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O JEJUM PURIFICA E LIBERTA

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O JEJUM PURIFICA E LIBERTA

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De acordo com os Decretos VII e os Decretos da Sagrada Congregação dos Ritos, pede-se que a tudo quanto se expõe na presente publicação não se de uma fé diferente daquela que me-recem fidedignas testemunhas humanas, e que de forma alguma se pretende antecipar o juízo da Santa Igreja Católica e Apostó-lica.

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PREÂMBULO

O meu objetivo ao escrever o presente livrinho é encorajá-lo a jejuar, e espero firmemente que, ao terminar sua leitura, você me responda afoitamente: “Aceito!”

De minha parte, rezarei para que, praticando o jejum, possa descobrir todos os tesouros que Deus colocou em você, e para que, com o jejum, o desejo de Deus aumente em seu coração, dia após dia.

Também rezarei a fim de que, jejuando, você possa descobrir o Deus do amor, da esperança, da fé e da paz; e também possa encontrar novos companheiros de viagem e seja para eles exemplo de amor, de paz, de fé e de esperança.

No jejum encontrará força para erradicar todo o mal que se encontra em você, pois este é o principal objetivo do jejum.

E assim, para começar, possa abençoá-lo, por intercessão de Maria, Rainha da Paz, o Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

O JEJUM É NECESSÁRIO

Os evangelistas falam repetidas vezes no jejum e contam que Jesus lhe reco-mendou a prática, a fim de fazer-nos progredir na vida espiritual. O que Jesus disse a respeito pode resumir-se nestas frases:

- O jejum é tão necessário como a oração.

- Quando Jesus explicou aos discípulos por que não conseguiram libertar um possesso do demônio, atribuiu um poder especial ao jejum. Naquela ocasião afir-mou que certos demônios só podem ser expulsos com a oração. E o Evangelista Mar-cos acrescenta:

“[...] e com o jejum” (Mc 9,29).

- Para jejuar (ou rezar) retamente, é preciso libertar-se da hipocrisia e do orgulho. Considere o caso do fariseu, que se valeu da sua oração para exibir a própria devoção e para exprimir seu desprezo ao publicano, um homem autenticamente humilde.

“E contou ainda a seguinte parábola a alguns que presumiam ser justos e desprezavam os outros: ‘Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu e o outro, publicano (=cobrador de impostos, então detestado). O fariseu, de pé, rezava interiormente desta maneira: Meu Deus, eu te dou graças por não ser como os demais homens, ladrões, injustos, adúlteros; nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todas as minhas rendas.

O publicano, porém, mantinha-se longe e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus tem compaixão de mim que sou pecador!

Eu vos digo: este desceu para casa justificado, ao contrário do outro. Por-que quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Lc 19,9-14).

- Jesus declarou que os seus discípulos jejuariam como os discípulos de João, mas só depois de ele deixar este mundo:

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“Será que os convidados para um casamento podem ficar tristes, enquanto o esposo está com eles?” (Mt 9,15).

- Segundo Lucas, Jesus não comeu, durante os quarenta dias em que esteve no deserto. Noutras palavras, Jesus jejuou antes de anunciar o Evangelho. Isto aconteceu logo depois do seu batismo no rio Jordão.

“Jesus, cheio de Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo mesmo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo diabo durante quarenta dias. Nada co-meu nesses dias; mas, no fim, teve fome. O diabo então lhe disse: ‘Se tu és filho de Deus, manda que esta pedra se torne pão’. Jesus respondeu: ‘Está escrito: Não é só de pão que o homem viverá’.” (Lc 4,1-4).

Embora Jesus não tenha ordenado explicitamente aos próprios discípulos que jejuassem, parece evidente que esperava isso também deles.

“Quando fizerdes jejum, não mostreis um semblante abatido, como é costu-me dos hipócritas. Eles fazem isto para dar a entender que estão de jejum. Eu vos declaro: já receberam a sua recompensa” (Mt 6,16).

O JEJUM NA IGREJA PRIMITIVA

O jejum fazia parte da tradição hebraica e sabe-se que era praticado também nos tempos da civilização greco-romana.

A tradição hebraica recomendava o jejum oficial apenas no dia da reconciliação, que era um dia de devoção. Todavia, o povo muitas vezes jejuava duas vezes por sema-na, nas segunda e quintas-feiras (Lc 18,12).

Da leitura do Antigo Testamento depreendemos que, nos momentos de grandes dificuldades, reis e profetas pediam ao povo jejum e oração.

Nos Salmos já encontramos alguns versículos reveladores, como, por exemplo:

“E eu, na doença deles, vestia cilício e com jejuns afligia minha alma, em meu coração eu sempre rezava” (SI 35,13).

Ou ainda:

“De tanto jejum meus joelhos fraquejam, minha carne já seca de tanta ma-greza!” (SI 109,24).

A Igreja dos primeiros tempos recomendava o jejum duas vezes por semana, as quartas e sextas-feiras. Alguns dos mais devotos jejuavam também no sábado, em pre-paração ao Dia do Senhor.

A prática do jejum foi-se gradualmente ampliando. Jejuava-se por semanas intei-ras, como, por exemplo, durante a Semana Santa.

No século III, a Igreja, no período da quaresma, recomendava o jejum por quaren-ta dias, em preparação à Páscoa.

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O JEJUM CONTINUA NECESSÁRIO COMO SINAL DA NOSSA ESPERA

Do ponto de vista teológico, com a vinda de Cristo, o jejum não seria mais ne-cessário, porque os convidados à festa de casamento não precisam jejuar, enquanto o esposo está com eles (Mt 9,15). Considerando-se, porém, que Jesus deve retornar em toda a sua glória, o jejum continua necessário como sinal da nossa espera.

Esta perspectiva confere ao jejum um novo sentido, e como ele concentra a nossa atenção no Senhor, já prestes a vir, Lhe confere uma dimensão escatológica.

Na Igreja antiga, o jejum era recomendado antes da admissão aos sacramentos. Assim, os diáconos que se preparavam para a ordenação, e os futuros pregadores que se preparavam para a pregação, eram vivamente convidados ao jejum.

