O Jornal Luz e Alegria e a relação com a midiatização1
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O Jornal Luz e Alegria e a relação com a midiatização1
MILANI, Tatiane (Graduanda) 2
UFSM/RS
ZAMIN, Angela (Doutora)3
UFSM/RS
Resumo: Este trabalho analisa a trajetória do Jornal Luz e Alegria (JLA), meio de comunicação da
Diocese de Frederico Westphalen, com sede no município de mesmo nome, com edição mensal e com
distribuição para o público da Igreja Católica. Inicialmente, discute-se a relação entre a Mídia e a Religião
e busca-se o entendimento do que é a midiatização no que diz respeito ao uso dos media que a Igreja
Católica faz. Em seguida, faz-se um breve histórico do JLA, pertencente ao Complexo Luz e Alegria,
suporte de comunicação da Igreja Católica no município, formado por duas emissoras de rádio, o jornal e
dois sites. O objetivo é compreender como o jornal é estruturado e se sua criação e organização se
relacionam com a midiatização da religião, enquanto campo que se apropria das técnicas da comunicação.
O JLA foi criado em 2010 em um contexto de adoção de novas práticas de comunicação pela Igreja
Católica. Constata-se que o JLA é um produto da midiatização, que utiliza de suportes que a comunicação
dispõe para levar a mensagem da Igreja à toda a Diocese.
Palavras-chave: Jornal Luz e Alegria; Igreja Católica; meios de comunicação e midiatização
1. Considerações iniciais
Criado em maio de 2010, o Jornal Luz e Alegria (JLA) foi incorporado ao
sistema de comunicação da Diocese de Frederico Westphalen,4 com sede no município
de mesmo nome, situado na região Norte do Estado do Rio Grande do Sul. O sistema de
comunicação denominado de Complexo Luz e Alegria era constituído à época por duas
emissoras de rádio, a AM 1,160 KHz e a FM 95.9, e dois sites, o primeiro pertencente
ao grupo de comunicação (www.luzealegria.com.br), e o segundo à Diocese
(www.diocesefw.com.br).
1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do 10º Encontro Nacional de
História da Mídia, 2015.
2 Estudante do 7º semestre do curso de Jornalismo da UFSM – Campus Frederico Westphalen. E-mail:
3 Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria –
Campus Frederico Westphalen (DECOM/UFSM-FW). Jornalista. Doutora em Ciências da Comunicação
(Unisinos). Líder do Resto – Laboratório de Práticas Jornalísticas (CNPq/UFSM). E-mail:
[email protected] 4 Sede de um conjunto de paróquias e igrejas católicas; lugar onde fica o Bispo.
O objetivo deste trabalho é esboçar o histórico do JLA e entender suas práticas
comunicacionais dentro do contexto da midiatização. O interesse em estudar esse meio
de comunicação religioso está em compreender como se dá sua construção enquanto
meio informativo. A edição analisada é a do mês de março de 2015, sendo a mais breve
até o momento, mas que não difere, em sua estrutura geral, das demais edições.
O presente trabalho é introduzido nos estudos de mídia e religião, em que o
objeto estudado se insere. A intenção é perceber se o Jornal Luz e Alegria utiliza das
novas práticas comunicacionais, envolvendo a midiatização dos campos. A partir desse
objetivo geral, nos interessa entender como se constrói as páginas internas, se o
conteúdo informativo é classificado por editorias, ou se há outro método de
identificação na diferenciação de temas tratados; entender de que forma o JLA atua no
campo religioso, sendo integrado ao complexo de comunicação diocesano, já citado; e
por fim, entender como a midiatização está presente na forma de comunicar do objeto
analisado.
Para responder aos objetivos apresentados, tenciona-se, especificadamente, em
debater sobre o contexto de mídia e religião, e a origem do JLA, levando em conta o
Complexo Luz e Alegria, a partir do qual o jornal diocesano foi criado.
