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O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO BRASIL- UM ESTUDO EXPLORATÓRIO André Luiz Soares de Oliveira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção. Orientadores: Heitor Mansur Caulliraux Adriano Proença Rio de Janeiro Fevereiro de 2012

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O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO BRASIL-

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

André Luiz Soares de Oliveira

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Engenharia de

Produção, COPPE, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Engenharia de Produção.

Orientadores: Heitor Mansur Caulliraux

Adriano Proença

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2012

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O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO BRASIL-

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

André Luiz Soares de Oliveira

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO

ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE

ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Adriano Proença, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Anne Marie Maculan, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Denise Fleck, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

FEVEREIRO DE 2012

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Oliveira, André Luiz Soares de

O investimento direto das empresas chinesas no Brasil - Um

estudo exploratório/ André Luiz Soares de Oliveira. – Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPE, 2012.

XV, 233 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Heitor Mansur Caulliraux

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia Produção, 2012.

Referências Bibliográficas: p. 189-199.

1. Empresas Chinesas. 2. Internacionalização. 3. Investimento

Estrangeiro Direto. I. Caulliraux, Heitor Mansur. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Produção.

III.Título.

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想念

À Carina e ao Castro

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與君一席話勝讀十年書 “Uma única conversa com um homem

sábio vale mais do que dez anos de estudo.”

Antigo Provérbio Chinês

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Agradecimentos

Primeiramente, gostaria de agradecer ao professor Adriano Proença pela

orientação e paciência durante as discussões. E também ao professor Heitor

Caulliraux por ter mantido o andamento do projeto, assim como à equipe do Conselho

Empresarial Brasil-China, representada por Júlia Dias Leite e pelo embaixador Sérgio

Amaral, cujo apoio foi determinante para a viabilidade da execução deste trabalho.

Gostaria muito de agradecer ao professor Antonio Barros de Castro pelo

privilégio da orientação e companheirismo durante esta trajetória. A ideia do projeto

nasceu da proposta do Castro em dar um enfoque mais acadêmico ao tema de

pesquisa que tratávamos em paralelo pelo Conselho Empresarial Brasil-China. Nosso

convívio e discussões foram marcantes na minha formação, seja como acadêmico ou

como indivíduo. Sei que ainda estou muito longe de alcançá-lo, e que não tivemos

tempo de completar a minha formação. Contudo, prometo empenhar-me, ao máximo,

na busca de respostas aos desafios colocados e honrar a sua dedicação ao tema.

Também gostaria de agradecer à Tania O‟Conor pelo companheirismo no

momento próximo ao término deste projeto, apoiando na coleta de dados, na

discussão dos casos e sugerindo preciosos argumentos que compõem o estudo dos

investimentos chineses no Brasil.

Aos companheiros de trabalho − Édison Renato, Carla Duarte e Amanda

Rangel − por participarem, querendo ou não, das discussões sobre o tema.

Ao pessoal do grupo de Estudos Contemporâneos de China: Dani Nedal, Lara

Azevedo, Dawn Powell, Ilan Cuperstein, Júlia Paleta, que apesar de possuírem

diferentes focos de estudo sobre a China, sempre estiveram abertos ao meu tema e

forneceram insights muito positivos ao trabalho.

E, por fim, gostaria de agradecer também às instituições que apoiaram e

dividiram suas informações que agora compõem este documento. À Fabiana D´Atri,

do Bradesco; ao Antonio Freitas, à Tatiana Rosito, ao Gustavo Westmann, da

Embaixada do Brasil na China e do MRE; à Simone Saisse e Gabriel Aidar, do

BNDES; e às professoras Anna Jaguaribe e Ana Celia Castro, do IBRACH.

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Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.)

O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO BRASIL -

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

André Luiz Soares de Oliveira

Fevereiro/2012

Orientadores: Heitor Mansur Caulliraux

Adriano Proença

Programa: Engenharia de Produção

Ao longo da última década, a China foi o país que mais recebeu investimentos

estrangeiros diretos. Muitos autores discutiram a entrada de empresas multinacionais

no mercado doméstico chinês. No entanto, pouca atenção tem sido dada a posição da

China como investidora. As empresas chinesas vêm, nos últimos anos, investindo em

diferentes regiões do mundo, através de múltiplos processos de internacionalização e

apresentando distintas motivações. Este trabalho tem como objetivo estudar o

investimento direto realizado pelas empresas chinesas no Brasil. Pretende-se

identificar, através da literatura sobre o tema e do estudo de casos, quais são as

características dos projetos de investimentos chineses no Brasil, com o intuito de

descrever a atuação das empresas chinesas que aqui investiram e entender o que elas

possuem como estratégia para este país. Foram analisados 60 projetos de investimento

anunciados por 45 empresas chinesas no período de 1999-2011. Além disso, a

dissertação apresenta dois estudos aprofundados sobre a trajetória de

internacionalização e ingresso no Brasil, das empresas Chery Automobile e Huawei.

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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

THE CHINESE COMPANIES DIRECT INVESTMENT IN BRAZIL- AN

EXPLORATORY STUDY

André Luiz Soares de Oliveira

February/2012

Advisors: Heitor Mansur Caulliraux

Adriano Proença

Department: Production Engineering

Over the last decade, China was the country that received most foreign direct

investment. Many authors discussed the entry of multinational companies in the

Chinese domestic market. However, little attention has been given the position of

China as an investor. Chinese companies have in recent years investing in different

regions of the world, through multiple processes of internationalization and presenting

different motivations. This work features to study the direct investment made by

Chinese companies in Brazil. Will be identified through the literature on the subject of

case studies , what are the characteristics of Chinese investment projects in Brazil.

This was done in order to describe the role of Chinese companies that have invested

in the country and understand what they have as a strategy for Brazil. We analyzed 60

investment projects announced by 45 Chinese companies in the period 1999-2011. In

addition, the dissertation presents two detailed studies on the path of

internationalization and entry into Brazil, from companies such as Chery Automobile

and Huawei.

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Sumário 1. Introdução ..................................................................................................... 1

1.1. O Surgimento e Evolução dos Investimentos Estrangeiros Diretos da

China para o Mundo ....................................................................................... 1

1.2. Empresas Chinesas e Investimentos no Mundo ................................. 5

1.3. Empresas Chinesas e Investimentos no Brasil ................................... 8

1.4. Questão de Pesquisa ......................................................................... 12

1.5. Objetivos da Dissertação .................................................................. 12

1.6. Do Projeto de Graduação à Dissertação de Mestrado ..................... 14

1.7. Motivação e Justificativas da Pesquisa ............................................ 15

1.8. Delimitação do Objeto de Estudo .................................................... 19

1.9. Classificação Metodológica ............................................................. 20

1.10. Visão Geral do Trabalho .................................................................. 22

2. Revisão Bibliográfica............................................................................. .. ...24

2.1. Seleção dos Artigos e Livros ........................................................... 27

2.2. Os Principais Tópicos de Discussão ................................................ 28

3. Modelo Conceitual para o Estudo das Empresas Chinesas e seus

Investimentos................................................................................................... ... 32

3.1. A internacionalização das Empresas e suas Bases Teóricas ............ 33

3.2. Características da Internacionalização das Empresas Chinesas ....... 39

3.2.1. Características distintivas das empresas chinesas que realizam

investimentos no exterior ......................................................................... 39

3.2.2. Arranjo institucional para IED da China ..................................... 42

3.2.3. Motivações dos investimentos chineses ...................................... 49

3.2.4. O modo de ingresso das empresas chinesas ................................ 56

3.2.5. Síntese sobre as características dos investimentos ...................... 58

3.3. Processo de Internacionalização das Empresas Chinesas ................ 60

3.3.1. O Processo de internacionalização de empresas – O modelo de

Uppsala ..................................................................................................... 60

3.3.2. Processo acelerado de internacionalização das empresas – O caso

das empresas chinesas .............................................................................. 62

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3.3.3. Síntese sobre o processo de internacionalização das empresas

chinesas .................................................................................................... 65

3.4. Modelos Explicativos da Internacionalização das Empresas Chinesas

.......................................................................................................... 67

3.4.1. Modelo tradicional – OLI Framework ........................................ 67

3.4.2. Modelos explicativos da internacionalização das empresas

chinesas .................................................................................................... 71

3.4.3. Síntese sobre os modelos explicativos para a internacionalização

das empresas chinesas .............................................................................. 79

4. Estrutura do Estudo das Empresas Chinesas que Investiram no Brasil.. .... 81

4.1. Método de Trabalho ......................................................................... 81

4.2. Fontes de Dados para o Estudo ........................................................ 86

4.2.1. Fontes de dados para o estudo das características dos projetos de

investimento ............................................................................................. 86

4.2.2. Fontes de informação para o estudo das empresas chinesas

investidoras no Brasil ............................................................................... 87

5. Características dos Investimentos Chineses no Brasil de 1999 a 2011.. .... 89

5.1. Três Diferentes Períodos de Ingresso do Capital Chinês no Brasil . 90

5.2. Características dos Investimentos Chineses no Brasil entre 1999 e 2009

.......................................................................................................... 92

5.3. Características dos Investimentos Chineses no Brasil em 2010 ...... 96

5.4. Características dos Investimentos Chineses no Brasil em 2011 .... 100

5.5. Síntese sobre o Perfil dos Investimentos Chineses no Período de

1999–2011 .................................................................................................. 104

6. Trajetória de Internacionalização de Empresas Chinesas para o Brasil.... 110

6.1. Amostra de Empresas Chinesas no Brasil ..................................... 110

6.2. Estudo da Huawei .......................................................................... 116

6.2.1. Perfil da empresa – Trajetória de crescimento .......................... 116

6.2.2. Trajetória de internacionalização da Huawei ............................ 118

6.2.3. Análise da Huawei de acordo com o protocolo estabelecido .... 122

6.2.4. Síntese da trajetória de internacionalização da Huawei ............ 130

6.2.5. Trajetória da Huawei no Brasil.................................................. 133

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6.2.6. Análise da Huawei no Brasil de acordo com o protocolo de

análise ................................................................................................ 136

6.2.7. Síntese da trajetória de internacionalização da Huawei para o

Brasil .................................................................................................. 139

6.3. Estudo da Chery ............................................................................. 141

6.3.1. Perfil da empresa – Trajetória de crescimento .......................... 141

6.3.2. Trajetória de internacionalização da Chery ............................... 147

6.3.3. Análise da Chery de acordo com o protocolo estabelecido ....... 150

6.3.4. Síntese da trajetória de internacionalização da Chery ............... 158

6.3.5. Trajetória da Chery no Brasil .................................................... 162

6.3.6. Análise da Chery no Brasil de acordo com o protocolo de análise .

................................................................................................... 166

6.3.7. Síntese da trajetória de internacionalização da Chery para o Brasil

................................................................................................... 170

7. Conclusões ................................................................................................ 173

7.1. Sobre o Referencial Teórico-Base para o Estudo da

Internacionalização das Empresas Chinesas .............................................. 174

7.2. Sobre o Conjunto de Investimentos Chineses Anunciados no Brasil

– 1999 a 2011 ............................................................................................. 177

7.3. Sobre os Estudos da Trajetória de Internacionalização das Empresas

e Possíveis Comparações ........................................................................... 178

7.4. Sobre Possíveis Impactos para o Brasil e seu Posicionamento ...... 180

7.5. Sobre Futuras Pesquisas Realizadas a partir Desta e Desfecho ..... 186

Referências Bibliográficas: ............................................................................... 189

APÊNDICE 1 - Busca Bibliográfica ................................................................. 200

APÊNDICE 2 – Variáveis Modelo-OLI ........................................................... 206

APÊNDICE 3 – Projetos de Investimentos Chineses Anunciados – 1999-

2011.. ................................................................................................................. 209

ANEXO 1 – Discussão sobre Métodos de Captação de Dados de

Investimentos – Pesquisa CEBC ....................................................................... 212

ANEXO 2 – Entrevista com o vice presidente da Huawei, Li Xiaotao - CEBC . ..

........................................................................................................................... 218

ANEXO 3 – Entrevista com o CEO da Chery no Brasil, Luis Curi - CEBC... 225

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Lista de Figuras:

Figura 1 - Distribuição Geográfica dos Investimentos Chineses no Mundo ................. 8

Figura 2 - Investimentos Chineses no Brasil Anteriores a 2010 .................................... 9

Figura 3 - Modelo Conceitual para o Estudo das Empresas Chinesas no Brasil ......... 32

Figura 4 - Fonte e Destino de IED ............................................................................... 35

Figura 5 Quadro Institucional Chinês sobre IED ......................................................... 42

Figura 6 - Matriz de Responsabilidade pela Aprovação do IED Chinês ..................... 46

Figura 7 - Relacionamento Estratégico entre as Empresas Chinesas e Alemãs .......... 53

Figura 8 – Lógicas de Internacionalização das Empresas Chinesas ............................ 59

Figura 9 - Modelo Uppsala Fonte: Johanson e Vahlne (1977) .................................... 62

Figura 10 - Processo de Internacionalização das Empresas Chinesas ......................... 64

Figura 11 - Rotas para Servir um Mercado Externo .................................................... 69

Figura 12 - Modelo Explicativo Regime de IED da China .......................................... 78

Figura 13 - Modelo Explicativo para a Internacionalização das Empresas Chinesas .. 80

Figura 14 - Modelo Conceitual para o Estudo das Empresas Chinesas no Brasil ....... 82

Figura 15 - Modelo Conceitual - Conjunto de Características .................................... 83

Figura 16 - Modelo Conceitual – Base Teórica de Análise do Caso ........................... 83

Figura 17 - Modelo Conceitual Reduzido para Aplicação aos Casos .......................... 84

Figura 18 - Modelo de Internacionalização da Huawei ............................................. 132

Figura 19 - Trajetória da Huawei no Brasil ............................................................... 135

Figura 20 - Perfil de Internacionalização da Huawei para o Brasil ........................... 140

Figura 21 - Atores no Setor Automotivo Chinês ....................................................... 144

Figura 22 - Modelo de Internacionalização da Chery ................................................ 161

Figura 23 - Atuação da Chery no Brasil .................................................................... 165

Figura 24 - Perfil de Internacionalização da Chery para o Brasil .............................. 172

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Lista de Tabelas:

Tabela 1 - Investimentos estrangeiros diretos chineses em economias selecionadas .. 10

Tabela 2 - Textos que discutem as características dos investimentos chineses ........... 29

Tabela 3 - Textos que discutem o processo de internacionalização das empresas

chinesas ................................................................................................................ 30

Tabela 4 - Textos que discutem modelos explicativos para a internacionalização das

emrpesas chinesas ................................................................................................ 30

Tabela 5 - Textos que discutem as teorias sobre internacionalização das emrpesas

frente ao caso chinês ............................................................................................ 31

Tabela 6- Investimentos chineses na África ................................................................ 51

Tabela 7 - Investimentos chineses na Austrália ........................................................... 52

Tabela 8 - Investimentos chineses na Europa e nos EUA ........................................... 54

Tabela 9 - Comparação entre o modelo OLI e LLL ................................................... 74

Tabela 10 - Perfil dos investimentos chineses em diferentes períodos ...................... 105

Tabela 11 - Projetos de investimento - Critério de seleção ....................................... 111

Tabela 12 - Distribuição das empresas chinesas investidoras de acordo com: setor,

modo de ingresso, estrutura de propriedade ...................................................... 113

Tabela 13 - Principais montadoras de carros de passeio em 2010 ............................. 148

Tabela 14 - Localização da Chery no mundo ............................................................ 149

Tabela 15 - Preços de diferentes modelos Chery ....................................................... 153

Tabela 16 – Preço dos carros compactos na China .................................................... 154

Tabela 17 - Preço Chery QQ em diferentes mercados ............................................... 155

Tabela 18 - Conjunto de palavras-chave .................................................................... 200

Tabela 19 - Combinações de pesquisa ....................................................................... 200

Tabela 20 - Resultado busca Amazon ........................................................................ 201

Tabela 21 - Resultado busca ISI ................................................................................ 202

Tabela 22 - 10 periódicos que mais publicam sobre o tema - ISI .............................. 203

Tabela 23 - 10 autores que mais publicam sobre o tema (ISI) ................................... 204

Tabela 24 - 10 Periódicos que mais publicam sobre o tema (SCOPUS) ................... 204

Tabela 25 - 10 autores que mais publicam sobre o tema (SCOPUS) ........................ 205

Tabela 26 - Revisões modelo-OLI ............................................................................. 206

Tabela 27 - Revisões modelo-OLI ............................................................................. 207

Tabela 28 - Revisões modelo-OLI ............................................................................. 208

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Tabela 29 - Projetos de investimentos chineses anunciados - 1999-2011 ................. 209

Tabela 29 - Projetos de investimentos chineses anunciados - 1999-2011 ................. 210

