tabu de uma pessoa não tem impacto direto sobre o comportamento do outro.
A adivinhação pode ser feita para toda uma comunidade, mas a adivinhação é
uma resposta a uma preocupação específica.
A mensagem do Espírito para uma determinada comunidade ou para um grupo
específico de pessoas e não se estende a outras comunidades.
De vez em quando alguém vai me pedir para comentar sobre o conteúdo de uma
adivinhação a partir de outro adivinho.
Eu não acho que seja apropriado responder a esta pergunta que não seja em
termos gerais.
Adivinhação inclui a invocação do Espírito.
A interpretação envolve mensagens do Espírito dirigidas a uma pessoa
específica.
Sem ter estado presente para ouvir a intervenção do Espírito qualquer
comentário por mim seria desinformado e derrotaria todo o propósito da
adivinhação como uma ferramenta para a resolução de problemas.
Tenho notado também que, quando alguém está à procura de uma segunda
opinião sobre um determinado versículo de Odu está frequentemente procurando
confirmação do dogma ao invés de seguir as instruções do adivinho original.
Para abraçar uma perspectiva gnóstica é necessário considerar a possibilidade de
que a Criação é uma emanação da Fonte e que todas as coisas são um reflexo da
base do ser.
Os teólogos referem-se a essa ideia como uma aliança com a Fonte, é a crença
de que o Criador se revela através da Criação.
Em Ifa emanação de Fonte é chamado de Òrìsà que significa consciência
selecionada.
Òrìsà é a qualidade específica da consciência encontrada em uma determinada
força da natureza.
O que sentimos e aprendemos na presença de fogo é diferente do que sentimos e
aprendemos na presença da água.
A metodologia de Ifa para estudar a consciência da Natureza é a primeira a
examinar a consciência de si mesmo e ver como se auto refletem as forças
maiores e de dimensões transcendentes.
É essa metodologia que torna o estudo de Ori o primeiro passo no caminho para
a compreensão do áwo (segredo) ou o mistério da criação.
As complexidades desta jornada tornam o estudo de Ifa um processo contínuo de
auto revelação e crescimento.
Isto é Ifá, isto é Òrìşà, isto é uma orientação para uma forma de se viver com mais
tranquilidade.
Nossa religiosidade está além das pequeninas coisas que nos impedem de evoluir.
Se você quer benção de òrìşà, mude seu comportamento e faça o seu sacrifício.
Seja bom.
Seja honesto.
As divindades apoiam quem age desta forma.
Ire Àláàfíà.
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Dos terreiros para os estúdios
Outubro 28, 2014 por Dayane
Que nossa musicalidade sagrada já tem extrapolado os muros das casas de
axé nós já estamos cansadas e cansados de saber e de ouvir. Sua utilização
para outros fins sempre foi alvo de críticas e polêmicas no meio religioso,
mas, longe de discutir opiniões, o que eu me propus hoje foi trazer exemplos
de belos, lindíssimos e inspiradores trabalhos musicais que utilizam em seus
arranjos elementos de nossas musicalidades de forma enfática ou auxiliar.
Eu não entendo de arranjo, de crítica musical ou qualquer coisa do gênero,
apenas sei dizer “gostei” ou “não gostei”. Por isso, trago para o blog alguns
grupos que eu vim conhecendo e que tenho escutado nos últimos tempos para
que quem não conhece também os conheça. Selecionei alguns nomes, procurei
algumas palavras que falam sobre os grupos e links para vocês ouvirem as
faixas de cada um.
Infelizmente esses grupos não veiculam muito (ou quase nada) nos grandes
canais midiáticos e fazem o trabalho de divulgação pela internet usando
também a contribuição de internautas que compartilham, disseminam, tiram a
música da internet e levam para o seu dia a dia (como eu).
Espero que vocês gostem!
Abayomy Afrobeat Orquestra
“O repertório da orquestra formada por 13 integrantes é composto por
composições próprias, releituras de músicas brasileiras e do Afrobeat, gênero
musical criado pelo ativista nigeriano Fela Kuti.
A banda nasceu em outubro de 2009 para a primeira edição carioca do Fela
Day, evento que celebra o nascimento de Fela Kuti, realizado
simultaneamente em diversas cidades do mundo. Desde então, vem se
destacando pela qualidade musical, com shows dançantes e vibrantes.
Abayomy é uma palavra da língua Yoruba plena de significados positivos,
algo como “encontro feliz” ou “aquilo que nos dá prazer”. Afrobeat é um
gênero musical e um movimento cultural criado por Fela Kuti, na Nigéria
(África), nos anos 70, e tem como base a percussão africana, com ricas
improvisações e identidade contemporânea, mesclando música Yoruba com
jazz, highlife e funk, e uma marcante presença de vocais”.
(http://www.overmundo.com.br/agenda/abayomy-afrobeat-orquestra)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=TN4jo-rpV
Xo
Guga Stroeter & Orquestra HB
“O álbum Xirê Reverb de Guga Stroeter e Orquestra HB debruça-se sobre a
seqüência de canções devocionais que é praticada nos terreiros da nação Ketu,
uma das mais tradicionais da Bahia. Além dos 3 tambores e do agogô, foram
acrescidos instrumentos de sopro, contrabaixo, piano, vibrafone e recursos
eletrônicos sintonizando esses cantos ancestrais – interpretados por Aloísio
Menezes – com as sonoridades da música contemporânea.”
(http://www.tratore.com.br/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=u9I4UyBbMXc
Neste endereço estão as faixas do CD completo: https://soundcloud.com/guga-stroeter
Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz
“As raízes ritmicas afrobaianas observadas através da harmonia do jazz. Esta é
a proposta musical do grupo Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz, a BigBand
instrumental baiana de percussão e sopros.
Criada em 2006 pelo instrumentista Letieres Leite, a Rumpilezz é regida pela
sensibilidade sonora e marcada pela influência do Jazz em sua construção harmônica.
Suas composições, concebidas a partir das claves e desenhos rítmicos do Universo
Percussivo Baiano, têm como referência histórico-musical as grandes agremiações
percussivas como o Ilê Aiyê e Olodum, os Sambas do Recôncavo e o culto sagrado
afrobaiano do Candomblé.” (http://rumpilezz.com/a-orkestra/rumpilezz/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=kXjyilEmD_s
Grupo Bongar
“O Bongar é composto por seis jovens integrantes do terreiro Xambá do
Quilombo do Portão do Gelo, em Olinda. O grupo foi fundado em 2001, com
o propósito de levar aos palcos a tradicional festa do Coco da Xambá, que se
realiza na comunidade há mais de 40 anos, no dia 29 de junho. O grupo
Bongar tem um trabalho voltado para preservação e divulgação da cultura
pernambucana. A formação musical dos integrantes tem origem no universo
popular, especificamente da comunidade religiosa Xambá. O Bongar mostra
em suas apresentações toda a musicalidade do Coco da Xambá, uma vertente
desse ritmo tão presente no Nordeste do Brasil, além de ciranda, maracatu,
candomblé, entre outros ritmos da cultura de raízes. O Bongar também realiza
oficinas de percussão e dança popular, confecção de instrumentos, aulas-
espetáculos e palestras. O público, através do show do Bongar terá a
oportunidade de conhecer, não só a música e a dança deste coco tão peculiar,
mas compreender a formação histórica e cultural desta Nação. O Bongar tem
uma musicalidade muito forte de diversas influências musicais, vivenciadas
nos cultos afro-brasileiros, principalmente da linhagem Xambá. Os integrantes
do grupo herdaram toda essa musicalidade desde a infância, ouvindo os mais
velhos e aprendendo com eles os toques, as loas e as danças, durante as festas
da Casa Xambá”. (http://www.xamba.com.br/bon.html)
LINK ~>https://www.youtube.com/watch?v=kSZaP65FRBs
Grupo Korin Orisha
Korin Orishá é um grupo musical surgido em 2006 que em 2009 fez o
lançamento do seu primeiro álbum, Suíte Afro-Recifense, com cânticos
sagrados dos Orixás no culto nagô pernambucano.
“O resultado é um diálogo entre instrumentos de corda (violino, viola e
violoncelo) e de sopro (flauta, clarineta e fagote), típicos de uma formação
clássica, com sabor afro-brasileiro: tanto a percussão, por meio de atabaques
do candomblé, abê e gongê, quanto o canto, preservado na língua iorubá,
remetem à experiência musical e religiosa africana”, como diz a matéria de
Luiz Fernando Moura, publicada no Jornal do Commercio (22/09/09).
“Herdamos uma tradição cultural dos africanos trazidos para o Brasil na época
da escravidão. Temos que nos impor a missão de restaurar, reviver ou, pelo
menos, não deixar morrer essa cultura”, explica o babalorixá do candomblé
nagô, professor José Amaro Silva dos Santos (UFPE), regente, arranjador e
produtor do grupo.
Com o resgate em mente, o Kori Orishá rodou 16 Estados brasileiros com
patrocínio do Sesc. Passou por Acre, Amazonas, Roraima e Tocantins. No
Sul, atravessou Paraná e Rio Grande do Sul. Entre vários shows pelo
Nordeste, o grupo viajou por vários municípios pernambucanos e terminou a
turnê no Rio de Janeiro somando um total de 42 apresentações.”
(https://www.facebook.com/ogelawo?fref=nf)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=P7bv4SxbPiI
Alabê Ketujazz
“Alabê Ketu Jazz é um grupo musical que apresenta a percussão
tradicional do candomblé da nação Ketu em uma roupagem jazzística.
As composições são diálogos da percussão com o saxofone, como no
Candomblé dialoga o Rum (o atabaque que conduz o ritual) com o Orixá.
Alabê Ketu Jazz é o encontro do Jazz com a música tradicional do
Candomblé, religião Afro brasileira.”
(http://www.coletivobaoba.com/identidade-grafica-e-visual-da-banda-alabe-
ketu-jazz/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=t13f_Yj3i4g
Opanijé
Novidade do hip hop que vem de Salvador, o Opanijé disponibilizou seu
disco de estreia na rede. Lançado no ano passado, o trabalho inova por trazer
ritmos e referências da cultura afro dentro do rap.
A banda carrega a raiz africana já no nome. Opanijé, no candomblé, é um
toque sagrado entoado para orixás e é tocado junto com uma comida chamada
Obulajé. O termo vem do iorubá e quer dizer “aceitar comer”. A produção
desse primeiro disco, que começou a ser gravado em 2011 e terminou ano
passado, é de Andre T. O lançamento é do selo Garimpo Musical.
(http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/blog/2014/03/14/novidade-do-rap-
baiano-opanije-mistura-hip-hop-e-cultura-afro/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=NaRzqxLqtwU
Metá Metá
“Metá Metá – que significa três em um em iorubá – apresenta um repertório
com várias canções inéditas, de compositores contemporâneos.
