O Livro de Azazel - Capítulo Dois
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Transcript of O Livro de Azazel - Capítulo Dois
O Livro de Azazel
O Grimório da Danação
E.A. Koetting
Nephilim Imprensa, 2012
Tradução: Nathalia Claro Moreira
CONTEÚDO
Nota do Tradutor..........................................4
Prefácio ......................................................5
Capítulo Um...............................................12
Capítulo Dois..............................................43
Capítulo Três..............................................55
Capítulo Quatro...........................................73
Capítulo Cinco.............................................85
Capítulo Seis..............................................99
Capítulo Sete............................................139
Capítulo Oito.............................................167
Capítulo Nove............................................175
Nota do Tradutor
Existem diferentes graus de conhecimento, como fatiar o oceano em camadas e encontrar nas
mais ardilosas e escuras profundezas, o âmago da sapiência. Enquanto debatia a validade deste
livro comigo mesma, levantei em minhas reminiscências uma frase de Lewis Carrol: “A única
forma de chegar ao impossível, é acreditando que é possível”. E nesta busca do que me parecia
inalcançável, eu apenas me frustraria se jamais tentasse, se jamais experimentasse. É possível
que, ao final desta tradução, eu sinta um enorme arrependimento de ter tido este livro em mãos e
repassado para colegas para que tomassem o mesmo conhecimento. Talvez a conjuração em
cima deste projeto de Ea Koetting traga-me uma inesperada danação a qual eu, com tão pouco
tempo de vida, não aguardasse assim de repente. Ou, há aquela chance inóspita de que todas as
referencias mágicas aqui contidas sejam nada mais do que alegorias, arquétipos inúteis ao meio
físico, que não aconteça nada que abale a matéria, que tudo se proceda como uma dose de
placebo ao paciente.
Demorei em média um mês para finalizar esta transposição da obra que poderia ter sido feita em
duas semanas: uma para tradução, outra para a revisão. Porém, muito se sucedeu, fatos que me
desmotivaram, que por um sentimento aderente ao cansaço, me fizeram desistir de prosseguir.
Quando me afastei do documento, prestes a excluí-lo do computador, porém, tive uma série de
problemas que de imediato não os relacionei com a obra, mas que os olhando de longe agora,
questiono se não houve uma intenção subliminar em cada um pelo Guardião dessas páginas. E
de fato, tudo se abrandou quando retornei a escrita e penso eu que nada se sucede ao acaso: eu
iniciei algo, me comprometi, e tive que cumprir, finalizando um pequeno ciclo.
“O Livro de Azazel” não foi publicado no Brasil e não se encontra sua tradução disponível na
internet, tão pouco a biografia do autor em nossa língua. Eu espero que esta obra seja analisada
metodicamente, assim como se deve fazer com qualquer livro, mas em especial este que chegará
a vocês em português pelas mãos desta humilde admiradora do Ocultismo. Sendo apenas uma
universitária sem qualquer formação com editoriais, peço desculpas desde já se o prezado leitor
das seguintes páginas encontrar quaisquer erros quanto a tradução da obra, tendo em vista que
busquei adaptá-la da melhor forma que se encaixasse em nosso farto idioma.
Concluindo esta nota, recomendo a todos a máxima cautela, atenção e dedicação sejam quais
forem os intuitos aqui impostos.
“Toque este sino e descubra seu poder ou passe toda a eternidade curioso"
Staples Lewis.
Nathalia Claro Moreira, 15/03/14.
As Hordas Infernais
Capítulo Dois
"Azazel à sua direita , um Querubim alto:
Quem pronto da hástia refulgente solta
Ao mavórcio clangor do cavo bronze
A bandeira imperial que na subida
Qual meteoro que os ventos arrebatam
Brilhou co’o lustre ouro e ínclitas gemas
Com troféus, com seráficas divisas
E ao mesmo passo o exercito levanta
Um aplauso estrondoso que enche os ares
Penetra o fundo do inferno e vai dar sustos
Ao Caos tenebroso, à Noite Antiga”
- John Milton . Paraíso Perdido1.