Tabela 29 - Projetos de investimentos chineses anunciados - 1999-2011 ................. 211

Tabela 30 - Comparabilidade internacional dos dados de IED da China .................. 214

Lista de Gráficos:

Gráfico 1 - China: fluxo e estoque de IED no mundo, 1990-2009 (em US$ bilhões) ... 2

Gráfico 2 - Fluxo de saída de IED para o mundo .......................................................... 3

Gráfico 3 - IED do país/IED mundo .............................................................................. 3

Gráfico 4 - Projetos de investimentos chineses no Brasil ............................................ 90

Gráfico 5 - Diferença entre projetos 2010 e 2011 ........................................................ 91

Gráfico 6 - Investimentos chineses em três períodos ................................................... 92

Gráfico 7 - Distribuição de projetos - 1999-2009 ........................................................ 94

Gráfico 8 Distribuição dos projetos 1999-2009 (II) .................................................... 95

Gráfico 9 - Características dos projetos 2010 .............................................................. 97

Gráfico 10 - Características dos projetos 2010 (II) ...................................................... 98

Gráfico 11 - Características dos projetos 2010 (III) .................................................... 98

Gráfico 12 - Características dos projetos das centrais-SOEs ....................................... 99

Gráfico 13 - Características dos projetos de 2011 ..................................................... 102

Gráfico 14 - Características dos projetos (II) ............................................................. 103

Gráfico 15 - Detalhamento da estrutura de propriedade das empresas estatais ......... 104

Gráfico 16 - Evolução do determinante dos investimentos ....................................... 107

Gráfico 17 - Evolução do modo de ingresso .............................................................. 108

Gráfico 18 - Evolução da estrtutura de propriedade .................................................. 108

Gráfico 19 - Volume de carros vendidos por ano - China e EUA ............................. 142

Gráfico 20 - Evolução das vendas da Chery .............................................................. 146

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Lista de Abreviaturas: CEBC Conselho Empresarial Brasil-China

CEM Center for Emerging Markets Northeaster University

Central SOE Empresas Estatais Centrais da China

CEPAL Comissão Econômica para América Latina

CIBUL Center of International Business – University of Leeds

CKD Complete Knock-Down Production

FOCAC Forum on China Africa Cooperation

IED Investimentos Estrangeiros Diretos

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MOFCOM Ministério do Comércio da China

NDRC National Development Reform Commission

OECD Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMC Organização Mundial do Comércio

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PCC Partido Comunista Chinês

POBC People´s Bank of China

RENAI Rede Nacional de Investimentos

SAFE State Administration for Foreign Exchange

SASAC Stated-Owned Assets Supervision and Administration

Commission

SCIELO Scientific Electronic Library Online – Brasil

SOEs State-Owned Enterprises

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

USP Universidade de São Paulo

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1

1. Introdução

Nesta introdução apresentaremos o contexto no qual o objeto de estudo da

dissertação se insere, assim como a abordagem utilizada pelo autor para tratar com os

projetos de investimento chineses anunciados no Brasil. Partiremos da discussão

sobre o surgimento da China como uma investidora no mundo e os investimentos de

suas empresas em diferentes países. Depois, apresentaremos o que já foi tratado sobre

os investimentos chineses no Brasil. O presente autor fez parte de uma pesquisa

coordenada pelo professor Antonio Barros de Castro para o Conselho Empresarial

Brasil-China que aborda os projetos anunciados pelas empresas chinesas em 2010.

Esta dissertação parte do contexto da pesquisa do Conselho, e como será apresentado

possui um foco e objeto de estudo diferente do que já foi realizado. Por fim, vamos

expor a visão geral da dissertação, abordando o que o leitor encontrará em cada um

dos capítulos que compõem o texto.

1.1. O Surgimento e Evolução dos Investimentos

Estrangeiros Diretos da China para o Mundo

A política de abertura da China para o mundo teve inicio em 1978. E em 1984,

Deng Xiaoping confirmou através de seu artigo intitulado “Building Socialism with a

Specifically Chinese Character”, que o país deveria abrir-se para o capital externo.

Argumenta ainda que a principal razão para o atraso no avanço industrial chinês

consistia na política de porta fechada:

“O mundo está aberto…A experiência dos últimos trinta anos demonstrou que

uma política de portas fechadas prejudicaria a construção e inibiria o

desenvolvimento...Nós aceitaremos investimento estrangeiro e técnicas avançadas. A

gestão também é uma técnica...Nossa base econômica socialista é tão imensa que é

capaz de absorver dezenas e centenas de bilhões de dólares provenientes de fundos

estrangeiros...Investimento estrangeiro servirá, sem dúvida, como um grande

suplemento para a construção do socialismo em nosso país....”1

1 No original: The present world is open… The experience of the past thirty or so years has

demonstrated that a closed-door policy would hinder construction and inhibit development … We

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2

Foi através desse, dentre outros, discursos de Deng Xiaoping, hoje

interpretados como a Teoria de Deng sobre a modernização socialista, que teve

origem a discussão sobre investimentos estrangeiros diretos (IED) na China.

Voss (2011) comenta que o primeiro estágio da discussão sobre investimentos

estrangeiros e a China estava concentrado na entrada de IED para o país. No entanto,

a política de abertura e a série de reformas que seguiram a ela resultaram em um

aumento significativo do estoque de investimento realizado por empresas chinesas no

mundo. Isso pode ser claramente identificado pelo Gráfico 1:

Gráfico 1 - China: fluxo e estoque de IED no mundo, 1990-2009 (em US$ bilhões)

Fonte: IPEA (2011)

Buckley et al (2010) também afirma que pouca atenção tem sido dada à

China como investidora mundial. Isso não deveria ocorrer, pois, ao olharmos a curva

de avanço da China como emissora de IED no mundo, percebemos que ela já possui o

patamar de países desenvolvidos:

welcome foreign investment and advanced techniques. Management is also a technique… Our socialist

economic base is so huge that it can absorb tens and hundreds of billions of dollars‟ worth of foreign

funds without being shaken…Foreign investment will doubtless serve as a major supplement in the

building of socialism in our country.

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Gráfico 2 - Fluxo de saída de IED para o Mundo

0

50

100

150

200

250

300

20

02

20

03

20

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20

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20

10

20

11

US$

Bilh

õe

sChina

EUA

França

Alemanha

Inglaterra

Japão

Fonte: EIU Elaboração: Autor

Em termos de representatividade do IED chinês no mundo em comparação

com outros países, a China vem ganhando importância relativa a cada ano. Enquanto

em 2004, ela representava apenas 0,2% do IED mundial, hoje representa 5% e figura

como o quinto país que mais investe no mundo.

Gráfico 3 - IED do país/IED mundo

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

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20

09

20

10

20

11

China

França

Alemanha

Japão

Inglaterra

EUA

Fonte: EIU Elaboração: Autor

De acordo com Buckley et al (2010), esse incremento no volume de IED

chinês corresponde a cinco diferentes estágios de evolução.

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4

O primeiro deles, o autor denominou de “Internacionalização Cautelosa”. Com

a política de abertura ao mundo, as empresa estatais chinesas começaram a instalar

operações em países estrangeiros, usualmente pontos de representação comercial.

Somente empresas chinesas sob a supervisão do Ministério do Comércio (MOFCOM)

e do State Economic Trade Commission poderiam requisitar ao Conselho de Estado a

aprovação para investimentos no exterior. O governo adotou uma abordagem

cautelosa, favorecendo investimentos que aprimorassem o acesso a recursos naturais

escassos na China. Durante esse estágio, entre 1979-1985, somente 189 projetos

foram aprovados, totalizando U$ 197 milhões.

Entre 1986-1991, o governo extinguiu políticas restritivas e permitiu a um

conjunto maior de empresas a aplicação para estabelecer filiais no exterior. Essas

estavam atrás de cumprir metas econômicas nacionais e provinciais, além de objetivos

políticos. Em particular, os investimentos foram destinados para: apoiar a função

exportação das grandes fábricas estatais; ajudar a estabilizar a demanda por recursos

naturais; adquirir informação e aprender como operar no exterior.

O terceiro estágio, entre 1992-1998, correspondeu à expansão e regulação das

empresas chinesas. Instituições de um nível subnacional começaram a realizar

negócios internacionais através de companhias listadas em Hong Kong,

principalmente no investimento em bens imobiliários e em especulações no mercado

de ações. A crise asiática de 1997 desacelerou essa expansão, e a preocupação com o

controle dos ativos estatais no exterior fez com que o governo aumentasse a rigidez da

aprovação de novos projetos, e criasse mecanismos para monitorar os investimentos

no exterior. Essas medidas visaram assegurar que o investimento chinês estivesse

voltado para propósitos produtivos.

O quarto estágio, 1999-2001, denominado por Buckley como “Go global”,

teve como marco a diretriz adotada pelo 10º Plano Quinquenal. O plano encorajava,

através de descontos nas tarifas de exportações, assistência para trocas internacionais,

apoio financeiro direto, empresas chinesas a voltarem para o exterior. O governo

chinês incentivou empresas a exportarem máquinas, componentes industriais,

produtos têxteis e equipamentos elétricos. Os objetivos eram diferentes dos

apresentados na década de 1980. Agora as empresa chinesas buscavam: explorar

Page 20: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

5

novos mercados para seus produtos; melhorar o acesso a propriedade tecnológica

estrangeira, aprimorar a competitividade chinesa através da diversificação de

atividades de negócios realizadas no exterior.

O quinto estágio começa a partir de 2001 e é marcado pela associação da

China à Organização Mundial do Comércio (OMC). Políticas com relação à liberação

de investimentos no exterior foram formuladas. Como principais mecanismos,

tínhamos: simplificação de aprovações de projetos no exterior; autorização de

investimento por parte de empresas particulares; afrouxamento dos mecanismos de

controle do investimento no exterior. Para exemplificar, instituições, como o Ministry

of Commerce People´s Republic of China - MOFCOM, que participavam diretamente

da aprovação do projeto de investimento, agora passaram a possuir a função de apoiar

com informações as empresas que buscavam o mercado externo.

1.2. Empresas Chinesas e Investimentos no Mundo

A partir desse esforço da China em consolidar sua posição como investidora,

as empresas chinesas se tornaram relevantes no mundo. Segundo o ranking da

Fortune, que lista as 500 maiores empresas do mundo, em 2005, havia 16 empresas

chinesas dentre as 500 maiores do mundo, figurando a Sinopec em 31º lugar no

ranking mundial. Já em 2010, mais do que dobrou o número de empresas. São 37

empresas, número que só fica atrás do Japão, com 69 empresas, e dos EUA, com 140

empresas.

Castro (2008) alerta que a ascensão da Ásia e, principalmente da China,

resultou em uma ruptura no cenário mundial. E esse cenário de transição e abertura da

economia chinesa se apresentava extremamente favorável à entrada de empresas

multinacionais no país, ávidas por aproveitar a mão-de-obra barata e a demanda

chinesa, o que soava como um negócio certo para essas empresas. Mas o que se

revelou foi o surgimento de competidores nacionais chineses disputando o mercado

não somente na China, como no mundo todo (BHATTACHARYA e MICHEL, 2008;

GHEMAWAT e HOUT, 2008; ZENG e WILLIAMSON, 2004).

Zeng e Williamson (2007) comentam que as empresas chinesas começaram a

investir sob a forma de grandes aquisições no mundo, como a compra da divisão

Page 21: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

6

Thinkpad da IBM pela Lenovo em 2005. E se expandiram através de investimento em

greenfield, como o ingresso da Haier no mercado norte-americano, no setor de

eletrodomésticos.

As empresas chinesas também passaram a investir no exterior com o intuito de

buscar ativos que atendam as necessidades da economia chinesa. Um dos problemas

estruturais da China é a falta de matérias primas para atender a necessidade de

produção e consumo da sua população. O primeiro determinante de investimento

chinês que pode ser identificado é a busca por recursos naturais, e a África foi o

principal destino desse capital.

Hoje, mais de um terço do abastecimento de energia da China vem da África

(FINANCIALTIMES, 2011). A China e os países africanos estabeleceram em 2000 o

FOCAC – Forum on China Africa Cooperation, com o objetivo de intensificar o

relacionamento bilateral em termos de comércio e investimentos. Quatro encontros já

foram realizados e durante o Fórum China-África em 2006, no qual 47 dos 53 chefes

de estado africanos participaram, a China concedeu um fundo com mais de U$ 5

bilhões para investir em projetos de infraestrutura e em zonas industriais de países

africanos. Dentre as empresas que investem na África, destaca-se o consórcio

realizado pela CITIC - China Railway Construction, em um investimento de US$ 6,25

bilhões para a construção da Algerian East-West Expressway (BROWN, 2008).

Com relação aos países asiáticos próximos à China, o determinante do

investimento está voltado para a construção de fábricas de empresas chinesas. Nesse

ponto, pode-se discutir o fenômeno de integração das cadeias produtivas na Ásia,

movimento em que a China investe em operações manufatureiras, usualmente de

componentes, ou subpartes dos produtos, em países com características similares as

suas. Yusuf e Nabeshima (2008) comentam que a Malásia possui fatores de produção,

como mão de obra a baixo custo, e fatores culturais muito similares aos chineses,

servindo assim como base para que as empresas chinesas ganhem escala de produção.

Já o cenário europeu é consideravelmente distinto do asiático e africano. Na

França os investimentos concentram-se em eletrônicos e equipamentos de

telecomunicação (NICOLAS, 2010). Já na Alemanha existe uma concentração nas

indústrias de maquinaria e eletrônicos (HANDTKE, 2009). No Reino Unido, as

Page 22: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

7

aquisições chinesas estão voltadas para a indústria automotiva (NICOLAS e

THOMSEN, 2008). Além disso, grandes empresas chinesas, como Haier, Lenovo,

Huawei, possuem centros de pesquisa localizados na Europa (ZENG e

WILLIAMSON, 2007). A busca por ativos estratégicos e conhecimento caracteriza o

determinante dos investimentos chineses dentre os países europeus.

Nos EUA, os investimentos são divididos entre a busca por mercados e a

busca por tecnologia. Globerman e Shapiro (2009) comentam que as empresas

chinesas tendem a realizar aquisições nos EUA, para se aproveitarem das capacitações

já acumuladas por seus parceiros americanos.

E por fim, Santiso (2008) afirma que a América Latina é a uma das regiões de

maior complementaridade com relação a recursos naturais para a China. Holland e

Barbi (2010) apresentam um quadro de busca principalmente por matérias primas. Em

Cuba e Nova Guiné, os chineses estão atrás de níquel. No Chile e Peru, houve uma

maior presença de investimentos buscando cobre. E petróleo na Venezuela e Equador.

O instituto de pesquisa Heritage Foundation sintetiza a presença dos

investimentos chineses no mundo, no período de 2010 a Junho de 2011, através da

Figura 1. Um destaque deve ser dado aos investimentos na Austrália, principal país

receptor de investimentos chineses, e, para a América do Sul, que figura como a

região que mais recebeu investimentos.

Page 23: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

8

Figura 1 - Distribuição geográfica dos investimentos chineses no mundo

Fonte: Heritage Foundation. www.heritage.org, 2010

1.3. Empresas Chinesas e Investimentos no Brasil

O autor desta dissertação fez parte da equipe coordenada pelo professor

Antônio Barros de Castro, que lançou, pelo Conselho Empresarial Brasil-China

(CEBC), uma pesquisa sobre os investimentos chineses no Brasil.

Os principais pontos levantados pela pesquisa do Conselho estão fortemente

correlacionados com essa dissertação. Cabe, então, uma síntese sobre os

investimentos chineses no Brasil. Esta servirá como base para a delimitação do objeto

de estudo e dos objetivos da dissertação.

A pesquisa do Conselho identificou que, no período anterior a 2010, os

investimentos chineses no Brasil não possuíam vulto significativo, eram pequenos

investimentos orientados pela estratégia pontual das empresas chinesas. Isso pode ser

ilustrado, através do mapa da Heritage Foundation:

Page 24: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

9

Figura 2 - Investimentos Chineses no Brasil Anteriores a 2010

Fonte: Heritage Foundation Elaboração:CEBC

Até esse momento, somente um investimento chinês no Brasil foi registrado

pela Heritage Foundation. Este é referente à compra de parte da empresa MMX

Mineração pela Wuhan Iron Steel Group - WISCO, em Novembro de 2009.

Em 2010, 24 projetos de investimentos foram anunciados por empresas

chinesas que buscavam ingressar no mercado brasileiro. Os autores da pesquisa do

Conselho argumentam que esse ano representa um marco no relacionamento entre os

dois países. Para eles, é o inicio de uma nova fase no relacionamento bilateral.

Somente utilizando os dados da pesquisa do CEPAL (2011), também contemplados

no estudo do Conselho, temos que o volume anunciado em 2010 é 40 vezes maior que

o estoque de 1990-2009.

