O lig a no Śiva Purā a - Equipe de yoga Shri Yoga Devi ... · Ouvindo essas palavras, ViV u ficou...

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1 Este texto está disponível no site Shri Yoga Devi, http://www.shri-yoga-devi.org O liga no Śiva Purāa O Śiva Purāa contém sete partes. A primeira, denominada Vidyeśvara Sahitā, contém uma extensa explicação sobre o liga. O terceiro e o quarto capítulos (Adhyāya) dessa parte descrevem três práticas importantes para atingir Brahman, que neste Purāa é identificado com Śiva. Além da realização dos rituais prescritos pelos Vedas, essas três práticas devem ser exercitadas: Śravaa (ouvir os ensinamentos sagrados), Kīrtana (glorificação de Śiva) e Manasa (meditação). Depois das explicações sobre esses três meios, é colocada a seguinte dúvida: “Ó Sūta, você narrou Śravaa e os outros – os três meios da salvação. Se uma pessoa for incapaz de praticar esses três, o que ele deve fazer para atingir a libertação? Qual é o ritual pelo qual a salvação será possível sem dificuldade ou esforço?” (Śiva Purāa I.4.22-23) Começa, então, a explicação deste Purāa a respeito do liga e do seu culto, que traduzimos abaixo. A tradução para o português foi realizada por Roberto de A. Martins, a partir da seguinte versão em inglês: SHASTRI, Jagadish Lal. The Śiva Purāa. Delhi: Motilal Banarsidass, 2009. 3 vols. Śiva Purāa I (Vidyeśvara Sahitā), Adhyāya 5 1. Sūta disse: “Uma pessoa incompetente para realizar as três práticas de Śravaa e as outras deve estabelecer o emblema do liga ou a imagem de Śiva e cultuá-los todos os dias. Assim ele pode cruzar o oceano da existência mundana.” 2. “De acordo com sua possibilidade, o devoto deve também fazer doações de riquezas, sem enganar os outros. Ele os oferecerá ao liga ou à imagem de Śiva. Ele deve cultuá-los constantemente.” 3-7. “O culto deve ser realizado de forma elaborada. Construção de plataformas, portais ornamentados, templos, mosteiros, centros sagrados, etc. Oferecimento de tecidos, perfumes, guirlandas, incenso, lamparinas, com a devida devoção. Oblações de comidas como arroz, panquecas, tortas etc., com outros acompanhamentos. Sombrinhas, abanadores, proteções com todos os acessórios – tudo deve ser mantido no culto a Śiva. De fato, devem ser prestadas todas

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Este texto está disponível no site Shri Yoga Devi, http://www.shri-yoga-devi.org

O li�ga� no Śiva Purā�a

O Śiva Purā�a contém sete partes. A primeira, denominada Vidyeśvara Sa�hitā, contém uma extensa explicação sobre o li$ga&.

O terceiro e o quarto capítulos (Adhyāya) dessa parte descrevem três práticas importantes para atingir Brahman, que neste Purā�a é identificado com Śiva. Além da realização dos rituais prescritos pelos Vedas, essas três práticas devem ser exercitadas: Śrava�a (ouvir os ensinamentos sagrados), Kīrtana (glorificação de Śiva) e Manasa (meditação). Depois das explicações sobre esses três meios, é colocada a seguinte dúvida:

“Ó Sūta, você narrou Śrava�a e os outros – os três meios da salvação. Se uma pessoa for incapaz de praticar esses três, o que ele deve fazer para atingir a libertação? Qual é o ritual pelo qual a salvação será possível sem dificuldade ou esforço?” (Śiva Purāa I.4.22-23)

Começa, então, a explicação deste Purā�a a respeito do li$ga& e do seu culto, que traduzimos abaixo.

A tradução para o português foi realizada por Roberto de A. Martins, a partir da seguinte versão em inglês:

• SHASTRI, Jagadish Lal. The Śiva Purāa. Delhi: Motilal Banarsidass, 2009. 3 vols.

Śiva Purā�a I (Vidyeśvara Sa�hitā), Adhyāya 5 1. Sūta disse:

“Uma pessoa incompetente para realizar as três práticas de Śrava�a e as outras deve estabelecer o emblema do li$ga& ou a imagem de Śiva e cultuá-los todos os dias. Assim ele pode cruzar o oceano da existência mundana.”

2. “De acordo com sua possibilidade, o devoto deve também fazer doações de riquezas, sem enganar os outros. Ele os oferecerá ao li$ga& ou à imagem de Śiva. Ele deve cultuá-los constantemente.”