O nome de Azazel foi espalhado por todas as religiões e folclores por quase seis mil anos, mas
muito pouco tem sido discutido sobre quem ou o que esta figura é realmente. O nome é
mencionado pela primeira vez no Livro de Levítico, sem qualquer pano de fundo ou contexto,
mas supondo que o leitor teria um trabalho e conhecimento comum acerca do mesmo.
"E Aarão tirará sortes quanto aos dois bodes: uma para o Senhor e a outra para Azazel. Aarão
trará o bode cuja sorte caiu para o Senhor e o sacrificará como oferta pelo pecado. Mas o bode
sobre o qual caiu a sorte para Azazel será apresentado vivo ao Senhor para se fazer
propiciação e será enviado para Azazel no deserto. Arão trará o novilho como oferta por seu
próprio pecado para fazer propiciação por si mesmo e por sua família, e ele o oferecerá como
sacrifício pelo seu próprio pecado.” (Levítico 16:8-11)
Embora tenha sido argumentado se Azazel era uma figura real que aceitava sacrifícios impuros
contra o Senhor, se o termo se implicava a um lugar no deserto ou o simples ato de mandar
embora o bode carregando os pecados do penitente, o nome apareceu novamente em O Livro de
Enoque:
1 “Paraíso Perdido” Edição de 2006, tradução de Antônio José de Lima (1787-1856)
8: 1: "E Azazel ensinou os homens a fazerem espadas e facas, e escudos e couraças, e deu-lhes
conhecimento sobre os metais da terra e a arte de trabalhá-los, fazendo pulseiras e
ornamentos, e o uso de antimônio, e o embelezamento das pálpebras, e todos os tipos de pedras
preciosas, e todas as tinturas para colorir: '
09:06: "Tu vês o que Azazel fez, que tem ensinado toda a injustiça na terra e revelou os
segredos eternos que foram preservados no céu: '
1 0:8-9: "E toda a terra foi corrompida através das obras que foram ensinados por Azazel: a
ele atribui-se todos os pecados”
O que havia sido revelado a mim através de minhas próprias interações pessoais com esse
demônio parecia espelhar o que havia sido registrado: uma quantidade contraditória de
informações.
Se o maior truque de Satanás foi fazer as pessoas acreditarem que ele já não existia, Azazel
parecia ter lançado uma ilusão ainda maior de fazer parecer que ele nunca esteve lá.
Chamei Azazel, na décima hora. Ele se levantou e ele falou, e suas palavras não conseguiram ter
muita clareza:
- Eu sou o abismo formado. Mas não somos diferentes. Todas as coisas são
formadas a partir de um “nada” primordial, não em um momento lá no passado
distante, mas em cada momento do existir. Cada momento em que você me
considera, eu venho a existir. Cada momento que você se considera, você traz a
si mesmo à existência. Deixe de considerar a si mesmo, e você deixará de
existir. Tenho aparecido aos homens da maneira que eles me consideram.
Ensinei a eles o que eles estavam à beira de aprenderem sozinhos. Eu apenas
consolidei suas realizações. Eu diria que eu sempre existi como esta figura com
feitios mitológicos de Prometeu, de Pandora, porque todos os tempos para mim
são o presente. No entanto, não existo em tudo até este momento. E nem você.
- Onde é que isto deixa a idéia de sua realidade objetiva?
- A realidade está muito longe de ser objetiva. Você pode citar uma única coisa
que existe independente de sua observação? Tal coisa não existe. Quando você
e eu nos encontramos, eu e você viemos à existência. Até esse ponto, não havia
você e não havia eu. Você só existe em relação a quem e o que lhe rodeia. Sua
forma física é realizada em conjunto, como a minha se faz nesta fumaça, pois a
pressão dentro da sua pele atende a pressão do lado de fora de sua pele, e
ambas as forças te seguram em uma única peça. Este é um tipo de sombra do
conjunto da existência. Só através da aplicação de várias forças de pressão se
faz algo existir. Você aprendeu a dominar alguns destes sistemas de pressão, e
pode aplicá-los a convocar algo diante do nada para falar com você.