Page 25: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

10

Tabela 1 - Investimentos estrangeiros diretos chineses em economias selecionadas

US$ milhões % US$ milhões % US$ milhões %

Argentina 143 1,90% 5550 36,40% 3530 15,50%

Brasil 255 3,50% 9563 62,70% 9870 43,40%

Colombia 1677 22,90% 3 0,00% ... ...

Costa Rica 13 0,20% 5 0,00% 700 3,10%

Ecuador 1619 22,10% 41 0,30% ... ...

Guyana 1000 13,60% ... ... ... ...

México 127 1,70% 5 0,00% ... ...

Perú 2262 30,80% 84 0,60% 8640 38,00%

Venezuela 240 3,30% ... ... ... ...

Total 7336 100,00% 15251 100,00% 22740 100,00%

País

Confirmadas

Anunciadas

(a partir de)

1990-2009 2010 2011

Fonte: CEPAL (2011) Elaboração: CEBC

A pesquisa indica que foram anunciados mais de US$ 35 bilhões em

investimentos e mais de 90% do volume anunciado consiste em investimentos que

buscam recursos naturais. Os autores confirmaram com as empresas o volume de

investimentos que seriam efetuados, com início em 2010, e chegaram a um número de

US$ 12,69 bilhões.

Castro et al (2011) também caracterizaram o conjunto de investimos

anunciados no período de 2010. Para tanto, foi formulado um sistema classificatório e

os projetos de investimento anunciados foram categorizados de acordo com: objetivo,

modo de ingresso, distribuição setorial, distribuição regional.

Através dessas características, foram identificados dois padrões de

comportamento dos investimentos chineses anunciados em 2010: o primeiro consiste

na inclusão do Brasil na base internacional de fornecimento de recursos naturais para

a China. O segundo é marcado pela a entrada dos chineses no mercado consumidor e

no tecido industrial brasileiro.

Nas palavras dos autores, o primeiro padrão pode ser descrito como:

“ Como não dispõe internamente da diversidade e do volume necessário de

recursos naturais para manter suas taxas de crescimento, a China vem consolidando,

Page 26: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

11

há alguns anos, uma base internacional de fornecimento de matérias-primas, a partir

da Austrália, Indonésia e países da África. A nova fase do relacionamento bilateral se

caracteriza justamente pela inclusão do Brasil nesta base internacional de

fornecimento de recursos naturais para a China. “ (Castro et al, 2011:20)

Já o segundo padrão pode ser entendido como:

“ ..., com a recente dinamização do mercado brasileiro de consumo, estão se

multiplicando as aplicações chinesas de pequeno e médio porte na esfera das

manufaturas. Destaca-se, neste conjunto, o ingresso de montadoras chinesas no país.

O setor automobilístico no Brasil, enquanto cerne da estrutura industrial brasileira,

será provavelmente afetado por estas entradas. Estas montadoras ingressam no

Brasil para competir no segmento de carros populares, modalidade que caracteriza a

indústria montadora do Brasil. Caso a entrada das montadoras chinesas realmente se

confirme nos moldes que estão se delineando em 2010, os impactos para as

automobilísticas brasileiras e, por consequência, para toda a cadeia automobilística,

podem ser bastante severos.” (Castro et al, 2011:21)

Hoje, os investimentos e o ingresso de empresas chinesas no Brasil são uma

realidade que não pode mais ser ignorada. A pesquisa do Conselho foi a primeira

iniciativa que buscou descrever e entender o fenômeno.

Esta dissertação, parte da pesquisa do conselho, e busca estudar o investimento

direto chinês no Brasil, com o intuito de identificar e entender quais são os padrões de

investimentos chineses nos últimos dez anos. E pretende ilustrar, através do

aprofundamento de dois casos, o que as empresas chinesas possuíam como estratégia

para o país.

Partindo desse novo fenômeno destacado pelo CEBC, temos questões

emergentes, tais como:

a) Quais são as características dos projetos de investimentos chineses

no Brasil nos últimos anos?

b) Existe algum padrão de ingresso?

c) Existe alguma inflexão recente nesse padrão?

Page 27: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

12

d) Quais são as motivações, o que explicaria a entrada dessas

empresas no país?

e) Quais são os objetivos, o que essas empresas buscam no Brasil?

f) E, por fim, o que elas aparentam ter como estratégia para o país?

1.4. Questão de Pesquisa

Essas grandes questões emergem a partir da análise contextual dos

investimentos chineses no Brasil. No entanto, é preciso determinar uma questão que

servirá como base para a pesquisa. Esta poderia ser formulada como:

Há um padrão no perfil do ingresso de investimentos estrangeiros diretos

da China no Brasil?

O ponto central da pesquisa consiste em caracterizar os investimentos assim

como as empresas que estão entrando no país. O estudo busca entender de forma

exploratória quais são os objetivos e motivações das empresas que optaram por

ingressar no Brasil. Temos assim, como principais desdobramentos para a pesquisa, as

seguintes questões:

Quais são suas motivações e objetivos?

Como pretendem operar no Brasil?

Quais são suas perspectivas de atuação no país?

1.5. Objetivos da Dissertação

Seguindo a estrutura proposta por Booth et al (2008), pode-se formular a

seguinte sentença para determinar o objetivo geral do projeto:

Esta é uma pesquisa sobre investimento direto chinês no Brasil

porque se pretende identificar, através da literatura sobre o tema, de

levantamento de dados e de estudo de casos ilustrativos quais são as características

dos projetos de investimentos chineses anunciados nos últimos anos.

Page 28: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

13

no intuito de descrever a atuação das empresas chinesas que estão investindo

no Brasil e o que elas parecem ter como estratégia para o país.

Já como objetivos específicos da dissertação, temos:

Identificar/Apresentar estudos que tratam da internacionalização das empresas

chinesas e seus investimentos;

Identificar/Listar os projetos de investimento anunciados no Brasil nos últimos

anos;

Descrever e analisar os principais projetos de investimentos chineses

anunciados no Brasil; e

Estudar com mais profundidade alguns casos de empresas chinesas que

anunciaram investimentos no país.

Já esse projeto não se propõe a:

Levantar o que é a estratégia de internacionalização de empresas sob as teorias

tradicionais chinesas. O enfoque da dissertação apoia-se em teorias e métodos

ocidentais. Apesar de o autor concordar que essa não seria a melhor maneira

de estudar as empresas, barreiras como a língua ainda impedem o acesso a

esse tipo de informação. As empresas também não serão estudadas por

vertentes de análises chinesas, como por exemplo, o confucionismo.

Realizar uma análise aprofundada sobre a China e o cenário mundial e sua

macroeconomia. O projeto levanta essas questões para contextualizar o leitor

sobre o ambiente no qual as empresas chinesas se encontram.

Como principais limitações à execução do projeto, apresentamos:

A teoria sobre internacionalização das empresas e seus investimentos foi

criada a partir do estudo empírico de empresas americanas e suecas, que

internacionalizaram em um contexto totalmente diferente das empresas

chinesas. As especificidades do ambiente doméstico chinês, assim como da

própria estrutura de propriedade das suas empresas, torna os modelos

tradicionais insuficientes para a análise da situação.

Page 29: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

14

Outra limitação está relacionada à fonte de dados, pois o material foi

pesquisado em fontes que publicam em inglês e português. Não foi levado em

consideração o material escrito em chinês sobre o assunto.

Uma última limitação está associada à utilização dos projetos de investimento

anunciados como dados sobre o ingresso das empresas no Brasil. Como será

discutido adiante, o dados sobre investimentos diretos das empresas não são

contemplados por fontes primárias e sistemáticas de informação, como, por

exemplo, Banco Central, ou MOFCOM. Dessa forma, uma das medidas de

contorno utilizada pelos pesquisadores é utilizar os anúncios dos

investimentos realizados pelas empresas no Brasil. Isso significa dizer que

pode existir uma margem de erro relativa aos anúncios, que podem não ter se

confirmado. No entanto, como o objetivo é caracterizar o ingresso e as

intenções das empresas chinesas no Brasil, vale a pena arcar com esse risco,

até porque, a empresa pode anunciar determinado projeto que não se confirma

no momento, mas que, um pouco mais a frente, venha a se confirmar.

1.6. Do Projeto de Graduação à Dissertação de

Mestrado

O projeto de graduação do autor buscou estudar, de forma exploratória, como

as empresas chinesas conquistaram relevância no cenário mundial, qual foi à trajetória

trilhada por elas para ganhar mercados e como o governo chinês contribuiu para essa

ascensão.

Realizou-se uma pesquisa, que baseada em fontes secundárias, buscou estudar

a trajetória de duas empresas chinesas: a Haier e a Lenovo.

Seguindo a estrutura proposta por Booth et al (2008), pode-se formular a

seguinte sentença para determinar qual foi o objetivo geral do projeto de graduação:

Foi é uma pesquisa sobre Estratégia das Empresas Chinesas,

porque se pretendeu a identificar, através da literatura sobre o tema e do

estudo de duas empresas, qual foi a trajetória percorrida por elas para competir no

mercado mundial,

Page 30: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

15

no intuito de descrever quais foram os principais fatores que influenciaram

essas trajetórias de crescimento e se existe similaridades ou um padrão („pattern‟)

com o qual podemos identificar entre as trajetórias.

Já como objetivos específicos do projeto de graduação, teve-se:

Identificar/Apresentar estudos que tratam das estratégias das empresas

chinesas;

Analisar, através de um referencial de estratégia, a trajetória de

crescimento dessas empresas;

Ao estudar as empresas, verificar a relação de cada uma com o governo

chinês no seu processo de crescimento.

Esta dissertação de mestrado teve como propósito continuar o estudo sobre

empresas chinesas, sendo agora o foco nas empresas chinesas no Brasil. O estudo foi

sobre as empresas chinesas que realizaram investimentos no país, quais são suas

características, e o que elas parecem ter como objetivos. A discussão dos

investimentos em um nível agregado será abordada, mas o estudo se deu ao nível das

empresas.

1.7. Motivação e Justificativas da Pesquisa

Algumas motivações sobre o presente estudo já foram apresentadas na

introdução desse trabalho, como a crescente importância da China no cenário mundial

e o salto no volume de investimentos anunciados no Brasil.

O interesse do autor pelo assunto surgiu de um seminário promovido pelo

Instituto de Economia da UFRJ. Nesse foram apresentados os estudos do pesquisador

John Mathews, que buscavam responder como as empresas chinesas conseguiram

crescer, inovar e ganhar mercado tão rapidamente.

Mathews (2002) propôs que as empresas chinesas seguiam um padrão de

trajetória de internacionalização que chamou de LLL (Linkage, Leverage, Learning):

Linkage diz respeito às vantagens que as empresas podem conseguir em um

mundo globalizado, como acesso a recursos que elas não conseguiram no seu lugar de

Page 31: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

16

origem. O autor cita o exemplo de empresas chinesas que realizaram parcerias com

empresas taiwanesas para obter tecnologia.

Leverage está relacionado a parcerias que as empresas chinesas realizaram

com empresas multinacionais para melhorar o nível e o rendimento dos recursos que

foram adquiridos através do Linkage.

Learning consiste no aprendizado organizacional através da repetição de

diversas relações de Linkage e de Leverage. As empresas aprendem a desenvolver

novos produtos e serviços mais rapidamente depois de ter adquirido conhecimento nas

relações para aquisição de recursos (Linkage) e melhoria do nível desses recursos

(Leverage).

A proposta de generalização apresentada por Mathews parecia não ser

suficiente para explicar algumas das trajetórias das empresas chinesas, despertando

assim o interesse por continuar estudando o assunto.

Em paralelo a essa apresentação de Mathews, foi feito um estudo, em conjunto

com o orientador deste projeto, sobre a pesquisa de Zeng & Williamson (2007), que

também buscava um padrão de entendimento sobre a estratégia das empresas

chinesas. A pesquisa de Zeng e Williamson, denominada de “Inovação em Custo”,

pode ser dividida em três partes:

Na primeira parte, os autores buscam responder como as empresas chinesas

foram capazes de causar uma ruptura na competição mundial e para eles, a resposta

residia na combinação de dois fatores. O primeiro deles consiste em uma série de

vantagens que existem na China, e o segundo estaria relacionado a oportunidades

abertas pela globalização.

Na segunda parte, os autores argumentam que esses fatores expostos na

primeira parte contribuem para que as empresas chinesas desenvolvam a chamada

“inovação em custo”. Para os autores, a inovação em custo pode ser desdobrada na

capacidade da empresa em entregar alta tecnologia a baixo custo, variedade a baixo

custo e produtos especiais em alta escala. Dessa forma, os autores vão explicar como

as empresas chinesas são capazes de “inovar em custo”.

Page 32: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

17

Já na terceira parte, os autores vão dissertar sobre a maneira como as empresas

chinesas se expandem no mercado internacional, quais os mercados mais favoráveis

mais favoráveis à sua entrada e como elas conseguem entrar em mercados de difícil

acesso, como o Americano e o Europeu.

Em comparação com Mathews (2006), o quadro apresentado por Zeng e

Williamson (2007) consiste em uma explicação mais completa sobre a trajetória de

crescimento das empresas chinesas. Mas assim como em Mathews (2006), as

generalizações apresentadas por Zeng e Williamson (2007) não podem ser aplicadas a

todas as empresas.

Assim, um ponto motivador desse trabalho é descrever a trajetória de

crescimento de cada empresa, especificamente para o caso do Brasil. Antes de

entrarmos em uma discussão com foco na generalização, devemos analisar como cada

empresa trilhou sua trajetória de internacionalização. Depois poderemos compará-las

e verificar se esse padrão existe ou não um padrão.

Outro ponto que motiva o presente trabalho reside na pequena quantidade de

estudos que foram feitos sobre as empresas chinesas e seus investimentos no Brasil.

Em busca realizada na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, com

palavras chave como “China”, no campo assunto, obteve-se um resultado de 26 teses

e dissertações. Dentre elas, somente uma falava sobre China e empresas, intitulada:

“Empresas brasileiras na China: estratégia e gestão”, dissertação da USP, de 2007,

que trata da entrada das empresas brasileiras na China e não aborda o tema do

presente projeto.

Já em busca na Scientific Electronic Library Online – Brasil (Scielo-Brasil),

pesquisando no campo de assunto, com palavra-chave “China”, foram encontrados 35

artigos, dos quais nenhum tratava sobre empresas chinesas e Brasil.

Além da pesquisa do CEBC, um estudo sobre a internacionalização das

empresas chinesas foi lançado pelo IPEA, em Abril de 2011. Este realiza uma análise

agregada, através de dados do MOFCOM, sobre os investimentos chineses no Brasil.

O presente estudo diferencia-se do IPEA por dois motivos:

Page 33: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

18

O primeiro diz respeito à utilização das fontes de dados para a pesquisa.

Como será detalhado mais a frente, não é possível utilizar os dados do MOFCOM

como fonte primária de dados. Isso ocorre em função de um fenômeno chamado

Roundtripping (XIAO, 2004) - termo utilizado para caracterizar o processo de envio

de capital da China para Hong-Kong e o retorno desse “investimento” para a China.

O segundo ponto que diferencia este trabalho da pesquisa do IPEA consiste no

objeto de análise de ambos os estudos. O texto do IPEA restringe-se a analisar o

conjunto de investimentos realizados no Brasil – consiste em uma abordagem

agregada. A presente dissertação busca entender o padrão pelo qual as empresas

chinesas estão internacionalizando no âmbito do Brasil.

Portanto, a originalidade do presente estudo representa uma motivação para a

realização do mesmo. Espera-se de alguma forma contribuir como um dos primeiros

no país a tratar sobre as empresas chinesas e seus investimentos no Brasil.

Por se tratar de uma dissertação em engenharia de produção da UFRJ, a

pesquisa pretende abordar temas que estão correlacionados com a área de Gestão de

Inovação, no caso, buscando compreender a estratégia dessas empresas para o Brasil.

A pesquisa servirá como mais uma fonte de informação para os gestores

interessados em entender melhor sobre seus novos concorrentes no país. Como o

estudo pretende ir a campo e colher informações sobre as empresas chinesas, ele

contribui ao deslocar uma discussão que hoje está em um nível agregado, como o

conjunto de investimentos e o impacto nos setores, para uma discussão também ao

nível da empresa, objeto de estudo central do engenheiro de produção, visando

enxergar quem são essas empresas e como elas pretendem atuar aqui.

E por fim, é de responsabilidade do governo a formulação de políticas que

contribuam para o desenvolvimento da indústria brasileira. Existe uma forte discussão

sobre a falta de competitividade das empresas brasileiras em relação às chinesas. Esse

estudo, apesar de não tratar o assunto diretamente, poderá interessar ao governo como

fonte de informação para entender mais sobre os projetos de investimentos e empresas

chinesas que estão ingressando no Brasil.