Até os catecúmenos e os sacerdotes designados para administrar o Sacramento do Batismo tinham como primeira obrigação jejuar.

Em resumo, podemos concluir que a Igreja reconhece o jejum porque o praticou durante a sua história, e lhe atribuiu um significado concreto.

N’algumas comunidades religiosas, o jejum vem sendo praticado ainda hoje em dia.

Lendo a vida dos santos, nos damos conta da grande importância que eles deram ao jejum. Na Regra da sua Ordem, São Francisco de Assis exortava os frades a jejuarem por períodos de quarenta dias, três vezes ao ano (na quaresma, antes da festa de São Miguel, e do dia de todos os santos até o Natal) e ainda em cada sexta-feira.

Hoje, as exigências da Igreja neste sentido são menos severas. De fato, só em dois dias do ano o jejum ficou sendo obrigatório: na quarta-feira de cinzas e na sexta-fei-ra Santa.

Antes mesmo que os acontecimentos de Medjugorje viessem relançar a ideia do jejum, entre a nossa população, sobretudo na Herzegovina, esta prática ia bem além das exigências mínimas da Igreja, graças também à incontestável influência exercida pela espiritualidade franciscana.

Assim, muitos fiéis, sobretudo moças e mães de família, jejuavam nas quartas--feiras (dia de Santo Antônio), nos doze dias que antecedem a festa da Assunção, na vigília das grandes festividades e durante a quaresma.

Tempos houve em que a população de Medjugorje e das regiões circunvizinhas observava um rigoroso jejum até no verão, em meio aos duros trabalhos da lavoura.

UMA VOLTA À PRÁTICA DO JEJUM

As assim chamadas “mensagens”, bem como os demais elementos que dão au-tenticidade a uma aparição, não podem conter novas revelações acerca do plano de Deus em relação a nós, nem podem revelar verdades novas sobre a Igreja. Essas “men-sagens” não podem de maneira alguma introduzir novidades ou modificar o que foi reve-lado por Jesus e pelos apóstolos.

Portanto, as aparições são ainda hoje um sinal de que Deus continua a dirigir-se a nós, seus filhos, para encorajar-nos a prosseguir em nosso caminho em direção a ele.

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Com frequência ele nos chama através de Maria; às vezes, porém, ele mesmo nos fala. Tais intervenções não são outra coisa que incitamentos a retomarmos certas práticas há muito tempo já conhecidas.

O chamamento a jejuar, que Maria dirige à nossa geração, é apenas uma repe-tição daquilo que Jesus já disse, e daquilo que a Igreja dos primeiros tempos pôs em prática com grande zelo!

Se estudamos o Antigo Testamento e examinamos nos detalhes as várias situa-ções, nas quais a gente era então exortada a jejuar, descobrimos quanto a oração e o jejum podiam trazer uma transformação ou um alívio até nas situações mais críticas.

NOSSA SENHORA QUER REEDUCAR-NOS

Consideremos agora o jejum no contexto dos nossos tempos.

Quando Nossa Senhora nos pede para recitar diariamente o Creio, pareceria que deseja desta maneira demonstrar-nos que vivemos numa situação de “não cren-tes’. Ela certamente deseja dizer-nos alguma coisa, como: “Não basta recitar o Creio; é preciso aderir totalmente a Deus, que se ofereceu a nos de forma inefável na pessoa de Jesus Cristo”.

Tal é o método adotado por Nossa Senhora para nos instruir. É interessante notar que, como todos os bons mestres, ela nos indica tarefas concretas.

O seu pedido é que jejuemos de acordo com a tradição da Igreja.

Podemos, ademais, constatar quanto ela tem uma visão exata da nossa geração, quase exclusivamente interessada no dinheiro, no lucro, na acumulação de bens mate-riais, na ganância e assim por diante.

Nossa Senhora quer reeducar-nos. Mas por onde pode começar?

O JEJUM NOS LEVARÁ A UMA NOVA LIBERDADE DO CORAÇÃO E DA MENTE

Em primeiro lugar, Maria nos chama à oração, isto é, à união com Deus, e em seguida ao jejum: vale dizer, à libertação do nosso coração das necessidades que o prendem às coisas materiais.

Desta maneira o jejum nos levará a uma nova liberdade do coração e da mente. O jejum é um chamado à conversão do nosso corpo. Noutras palavras, é o processo atra-vés do qual nos tornamos livres e independentes das coisas materiais.

Libertando-nos das coisas exteriores, nos libertamos também das paixões que acorrentam a nossa vida interior.

Esta nova liberdade abrirá dentro de nós espaço para outros valores.

Portanto, o jejum nos liberta de uma certa escravidão e torna livres para sabo-rearmos a verdadeira felicidade.

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UMA EXPERIÊNCIA ATUAL

Como confirmação de tudo o que disse até aqui, quero citar o testemunho de um peregrino de Medjugorje, assim como me foi dado.

“Eu tinha começado a jejuar porque o faziam minha mulher e meus filhos; não queria que ela precisasse cozinhar só para mim.

No começo, nada aconteceu de importante. Sabia ser distraído nas orações. Ou-via a Palavra de Deus, mas não verificava em mim qualquer melhora sensível, nem tinha a impressão de estar mudando sob a sua influência.

Eu a ouvia e depois me ocupava com os meus afazeres, sem que nada em mim mudasse.

Um dia, porém, senti necessidade de rever o meu modo de rezar. Sem dúvida, esta minha mudança foi o resultado da reflexão silenciosa que se verificava em mim du-rante o dia em que jejuava. No começo, estava em contínua luta com a minha necessida-de de comer e de beber, e terminava deixando a oração para a manhã seguinte.

Certa vez me aconteceu algo que me demonstrou claramente a eficácia da ora-ção sustentada pelo jejum.

Por longo tempo eu vivia de mal com meu irmão, e já tinha me acostumado com a situação. A gente não se dirigia a palavra e eu nem me importava se as nossas esposas e os nossos filhos sequer se conheciam.

