O MODELO FENOMENOLOGICO DE GOETHE E SUA RELAÇAO COM O SER HUMANO E SEU DESENVOLVIMENTO

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Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 28 de Agosto de1749 — Weimar, 22 de Março de1832)

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Este documento apresenta como a natureza e o todo, continuam num processo de expansão e contração constantes, influenciando o "meio " e sendo influenciada ad infinitum, e como tais variações podem ser usadas para ajudar a entender os seres vivos e suas constantes mutações, atingindo não só os aspectos " visiveis", mas também os " invisíveis " (doenças nas plantas ou nos homens?! ), com um entendimento de "como" chegamos até aqui, trazendo uma comparação do "caos" climático mundial e suas muitas vertentes, com a possível ligação nos aspectos da saúde física e emocional dos seres humanos, com relações de modelo ao que poderemos encontrar a frente.

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Johann Wolfgang von Goethe

(Frankfurt am Main, 28 de Agosto de1749 — Weimar, 22 de Março de1832)

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“Sistema Natural — uma contradição de termos. A Natureza não é nenhum sistema; ela tem

vida, ela é vida e progride de uma origem não conhecida em direção a um impenetrável

objetivo. A Pesquisa científica é por esse motivo, sem limite, incessante, interminável, se

procedemos de forma analítica e minuciosa ou seguindo o processo como um todo, de forma

abrangente, em toda sua magnitude e grandeza”.

Johan Wolfang von Goethe

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A ciência Goetheana

Um estudo fenomenológico da

metamorfose das plantas

e

Como os seres vivos estão

relacionados ao modelo (Parte I)

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Introdução

Nós vivemos em uma época onde vemos o aumento da polarização entre teorias a respeito da

natureza da vida. Alguns pretendem que os mistérios da vida e do ser humano serão

descobertos através do deciframento do código genético, enquanto que outros urgentemente

demandam que a ciência seja moralmente, socialmente e ambientalmente responsável por

essas descobertas e essa associação com os avanços tecnológicos. A Física Quântica relembra-

nos que não existe uma linha verdadeira de separação entre a observador e o observado —

que o mundo não funciono de forma linear.

Mesmo para o cientista materialista mais determinado, a natureza é um sistema dinâmico não

linear. A totalidade da natureza não pode ser encontrada através da dissecção dos portes.

Incluímos esse conceito da totalidade em nossa ciência prática? Muitos cientistas e

grandes corporações reduzem a vida a um produto ou mercadoria, ou

bem material, quando patenteiam e comerciam as sementes, os

animais usados em pesquisa de laboratório, e plantas e animais

geneticamente manipulados para que sejam resistentes a pragas e

herbicidas.

Não estamos todos nós seres humanos atualmente

igualmente fragmentados, dissolvidos em especialidades,

técnicas, classes sociais, nacionalidades, religiões, etc?

Classificados como brancos, negros, amarelos e mamelucos,

ou pior, como números ou “valor monetário”, diante de um

“sistema de coisas” esmagador?

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A grande questão a ser levantada é:

Como tem refletido no indivíduo tais maneiras de encarar e

“tipificar” o ser humano, e quais os resultados obtidos em

aproximadamente um século desde a Revolução Industrial

com seus efeitos degenerativos no meio ambiente e no

“meio de convívio”, retornando resultados jamais vistos em

escalas de progressão constante, tanto ecologicamente,

socialmente e individualmente, retornando seus efeitos

caóticos numa constante ascendente, retornando a um

mesmo ciclo em proporções aumentadas em potencia e

entropia*?

* Efeito que ocorre naturalmente nos elementos físicos e químicos em

geral, que quanto maior a desordem e desorganização, maior é a

ENTROPIA.

Esta visão do mundo natural tem conduzido à fragmentação da propriedade agrícola, onde o

plantio e manejo das culturas anuais e perenes, a exploração florestal e a criação animal eram

realizadas antes de forma conjunta , formando um sistema integrado e vivo, um organismo

agrícola. A fragmentação é uma visão materialista da natureza, a qual dá

mais ênfase à quantidade, formas de medição ou avaliação de experimentas isolados para

explicar a vida do que as relações e experiências pessoais. Fato que o poeta, dramaturgo e

cientista Johan Wolfang Goethe (1749 — 1832) alertou há 200 anos atrás. Ele propôs

uma metodologia participativa para estudar e descobrir a presença de

leis no mundo natural.