Page 34: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

19

1.8. Delimitação do Objeto de Estudo

O objeto de estudo que deriva inicialmente da questão de pesquisa são as

empresas chinesas que realizaram investimento no Brasil. No entanto, é preciso

chamar a atenção para o fato de que não é possível identificar e analisar o conjunto

histórico dos investimentos destas empresas no país. Isso acontece por alguns

motivos.

O primeiro deles consiste na falta de acurácia presente nas fontes sistemáticas

de informação. Os dados do Banco Central do Brasil e do MOFCOM oferecem uma

perspectiva histórica dos investimentos, mas não podem ser utilizados como base para

a análise. Isso acontece porque os investimentos de origem chinesa podem passar por

paraísos fiscais antes de entrar no Brasil. Como exemplo, a compra da Repsol-Brasil

pela Sinopec foi efetuada através de investimentos que tiveram como origem

Luxemburgo e não a China. Também com relação ao MOFCOM temos de levar em

consideração o round-tripping, termo utilizado para caracterizar o processo de envio

de capital da China para Hong-Kong e o retorno desse “investimento” para a China, já

comentado anteriormente. Isso significa dizer que os investimentos que são

registrados historicamente por essas fontes não podem ser utilizados como fonte de

dados para a pesquisa.

Como será detalhadamente comentado mais a frente, para contornar essa

restrição imposta pelas fontes primárias, foi preciso obter os dados através da mídia e

confirmá-los com as empresas.2

Outro motivo diz respeito ao grau de agregação dos dados. Fontes primárias

como o Banco Central e o MOFCOM apresentam o volume agregado de

investimentos em um ano. Eles podem até apresentar uma distribuição regional ou

setorial, mas, com certeza, não fornecem os dados de investimentos por empresa. E

para cumprir com os objetivos estipulados para essa pesquisa, faz-se necessário,

verificar os dados de investimentos por empresa, sendo esta mais uma restrição

imposta ao objeto de estudo.

2 Para a discussão sobre as fontes de dados, ver Anexo 1.

Page 35: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

20

Dessa forma, fez-se necessário delimitar o objeto de estudo a um período

determinado de tempo. O período de tempo é função das fontes de informação que

monitoram o ingresso dos investimentos. Descartado o Banco Central e o MOFCOM,

por motivos acima comentados. A presente pesquisa foi atrás de outras fontes, tais

como a Embaixada do Brasil na China, a Embaixada da China no Brasil, e os China

Desks (departamentos voltados o trabalho com a China) das empresas associadas ao

CEBC. Nessa consulta, foi possível obter dados que vão do período de 1999 até 2011.

Esses servirão como base para as análises feitas nesse estudo.

Enfim, podemos entender o objeto de estudo dessa pesquisa como: As

empresas chinesas que realizaram investimentos no Brasil no período 1999 a

2011.

1.9. Classificação Metodológica

Uma vez apresentado o caminho determinado para alcance dos objetivos da

pesquisa, cabe agora classificar metodologicamente esta dissertação.

De acordo com Silva Menezes (2001), a abordagem de uma pesquisa pode ser

tanto qualitativa, quanto quantitativa. A quantitativa representaria uma tradução de

opiniões e informações em número para classificá-las e analisá-las e a abordagem

qualitativa consistiria na interpretação de fenômenos e atribuição de significados

diretamente do ambiente natural, tendo como instrumento-chave o pesquisador.

Assim sendo, a abordagem desta dissertação possui aspectos de uma pesquisa

quantitativa e também qualitativa. Quantitativa pois utiliza-se dos dados – volume de

investimento – das empresas para chegarmos a características do fenômeno. No

entanto, deve ser observado que a pesquisa possui uma outra parte que é

predominantemente qualitativa: ao estudarmos as empresas, teremos o pesquisador

como instrumento-chave para a interpretação das entrevistas feitas.

De acordo com Gil (1999), os objetivos de uma pesquisa podem ser

classificados em três categorias: Pesquisa exploratória; Pesquisa Descritiva e Pesquisa

Explicativa. Por pesquisa exploratória, o autor refere-se a uma pesquisa que visa

proporcionar maior familiaridade com o problema. Já a pesquisa descritiva tem como

o objetivo descrever, através de técnicas padronizadas, determinada população ou

Page 36: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

21

fenômeno. E, por fim, a pesquisa explicativa consiste em identificar os fatores que

causam determinado fenômeno.

De acordo com os objetivos expostos por Gil (1999), podemos enquadrar a

presente pesquisa como uma pesquisa exploratória - descritiva, pois visa proporcionar

maior familiaridade com o assunto. O foco é descrever as características dos

investimentos e das empresas chinesas que estão no Brasil. Uma explicação do porque

cada uma dessas empresas optou por ingressar no país será apresentada, mas o

pesquisador não possui, e nem busca, condições para explicar o fenômeno como um

todo.

Com relação às fontes de informação, temos as fontes primárias, secundárias e

terciárias (Booth et all, 2008):

Fontes Primárias – É uma fonte que “provê a matéria-prima que você precisa

para testar as suas hipóteses, como documentos, entrevistas”. (Booth et all, 2008);

Fontes Secundárias – É uma fonte proveniente de “relatórios, artigos que se

utilizam de fontes primárias para responder as questões de pesquisa”. (Booth et all,

2008);

Fontes Terciárias – É uma fonte oriunda de “livros e artigos que se utilizam de

fontes secundárias para responder as suas questões de pesquisa”. (Booth et all, 2008):

No caso do presente trabalho, foram utilizadas as três fontes de informação,

primária para confirmar os dados dos investimentos das empresas e realizar os estudos

de caso; secundária e terciárias, pois a captação de dados sobre os investimentos foi

feita levando em consideração notícias que foram escritas baseadas em fontes

primárias; e o presente pesquisador, para realizar a necessária revisão bibliográfica,

lançou mão de livros e artigos.

E com relação ao procedimento técnico utilizado para a pesquisa, podemos

classificar, de acordo com Gil (1999), em: Pesquisa Bibliográfica, a qual é elaborada a

partir de materiais já publicados; Pesquisa Documental, que é elaborada a partir de

documentos internos de organizações sem tratamento analítico; e Pesquisa

Page 37: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

22

Experimental, que é elaborada a partir de variáveis que são controladas para atingir

determinado objetivo.

Soma-se a esse conjunto de procedimentos, os descritos por Yin (2001), a

saber: Levantamento, que consiste na interrogação direta de pessoas através de

questionários; e Estudo de caso, que ocorre quando o pesquisador tem pouco controle

sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos

inseridos em algum contexto da vida real.

Neste projeto diversas técnicas foram utilizadas para atingir o objetivo final: a

pesquisa bibliográfica serviu como base para a revisão bibliográfica e a formulação de

um protocolo de análise dos casos; um levantamento foi feito em busca de confirmar

o volume de investimentos realizados pelas empresas chinesas no Brasil; e por fim,

estudos de caso foram feitos para tratar, com mais precisão, os objetivos, possíveis

trajetórias e impactos dessas empresas no Brasil.

1.10. Visão Geral do Trabalho

A estrutura geral do trabalho é:

Capítulo 1 - Introdução – Esse capítulo visa descrever os objetivos da

pesquisa, qual metodologia foi utilizada para atender a esses objetivos, onde e como

foram pesquisadas as informações para redigir o documento.

Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica – Nesse capitulo apresenta-se a busca

bibliográfica realizada para embasar a analise dos investimentos e do ingresso das

empresas chinesas. Também serão apresentados os critérios para a seleção dos artigos,

os textos selecionados e os principais tópicos de discussão entre os autores.

Capítulo 3 – Modelo Conceitual – Busca-se nesse capítulo entender quais

são os principais conceitos relacionados à internacionalização das empresas chinesas,

assim como seu vínculo com teorias tradicionais (ocidentais) de internacionalização.

O foco será em como esses conceitos poderiam ser utilizados para atingir aos

objetivos da dissertação – descrever e entender a entrada das empresas chinesas no

Brasil.

Page 38: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

23

Capítulo 4 – Método de Trabalho – Esse capítulo possui como objetivo

apresentar o método de trabalho utilizado para estudar as empresas chinesas. Ele

apresentará o framework para o estudo das empresas, assim como as principais fontes

de informação e método de análise. Também será apresentado a lista das empresas

chinesas que realizaram investimentos no Brasil de 1999-2011. A partir da listagem,

será discutido quais empresas seriam interessantes para estudar.

Capítulo 5 – Características dos Investimentos Chineses no Brasil – Nesta

parte do trabalho serão apresentadas às análises referentes aos 60 projetos de

investimentos anunciados por 45 empresas chinesas no período de 1999-2011. O

objetivo é discutir as características dos projetos e verificar se existe algum padrão

associado à entrada do capital chinês no país.

Capítulo 6 – Estudo da Trajetória de Internacionalização das Empresas

Chinesas para o Brasil – Apresentadas as características dos projetos de

investimento, é o momento de nos aprofundarmos no estudo da trajetória de

internacionalização e ingresso no Brasil de algumas empresas chinesas selecionadas a

partir de uma amostra. Frente as dificuldade de acesso aos dados e informações,

decidiu-se pelas empresas Huawei e Chery como foco do estudo.

Capítulo 7 – Conclusões – O último capítulo da dissertação começa com um

balanço do que foi realizado no estudo, consolidando os principais resultados, e parte

para uma série de discussões sobre o ingresso dos investimentos chineses no Brasil,

que vão desde o referêncial teórico existente para a discussão, até a possíveis

impactos do ingresso das empresas chinesas no país..

Page 39: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

24

2. Revisão Bibliográfica

Nesse capítulo será apresentada a revisão bibliográfica realizada para embasar

a analise dos investimentos e do ingresso das empresas chinesas em um determinado

país. Também serão pontuados os principais artigos e livros que tratam sobre o

assunto. Objetiva-se identificar, através da literatura, quais são os principais tópicos

de discussão, e serão abordados no Capítulo 3 – Modelo Conceitual.

O método utilizado para a revisão bibliográfica, em suma, consistiu em:

Determinar as palavras chaves para a busca em periódicos;

Determinar os critérios para a escolha dos artigos e livros;

Identificar se existem clusters de discussão sobre o tema;

Apresentar os principais tópicos de discussão sobre o tema e a visão dos

autores sobre cada tópico;

Apresentar o que é relevante da discussão para caracterizar o conjunto dos

investimentos chineses no Brasil;

Apresentar o que é relevante da discussão para o estudo dos casos das

empresas chinesas que estão ingressando no país.

A busca bibliográfica realizada pode ser encontrada no Apêndice 1 da dissertação.

Este apresenta as palavras chaves para a seleção dos artigos. Isso consiste nos três

primeiros passos apresentados pelo método de revisão.

Antes de entrar na seleção dos artigos e livros, é apropriado apresentar os

principais institutos de pesquisa que publicaram estudos sobre os investimentos

chineses no mundo.

Page 40: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

25

Institutos de Pesquisa

Outra fonte de pesquisa que foi consultada para a realização dessa dissertação

foram os institutos de pesquisa. Foram identificados seis institutos que publicaram

pesquisas sobre os investimentos chineses no mundo, são eles:

CIBUL – Center of International Business – University of Leeds;

Heritage's Asian Studies Center;

CEPAL – Comissão Econômica para América Latina;

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada;

CEM - Center for Emerging Markets Northeaster University;

Asian Society.

O CIBUL é um instituto que faz parte da universidade de Leeds na Inglaterra e

têm como objetivo promover estudos em co-autoria com pesquisadores no mundo

sobre assuntos como: os determinantes e os impactos globais dos investimentos

estrangeiros diretos (IED) e as estratégias de internacionalização de empresas em

países. Têm como coordenador geral o professor Peter Buckley, autor de um dos

principais livros utilizados como referência para esse trabalho, intitulado “Foreign

Direct Investments: China and the world Economy”. Outro estudo relevante do

CIBUL, foi o realizado pelo PhD. Henrich Voss, denominado “The Determinants of

Chinese Outward Direct Investment”.

O Heritage Asian Studies Center é um centro de pesquisa que faz parte do The

Heritage Foundation, que é um instituto de pesquisa liberal americano. O centro para

estudos asiáticos foi o primeiro centro criado dentro do instituto e tem como objetivo

realizar pesquisas que servirão como base para a formulação de novas políticas

liberais. O centro publicou uma pesquisa muito interessante sobre os investimentos

chineses no mundo, que apresenta uma base de dados com os principais investimentos

chineses anunciados no mundo desde 2005.

A Comissão Econômica para América Latina – CEPAL foi criada para

monitorar as políticas direcionadas à promoção do desenvolvimento econômico da

região latino-americana, assessorar as ações encaminhadas para sua promoção e

Page 41: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

26

contribuir para reforçar as relações econômicas dos países da área, tanto entre si como

com as demais nações do mundo. Em 2011, a CEPAL publicou uma pesquisa sobre

os investimentos chineses na América Latina, no qual um capítulo falava sobre o caso

brasileiro.

O foco da pesquisa CEPAL foi à análise dos investimentos e sua distribuição

setorial no Brasil. Já esta dissertação busca analisar outras características dos

investimentos, como exemplo a estrutura de propriedade das empresas. A presente

dissertação também pretende realizar um estudo mais aprofundado sobre as empresas

que estão entrando no país.

O IPEA também lançou uma pesquisa sobre os investimentos chineses no

Brasil. Como já comentado na introdução deste trabalho, a pesquisa do IPEA deve ser

considerada como uma importante iniciativa de um instituto de pesquisa brasileiro em

realizar uma pesquisa sobre esse assunto. No entanto, essa pesquisa não pode ser

utilizada como fonte para esse trabalho, pois suas análises foram baseadas em dados

do MOFCOM.

O Center for Emerging Markets Northeaster University - CEM é um centro

norte americano de pesquisa coordenado pelo professor Ravi Ramamurti, têm como

objetivo realizar pesquisas sobre como as empresas podem alavancar mercados

emergentes de alto crescimento e competir globalmente. Também visa disseminar as

melhores práticas utilizadas por essas empresas para competir no mercado global. O

centro nunca realizou nenhuma pesquisa sobre os investimentos chineses no Brasil.

No entanto, como será visto mais a frente, os textos do professor Ramamurti estão

entre os mais citados sobre a internacionalização das empresas chinesas. Diferente do

grupo do Peter Buckley, que busca estudar os determinantes dos fluxos de

investimentos no mundo, o CEM têm como foco o estudo das empresas, nível de

detalhe que interessa ao presente estudo.

A Asia Society é um instituto americano que têm como objetivo estreitar o

relacionamento e promover o entendimento entre as instituições americanas e

asiáticas. Ele possui um departamento de políticas que busca realizar pesquisas que

podem servir como base para a formulação de novas políticas para o governo

Page 42: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

27

americano. Em 2010 foi publicada uma pesquisa sobre os investimentos chineses nos

EUA.

2.1. Seleção dos Artigos e Livros

Frente ao elevado volume de material disponível sobre o tema em geral, foi

necessário determinar critérios para a seleção dos artigos. Alguns derivaram

diretamente da questão de pesquisa, assim como dos objetivos apresentados para a

dissertação. Outros critérios emergiram da necessidade que o autor teve em aprender

como outros pesquisadores estavam estudando os investimentos chineses no mundo.

Dentre a vasta lista de artigos e livros identificados, foram lidos os títulos e

abstracts e selecionados aqueles que estavam de acordo com o seguinte conjunto de

critérios:

Estudo caracteriza os investimentos em algum país do mundo (modo de

ingresso, distribuição setorial, motivações);

Estudo que mostra alguma base conceitual sobre o estudo dos investimentos e

da internacionalização das empresas chinesas;

Estudo que apresenta os métodos estatísticos para lidar com os investimentos

chineses;

Estudo que apresenta algum framework de análise da internacionalização das

empresas chinesas;

Estudo que apresenta algum processo de internacionalização das empresas

chinesas;

Estudo que discute a extensão da teoria de internacionalização em função das

características apresentadas pelas empresas chinesas.

Como resultado, selecionamos um conjunto de 69 artigos e 11 livros que

serviram como base para a revisão teórica dessa dissertação.

Page 43: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

28

2.2. Os Principais Tópicos de Discussão

Após termos selecionado um conjunto de artigos e livros que foram a base

teórica dessa pesquisa, é necessário identificar quais são os principais tópicos

discutidos pelos autores, e seus pontos de vista sobre o tema em questão.

Para tanto, foi criada uma tabela com o objetivo de classificar os artigos

selecionados. Essa teve como variáveis para a classificação:

Autores

Nome do Artigo

Nome do Periódico

Ano de Publicação

Resumo

Questão de Pesquisa

Objetivos da Pesquisa

Método utilizado pelos Autores

Base Teórica citada

Contribuições do artigo

Resultados

Principal Bibliografia utilizada

Essas variáveis foram preenchidas para cada artigo, e chegamos a um número

de 42 artigos que formam a base teórica da dissertação.