3-7. “O culto deve ser realizado de forma elaborada. Construção de plataformas, portais ornamentados, templos, mosteiros, centros sagrados, etc. Oferecimento de tecidos, perfumes, guirlandas, incenso, lamparinas, com a devida devoção. Oblações de comidas como arroz, panquecas, tortas etc., com outros acompanhamentos. Sombrinhas, abanadores, proteções com todos os acessórios – tudo deve ser mantido no culto a Śiva. De fato, devem ser prestadas todas

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as homenagens devidas a um rei. Deve ser realizada a circunambulação e adoração com japa [repetição de mantras] de acordo com sua capacidade. Todos os rituais comuns no culto, como a invocação, devem ser mantidos com a devida devoção. Uma pessoa que cultua o li$ga& ou a imagem desta maneira atingirá a salvação mesmo sem Śrava�a e as outras [práticas]. Muitas pessoas nobres de tempos antigos foram libertados apenas por esse culto simples. “

8. Os sábios disseram:

“Em todos os lugares, as divindades [Devas] somente são cultuados através de suas imagens. Como ocorre que Śiva é culturado tanto através da imagem quanto do li$ga&?”

9. Sūta disse:

“Ó sábios, esta é uma questão sagrada e maravilhosa. Aqui falará o próprio Śiva e não uma pessoa comum.”

10. “Eu lhes direi o que o próprio Śiva disse e o que eu ouvi de meu próprio ācārya. Apenas Śiva é glorificado como niVkala [indivisível] pois ele é idêntico ao Brahman supremo.”

11. “Ele é também divisível [sakala] pois tem uma forma corporal. Ele é tanto niVkala quando sakala. O li$ga& é apropriado para o seu aspecto niVkala.”

12-13. “No aspecto sakala, é apropriado o culto da sua forma corpórea. Como ele tem os aspectos sakala e niVkala, ele é cultuado pelas pessoas tanto na forma do li$ga& quanto na forma de imagem corpórea e é chamado de o Brahman mais elevado. Outras divindades, não sendo Brahman, não têm em nenhum lugar o aspecto niVkala.”

14. “Assim, as divindades [Devas] não são cultuadas pelo símbolo sem forma do li$ga&. As outras divindades são distintas de Brahman e são seres viventes (jīvas) individuais.”

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15. “Por serem apenas seres incorporados, só são cultuados sob a forma corpórea. Śa&kara tem a natureza de Brahman, e os outros a natureza de jīva.”

16. “Isso foi explicado por Nandikeśvara, dando o significado do pra�ava (OM), a essência do Vedanta, a pedido de Sanatkumāra, o sábio filho de Brahmā, na montanha Mandara.”

[aqui começa o diálogo entre Nandikeśvara e Sanatkumāra]

17-18. Sanatkumāra disse:

“Somente a forma corpórea é observada no culto das divindades diferentes de Śiva. Somente no culto de Śiva vemos tanto a forma incorporada quanto o li$ga&. Assim, ó benevolente, por favor me conte sobre isso de forma precisa, fazendo-me entender a verdade.”

19. Nandikeśvara disse:

“É impossível responder a esta questão sem revelar o segredo de Brahman.”

20-24. “Ó livre de impurezas, como você é piedoso, vou lhe contar o que o próprio Śiva disse. Śiva tem o aspecto desprovido de corpo por ser o supremo Brahman, por isso o niVkala li$ga&, de acordo com as inferências dos Vedas, só deve ser utilizado no seu culto. Ele tem também uma forma corporal, por isso sua imagem também deve ser cultuada e aceita por todas as pessoas. De acordo com a decisão dos Vedas, apenas s forma corpórea deve ser utilizada no culto das outras divindades, que são apenas jīvas individuais corporificados. Os Devas apenas possuem o aspecto corpóreo em sua manifestação. Na literatura sagrada, tanto a forma corpórea quanto o li$ga& são mencionados para Śiva.”

25. Sanatkumāra disse:

“Ó afortunado, você explicou distintamente o culto do li$ga& e da imagem, para Śiva e para os outros Devas. Então, ó senhor dos yogins, eu desejo ouvir sobre a manifestação do Śiva li$ga&.”

26-27. Nandikeśvara disse:

“Meu caro, por amor a você eu lhe contarei a verdade. Muito tempo atrás, no primeiro kalpa, os nobres Brahmā e ViV�u lutaram um contra o outro.”

28. “Para erradicar sua arrogância, o senhor supremo [parameśvara] mostrou sua forma niVkala desprovida de corpo, no meio deles, sob a forma de uma coluna.”

29. “Ele mostrou seu li$ga& separado, proveniente da coluna, desejando abençoar os mundos.”

30. “Desse tempo em diante, o li$ga& divino e a imagem corpórea, conjuntamente, foram associados apenas a Śiva.”

Śiva Purā�a I (Vidyeśvara Sa�hitā), Adhyāya 6 1. Nandikeśvara disse:

Uma vez, muito tempo atrás, ó yogin eminente entre os yogins, ViV�u estava adormecido sobre seu leito de serpente. Ele estava cercado pela deusa da fortuna [LakVmī] e seus atendentes.