2. A Igreja Católica e os meios de comunicação
A Igreja Católica tem se ocupado desde os anos 1960 com o aproveitamento dos
meios de comunicação de massa para a atividade pastoral. Fiegenbaum (2006) expõe
que a Teoria Informacional norte-americana e a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt
colocavam em debate o problema dos meios de comunicação de massa em dimensão
pragmática. A Teoria Crítica afirmava o progressivo domínio da técnica e a perenização
da dependência e da opressão por meio da massificação midiática. Já a Teoria da
Informação pressupunha que o mercado seria o regular natural das ações humanas. As
duas teorias se colocavam em posições contrárias ao se tratar dos efeitos dos meios de
comunicação de massa, “mas se aproximavam enquanto abordagem instrumental dos
meios” (2006, p. 18). Também sustentavam diferentes posições sobre a relação entre
mídia e religião.
Estudos sobre a Teoria Crítica consideravam que os meios de comunicação de
massa seriam uma ameaça à fé e a moral judaico-cristã. Por outro lado, a Teoria
Informacional apostava no potencial evangelizador dos meios de comunicação massivos
e em sua importância para a veiculação de valores positivos (FIEGENBAUM, 2006).
Com o Concílio Vaticano II,5 de 1962, a Igreja Católica reconheceu a
importância dos meios de comunicação social no desenvolvimento da pessoa humana,
no que diz respeito ao plano da informação, da formação, do amadurecimento cultural e
também da diversão. Segundo Puntel (2012, p. 12), em A comunicação nos passos de
João Paulo II, as palavras que o próprio Pontífice utilizou para definir a importância da
comunicação os reconhece como “instrumentos a serviço do homem e do bem comum;
meios e não fins”. No documento Inter Mirifica,6 de 1966, a Igreja Católica Apostólica
Romana reconhece a importância dos meios de comunicação, e admite em servir-se das
conquistas da técnica e da ciência para o anúncio da Boa Nova.
A Igreja católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para levar a
salvação a todos os homens, e por isso mesmo obrigada a evangelizar,
considera seu dever pregar a mensagem de salvação, servindo-se dos meios
de comunicação social, e ensina aos homens a usar rectamente estes meios.
(PAPA PAULO VI, 1966, Documento Digital [grafia original]).
Soares (1988 apud FIEGENBAUM, 2006, p. 19) denomina a fase pós Concílio
Vaticano II como deslumbramento ingênuo, em que os meios de comunicação “são
meios técnicos para o anúncio da Boa Nova e não para outras finalidades”. Junto a essa
visão, ao citar Maciel (1984), Fiegenbaum afirma que o autor declara que num futuro
próximo, o anúncio da Boa Nova e a catequese serão cada vez mais confiados à técnica,
em que “os meios de comunicação assumem um papel evangelizador não indiferente”,
sendo que sua importância está em alcançar o coração humano para que ele se humanize
e se converta.
A posição da Igreja Católica sobre a comunicação social já sofreu inúmeras
mudanças através dos tempos. Para Gomes (2002, p. 336), “ao longo da história, as
manifestações eclesiais sempre estiveram ligadas a uma preocupação pastoral” que,
ainda que tenha se manifestado desde os primórdios da imprensa, tornou-se mais intensa
com o desenvolvimento dos meios eletrônicos.
5Concílio Ecumênico da Igreja Católica. Disponível em:
<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/index_po.htm>. 6 Decreto sobre os meios de comunicação social, de 4 de dezembro de 1966. Disponível em:
<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_decree_19631204_inter-mirifica_po.html>.
Na exortação apostólica Evangelli Nuntiandi,7 do Papa Paulo VI, de 1975, o
Pontífice aborda que o século XX esteve marcado pelos mass media, e que a catequese
ou o aprofundamento da fé precisam se servir desses meios. Estando a serviço do
Evangelho, é possível que se amplie esses meios “quase até o infinito”, para que a
Palavra de Deus possa ser ouvida.
A Igreja viria a sentir-se culpável diante do seu Senhor, se ela não lançasse
mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais
aperfeiçoados. É servindo-se deles que ela “proclama sobre os telhados”, [...]
a mensagem de que é depositária. Neles encontra uma versão moderna e
eficaz do púlpito. Graças a eles consegue falar às multidões (PAULO VI,
1975, Documento Digital).
A Igreja Católica sugere que os novos recursos oferecidos pela tecnologia sejam
apropriados para estimular a tarefa de evangelização. Mostrando-se como defensor das
tecnologias digitais, Bento XVI, pouco antes de deixar o cargo de Papa, escreveu, para o
47º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que é cada vez mais importante a forma
com que as pessoas se comuniquem entre si, e considera que o desenvolvimento das
redes sociais está contribuindo para um novo agora, uma praça pública onde as pessoas
partilham ideias.