“Você pergunta se eu sou real? Eu sou tão real quanto o mundo ao seu redor que não é
completamente real”.
O Império Infernal
As escolas do ocultismo e das ciências místicas reconhecem que existem graus na realidade
sutil, sendo a encarnação física o estágio mais bruto e a base destes, seguido pelo plano astral,
que é um reino de energia e movimento. Tendo viajado através do plano astral, através de vários
métodos de projeção da minha consciência a distância da localidade de onde estava meu cérebro
e meu corpo, eu vi intermináveis setores, áreas e reinos dentro do reino energético
aparentemente interminável, todo esse lugar repleto de espíritos, fantasmas, demônios, anjos e
até mesmo deuses, todos competindo por poder e domínio.
Azazel me levantou do meu corpo e a minha visão foi drenada dos meus dois olhos físicos
despertando-se em minha visão espiritual, e ele me mostrou os reinos espirituais de uma nova
vista. De fato, existem grandes divisões entre as multidões de áreas nos mundos do espírito. A
ilusão é crer que essas divisões são naturais, que eles nascem de uma diferença intrínseca na
ideologia ou alinhamento.
Assim como as guerras em todo mundo foram instigadas e perpetuadas por forças e mentes que
se beneficiariam com o derramamento de sangue e as feridas resultantes, Azazel me mostrou um
grupo sólido de benfeitores nas guerras que assolam o mundo espiritual: os reis demoníacos.
Viajando além do plano astral, mesmo acima do plano mental, nesses reinos onde toda forma e
toda separação cessa, não há guerra. A dualidade se desintegra inteiramente como o tempo e o
espaço, e o Viajante é deixado sem nenhuma preocupação com o bem e o mal, sem vergonha
nem orgulho, nem nós e nem eles.
Por que, então, estariam os anjos preocupados com os elementais, os espíritos planetários, os
demônios menores e os fantasmas errantes que batalham uns contra os outros, ou, no mínimo, se
chocam uns com os outros quando são chamados? Parece que há uma divindade criadora acima
dos reinos da dualidade que pouco se importa com as batalhas espirituais, e muito menos para
ordenar Miguel e seus adeptos a batalharem contra aqueles que se opõem ao seu plano. Tal ação
de um Ser Eterno é tão ridícula quanto a noção de que qualquer encarnação poderia ameaçar as
afirmações do Onipotente.
Não, esses mundos debaixo, esses mundos que existem sob o pêndulo sempre balançante da
dualidade, são mantidos sob o domínio de uma sinistra força nefasta. A suposição geral de que
os Reis demoníacos estão no comando das divisões do tecido da realidade é, talvez,
demasiadamente grande. Talvez os termos precisem ser mais apropriadamente definidos.
De acordo com o Livro de Enoque e as lendas geradas a partir desse texto, Satanás se opôs ao
plano de Deus de enviar o homem à terra para lutar pela vida e para alcançar um grau de glória
após a morte através de seus próprios esforços. Tomando um terço dos anjos do céu, ele travou
uma guerra contra Deus, e como resultado, foi empurrado para a terra até a Ressurreição Final,
quando todos seriam julgados.
Quando Enoque e toda a sua cidade foram levantados para o céu, e quando o próprio Enoque foi
transportado para a glória angelical como o anjo Metatron, no entanto, uma segunda revolta
começou. Metatron se recusou a ignorar o pecado de Azazel de ensinar a humanidade o
conhecimento proibido, pedindo a Jeová para fazer com que Miguel juntasse Azazel e seus
discípulos Ouza e Shemyaza, e lançasse-os sobre a terra até o julgamento final.