2. Brahmā, o maior de todos os sábios vêdicos, chegou lá por acaso. Ele perguntou ao belo ViV�u, de olhos de lótus, que estava deitado lá:

3. “Quem é você deitado aqui como uma pessoa insolente, mesmo depois de me ver? Levante-se, meu caro, vendo a mim, que sou seu senhor. Eu cheguei aqui.”

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4. “São exigidos ritos de penitência para o miserável que se comporta como um tolo insolente quando é visitado por uma pessoa mais velha e honrável.”

5. Ouvindo essas palavras, ViV�u ficou bravo. Mas assumindo uma calma exterior, ele disse: “Homenagem a você, meu caro! Bem vindo. Por favor, assente-se neste leito. Por que a sua face está agitada e seus olhos parecem tão curiosos?”

6. Brahmā disse:

“Meu caro, saiba que eu vim com a velocidade do tempo. Eu devo ser muito honrado. Meu caro, eu sou o protetor do mundo, o avô, e também seu protetor.”

7. ViV�u disse:

“Meu caro, todo o universo está situado dentro de mim, mas seu modo de pensar é como o de um ladrão. Você nasceu do lótus que brotou do meu umbigo. Você é meu filho. Portanto, suas palavras são fúteis.”

8-9. Nandikeśvara disse:

Discutindo um com o outro desse modo, dizendo que cada um é melhor do que o outro, e alegando serem o senhor, eles se prepararam para lutar, como dois bodes tolos, desejosos de matar um ao outro.

10. As duas divindades heróicas, assentadas em seus respectivos veículos – o cisne [Hamsa] e a águia [Garu_a] – lutaram entre si. Os auxiliares de Brahmā e ViV�u também entraram em choque.

11. Enquanto isso, os diferentes grupos de Devas, que se movem em carruagens celestes, chegaram lá para testemunhar a maravilhosa luta.

12-18. Vendo dos céus, eles espalharam flores por todos os lados. A divindade cujo veículo é Garu_a se enfureceu e disparou flechas insuportáveis e muitos tipos de armas sobre o peito de Brahmā. Furioso, Brahmā também lançou muitas flechas de fúria ardente e diferentes tipos de armas sobre ViV�u. Os Devas comentaram sobre essa batalha maravilhosa e se agitaram muito.

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ViV�u, em sua grande fúria e agitação mental, respirava fortemente e descarregou a arma māheśvara [do Grande Senhor, Śiva] sobre Brahmā. Aborrecido com isso, Brahmā apontou a terrível arma pāśupata [do senhor dos animais, Śiva] para o peito de ViV�u. A arma, subindo muito alto no céu, brilhando como dez mil sois, com milhares de terríveis pontas, rugia assustadoramente como um vendaval. Essas duas armas de Brahmā e ViV�u se enfrentaram então em um choque terrível.

19. Assim era a luta entre Brahmā e ViV�u. Então, meu caro, os Devas, em sua agitação inútil e em seu espanto conversaram entre si, como as pessoas fazem quando seus reis guerreiam.

20-22. O Deva que carrega o tridente [Śiva], o supremo Brahman, é a causa da criação, manutenção, aniquilação, ocultação e bendição. Sem sua colaboração, nem uma folha de grama pode ser cortada por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Assim pensando, em seu temor, eles [os Devas] desejaram ir à morada de Śiva e foram até o pico da montanha Kailāsa, onde reside o Deva que tem a lua na sua fronte.

23. Vendo aquela região de Parameśvara [o senhor supremo], com a forma de o&kāra, eles inclinaram suas cabeças para baixo em reverência e entraram no palácio.

24. Lá eles viram o supremo líder dos Devas, brilhando de forma resplandecente sobre o assento adornado com jóias, em companhia de Umā, sobre um altar, no meio da sala do conselho.

25. Sua perna direita estava sobre o joelho da esquerda; suas mãos semelhantes a lótus estavam colocadas sobre as pernas; seus atendentes estavam em torno dele. Ele tinha todas as boas características.

26. Ele estava sendo abanado por especialistas nessa arte – mulheres com atenção concentrada em um ponto. Os Vedas o estavam elogiando. O senhor estava abençoando a todos.

27. Vendo o Senhor assim, os Devas derramaram lágrimas de alegria. Ó meu caro, a multidão de Devas se prostrou, mesmo de uma grande distância.

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28. Ao ver os Devas, o senhor os chamou para se aproximarem entre seus atendentes. Então, causando a felicidade dos Devas, a jóia suprema dos Devas se dirigiu a eles de forma grave, com palavras doces e auspiciosas.

Śiva Purā�a I (Vidyeśvara Sa�hitā), Adhyāya 7 1. Īśvara disse:

“Caras crianças, eu saúdo vocês. Espero que o universo e a raça dos Devas, sob meu domínio, floresça cumprindo seus deveres respectivos.”

2. “Ó Devas, eu já sei sobre a luta entre Brahmā e ViV�u. Esta agitação de vocês é como se fosse uma fala redundante.”