Descrição
O trio trabalha com a diversidade de gêneros musicais brasileiros, utilizando
arranjos nus e econômicos que ressaltam elementos melódicos e signos da
música de influência africana no mundo, explorando o silêncio e o
contraponto, fugindo das ideias convencionais, seja nas características
estéticas, ou seja, no modo alternativo de compartilhar a sua arte. No show, o
trio chama ao palco os músicos Marcelo Cabral (baixo), Samba Ossalê
(percussão) e Sérgio Machado (bacteria). Com a banda, Metá Metá revela o
lado mais pulsante do cd, com grooves dançantes, e arranjos em que a
polifonia explorada pelo trio se expande para dialogar agora com referências
do rock, afrobeat e dos batuques brasileiros em geral.”
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=4mT_fITFSz0
Grupo Abaçaí, Orquestra HB e Convidados : Agô!
Cantos Sagrados de Brasil e Cuba
“Brasil e Cuba possuem praticamente as mesmas origens religiosas quando se
pensa em África. Com o passar do tempo, a música sacra dos dois países
correram paralelas (gerando cada qual sua expressão musical popular
particular), mas sempre por caminhos tão diferentes que nos dias de hoje
parece ser muito difícil encontrar uma conexão entre as duas culturas sem que
o resultado sonoro resulte estranho em alguns momentos.
(…) O modo como se canta e se fala influencia de tal forma uma composição
que há sutilezas que se manifestam ainda que de forma quase imperceptível,
mas no resultado final da obra mostram traços indeléveis de formação e
reconstrução das culturas humanas. Mas no geral, os músicos, das cordas,
sopros, cantores e ritmistas – com a direção do grande Ari Colares –
brasileiros e cubanos se encontram, na verdade, num grande xirê – uma
celebração da música e das artes no retorno feliz a suas raízes ancestrais.”
(http://discosbrasil2.blogspot.com.br/2010/10/grupo-abacai-orquestra-hb-e-
convidados.html)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=fXdLIMBD-UY
(Fora estes, há tantos outros trabalhos que também são compostos nos moldes
parecidos de alguns desses grupos citados: ainda temos Rita Benneditto com o
seu famoso Tecnomacumba, Lucio Sanfilippo, Mariene de Castro etc. Os
afoxés são detalhes à parte que mereciam um post somente para eles, dada a
quantidade, história e beleza.)
Axé,
Dayane
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Erê do Ketu Nagô
Outubro 24, 2014 por Fernando D'Osogiyan
Erê do Candomblé Ketu/Nagô
No Candomblé o Erê é uma energia oriunda do Orixá ligada ao inconsciente infantil do
noviço, o Erê participa como sendo um elo de incorporação.
É também por meio do Erê que o Orixá se interioriza ao noviço aprendendo as coisas
fundamentais do candomblé, como as danças e os ritos e toda a liturgia.
O Erê é o mensageiro do Orixá em qualquer situação, inclusive, podendo substituí-lo
momentaneamente em várias circunstâncias, inclusive no xirê.
Em casos raros em que o Orixá foge (desincorporar subitamente) é o Erê que toma a
frente, até de forma lúdica, mantendo o iyawo em transe para posterior retorno do
Orixá.
O Erê também cumpre funções que o zelador determinar dentro da Casa de Santo,
podendo lavar, cozinhar, passar e cumprir as multas ou chimbas aplicadas ao filho.
A palavra Erê vem do Yorubá, iré, que significa “brincar”.
O Erê também recebe oferendas que são as comidas do seu Orixá, e também,
simbolicamente, brinquedos infantis, festas, bolos, aí já dentro do sincretismo religioso.
O Erê é responsável pelo cumprimento litúrgico do ronkó independente do iyawo estar
virado ou não, é o vigia do Orixá.
O Erê também responsável pelo resguardo do iyawo defendendo-o contra tudo e em
qualquer momento em que estiver fora da Casa de Santo.
O Erê quando muito bem educado e doutrinado, pode ocupar depois de algum tempo,
lugar de destaque na Casa de Candomblé podendo dar eventualmente, consultas, indicar
ebós, etc.
O Erê estará sempre ligado as determinações do Orixá, pois sem a presença do Orixá
não haverá Erê, é condição básica a presença do Orixá para o que o mesmo deixe o Erê
chegar, como também para o Erê ir embora, o Orixá também retornará realinhando as
energias.
O Erê acompanhará sempre o sentimento do Orixá com os mesmos Ewós, kizilas,
ajeuns e indumentária básica.
No dia seguinte a festa da saída do Iyawo, um novo ritual acontece chamado Panan,
que é o reaprendizado do dia dia, quebra de ewós, readaptação a vida social, onde
pode haver a participação do Erê, o Erê ganhará um nome que esteja intimamente
ligado ao seu Orixá, escolhido por quem o apadrinhou.
Todos os iniciados tem Erê, porém nem todo Orixá deixa o Erê, ainda assim existe um
orô para chamar o Erê. Erê Mi!
Os Erês podem participar e serem vistos em algumas casas antigas no ritual
chamado “Carurú de Ibeji”, onde são homenageados os Orixás gêmeos que regem o
nascimento do Orixá no ronkó. Só não podemos confundir Erê de Orixá de
personalidade infantil com os Orixás Ibeji.
Hoje em dia quase não se vê mais um orô de Erê, o sincretismo os uniu as crianças da
Umbanda, Ibejadas, Cosme e Damião, etc.
Erê cura, reza, faz ebó, presente, passado, futuro e fala sério brincando!
Texto: Fernando D’Osogiyan
Foto: Internet
Na categoria Candomblé | 8 Comentários
Sobre zeladores e zeladoras que não deveriam existir
Outubro 17, 2014 por Dayane
http://www.soufotografo.com.br/ritos-candomble/
Todos nós sabemos – se não por experiência própria, por relatos – o quão difícil é a vida
dos e das responsáveis por zelar orixá e cuidar religiosamente da vida de outras pessoas,
filhos e filhas de santo. Eu no conversar da vida escuto muito sobre as dores de cabeça e
aporrinhações gerais que acontecem dentro de um terreiro por causa de filhos de santo e
o quanto zeladores e zeladoras colocam a mão na cabeça demonstrando que tal
caminho, apesar de lindo, é tortuoso e exige o exercício e desenvolvimento de várias
virtudes para cumprir aquilo que o Orixá determinou para suas vidas.
Porém, se por uma via nós vemos zeladores e zeladoras dedicados a entender e (tentar)
ajudar nas complicações, questionamentos e confusões de filhos e filhas de santo (sim, é
muito difícil, mas tem gente que tenta), por outra, percebemos outros que simplesmente
parecem não valorizar a cuia que receberam e se colocam além do sagrado tornando-se
eles autoridades tamanhas que mais se assemelham (ou ultrapassam) nossas próprias
divindades. Às vezes, a minha impressão é que o orixá deixou de reger tais oris porque
estes já se autoproclamam senhores e senhoras da verdade, de suas decisões e das
decisões nos caminhos de filhas e filhos de santo. Decisões tais que muitas vezes por vir
com autoritarismo e violência desrespeitam a pessoa alheia, o orixá alheio e as nossas
“regras éticas”.
Penso a hierarquia como um sistema dentro da nossa religião crucial para o aprendizado
do respeito e manter uma organização na casa de acordo com as nossas regras de
comportamento, e não uma maneira de sobrepor pessoas umas sobre as outras de
qualquer forma. Abians, Iyawôs e egbomis, apesar das idades, oyês e responsabilidades
são antes de tudo pessoas que merecem respeito e bom tratamento.
Fico me perguntando os motivos desse desrespeito que vem de cima para baixo (na
relação zelador/filho de santo) e de baixo pra cima (na relação zelador/orixá) acontecer
com tanta frequência. A partir de qual momento esses zeladores e zeladoras esqueceram
que são apenas canais, apenas a mão de obra do Orixá para se tornarem eles mesmos tão
irresponsáveis com os outros e tão frios e suas atitudes?
Pensando no que poderia diminuir esses egos inflados, lembro de como as federações
religiosas, se realmente funcionassem, poderiam interceder e enquadrar esses religiosos
de alguma maneira com algum tipo de punição material, pois nós sabemos que notícias
correm e a fama desses tipos de pessoas costumam ganhar o mundo e as praças, mas
sempre terá alguém desavisado, alguém inocente que poderá se aproximar e ser mais
uma vítima das irresponsabilidades e autoritarismos daquele que deveria contribuir para
seu crescimento espiritual.
Não estou falando nada que não seja do conhecimento de muitos. Os próprios
comentários neste blog, os constantes pedidos de ajuda demonstram que esse tipo de
religioso asqueroso está presente em muitos lugares e magoando, desiludindo muitas
pessoas.
Eu, particularmente, sempre fui voltada aqui no blog (e fora também) a escrever sobre
tudo de lindo que a experiência religiosa me traz; sobre as sensações que a dança, os
Orixás e o meu convívio causam em mim. Também sei pelos comentários que há gente
que se identifica com o que eu escrevo e fico muito feliz com isso. Porém, como nada é
perfeito em nenhum mundo, temos que conversar sobre o que nos incomoda também.
Axé.
Dayane
Na categoria Candomblé | 19 Comentários
Tratado herético sobre a hierarquia dentro do
sacerdócio Ifá/Òrìșà
Outubro 14, 2014 por Da Ilha
Por Marcos Ifálola:
ifalola.blogspot.com.br
Esta semana eu estava em Roma e enquanto está sentado em uma audiência Papal,
comecei a contemplar o que significa ser sacerdote, o que significa ser “santo” e o papel
que as iniciações jogam no nosso Estado, em nossa comunidade religiosa e na sociedade
em geral.
Eu começo por dizer que o que proponho aqui pode fazer sentido para alguns, parecer
radical para os outros e também parecer herético (doutrina oposta aos dogmas da
Igreja), possivelmente, uma grande porção da comunidade de Òrìsà. Dito isto, eu sinto
que é minha responsabilidade propor esses pensamentos, para que as pessoas possam ter
um segundo para pensar sobre o que eles acreditam e talvez decidam por si mesmo se
querem continuar este caminho, ou aperfeiçoá-lo. O que significa adorar e quais os
papéis que diferentes pessoas desempenham no processo de adorar o que é sagrado.
Eu deveria primeiro começar expondo a minha definição de sacerdote de Òrìsà (Olórìsà
ou Bàbáláwo). Na minha mente, depois de muitos anos de estudo e mais 12 anos como
Olórìsà (4 como Áwo Ifá), acredito que o papel principal do pai é agir como
intermediário entre os leigos (os crentes que não são sacerdotes) e o Òrìsà (que é em
última análise, nosso elo mais próximo com Òlódúmarè). Nesse papel de intermediário
é nossa responsabilidade abrir os portais de comunicação, seja por meio do oráculo, a
possessão ou de atos da natureza. Devemos, então, interpretar corretamente as
mensagens divinas, entregá-las a quem precisa recebê-las e quando necessário,
prescrever as ações ou ofertas necessárias para alinhar os seguidores com seu caminho
na vida (destino), a fim de dar-lhes Ire (bênçãos).
Nós somos apenas os intermediários, pois, através de nossas iniciações, nossas mentes
estão abertas e nossas habilidades para atuar como intermediários são despertados para
que possamos servir ao Òrìsà. A iniciação é, com efeito, o ato de submeter-se a vontade
de Òlódúmarè.