Enquanto este mito só pode ser levado a sério como uma alegoria, a raiz realista da qual ele
deriva faz incitar alguma especulação.
Azazel procura ensinar aos homens os segredos dos deuses, para auxiliá-los em sua ascensão. O
caminho da mão esquerda provém deste mesmo conhecimento proibido. A maior e mais precisa
crítica sobre a Magia Negra é que ela oferece ao magicista um grau de poder que é mal
preparado, acelerando sua ascensão rápida demais e mais furiosa do que ele pode suportar,
resultando em uma enorme instabilidade, e concedendo-lhe habilidades que podem ser
executadas desenfreadamente pelo seu ego.
Azazel não é, contudo, um demônio típico, um servo travesso de Satanás ou algum outro Lorde
das Trevas do gênero, mas foi um grande Anjo, um Guardião antigo, e manteve esse status
mesmo depois de ter copulado com fêmeas humanas e ensinado aos homens os segredos da
guerra e de bruxaria. Tudo isso está de acordo com o mito.
Enoque representa o homem em ascensão. Depois de ter atingido o estado de libertação
absoluta, você vai sentir que você não há nenhuma necessidade de se haver conhecimento
secreto, e assim que você procurar vincular esse aspecto proibido à magia negra e suas velas
acesas, você irá mais e mais para dentro, para cima e para frente.
Mas a iluminação tem suas limitações.
Azazel afirma que:
- Os contos não dizem como eu estava solto sobre a terra - "EU" sendo na frase a
personificação momentânea do proibido - por Enoque - elevando as almas, os
homens atingiram o estado de liberação absoluta – “Solte-o sobre a terra”
significa simplesmente que os Mestres espirituais viram grande utilidade para
mim, e, por isso, o segredo, os ritos sombrios, sangrentos, e sexuais foram
ensinados não pelo desviante, mas por aqueles que presumiam saber antes de
terem conhecido melhor.
Há uma arte e uma ciência para a Ascenção. Só existe arte na mão esquerda, no entanto. É a
beleza na sua forma mais grosseira. Você pode encontrar o poder em qualquer lugar. Você só
pode verdadeiramente desfrutar do poder através do proibido. Tudo se torna obsoleto em pouco
tempo.
Vamos jogar com esse universo subjetivo, então, para aproveitar o proibido e mergulhar nele,
pois existem vastas paisagens de possibilidade que só podem ser exploradas ao assumir-se que,
ao contrário dos ensinamentos de Austin Osman Spare, todas as coisas são reais, mas tudo ainda
é permitido2.
Com as várias pressões da dualidade mantendo todas as coisas em seu lugar, os habitantes do
proibido, como Azazel, deleitam-se com a continuação de uma existência que está se
escurecendo e que luta entre si para que toda a consideração dos opostos e, mais tarde, de sua
2 “Nada é real, tudo é permitido”, Austin Osman Spare.
própria existência, colida de volta para o principio motivador. Eles sugam o excesso de poder na
luxúria dos universos e sussurram nos ouvidos dos anjos e demônios incitações que irá levá-los
a continuar a guerra.
O seu reino é um Império Infernal, uma glorificação do desejo hedonista de erradicar o
movimento de outra forma inexorável e instantânea para a perfeição, os gostos do que poderia
causar nesses mundos inferiores e que tudo que há nele se acabe num piscar de olhos.
Desta forma, tudo o que existe no mundo dos espíritos está sob o controle ainda indiscernível
apertado e demoníaco, o Escuro. Todo o reino espiritual, portanto, seja celestial, terrestre,
Sephirótico ou Ctónico é apenas uma província do Império Infernal.