3. Dessa maneira o companheiro de Ambā consolou a assembléia dos Devas com uma fala semelhante ao mel, adoçada com um sorriso, como se usa para acalmar as crianças.

4. Ali mesmo, o Senhor anunciou seu desejo de ir até o campo de batalha de Hari e Brahmā, e assim emitiu suas ordens para uma centena dos comandantes de seus auxiliares.

5-6. Diferentes tipos de instrumentos musicais foram tocados para anunciar o início da viagem do Senhor. Os comandantes dos auxiliares estavam prontos, vestidos com seus ornamentos, assentados em seus veículos. O Senhor, companheiro de Ambikā, montou sobre a carruagem sagrada que tinha a forma de o&kāra por todos os lados e era embelezado por cinco anéis. Estava acompanhado por seus filhos e pelas tropas. Todos os Devas – Indra e os outros – o seguiram.

7. Honrado devidamente pela exibição de bandeiras de vários tipos, abanadores, purificadores, flores espalhadas, música, dança e tocadores de instrumentos, e acompanhada pela Grande Deusa, Paśupati foi para o campo de batalha com todo seu exército.

8. Vendo a batalha, o Senhor desapareceu no firmamento. A música parou e o tumulto das tropas se acalmou.

9. Lá, no campo de batalha, Brahmā e Acyuta, desejando matar um ao outro, aguardavam o resultado das armas māheśvara e pāśupata que haviam lançado.

10. As chamas emitidas pelas duas armas de Brahmā e ViV�u queimavam os três mundos. Vendo esta iminente dissolução fora do seu tempo, a forma sem corpo de Śiva assumiu a forma terrível de uma imensa coluna de fogo no meio deles.

12. As duas armas de chamas ardentes que eram capazes de destruir todo o mundo mergulharam dentro da coluna de fogo que tinha se manifestado lá de repente.

13. Vendo aquele fenômeno maravilhoso e auspicioso que havia acalmado as armas, eles se perguntaram um ao outro: “O que é esta forma maravilhosa?”

14. “O que é esta coluna de fogo que se ergueu? Ela ultrapassa o domínio dos sentidos. Temos que encontrar seu topo e sua base.”

15. Assim tendo decidido em conjunto, os dois heróis, orgulhosos de suas proezas, imediatamente se colocaram em sua busca.

16-18. “Nada ocorrerá se ficarmos juntos”. Assim dizendo, ViV�u assumiu a forma de um javali e foi em busca da raiz. Brahmā, sob a forma de um cisne, subiu em busca do topo. Perfurando os mundos subterrâneos e indo muito longe para baixo, ViV�u não conseguiu ver a raiz da coluna de fogo. Completamente exausto, ViV�u, sob a forma de um javali, retornou ao campo de batalha original.

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19. Meu caro, o seu pai, Brahmā, que subiu muito alto no céu, viu certo monte de flores ketakī [flor da planta Pandanus odoratissimus], de natureza misteriosa, caindo da altura.

20-21. Quando viu a luta entre Brahmā e ViV�u, o senhor Śiva havia rido. Quando sua cabeça sacudiu, a flor ketakī caiu para baixo. Embora ela estivesse caindo há muitos anos, nem sua fragrância nem seu brilho havia diminuído. O objetivo da flor era abençoá-los.

22-23. (Brahmā disse:) “Ó senhor das flores, a quem você estava ornamentando? Por que você cai? Eu vim até aqui para procurar o topo, sob a forma de um cisne.” (a flor respondeu:) “Estou caindo do meio desta coluna primordial que é inescrutável. Já levei um longo tempo. Portanto, não vejo como você possa atingir o topo.”

24-25. (Brahmā disse:) “Caro amigo, você deve fazer aquilo que eu desejo. Na presença de ViV�u você deve dizer o seguinte: ó Acyuta, o topo da coluna foi visto por Brahmā. Eu sou a testemunha disso.” Assim dizendo, ele se inclinou diante da flor ketakī repetidas vezes. Em momentos de perigo, até mesmo a falsidade é recomendada. Assim dizem os textos que devem ser respeitados.

26. Vendo ViV�u lá [no campo de batalha] totalmente exausto e desconfortável, Brahmā dançou de alegria. ViV�u, como um eunuco admitindo sua incapacidade, contou-lhe a verdade. Mas Brahmā contou a ViV�u isto:

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Flor Ketakī

27-28. “Ó Hari, o topo desta coluna foi visto por mim. Esta flor ketakī é minha testemunha.” A flor da ketaka repetiu a mentira, endossando as palavras de Brahmā em sua presença. Hari, aceitando isso como verdade, reverenciou Brahmā. Ele cultuou Brahmā com todos os dezesseis modos de serviço e de homenagem.