E ainda, em ambos, Culto Tradicional Yorùbá de Òrìsà e adoração de Òrìsà
Lucumi/Candomblé, sacerdotes e pessoas leigas igualmente ficam atolados nos aspectos
técnicos de antiguidade e status, esquecendo que como intermediários, nossas ações,
nossa ética, nosso conhecimento é mais importante que a pessoa, isto sim, é o que
realmente determina a antiguidade e status dentro da hierarquia religiosa.
Eu mesmo vi a pompa e circunstância a um Chefe Sacerdote ou presbítero Yorùbá, não
vejo nada de errado em tanta grandeza, porém, cobrar taxas ultrajantes dos pobres pelos
seus serviços, vendendo títulos ou não fazer iniciações corretamente porque sabem que
o cliente “não vai voltar”. Igualmente eu vi adeptos Lucumi/Candomblé e sacerdotes
discutirem sobre quem é o mais velho, quem deve dar dòbalè a quem, fazer
desnecessárias limpezas (vulgo ebó) caras ou iniciações igualmente caras ou argumentar
sobre qual sacerdote deve ser elogiado primeiro em uma cerimônia (Oro).
Quem se curva para quem, quem é o primeiro a falar, que padrinho de alguém deve
recebe um “tambor” em primeiro lugar, estas são apenas construções do ego,
preocupados mais com si mesmo e com a auto satisfação do que agir como
intermediário entre o profano e o divino.
Eu vou um passo além na minha definição para dizer que a ideia de que o pai atua como
um intermediário ou parteiro durante o processo de Dosù / Iniciação é um absurdo.
O “pai” não dá à luz, embora possa ser dito que o Ìyàwò é um renascido.
Não há um único momento em toda a cerimônia de iniciação Lucumi/Candomblé em
que o sacerdote espiritual de uma ou de outra forma dá à luz?
Ele simplesmente age como intermediário ou parteiro,passando espiritualmente o àse
dos Òtá para outro conjunto de Òtá. E através do ritual de oração e sacrifício levará o
ìyàwó através de um renascimento de si mesmo,em que a seu Orí é despertado e a
conexão entre Ori e Òrìsà é aberta para que ele também possa tornar-se intermediário
entre os não sacerdotes e o Sagrado. Ifá nos diz que a ideia de que o padrinho é
essencialmente um”pai”,é falsa.
Em um verso do Odù Owónrín Ìretè, onde Abesujiyan transmite três pedaços de
sabedoria, para os quais ele nomeia seus padrões, o terceiro dele é:
“Agbabo o jo onbi. Omo olómo o leè j’omo taa bi ninu eni”.
“A tutela não é igual à filiação. Filho de outra pessoa não pode ser como uma criança de
suas entranhas”.
O que é comprovado mais tarde no Odù quando Abesujiyan está prestes a ser
condenado à morte e seu filho adotivo pede que seu pano (roupa) seja removido para
que o sangue da execução não o manche.
Vamos deixá-lo livre.
Se esse menino fosse verdadeiramente seu filho.
E não uma criança adotada ele diria que o sangue de seu pai não estaria autorizado a ser
derramado em sua roupa?
Podemos todos ver que realmente um Guardião não se iguala a um pai.
Um filho de outra pessoa não pode ser como um filho que sai de suas entranhas.
Através da sabedoria de Ifá o Odù, nos ensina:
Iniciação sozinha não dá caráter.
Iniciação sozinha não dá conhecimento.
Iniciação sozinha não dá uma antiguidade.
Iniciação sozinha não faz de alguém um verdadeiro sacerdote.
Ifá nos diz no Odù Ìwòrì méjì:
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Se você fizer iniciação em Ifá (Îtelódù).
Esforce-se para usar a sua sabedoria e inteligência.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, não use uma corda podre para subir uma palmeira.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, não se entra em um rio sem saber nadar.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, não manipule uma faca com raiva.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, não tenha pressa para desfrutar sua vida.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você
Áwo, não tenha pressa para adquirir riquezas.
Ìwòrì ter um olhar crítico sobre o que afeta você
Áwo, não minta, não seja traiçoeiro.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, não engana a fim de desfrutar sua vida.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, não seja arrogante para com os idosos.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, nunca perca a esperança.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você.
Áwo, não faça amor com o cônjuge do seu colega.
Ìwòrì tem um olhar crítico sobre o que afeta você
Áwo, quando você for iniciado em Ifá.
Inicie-se novamente usando sua sabedoria e inteligência.
Ìwòrì terá um olhar crítico sobre o que afeta você.
Neste e muitos outros Èsè Ifá, somos lembrados de que o caráter, a ética, o bom
comportamento, a inteligência e o mais importante, não assumir a iniciação em si, faz
com que o iniciado compreenda o papel e a responsabilidade de um sacerdote.
Lembrando-nos, mais e mais, este Èsè Ifá que diz:
“Olhar para o que (nos) afeta”.
Somos repetidamente lembrados de nossa responsabilidade em reavaliar constantemente
o mundo que nos rodeia. Além disso, há um lembrete para os membros do sacerdócio a
quem foi dado o acesso especial à sabedoria de Ifá. É nossa responsabilidade utilizar a
nossa sabedoria e inteligência, ou seja, não assumir Ifá, é saber que a chave não é
fornecida simplesmente através da iniciação.
Por último, Ìwòrì Mèjí nos lembra de um não menos importante conceito para o Áwo
Ifá:
“Iniciar-se novamente usando sua sabedoria e inteligência”.
É aqui, onde Ifá diz ao Áwo que a iniciação por si só não faz de você um Áwo
verdadeiro. É somente através da reflexão e contemplação de Ifá que se pode alcançar
uma compreensão da iniciação que você passou e através de análise e estudo, a auto
iniciação se torna a consciência das verdades de Ifá que podem e devem ocorrer.
Nada disso quer dizer que não devemos respeitar uns aos outros, ou que certos pais não
são dignos de respeito e os rituais/ direitos mostra isso.Porém, a iniciação por si só não
dá a um sacerdote esses direitos, estes sim,devem ser conquistados.
A fixação do papel de “pai” e a ideia de que o pai “deu à luz” na diáspora enfatiza
exageradamente o papel de mentor/guia do sacerdote.
A criação de cultos a personalidade, muitas vezes, embora nem sempre, com base em
desempenho das iniciações e talvez na consulta, no qual eles estão interpretando e
esclarecendo o conselho do Òrìsà para o adepto. Estes papéis e status anexos são
efêmeros na melhor das hipóteses e só servem para desviar a nossa atenção para longe
dos verdadeiros significados que estão por trás do papel de um pai.
Então o que faz um sacerdote digno de respeito e as ações associadas a este respeito?
O cumprimento de iniciação não significa absolutamente nada em si, como podemos dar
valores de antiguidade para o ato da iniciação,quando é apenas um ato de
habilitação,como um título e o potencial para acessar o Sagrado.
O Odu Èjì Ogbè nos diz:
Iniciamos você nos segredos de Ifá
Agora você deve reiniciar-se
Foi assim que Èjí Ogbè foi iniciado
Ele mergulhou na floresta
Agora iniciamos você nos segredos de Ifá
Você deve reiniciar-se
Se você chegar ao topo da palmeira.
Não deixe suas mãos soltas.
Èjì Ogbè, o mais elevado dos Odù, passou por auto iniciação, mesmo depois de ser
levado ao bosque sagrado (igbòdù) para a iniciação (tè’fà), ele mergulhou de volta na
floresta. Este ato mostra que mesmo um iniciado deve voltar para o bosque, a fim de
ensinar a si mesmo. E, mesmo nesta curta estrofe, Ifá nos lembra de que, mesmo que
cheguemos ao auge da compreensão e do conhecimento, nossa arrogância deve
desaparecer e não ficar ao nosso lado, se você se perder, pode cair da palmeira.
Este trecho do Odù Èjí Ogbè também apoia esta ideia:
…Ọrùnmìlá foi à pessoa que iniciou Àkòdà.
Ele também iniciou Àsèdá.
Ele também iniciou Àràbà.
Apenas Ọrùnmìlá Àgbonnìrègún.
Foi à pessoa que não se sabe quem iniciou.
Agora, depois de ter sido iniciado.
Eu vou complementá-la com minha auto iniciação.
Todas essas coisas que são meus tabus.
Eu certamente vou evitá-los.
Eu fui iniciado.
Eu vou reiniciar-me, por mim…
Novamente Ifá nos lembra de que a necessidade de auto estudo e iniciação devem ser
apenas o começo da estrada, mas há também outra verdade importante, a compreensão
da verdade, é um ato solitário. Enquanto outros podem ajudar a guiar-nos ao longo do
caminho, no final, deve-se enfrentar a verdade por conta própria. O ato solitário da
visão sobre a verdadeira natureza da vida. É por isso que devemos percorrer o caminho
final para a realização sozinho.
Através do estudo minucioso dos rituais, métodos de acesso à teologia, ao Sagrado, a
filosofia, a ética e a aplicação adequada desses estudos, quando se inicia o longo
caminho do sacerdócio. Só depois se pode acessar com êxito o Sagrado e interpretar
essas mensagens, então, você pode ganhar o título de “Olórìsà ou Bàbáláwo”.
O Odu Òkànràn Òtúrúpon nos lembra de nossa necessidade de estudar ao dizer:
É através do estudo constantemente de Ifá que chegamos a compreender Ifá.
É através da falta de jeito que chegamos a conhecer o caminho.
É a estrada que nós nunca viajamos antes, que nos leva a vaguear aqui e ali.
Como alguém pode ser considerado um sacerdote de Ifá, se não entende Ifá?
Como se pode entender Ifá simplesmente por ser iniciado em Ifá?
Para ser pai é preciso compreender e o entendimento só pode vir através do estudo,
como pode alguém que simplesmente se submeteu à iniciação ser considerado um
sacerdote?
Enquanto a compreensão final nos escapa, só podemos vir a entender através do estudo
e assim, sem estudo, nós somos sacerdotes do nada.
Caráter / Ética
Há uma infinidade de Ese Ifá sobre o caráter e a ética,mas aqui estão algumas que eu
acredito que se destacam.
Em Ogbè Sooto (Ogbè Òsá) Ifá diz:
Ifá se um Bàbáláwo quer cavar seu tumulo.
Não deixe que ele goste.
Se um Onísègun está em necessidade.
Ele não deve ser desonesto.
Que ninguém exiba a desonestidade ou mentira
Por causa da responsabilidade quando se morre
Esta foi à declaração de Ifá para Ọrùnmìlá.
Quando pessoas desconhecidas travaram uma guerra contra ele
Ọrùnmìlá foi convidado a oferecer um sacrifício
Ele obedeceu.
Agora todos os manifestantes
Vocês todos foram expostos
Agora eu conheço a Píton
Que se assemelha a cobra
Reconheço agora a serpente do chocalho
Que se parece com a jiboia.
Agora posso ver através do Iwowo Ereke (imitador)
Quem finge ser Ọrùnmìlá.
Ifá aqui adverte leigos e sacerdotes duas vezes.