Estes espaços, quando bem e equilibradamente valorizados, contribuem para
favorecer formas de diálogo e debate que, se realizadas com respeito e
cuidado pela privacidade, com responsabilidade e empenho pela verdade,
podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e promover eficazmente
a harmonia da família humana (BENTO XVI, 2013, Documento Digital)8.
Fausto Neto (2004) relaciona as instituições religiosas com os meios de
comunicação a partir do momento em que as mídias se tornam atores importantes, em
que a sociedade vai se tornando mais dependente na ordem da midiatização. Portanto, as
articulações entre esses dois campos “não atuam apenas como mediadores dos
processos de interação entre religião e sociedade”, atuam também como dispositivos
que, em diferentes processos midiáticos vão instituir novas práticas religiosas.
Fausto Neto (2004) chama a atenção, ainda, para o processo de reencantamento
do mundo. Barbero (1995 apud FAUSTO NETO, 2004, p. 135-136), conceitua o
trabalho ritualístico dos meios de comunicação como “fenômeno antropológico”, por
7 Exortação apostólica Evangelli Nuntiandi. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/paul-
vi/pt/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19751208_evangelii-nuntiandi.html>. 8 Texto de Bento XVI para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Disponível em:
<http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/messages/communications/documents/hf_ben-
xvi_mes_20130124_47th-world-communications-day.html>.
meio do qual os indivíduos vivem a continuação do sentido da vida. Nesse caso, as
mídias cumprem um papel que diminui a distância entre os símbolos da religião e os
fieis, pois elas recolocam as simbologias do religioso no cotidiano.
Ao analisar o fenômeno da Igreja Eletrônica na América Latina, Fausto Neto
(2004, p. 135) considera que o meio não é apenas um suporte de amplificação de voz. E,
portanto, essa experiência só pode ser vivida pela mediação da técnica, permitindo que a
Igreja Eletrônica utilize as tecnologias da imagem e do sentimento para captar a atenção
das novas comunidades.
Nos últimos anos vem se estudando sobre o processo de midiatização das
instituições religiosas. Segundo Borelli (2010, p. 1), com os objetivos de “compreender
em que medida o fenômeno da midiatização da sociedade afeta a prática religiosa” e
“que estratégias o campo religioso tem desenvolvido para continuar em contato com os
seus públicos e os sentidos produzidos pela comunidade de recepção”. Há algumas
pistas que ajudam a entender porque as pessoas aderem às religiões midiatizadas. São
elas: “atração que puxam as pessoas para imagens; a possibilidade de conexão social, na
medida em que as pessoas consomem as mensagens de mídias para se sentir em contato;
e terceiro as mensagens dos medias fixam identidades” (HOOVER, 1998, apud
FAUSTO NETO, 2004, p. 136).
Essa midiatização a que as religiões estão expostas, acaba por provocar uma
série de mudanças nos campos sociais, pois, a sociedade se torna dependente desses
aparatos tecnológicos de aspectos socioculturais e a mídia passa a ser quem condiciona
o acesso ao “sagrado”. Isso, por sua vez, altera o funcionamento das instituições
religiosas.
2. O Jornal e o Complexo Luz e Alegria
A partir dos estudos de Ferigollo (2004), a Amplificadora Luz e Alegria, que
consistia em um sistema de alto-falantes, foi o que deu origem ao atual Complexo Luz e
Alegria, formado por duas emissoras de rádio, uma AM e outra FM, pelo Jornal Luz e
Alegria e dois sites. No início, conforme relata o autor em Rostos e Rastros do Barril
(2004), era apenas um microfone e uma coluna de alto falantes fixos na parede da
canônica9 da então Vila Barril, hoje Frederico Westphalen.
De 1944 a 1957, a Rádio Luz e Alegria muitas vezes fora tirada do ar por conta
de denúncias. Somente em 9 de agosto de 1952 foi constituída a pessoa jurídica Rádio
Luz e Alegria, que até então atuava sem concessão. Em junho de 1956 foi permitido
instalar, provisoriamente, uma estação em ondas médias, com 100 watts, podendo
operar em 1.450 Khz. A partir disso, recebeu a aprovação dos locais do estúdio e
transmissor, tendo o prazo de dois anos para a instalação. Em 28 de julho de 1957 foi
oficialmente ao ar a rádio de maior alcance da região do Médio Alto Uruguai, cobrindo
um eixo de 150 quilômetros. Um ano depois, com o apoio da Mitra Diocesana de
Frederico Westphalen, passou à potência de 1 KW e em 1980 aumentou para 5 KW.