A essência do mundo natural é o crescimento e as mudanças, a

interação constante entre os seres vivos e os não vivos. As relações entre

vários seres na natureza não são lineares, mas recíprocas e simultâneas, gerando o que tem

sido freqüentemente referido como a rede da vida. Podemos encontrar significado

profundo no fato de os padrões e processos existentes no mundo

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natural serem também encontrados no desenvolvimento individual

humano.

Conforme Goethe, “se nós pudéssemos ter, de alguma forma, uma intuição

vital da natureza, deveríamos esforçar-nos por conservar-nos tão

flexíveis e maleáveis, quanto ela mesma (3)”.

A vida e os processos relacionados com ela não são lineares, mas eles

têm direção. Esta direcionalidade segue padrões que obedecem as leis da natureza. Foi

através de sua missão de descobrir e “conhecer” a unidade e presença de leis na natureza, e

especialmente devido a suas observações das plantas, que Goethe descobriu e desenvolveu

sua teoria da metamorfose. Ele criou definições e geraram conhecimentos profundos

relacionados com estas leis através de seus estudos de anatomia, botânico, zoologia,

osteologia, geologia e meteorologia. Mediante uma atitude positiva e treinando-

nos a nós mesmos, crescemos e mudamos conseguindo acompanhar os

fenômenos (plantas, animais, paisagens, etc.).

Dessa forma tentamos compreender como se manifestam os processos

de formação e término da vida e como eles atuam e interagem na

natureza e em nós mesmos. Esta visão não substituirá o método científico

convencional, mas permitirá observar os fenômenos a partir de um ponto de vista diferente.

Considerando a totalidade, nós podemos ver relações intrínsecas entre as “partes” de um

sistema e podemos relacionar-nos com esse sistema de forma apropriada. Atividades

ambientais, tais como manejo ecológico e agricultura, onde o ser humano interage com o

mundo natural, requerem esta habilidade se a finalidade é a regeneração da paisagem. Steiner

diz que se o artista pode chegar a conhecer os princípios inerentes manifestados nos

fenômenos naturais, eles poderiam criar formas com uma consistência inerente, O resultado

poderá não ser naturalismo, uma cópia da natureza, mas sim uma expressão dos princípios

formativos que atuam na natureza (4). Se estas atividades são conduzidas dentro de uma

concepção da totalidade, elas pertencem a esta totalidade. Desta forma, nós podemos servir

apropriadamente ao ser humano e à paisagem onde ele está inserido, onde ele habita.

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A ciência Goetheana e a Fenomenologia

O princípio básico do método científico de Goethe é que nós mesmos nos devemos

incorporar na experiência do fenômeno, fazendo-nos parte dele durante toda a

pesquisa, em vez de especular em torno dele ou substituí-lo por um conceito

abstrato ou um modelo matemático.

Assim ao estudarmos os efeitos climáticos e suas mudanças

radicais em escalas caóticas, se torna um tremendo erro

tirar ou subtrair os mesmos efeitos na saúde física e

emocional dos seres vivos em geral, ou podemos até sugerir

baseado na teoria de GOETHE, um reverso do mesmo;

Seriam as mudanças climáticas e caóticas com todas as suas

variantes na natureza em geral, um efeito do que acontece

no “mundo” humano interior, isto é, em sua alma

atualmente?

Submergindo-nos no fenômeno nós podemos “ver” a unidade e a presença de leis no

mundo natural. Em seus estudos científicos, Goethe procurava entender a natureza e as suas

leis internas e não procurar explicações ou forças provenientes do exterior (5). Neste sentido,

a visão de Goethe era totalmente fenomenológica. A Ciência Fenomenológica desenha

conceitos teóricos a partir da estrutura do próprio fenômeno e não a partir de uma realidade

imperceptível além destes conceitos (6). Esta visão enfatiza a capacidade científica de

percepção e ressalta a primazia (importância) e imediatismo dos fenômenos sensoriais como

fonte confiável de informação (7). Conforme o homem faz uso racional de seus sentidos ele se

torna o melhor instrumento científico possível (8). Nós não precisamos excluir-nos ou excluir

nossos sentidos dos processos científicos, somente nossos julgamentos, para poder praticar

adequadamente a ciência.