Primeiro que a nossa ética deve ser do mais alto padrão e que não mentimos para
conseguir o nosso caminho como sacerdotes. E não importa se isso será para afirmar o
poder, manipular os outros para o nosso benefício próprio ou para ganhar dinheiro. No
final, seremos julgados.
O mais importante: Ifá nos lembra para não confundir uma coisa com outra e para não
se confundir o sacerdote com Ọrùnmìlá!
Cuidado com os sacerdotes que começam a confundir-se com o Òrìsà.
Neste Odù, Ifá deixa claro que a comparação pode ser sutil, mas ambas as cobras de
diferentes tipos, não se pode dizer abertamente que eles pensam de si mesmos como
Òrìsà, mas suas ações desmentem os seus verdadeiros sentimentos. Nós, os sacerdotes
não somos Òrìsà encarnados na Terra, nós somos servos humildes, pensar ou agir de
outra forma não faz sentido.
Ifá nos ensina que devemos respeitar a todos, independentemente de status, sem o
respeito, como se pode reivindicar o título de sacerdote?
Em Òsá Méjì Ifá diz:
A cabeça de uma pessoa com um futuro ruim, não é diferente das outras.
Ninguém é capaz de reconhecer as pegadas de um louco na estrada
Não se pode distinguir a cabeça de uma pessoa honrada em um conjunto de pessoas.
Este foi o ensinamento de Ifá para Mobowu
Quem era esposa de Ògún
Certamente, a cabeça que vai usar a coroa amanhã.
Ninguém pode reconhecê-la
Portanto, marido e mulher devem parar de ofender um ao outro.
E devem parar de falar tolamente um do outro.
O chefe que vai vestir a coroa amanhã.
Ninguém poderá dizer quem será.
Além de nos lembrar de que nunca saberemos quando vamos precisar da ajuda de
alguém ou o que acontecerá, Ifá é claro, nós não temos esta previsão. Os líderes e
igualmente os loucos de amanhã não são conhecidos hoje, então a partir de um ponto de
vista prático, devemos tratar todas as pessoas com respeito.
A questão do caráter e seu efeito sobre o sacerdócio é ainda mais profundamente
abordada no Odù Ifá Òfún Òtúrá onde afirma:
O mentiroso lança o obi e produz um mau presságio.
O desagregador se empenha em lançar o obi e não produz um bom resultado.
Mas a pessoa de bom coração lança o obi e o resultado é claramente promissor.
Sacerdotes fazem um pacto de defender e proteger Òrìsà/Ifá e seus princípios, de modo
que os sacerdotes que quebraram este compromisso quando lança uma ferramenta de
adivinhação neste caso o obi, (mas novamente é Ifá e suas metáforas, então para
mim,qualquer forma de adivinhação, incluindo Ikin Ifá ou búzios) não vai render um
bom resultado.
Isto significa que a ética/caráter do adivinho é de fato importante para o resultado e
afeta o resultado da adivinhação. Se for esse o caso, como se pode dar a antiguidade e
muito menos respeito a um sacerdote sem nenhum caráter.
Além disso,as orações e ações do pai antes da adivinhação são projetadas
especificamente para despertara voz do Òrìsà e se não for feito corretamente, os objetos
usados para divinação permanecem exatamente da mesma forma,objetos inanimados e
não conduzidos à palavra divina.
É importante lembrar que a consagração destes objetos não é única coisa que fazem os
Ikin, Òpèlè e búzios “falarem”, neste caso bastaria ao pai rezar ou fazer qualquer coisa.
Ele simplesmente lançaria estes objetos e iria embora.
Estes são apenas alguns dos muitos Ese Ifá que lidam com o caráter. Eles apontam e
mostram que sem caráter e respeito, o título de sacerdote não faz sentido.
A idade / Sabedoria
Se a idade é contada em anos de iniciação ou anos na Terra, a idade por si só não faz um
pai. Embora, certamente podemos deduzir que a idade não garante sabedoria,sem idade
(anos na Terra) a sabedoria não poderá ser plenamente alcançada. É por isso que na
cultura Yorùbá, os anos de iniciação nunca podem superar aos anos na Terra,de modo
que seria um absurdo ver um dòbalè/ Kúnlè de uma pessoa de 45 anosa um rapaz de 20
anos, independentemente dos seus anos como sacerdote.
Também é digno denotar que os anos na terra (de vida)de um ancião não garantem a
esta pessoa sua sabedoria sobre qualquer assunto.
O Odù Ogbè Ìwòrì diz:
Mau comportamento é o que é atribuído aos jovens.
Mau caráter é o que é atribuído aos idosos.
Ifá explica que na nossa juventude, quando fazemos algo ruim, a ação vem de não
sabermos sobre várias coisas. Como ancião, a vida deveria ensinar-nos a ter mais
experiência, por isso que, quando fazemos algo ruim, a vida já deveria ter nos ensinado
e por isso, esta atitude reflete um mau caráter. Sem caráter, ser um ancião não significa
nada, independentemente de como você meça esse tempo.
Ser um ancião ainda não significa que não se deva ter qualquer responsabilidade em
ajudar aqueles que são juniores, que é outra demonstração de verdadeiro caráter.
O Odu Òyèkú Méjì declara:
Uma criança não é alta o suficiente para esticar a mão e alcançar a prateleira alta.
A mão do adulto não pode entrar na boca de uma cabaça.
O trabalho que um adulto pede para uma criança fazer
Ela não pode se recusar a fazer
Nós todos temos bons trabalho para cada um fazer.
Adivinhação de Ifá foi executada para Ọrùnmìlá.
Sobre um devoto
Que faria queixa à Òlódùmarè
Òlódúmarè, em seguida, mandou chamar Ọrùnmìlá.
Para explicar a razão pela qual
Ele não suportava seu devoto
Quando Ọrùnmìlá estava na presença de Òlódúmarè
Ele explicou que ele tinha feito tudo ao seu alcance por seu devoto
Mas o destino escolhido pelo devoto tornou seus esforços infrutíferos
Esta foi então a questão da matéria
Tudo se tornou bastante claro para Òlódùmarè
E ele estava feliz
Por que ele não pronunciou o seu juízo sobre a questão ouvindo apenas uma das partes.
Além disso, este Odù lembra-nos que o ancião é citado e respeitado por ser justo e
sábio. Òlódúmarè recebeu dois juniores (Ọrùnmìlá e seu devoto) e foi sábio ao esperar e
ouvir ambos os lados da história antes de pronunciar a sentença. Isto lhe permitiu
perceber que nem tudo é como uma pessoa pode parecer ser, e assim prestou julgamento
justo.
Ifá nos diz em Òràngún Méjì (Òfún Mèjí) o mais velho dos Odù que se tornou o júnior
dos Odu após descer na terra:
Ònpabì niì j’èjì
Aquele que quebra um obí (com 4 gomos) vai comer dois gomos
Um ancião avarento é aquele que come três gomos
Depois de comer três gomos
Ele carrega sua carga sozinho e prossegue neste caminho
Estas foram às declarações de Ifá para a pessoa que vai à vanguarda (o líder / sênior)
Que mais tarde se tornaria a pessoa que viria atrás (o júnior / seguidor)
Ele foi aconselhado a oferecer sacrifícios
Ele se recusou a cumprir
É a sua falta de decoro e maneiras
É a sua falta de diplomacia
A pessoa da vanguarda
Havia se transformado na pessoa que se tornaria um seguidor
Por sua falta de decoro e boas maneiras
Mesmo um velho líder pode perder o seu status por falta de caráter, como disse Ifá em
Òràngún Mèjí (Òfún méjì). O Mentor.
É papel de o sacerdote atuar como mentor e conselheiro do devoto, mas estas não são
coisas que vêm facilmente, rapidamente ou imediatamente após a iniciação.
Em Òtúrá Eléjin (Òtúrá Ogbè) Ifá nos diz:
A criança estuda Ifá com trabalho e sofrimento
Quando ele cresce
Ele vai colher todos os frutos
Esta foi à declaração de Ifá para Òtúrá
Quando ele ia mergulhar a mão no barco da prosperidade
Eu mergulhei minhas mãos no barco
E eu retirei todas as coisas boas da vida
Quando Òtúrá mergulhou a mão no barco
Ele tornou um prospero à estada em sua casa.
Eu mergulhei minhas mãos dentro do barco
E eu retirei todas as coisas boas da vida
Na história da criação sobre o sistema de adivinhação Ọrùnmìlá Ifá, nos diz:
Ifá, iwo lara iwaju
Emi ni ero eyin Ara iwaju niì ko ero eyin lógbon
Iwo loo ko’mo l’óràn…
Ifá, você é o líder.
Eu sou o seguidor
O líder é aquele que ensina a sabedoria ao seguidor
Você é o único que ensina
Assim como ao próprio irmão…
É como os líderes que Ọrùnmìlá nos quer ensinar a sabedoria de Ifá aos seguidores e
sendo assim, sem caráter, sem sabedoria e sem erudição, como poderemos conseguir
isso?
Se não estudarmos, nós não mostramos caráter, nós não mostramos a liderança como
poderemos realmente nos chamar sacerdotes e muito menos exigir o respeito e o status
sênior?
Vou terminar com a nota sombria citada em uma estrofe do Odù Èjí Ogbè:
Vamos viajar de oceano a oceano
Antes de podermos ver a espécie pequenina do Touraco Azul (tipo de ave).
Vamos viajar de rio para rio
Antes de podermos ver a espécie pequenina do Touraco marrom (tipo de ave) com
bócio (uma bolsa) no pescoço.
Vamos viajar de oceano a oceano e de lá no vento de rio a rio
Antes que nós possamos encontrar um Bàbáláwo verdadeiro.
Vamos chegar a Ilé-Ifè Akèlúbébé.
Essa é foi à declaração do oráculo ao Igbin (caracol).
Quando ia para a cidade de Iléyò para praticar Ifá.
Ele fez o do seu choro um grito.
Ele fez de sua música um canto fúnebre de lamentação.
Ele disse: Seres humanos (os verdadeiros) são escassos.
Os seres humanos são difíceis.
Antes que nós possamos encontrar um Bàbáláwo verdadeiro.
Vamos viajar para longe.
Aboru Aboye Ibosíse
Marcos Ifálola
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Òsá mèjì
Setembro 7, 2014 por Da Ilha
Òsá méjì
Orí buruku ki i wu tuulu.
A ki i da ese asiweree mo loju-ona.
A ki i m’ orí oloye lawujo.
A dia fun Mobowu ti i se obinrin Ògún.
Orí ti o joba lola, enikan o mo ki toko-taya o mo pe’raa won ni were mo.
Orí ti o joba lola, enikan o mo.
Uma pessoa de mau Orí não nasce com a cabeça diferente das outras.
(Não devemos julgar pelas aparências).
Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.
(Um destino ruim não é identificado pelo olhar)
Uma pessoa que é líder não é diferente e também é difícil de ser reconhecida.
(Nascemos predestinados a liderança, Ọrúnmìlá forma seus líderes)
É o que foi dito à Mobowu, esposa de Ògún, que foi consultar Ifá.