O objetivo por trás da classificação era entender como os autores estudavam o

assunto. Por isso, é importante entender quais são os principais métodos usados por

esses autores, assim como quais são os objetivos e questões de pesquisa abordados

por eles. Tudo isso foi levado em consideração no momento da escolha do método e

dos objetivos para essa pesquisa.

Outro ponto que deve ser ressaltado consiste na “Principal Bibliografia”

utilizada pelos autores. A ideia, aqui, foi chegar a um conjunto de artigos que falam

sobre a teoria de internacionalização das empresas e pontos que são comuns entre os

Page 44: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

29

artigos. Isso é semelhante a responder a questão: “Quem são os principais autores e

artigos que são referenciados entre o conjunto de 42 artigos classificados?”. Através

desse método, denominado de Snowball (bola de neve), foram selecionados um

conjunto de mais 12 artigos que são centrais entre esses autores. Esses referem

principalmente a teoria de internacionalização das empresas e investimentos no

exterior, como os de Johansson e Dunning, que não escrevem diretamente sobre o

China. Seus modelos, o “processo de internacionalização das empresas” e o “OLI

framework”, respectivamente, foram citados em praticamente todos os artigos. Dessa

forma, esses autores e seus modelos serão considerados para a revisão bibliográfica,

mesmo não aparecendo como resposta na busca através de palavras chaves.

Enfim, através da classificação da literatura, chegamos a um conjunto de

quatro clusters de discussões, são eles:

1) Grupo 1: Textos que buscam apresentar as principais características dos

investimentos chineses. O objeto de análise, aqui, é o conjunto de investimentos.

Dados quantitativos servem como entrada para análise e como principal resultado

temos um quadro qualitativo mostrando os determinantes desses investimentos:

Tabela 2 - Textos que discutem as características dos investimentos chineses

Textos que apresentam de forma descritiva as características e determinantes da internacionalização das empresas, através de suas motivações, modo de ingresso, distribuição

geográfica;

Tian e Deng (2007); Ramamurti (2004); Lin (2010); Klossek, Linke e Nipa (2010); Buckley, P.J., Clegg, L.J., Cross, A.R., Liu, X., Voss, H. and Zheng, P. (2007); Ramasamy e Young (2010); Lau, Ngo e Yiu (2010); Cui e Jiang (2009), Luo (2002); Rui e Huaichuan (2008); Sutherland (2009); Knoerich (2010); Cui e Jiang (2010);

Yao e Sutherland (2010); Duysters, Lemmens e Yu (2009); Kaufman (2006); Nolan e Zhang (2010); Klossek, Linke e Nipa (2010); Brown, K (2008); Holland, M; Barbi, F. (2010); Handtke, U (2009); Nicolas, F. (2010); Nicolas, F.; Thomsen, S (2008); Morck, R; Yeung, B; Zhao; M(2008); OECD (2003); Pietrobeli, C; Rabellotti,

R; Sanfilippo, M. (2010); Yusuf, S., Nabeshima, K. (2009); Deng, P. (2004).

Fonte: Autor

2) Grupo 2: Textos que discutem o processo de internacionalização das

empresas chinesas. São artigos que abordam a sequência de etapas que uma empresa

chinesa tende a seguir no seu processo de internacionalização. Esses textos buscam

comparar o processo de internacionalização das empresas chinesas com a Teoria

sobre o processo de internacionalização de empresas desenvolvida por Johanson and

Vahlne 1977. Como principal resultado, temos propostas de processos formulados de

acordo com a trajetória de internacionalização das empresas chinesas:

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30

Tabela 3 - Textos que discutem o processo de internacionalização das empresas chinesas

Textos que discutem o processo de internacionalização das empresas chinesas

Johanson e Vahlne (2006); Zou e Ghauri (2009); Lau, Ngo e Yiu (2010); Liu, Xiao e Huang (2008) ; Sun, Peng e Yan (2010); Zeng, Shen e Tam (2010); Lin (2010); Duysters, Lemmens e Yu (2009) ; Soderman,

Jakobsson e Soler (2008); Bonaglia, Goldstein e Mathews (2007); Wu e Ding (2009); Quer Clever, Rienda (2011); Deng (2009); Tian e Deng (2007)

Fonte: Autor

3) Grupo 3: Textos que abordam algum modelo teórico para o estudo da

internacionalização das empresas chinesas. Esse é um ponto bastante discutido na

literatura sobre o assunto. É possível explicar a extensão a qual uma empresa se

internacionaliza? Como seria um modelo que servisse como base para a descrição da

internacionalização das empresas chinesas? Essas questões são debatidas e autores

propuseram modelos descritivo-explicativos para as empresas chinesas. E também,

discutiram esses modelos frente aos modelos já estabelecidos como o OLI-framework

de John H. Dunning. Como resultado temos um conjunto de proposições distintas que

podem ser utilizadas para o estudo aprofundado da internacionalização das empresas

chinesas:

Tabela 4 - Textos que discutem modelos explicativos para a internacionalização

das emrpesas chinesas

Textos que abordam um framework para o estudo da internacionalização das empresas chinesas

Sun, Peng e Yan (2010); Yaprak e Karademir (2010); Bonaglia, Goldstein e Mathews (2007); Lau, Ngo e Yiu(2010); Mathews (2006); Child, J. and Rodrigues, S.B. (2005); Li (2007); Cardoza e Fornes (2009); Mathews

(2009); Yang, Jiang, Kang(2009); Peng, Wang e Jiang (2008)

Fonte: Autor

4) Grupo 4: Textos que discutem a validade da teoria estabelecida sobre a

internacionalização das empresas. Esses artigos buscam interpretar as opiniões

resultantes dos estudos de empresas chinesas e, através dessas, buscam demonstrar

que a atual base teórica sobre a internacionalização de empresas não é suficiente para

explicar o processo e nem para descrever os casos das empresas chinesas:

Page 46: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

31

Tabela 5 - Textos que discutem as teorias sobre internacionalização das emrpesas frente

ao caso chinês

Textos que buscam uma discussão sobre a expansão da teoria de internacionalização em função das empresas chinesas

Child, J. and Rodrigues, S.B. (2005); Soderman, Jakobsson e Soler (2008); Mathews (2006); Sun, Peng e Yan (2010) ; Sutherland (2009); Li (2007); Lau, Ngo e Yiu (2010); Rui e Huaichuan (2008); Li (2007); Peng, Wang e Jiang (2008); Luo (2002); Athreye e Kapur (2009); Soderman, Jakobsson e Soler (2008); Bonaglia,

Goldstein e Mathews (2007); Liang e Wang (2011); Ramasamy e Young (2010); Huang e Sternquist (2007); Mathews, J.A. (2002) Schuler-Zhou, Y. and Schuller, M. (2009)

Fonte: Autor

Esses quatro clusters de discussão formaram a base da revisão bibliográfica.

Como já mencionado no inicio dessa dissertação, a revisão bibliográfica teve como

objetivo apresentar a discussão teórica sobre o assunto, assim como suportar o método

de pesquisa utilizado pelo autor. E como a natureza desses grupos de discussão está

de acordo com os objetivos dessa dissertação, eles serão utilizados para estrutura a

base do modelo conceitual abordado na pesquisa.

Page 47: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

32

3. Modelo Conceitual para o Estudo das

Empresas Chinesas e seus Investimentos

Esse capítulo visa apresentar o modelo conceitual que será utilizado como

base para o estudo dos investimentos das empresas chinesas no Brasil. O modelo

possui como objetivo responder, através da teoria, aos objetivos da dissertação. A

ideia é expor os pontos de vista dos diversos autores sobre os investimentos e

internacionalização das empresas chinesas. O foco será em responder, através dos

artigos e dos livros, questões como:

Quais são as principais vertentes teóricas que explicariam a

internacionalização das empresas chinesas?

Como os autores estudam os casos de empresas chinesas que investem em

outros países?

Como é o processo de internacionalização das empresas chinesas?

Os artigos selecionados indicam que existem três vertentes para estudarmos as

empresas e seus investimentos: pelas características dos investimentos (Grupo 1); pelo

processo de internacionalização da empresa (Grupo 2); ou, ainda, por modelos

explicativos da internacionalização (Grupo 3).

Figura 3 - Modelo Conceitual para o Estudo das Empresas Chinesas no Brasil

Fonte: Autor

Page 48: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

33

A primeira vertente visa estudar as empresas e seus investimentos através de

um conjunto de características como: objetivo do investimento, modo de ingresso,

distribuição setorial e geográfica. Os estudos das empresas chinesas ainda consideram

as características distintivas como a estrutura de propriedade e indicam levar em

consideração o arranjo institucional chinês para investimentos no exterior.

Já a vertente por processo busca estudar a sequência de etapas trilhadas pelas

empresas para investir no exterior. As firmas, ao investirem no exterior, seguem uma

sequência de etapas que estão diretamente correlacionadas como grau de

comprometimento em recursos no estrangeiro. Essas vão desde a exportação – menor

grau de comprometimento – até ao investimento direto em uma nova operação. Os

estudos indicam que as empresas internacionalizam de forma incremental ou

acelerada.

Por fim, os modelos explicativos buscam, através de um conjunto de variáveis,

entender o porquê uma determinada firma optou por investir em um específico

mercado. Serão apresentados os modelos, tradicionalmente, utilizados para estudar as

empresas, assim como aqueles que surgiram a partir do estudo das empresas chinesas.

Essa dissertação utilizará essas vertentes para montar um quadro descritivo-

explicativo dos investimentos das empresas chinesas no Brasil.

3.1. A internacionalização das Empresas e suas

Bases Teóricas

Antes de começar a estudar a internacionalização das empresas chinesas é

importante apresentar a definição de internacionalização, assim como as principais

teorias a seu respeito.

Dunning (1971) define a internacionalização como a atuação no exterior de

empresas que controlam e operam atividades geradoras de receita. Dunning (1971)

apresenta três iniciativas pelas quais uma empresa pode internacionalizar. São elas:

exportação de produtos, o licenciamento ou o investimento direto.

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34

Johanson e Vahlne (1977) definem internacionalização de uma empresa como

o produto de uma série de decisões incrementais, resultado de um processo de

envolvimento em atividades de negócio no exterior. Essas decisões vão desde a

exportação de produtos para um determinado país, ao investimento em uma unidade

produtiva.

O mesmo conceito é compartilhado por Mathews (2002). Para o autor a

internacionalização pode ser definida como o processo pelo qual a empresa se integra

em atividades econômicas internacionais. Essas atividades podem acontecer do

próprio país da empresa, através de exportações, ou através de investimentos em

atividades de negócio no exterior, como um escritório de representação, uma nova

operação ou um centro de P&D. Fleury et al (2007) também consideram exportações

como uma variável que define a internacionalização de uma empresa.

No entanto, não é isso que encontramos na maioria dos trabalhos selecionados.

Dentre os 42 artigos categorizados, poucos utilizaram dados de exportação para

caracterizar a internacionalização das empresas chinesas. Em geral, os autores

estavam mais preocupados em descrever o processo ou caracterizar o fenômeno de

internacionalização a partir do estudo das empresas chinesas do que definir

estritamente o que está sendo chamado de internacionalização.

Ricupero e Barreto (2007) comentam que a inclusão de empresas sem

investimento direto no exterior entre as consideradas “internacionalizadas” traz à tona

o problema da definição desse fenômeno. Não são raras às vezes nas quais se

confundem internacionalização das empresas com exportação. Os autores ainda

comentam que, para evitar a inclusão de empresas meramente exportadoras entre as

internacionalizadas, deve-se considerar a definição de internacionalização como: “o

processo de concepção do planejamento estratégico e sua respectiva implementação,

para que uma empresa passe a operar em outros países diferentes daquele no qual está

originalmente instalada.”

Tendo como base a exposição feita por Ricupero e Barreto (2007) vamos

adotar o conceito de internacionalização como o comprometimento de uma empresa

em atividades de negócio em um país diferente do seu. Entende-se por atividade de

negócio toda aquela que se utiliza dos recursos da organização com o intuito de gerar

Page 50: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

35

retorno para o negócio. A exportação pode ser um indicativo possível de

internacionalização da empresa, mas o fenômeno ocorre fundamentalmente através de

investimentos.

Com relação às teorias sobre a internacionalização das empresas. Ramamurti

(2009) categoriza os principais conceitos teóricos sobre internacionalização e

investimentos de acordo com duas diretrizes: a origem dos investimentos e o destino

desses investimentos:

Figura 4 - Fonte e Destino de IED

Fonte: Ramamurti (2009)

Célula 2 Célula 1

Célula 3 Célula 4

Page 51: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

36

Ramamurti (2009) comenta que no período pós-Segunda Guerra Mundial, a

maioria do IED do mundo fluiu de uma economia avançada para outra (Célula 1).

Portanto, como as grandes multinacionais pertenciam a países com economia

avançada, muitos pesquisadores se empenharam em estudar os investimentos que

tinham como origem e destino essas economias. Fleury et al (2007) citam as empresas

americanas como Caterpillar, GM e Ford como as principais investidoras no mundo,

nessa época.

Ramamurti (2009) comenta que o fluxo representado pela célula 2 é

provavelmente o mais pesquisado por estudiosos de International Business. A partir

da década de 1970, mais de 20 por cento dos fluxos globais de IED tiveram como

destino países em desenvolvimento.

Nesse contexto, surgiram teorias como a de Hymer (1976) sobre vantagem

monopolista, na qual as multinacionais investem no exterior porque possuem recursos

únicos em termos de tecnologia e tamanho, produtos exclusivos, marcas, patentes e

tecnologias proprietárias, acesso a financiamento e competências de gestão.

Já Raymond Vernon desenvolveu a teoria do ciclo de vida do produto

(Vernon, 1966): as decisões de IED de empresas dos EUA foram uma resposta à

mudança de produção e as condições de concorrência durante o clico de vida de um

produto. Durante a primeira fase do ciclo, quando o produto é novo, as empresas

optam por exportá-lo. No momento em que o produto se torna defasado frente à oferta

da concorrência, as empresas decidem por investir no exterior, por exemplo, dos EUA

para a Europa Ocidental. Finalmente, na fase de maturidade do produto, as empresas

decidem investir em mercados emergentes.

Buckley e Casson (1976), seguidos por Rugman (1981), desenvolveram a

teoria de internalização com base no estudo das empresas multinacionais ocidentais e

na teoria dos custos de transação de Williamson (1975). Os princípios gerais da teoria

de IED, para os autores são:

(1) empresas internalizam mercados externos imperfeitos ou ausentes até que

os custos de internalização superem os benefícios.

Page 52: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

37

(2) as empresas escolhem locais para constituir suas atividades que minimizem

os custos globais de suas operações. A expansão pela internalização dos mercados

significa que as empresas usam dos investimentos para substituir as imperfeições dos

mercados externos. Isso ocorre na troca de produtos e conhecimento, por meio de

exportação e licenciamento. As empresas se apropriam dos lucros de fazê-lo.

Johanson e Vahlne (1977) propuseram um modelo teórico que visa descrever o

processo de internacionalização das empresas. Este é baseado em observações

empíricas de seus estudos em negócios internacionais na Universidade de Uppsala. O

modelo posteriormente veio a ser denominado de modelo Uppsala. Os pesquisadores

mostram, através deste modelo, que as empresas suecas desenvolvem suas operações

internacionais em etapas incrementais, ao invés de fazer grandes investimentos

produtivos no exterior em pontos isolados no tempo. Tipicamente, as empresas

começam a exportar para um país através de um agente, depois estabelecem uma filial

de vendas, e, eventualmente, em alguns casos, iniciam a produção nesse país. Mais

para frente voltaremos à questão do modelo proposto por Johanson e Vahlne (1977),

pois um dos nós centrais de discussão sobre a internacionalização das empresas

chinesas diz respeito ao processo de internacionalização. Autores como Lau, Ngo e

Yiu (2010), Liu, Xiao e Huang (2008), Zou e Ghauri (2009) realizam pesquisas e

demonstraram que as empresas chinesas seguem uma sequência de etapas não

incrementais.

Mas nenhum modelo teórico é tão referenciado entre os textos de International

Business como o paradigma eclético ou OLI framework desenvolvido por Dunning

(1981).

Dunning (1981) buscou responder três questões: "Por que as empresas

investem no exterior? ',' Onde é que as empresas localizam suas operações?" E "o que

determina a quantidade e a composição da produção internacional?”. Todas essas

questões apresentam similaridades, mas elas não são idênticas.