Mais ou menos um ano depois que eu tinha começado a jejuar, me dei conta de que tal situação me proporcionava amargura e me tornava inquieto. Continuei re-zando e jejuando, até que uma bela manhã tive a extraordinária sensação de ter sido aliviado de um peso. Procurei meu irmão e lhe pedi desculpas. Também ele estava sentindo a necessidade desta reconciliação. Deus seja louvado, porque agora vive-mos como verdadeiros irmãos!

No momento, esta é a coisa mais importante para mim.”

PRECISAMOS DE UMA VOLTA RADICAL A DEUS

Lendo esse testemunho, notamos que o jejum ajudou o homem a se reencontrar consigo e a reexaminar sua relação com Deus e com os outros.

Apenas a sua oração começou a produzir frutos em seu coração, ele não precisou esperar muito para que a sua relação com Deus desembocasse numa renovada relação com o irmão.

Este exemplo demonstra sobejamente quanto as más ações de uma pessoa po-dem torná-la cega!

Impõe-se uma decidida e radical volta a Deus para mudar a atitude do nosso co-ração e da nossa mente. E o jejum facilita essa volta.

Tudo isto demonstra que o jejum não é um fim em si mesmo, mas se torna ne-cessário para avançar na conversão, fazendo-nos progredir, não só no plano da fé, mas também no plano social.

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O JEJUM NOS ASSEGURA UMA FORÇA DINÂMICA

O radical retorno a Deus só é possível com a oração, que cresce em qualidade e se torna livre quando unida ao jejum.

Se estamos persuadidos de que a Virgem Maria nos pede a cada um que sejamos seus “porta-vozes” neste mundo ateu, devemos jejuar com o coração, e esse jejum nos assegurará uma força dinâmica.

Quando começamos a considerar os padrões da vida e do mundo, e a comportar--nos de acordo com eles, como se não tivéssemos necessidade de Deus, colocamos em evidência os sinais premonitórios do ateísmo. O jejum representa a melhor maneira de evidenciar estas predisposições negativas do nosso coração; ele nos ajuda a descobrir que dependemos da vontade de Deus, a compreendê-la melhor e, consequentemente, a compreender melhor a nós próprios.

Referindo-se ao jejum, L. Rupcic afirmou:

“A razão e o valor fundamental do jejum devem estar a serviço da fé. É um meio simples que permite ao homem demonstrar, fortalecer e dar estabilidade ao próprio au-tocontrole. O jejum é a garantia do seu abandono a Deus, numa fé verdadeira e sincera. Enquanto o homem não se torna senhor de si (e dos seus sentidos), não pode abando-nar-se completamente a Deus.”

Sabemos como Jesus, no Evangelho, pede para rezar sempre, sem descanso. Infelizmente, cada dia nós encontramos desculpas, alegando que não temos tempo para rezar, ou que o ritmo da nossa vida é tal que não nos permite fazê-lo.

O problema, porém, não reside no fato de termos ou não tempo para rezar. Mas antes em sentirmos ou não desejo, necessidade de Deus, de encontrá-lo na oração.

Quanto mais temos, mais queremos ter; desta forma damos cada vez menos es-paço a Deus e menos tempo encontramos para a oração. E assim, em nosso dia-a-dia, vamo-nos tornando sempre mais ateus.

Acreditamos poder solucionar todos os nossos problemas possuindo sempre mais coisas materiais, comidas e bebidas melhores. Esta forma de comportamento e estas convicções excluem a possibilidade e a necessidade da oração.

O jejum tem, como consequência especial, colocar as coisas numa perspectiva certa; porque só jejuando chegaremos a compreender realmente a nós mesmos, e a con-siderar a realidade que nos cerca sob uma ótica diferente.

Descobriremos assim que não somos autosuficientes e que o possuir, ainda que seja todo o planeta, não pode satisfazer as necessidades mais profundas do nosso co-ração. Desta maneira, encontraremos outros fins, outros objetivos, outras necessidades que, sobrepondo-se às necessidades materiais, nos guiarão pelo caminho que conduz ao Senhor.

A primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque a eles pertence o reino dos céus”, pode ser traduzida assim: “Bem-aventurados os que desejam a Deus”. Uma pessoa que se acredita autossuficiente e não precisa de nada, a não ser de uma contínua gratificação de si mesma, não é uma pessoa pobre diante de Deus.

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Isto significa que, vivendo na convicção de não ter necessidade de Deus, nem sequer se põe o problema da oração!

Somente através do jejum, esta convicção vai desmoronando, e nós advertimos cada vez mais a necessidade de rezar. Noutras palavras, nos tornamos mais abertos ao nosso encon-tro com Deus.

Por esta razão podemos afirmar que o jejum não pode ser substituído, ele é indispensável!

Precisamos jejuar para podermos crescer na oração e, sobretudo para crescer na oração do coração.

Concluindo: rezamos mais facilmente quando jejuamos, e jejuamos melhor quan-do rezamos.

Um antigo provérbio diz: “Um estômago cheio não ama estudar”. O seu significado não se modifica se o transformamos em: “Um estômago cheio não ama rezar”.

O vazio físico provocado pelo jejum ajuda a compreender o nosso vazio espiritual e a nossa necessidade de Deus!

O profundo desejo de Deus não está em contradição com a dignidade humana, mas, ao contrário, a valoriza.

Jejuando chegamos a compreender a nossa dependência, não dos bens materiais e sim de Deus, uma dependência que não nos torna escravos, mas antes nos liberta!

Fomos criados por Deus e ele se encontra sempre presente em nós. Sentimo-nos bem quando estamos com ele como amigos, como sócios, que se reúnem para definir um contrato.

Se o coração se torna também humilde, mais fácil será ouvir a Palavra de Deus e ter a sua amizade. Será mais simples até encontrar os outros; este é o caminho que leva à felicidade!

A verdadeira felicidade não se acha nos valores superficiais, mas deve ser buscada na paz interior, através da qual o homem pode vencer todas as dificuldades e todas as situações desagradáveis!