Goethe não aceitava a substituição da observação pessoal pelo estudo com o uso de

instrumentos e equipamentos de medição, que tendem a substituir a experiência do

objeto sob estudo por um modelo matemático. Esta substituição pode servir para

acumular informação, mas não conduz a uma compreensão do fenômeno ou a uma

forma de interagir com ele. Através da experiência ele procurava encontrar a idéia ou lei

básica da própria natureza, o ideal a partir do qual a diversidade de experiências se desdobra

no mundo sensorial.

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“Goethe queria mostrar como todas as divisões da ciência natural — história natural,

física, anatomia, química, zoologia e fisiologia - devem trabalhar em conjunto para

que um nível superior de contemplação possa usá-las para explicar os processos e

transformações que ocorrem nos seres vivos” (9). “Seu objetivo era criar uma nova

ciência, uma morfologia geral dos organismos” (10). Ele não procurava o conhecimento

através de fenômenos individuais isolados, mas sim a partir das inter-relações entre

os diferentes organismos, seres e formas existentes.

Considerando a visão fenomenológica, “a pesquisa científica torna-se um processo

profundamente dependente da pessoa e de sua capacidade de observar padrões, formas,

processos e o arquétipo dentro da multiplicidade da natureza” (11). Goethe reconhece esta

individualização e não considera isso uma obstrução para a validade da ciência, mas assume

que este fato dá uma maior responsabilidade ao cientista, assim como a oportunidade para seu

próprio desenvolvimento ao longo do processo científico (12).

A prática do método científico Goetheanistico representa um exercício e um desafio para os

cientistas conforme eles testam e desenvolvem a sua habilidade para “ver” a unidade da

natureza e a multiplicidade de suas partes (13). Este processo requer o “sutil empirismo”

que Goethe procura acordar nos cientistas - que desenvolvam e conservem uma

consciência de abertura, boa vontade, e disposição para poder apreciar e perceber a

ocorrência do fenômeno (14). Segurança e auto confiança são tão importantes para o

cientista quanto o interesse e a atenção prestada ao fenômeno sob estudo.

Como pode urna ciência individualizada ser um recurso confiável para o conhecimento? Em

relação a isto, Frederick Amrine, aprendiz de Goethe, diz, “eu acredito que o método de

Goethe é uma solução atrativa para este dilema. Primeiro devemos confiar no que aparece e

em segundo lugar devemos aceitar a importância do raciocínio na percepção ao mesmo tempo

que procuramos afanosamente uma maior objetividade (15).

Este método constituiu “um ponto de equilíbrio entre a contemplação imparcial do fenômeno e

a implementação e controle das condições experimentais” (16). O temor da subjetividade

dissolve-se através de um esforço consistente e de uma metodologia rigorosa e

autocrítica do cientista. Desta forma, a experimentação não é testada questionando uma

expressão matemática abstrata, que substitui o fenômeno, mas questionando o próprio

fenômeno (17). “Todos os fenômenos têm uma estrutura conceitual racional. O

completo entendimento do fenômeno pode levar sua estrutura racional a

autoconsciência, e isto deve ser o objetivo da ciência fenomenológica” (18). A este

respeito, o cientista fazendo o melhor uso de seus sentidos, intuição e raciocínio

acompanharão fielmente a experiência do fenômeno. Para entender o pensamento

científico de Goethe, deve-se praticá-lo, e isto requer uma mentalidade aberta e

disciplina na observação do fenômeno e ausência de julgamento. Goethe adverte

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contra uma visão antropocêntrico do mundo natural, ao invés disso ele procuro

conhecer os fenômenos por dentro e fora deles (19).

Por exemplo:

“Uma grande dificuldade surge quando uma pessoa ávida de conhecimento quer ver a

natureza como ela ocorre realmente e sua relação com o entorno. Por um lado ela perde a

valiosa referência do ponto de visto humano, em relação a ela mesma. A idéia de prazer,

desprazer, atração e repulsão devem ser eliminadas e deve-se procurar uma postura neutra,

procurando e examinando o que é, e não o que gostaria que fosse. Desta forma, o verdadeiro

botânico deve permanecer impassível ante a beleza ou utilidade de uma planta; ele deve

estudar sua formação e suas relação com outras plantas”.