Dunning (1981) respondeu o primeiro ponto através das vantagens especificas

de propriedade da empresa. Essas consistem em até que ponto as empresas possuem,

ou podem acessar, bens ou direitos que as empresas estrangeiras não possuem ou não

podem ter acesso, pelo menos em condições tão favoráveis. Estes ativos são

Page 53: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

38

chamados de vantagens de propriedade específica (ownership advantage), na medida

em que são assumidos como exclusivos para a empresa que os detém.

Já para a questão da localização, Dunning (1981) comenta que o segundo fator

determinante da produção internacional baseia-se na medida em que as empresas

acham que é rentável localizar parte das instalações de sua produção fora de seu país

de origem; isso vai depender das vantagens específicas apresentadas pela localização.

Isto é, vantagens que não são transferíveis ou móveis através das fronteiras, em

comparação com um país estrangeiro.

E, como terceiro determinante, Dunning (1981) comenta o caso de empresas

que possuem ativos e sentem a necessidade de trazer para sua governança os ativos

em outro país. As empresas percebem que é do seu interesse a aquisição dos direitos

dos ativos ou vender este direito para empresas localizadas em outros países.

Vantagens da internalização refletem a eficiência percebida pelas hierarquias, em

comparação com os mecanismos de mercado.

Voltando a Figura 4, apresentada por Ramamurti (2009), percebemos que

todas as teorias que visam explicar a internacionalização das empresas e seus

investimentos foram desenvolvidas através de estudos que tinham como objetivo

estudar os fluxos de investimentos de grandes empresas pertencentes a economia

avançadas com o objetivo de investir em economias em desenvolvimento. Ramamurti

(2009) comenta que as células 3 e 4, respectivamente, os investimentos entre países

em desenvolvimento e investimentos de países em desenvolvimento em países

desenvolvidos, tornaram-se o foco dos estudos, somente a partir do final dos anos

1990 e a primeira década do século XXI. Assim, ainda existe muito espaço para o

desenvolvimento de teorias (e modelos) que possuam como objeto de estudo esses

fluxos.

Page 54: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

39

3.2. Características da Internacionalização das

Empresas Chinesas

A primeira vertente de estudo identificada na literatura é composta por textos

que discutem as características dos investimentos chineses. São artigos que buscam

teorizar através do estudo empírico de casos quais seriam: os objetivos do

investimento e o modo de ingresso dos investimentos. Esses também alertam sobre as

características distintivas das empresas chinesas e o arranjo institucional chinês para

investimentos no exterior.

3.2.1. Características distintivas das empresas

chinesas que realizam investimentos no exterior

As empresas chinesas não podem ser estudadas como empresas americanas e

suecas. É importante apresentar as características que distinguem essas empresas das

empresas do mundo ocidental.

Buckley et al (2010) apresentam três características que diferenciam as

empresas chinesas em termos de investimentos no exterior. São elas:

As imperfeições de mercado de capitais que essas empresas encontram na

China;

A natureza de propriedade das empresas multinacionais chinesas;

Os fatores institucionais que influenciam o IED chinês.

Buckley et al (2010) comentam que tais imperfeições podem significar que o

capital está disponível em taxas abaixo de mercado por um período considerável de

tempo. Isso cria um desequilíbrio no mercado de capitais no qual investidores

externos podem explorar. Os autores ainda argumentam que essas imperfeições são

relacionadas as empresas chinesas, como exemplo:

(I) Empresas de propriedade do Estado poderão ter o capital disponível em

taxas abaixo do mercado;

(II) Os sistemas bancários ineficientes podem fazer empréstimos em condições

favoráveis aos potenciais investidores externos;

Page 55: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

40

(III) Empresas de um conglomerado podem operar um mercado de capitais

interno ineficiente que efetivamente subsidia IED (por exemplo, Liu, de 2006, sobre o

conglomerado diversificado chinês, Haier);

(IV) Empresas familiares podem ter acesso a capital barato dos membros da

família.

Buckley et al (2010) afirmam que as imperfeições do mercado de capitais

favorecem as empresas chinesas a investirem na busca por recursos naturais

(tipicamente em setores de energia e matérias-primas) e em ativos estratégico. E

argumentam que as empresas multinacionais da China possuem uma natureza de

propriedade, usualmente híbrida, que lhes permite ter vantagens ao operar no exterior.

Castro et al (2011) afirmam que a maioria das empresas chinesas que possuem

investimentos no exterior são SOEs (State-Owned Enterprises), especificamente

Central State-Owned Enterprises – Central SOE. As Central-SOE representam um

conjunto de 120 grandes corporações que estão sob a supervisão direta do governo

central. Essa supervisão é feita pela Stated-Owned Assets Supervision and

Administration Commission (SASAC), que consiste em uma instituição com status de

ministério, autorizada pelo Conselho de Estado a assumir as responsabilidades de

investidor do patrimônio estatal através das Central-SOE. Além disso, o governo

chinês faz uma distinção dentre essas 120 empresas, selecionando um conjunto de 23

empresas por vezes referidas pelo próprio governo chinês como “a Espinha Dorsal da

China”. Em levantamento feito por Deng (2009) temos que as empresas estatais

figuram entre as primeiras dentre as mais internacionalizadas da China.

Como terceira característica, Buckley et al (2010) comentam que o tecido

institucional de uma economia emergente pode determinar a capacidade de suas

empresas nacionais para investir no exterior. Uma política clara, e, de certa forma,

liberal com IED, vai incentivá-lo, enquanto uma política discricionária pode fazer o

oposto.

Há um conjunto emergente de trabalhos teóricos que diz respeito à visão

institucional da estratégia (North, 1990; Peng, 2001). Buckley et al (2010) acreditam

que essa discussão tem potencial para ajudar a explicar a distinção no contexto

Page 56: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

41

externo das empresas chinesas e que influênciam sua decisão de investir. O impulso

básico desta contribuição é que a estratégia das empresas também é conformada pelo

ambiente institucional (mais coloquialmente "as regras do jogo"). Este é formal e

informalmente imposto pelo governo e seus agentes, e incide sobre normas e

cognições, influenciando, também, as decisões sobre os investimentos no exterior.

Peng (2002) afirma que altos níveis de apoio do governo, normalmente sob a

forma de acesso privilegiado a matérias-primas, capital de baixo custo (discutido

acima), subsídios e outros benefícios, ajudam as empresas a compensarem as

desvantagens propriedade e localização.

Por outro lado, Buckley et al (2010) argumentam que esses investidores,

muitas vezes, encontram procedimentos altamente burocráticos para a aprovação de

IED com o governo. Isso, combinado com as ferramentas de política discriminatória

contra certas indústrias e formas de propriedade, distorcem os fluxos de IED. Em tais

casos, o IED realizado, é por vias informais ou ilegais.

Ramamurti (2009) adverte para a falta de experiência que as empresas

chinesas possuem sobre como investir no exterior. Pois, enquanto as empresas

multinacionais de países desenvolvidos vêm se internacionalizando não mais de 40

anos, o salto no volume de IED chinês ocorreu somente a partir de 2004. O autor

comenta de questões como: a familiaridade com os procedimentos estrangeiros para

investir no exterior; a falta de marcas para atuar em outros mercados, a falta de

competências gerenciais para atuar frente à operação no exterior.

Page 57: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

42

3.2.2. Arranjo institucional para IED da China

Uma análise sobre os investimentos chineses no mundo é incompleta se não

levar em consideração as principais instituições e políticas do governo que

influenciam o comportamento das empresas.

Instituições e suas responsabilidades sobre IED

Primeiramente será apresentado o conjunto de instituições do governo chinês

que compõem o corpo regulatório e aprovativo para investimentos no exterior. Voss

(2011) identificou sete instituições que são relevantes para a discussão de IED na

China, são elas:

State Council

PBOC MOFCOM NDRC SASACSAFE

Firmas Chinesas

Figura 5 Quadro Institucional Chinês sobre IED

Fonte: Autor baseado em Voss (2011)

O Conselho de Estado é o órgão executivo do governo chinês, liderado pelo

premier. Tem como função supervisionar ministérios e organizações especiais que

lidam com investimentos na China. O Conselho também formula as leis e

regulamentações que devem ser aprovadas pelo congresso chinês e pelo Comite

permanente do Partido Comunista Chinês (PCC). O Conselho tem como objetivo para

IED, definir as principais políticas e objetivos de longo prazo para os investimentos

chineses no mundo.

O State Administration for Foreign Exchange (SAFE) foi criado e equipado

com tarefas administrativas relativas ao uso e fluxo de divisas em 1979. A formação

do SAFE foi uma iniciativa do governo chinês para consolidar essas funções de

Page 58: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

43

controle de câmbio, antes dispersas entre vários ministérios. A instituição exerce três

funções relativas ao IED chinês:

Realizar um relatório sobre o balanço de pagamentos para o Conselho de

Estado e o Fundo Monetário Internacional;

Recomendar políticas de câmbio para o People´s Bank of China;

Supervisionar a transferência de câmbio.

O Ministério do Comércio (MOFCOM) foi estabelecido em 2003 através de

uma fusão entre o ministério de comércio internacional com algumas funções que

estavam sobre a governança do National Development Reform Comission e do State

Economic Trade Commission. As principais responsabilidades do MOFCOM sobre

IED são:

Sugerir políticas de investimentos chineses no exterior para o Conselho de

Estado;

Implementar políticas e regulamentações para os projetos de investimentos

serem aprovados;

Supervisionar os projetos de investimentos chineses no mundo;

Representar a China na Organização Mundial do Comércio, assim como atuar

em negociações bilaterais e multilaterais sobre comércio e investimentos.

Essas funções possibilitam ao MOFCOM influenciar direta e indiretamente os

investimentos chineses no mundo.

O People´s Bank of China (POBC) foi estabelecido em 1983 e está sob a

supervisão direta do Conselho de Estado. O POBC é responsável pelo conjunto de

políticas e regras que interagem com as organizações financeiras internacionais como

o Banco Mundial. Também supervisiona e gerencia as reservas de câmbio, assim

como regula os serviços financeiros na China, possibilitando o acesso a recursos

financeiros para as empresas. O Banco também possui a função de aprovar os projetos

de IED dos bancos chineses.

O National Development Reform Commission (NDRC) é o ator central no

governo chinês para projetar, regular e coordenar o desenvolvimento econômico e

industrial da China. Uma das principais funções do NDRC é desenvolver estratégias,

Page 59: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

44

objetivos e políticas para os investimentos chineses no mundo. Como parte de seu

papel, o NDRC formula diretrizes para o acesso a crédito para empresas chinesas

financiarem sua internacionalização. E em conjunto com MOFCOM, o NDRC publica

um guia para investimentos chineses no exterior, classificando os países com os quais

o governo forneceria apoio às empresas para internacionalizarem. O NDRC também é

responsável pela aprovação dos projetos de investimentos no exterior, principalmente

de grandes projetos que buscam recursos naturais.

Por fim, a já comentada State Asset Supervision Administration Commission

(SASAC) é responsável por aprovar e coordenar as iniciativas de investimento no

exterior de todas as 120 Central SOE´s sob a sua supervisão.

Voss (2011) comenta ainda que essas responsabilidades expostas para cada um

dos atores governamentais nem sempre são cumpridas. Existem conflitos de interesse

entre as instituições que acabam sobrepondo as decisões que deveriam ser tomadas

por outro agente governamental.

O autor ainda descreve o que seria o modelo de relacionamento entre essas

instituições. Cada projeto de investimento deve passar pela aprovação de uma série de

instituições. E os principais atores políticos são o Conselho de Estado, o MOFCOM, o

NDRC e a SASAC. Apesar do processo ter mudado por diversas vezes nos últimos

anos o procedimento básico se mantém inalterado.

Vale destacar que o SAFE possui um papel operacional, inicialmente, a

empresa aplica seu projeto de investimento para o SAFE com o intuito de conseguir

uso de divisas no exterior. Esse passo é necessário porque o SAFE é responsável pela

administração de conversão de remessas, e monitoramento da troca de repatriação de

divisas e dos lucros de investimento. Ele não figura de forma ativa no processo de

decisao sobre o investimento da empresa no estrangeiro.

Outro ponto que é relevante ser mencionado e que não aparece no texto de

Voss (2011), mas sim no de Li (2009) diz respeito as características do projeto de

investimento. De acordo com diferentes características como: propriedade da

empresa, destino do investimento, objetivo e valor do projeto, diferentes instituições

serão responsáveis pela aprovação.

Page 60: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

45

Através das informações obtidas pelo texto de Voss (2011) e Li (2009)

podemos chegar à seguinte matriz de responsabilidades pela aprovação dos projetos

de investimentos em função de suas características:

Page 61: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

46

Propriedade da Empresa Destino do Investimento Objetivo do Investimento Valor do Projeto State Council NDRC MOFCOM SASAC

> US$ 200

milhõesX X X

30 < X < US$ 200

milhõesX X X

< US$ 30 milhões X X

> US$ 50 milhões X X X

10 < X < US$ 50

milhõesX X X

< US$ 10 milhões X X

> US$ 200

milhõesX X X X

30 < X < US$ 200

milhõesX X X X

< US$ 30 milhões X X X X

> US$ 50 milhões X X X X

10 < X < US$ 50

milhõesX X X X

< US$ 10 milhões X X X X

> US$ 200

milhõesX X X

30 < X < US$ 200

milhõesX X X

< US$ 30 milhões X X

> US$ 50 milhões X X X

10 < X < US$ 50

milhõesX X X

< US$ 10 milhões X X

> US$ 200

milhõesX X

30 < X < US$ 200

milhõesX X

< US$ 30 milhões X

> US$ 50 milhões X X

10 < X < US$ 50

milhõesX X

< US$ 10 milhões X

> US$ 200

milhõesX X X

30 < X < US$ 200

milhõesX X X

< US$ 30 milhões X X X

> US$ 50 milhões X X X

10 < X < US$ 50

milhõesX X X

< US$ 10 milhões X X X

> US$ 200

milhõesX X

30 < X < US$ 200

milhõesX X

< US$ 30 milhões X

> US$ 50 milhões X X

10 < X < US$ 50

milhõesX X

< US$ 10 milhões X

Responsável pela Aprovação

Emp

resa

s so

b a

su

per

visã

o d

o g

ove

rno

cen

tral

Países considerados críticos pelo

governo (Japão, EUA, Iraque…)

Países que a China não possui

vínculo diplomático

Qualquer outro país destino

Busca recursos naturais

Não busca recursos

naturais

Busca recursos naturais

Não busca recursos

naturais

Busca recursos naturais

Não busca recursos

naturais

Qualquer outro país destino

Qu

alq

uer

ou

tro

tip

o d

e p

rop

ried

ade

Características do Projeto de Investimento

Não busca recursos

naturais

Países considerados críticos pelo

governo (Japão, EUA, Iraque…)

Busca recursos naturais

Não busca recursos

naturais

Países que a China não possui

vínculo diplomático

Busca recursos naturais

Não busca recursos

naturais

Busca recursos naturais

Figura 6 - Matriz de Responsabilidade pela Aprovação do IED Chinês

Fonte: Autor baseado em Voss(2011), Li(2009), MOFCOM (2006)

Page 62: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

47

Por fim, vale uma crítica ao conjunto de artigos selecionados. Esses, em sua

maioria, comentam da importância do arranjo institucional chinês para a promoção e

aprovação dos projetos de investimento no exterior. No entanto, somente o texto de

Voss (2011) e Li (2009) buscam entender o papel e as responsabilidades exercidas por

essas instituições. Isso indica que o tema ainda possui pontos cegos, como exemplo, o

papel das instituições regionais nesse jogo de aprovações. E principalmente, o papel

das relações informais como o guanxi3 dentro desse contexto.

A Política “Go Global”

O governo chinês lançou oficialmente no décimo plano qüinqüenal em 2001, a

política denominada de “zou chu qu”, que apesar de não significar a tradução, ficou

conhecida como Go Global Policy. De acordo com Child e Rodrigues (2005), essa

política tinha como objetivo encorajar as empresas chinesas a internacionalizarem,

com o objetivo de fortalecerem os seus fatores de competitividade e, com esse

processo, auxiliarem a reestruturação econômica e o desenvolvimento da China.

A política de Go Global, para o presente autor, deve ser entendida como um

conjunto de reformas realizadas pelo governo central que habilitaram o arranjo de

instituições a incentivarem e suportarem a internacionalização das empresas chinesas.

Todos os papéis e responsabilidades exercidas pelo MOFCOM, NDRC, SASAC sobre

investimentos estrangeiros no exterior, foram, de certa forma, definidos através de um

conjunto de medidas tomadas pelo governo central. Voss (2011: 78-81) lista um

conjunto de 25 regulamentações que conformam o que hoje temos como mecanismos

característicos do arranjo institucional subjacente ao Go Global Policy.