A Babilônia, no entanto, não é uma cidade central, uma fortaleza demoníaca, uma Babilônia
espiritual, mas pode ser considerada adequadamente como o Império Infernal. Tudo o que você
pode imaginar como noturnos palácios de reis demoníacos, a Babilônia é, e mais ainda: assim
como essas imaginações são injetadas em nossas mentes ao nos conectarmos a este lugar, as
nossas mentes injetam nossas imaginações nesse reino, bem como todas as coisas que
alimentam um círculo e um ciclo.
Quando eu olho através das janelas entre os mundos ou quando eu saio desta forma e viajo
através dos portais que levam até a Babilônia demoníaca, eu vejo um reino abandonado, os
campos secos e os edifícios de pedra em ruínas. O céu é como uma pedra ametista líquida, com
listras ondulares por toda parte. O lugar é avivado com os ruídos, com a língua falada pelas
partículas do ar astral, alguma língua estrangeira e indiscernível, como encantamentos rolando
compassados pelo fole de fundo e zombarias de risadas.
Azazel fazendo o papel de Virgílio, falou comigo por trás do meu ombro esquerdo, me dizendo
que tudo isso é uma ilusão. Com esse discurso, a imagem do lugar desapareceu como num
reflexo em um lago, e então me vi em um vale verde e florido. Essa imagem não iria conter o
horror, no entanto, dos tremores e o som das galáxias quebrando, o vale quebrado e o Império
Infernal prevaleceram.
Todas as coisas são uma ilusão, mas a ilusão é diabolicamente persistente. A mente vê o que ela
melhor consegue relacionar, no caso ao demônio e a paisagem demoníaca. Há uma espécie
única de experiência subjetiva, como se nenhuma dessas coisas fossem empiricamente reais,
desde nossa interação sensorial com o mundo em torno de nós até nossas interações mágicas
com os reinos do espírito.
A ilusão é consistente em toda a experiência humana, no entanto. O que eu vejo como um céu
azul e força gravitacional não é a minha percepção somente, mas é uma percepção
compartilhada por meus irmãos raciais. Em algum lugar na nossa formação genética, um pacto
biológico foi feito para nos interagir com o meio ambiente de uma forma previsível e
consistente.
A matéria não é sólida, as lacunas entre as moléculas e os seus elétrons e o próximo conjunto de
moléculas que formam coisas que nós consideramos ser concretas são bastante espaçosas e
flutuantes. Não seria útil para nós experimentarmos as flutuações ou as lacunas, no entanto
esses detalhes são rejeitados e a ilusão da solidez é acreditada.
Tal é a nossa interação com o mundo do espírito, isto se não for maior. Assim como os efeitos
da gravidade ou as barreiras de paredes ou a separação de realizações podem ser
momentaneamente deslocadas para permitir o milagroso, para permitir as mudanças conscientes
no tecido do que nós consideramos ser a sólida realidade, a natureza aparente dos reinos astrais
podem ser ajustados à nossa vontade. E, assim com o rompimento da lei física, assim que o foco
é retirado, a ilusão mais profundamente enraizada se encaixa no lugar.
Esses mundos inferiores são uma ilusão muito persistente. E a ilusão é útil para nós. O império
infernal aparece à vista dos homens como sendo uma paisagem escura, terrível, e muitas vezes
aterrorizante. Esta é a forma como os nossos sentidos podem fazer sentido da coisa em tudo,
para assimilar a consciência do que estamos encontrando quando entramos em um Império que
está além do que nossas mentes mortais devem contemplar, e que de fato estamos sondando os
segredos proibidos de nossa raça frágil.
Aos dezesseis anos de idade, depois que meu interesse cresceu e minha curiosidade estava
completa e eu coloquei minha mão sobre estas ciências secretas com sinceridade, mundos sobre
mundos abriram-se diante de mim. Com a obsessão me dirigindo, eu aprendi a chamar a este
reino qualquer entidade que eu poderia citar, e algumas que eu não podia, e eu treinei minha
capacidade de deixar meu corpo e viajar através de portais semelhantes aos reinos de onde os
espíritos vinham.
