O marco aos voluntrios de 32Alexandre SimoAnelize VergaraO marco aos voluntrios de 32

A memria republicana, embora presente no somente em nosso calendrio atravs das datas e festividades cvicas, mas tambm retomada a lembrana sob locais destinados a legitimao do passado histrico construdo, torna-se aqui nosso objeto de reflexo. Porm, no sobre a construo e constituio destes smbolos materiais de memria que vamos aprofundar em nossa exposio, e sim, como estes hoje permanecem aps sua apresentao sociedade elemento de resgate da lembrana, um marco destinado a evitar o esquecimento, de eficcia duvidosa. Apresentamos o marco em homenagem aos voluntrios de 1932 na cidade de Assis, guardada pelo feriado de 09 de Julho, intitulado MMDC, sigla das iniciais dos quatro jovens Martins, Miragaia, Drusio e Camargo, que morreram em meio o levante constitucionalista de 1932, o evento histrico ocorrido neste perodo, carrega ainda diversos conflitos na memria da sociedade paulista, tanto sobre plano oficial que visava uma (re)construo da identidade do Estado de So Paulo e sua epopia histrica frente ao moderno, como nos ncleos familiares daqueles que participaram ou conheceram voluntrios que militaram no conflito. Em resumo, os revolucionrios tinham como objetivo, atingir militarmente a capital da Repblica, colocando assim, ao governo a necessidade de negociao. Porm, sem apoio das frentes do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, a guerra ficou restrita ao territrio do Estado de So Paulo, que sozinho contando apenas com a Fora Pblica e o apoio popular para enfrentar as foras federais, acabou derrotado. Os reflexos deste conflito na sociedade paulista do perodo, assim como os traos que permaneceram gravados materialmente nas ruas e praas de So Paulo, em especial na cidade de Assis, foram melhor apresentados por Joo Paulo Rodrigues, no artigo Entre Permanncias e descontinuidades: o levante constitucionalista de 1932 e a batalha contra o esquecimento (2009). Assim, a escolha deste local d-se no somente pelo contexto em que est inserido pleno perodo republicano - e hoje tomado de grande importncia no Estado de So Paulo, mas tambm pela dimenso que tomou na cidade tanto no perodo do conflito, quanto alguns anos aps, bem como se o mesmo ainda permanecesse na memria coletiva.

Dona Helena tambm nos contou de como os voluntrios e a sua causa foram vistos em meio sociedade, atravs da atitude de seu pai, conforme abaixo:Papai era contra Vargas, no gostava de jeito nenhum (...) Ns tnhamos uma farmcia em Candido Mota, e chegou a doar corrente de ouro e muitas outras coisas ao pessoal que lutou (...) em troca recebeu um anel de ferro em lembrana a colaborao (...)Lembro que quando cunharam uma moeda com a esfinge do Vargas, ele no aceitava como pagamento na farmcia, de jeito nenhum [risos] (...)

Dona Helena lembrava-se muito bem das homenagens que o marido recebeu e possua algumas recordaes materiais (imagens ao lado) ; chegou at mesmo a comentar sobre como os netos e os filhos gostavam de ouvir as histrias sobre seu pai ou seu av. Logo, notamos em seu relato um certo orgulho por saber que o marido foi voluntrio da Revoluo Constitucionalista de 1932. Assim, foi possvel constatar que em meio memria dos fatos vividos e tambm da herdada pela viso de mundo do marido, a forma como descreveu em seu relato muito carrega da memria construda sobre o processo. Portanto, percebe-se uma adaptao da memria vivenciada ao passado histrico construdo. Estas constataes so possveis por meio do relato de sua filha, Mrcia R. Tucunduva, que legtima o que havia sido descrito pela me a respeito dos fatos contados por seu pai. A memria presente na famlia por meio da imagem do pai foi transmitida aos demais sobrinhos e netos e acaba por se tornar um mecanismo de preservao da memria.

A memria Buscamos ento a tentativa de um resgate da memria, no somente da fundao do marco, mas tambm de sua representao.Desta forma, procuramos indivduos, parentes ou amigos, daqueles que serviram de voluntrios na Revoluo de 1932 residentes na cidade de Assis. E foi na literatura relativa histria encontrando por meio destes livros s referencias aos participantes. Um dos personagens encontrados apresentado nas imagens (...) trata-se do voluntrio Jos Tucunduva Neto, conhecido como Juca Tucunduva. Este por sua vez, teve ampla participao na perpetuao da memria do evento na cidade de Assis, sendo um dos membros da Sociedade dos Veteranos de 32. Falecido h 27 anos, desde ento, pouco se fez em relao a data do MMDC no municpio, mesmo porque muitos, dos demais voluntrios, hoje tambm esto falecidos, a exemplo de Francisco C. Teixeira, o Chico Teixeira, Amrico Brasiliense e Leoni F. da Silva. Porm, foi possvel encontramos a esposa de Juca Tucunduva, a Dona Helena Ribeiro Tucunduva e a partir de seu relato que iniciaremos nossa tentativa de resgate da memria, ao estabelecer uma comparao entre a representatividade do local ontm e hoje. Muito lcida aos seus 88 anos, Dona Helena nos recebeu de forma muito agradvel em sua residncia, respondendo as questes da entrevista conforme a transcrio abaixo:

Meu marido era um entusiasta n; ele sempre foi muito encantado com a idia da revoluo (...) Ele morava em Botucatu e se alistou escondido dos pais; teve de mentir a idade (...) ele sempre me dizia que havia servido na regio de Lorena, Queluz, acho que isso (...)Eu morava em Candido Mota, depois de um tempo da revoluo ele veio morar aqui (...) quando eu virei mocinha nos casamos (...) ele sempre gostou de lembrar a data, participava bastante dos desfiles, sempre que dava eu ia pra So Paulo naquele memorial bonito que tem l, tinha muita gente aqui que serviu, ele era um entusiasta n (...) Ajudou a fundar aquela pracinha que ta abandonada agora, ali pr cima, no lembro que altura (...) O local atualmente - visto por trs fotografado em Novembro de 2008.O local atualmente - visto de frente fotografado em Novembro de 2008.