29. Para castigar Brahmā, que tinha enganado, o Senhor adquiriu uma forma visível e saiu da coluna de fogo. Ao ver o Senhor, ViV�u se ergueu e com suas mãos tremendo de medo segurou os pés do Senhor.

30. (ViV�u disse:) “Foi por ignorância e ilusão sobre você, cujo corpo não tem início nem fim, que nos permitimos realizar essa busca levados por nossos próprios desejos. Portanto, ó Ser compassivo, perdoe-nos por nossa falha. De fato, isso foi apenas uma outra forma de seu jogo divino.”

31. Īśvara disse:

“Caro Hari, estou contente com você, porque você aderiu estritamente à verdade, apesar de seu desejo de ser um senhor. Por isso, entre o público geral você terá uma posição igual à minha. Você será honrado do mesmo modo, também.

32. A partir de agora, você ficará separado de mim, tendo templo separado, instalação de ídolos, festivais e culto.”

33. Assim, naquele tempo, o Senhor ficou contente com a veracidade de Hari e lhe ofereceu uma posição igual à sua, enquanto a assembléia dos Devas estava testemunhando isso.

Śiva Purā�a I (Vidyeśvara Sa�hitā), Adhyāya 8 1. Nandikeśvara disse:

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Então Mahādeva criou uma pessoa maravilhosa, Bhairava, do meio de suas sobrancelhas, para dobrar o orgulho de Brahmā.

2. Este Bhairava se ajoelhou diante do Senhor no campo de batalha e disse: “Ó Senhor, o que eu devo fazer? Por favor, me dê rapidamente suas instruções.”

3. (Śiva disse:) “Meu caro, aqui está Brahmā, a primeira divindade do universo. Cultue-o com sua espada de ponta afiada e de movimento rápido.”

4. Com uma das mãos, ele [Bhairava] segurou o cabelo da quinta cabeça de Brahmā, que era culpada de ter dito uma falsidade de forma soberba, e com as mãos agitou furiosamente sua espada, para cortá-la.

5. O pai [Brahmā] tremeu como uma bananeira em um tornado, com seus ornamentos espalhados para todos os lados, suas roupas soltas e desalinhadas, a guirlanda deslocada, a roupa superior pendurada e o cabelo brilhante despenteado, e caiu aos pés de Bhairava.

6. Enquanto isso, o compassivo Acyuta, desejando salvar Brahmā, derramou lágrimas sobre os pés de lótus do Senhor e disse com as palmas unidas em reverência, como uma criança que balbucia palavras para agradar ao seu pai:

7. Acyuta disse:

“Ó Senhor, foi você quem lhe deu cinco cabeças como um símbolo especial, há muito tempo. Portanto, perdoe sua primeira falta. Eu lhe peço, faça-lhe esse favor.”

8. O Senhor, assim solicitado por Acyuta, cedeu e na presença de todos os Devas pediu a Bhairava que abandonasse a punição de Brahmā.

9. Então, o Senhor se voltou para Brahmā, o enganador, que inclinou sua cabeça. Ele disse: “Brahmā, para roubar a honra adas pessoas você assumiu o papel do senhor de um modo mesquinho.

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Shiva Bhairava

10-11. Por isso você não será honrado, nem terá seu próprio templo ou festival.” Brahmā disse: “Senhor, seja bondoso. Ó florescente, eu considero que poupar minha cabeça é uma grande bênção e dádiva. Homenagem a você, o Senhor, o companheiro, o originador do universo, aquele que perdoa os defeitos, o benevolente, aquele que carrega uma montanha como seu arco.”

12. Īśvara disse:

“Criança, todo o universo será arruinado se perder o temor pelo rei. Por isso se deve dar punição ao culpado quando se tem o encargo de administrar este universo.”

13-14. “Eu lhe dou uma outra dádiva que é muito difícil de obter. Em todos os rituais domésticos e públicos você presidirá como divindade. Embora um ritual seja completo com todos os ritos antigos e com o oferecimento de presentes, ele será estéril sem você.” Então, o Senhor se voltou para a flor de Ketaka que era culpada de perjúrio e disse:

15. “Você, flor de Ketaka, você é miserável e enganadora. Vá embora daqui. Daqui em diante eu não quero mais incluir você em meu culto.”

16. Quando o Senhor disse isso, todos os Devas evitaram a própria presença da flor.

17. Ketakī disse:

“Homenagem a você, ó Senhor. Seu pronunciamento significará que meu próprio nascimento é estéril. Que o Senhor tenha a bondade de torná-lo frutífero perdoando meu pecado.”

18. “Sabe-se que sua mera lembrança dissolve todos os pecados realizados conscientemente ou inconscientemente. Agora que eu o vi, como pode o pecado de dizer uma falsidade me poluir?”