Eu ascendi através destes planos e estados sobrenaturais da consciência com uma facilidade
alarmante, perdendo as ilusões do ego como a pele se desprende da serpente, chegando
finalmente à consciência de Sat Nam, da verdadeira identidade do meu Self-Eterno, sem
restrições do véu de Maya.
Eu tinha a intenção de fazer este trabalho com Azazel como uma questão de curiosidade, como
uma nova maneira de experimentar novos aspectos da mesma velha magia negra. Em minha
quinta evocação, no entanto, algumas palavras proferidas de seus lábios e as visões que
inundaram a minha mente com essas palavras me fizeram perceber que minha jornada havia
apenas começado agora.
- Assim como você vê essa força espiritual que engloba o universo, o Todo, o
segmento mágico, há também uma corrente secreta até mesmo sob isso. O
Império Infernal, todo o reino astral, o mental, e os planos físicos, mesmo o
plano da alma, são apenas máscaras desta outra corrente que atravessa todos
os mundos e todas as dimensões. Você apropriadamente foi perfurado no
coração por uma verdade ilusória. Vá agora mais profundo. Através do sangue
e sexo e pecado, e através da carne, que é o seu templo, você vai aprender a não
viajar para a parte de trás da árvore, mas para nadar entre as suas raízes.
Aperfeiçoe o seu corpo e você irá me ver novamente para isso.
“Os contos possuem verdades que eu nunca revelei, porque mesmo os anjos e os deuses não
viram as passagens secretas que eu lhe mostrarei. Aperfeiçoe o seu corpo, aperfeiçoe sua
mente, ordene a sua vida, e eu lhe mostrarei”.
- Não há nenhum nome para o atual segredo, já que ninguém o conhece. A
imortalidade está em suas mãos. Não se abandone nas ondas da mesmice. Você
é mais do que isso. Você se prende, porque você tem medo do que você pode se
tornar se você se conectar ao mundo e alinhá-lo com a sua verdadeira natureza.
Você pode cumprir seus deveres e suas obrigações neste mundo, mas sabemos
que estes são passatempos mundanos que poderiam ser substituídos por
momentos grandiosos se você escolhesse viver como rei. Saiba que você é um
rei vivendo entre mendigos.
Durante a minha viagem de 90 dias para o coração do inferno, com todos os segredos que
Azazel me revelou sobre o mistério dessa corrente desconhecida, atravessei a fenda escura e
sinuosa ao longo da existência de todos os seus ensinamentos. Outros espíritos já haviam me
atraído para a existência desta fenda escura, de uma corrente que secreta e silenciosamente jazia
por trás das supostas elites espirituais, e que navegando por este rio, eu estaria no mesmo grau
de libertação, glória e poder.
Azazel não me decepcionou.
A hierarquia Infernal
Devido ao estrangulamento do cristianismo e do judaísmo em torno da garganta da
espiritualidade em geral, do ocultismo em particular, e da relação incestuosa óbvia entre a Igreja
e a Monarquia, a hierarquia das hostes infernais tem sido apresentada por séculos como um
reflexo das nossas próprias estruturas políticas e militares. A maior suposição errônea, criada
como a maioria de nossos erros sobre nossa crença egoísta que nossa raça é o reflexo do Divino,
tem sido a crença de que o mesmo tipo de estrutura social e hierárquica que existe em nossas
civilizações fracas, existe também no mundo dos espíritos. Que talvez nossos próprios sistemas
hierárquicos não foram criados pelas mentes de homens maus e corrompidos, mas foram
entregues a nós do Altíssimo. A hierarquia demoníaca clássica, então, define Satanás como o
Imperador do Inferno, governando Reis, que dominam os Príncipes, que governam Marqueses,
que governam Duques, que governam Condes, que governam Presidentes que governam os
Cavaleiros...
Propus por algum tempo, e ainda mantenho isso, que Satanás não é maior do que outro demônio
entre milhões, e não uma figura especialmente notável fora de uma mitologia particularmente
persistente.