(Ela precisava conhecer seu destino)
Tanto esposo quanto esposa não deviam se maltratar tanto, nem física e nem
espiritualmente.
(A luta pela liderança não deve ser agressiva, um líder é notado, ele não se faz notar).
O motivo é que o Orí vai ser coroado e ninguém sabe como será o futuro da pessoa.
(Não devemos menosprezar ninguém. Como será o seu futuro amanhã?).
Um abraço a todos e que luz de Obàtálá esteja sempre em seus caminhos e que meu
òrìsà os ajude a caçar.
Foi um ótimo convívio, quem sabe um dia poderemos nos falar ou mesmo nos
conhecer.
O dàbo
Da ilha
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Fé, crença e disciplina
Setembro 3, 2014 por Da Ilha
Para aqueles que ainda pensam que dançamos (Sirè) no salão como pura vaidade e
brilho.
Para aqueles que ainda pensam que somos uma religião de pobres coitados descendentes
de uma turma vista sem eira e nem beira.
Para aqueles que pensam que nossa religião faz pacto com demônios e afins.
Para aqueles que estão dentro da religião e ainda não acordaram, recomendo a leitura e
analise deste texto, com várias mensagens nas entrelinhas e muitas metáforas.
Aqui está o nosso desenho, a nossa Fé, a nossa Crença e a nossa Disciplina.
Se você acha que eu sou careta demais para o ‘seu gosto’, desculpe!
Mas, eu sou careta e não sou para o ‘seu gosto’.
Isto é Ișẹșẹ (Tradição).
A Tradição de nossos ritos, de nossa forma de louvar, curvar, deitar, ajoelhar, rezar,
comer, confraternizar, cantar e interagir com o Universo, sem oceano a nos separar ou
quem sabe para nos ligar.
No último dia 20 de agosto comemoramos o dia de Ișẹșẹ L’Àgbà, A Tradição mais
antiga.
O texto abaixo eu recebi de uma pessoa que nunca vi em minha vida, que nunca trocou
uma palavra comigo, porém, creio eu, que o trabalho que fazemos acabou despertando
algo neste Bàbáláwo nigeriano que o inspirou a me enviar esta mensagem e eu retribuo
dividindo ela com vocês.
Falemos um linha sobre Ifáyàbàlè, da elisão: Ifá Ìyà Bàbá ilè.
Que significa:
A Sabedoria dos Pais e Mães da Terra.
Isto está dentro do rito de reafirmação da crença., isto nada mais é do que vigiar,
então…
Acho que foi a intenção desta mensagem Ifá diz que devemos nos vigiar
constantemente, pois, somente assim não incorreremos novamente em erros e nem
vamos relaxar.
Vigiar, vigiar e vigiar.
Sobre a atividade fim de nossa Religião:
Alguém já se questionou ou se perguntou sobre este assunto?
Quem poderia responder?
Uma boa leitura
Da Ilha.
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Fé, crença, autocontrole e autodisciplina são a base sobre a qual uma vitória concreta,
sucesso, realização, boa saúde, longa vida e felicidade estão baseados.
Antes de esperar grandes coisas de si mesmo ou de sua vida, você deve levar em
consideração certas coisas desconhecidas ou não, vibrações visíveis ou outros fatores e
para ter todos estes visíveis, precisaremos de disciplina espiritual, extrema fé, crença,
autocontrole e autodisciplina.
Ninguém ganha coisa alguma do Pai da luz, sem devoção pessoal ou disciplina
espiritual, a renúncia ao prazer corporal, abster-se de álcool, tabagismo, fofoca,
preocupação, ciúmes e outra vibração negativa que prive sua alma de alcançar a glória e
a vitória.
Fé traz o melhor para você e fé em si mesmo e a fé no Deus infinito e suas numerosas
divindades nos levam ao sucesso absoluto, progresso e vitória, que se estendem de
geração a geração.
Podemos desenvolver nossas capacidades e energia através da disciplina para solidificar
a fé e neutralizar o nosso medo, preocupação e decepção para alcançar o sucesso.
Medo deprime, preocupação destrói, ansiedade mata, você sabe que a fé cria energia
abundante e vibração que transforma todas as coisas a nosso favor. Não devemos
permitir que o medo perturbe a nossa vida, quando sabemos que os fundamentos de
todas as coisas emanam da fé. A Fé provoca e esperamos o melhor, o medo é pessimista
e a fé é crescente em direção à luz e a morada de Deus.
A fé é otimista.
Medo anuncia fracasso, enquanto a fé é sinônimo de sucesso, progresso, vitória e
riqueza. Não pode haverá cortejamento por parte do medo, das situações de penúria,
quando a mente estiver saturada com a fé e a disciplina pura. A preocupação não pode
existir onde há fé e disciplina, devemos acreditar em Olódùmarè, a infinita misericórdia.
Lembre-se que uma poderosa fé prolonga a vida, porque a fé eleva e garante o perfeito
funcionamento do mecanismo do corpo. A fé vê além do conjunto temporário a sua
volta e põem em marcha todas as vibrações positivas que trazem todas as coisas boas a
sua vida e a sua porta. Seja fiel e disciplinado, eu acredito que você verá a glória de
Deus.
Medo e preocupação podem deixar o funcionamento do seu corpo perturbado, afetando
o perfeito funcionamento do fluxo divino de energia.
Fora da fé você faz seus sacrifícios, a fé que você tem em seus rituais e a crença
completa farão você se iniciar para o seu òrìşà e outras divindades, para levantá-lo da
floresta do cavaleiro punitivo, o castigador celestial.
Não importa o que você está passando agora ou que tipo de problemas estão surgindo,
você luta contra estas forças contrárias ao lado de Olódùmarè através da sua fé e Ele
enviará as suas divindades preponderando a oferta de possível solução para o problema.
A fé é a solução para os desafios invisíveis e visíveis da vida.
Disciplina, fé/crença, autocontrole, oração e outras atividades espirituais são os maiores
operadores de milagres e mudanças na vida de muitas pessoas e ainda realiza
maravilhas na vida da maioria em todo o universo.
Por que você tem que esperar para cultivar o saudável hábito da oração, da disciplina e
da fé completa.
Dedique tempo aos esforços, desenvolva o espírito de oração, faça sacrifícios e seja
disciplinado, busque a sabedoria de Odù, faça suas iniciações, no momento certo, você
verá a bênção de Deus e de seus inúmeros Irúnmòle fluindo através de você para seus
vizinhos, sua família e seu trabalho, como a água da chuva que cai do céu para o solo.
As pessoas que possuem fé abundante olham para Deus como solução para situações
mais agudas eles tem a forte crença de que o poder infinito, mais forte do que eles, irá
dirigir seus passos e guiar suas vidas.
Quando o mal vem a eles e a catástrofe os enfrenta, a disciplina, a fé e a crença, fazem
eles olharem além do infortúnio e ver o sol atrás das nuvens, ver a vitória e nenhuma
derrota.
Não importa o que possa acontecer, eles sabem, e com certeza, que Deus em Sua
infinita divindade lhes dará a vitória
Lembre-se que a preocupação deve ser substituída pela fé, a derrota pela crença, a
ociosidade pela oração.
Iniciações e disciplina de modo a cumprir o destino divino. Nunca se esqueça de fazer a
sua parte, trabalhar duro, trabalhar com sabedoria, trabalhar com disciplina e estar
comprometido com o que é bom e grandioso, para permitir que o fluxo de energia
positiva flua em sua vida.
Fé, disciplina, crença, sacrifício, rituais e suas iniciações, o tornarão mais jovem,
vigoroso, otimista, esperançoso e irradiará vida na glória de Olódùmarè.
Para quem ainda não sabe, FÉ é ausência de duvida!
Seja bom e você será abençoado.
Seja disciplinado para terminar o que você está fazendo com a ajuda do Todo-Poderoso
e Grande Olódùmarè.
Ire Aláàfià
Olayinka Babatúnde Adewuyi
Tradução Odé Gbàfáomi.
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A relação de Òşún com as demais divindades do
panteão yorùbá.
Agosto 27, 2014 por Da Ilha
Agosto é o mês de Òşún em Ọșogbo, pela honra e a gloria deste irúnmolè
Há inúmeras divindades no panteão yorùbá. Alguns estudiosos dizem que elas são
duzentos e um (201), enquanto alguns estão dizem que são quatrocentos (400) e os
outros dizem que eles são quatrocentos e um (401). A pesquisa mostrou que as
divindades em terra yorùbá são mais de quatrocentos e um, ainda que a maioria delas
estejam esquecidas e elas sejam apenas pontos de referências na história.
A coisa mais importante a saber é que, existem inúmeras divindades em terras yorùbá e
cada uma é dotada de poder e responsabilidade na administração teocrática do universo.
As divindades yorùbá tal como um ser humano tem diversas partes, tais como: olhos,
pernas, mãos, orelhas e assim por diante. Nenhum deles é independente e não pode
realizar com êxito sem interagir ou cooperar com outros ou alguns membros ou partes
do corpo. Òşún está entre as divindades mais poderosa das terras yorùbá, ela tem um
relacionamento mais profundo com outras divindades do panteão yorùbá.
Há um mito de que Òşún foi esposa de Şàngó, o deus do trovão e do relâmpago.
Isto é probatório, quando vemos parte do oríkì de Òşún que diz assim:
Por causa do Àmàlà
Òşún procura por Şàngó.
Em troca ela recebe yánrin (um vegetal) por causa de filhos.
O oríkì de Òşún acima revela um tipo de relação conjugal entre Òşún e Şàngó. Não foi
somente com Şàngó que Òşún teve relação, ela também teve relação com Osányìn o
deus das ervas. Uma das músicas que eles cantam para Òşún durante o festival de Òşún
em Ọșogbo, também revela isso.
A canção é assim:
Eu seguro profundamente em Osányìn como um escudo
Eu seguro profundamente em Osányìn como um escudo
Nunca uma guerra capturou Òròkí
Eu seguro profundamente em Osányìn como um escudo
Esta canção revela que Osányìn é um forte escudo de proteção para a defesa da floresta
de Òşún e sua comunidade em geral. A comunidade de Ọșogbo é considerada uma tribo
de Òşún (Àgbàlá Òşún).
Por isso, Ibúsanyìn, é o escudo, que não permitirá qualquer agressão externa ou intrusos
nos Òròkí (ie Ọșogbo), que é o tribunal de Òşún. Da canção, outra coisa que podemos
descobrir é que Òşún é um curandeiro tradicional, que usa água fria, enquanto Osányìn
também é um curandeiro que usa ervas.
Em seguida, ela implica que ambos estão desempenhando papéis importantes e
complementares para garantir a boa saúde da humanidade. É evidente que o tipo de
relação entre Osányìn e Òşún não é uma questão de superioridade ou inferioridade, é
reciprocidade na natureza.
Isto é contrário à lenda em Ọșogbo que Òşún tomou o poder de Osányìn. O poder e o
papel de Osányìn e a mostra desta literatura é que a relação entre Òşún e Osányìn é
reciproca.