19-21. Assim invocado em meio à assembléia, o Senhor disse: “Não é adequado para mim usar você. Eu sou o Senhor e minhas palavras devem permanecer verdadeiras. Meus auxiliares e seguidores poderão usá-la. Assim seu nascimento será frutífero. Em tendas sobre o meu ídolo

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você poderá ser usada como enfeite.” O Senhor assim abençoou os três – a flor ketakī, Brahmā e ViV�u. Ele resplandeceu na assembléia, devidamente homenageado pelos Devas.

Śiva Purā�a I (Vidyeśvara Sa�hitā), Adhyāya 9 1. Nandikeśvara disse:

Enquanto isso, Brahmā e ViV�u haviam ficado de pé em silêncio de cada um dos lados do Senhor, com as palmas das mãos juntas, em reverência.

2. Então eles instalaram o Senhor com todos os membros de sua família sobre um assento esplêndido e o cultuaram com todas as coisa sagradas pessoais.

3-6. As coisas pessoais constituem essas coisas naturais de duração longa e curta, como colares, tornozeleiras, braceletes, tiaras, brincos, cordões sacrificiais, roupa superior com borda enfeitada, guirlandas, roupas de seda, anéis, flores, folhas de betel, cânfora, pasta de sândalo, unguento de aguru, incenso, lâmpadas, sombrinha branca, abanadores, purificadoresa e outros oferecimentos divinos cuja grandeza não pode ser expressa nem sequer pensada. Ambos adoraram o Senhor com todas essas coisas dignas do Senhor e inacessíveis aos animais [paśu]. Todas as coisas excelentes que são dignas do Senhor, ó brahmin.

7. Para estabelecer um precedente, o Senhor, contente, distribuiu todos esses objetos entre os atendentes reunidos, de acordo com a ordem de prioridade.

8-10. A agitação daqueles que se aproximaram para receber os presentes foi enorme. Foi ali que Brahmā e ViV�u adoraram Śa$kara pela primeira vez. Quando estavam de pé ali, humildemente, o Senhor agradecido falou sorridente, elevando sua devoção. Īśvara dise: “Caros filhos, estou satisfeito por seu culto neste dia sagrado. A partir de agora esse dia será famoso como Śivarātri [noite de Śiva], o mais sagrado dos dias sagrados em minha homenagem.”

11. “Aquele que realizar o culto de meu li$ga& e minha imagem [mūrti] nesse dia será capaz de realizar a criação, manutenção etc. do universo.”

12. “O devoto deve manter jejum no Śivarātri, durante o dia e durante a noite. Ele deve controlar perfeitamente os seus sentidos. Deve cultuar de acordo com suas possibilidades. Ele não deve enganar ninguém.”

13. “Cultuando no Śivarātri o devoto atinge o fruto que normalmente é obtido por aquele que me cultua continuamente durante um ano inteiro.”

14. “Este é o tempo no qual a virtude da devoção a mim cresce como a maré do oceano quando a Lua se ergue. Festividades como a instalação de minha imagem etc. nesse dia são muito auspiciosas.”

15. “O dia no qual eu me manifestei sob a forma de uma coluna de fogo é a constelação Ārdrā [quinta ou sexta constelação lunar, ou nakVatra] no mês de MārgaśīrVa [mês que se inicia quando a Lua Cheia entra na constelação de Mdgaśiras, o primeiro mês do ano indiano, correspondente a novembro-dezembro], ó crianças.”

16. “Aquele que me vê no dia da constelação Ārdrā no mês de MārgaśīrVa, na companhia de Umā e cultua meu li$ga& ou minha imagem, é mais caro a mim do que o próprio Guha [Kārttikeya, filho de Śiva e Pārvatī].”

17. “Naquele dia auspicioso, a simples visão [darśana] fornece grandes resultados. Se ele também cultuar, os resultados nem podem ser descritos de forma adequada.”

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18. “Como eu me manifestei sob a forma do li$ga& no campo de batalha, este lugar será conhecido como li$gasthāna.”

19. “Ó filhos, esta coluna sem raiz nem topo será a partir daqui diminuída em tamanho, para o benefício da visão e do culto no mundo.”

20. “O li$ga& proporciona satisfação. Ele é o único meio de satisfação mundana e salvação. Visto, tocado e meditado, ele impede todos os nascimentos futuros dos seres vivos.”

21. “Como o li$ga& surgiu como uma montanha de fogo, ele se tornará famoso como a montanha rubra [Aru�ācala].”

22. “Muitos centros sagrados surgirão aqui. Residir ou morrer neste lugar sagrado assegura a libertação.”

23. “A celebração de festivais com carruagens, a congregação de devotos, a apresentação de presentes ordinários e em sacrifícios, bem como o oferecimento de orações neste local terão seus efeitos multiplicados por um milhão.”

24. “De todos os meus setores, este setor será o mais grandioso. Simplesmente se lembrar de mim neste lugar proporcionará a salvação a todas as pessoas.”

25. “Portanto este setor será maior do que todos os outros setores, muito auspicioso, cheio de todos os tipos de resultados benéficos e proporcionando a salvação a todos.”