ATRAVÉS DO JEJUM A NOSSA ALMA SE PURIFICA

Passemos agora a refletir sobre uma outra consequência do jejum.

Jejuando, as nossas almas se tornam mais puras, vemos a realidade de uma maneira melhor, nos damos realmente conta do que possuímos, daquilo de que temos necessidade e daquilo que podemos dispensar.

Libertamo-nos do espasmo interior de querer sempre mais, de crer que precisamos de sempre mais coisas, esquecendo, ao mesmo tempo, o valor daquilo que já posssuímos.

Tudo na vida é relativo. Devemos dar às coisas o seu justo valor; se continua-mos a viver na convicção de que as coisas materiais são muito importantes, acabamos

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esquecendo que nos encontramos apenas de passagem neste mundo. Procuremos lem-brar-nos continuamente que existem milhares de pessoas que se dariam por felizes ten-do apenas um teto sobre a cabeça, apenas um pedaço de pão cada dia. E quanto mais felizes seriam se tivessem tudo o que nós temos!

Todavia, mesmo possuindo tantas coisas, quantas vezes nos sentimos infelizes e insatisfeitos! A razão desta insatisfação está no fato de não distinguirmos mais o que é essencial: tornamo-nos cegos em relação ao que é indispensável e vivemos na convic-ção de termos necessidade de possuir sempre novas coisas.

Somente com o jejum compreendemos o que é verdadeiramente necessário na vida. Assim, tornando-nos interiormente livres através dele, nos moveremos com mais facilidade em direção a Deus e em direção ao próximo.

Deste encontro livre se verifica a reconciliação.

Quanto mais formos ao “encontro” do próximo, menos tempo encontraremos para as divergências, para as coisas negativas, para as guerras. Libertados dos pregos do materialismo, poderemos mover-nos em direção aos outros, sem medo de perder alguma coisa de indispensável, de vital!

Tornar-nos-emos assim peregrinos em busca de Deus, empenhados diariamente numa relação nova e livre com o Senhor, empenhados, dia a dia, a estarmos sempre a caminho para ele.

Isto nos leva às palavras do Evangelho, nas quais Jesus sublinhava a importância de estar sempre “a caminho”.

Os caminhantes não gostam de ser detidos ao longo da sua estrada. São motiva-dos e impelidos pela esperança interior de se encontrarem com Deus. Quando, porém, as pessoas perderam essa esperança, começam a resvalar para os vícios, a se envolve-rem em intrigas e até a se fazerem mal uma à outra!

No Evangelho de São Mateus (21,33ss) se lê de um proprietário que plantou um parreiral, o arrendou a uns lavradores e partiu para uma viagem. Chegado o tempo da vindima, mandou seus servos buscarem a parte que lhe tocava na colheita. Mas os ar-rendatários responderam agredindo os servos, ferindo um, matando outro e apedrejando o terceiro.

Conhecemos também a história das virgens que não tinham mais azeite (Mt 25).

Essas duas parábolas apresentam situações em que o valor da espera se perdeu.

Com outras palavras, Maria nos convida a estarmos sempre prontos a caminhar em frente. Quer ensinar-nos a reconhecer sempre mais o que é essencial e o que, ao contrário, não é. As nossas almas estarão mais abertas aos necessitados, e assim po-deremos reconhecer mais facilmente as carências espirituais e materiais dos que estão ao nosso lado.

Podemos, portanto, falar também do valor social do jejum.

Muita gente, quando começaram as aparições em Medjugorje, se perguntava: “Por que Nossa Senhora não insiste na ajuda social?”

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Pois bem, na minha opinião, é justamente através do jejum que ela deseja edu-car-nos para aprofundar a imperiosa exigência da solidariedade cristã.

E, ademais, durante estes meses, quantos convites nos foram dirigidos e não foram ouvidos, porque em nosso egoísmo e nossa presunção não nos apercebemos das necessidades dos outros!

POR QUE JEJUAR A PÃO E ÁGUA?

Nossa Senhora, em Medjugorje, nos pediu, pois à volta à prática do jejum.

À pergunta: “Qual o melhor tipo de jejum?” A Virgem respondeu: “O melhor jejum é aquele a pão e água”.

Nós constatamos que pão e água não representam a única maneira de jejuar, mas é a melhor maneira, segundo a afirmação da Virgem.

Ademais, uma pessoa deve chegar a jejuar a pão e água progressivamente.

Se nunca se jejuou, pode ser muito desencorajador começar somente com pão e água, sem nunca ter recebido um chamado de Deus.

Existem outros modos de jejuar que atingem os mesmos fins dentro de nós, e, nos ajudam da mesma maneira a encaminhar-nos para o verdadeiro jejum.

Por exemplo, deixar de comer certos alimentos, ou então comê-los sem tempero; comer coisas que geralmente não nos agradam, ou então comer muito menos em cada refeição. Estes são alguns modos de iniciar a prática do jejum.

O importante é que se comece a jejuar, seja da maneira que for.

Em Medjugorje, todavia, sempre se reafirma o valor do jejum a pão e água, por causa do seu profundo significado: o pão é o alimento dos pobres! Ter ou não pão repre-senta um dos problemas essenciais da nossa existência!

Na Bíblia, além disto, se fala muitas vezes em pão!

Deus deu o pão (o maná) ao seu povo durante a travessia do deserto (Êx 16).

Nos seus ensinamentos, Jesus fala no pão que desceu do céu. Um anjo levou pão e uma jarra de água ao profeta Elias, quando este se sentia desfalecer de cansaço (1 Rs 19) e, após ter comido e bebido, Elias readquiriu suas forças e prosseguiu em seu caminho.

Por outro lado, não devemos esquecer que, segundo está escrito no Evangelho, os pobres sempre foram os que estiveram mais perto de Jesus! Eles de fato comeram com ele, o seguiram e escutaram suas palavras.