Como o sol que ilumina todas as plantas, o cientista deve olhar igualmente para todas os

plantas e procurar fazer suas observações não a partir dele próprio mas sim o partir do

universo do que ele observa (20). Goethe confiava na estética e raciocínio do ser humano. O

estudo científico deve aproximar-nos da natureza, não distanciar-nos ainda mais de nossa

experiência e do nosso conhecimento. Goethe acreditava que o estudo científico poderia

provocar uma metamorfose do cientista. Cada novo objeto, adequadamente contemplado, nos

abre uma nova oportunidade de aprendizado. O cientista torna-se o instrumento através

do qual o fenômeno se manifesta. Dois séculos na frente de seu tempo, Goethe sinalizou

sobre a urgência de reunir o ser humano e o resto do mundo natural através da experiência e

do entendimento verdadeiros. Acredito que seja necessário destacar o

fato de que os padrões que observamos na natureza são

visíveis para nós porque nós somos parte da natureza e

conseqüentemente, os padrões estão também em nós,

fisicamente e psicologicamente.

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Fenômeno do arquétipo

“O homem é uma planta invertida...”

Goethe

A presença de leis na natureza que Goethe procurava estudar foi denominada por ele como o

fenômeno arquetípico (Urphenomen) (22). Ele é a unidade ideal de um fenômeno a partir do

qual surge a diversidade de experiências ou formas. Goethe quis desenvolver a idéia da

natureza da forma mais clara possível e a partir daí descer do perfeito para o imperfeito, para

poder entender o término começando pelo início (23). Goethe vê em cada forma individual

apenas o desenvolvimento particular diferente do arquétipo ideal que se encontra em todas as

formas (24). Dá-se a idéia de que nós podemos conhecer o fenômeno em suas formas mais

complexas e perfeitas, e a partir destas idéias nós podemos entender as mais simples e

imperfeitas formas conforme elas são manifestas através da diversidade do que observamos

no mundo natural. “A diversidade surge quando algo, que na idéia é igual, pode existir em

diferentes formas no mundo perceptivo” (25). Com esta visão nós não eliminamos ou

reduzimos a complexidade da natureza. O pensamento se mobiliza em direção oposta ao

reducionismo, enquanto que normalmente a complexidade dos fenômenos é substituído ou

reduzido a formas mais simples.

A experiência do fenômeno arquetípico não é um produto terminado, mas em atividade

verdadeira (26). Steiner chamou isto de “uma experiência de grau superior contida na

experiência” (21). Através do treinamento da habilidade de observação e tornando-se

cada vez mais consciente de sua própria capacidade de conhecimento, o estudioso

pode ser levado em direção a uma experiência da “idéia dentro da realidade” (28).

Através desta atividade começamos a ver como o todo (a idéia) não é a acumulação

ou soma das partes (experiência). Pelo contrário, o todo pode ser visto em todos as

partes, e cada parte, propriamente dito, é uma reflexão do todo (29).

O universal e o particular, a idéia e a experiência participam de uma relação que transcende a

lógica. Elas se tornam recíprocas, uma totalidade unificada e orgânica (30).

O todo (a idéia ou fenômeno arquetípico) é refletido em cada experiência particular do

fenômeno.

“Na verdade, nada é mais típico da natureza do que o fato

dela carregar sua expressão total em suas menores

divisões” (31). (Semelhante ao TAO TE CHING chinês escrito por volta do ano 500

A.C).

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Observando a totalidade e a relação entre as partes que a constituem, as quais poderiam ter

surgido separadamente ou sem relação entre elas, poderíamos conhecer o seu contexto e seu

significado em relação ao mundo natural. Vemos os padrões gerais e universais e suas inter-

relações, conforme são expressos através do diversidade de experiências.

Metamorfose e a Planta Arquetípica

a Trimembração

“A metamorfose não é a alteração exterior de uma forma em outra, mas a expressão externa

de uma idéia” (32). Pelo estudo de como a planta se desenvolve, de semente para

muda, amadurecendo e formando a flor e voltando para a semente, pode-se

compreender o idéia de Goethe da metamorfose. Goethe desenvolveu muito das suas

idéias sobre metamorfose durante seus estudos botânicos, através de observações repetidas e

rigorosas, descrição e comparação das observações. De seus estudos ele desenvolveu o que

ele chamou de planta arquetípíca, ou seja, a planta dentro do qual todas as plantas —

do passado, do presente e do futuro — estão contidas e do qual se originam todas as

formas. A planta arquetípica é tanto uma idéia, que contém toda a potencialidade para a

formação das plantas, quanto algo que Goethe podia “ver” e experienciar. É aqui, no reino do

arquétipo, que o paradoxo da experiência e da idéia se desenvolve e dissolve, onde se

experimenta a idéia do fenômeno. “Tudo é folha. E através desta simplicidade as grandes

manifestações se tornam possíveis”, relatou Goethe em seu ltalian Journey (33). O nó e a folha

juntos representam a forma básica do arquétipo da planta. Desta forma simples surge a

diversidade do reino vegetal. “Na metamorfose o organismo revela o constante dentro do

mutável” (34). Esta constante é o órgão inicial, a folha, o qual é transformada através do ciclo

da vida do planta em seus vários estágios de metamorfose visíveis. A diversidade do reino

vegetal vem justamente da forma em que cada espécie particular expressa esta lei

da metamorfose.