26-27. “Cultuando-me em minha forma suprema de li$ga& neste lugar e realizando os outros rituais sagrados proporcionarão os cinco tipos de salvação – sālokya, sāmīpya, sārūpya, sārśei, sāyujya [estar no mesmo mundo; estar próximo; ter a mesma forma; ter o mesmo poder; estar unido]. Que todos vocês atinjam aquilo que mais desejam.”

28-29. Nandikeśvara disse:

Assim abençoando Brahmā e ViV�u, que tinha se tornado muito humildes, o Senhor ressuscitou por seu poder de imortalidade todos os soldados das duas divindades que tinham sido mortos na batalha anterior e lhes falou para remover sua tolice e inimizade mútua.

30. “Eu tenho duas formas: a manifesta e a não-manifesta. Ninguém mais tem essas duas formas. Portanto, todos os demais não são Īśvara.”

31-32. “Caros filhos, primeiramente sob a forma da coluna de fogo e depois nesta forma incorporada, eu expus a vocês minha natureza de Brahman sem forma, e soberania [īśatva] corpórea. Essas duas estão presentes apenas em mim e não em qualquer outro. Portanto ninguém mais, nem vocês, pode alegar soberania.”

33. “Foi por sua ignorância desse fato que vocês foram varridos por seu falso prestígio e orgulho de ser Īśa, por mais surpreendente que seja. Eu me ergui no meio do campo de batalha para apagá-lo.”

34. “Abandonem o falso orgulho. Fixem seu pensamento em mim como seu soberano. É por meu favor que todos os objetos do mundo são iluminados.”

35. “Aquilo que o mestre afirma é a lembrança e a autoridade, em todas as ocasiões. Estou revelando esta verdade secreta sobre Brahman por meu amor a vocês.”

36. “Eu sou o Brahman supremo. Minha forma é tanto manifesta quanto não-manifesta por causa de minha natureza de Brahman [brahmatva] e minha natureza de soberano [īśatva]. Meu dever é abençoar, etc.”

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37. “Ó Brahmā e ViV�u, eu sou Brahman por causa de minha grandiosidade [bdhatva] e pelo meu poder de fazer crescer [bd&ha�atva]. Ó crianças, eu sou também o Ātman pela minha natureza de identidade [samatva] e pela minha natureza de permear tudo [vyāpakatva].”

38-39. Todos os outros são não-Ātman, são seres viventes [jīvas] individuais, sem dúvida. Há cinco atividades com relação ao universo, começando com sarga [criação] e terminando com anugraha [libertação]. Todas essas atividades cabem a mim, porque eu sou o soberano [Īśa] e nenhum outro. Foi para tornar minha natureza de Brahman compreendida que meu li$ga& se ergueu.”

40. “Para esclarecer minha natureza de soberano [īśatva], que não era conhecida, eu me manifestei imediatamente na forma incorporada de Īśa.”

41. “A natureza de soberania [īśatva] em mim deve ser conhecida como a forma incorporada, e esta coluna simbólica é indicativa de minha natureza de Brahman.”

42. “Como ela tem todas as características do meu li$ga&, ele será o meu símbolo. Ó filhos, vocês o cultuarão todos os dias.”

43. “O li$ga& e o Śiva sob forma de imagem são não-diferentes. Portanto, este li$ga& é idêntico a mim. Ele traz os devotos próximos a mim. É, por isso, digno de culto.”

44. “Meus caros filhos, se um li$ga& desse tipo for instalado, apode-se considerar que eu fui instalado, mesmo se minha imagem não for instalada.”

45. “O resultado de instalar o li$ga& é atingir a semelhança comigo [sārūpya]. Se for instalado um segundo li$ga&, o resultado é a união comigo [sāyujya].”

46. “A instalação do li$ga& é primária e a do ídolo corpóreo é secundária. Um tempo com o ídolo corporificado de Śiva é estéril, se não tiver um li$ga&.”

Śiva Purā�a I (Vidyeśvara Sa�hitā), Adhyāya 10 1. Brahmā e ViV�u disseram:

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“Ó Senhor, conte-nos por favor as características do dever quíntuplo, que começa com a criação.”

2. Śiva disse:

“Eu lhes contarei o grande segredo com dever quíntuplo, por compaixão por vocês.”

3. “Sarga é criação do mundo; sthiti é sua manutenção; sa&hāra é a aniquilação; tirobhāva é a remoção e ocultação.”

4. “Libertação [anugraha] é a bênção. Essas cinco atividades são minhas, mas são desenvolvidas por outros de modo silencioso, como no caso de uma estátua em um portal.”

5. “As primeiras quatro atividades se referem à evolução do mundo e a quinta é a causa da libertação. Todas elas são minhas prerrogativas.”