Em setembro do mesmo ano, o sistema Luz e Alegria FM entrava no ar em
caráter experimental. Em dezembro de 2002 o então bispo diocesano D. Zeno
Hastenteufel comunicou a criação da Fundação Monsenhor Vitor Batistella, que
controlaria as rádios AM e FM e daria à Mitra Diocesana a condição de proprietária das
emissoras. Quatro anos mais tarde, foi inaugurado o Complexo Luz e Alegria, com o
objetivo de juntar as administrações e estúdios dos canais AM, na frequência 1.160 Khz,
e FM, na frequência 95.9. Integram, ainda, o Complexo, dois sites, um do grupo de
comunicação, o outro pertencente à Diocese, exclusivamente.
O Jornal Luz e Alegria, objeto deste artigo, surgiu em maio de 2010 com a
missão de chegar aos 56 municípios da área de abrangência da Diocese de Frederico
Westphalen. Com tiragem de 30 mil exemplares mensais, o jornal tem uma grande
circulação, chegando a mais de 300 mil habitantes da região do Médio Alto Uruguai. O
conteúdo do jornal se restringe às informações sobre a Diocese de Frederico
Westphalen, levando aos paroquianos as ações da Igreja Católica. O JLA tem 16 páginas
mensais, e até abril de 2015 teve 60 edições publicadas. Sua entrega acontece por meio
de distribuidoras que levam o jornal aos municípios pertencentes à Diocese. Já as
comunidades de Frederico Westphalen retiram os exemplares na Secretaria Diocesana.
Alguns exemplares do JLA ficam disponíveis na entrada das igrejas para que todos
tenham fácil acesso.
Para este trabalho analisaremos a edição de março de 2015 do jornal, com o
9 Local de moradia dos padres.
objetivo de compreender de que forma o Jornalismo aparece no meio de comunicação
da Diocese, sendo que a estrutura do jornal se repete em todas as edições. A responsável
pela edição e diagramação do jornal é a jornalista Maíra Francischete, de Frederico
Westphalen, responsável também pela produção das matérias e das fotos.
Em seu conteúdo observamos que o Editorial, que denota sentido opinativo, é
escrito pelo Bispo Diocesano Dom Antônio Carlos Rossi Keller. Também deste gênero
jornalístico encontram-se as colunas: Lírio Zanchet, de um empresário da cidade ligado
à igreja, que traz conteúdo diverso sobre o mundo e a religião; Pastoral da Criança, que
é um organismo social da CNBB,10 com informações nacionais; Riquezas da nossa fé,
do Diácono Arildo Crespan, com o conteúdo voltado a ensinamentos doutrinários na fé;
Setor Jovem, com assuntos locais e nacionais ligados à juventude católica; Padre Marco
Antônio Jardinello; Catequese, escrita por dois padres da Diocese e com informações
sobre a catequese; além de Argenta Contabilidade e Consultoria, com o conteúdo
voltado a informações de negócios e empreendedorismo.
Figura 1: Gênero opinativo Fonte: Jornal Luz e Alegria, páginas 12 e 13
No JLA também observamos a presença de um colunismo social, o Quadro de
10 Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Disponível em: <http://www.cnbb.org.br/>.
Aniversários, homenageando os padres aniversariantes do mês. Na última página há o
espaço para a divulgação dos principais eventos de toda a Diocese dentro do referido
mês, com o quadro Agenda Diocesana.
As informações jornalísticas encontram-se dispostas em matérias com texto e
foto, as quais obedecem à regra da pirâmide invertida e lead,11 escritas pela jornalista
responsável já citada. Não há editorias que façam a classificação de temas; as notícias
estão dispostas de modo que, em algumas páginas, os assuntos se aproximem. O que
enquadra o assunto que será tratado na matéria é o uso de cartola12 antes do título. Por
exemplo, na edição analisada encontramos apenas uma matéria que foge da temática
religiosa, identificada com a cartola Creluz, que é uma cooperativa geradora de energia,
e que, visivelmente, se entende sua participação no JLA como apoiadora comercial.