Òşún também é uma Àjé que é parte integrante do sistema de cura em terras ioruba. Da
mesma forma, Osányìn está intimamente associada com as Àjé no processo de curar em
terras yorùbá. A estrutura do festival de Òşún em Ọșogbo também revela que, Osányìn
e Òşún estão intimamente relacionados e associados no elo existente entre do sistema de
cura entre os yorùbá. Wenger (1990: 61) observou que:
O pássaro abriga Osányìn e suas implicações mágicas para com Àwọn Ìyàámi (as Àjé),
que são as detentoras do ambivalente positivo e negativo, as forças mágicas.
A proximidade de Osányìn com Àwọn Ìyàámi, orienta seus feitos psicossomáticos
curativos eficazes, especialmente sua capacidade de transformar a magia – influxo
emocional da histeria destrutiva das forças criativas e os rituais.
O trecho acima corrobora com nosso ponto de vista no que diz respeito à relação entre
Òşún e Osányìn. Dentro dos sete dias de atividades do festival de Òşún em Ọșogbo, um
dia inteiro é dedicado à realização de rituais para Osányìn.
Como eles adoram Òşún anualmente, em público, eles fazem o mesmo para Osányìn. A
edição das dezesseis lamparinas de Osányìn fazem farte do oríkì coletivo da
comunidade de Ọșogbo.
Oríkì Òşún
Eu tenho prazer em visitar Ọșogbo.
E visitar a corte de Òşún.
Onde eles fazem corante índigo.
E eles usam argamassa de bronze para bater,
Descendência das dezesseis lamparinas
Que brilha em Òròkí Ilé
Se ela brilhar para o rei
Ela brilhará para Òşún
Se ela brilhar para os Irùnmolè (divindades)
Ele vai brilhar para o povo (ser humano)
A citação acima revela que a lamparina de Osányìn não é apenas para o benefício de
Òşún e Osányìn sozinhos. Ela é útil para eles, é útil para os nativos de Ọșogbo, para as
outras divindades e a humanidade também.
Esta apresentação é contrária a visão de algumas pessoas que tem a opinião de que Òşún
se aproveitou das dezesseis lamparinas de Osányìn, quando ela conquistou este último.
A reverencia durante o festival de Òşún, a Osányìn, revela e reafirma a oralidade da
verdade sobre o relacionamento destes dois irúnmolè e que não validam opiniões em
contrário.
Um mito revela que Òşún e Ợya já foram casadas com Şàngó.
Isso significa que Ợya e Òşún foram co-esposas na casa de Şàngó.
Isto é evidente no oríkì Òşún que diz:
Quem vai me acompanhar até a casa da minha mãe?
Minha mão direita eu vou usar para fazer meu cordão Kẹlẹ
Minha mão esquerda eu vou usar para segurar meu cordão baba.
O centro vou usar para segurar o Şęrę.
Ajude-me a saudar Òşún, a mãe misericordiosa.
Em terras yorùbá, contas kẹlẹ pertence a Ợya, baba é um cordão que pertence a Òşún,
enquanto Şàngó possui Şeré, uma cabaça medicinal.
Todos estes são temas ou emblemas dessas divindades.
Se visualizarmos o oríkì de Òşún acima, veremos que Ợya situa-se no lado direito da
Sàngó que fica no centro, enquanto Òşún é visto do lado esquerdo. Se um homem
dorme entre duas belas senhoras (mulheres) ele vai usar a mão direita para tocar sua
mão direita e a mão esquerda para tocar a outra à esquerda.
Sàngó, que fica no meio, é o marido enquanto Ợya e Òşún são duas co-esposas. Isto é
estabelecer que, estas três divindades são inter-relacionadas. É também prova que tanto
Òşún quanto Ợya são deusas do rio. Portanto, elas estão interligadas uma a outra. Existe
ainda um outro mito que revela que Sàngó tinha muitas mulheres e que Òşún era uma
delas, outros mitos incluem Ợya e Oba, que também são divindades fluviais.
Diz o ditado assim:
Obìnrin pò lợwợ Olúkòso Àrèmú, şìşe yànyánnşe l’Òşún fi gbórí lợwợ gbogbo wọn.
Isso é, Şàngó tem muitas esposas, Òşún se tornou sua melhor esposa, porque ela sabe
como cuidar dele.
Şàngó ainda é chamado Olúkòso Àrèmú. O ditado acima revela que Şàngó tinha muitas
mulheres, Òşún está entre elas, e que, a sua atitude de cuidar de Şàngó, fez dele “seu
animal de estimação” (algo muito querido).
De fato, Òşún está inter-relacionada com outras divindades em terras yorùbá.
Várias atividades ocorrem durante o festival de Òşún em Ọșogbo que revelam que ela
está inter-relacionada e interligada a várias divindades em terras yorùbá, tais como: Ifá,
Ợbàtálá, Èşù, Ègbé, Orí e assim por diante.
Quando Ìyá Òşún e o Àwòrò Òşún, querem escolher a data do festival de Òşún eles vão
perguntar a Ifá. Durante o período do festival real, os sacerdotes de Ifá, Ợbàtálá e
Eégúngún também participam. Isto significa que eles estão interligados; Ọrúnmìlá
interconectado e interdependente já foi o marido de Òşún. A história conta que, foi
Ọrúnmìlá quem ensinou Òşún a arte da adivinhação que é chamado Ẹérìndínlógún.
O papel de Òşún no processo de cura tradicional entre os yorùbá é muito importante. Da
mesma forma, o ciclo de cura tradicional será quebrado, se Ifá e Osányìn forem
retirados dele.
Portanto, podemos ver Ọrúnmìlá, Osányìn e Òşún como colegas de trabalho ou como
parceiros interligados.
Durante Òşún festival, um dia inteiro é dedicado ao culto de Orí (destino). Os yorùbá
consideram Orí uma divindade importante a quem eles adoram.
Dizem até que:
Não ofereça Obi como sacrifício para qualquer divindade por muito tempo, vamos
sacrificar a Orí.
Não há nenhuma divindade que possa apoiar ou beneficiar uma pessoa sem o
consentimento de seu Orí).
O dia do sacrifício para Orí no festival de Òşún em Ọșogbo é chamado o dia da
Ìboríbọadé.
Isso significa que há uma ligação entre Òşún e Orí. Ela é uma reparadora da cabeça no
mundo espiritual. O Pente de Òşún tem poder místico de embelezar cabeças. Sua água
está habilitada com a capacidade de lavar a má sorte das pessoas que optaram por uma
cabeça ruim em seu período pré-gestacional no céu de acordo com a crença yorùbá. O
tipo de cabeça que um indivíduo possui determina o sucesso ou o fracasso de uma
pessoa. Porém Òşún, tem o poder de curar cabeças ruins, com a ajuda de sua água.
Eégúngún é também um culto tradicional e de destaque nas comunidades yorùbá.
Esta é a forma de pagar homenagem aos pais falecidos que se pensa estarem tomando
papel ativo e proeminente nos assuntos da família ou da comunidade que deixaram para
trás. Um dia inteiro é dedicado ao culto de Reis e Rainhas falecidos. Este dia é
conhecido como Ayaba Ìsàlè.
Entre os Yorùbá, Şànpònná é normalmente referido como o deus da varíola, que
costumava ser a principal doença das crianças em uma comunidade.
Uma visita ao santuário de Òşún no palácio será uma convicção de que Òşún e
Şànpònná estão interligados. Isto é porque, eles oferecem sacrifícios a eles (os motivos)
juntos ao mesmo santuário, no mesmo altar.
Da mesma forma, existe a crença dos yorùbá de que existem crianças espirituais
misteriosas que têm o seu Ègbé, Sociedade Celeste. Elas são chamadas de Ẹmẹrẹ ou
Elẹrẹẹ. Seu líder é chamado Ìyà Ẹrẹ ou Ìyà Jànjàsá. Esta sociedade foi a principal
responsável pela alta taxa de mortalidade infantil em terras yorùbá no passado.
Portanto, eles geralmente trazem sofrimentos, aflições e pena para o povo. Ao lado do
grande santuário de Òşún está localizado o santuário de Ègbé Òrun. Isto não é acidental
ou casual, mas sim, deliberado. É dever de Òşún pôr fim às travessuras deste misterioso
grupo de crianças. Òşún como uma deusa tem poderes cósmicos e místicos e ela pode
interagir livremente com o mundo espiritual.
Talvez seja por causa de sua interação com esses seres espirituais que torna possível
para ela frear os males da humanidade. Por isso, existe um tipo de relação entre eles.
Em Ọșogbo, há o festival de imagens durante o qual os seus devotos trazem as imagens
de várias divindades das terras yorùbá para o mercado local, em novembro. Eles
começam a cantar o oríkì de cada uma dessas divindades para invocar seus espíritos.
Esta adoração e veneração é feita de forma verbal. É durante este festival que os novos
membros do culto de Òşún são iniciados.
Em resumo, a relação de Òşún e outras divindades é uma indicação de que a perfeita e
saudável proteção, de cura e salvamento do ser humano não está nas mãos de uma única
divindade. Todos interagem e se relacionam para usar o Àse que Olódùmarè deu a cada
um, concretamente, para manter a lei, a paz e a ordem do universo.
Bayreuth Estudos Africanos Documentos de Trabalho
(October 2005)
George Olusola Ajibade
Na categoria Candomblé | 13 Comentários
Pergunte a Ifá
Agosto 22, 2014 por Da Ilha
Aos amigos internautas, iniciados e abian que ainda não tiveram acesso ao Corpus
literário de Ifá, mostraremos um de seus versos contidos no Odù Èjì Ogbè (Èjì Onilè).
Estas mensagens cifradas e as parábolas são uma rotina neste tipo de literatura que há
pouco tempo atrás tinha-se conhecimento apenas através da oralidade. Hoje temos
acesso a vários livros, blog, site e trabalhos avulsos para podermos começar a entender
este mundo, ainda novo para o ocidente, chamado filosofia de Ifá.
Este Corpus Literário contém 16 Odù chamados Olódù (Èjì Onilè, Òsá, Òbàrà, Òfún e
etc.) e 240 Ọmọ Odù, cada um deles trás em seu Corpus Literário algo perto de 1648
versos/poemas/mensagens de Ifá (O porta voz, aquele que guarda os ensinamentos de
Olódùmarè), o que temos abaixo é um exemplar destas mensagens. Os sacerdotes de Ifá
devem ter estes versos de cor, o maior número possível, pois, estes versos se
completam, somando-se a ele, o tabu do consulente, o etùtú, o osè dùdù e mensagem de
Ifá para a mudança da sua vida.
Somente assim conquistaremos vitórias, somente obedecendo a orientação de Ifá
conseguiremos chegar a um bom lugar.
Boa leitura.
Da Ilha
Éjì Ogbè
Nós lançamos Ifá com nossa mão (Nós batemos Ikin).
Nós pressionamos Ifá no chão.
Elesa a gbo gi (nome do sacerdote)
Foi lançado Ifá para Ogbè (foi feito o jogo).
Quando ele vinha do Céu para a Terra.
Eles disseram que Ogbè iria entrar no mundo.