Após ter falado a uma multidão faminta não só das suas palavras, mas também do alimento corporal, Jesus multiplicou os pães (Mc 8,1-9; Mt 15,32-39).

E foi multiplicando o pão terreno que Jesus preparou seu povo para o pão do céu!

Estar disposto a viver de pão e água por um dia significa estar disposto a ser pobre diante de Deus, bem disposto a aceitar a sua vontade!

Isto significa seguir os passos dos profetas e daqueles que foram escolhidos para testemunhar sua fé!

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O pão é o alimento fundamental do povo de Deus e, ao mesmo tempo, simboliza a vida. Também a água é insubstituível em nossa vida; ela simboliza a purificação espiritual.

E a mensagem do Senhor, neste caso, vem exprimir duas verdades: voltem à vida e vivam. Saiam da sua impureza e sejam puros.

Nossa Senhora nos pede para vivermos de pão e água dois dias por semana: isto não apenas representa o jejum ideal, mas é também o modo ideal de educar o próprio corpo, espírito e alma.

Nossa Senhora nos exortou na plena liberdade: isto quer dizer que, se es-tamos muito cansados, ou trabalhamos duramente, ou não gozamos de boa saúde, podemos tomar chá ou café ou até comer alguma coisa.

JEJUAR A PÃO E EUCARISTIA

Tudo o que Jesus disse e fez com relação ao pão tinha em mira a preparação do seu auditório para um novo banquete, para o pão que vem do céu, no qual ele mesmo se partiu e se repartiu para a redenção e salvação do gênero humano.

Apesar de tudo o que Jesus disse e fez visando convencer seus contemporâneos de que o seu corpo e sangue deviam ser oferecidos como comida e bebida por excelên-cia, não foi compreendido.

O seu auditório rejeitou esta mensagem, alegando tratar-se de palavras difíceis e completamente incompreensíveis (Jo 6,52-60).

Enquanto nós, decidindo nada comer em determinados dias além de pão, po-demos compreender, mediante a experiência pessoal, qual o verdadeiro significado da mensagem de Jesus.

Foi-nos dada assim a possibilidade de descobrir, através da razão e do cora-ção, toda a realidade da mensagem proposta por Jesus, ao tornar-se presente no Pão Eucarístico!

Por causa do demasiado apego ao conteúdo do nosso prato, nos arriscamos a perder de vista o nosso nutrimento fundamental, no qual Deus se oferece a si mesmo de um modo muito particular.

Para sentirmos, durante a Eucaristia, a presença de Jesus, Filho de Deus, na-quele minúsculo pedacinho de pão em nosso corpo, devemos primeiro estar dispostos a padecer a fome física.

Caso contrário, nos arriscamos a desprezar as migalhas!

Se considerarmos a prática seguida pela Igreja nos primeiros anos, e que os nos-sos irmãos ortodoxos observaram ainda hoje, isto é, a obrigação de jejuar por algumas horas antes de tomar a comunhão, compreenderemos com mais facilidade tudo o que foi dito até aqui.

Se jejuarmos desta maneira por diversos dias, a realidade se tornará ainda mais evidente.

Talvez os pobres, que conhecem a importância e o valor do pão cotidiano, com-

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preendam melhor o valor do Pão que vem do céu.

Enquanto o coração do rico dificilmente se abre para esse “pequeno” dom, que oculta um valor infinito!

Uma das minhas paroquianas me contou o seguinte: desde que começou a pas-sar só a pão e água nas sextas-feiras, a comunhão se tornou para ela um acontecimen-to mais solene. Anda maravilhada com o prazer físico que experimenta quando recebe aquele pequeno pedaço de pão na comunhão. Cada vez fica profundamente comovida, pois tem consciência de que, através desse pão, Jesus chega mais perto dela!

A MENSAGEM DE NOSSA SENHORA A RESPEITO DA EUCARISTIA

O jejum purifica a nossa alma, a fim de abri-la mais para Deus e para os ho-mens. O jejum nos torna mais receptivos à Palavra de Deus e nos prepara dignamente para a Comunhão.

Novos espaços se abrem para nós na celebração ou na participação da Santa Missa e na adoração a Deus e a Jesus na Eucaristia.

Pelo que o fato de não compreender plenamente o mistério eucarístico não tem mais qualquer importância. O que conta, ao invés, é que a Eucaristia comece a viver e a agir dentro de nós.

Em sua mensagem, Nossa Senhora chama a todos a “empenharem-se para que a Santa Missa represente a vida para vocês”.

Só então terá início o caminho para uma nova relação consagrada na amizade entre Deus e o homem.

O JEJUM NÃO PODE SER SUBSTITUÍDO

Todo cristão deve ter bem claro que, independentemente de sua categoria social e da posição que ocupa, pelo fato de ser batizado é chamado a rezar.

Ninguém está isento desta obrigação, tanto os que se encontram em boa saúde como os doentes, tanto as crianças como os idosos, tanto as pessoas cultas como as analfabetas. Ninguém pode afastar-se do uso da oração.

Nem a todos, porém, se pede que rezem da mesma forma.

Por exemplo, a uma pessoa obrigada a ficar na cama nunca foi pedido que vá à igreja para participar da Missa. Pede-se-lhe que recite as próprias preces na cama.

E, embora as crianças também devam rezar, não se lhes pedirá que rezem como os adultos: dever-se-ia antes ensinar-lhes a rezar da maneira a elas apropriada.

O mesmo vale para o jejum! Todos somos solicitados a praticar o jejum, tanto os adultos como as crianças, as pessoas doentes como as sadias.

Nas últimas décadas, o jejum foi lentamente substituído por obras de caridade. Que nós todos sejamos chamados a realizar obras boas é inegável: elas representam

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um dos critérios segundo os quais seremos julgados na ocasião da nossa morte (Mt 25,31-46).

O jejum, entretanto, não faz parte de tais obras boas, as quais, ao contrário, são apenas o fruto da oração e do jejum. Elas devem ser a expressão da renúncia a nós mes-mos e da nossa penitência, enquanto o jejum tem um significado maior e mais profundo, que merece um ulterior esclarecimento.