Outro ponto que deve ser destacado, é a freqüência de atualização dessas

medidas, ao entrar no site chinês dessas instituições, é possível encontrar novas

3 Chen e Chen (2004), guanxi pode ser definido como uma relação informal, interpessoal, particular

entre indivíduos que seguem um implícito contrato psicológico de comprometimento entre si, tendo assim um

grau de obrigação de um para com o outro.

Page 63: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

48

medidas tomadas a favor da Go Global Policy. Isso indica que apesar da política ter

sido lançada há mais de dez anos, não é recomendável estudar sua primeira versão.4

Voss (2011) também ressalta que o ano de 2001 foi o mesmo no qual a China

se afiliou a OMC. Para o autor, a Go Global Policy foi uma resposta do governo

chinês para as necessidades de se adequar ao novo contexto de competição

apresentado pela filiação a OMC. A entrada na OMC forçou as empresas chinesas a

avançarem o seu processo de catch-up e a Go Global Policy serviu como instrumento

do governo para configurar o processo de suporte as iniciativas empresariais.

Um ponto opaco sobre a política consiste nas medidas tomadas pelo governo

para incentivar as empresas chinesas. O que se encontra nos textos é referente as

conseqüências desse tipo de política, como o aumento no volume de IED chinês no

mundo. Do qual um indicativo percebido é a internacionalização de mais de 30 mil

empresas até o ano de 2005 (MOFCOM, 2007).

Algumas medidas que podem ser elencadas, mas, no entanto, não representam

a complexidade do ambiente criado por essa política, são:

Criação de um arranjo institucional para a aprovação dos projetos de

investimento (Voss, 2011);

Criação do Commercial Bank and the Export- Import Bank of China (China

Eximbank) para fornecer empréstimos de médio e longo prazo para as

empresas internacionalizarem;

Criação de Agências de Apoio a Investimentos no exterior (MOFCOM, 2007);

Formulação e revisão de catálogos que indicam setores e localidades para

investimentos no exterior (MOFCOM, 2007);

Formação do Guidance for Granting Loans to Support the Overseas

Processing of the Investor‟s Raw Materials and Assembling Operations (Li,

2009);

Aumento do crédito para as empresas internacionalizarem (Mathews, 2007);

4 Para maiores detalhes sobre novas medidas sobre a Go Global Policy, acesse:

www.zcq.mofcom.gov.cn. Esse site é o site oficial da política e concentra todas as informações sobre

novas medidas tomadas pelo governo.

Page 64: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

49

Redução das tarifas cobradas para a remessa de capital para o exterior (Li,

2009).

No período posterior a 2001, especificamente em 2004, é que percebemos o

avanço do IED chinês no mundo. Essa pode ser vista como a principal conseqüência

dessa série de medidas tomadas pelo governo para apoiar a ida das empresas.

3.2.3. Motivações dos investimentos chineses

O modelo teórico desenvolvido por Dunning (1977) teve como objetivo

explicar as motivações pelas quais as empresas se internacionalizavam. Para tanto, o

pesquisador realizou um levantamento com um conjunto de empresas americanas que

haviam investido na Europa. Como resultado chegou a três grupos de motivações que

explicariam o ingresso no mercado europeu: Busca por Mercados (Market-Seeking),

Busca por Recursos (Resource-Seeking) e a Busca por Eficiência (Efficiency-Seeking).

A tipologia criada por Dunning (1977), de certa forma, é auto-explicativa, mas

vale ressaltar quais seriam os principais determinantes para a decisão de investir dadas

essas motivações.

Os principais determinantes para a busca de mercado são: o tamanho do

mercado interno do país destino dos investimentos; o crescimento desse mercado; o

acesso através desse mercado a outros mercados regionais - exemplo montar uma

fábrica no Brasil com o intuito de vender para a América Latina; o nível de exigência

dos consumidores do país destino dos investimentos.

A busca por recursos têm como determinantes: a existência de recursos

naturais no país destino dos investimentos; a estabilidade dos preços dos recursos

naturais no exterior; assegurar o fornecimento de recursos naturais; o custo da mão de

obra no país destino; a infraestrutura física presente no país destino; ter acesso a

recursos específicos que os competidores podem não conseguir obter.

E por fim, a busca por eficiência é movida por questões como: economias de

escopo, através da presença de clusters no país destino; novamente a infraestrutura

para escoar a produção; incentivos a produção local; baixo custo da mão de obra; a

existência de outras empresas pertencentes à cadeia de valor, economias da integração

Page 65: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

50

vertical e da diversificação horizontal da cadeia; especialização regional em processos

de produção.

De acordo com Dunning (1977) essas três motivações levam em consideração

uma empresa multinacional possuidora de uma vantagem competitiva que será

explorada no país destino do investimento. Isso significa dizer que não existe

motivação para entrar em um país com o objetivo de superar uma desvantagem

competitiva - caso da busca por um ativo estratégico, seja tecnologia ou capacitações

específicas.

No entanto, Dunning (1993), em função as mudanças geradas pela revolução

da TI e da intensificação do fenômeno de globalização, observa um conjunto de

investimentos de países emergentes que tinham como objetivo a busca por ativos

estratégicos (Strategic-Asset-Seeking). As empresas de países emergentes não se

comportavam como as empresas de economias desenvolvidas. Elas internacionalizam

com o intuito de superar uma desvantagem competitiva (CHILD e RODRIGUES,

2005). Essa mudança de comportamento dos investimentos ameaça o estabeleci

modelos estabelecidos sobre a internacionalização das empresas. Isso será discutido

mais adiante nessa dissertação.

Como principais determinantes para a busca por ativos estratégicos, temos: a

existência de institutos de pesquisa e parques tecnológicos no país destino; o incentivo

ao desenvolvimento de novas tecnologias; a existência de zonas especiais de

desenvolvimento tecnológico - onde é possível ter sinergia entre empresas e institutos

de pesquisa.

Com relação à literatura sobre investimentos chineses no mundo, encontramos

artigos que discutem três dessas motivações: a busca por recursos naturais, a busca

por ativos estratégicos e a busca por mercado. Em função do elevado nível de

competitividade que a China apresenta, não foram encontrados artigos que

apresentassem investimentos chineses em outros países buscando maior eficiência de

produção.

Page 66: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

51

Busca por Recursos Naturais

Como não dispõe internamente da diversidade e do volume necessário de

recursos naturais para manter suas taxas de crescimento, a China vem consolidando,

há alguns anos, uma base internacional de fornecimento de matérias-primas, a partir

da Austrália e de países da África.

Tian e Deng (2007) realizaram um estudo empírico sobre as empresas chinesas

que fazem parte das 500 maiores empresas listadas na Fortune. E verificaram que a

maioria das grandes multinacionais chinesas são empresas Central-SOE que buscam

por recursos naturais.

Como pode ser visto na Tabela 6, nos últimos anos, os chineses anunciaram

investimentos de quase US$ 30 bilhões somente na África:

Tabela 6- Investimentos Chineses na África

Ano Mês InvestidorUS$

MillionParticipação Parceiro Setor Subsetor País

2005 FevereiroChina Railway

Construction$350 Transporte Ferrovia Angola

2005 Março CNPC $390 Energia Algeria

2006 Janeiro CNOOC $2.270 45% Energia Nigeria

2006 Março Sinopec $730 75% Energia Petróleo Angola

2006 Maio

CITIC and China

Railways

Construction

$6.200 Transporte Rodovia Algeria

2007 SetembroShenzen Energy

Investment$140 Power Ghana

2008 Maio Datang $330 Power Hidro Cambodia

2008 JunhoChina National Heavy

Machinery$540 Power Hidro Cambodia

2008 Junho Michelle Corp. $500 Power Hidro Cambodia

2008 JulhoChina Harbor

Engineering$1.000 Transporte Rodovia Nigeria

2008 Setembro Sinohydro $400 Power Hidro Zambia

2008 Novembro Shenzhen Energy $2.400 First Bank Power Gas Nigeria

2009 JunhoChina Railway

Construction$2.570 Ozgun Transporte Ferrovia Algeria

2009 Outubro CCECC $850 Transporte Ferrovia Nigeria

2010 Janeiro Huadian $560 Power Cambodia

2010 Março Sinohydro $800 Power Hidro Cameroon

2010 Julho

China State

Construction

Engineering

$8.000Nigeria National

PetroleumEnergia Petróleo Nigeria

Fonte: Autor com base em Heritage Foundation (2010)

Brown (2008) discute que além da busca por recursos naturais, os

investimentos possuem um modelo de operação diferente do encontrado em outros

países. As Central-SOE replicam nos países da África o seu modelo de operação na

Page 67: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

52

China - junto aos investimentos também vêm um grande números de chineses que vão

trabalhar nesses projetos.

Já o caso da Austrália é diferente. Apesar de também existir a busca por

recursos naturais, o país possui um arranjo institucional que não permite aos chineses

replicar esse modelo de operação no país (LAURENCESON, 2007).

A Tabela 7 apresenta a busca por garantir e assegurar a suprimento de carvão

para a China como o principal objetivo os investimentos na Austrália, seguido por

Petróleo e Gás:

Tabela 7 - Investimentos chineses na Austrália

Ano Mês InvestidorUS$

MillionParticipação Parceiro Setor Subsetor

2007 Julho CITIC $100 8,0% Macarthur Coal Energia Carvão

2008 Março Sinopec $560 60% AED Energia Petróleo

2008 Agosto Shenhua $260 Energia Carvão

2009 MaioChina

Metallurgical $1.540

Palmer's

MineralologyEnergia Carvão

2009 MaioChina

Metallurgical $520 10%

Palmer’s

Mineralogy Energia Carvão

2009 Agosto Yanzhou Coal $2.950 Felix Resources Energia Carvão

2010 Março PetroChina 1.580 Arrow Energy Energia Gas

2010 Abril CNOOC $180 Chevron Energia Gas

2010 Abril CNOOC $270 5% BG Energia Gas

2010 Julho China $550 Loscam Transporte Shipping

2010 NovembroGuangdong

Rising Asset

Management

$400 Caledon Energia Carvão

Fonte: Autor com base em Heritage Foundation (2010)

É interessante ver que tanto no continente africano, como na Austrália é nítida

a presença de investimentos para garantir recursos naturais, com determinantes como

fugir da instabilidade dos preços dos recursos naturais no exterior e assegurar o

fornecimento dos mesmos.

Busca por Ativos Estratégicos

Outro ponto bastante discutido entre os artigos consiste na busca por ativos

estratégicos. Rui e Haichuan (2007) sugerem que as empresas chinesas realizam

aquisições no exterior com o intuito de superar as suas desvantagens competitivas,

mirando ativos estratégicos de outras empresas ou possibilidades de melhorar os seus

ativos. Rui e Jiang (2010) realizaram uma survey com 138 empresas chinesas e

chegaram empírica e estatisticamente a mesma conclusão de Rui e Haichuan (2007).

Page 68: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

53

Sutherland (2009) expõe um argumento muito similar ao de Rui e Haichuan

(2007). No entanto, o autor chama a atenção para a contribuição das empresas de

capital hibrido ou privado (grandes grupos de negócio) como atores desses

investimentos.

O ponto levantado por Sutherland é interessante, pois contrasta com os

investimentos que tem como objetivo a busca por recursos naturais. Os investimentos

que buscam ativos estratégicos, não têm como principal ator as grandes empresas

multinacionais chinesas - as Central SOE. São investimentos feitos por empresas de

capital hibrido ou privado que possuem maior restrição de recursos e dificuldades

para atuar, até mesmo, no mercado chinês.

Knoerich (2010) examina os investimentos chineses em aquisições na

Alemanha. O autor traz à tona a questão do catch-up realizado pelas empresas. Os

investimentos chineses que buscam ativos estratégicos no exterior fazem parte do

processo de catch-up tecnológico das empresas chinesas.

Knoerich (2010) apresenta um esquema das aquisições chinesas na Alemanha,

que pode ser visto a figura abaixo:

Figura 7 - Relacionamento estratégico entre as empresas chinesas e alemãs

Fonte: Knoerich (2010)

Para o autor as empresas alemãs podem se beneficiar do dinheiro ofertado

pelas empresas chinesas para desenvolver projetos de inovação tecnológica. Enquanto

o parceiro chinês se beneficia das competências adquiridas através da aquisição.

Infelizmente o autor não esclarece a questão sobre o direito de propriedade dessa

Page 69: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

54

tecnologia desenvolvida pela empresa alemã após sua aquisição. E nem se o parceiro

chinês possui acesso ao seu desenvolvimento. A leitura de Knoerich (2010) apresenta

um tipo de relacionamento entre um parceiro chinês e uma empresa alemã que seja do

tipo “ganha-ganha”.

A Tabela 8 não apresenta todos os projetos já realizados por empresas

chinesas com o objetivo de buscar ativos estratégicos. No entanto, ressalta outra

característica interesse desse tipo de investimento. Os países destino desses

investimentos consistem em economias desenvolvidas. De acordo com o mapa-fluxo

de investimentos de Ramamurti (2009), esses casos estariam alocados na célula 3 -

investimentos cujo país de origem é uma economia em desenvolvimento, enquanto o

destino é uma economia desenvolvida.

Tabela 8 - Investimentos Chineses na Europa e nos EUA

Ano Mês InvestidorUS$

MillionParticipação Parceiro Setor País

2006 January ChemChina $480 Adisseo Agricultura France

2006 October Jiangxi Copper $110 75% bcMetals Metals Canada

2007 SeptemberSany Heavy

Industry$150 USA

2008 March China Life $260 1% Visa Finance USA

2008 June

China National

Cereals, Oils and

Foodstuffs

$140 5% Smithfield Foods Agricultura USA

2008 SeptemberSany Heavy

Industry$140 Alemanha

2009 NovemberBeijing West

Industries$100 Delphi Transportes USA

2009 November Great Wall Motor $120 Litex Motors Transportes Bulgaria

2009 December BAIC $200 Saab Transportes USA

2010 March Geely Auto 1.800 Ford Transportes Suécia

Fonte: Autor com base em Heritage Foundation (2010)

Como para os pesquisadores de International Business, esse é um novo tipo de

objeto de estudo, outros artigos também tratam dessa temática, mesmo que não

diretamente. Duysters (2009) adota o caso da Haier, empresa de eletrodomésticos

chinesa e sua rede de alianças tecnológicas e aquisições. Zeng e Williamson (2007)

realizam o mesmo para uma série de casos de empresas chinesas, onde a aquisição de

ativos estratégicos no exterior faz parte da estratégia de inovação em custo

identificada pelos autores. Temos também Rui e Yip (2008) que comentam sobre

aquisição da IBM-Thinkpad pela Lenovo e sobre a complementaridade dos recursos

de ambas as empresas.

Page 70: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

55

Busca por Mercado Externo

Essa parte tem como objetivo apresentar os pontos de vista dos autores sobre a

busca por mercado externo como motivação para a internacionalização das empresas

chinesas.

Na survey realizada por Rui e Jiang (2010) com 138 empresas chinesas um dos

resultados obtidos foi que as empresas que buscam mercado no exterior costumam

ingressar através de subsidiárias e possuem uma vantagem competitiva a ser

explorada nesse mercado.

O que é distintivo para o caso chinês, consiste na localização dos mercados

que essas empresas optam por entrar. Zeng e Williamson (2007), Mathews (2007) e

Duysters (2009) comentam da internacionalização para mercados periféricos. Os

autores chegam separadamente à conclusão que as empresas optam por entrar em

mercados com características semelhantes às da China.

Isso está totalmente de acordo com a teoria do processo de internacionalização

das empresas de Johanson e Vahlne (1977), na qual os autores, em 1977, afirmam que

as empresas buscam internacionalizar primeiramente para mercados com

características similares aos do país de origem.

Temos um conjunto de empresas chinesas que estão de acordo com as teorias

propostas sobre IED. No entanto, outra característica interessante dessas iniciativas

consiste nos países cujo fluxo ocorre. Aqui temos o caso da célula 4 do mapa-fluxo de

Ramamurti (2009). É um investimento feito entre duas economias em

desenvolvimento.

Isso implica em um conceito muito forte, que acrescenta um ponto na teoria, e

foi claramente exposto, pelo professor Barros de Castro em uma conferência

internacional no Instituto de Economia da UFRJ, em 2009.

Os investimentos chineses em países em desenvolvimento criam uma ruptura

nos mercados de consumo em diversos países. Isso ocorre, pois os produtos chineses

são ofertados a um preço que habilita o consumo em regiões do mundo em que nem

mesmo as ofertas dos países desenvolvidos eram capazes de atender. Isso acontece,

Page 71: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

56

por exemplo, com o caso de carros - com Chery e Geely ou de eletro-eletrônicos com

a Haier e a TCL.