Para as informações paroquiais, identificam-se os municípios de origem ou
destino das notícias pelo emprego de cartola com o nome da cidade, como por exemplo,
Tiradentes do Sul, Tenente Portela, Constantina e Osvaldo Cruz. Da mesma forma, a
temática das matérias é identificada pelo uso de cartolas, como, por exemplo, Memória,
Apostolado da Oração, Volta às Aulas, Religiosos / Romaria da Terra, Seminário Menor,
Cinzas, Fatos e Fotos, Educação e cultura, Diálogo e Acolhida e Democracia.
Figura 2: Uso de cartolas para indicar procedência/destino ou temática
11 Técnica de redação do Jornalismo. 12 Palavra própria do Jornalismo, que identifica o assunto da matéria.
Fonte: Jornal Luz e Alegria, páginas 8 e 9
O gênero informativo, na edição de março de 2015 do JLA, é identificado em
várias matérias, de temáticas diferentes. A primeira matéria jornalística está na página 3,
no espaço da Creluz. O texto é do assessor de comunicação da cooperativa a respeito de
uma ação realizada no mês anterior. Em seguida, nas páginas 4 e 5 encontram-se duas
matérias sobre a posse de dois padres. Aqui se percebe a aproximação da temática em
páginas subsequentes.
Na página 6 há um texto de página inteira da Pastoral da Pessoa Idosa, com a
coluna e com um informe sobre o período de volta às aulas. Na página 7 o informativo é
sobre a Romaria da Terra e ao lado há um espaço que trata da Vida Consagrada de
padres de Palmeira das Missões. Em seguida, na página 8, há um espaço destinado a
falar do obituário de um sacerdote de Frederico Westphalen. Ao lado, encontra-se a
notícia da inauguração da capela do Seminário Menor da Diocese. Vê-se os dois
assuntos na mesma página pela proximidade, pois o padre do obituário desempenhava a
função de Reitor no Seminário Menor.
Os temas abordados na página seguinte não mantêm proximidade, um tem como
origem/destino um município da região da Diocese, enquanto o outro é uma reportagem
sobre o período quaresmal. Na edição, o espaço Fatos e Fotos é destinado a pequenos
lembretes. Na página posterior pode ser identificada a fonte Jovens Conectados, de onde
foram retiradas as informações, sendo ela online, e de assuntos nacionais, destinadas ao
público jovem. Em seguida também há um tema nacional ao lado da coluna Lírio
Zanchet. Na página 13 está a última notícia local, com a matéria sobre a Romaria do
Enfermo, e nas últimas páginas estão os quadros de avisos da Diocese e, também, uma
última informação da CNBB, de abrangência nacional.
Entre as matérias principais, percebe-se que os pequenos espaços foram
preenchidos por informações ligadas ao Papa Francisco, como intenções de orações
feitas pelo Pontífice, ou de cunho nacional relacionada ao tema tratado na página.
Aparece também, um pequeno comunicado convidando o leitor a ouvir o programa de
rádio Voz da Diocese, que se repete em três páginas da edição.
Percebe-se que o JLA se limita a ser um boletim da Igreja Católica da Diocese
de Frederico Westphalen, pois os espaços destinados a outras notícias são identificados
como espaço dos colaboradores comerciais, existindo também esse vínculo com alguns
dos colunistas.
3. JLA e a midiatização
Para compreender essa relação midiática da Igreja Católica com os media, em
especial entender como o JLA está inserido nesse contexto, retornamos com Fausto
Neto (2004). Quando as mídias se tornam atores importantes e a sociedade passa a ter
maior dependência na ordem da midiatização, esses dois campos passam a atuar não
apenas como mediadores interativos entre a religião e a sociedade, mas também, como
dispositivos que, em diferentes processos midiáticos vão estabelecer novas práticas
religiosas.
Entendendo o JLA nesse contexto, percebe-se que ao ser criado, um tanto já
tardio quanto ao início da midiatização, ele desfruta desse processo criando novas
práticas religiosas. A criação do jornal da Diocese já está ligada a esse processo de
estabelecer meios de comunicação para a Igreja, o que resulta num dispositivo que
marca novas práticas religiosas.