Eu coloquei dentro do círculo os pactos demoníacos dispostos no chão, os que eu estava usando
para cada evocação de Azazel. Coloquei uma cadeira no meio do círculo, velas pretas
queimando em ambos os lados, o derreter da resina a minha frente enchendo a sala com uma
espessa fumaça com aroma de pinho. Com um bloco e uma caneta no meu colo, eu chamei
Azazel.
O ar zumbia, cheio de invisíveis gafanhotos ruidosos. Eu podia sentir a mudança na pressão em
torno de mim, meus ouvidos se aguçavam, meu coração lutando para empurrar o sangue para os
meus membros. Eu caí através dos anéis da realidade e a fumaça do incenso fundiu-se em uma
coluna, formando a forma de ébano do gigante com chifres com as pernas de um animal, o peito
e os braços de um homem e um rosto inconfundivelmente demoníaco. Azazel tinha chegado.
Eu dei-lhe uma única e simples ordem:
- Explique-me a Hierarquia Infernal
Eu ajeitei a caneta entre os dedos, a ponta arranhando o papel, pronto para assumir o discurso do
demônio. A figura sombria estava em silêncio. Eu imaginei que ele estava pensando, ou que
sua mente estava alcançando milênios passados através dos reinos infinitos do plano astral para
encontrar a resposta.
Ele finalmente disse:
- A Hierarquia Infernal é a seguinte: O Operador e tudo mais que existe.
A forma desapareceu através da fumaça do incenso que se dissipou através da sala, tomando a
forma original outra vez de nada mais do que uma simples fumaça. Levantei-me novamente por
esses anéis da realidade, sentado em uma sala vazia com uma página do caderno quase em
branco.
A sobreposição
Eu tinha suposto arrogantemente, como muitos fazem, que eu poderia continuar evocando os
Guardiões do Inferno, que eu poderia chamá-los para materialização espectral perante a mim,
que eu poderia pedir-lhes para abrir uma porta de entrada para o reino demoníaco, que eu
poderia induzir um deles a possuir minha esposa, e que quando eu houvesse terminado, eu
poderia mandá-los embora como prostitutas bem pagas.
O que cada grimório havia deixado de mencionar, o que cada orientador não tinha alertado, é
que no momento em que você se encontra com um demônio, o demônio vai a partir, desse
instante, estar com você do início até o fim.
Se aceitarmos que qualquer tipo de tempo cósmico pode ser considerado objetivo e "real;"
dependerá apenas da expansão do cosmos e do aumento teórico da entropia, movendo-se em
direção a alguma massa crítica ao ponto de que todas as coisas voltarão a entrar em colapso em
singularidade, então naqueles reinos não sujeitos as várias leis da termodinâmica, o tempo não
poderia objetivamente existir, mas ser uma miragem da percepção da passagem dos eventos.
Embora as entidades possam assumir formas visíveis neste plano, os olhos físicos não veem o
demônio, nem os ouvidos físicos ouvem o demônio, mas as faculdades de percepção mais sutis
do corpo relacionados com a origem desse espírito de traduzir as impressões para a mente de
carne, que destilam as informações para os sentidos mundanos, e nos fazem perceber.
Para o conforto de nossas sensibilidades, poderíamos dizer que, uma vez que o tempo não existe
nos planos espirituais, e uma vez que a interação entre o demônio e o homem ocorre totalmente
nos planos independentemente das crenças do corpo físico, a reunião já ocorreu da mesma
forma que está atualmente ocorrendo e continuará a ocorrer no futuro infinito. Logo, ao
momento em que você se encontra com um demônio - como eu mesmo que me reuni com
Azazel e seus inferiores - naquele instante que ele estiver com você no início, ele vai estar
contigo você até o fim.
Esta é certamente uma porta que, uma vez aberta, jamais poderá ser fechada.