Na sua obra “Metamorfose das plantas”, Goethe descreve como o órgão arquetípico realiza

esta trindade de estágios de expansão e contração através do ciclo de vida da planta. Ele vê as

plantas que florescem como a forma mais complexa e ideal no reino vegetal e tenta

compreender as leis que atuam neste fenômeno antes de descer para as plantas inferiores

como as samambaias e briófitas. Aqui nós vemos em sua metodologia, a idéia da unidade na

multiplicidade — como a idéia arquetípica é refletida dentro de todas as partes (35). O

primeiro estágio de expansão tem lugar quando a semente germina e a planta cresce até

seu estágio “de folha”. No próprio período de enfolhamento, nós podemos também ver as

transformações que ocorrem na planta. Riegner relata que a planta existe dentro de

polaridades de iluminação e umidade, entre o solo (escuro e úmido) e o ar (luminoso e seco).

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Se nós observarmos o caule da planta de baixo para cima (ou de um clima úmido e de baixa

luminosidade para um clima seco de alta luminosidade), as folhas tendem a mudar de formas

redondas e menos diferenciadas para outras que são mais retas, diferenciadas e contraídas. No

fim deste estágio, as folhas se contraem formando o cálice (folhas modificadas ou sépalas)

(36).

O segundo estágio de expansão na metamorfose da planta pode ser visto na carola

(formando as folhas modificadas chamadas pétalas). Dentro da flor, a contração e a separação

que se segue, ocorre e pode ser vista nas estruturas contraídas do pistilo e estames.

Estas partes separadas aparecem juntas novamente através da polinização no fruto, o estágio

final da expansão. O terceiro e ultimo estágio dentro do fruto, a última contração para a

semente completa o ciclo trimembrado da expansão e contração na planta (37).

Desta forma, nós podemos ver a planta arquetípica, em uma das suas infinitas

manifestações, através da expressão de cada espécie, na sua seqüência

metamórfica.

“Nossa tarefa, então, é aprender a ver as plantas de tal forma que cada espécie do reino

vegetal se torne aparente. A planta arquetípica é o elemento criativo no mundo das plantas.

Se nós queremos explicar uma espécie individual de plantas, nós devemos mostrar como este

elemento criativo atua em um caso particular” (38).

O potencial para adotar esta idéia do arquétipo, de uma planta em particular, está presente em

todas os partes da planta, em várias formas, em cada transformação de seu processo de

metamorfose.

Existe um ponto no desenvolvimento da planta onde esta

elevada auto expressão é mais presente para o observador,

mais refinado e perfeito? Klett considera que a mais

verdadeira expressão da planta é manifesta na flor (39).

“Este é o estágio em que o princípio superior (o arquétipo)

atua, e no qual a característica da espécie ou família da

planta é mais claramente expressa” (40).

UM PARALELO:

Podemos afirmar que assim como a arquetípica planta chega

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a seu estágio final como o estado máximo de expansão

(quando floresce) , e daí passando a um estado de contração

e morte, para daí renascer (da semente, a menor parte

sobrevivente da planta), assumindo um modelo paralelo,

podemos dizer que o ser humano e seu “sistema de coisas”

como seu principal fruto, atingiram o final da trimembração,

passando agora para um estado de entropia* máxima, para

apenas passar a um estado de morte, ficando apenas uma

parte sobrevivente, como a semente da planta, para dar um

novo inicio e renovação, um renovado ser humano,

assumindo uma “nova forma”, uma nova ordem mais

aprimorada, surgindo aí sua real metamorfose, refletindo

num equilíbrio do “todo” novamente.

• Efeito que ocorre naturalmente nos elementos físicos e químicos

em geral, que quanto maior a desordem e desorganização, maior

é a ENTROPIA.

“Só o que amo se me revela...”

Goethe

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Referências

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