Ogbè foi aconselhado a realizar sacrifício (fazer ebo).
Ogbè consultou os itens para o sacrifício.
Ogbè deve sacrificar um rato para trilhar caminhos no mato.
Um peixe para traçar caminhos através do oceano.
Um galo para limpar os caminhos na Terra.
Eles disseram que Ogbè alcançaria o mundo.
Ogbè realizou o sacrifício.
Ogbè se aventurou.
Ele chegou à floresta.
Ogbé ficou perplexo.
Èsù sussurrou no ouvido dele.
Lembre-se você tem um rato para abrir caminho na floresta.
Ogbé usou o rato.
O rato desbravou um caminho pela floresta.
Èsù disse para Ogbè segui-lo.
Quando ele saiu da floresta.
Ogbè encontrou o oceano.
Ogbè ficou perplexo.
Èsù sussurrou no ouvido dele.
Lembre-se você tem um peixe para traçar um caminho através do oceano.
Ogbè deixou o peixe cair na água.
O peixe começou a nadar.
Èsù disse para Ogbè segui-lo.
Quando ele nadou para fora da água.
Ele encontrou a cidade.
Ele não sabia que direção tomar.
Èsù sussurrou no ouvido dele.
Lembre-se você tem um galo para encontrar um caminho na Terra.
Èsù disse para Ogbè seguir o galo.
Ogbè chegou ao centro da cidade.
Ele ficou feliz e começou a dançar e se alegrar.
Nós lançamos Ifá com nossas mãos.
Nós pressionamos Ifá no chão.
Elesa gbo gi (nome do sacerdote).
Foi ele quem lançou Ifá para Ogbè.
No dia que ele estava vindo do Céu a Terra.
O rato usa seu Orí para abrir caminhos na floresta.
O peixe usa seu Ori para abrir caminhos no oceano.
O galo usa seu Ori para abrir caminhos na Terra.
Ogbè, portanto, tornou-se popular (ele obteve sucesso).
A estrela de Ogbè não deve cair como as folhas das árvores.
Ogbè deve ascender um caminho através da dificuldade.
Sagrado Odú Éjì Ogbè.
De acordo com a filosofia e estilo de vida do òrìsà, a vida é uma viagem.
Àjò l’ayè, a viagem da vida, é marcada por muitos portais de iniciação. Cada portal
exige uma separação do passado, em favor do que é e o que será. E tão misterioso
quanto possa parecer, a viagem fundamental, bem como os portais da iniciação, são tão
naturais quanto à própria vida. Desde o nascimento até a adolescência, passando pela
idade adulta e além, todas as nossas experiências são ritos de passagens ao longo do
caminho da vida.
Ainda assim, o caminho leva-nos através de alguns territórios perigosos, durante o qual
as decisões importantes devem ser tomadas, esperamos não só sobreviver à viagem, mas
também prosperar. No versículo acima, Ifá usa as metáforas da floresta, do oceano e da
terra para exemplificar a gama de capacidade de adaptação e preparação necessárias
para a navegação bem sucedida.
E a dificuldade de sucesso?
Quando você falha, você é forçado a se ajustar, buscar novas metodologias e fazer
novas alianças. Mas quando você é bem sucedido, é tentador tentar aplicar novamente
as mesmas práticas que uma vez funcionaram tão bem às novas circunstâncias.
Infelizmente, isso raramente demonstra ser eficaz. Você tem que tentar todas as novas
práticas, mas, ao mesmo tempo, manter um senso claro de verdade pessoal e identidade.
No verso de Éjì Ogbè acima, foi Èsù que repetidamente lembrou Éjì Ogbè dos itens de
sacrifício que ele estava carregando e quando deveria fazer uso deles em diferentes
fases da viagem.
E este é o segredo do sucesso a longo prazo:
Cada um de nós, sem exceção, tivemos alguém que acreditou em nós e nos deu a
orientação adequada e que precisávamos para satisfazer a paisagem em constante
mudança na jornada da vida.
Às vezes, apesar de nosso conhecimento, do nosso talento e experiência só precisamos
de alguém para nos dizer o que fazer e quando devemos fazê-lo!
A nossa capacidade de reconhecer esses momentos e nos dar bons conselhos vai fazer a
diferença entre ser chamativo e inesquecível, entre competência e excelência, entre ser
competitivo e ser superior.
Como saber mais sobre como estabelecer uma relação com um conselheiro confiável
que irá ajudá-lo a otimizar seus dons e talentos naturais?
Pergunte a Ifá.
Àse.
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O relacionamento do homem com Olódùmarè – Deus
Agosto 1, 2014 por Da Ilha
As vezes me pego pensando nos ensinamentos de um dia-a-dia de uma casa de Àse.
Me pergunto por que a figura divina de Olódùmarè é tão invisível em nossas conversas,
por que Deus tem todo este aspecto religioso cristão?
Por que a ‘mesquinharia’ do olhar apenas para “O nosso òrìsà”, como o mundo se
encerrasse ali naquela figura divina.
Por que o meu é importante?
Por que o seu é importante?
Por que o coletivo é relegado?
São questionamentos que estão fora do movimento principal de nossa religião, o amor
fraterno e universal. Quanta vezes nos pegamos encolhidos na carência de alguma coisa
e não sentimos a mão da fraternidade nos tocar e ao mesmo tempo não nos colocamos
do outro lado da moeda e não conseguimos enxergar as necessidades alheias.
Por que será?
Eu acredito que não nos interessa muito saber das necessidades particulares (excluindo
as fofocas) de uma pessoa, isto pode acarretar dispêndio: de tempo, dinheiro ou
qualquer outra coisa que terei que doar.
Pensamento óbvio: Melhor não me meter nisso!
E por que não queremos nos envolver, por que nos recusamos a ajudar?
Existem pessoa completamente desprendidas destes sentimentos, porém, apenas para os
mais chegados, os da nossa turma.
Vejo vários relatos de pessoas aqui no blog querendo ‘virar’ com suas entidades para
poder prestar caridade.
Será?
Será que este amor fraterno e universal somente te toca quando você está incorporado,
ou será que o lisonjeio dos comentários lhe fazem falta?
Aquela coisa que estamos careca de saber:
Os elogios e os ‘depoimentos’ das curas maravilhosas da Vovó, do Vovô, do Caboclo,
do Povo das ruas, Beijada/Erè, esse pai de santo “joga prá cacete” (sorry) e etc., ai o ego
infla, o personagem ganha status dentro do Eu interior do médium e a vaidade sobe a
cabeça (desculpem o tema não é este).
O famoso deixa que Eu vou te dar um negocio para você fazer e tudo será resolvido, ou,
vai lá em casa que eu vou botar a Pomba-gira na terra para resolver isso.
Alguém seria capaz de dizer que já se ofereceu a ajudar como ser humano, em vez de
dar lugar a famosa ajudinha espiritual, pois, a experiência me diz que muitas vezes a
pessoa quer ser ouvida e não escutada, quer um ombro, uma palavra amiga.
Não quer ouvir a verdade, quer apenas falar e se iludir em seu mundo egocêntrico e tem
gente que acha que precisa da ajuda divina para ajudar esta pessoa. Quando na verdade
você, apenas você, projetando sua sensibilidade espiritual poderia ajudar esta pessoa,
com seu ombro, com seu ouvido atendo, com apenas com uma nota de 50,00 reais ou
menos (aqui falamos de quem não tem o que comer) ou então revelando a verdade que
ela não quer e teima em não ouvir.
Este tipo de gente escuta a energia (entidade) por que o ser humano a muito se ausentou
de suas responsabilidades de ser um Ser Humano.
O texto abaixo nos remete a nossa relação com Olódùmarè e alguns de seus
ensinamentos, mais uma vez, coloco o assunto em pauta para uma reflexão.
Que tipo de orientação espiritual estamos buscando e ao mesmo tempo oferecendo?
Se você acha careta falar de Deus, que Deus e o amor universal passam longe de nosso
culto/religião, você com certeza deve ser uma dessas pessoas que vivem escondidas em
um mundinho muito pequeno e que precisa ouvir algumas verdades.
Da Ilha.
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Esta questão tem ocupado a atenção de pensadores através das eras. Alguns filósofos
argumentam que a relação entre Deus e o homem é como a relação entre um pai já
falecido e seus sobreviventes.
Outros têm argumentado que Deus viveu uma vez, mas que morreu há muitos milênios
atrás e que é seu espírito que continua a orientar as questões do sistema planetário, da
mesma maneira que alguns acreditam que as almas dos ancestrais continuam a ditar as
principais regras de algumas questões.
As revelações de Ọrùnmìlá confirmam que a existência de Deus não pode e nunca
poderá ser objeto de debate. A maneira pela qual ele tem ordenado o projeto do céu e de
toda a terra e também a justiça divina para aqueles que contrariam as leis naturais, são
provas inquestionáveis para as regras intervencionais de Deus em nossas vidas.
É minha visão que o conceito de uma personalização e personificar Deus, que está
velando constantemente os assuntos de todas as suas criaturas onde quer que elas
possam estar, pode conclusivamente ser defeituosa. A ideia de um Pai impiedosos que
condena infratores para sempre ao fogo eterno do inferno é simplesmente uma
atrocidade e insustentável. Se um simples mortal não pode ser impiedoso o bastante
para condenar uma criança má aos lobos ou ao fogo abrasador, por que deveria alguém
pensar do Pai como sendo ainda pior que um humano cruel.
As punições para algumas contravenções as leis naturais são postas abaixo, elas não
estão baseadas na vontade de Deus. Portanto nós não esboçaremos para Deus uma
figura de um disciplinador, que se assenta a julgar tudo e todas as ofensas cometidas por
suas criaturas. As sanções penais por ofender as leis da natureza são retribuídas
automaticamente. Elas são similares à aplicação das leis terrestres.
A lei representa reforço cumprindo o ditado contra alguma ofensa independente de ser
ele ou não filho daqueles que fizeram a lei, que está acima de algumas circunstâncias
normais. É desnecessário dizer portanto que Deus não pode causar dano a espécie
humana, é o modo que está decretado para fazer, para aqueles que transgredirem as leis
naturais. Assim sendo, nenhum dano “feito por Deus” ao homem deixa de ser um dano
feito a ele mesmo, já que a humanidade é uma personificação do Seu próprio ser.
Deus é o mesmo para tudo que existe, o que inclui ambas as criaturas orgânicas e
inorgânicas. Nós todos desempenhamos um papel ou outro para fazer o Corpo de Deus
todo trabalhar com mais eficiência. As forças do bem e do mal coexistem dentro de sua
composição fisiológica, assim como eles existem dentro dos nossos corpos
microscópicos.
A relação entre Deus e nós mesmos é análoga ao nosso relacionamento com os
organismos vivos que funcionam dentro dos nossos corpos. Para atuarmos e vivermos
como seres humanos, nós temos milhões de células agindo dentro dos nossos corpos,
cada qual representando um papel distinto.