6-8. “Essas atividades são observadas nos cinco elementos pelos devotos. Sarga na terra, sthiti nas águas, sa&hāra no fogo, tirobhāva no vento e anugraha no éter. Tudo é criado na terra; tudo floresce pelas águas; tudo é estimulado pelo fogo; tudo é removido pelo vento e tudo é abençoado pelo éter. Assim as pessoas que sabem devem conhecê-los.”

9. “Para cuidar dessas cinco atividades eu tenho cinco faces, quatro nas quatro direções e uma quinta no meio.”

10. “Ó filhos, por causa de suas austeridades vocês dois receberam as primeiras duas atividades: criação e manutenção. Vocês me alegraram e foram abençoados dessa forma.”

11. “De modo semelhante, as outras duas atividades [aniquilação e ocultação] aforam designadas para Rudra e Maheśa. A quinta, libertação [anugraha] não pode ser assumida por nenhum outro.”

12. “Todos esses arranjos anteriores foram esquecidos por vocês dois pela passagem do tempo, mas não por Rudra e Maheśa.”

13. “Eu lhes atribuí minha igualdade de forma, roupa, atividade, veículo, assento, armas, etc.”

14. “Ó caros filhos, sua ilusão foi o resultado de não meditarem sobre mim. Se vocês tivessem mantido meu conhecimento, não teriam ficado embebidos por este falso orgulho de serem vocês mesmos Maheśa.”

15. “Assim, a partir de agora, ambos devem começar a recitar o mantra o&kāra para adquirir conhecimento sobre mim. Isso também extinguirá o seu falso orgulho.”

16. “Eu ensinei este grande mantra auspicioso. O o&kāra saiu de minha boca. Ele representa a mim, originalmente.”

17. “Ele é aquele que me indica, e eu sou aquele que é indicado. Este mantra é idêntico a mim. A repetição desse mantra é na verdade lembrar-se de mim repetidamente.”

18-19. “A sílaba “A” vem primeiro, da face norte; a sílaba “U” do oeste; a sílaba “M” do sul e o bindu [ponto] da face leste. O nāda [som místico] vem da face do meio. Assim o conjunto completo fica compactado na forma quíntupla. Todos eles se unem na sílaba OM.”

20. “Os dois conjuntos de seres criados, que possuem nome [nāma] e forma [rūpa], são permeados por este mantra. Ele indica Śiva e Śakti.”

21. “Dele também nasceu o mantra de cinco sílabas [namaśivāya]. Ele indica todo conhecimento. As sílabas “NA” e as outras [do mantra namaśivāya] correspondem às sílabas “A” etc. [do mantra OM}.”

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22. “Do mantra de cinco sílabas nasceram as cinco mães [mātdpañcaka: Ambikā ou Kaumārī, Rudranī, Cāmu�_ā, Brahmī e VaiV�avī]. O mantra da cabeça [śiromantra] nasceu dele. O gāyatrī de três versos também veio das quatro faces.”

23. “Todo o conjunto dos Vedas e milhares de mantras nasceram dele. Diferentes coisas são atingidas através de diferentes mantras, mas tudo é atingido simplesmente pelo o&kāra.”

24. “Por este mantra fundamental, tanto a satisfação quanto a libertação são atingidas. Todos os mantras régios se tornam auspiciosos e proporcionam satisfação diretamente.”

[...]

32. Īśvara disse:

“Ó caros filhos, a essência verdadeira de todas as coisas foi narrada para vocês de forma demonstraiva. Vocês recitarão, conforme as ordens da Deusa, este mantra OM que é idêntico a mim.”

33. “O seu conhecimento será fixado. Uma boa sorte permanente ficará junto de vocês. No dia de caturdaśī [o décimo quarto dia de uma quinzena lunar] e no dia da constelação Ārdrā, a recitação deste mantra lhes dará eficácia eterna.”

34. “A recitação deste mantra no momento em que o Sol transita pela constelação Ārdrā é um milhão de vezes mais eficaz. No contexto do culto, das oblações [homa] e libações [tarpa�a], o último quarto da constelação Mdgaśiras e o primeiro quarto de Punarvasu devem ser sempre considerados como equivalentes a Ārdrā. A visão [darśana] deve ser produzida cedo ao amanhecer e nos três primeiros muhūrtas [um muhūrta = 1/30 de dia] seguintes.”

36. “Caturdaśī deve ser utilizado continuando até a meia noite. Se for apenas até o início da noite e combinado com um outro seguinte, também é recomendado.”

37. “Embora eu considere que a forma corpórea e o li$ga& sejam iguais, o li$ga& é excelente para aqueles que cultuam. Portanto, para aqueles que buscam a libertação, este último é preferível ao primeiro.”

38-39. “Os demais também devem instalar o li$ga& com o mantra o&kāra, e a forma corpórea com o mantra de cinco sílabas, com artigos de culto excelentes e adorá-los com a devida homenagem. Será fácil para eles atingirem o meu mundo.” Assim tendo instruído seus discípulos, Śiva desapareceu.