Para começar, o jejum e a oração têm uma característica comum, que pode ser muito profunda. Ambos fazem parte da nossa formação cristã, porquanto aprofundam a nossa relação com Deus e com o próximo.

Por este motivo, a oração e o jejum representam, em certo sentido, dois pi-lares da nossa fé.

Tanto o rico quanto o pobre são chamados a jejuar.

Os pobres devem jejuar para não se amargurarem completamente; o jejum, de fato, os ajudará a libertar o próprio coração do peso da pobreza.

A um pobre não se pede que doe dinheiro aos outros pobres. O seu jejum lhe permitirá aceitar a própria pobreza com dignidade e, consequentemente, sair mais facil-mente da sua situação.

Os ricos devem jejuar para não se fecharem em si mesmos. Por causa do bem--estar, eles correm o risco de afastar-se da sua própria natureza, dos que lhe estão pró-ximos e de Deus. O jejum os ajudará a equilibrar as próprias necessidades.

O jejum constitui um dos princípios fundamentais da vida cristã; ele torna o devo-to capaz de viver de acordo com a vontade de Deus em todas as circunstâncias.

Mediante a prática do jejum, a vontade de Deus poderá ser reconhecida mais fa-cilmente, e mais raramente será perdida de vista.

Como a respiração é função fundamental da vida física, assim o jejum e a oração representam as funções fundamentais da vida espiritual.

ORAÇÃO E JEJUM, UM PROCESSO DE PURIFICAÇÃO

Como já especificamos, o jejum não exige uma abstinência completa de comida e bebida. Ao contrário, as mensagens afirmam explicitamente que nos dias de jejum po-demos comer pão e beber água.

Para que o nosso jejum se tome simples e “doce”, devemos rezar muito.

A oração nos dias de jejum deve servir como ponto de referência ao longo do ca-minho que devemos percorrer.

No início, o jejum liberta o corpo das forças negativas; permite a eliminação das reservas inúteis e dos excedentes que sufocam o corpo e o tornam gravemente pesado.

A oração nos protege das tensões e do nervosismo, provocados por este proces-so de eliminação.

O jejum de per si não nos torna ansiosos: é o corpo que, ao tomar consciência dos excessos que o sufocam, começa a reagir. Como acontece (até compreensivamente)

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com o fumante que, ao se impor o jejum de um cigarro, imediatamente se dá conta das correntes impostas pelo uso do fumo.

Assim, o coração e a mente tendem a procurar um equilíbrio entre as forças do espírito e as do corpo e a sujeitar sempre mais o corpo ao espírito.

Esta é sempre uma batalha muito dura, e a oração se torna uma ajuda indispensável.

Por todos estes motivos, a liturgia quaresmal recomenda o jejum que eleva o espírito e destrói os vícios. Fortalecendo o próprio espírito, a pessoa se toma mais resis-tente ao mal-estar psicológico e físico.

Assim prolonga a própria vida, que não é mais sobrecarregada por energias inúteis.

Numerosas descobertas no Japão, na Índia e sobretudo no Tibete, confirmam esta teoria: só o jejum pode explicar a atitude dos seus mestres, que, segundo os nossos critérios ocidentais, começam suas atividades muito tarde, frequentes vezes depois de terem atingido a idade de sessenta anos.

Fortalecendo o próprio espírito, o homem se predispõe para ter um espaço li-vre em seu coração, aberto para acolher Deus e as pessoas que lhe estão ao redor.

Esta atitude é muito importante.

De fato, se não temos suficiente força interior para perdoar uma ofensa ou para esquecer uma injustiça, poderá instalar-se em nosso espírito e em nosso corpo uma de-sastrosa amargura.

Noutras palavras, o jejum nos leva a distinguir mais facilmente o que é essencial do que não o é, e a assumir prontamente a atitude certa em qualquer situação.

Quando o nosso corpo é purificado e libertado de todas as coações, o nosso es-pírito se abre às influências positivas. Note-se também que a nossa natureza humana se encontra exposta às influências “negativas”, e que é necessário rezar para contrapor-se a elas.

Sob este aspecto devemos considerar também a oração e o jejum de Jesus no deserto. Foi com estas duas armas que o Senhor lutou contra Satanás, que ten-tou em vão desviá-lo da vontade de seu Pai.

À objeção que a tentação de Jesus se verificou justamente porque ele jejuava, devemos responder que era através do seu jejum que ele encontrava força para superar a tentação!

JEJUAR COM O CORAÇÃO

Através das mensagens de Medjugorje, Nossa Senhora nos exorta a jejuar com o coração. Esta frase não significa nada mais do que Jesus nos ensinou.

Jesus condena aqueles que, rezando e jejuando, se consideram com direito de julgar os outros; nesses o jejum não causa qualquer transformação interior!

Jejuar com o coração significa, em primeiro lugar, privar-se da comida com fé e confiança, mesmo que isto se torne difícil. Não devemos jamais perder a confiança em Deus, o qual deseja que do nosso jejum obtenhamos somente o bem.

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Jejuar com o coração significa esperar e aceitar as transformações suscitadas pela oração e pelo jejum, acolhê-las e desenvolvê-las.

Devemos estar certos de que os nossos pensamentos se transformarão, e assim poderemos olhar em frente para crescer no arrependimento e no perdão. Devemos acei-tar a “aflição” do jejum!

Jejuar com o coração significa aceitar o jejum, sobretudo como forma de apro-ximar-se de Deus e do próximo. Enquanto vivemos preocupados com as coisas a que devemos renunciar e contando os dias em que teremos de jejuar, continuaremos na fase mais superficial do jejum do coração, que somente se tornará real quando conseguirmos realizar espontaneamente os nossos intentos.

Jejuar com o coração significa amar e aceitar o nosso caminho, com Deus e Maria.

Jejuar com o coração significa amar a liberdade mais do que a escravidão provo-cada pelas coisas materiais.