Não há forma pela qual influenciarmos diretamente o caminho destas células a
executarem suas funções individuais, exceto por meio de nossa conduta geral. Por
exemplo, quando alguém bate uma de suas mãos na mesa para marcar um ponto, esse
alguém causou danos a centenas ou milhares de células vivas dentro de algum corpo e
há células que talvez tenham estado suplicando dentro de algum corpo por algum tipo
de libertação.
Do mesmo jeito, qual emoção pode proporcionar para Deus matar centenas ou milhares
de suas criaturas, componentes da espécie humana, plantas e animais em um terremoto?
Fazê-lo não lhe dá prazer nem quando o mundo destrói a si mesmo nas guerras. Guerras
são conflitos intra fratricidas dentro do corpo de Deus, visto que os conflitos fazem
parte do processo da vida.
Nós não temos como antever os pedidos e aspirações dos organismos vivos dentro do
nosso corpo, exceto que suas condições refletem em nosso próprio visual e saúde. Se
eles estão saudáveis e sadios, fazem bem o seu trabalho e também se sentem saudáveis.
Ao mesmo tempo, Deus está feliz quando as minúsculas células dentro de seu corpo,
plantas, animais, água, fogo, sol e lua, homens e mulheres estão todos executando suas
funções satisfatoriamente e com alegria.
Ọrùnmìlá por outro lado revela que Deus uma vez teve existência física e que era
frequentemente possível para auxiliares próximos, às divindades e seres vivos
interagirem com ele, como nós abertamente interagimos com nossos pais. Como o
sistema planetário expandiu em tamanho e população, a tarefa de dar ouvidos a todo
mundo veio a ser embaraçosa, ao ponto que Ele decidiu evaporar no ar fino. Contudo
antes de fazê-lo deste modo, ele designou as 200 divindades para assumirem a
responsabilidade de julgar e intervir nos assuntos do céu e da terra.
Não é portanto um acidente da história que cada uma das variadas divindades tem seus
próprios seguidores e adeptos. Os adoradores de Ògún, Òşún, Olokún, Òrìşà N’La,
Şàngó, Cristo, Buda, Bruxaria, Judaísmo, Ọrùnmìlá, Asupúrú e etc., mas não têm
justificativa para reivindicar superioridade em seus meios de adoração acima dos outros,
porquê de acordo com a revelação de Ọrùnmìlá, cada um destes ramos vai para
diferentes partes do mundo para auxiliar as forças do bem a predominarem sobre as
forças do mal. O denominador comum entre todos eles é que aconselham seus
seguidores a não fazerem mal algum e não destruir seus companheiros, porquê e contra
as leis naturais. Eles (as divindades também) todos estão sujeitos as leis naturais, que
seus seguidores então façam aos outros o que também desejam para si mesmos.
Aqueles que contrariam esta regra de ouro, levam a sua gratificação apropriada aqui
mesmo na terra Tendo em vista o que já nos foi mencionado, é claro que a relação entre
Deus e os homens é comparada ao Pai que envia suas crianças para fora de casa para
seguirem diferentes vocações para o progresso de toda a família.
O pai envia a cada uma de suas crianças o discernimento para determinarem como
melhor cumprirem suas tarefas. Ele está interessado apenas no resultado final dos
esforços de suas crianças.
Deus nos criou com mãos, pés, inteligência e discernimento para possibilitar nos
virarmos por nós mesmos dentro das amplas regras do conjunto de ética chamado de
Leis Naturais.
Deus não veda a ninguém fazer o bem ou o mal, porque está decretado nas leis naturais
que assim como a noite segue o dia, qualquer um que faz o bem terá boa chegada em
seu caminho e aquele que faz o mal sem dúvida colherá os frutos do mal.
Ọrùnmìlá revela que Deus apenas ri em duas circunstâncias, uma quando uma pessoa
perversa que tramou o mal contra o seu próximo, vai de joelhos implorar a Deus por um
favor, Deus ri imensamente. Por outro lado, quando pessoas estão tramando contra uma
pessoa com um coração limpo, e eles rezam a Deus para abençoar seus planos
maléficos, Deus se ri deles.
Se você planta milho, você simplesmente pode esperar colher milho. Ninguém pode
justificavelmente esperar que a serpente dê a luz a uma ave. Isto é contra as leis divinas
do universo.
Este é o motivo pelo que as divindades só podem dar ouvidos para a voz dos justos.
Aqueles que recorrem ao uso de remédios diabólicos para obter sucesso em suas
intenções maléficas, não angariam o suporte das divindades.
Nem Deus e nem algum de seus servos cooperará com alguém que reza por ajuda para
destruir ou prejudicar seus amigos, companheiros ou vizinhos.
Envolver-se em má conduta uns contra os outros companheiros na esperança que após
isto implorando dia e noite pode salvar alguém dos longos braços da justiça divina, é
com certeza colocar a eficácia da oração em dúvida.
Qualquer pessoa só pode desejar ter sucesso se também encorajar o sucesso alheio.
Ninguém pode obstruir constantemente a ação da justiça e esperar altos poderes para
fazer justiça à causa de alguém. Esta é a Lei Divina (do justo retorno).
Muitos mensageiros do céu têm através das eras tentado ensinar o mundo como servir a
Deus.
Todos eles têm enfatizado, sem exceção, que o único caminho verdadeiro do servo de
Deus é fazendo o bem para vossos amigos, companheiros, vizinhos e até mesmo
inimigos.
Que favor pode esperar o homem de Deus, quando ele se recusa a usar seu carro para
levar a esposa do seu vizinho ao hospital quando ela entra em trabalho de parto?
O homem que nega seu carro, passará a uma vítima moribunda de um acidente sem
nenhum auxílio para levá-lo ao hospital, mesmo buscando a ajuda de Deus dezesseis
vezes por dia, não virá a ele, por que ele não propagou isto anteriormente. Se ele
houvesse prestado auxílio a um necessitado em seu momento mais crítico,
Deus também poderia vir ajudá-lo através de alguma fonte quando ele estivesse em
dificuldades.
Podem as orações trazer libertação ao homem que recusou ajudar um colega de trabalho
com N2,00 para alimentar sua família, quando de fato ele tinha acima de N300,00 em
seu armário de cozinha naquele momento tão crítico?
Não devemos orar pelo que não temos ganhado (pedir indiscriminadamente). Nós
apenas podemos angariar a benevolência das divindades, se não hesitarmos em auxiliar
aqueles que necessitaram de nós em momentos anteriores.
Aqui se encontra a similaridade entre a oração e o sacrifício. Para que a oração se
manifeste deve estar claro que o ofertante tenha sacrificado previamente seu esforço,
hora ou dinheiro a ajudar ao necessitado. Isto se aproxima estreitamente ao sacrifício
físico feito freqüentemente às divindades quando desejamos angariar sua ajuda.
Este é o motivo pelo qual Ọrùnmìlá recomenda a seus seguidores nunca recusar ajuda a
amigos, vizinhos ou companheiros necessitados. Veremos como as forças das trevas
punem o homem que ocultou o cervo, o qual matou no mato, parecer com um cadáver
humano, simplesmente porque ele não queria que nenhum dos membros de sua
comunidade partilhasse dele. Ele perdeu duas de suas crianças antes de ser capaz de
relacionar casualmente a sua traição com a morte de suas crianças.
De fato Ọrùnmìlá avisa a seus seguidores para ter sempre comida em casa, de acordo
com a possibilidade, com o intuito de que visitantes famintos encontrem o que comer.
Ele assegura que qualquer um que se porte desta forma, nunca será rejeitado de forma
que só irá consolidar sua hospitalidade. Portando nos mantendo no bom caminho, e nos
orientando para fazê-lo, conseguiremos permanecer felizes como alguém que só é
verdadeiramente feliz fazendo os outros felizes. Há muitas pessoas ingratas no mundo,
mas a vítima da ingratidão sempre vive muito mais que o ingrato.
A estória de como Deus enviou Nene ir buscar caracóis (ìgbín) para sacrifício.
Sem fazer questionamento algum ela partiu para sua tarefa. Deus a chamou de volta
para lhe entregar quatro presentes para a jornada, uma noz de cola (obi), uma pimenta
(ataare), um pedaço de giz (ẹfun), e uma peça de pano branco. Ela sabia que naquela
época os caracóis não estavam disponíveis no céu, mas ela estava determinada a
vasculhar toda a extensão e largura do céu e da terra para trazer os caracóis.
Depois de vagar no mato por algum tempo, Èşù a divindade do mal, se transfigurou em
quatro tipos diferentes para colocá-la a prova.
Primeiro uma velha senhora apareceu para ela e implorava por giz para fazer alguma
coisa por sua filha que estava em trabalho de parto. Nene a favoreceu com o pedaço de
giz que Deus tinha lhe dado.
A seguir um velho senhor apareceu para ela implorando por um pedaço de pano branco
para levar remédio para seu filho mais velho que estava sofrendo de convulsões. Num
gesto de genuíno interesse e simpatia, ela cedeu a única peça de pano que Deus lhe
havia dado.
Não muito longe dali, uma mulher surgiu com uma criança chorando em suas costas. A
criança estava com fome. Assim que Nene ouviu o choro da criança, correu até a mãe
para saber o que estava acontecendo. A mãe explicou que tinha estado na floresta o dia
todo sem nenhuma comida para dar ao seu filho. Obi era principal alimento no céu.
Nene então, deu o único obi que tinha para a mulher, que ficou muito feliz.
Finalmente um caçador se juntou a ela para pedir por uma pimenta, a qual ela
igualmente de boa vontade repartiu. Com o que, ela tinha beneficiado com o os quatro
presentes recebidos de Deus.
Assim que ela deu a pimenta ao caçador, ele se afastou um pouco e retornou para
encontrá-la.
Ele lhe perguntou o que fazia na floresta.
Quando ela explicou que fora enviada por Deus na busca de caracóis.
O caçador disse-lhe para esperar. Ele abriu a pimenta e lançou as sementes no mato.
Então ele disse a ela para entrar no mato na direção em que ele havia lançado as
sementes da pimenta.
Ela foi ao mato e viu um número incontável de caracóis.
A de se notar que foi a única alternativa de Nene, dispor dos presentes para obter o que
estava procurando. Se ela tivesse se acomodado em casa ou se ajoelhado na floresta
para rezar para os caracóis virem até ela, teria falhado em sua missão.
Pode se notar também que Deus não disse a ela o que deveria fazer com os presentes
que lhe deu. Ela estava livre para usar seu próprio discernimento.
A OBRA COMPLETA DE ỌRÚNMÌLÁ
Por Òsámoro
Tradução: Odé Gbàfáomi.
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"Tudo o que é bom e justo emana de um único Deus, que hoje pode ter muitos
nomes e cultos. Mas, seus princípios foram antes cultuados por um único povo;
primordial e resistente, criado à sua imagem e semelhança.
São esses factos que nos fazem ter tanta dificuldade em entender a intolerância,
o preconceito e a violência praticados em nome de Deus (?), contra os religiosos
do Candomblé e da Umbanda ou de qualquer outra religião. A religiosidade
Africana é a prática de uma doutrina baseada em valores de Paz, Justiça, Amor
fraterno e Sacralização da vida".
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