O JLA se relaciona com a era de Bento XVI, pois, junto com a implantação do
novo dispositivo ocorre a inserção da Diocese e de suas mídias em redes sociais. A
Igreja Católica delas se apropria para estreitar laços com seu público e informá-los, bem
como ampliá-lo a partir de conteúdo voltado para a evangelização. Tanto o Complexo
Luz e Alegria como a Diocese estão vinculados à página da Instituição no Facebook.
Verifica-se que tal uso vem ao encontro da proposição feita pelo Papa Bento XVI,
quando falou da importância do desenvolvimento das redes sociais por contribuírem
para um novo agora.
Outra característica importante, adotada pela Diocese, é a circularidade da
informação entre os meios que compõem o Complexo Luz e Alegria e a convergência
deles na página da rede social Facebook. A Diocese, por exemplo, se utiliza da rede
social para comunicar às paróquias sobre a distribuição dos folhetos usados nas missas
dominicais. Antes a informação chegava apenas pelo rádio.
Figura 3: Uso da rede social Facebook pela Diocese de Frederico Westphalen Fonte: Página da Diocese de Frederico Westphalen
Vê-se a lógica do campo dos media sendo apropriadas e incorporadas pelo
campo religioso. A partir disso retomamos o processo de midiatização da sociedade, que
segundo Borelli (2010), afeta a prática religiosa. E a rede social utilizada para divulgar
comunicados importantes passa a ser uma estratégia que o campo religioso tem
desenvolvido para continuar em contato com o seu público e acessar outros públicos.
A autora chama a atenção, ainda, para o processo, ao passo que o campo
midiático impulsiona conexões entre os demais e suas operações técnicas. No caso do
campo religioso, em específico ao JLA, há o redirecionamento de algumas práticas, em
que é preciso, além de fazer uso das mídias e seus dispositivos, também é necessário
operar enquanto campo a partir da cultura midiática.
4. Considerações finais
Partindo da iniciativa da Igreja Católica em anunciar a Boa Nova por intermédio
dos meios de comunicação após o Concílio Vaticano II, nos atentamos para o avanço do
uso que a instituição milenar tem conseguido. Reconhecer que a comunicação social
seria importante para os passos da Igreja Católica foi definidor em sua história até aqui.
A partir dos pontificados se percebe uma crescente aceitação dos líderes da Igreja
Católica em utilizar os meios de comunicação para a evangelização, e isso diminui a
distância dos símbolos religiosos e do público de fieis, pois eles passam a compreender
a simbologia utilizada no cotidiano.
Com base neste estudo realizado com o Jornal Luz e Alegria foi possível
perceber de que maneira o fenômeno da midiatização está presente no campo religioso.
Antes, os meios de comunicação eram dispensados pela Igreja Católica, de modo que
fossem prejudicais ao Anúncio; porém, com o passar dos anos eles se tornaram
imprescindíveis. Tendo o caso específico da Igreja Católica de Frederico Westphalen,
entende-se essa necessidade de comunicar, a partir do momento em que vemos o maior
complexo de comunicação da região Médio Alto Uruguai na posse da Diocese.
Essa midiatização a qual a Igreja Católica faz parte é uma apropriação das
lógicas do campo da comunicação, que são incorporados pelo campo religioso, o que,
consequentemente, acaba provocando algumas mudanças sociais. Essa mudança se dá
na dependência da sociedade para com as novas técnicas, afinal a mídia passa a ser o
mecanismo que condiciona o acesso ao sagrado, e por sua vez, isso acaba alterando o
próprio funcionamento da instituição.
Sendo o JLA criado no período de uma acentuada midiatização, percebe-se que
sua estrutura revela o uso de novas ferramentas. Após cinco anos de trabalho com o
impresso, a própria igreja percebe que é necessário incluir outros suportes, como as
redes sociais. O uso das redes sociais está ligado à evangelização, de modo geral, e à
divulgação de notícias da Diocese, de modo singular. Ao todo, seis canais de
comunicação são empregados pela Diocese para que a mensagem chegue até seus
públicos: duas rádios, dois sites, um jornal impresso e uma página em rede social. A
incorporação dos dois últimos – o Jornal Luz e Alegria e a fanpage no Facebook –
marcam um avanço da Igreja Católica de Frederico Westphalen no contexto da
midiatização.
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