Jejuar com o coração significa crescer no amor a Deus, que voltará novamente para o meio de nós e que o nosso coração chama cada dia, desejando-o como o “cervo anseia pela água para viver”.

Jejuar com o coração significa aumentar a nossa alegria no Senhor. Só isto já é suficiente para começar a jejuar com fé e progredir no caminho da santidade.

Tudo o mais virá por si.

CONCLUSÃO

O jejum e a oração não são fins, mas apenas meios para reconhecer e aceitar a vontade de Deus, para invocar a graça de perseverar no seu cumprimento, para estar disponíveis à aceitação do projeto divino e seguir assim as pegadas de Cristo.

Além disso, o jejum e a oração representam os meios mais adequados na busca da paz.

Aqueles que forem perseverantes em recitar suas orações e jejuar adquirirão uma confiança absoluta em Deus, obterão os dons da reconciliação e do perdão, e desta ma-neira servirão à causa da paz.

Porque a paz tem origem nos nossos corações e deles se estende aos que se encontram ao nosso redor e ao mundo inteiro.

A paz é algo dinâmico. Não pode ser comprada nem vendida. Ela só prospera nos corações das pessoas capazes de perdoar e de amar aos que erraram em relação a elas e as ofenderam.

O jejum é a oração de todo o corpo, a oração que se expressa através do corpo.

O jejum demonstra como o nosso corpo também participa da oração, como a nos-sa oração pode tornar-se física, uma oração que nos envolva no sentido mais completo da palavra.

Num de seus livros, Anselmo Grun declara: “O jejum é o pranto do nosso corpo que está procurando a Deus, o grito da nossa alma mais profunda, do nosso profundo mais profundo com o qual, na nossa extrema impotência, nós enfrentamos a nossa vul-

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nerabilidade e nossa nulidade, para lançar-nos completamente no abismo da incomen-surabilidade de Deus.”

O jejum e a oração não dizem respeito exclusivamente a nós, embora abram perspecti-vas de novas possibilidades e de novos desdobramentos na comunhão com os outros.

Com o jejum, Deus não quer privar-nos do nosso tempo ou destruir-nos. Ao con-trário, deseja que o jejum e a oração nos façam encontrar a nossa alegria nele e nas pessoas que nos estão perto, de forma a nos tornarmos capazes de viver em união com os outros e de reunir na paz e no amor todas as condições necessárias para a felicidade nossa e de todo o gênero humano.

O processo é difícil. Mais fácil é doar uma importância aos pobres do que perdoar e restabelecer boas relações com nossos irmãos e irmãs. Por que não experimentar per-severar em ambas as coisas? Este é o único meio para promover a volta à paz interior, a qual depois se transformará na paz do mundo, que é justamente o que Nossa Senhora pede em Medjugorje.

ORAÇÃO PARA O DIA DO JEJUM

Convite de Nossa Senhora:

“Gostaria que nestes dias as pessoas rezassem comigo. E que rezassem o mais possível. Que, além disso, jejuassem nas quartas e sextas-feiras: que cada dia rezassem ao menos o rosário: os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos...” (14/08/1984).

Senhor Deus, criador de Universo e meu criador! Hoje quero agradecer-te por teres impresso no mundo uma ordem tão maravilhosa. Obrigado pela fertilidade que deste à mãe Terra, tornando-a capaz de produzir toda espécie de frutos! Obrigado pelo alimento que vem preparado com os frutos da terra! Alegro-me, Pai, por todas as tuas criaturas, por todos os frutos, e te agradeço! Obrigado pela necessidade que temos cada dia de pão, e da água que mata a sede.

Obrigado, Pai, por teres criado meu corpo de tal maneira que possa servir-se dos frutos da terra, para poder desenvolver-se e te servir. Rendo-te graças, Pai, por aqueles que, com sua inteligência e seu esforço, descobrem novas possibilidades de vida sobre a terra. Obrigado por aqueles que, possuindo muitos bens, sabem partilhá-los com os pobres. Obrigado por aqueles que, ao comerem o pão terreno, sentem fome também do Pão celeste. Obrigado, Pai, por aqueles que hoje não têm com que se alimentar, pois sei que lhes enviarás tua ajuda através de pessoas cheias de bondade!

Pai, hoje decidi fazer jejum. Com isto não entendo desprezar as coisas que crias-te, não entendo renunciar a elas, mas apenas redescobri-las. Decidi jejuar, porque jejua-ram os teus profetas, porque jejuou teu Filho Jesus Cristo, seus apóstolos e discípulos. Decidi jejuar especialmente porque jejuou também tua serva, a bem-aventurada Virgem Maria. Ela própria me convidou a jejuar:

“Queridos filhos! Hoje os convido a começarem a jejuar com o coração. Muitos jejuam porque vêem os outros fazê-lo. O jejum tornou-se assim um hábito que ninguém quer interromper. Peço à paróquia que jejue para agradecer a Deus

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o ter-me permitido permanecer por tanto tempo nesta paróquia. Queridos filhos, jejuem e rezem com o coração. Obrigado por terem respondido à minha chamada” (20/09/1984).

Pai, te ofereço este dia de jejum. Através dele desejo ouvir e viver com mais em-penho a tua palavra. Desejo, ao longo deste dia, aprender a me voltar mais para ti, sem deixar-me distrair pelas coisas que me cercam. Ao fazer espontaneamente este jejum, te peço por todos os que passam fome e que, por causa disto, promovem agitações no mundo.

Ofereço-te este jejum também pela paz do mundo. As guerra acontecem por cau-sa de nosso apego aos bens materiais. Para defendê-los e buscá-los, estamos dispostos a tudo, inclusive a matar. Pai, te ofereço este jejum por aqueles que são escravos das coisas materiais, tornando-se incapazes de ver qualquer outro valor.

Peço-te por aqueles que vivem em discórdia, cegados por suas riquezas. Com este jejum, Pai, abre-me os olhos, a fim de que possa ver os meus bens como dádivas da tua bondade.

Arrependo-me por ter permitido que, tantas vezes, a cegueira se apoderasse tam-bém dos meus sentimentos, impedindo-me de te render graças pelas coisas que possuo. Arrependo-me de todo mau uso que fiz dos bens materiais, avaliando-os de maneira er-rada. Através do jejum de hoje torna-me capaz de te ver claramente a ti e às pessoas que estão ao meu redor! Torna-me apto a ouvir mais atentamente a tua palavra e acatá-la! Que este jejum me leve a progredir no amor a ti e ao próximo!

Pai, hoje resolvi alimenta-me só de pão,a fim de compreender melhor o valor do pão celeste, que é a presença do teu Filho na Eucaristia. Faze que, através do jejum, aumentem em mim a fé e a confiança!

Pai, decidi-me pelo jejum, pois sei que ele fará crescer em mim o desejo de te possuir. Com alegria e gratidão reflito sobre as palavras do teu Filho: “Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o reino de Deus!” Pai, torna-me pobre diante de ti! Acresce em mim o desejo de te possuir. Que meu coração anele por ti como a cerva suspira pelas fontes de água, como o deserto anseia por nuvens carregadas de chuva!

Pelo jejum, Pai, aumentem mais a compreensão e a solidariedade com os que padecem fome e sede, com os que não possuem bem material algum! Ajuda-me a ver, entre as coisas que possuo as que não me fazem falta, a fim de poder partilhá-las com os irmãos e irmãs necessitados!

Peço-te em especial, Pai, a graça de compreender mais e mais a minha condição de peregrino na terra, condição que não me permitirá, no momento da passagem para o outro mundo, levar comigo coisa alguma, além do amor e das boas obras! Faze que, mesmo possuindo bens, cresça em mim a consciência de que nada disto é meu, mas que tudo recebi para ser apenas um administrador fiel. Pai, através do jejum, dá-me a graça de me tornar mais humilde e mais pronto a cumprir tua vontade! Purifica-me, pois, do egoísmo e da soberba!

Por este jejum livra-me dos maus hábitos, aplaca minhas paixões, faze-me pros-perar na virtude! Que as profundezas da minha alma se abram à tua graça, a fim de que ela me purifique e encha completamente!

Ajuda-me a ser semelhante ao teu Filho nas tentações e nas provações. A repelir todas as seduções, para te servir sempre melhor e buscar com mais desejo a tua palavra!

Ó Maria, tu estavas totalmente livre em teu coração; teu único compromisso era

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com a vontade do Pai. Implora para mim a graça de fazer este jejum com alegria, e que ao longo deste dia meu coração possa entoar contigo um cântigo de ação de graças! Faze que a minha decisão de jejuar seja forte e duradoura! As dificuldades e a fome que hoje irei sentir, quero oferecê-las por toda a Humanidade. Maria, reza por mim! Por tua intercessão e pela força da tua proteção, afastem-se de mim todos os males e todas as tentações diabólicas! Ensina-me, Maria, a jejuar e a rezar, a fim de me tornar cada dia mais semelhante a ti e ao teu Filho Jesus Cristo, no Espírito Santo. Amém.

FINALIDADE DO JEJUMRené Laurentin

A finalidade do jejum é alimentar a oração. A pessoa saciada precisa descobrir em si a fome e a sede de Deus. Os saciados deste mundo são pouco abertos a Deus e às maravilhas da criação. O jejum voluntário recorta dentro de nós uma abertura para Deus.

O jejum bem compreendido não gera frustração nem fome. Aquele que, durante o jejum, julga sentir fome, geralmente é vítima de uma ilusão nervosa. As leves “cãimbras no estômago” que experimenta acendem nele um forte desejo de comer, e às vezes ele corre à geladeira para acalmar aquele estímulo na realidade bem pequeno, más que buliu com o seu psiquismo. Se, ao contrário, deixa de prestar atenção àquela sensação passageira e insignificante, se o seu espírito se ocupa com a oração ou com qualquer ou-tra coisa, a falsa sensação de fome desaparece em poucos instantes; o mesmo acontece durante um jejum total e prolongado. A verdadeira fome é uma sensação profunda que sobrevêm como sinal de alarme, no final de um longo jejum, quando a falta de alimento põe em perigo o organismo. Foi o caso de Cristo: “Depois de quarenta dias, teve fome”, diz o Evangelho (Mt 4,2; Lc 4,2). E é esta a experiência dos grandes jejuadores.

O jejum nos acostuma a dominar os desejos: desejo de alimentar-se, de “em-panturrar-se”, como diz a expressão popular. Também nos ajuda a dominar os desejos sexuais, que comportam, com intensidade ainda maior, os mesmos riscos de polarização nervosa e de desordens em todos os sentidos. O homem é um animal racional. Deve pois saber controlar sua alimentação e sua sexualidade e não ser seu escravo. Querer tirar o máximo de prazer é um modo infalível de provocar a exasperação, a frustração, o des-gosto e a amargura. Destas profundas e inquietantes desilusões só se sai através da porta estreita.

O jejum é benéfico para a saúde. Durante este período de privação voluntária, o organismo elimina as toxinas e consome os excessos. Um benefício que vem em proveito da saúde e que prolonga a vida, aumentando-lhe a eficiência, muitas vezes perturbada pelos excessos na alimentação.

O jejum alimentar constitui apenas o início de uma purificação espiritual e de uma abertura para Deus, que pode progredir por outros caminhos. Por isso, Jelena, a jovem que tem locuções interiores de Cristo e de Maria, convida a ampliar o campo, pela absti-nência do fumo, do álcool, da televisão e de outros desejos superficiais.

O jejum é uma bela experiência. Atendendo ao convite de Nossa Senhora de Medjugorje, mais de cem mil cristãos no mundo inteiro o praticam, habitualmente, com fruto, em modalidades várias, conforme as situações, a vocação e os conselhos do pró-prio diretor espiritual.

O jejum alimenta a oração e o impulso para Deus, para a paz e a reconciliação: eco fiel do Evangelho. Põe o corpo em sintonia com a alma e transforma-se em fonte de uma outra reconciliação, a interior.

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