Um último ponto que deve ser considerado, sobre a busca por mercados, é o

de Voss (2011). Ao buscar os determinantes dos investimentos chineses no exterior,

Voss (2011) verificou que os investimentos chineses são mais tolerantes aos riscos

políticos que um país apresenta. A decisão da empresa chinesa não seria alterada em

função do ambiente político existente no país destino do investimento. Isso também

faz com que os chineses tenham acesso a mercados que não são explorados por

empresas de países desenvolvidos.

3.2.4. O modo de ingresso das empresas chinesas

De acordo com OECD (2003), tradicionalmente distinguem-se três diferentes

modos de entrada de investimentos em um país:

a) Fusões & Aquisições – compra total ou parcial de empresas situadas no país

por um investidor estrangeiro,

b) Greenfield – construção de instalações totalmente novas no país de destino

por um investidor estrangeiro, que tem o controle total da construção e operação dos

ativos.

c) Joint Ventures – parcerias estratégicas entre empresas, que envolvem

participação acionária das mesmas na criação de uma nova empresa com uma

finalidade específica

O principal estudo sobre o modo de entrada das empresas chinesas consiste no

artigo do Child e Rodrigues (2005). Com relação a fusões e aquisições os autores

comentam que o número de aquisições por parte de empresas chinesas subiu

exponencialmente nos últimos anos. Para os autores, esse é o principal modo de

entrada. Child e Rodrigues (2005) afirmam que o quadro de aquisições de empresas

chinesas é bastante diversificado. Existem aquisições realizadas por grandes empresas

estatais que buscam recursos naturais, assim como, por empresas com capital híbrido

em busca por tecnologia.

Page 72: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

57

Os autores colocam a busca por ativos estratégicos como a motivação

dominante para as aquisições chinesas. Através das aquisições, os chineses

conseguem acesso a tecnologia e capacitações já presentes na empresa adquirida.

Além disso, os chineses também se beneficiam da marca que essas empresas

possuem. Bell (2008) trata exatamente sobre essa questão das marcas e o principal

caso estudado é o da Lenovo com a IBM.

Luo (2002) realizou uma pesquisa para verificar se o desempenho das

empresas chinesas melhora em função da aquisição de capacitações e tecnologia. O

autor chegou a conclusão que atributos do parceiro internacional como capacitações,

participação de mercado, modelo de gestão da empresa, e reputação organizacional

são positivamente relacionados com o aumento da performance da empresa chinesa.

No entanto, Child e Rodrigues (2005) alertam para os riscos existentes na falta

de complementaridade entre as empresas. Pois a cultura gerencial dos chineses é

consideravelmente diferente das empresas adquiridas, assim como as metas

estratégicas das empresas chinesas. Por exemplo, Liu Chuanzhi escreveu, em 2007,

um artigo sobre a compra da IBM pela Lenovo, no qual ele é afirma que enquanto a

IBM trabalhava com uma margem de lucro de 24%, a Lenovo possuía uma margem

de 14%.

Klossek, Linke e Nipa (2010) afirmam que as empresas chinesas que optam

por entrar em mercados através de aquisições conseguem mitigar as desvantagens de

serem estrangeiras mais rapidamente. Nesses casos, os chineses utilizam da reputação,

rede de contatos, e operação já formulada pela empresa comprada. Os autores

contrastam esta com a entrada por greenfield, na qual a empresa ainda precisará

montar toda uma rede de fornecimento, operação e marca no novo país.

Com relação à entrada por greenfield, Child e Rodrigues (2005) afirmam que

esse tipo de escolha é feita quando a empresa pretende utilizar suas vantagens em

termos de diferenciação para um novo mercado. Por exemplo, a capacidade de se

adaptar às necessidades do mercado local. No entanto, a entrada via greenfield força a

empresa a enfrentar uma séria de desvantagens por ser estrangeiro, como o acesso a

canais de distribuição e o conhecimento da marca, alem de diferenças culturais.

Page 73: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

58

Child e Rodrigues (2005) argumentam que as empresas chinesas devem

enfrentar essas dificuldades logo no momento de ingresso no mercado. Por estar

presente como uma empresa local em um mercado crítico e competitivo, o ingresso

via greenfield fortalece as capacitações das empresas. Essas são obrigadas a

desenvolver capacitações que serão oportunas para o ingresso em outros mercados.

Pelo o que foi visto nos artigos selecionados, as empresas chinesas costumam

também se expandir através de Joint-Ventures. Child e Rodrigues (2005) comentam

que o modo de ingresso via joint-ventures no exterior é um tipo de estratégia adotada

pelas empresas chinesas que começam a atuar como Original Equipment

Manufacturing (OEM). Mesmo se tratando de uma operação que é realizada na China,

os autores defendem que essa é uma maneira efetiva de transferir capacitações para a

empresa chinesa que posteriormente serão utilizadas para explorar o mercado externo.

Duysters (2009) e Nicolas (2010) comentam de joint-ventures feitas por

empresas chinesas com empresas americanas e européias para o desenvolvimento

tecnológico. No entanto, os autores utilizam o termo joint-venture diferente da

definição exposta pelo OECD (2003). Eles não comentam sobre a nova empresa

formada, o que existe são alianças estratégicas para o desenvolvimento tecnológico. O

mesmo é reportado por Luo (2005) no estudo da internacionalização do setor

automotivo chinês.

3.2.5. Síntese sobre as características dos

investimentos

Pelo o que foi visto na discussão sobre as características dos investimentos

chineses, chegamos à conclusão de que é muito importante distinguir o que é o objeto

de análise. Muitas vezes os autores generalizam em função de estudos empíricos de

empresas chinesas internacionalizadas. No entanto, eles não distinguem o objeto de

estudo. E pelo que pode ser visto através dos artigos, existem, pelo menos, três lógicas

dominantes de internacionalização das empresas chinesas:

Page 74: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

59

Estrutura de

PropriedadeMotivação

Modo de

EntradaLocalização

Lógica 1 CENTRAL SOEsResource-

Seeking

Greenfield/

M&A

Africa/Oceania/América

do Sul

Lógica 2

SOE/Empresas

de Capital

Híbrido

Strategic

Asset-

seeking

M&A/JV Europa/EUA

Lógica 3

SOE/Empresas

de Capital

Híbrido

Marketing-

seekingGreenfield

Leste Europeu/América

Latina

Figura 8 – Lógicas de Internacionalização das Empresas Chinesas

Fonte: Autor a partir da revisão da bibliografia comentada sobre o assunto

A primeira consiste em grandes empresas estatais, que se internacionalizam

para assegurar as necessidades de fornecimento de recursos naturais para a China.

Elas atuam como uma extensão dos interesses nacionais. O principal modo de

ingresso é por greenfield ou aquisições e tem como foco países que possuem esses

recursos.

Já a segunda lógica é composta por empresas estatais não centrais ou empresas

de capital híbrido, cujo processo de produção requer avanços sistêmicos de tecnologia

que a China, até agora, ainda não possui capacidade de desenvolver sozinha. Essas

empresas têm como motivação a busca por ativos estratégicos e optam por

desenvolvê-los através de joint-ventures e da aquisição de empresas no exterior,

principalmente, européias e norte-americanas.

Por fim, existem as empresas estatais não centrais ou empresas de capital

híbrido, que utilizam de suas vantagens de preço para ofertar produtos em mercados

com características semelhantes aos chineses, como o leste europeu e os países da

América Latina.

Essas lógicas de comportamento servirão como base para a escolha dos casos

que serão estudados nessa dissertação. Seria interessante trabalhar um caso de acordo

com cada uma delas, principalmente com relação a Lógica 2, que como já explicado,

possui maior potencial para a revisão das teorias tradicionais sobre a

internacionalização das empresas.

Page 75: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

60

3.3. Processo de Internacionalização das Empresas

Chinesas

O processo de internacionalização de empresas pode ser incremental ou

acelerado. Zou e Ghauri (2009) afirmam que a pesquisa sobre o processo de

internacionalização de empresas de países desenvolvidos já foi muito explorada, essas

seguem uma sequência de etapas incrementais para entrar em um mercado.

Recentemente, os artigos discutem um processo acelerado de internacionalização, no

qual a empresa se compromete com recursos sem possuir muito conhecimento sobre o

mercado. Esse grupo de estudos que trata da internacionalização de empresas de

países em desenvolvimento, especificamente da China.

3.3.1. O Processo de internacionalização de empresas

– O modelo de Uppsala

Dentre os 14 artigos selecionados que tratam da internacionalização das

empresas chinesas, todos, sem exceção, consideram o artigo: “The

internationalization process of the firm – a model of knowledge development and

increasing foreign market commitment”, publicado no Journal of International

Business Studies, em 1977.

Os autores desse artigo, Jan Johanson e Jan-Erik Vahlne, vinculados a

Universidade de Uppsala, realizaram uma série de estudos com observações empíricas

sobre o processo de internacionalização das empresas suecas. Como resultado, os

autores perceberam que existia uma sequência incremental de comprometimento das

operações das empresas no exterior. Isso significa dizer que a empresa se

internacionaliza através de pequenos passos e não opta por investir diretamente em

um mercado que não conhece.

Os autores demonstram que as firmas, primeiramente, começam a exportar

para um mercado via algum agente; depois estabelecem uma subsidiária de vendas e,

mais à frente, optam por investir em uma operação local.

Page 76: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

61

Johanson e Vahlne (1977) também observaram que existia uma relação entre a

distância psíquica entre o país origem e destino do investimento, e o grau de

comprometimento em recursos da empresa no projeto.

A distância psíquica pode ser definida como a soma de fatores que impedem o

fluxo de informações “de” e “para” o mercado. Exemplos disso são as diferenças de

língua, educação, práticas de negócios, cultura e desenvolvimento industrial.

Já o grau de comprometimento em recursos pode ser entendido como o

modelo de operação que a empresa escolhe para atuar no país estrangeiro. Esse pode

possuir um baixo grau de comprometimento em recursos (a empresa exporta ou

licencia o seu produto) ou um elevado grau, no qual a empresa realiza joint-ventures,

fusões e aquisições, ou investimento direto em uma nova operação.

Isso significa dizer que as empresas optam por um elevado grau de

comprometimento em países que possuem características semelhantes as suas

(exemplo: investir em uma nova fábrica). Por outro lado, em países com

características distintas, as empresas decidem por conhecer melhor o mercado, antes

de investir em uma operação própria (exemplo: exportam ou licenciam seus

produtos).

O resultado desse processo de internacionalização é o acumulo de

conhecimento das empresas em diferentes mercados. Isso habilita as empresas a

aumentarem o seu grau de comprometimento em recursos, onde a empresa deixa de

exportar para investir diretamente. Como já mencionado, consiste em um processo

incremental, cujas variáveis de decisão são pautadas no conhecimento adquirido no

mercado, seguida do comprometimento em recursos na operação.

Page 77: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

62

Figura 9 - Modelo Uppsala Fonte: Johanson e Vahlne (1977)

Johanson e Vahlne (2006) comentam que, mesmo depois de 25 anos, o modelo

Uppsala ainda serve como referencia teórica para explicar o processo de

internacionalização de empresas.

No entanto, Voss (2011) levanta uma série de críticas ao processo.

Primeiramente, o autor considera que o modelo foi criado com base em empresas que

buscam mercados para seus produtos e excluí o comportamento de empresas que

buscam recursos naturais ou ativos estratégicos. Para o autor, as empresas que buscam

recursos naturais têm de investir no local em que esses recursos estão disponíveis,

independente da distância psíquica. O mesmo se aplica para os ativos estratégicos.

Outro ponto consiste na falta de variáveis explicativas para o modelo. Não fica claro

quais são as motivações para a decisão de comprometimento, assim como, também é

opaca a influência de fatores internos e externos a empresa na escolha da operação.

Um último ponto, está relacionado ao fato de que o modelo não considera a atuação

em redes de contato entre as equipes gerenciais, o que diminuiria os riscos

relacionados à distância psíquica.

3.3.2. Processo acelerado de internacionalização das

empresas – O caso das empresas chinesas

Existe um conjunto de artigos que buscam caracterizar o processo de

internacionalização das empresas chinesas.

Alguns textos indicam que a empresas chinesas seguem o modelo Uppsala.

Lau, Ngo e Yiu (2010) afirmam que no primeiro estágio da política Go Global as

empresas chinesas ainda se sentiam inseguras para se comprometer com recursos no

exterior, e a exportação foi a opção escolhida por elas. Zou e Ghauri (2009) explicam

Comprometimento com o mercado

Atividades

Decisões de Comprometimento

Conhecimento do Mercado

Page 78: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

63

que as empresas chinesas High-Tech também internacionalizam de acordo com o

modelo Uppsala.

No entanto, em sua maioria os textos buscam argumentar que o modelo de

internacionalização das empresas chinesas segue um padrão completamente diferente

do tradicional. Esses autores clamam que as empresas chinesas realizam um salto

(leapfrog) nos estágios apresentados pelo modelo Uppsala.

O ponto central do argumento deles é que as empresas chinesas não seguem a

sequência de etapas incrementais do modelo de Johanson e Vahlne (1977). As

empresas chinesas mesmo não possuindo conhecimento sobre um determinado

mercado se comprometem com recursos que visam mitigar as suas desvantagens

competitivas.

Esse ponto é claramente visto em Liu, Xiao e Huang (2008), que realizaram 16

estudos de caso com empresas privadas chinesas. Os autores verificaram que essas,

escolhiam como modo de ingresso fusões e aquisições, ou joint-ventures no exterior,

mesmo antes de exportarem para esse mercado. Isso era feito com o intuito de

adquirir ativos estratégicos que elas não possuíam. O mesmo tipo de conclusão é

compartilhada pelos artigos de Zeng, Shen e Tam (2010) também ao estudarem as

empresas privadas e Sun, Peng e Yan (2010) que estudaram empresas de capital

híbrido.

Outros textos como o de Quer, Clever e Rienda (2011) contrastam o modelo

Uppsala com o caso das grandes estatais chinesas que buscam recursos naturais. Os

autores argumentam que a sequência de estágios do modelo não é seguida por essas

empresas, pois elas investem na localização em que esses recursos estão disponíveis.

Assim como os investimentos dessas empresas não são sensiveis a falta de

conhecimento sobre o mercado, e até mesmo aos riscos politicos presentes nesses

mercados.

No entanto, Lin (2010) argumenta que as grandes estatais chinesas que

buscam por recursos naturais seguem, sim, a sequência de estágio do modelo Uppsala.

Essas inicialmente importam os recursos naturais de determinado mercado e, então, só

depois optam por investir em uma operação para extrair esses recursos. O autor ainda

Page 79: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

64

comenta que o investimento direto é a melhor maneira de assegurar o fornecimento de

recursos naturais para a empresa.

Como pode ser visto, esse ainda é um assunto não consolidado pela literatura,

pois algumas visões são conflitantes entre si. Sob essa perspectiva, Kan (2009) tenta

realizar uma síntese sobre essa questão. O autor comenta que, em 2005, mais de 30

mil empresas chinesas já possuíam algum tipo de operação no exterior. Ele realizou

uma pesquisa com 16 grandes empresas chinesas, pertencentes a oito setores da

economia, e que internacionalizaram no período de 2000-2007. O objetivo da

pesquisa consistiu em verificar como foi o processo de internacionalização das

empresas.

Kan (2009) chegou à conclusão de que o processo de internacionalização das

empresas chinesas segue três diferentes trajetórias. E que duas variáveis são

relevantes para explicar esse fenômeno: a existência de uma vantagem competitiva de

propriedade da empresa e o grau de abertura da economia chinesa no momento em

que essa empresa decidiu por internacionalizar.

Figura 10 - Processo de Internacionalização das Empresas Chinesas

Fonte: Kan (2009)

Page 80: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

65

Para o autor, um conjunto de empresas segue o que ele denominou de

“Transitional Path”. Essas empresas foram criadas no momento em que a economia

chinesa estava fechada e conseguiram aproveitar de um mercado doméstico protegido

antes de investirem no exterior. Quando a economia chinesa começou a passar por

reformas, essas empresas já eram consideravelmente grandes e haviam acumulado um

conjunto significativo de recursos. O autor cita o caso de empresas como a Shougang

(indústria do aço), a CNPC e a CNOOC (indústria de óleo e gás). Isso significa que

temos empresas com um conjunto vantagens que podem ser exploradas no exterior. É

mais provável que essas empresas tenham aderência ao modelo de Uppsala.

Como segunda trajetória, temos o conjunto de empresas que seguem o modelo

de Uppsala. São empresas que cresceram constantemente durante a fase de abertura

da economia chinesa, independente da competição estrangeira que elas enfrentaram.

Essas empresas começaram a internacionalizarem de maneira gradual e buscam

explorar suas vantagens no exterior, principalmente relativas a custo. O autor cita

empresas como a Haier, Huawei, Hinsense, TCL.

E por fim, existe um conjunto de empresas que seguem uma trajetória

acelerada. Essas empresas foram criadas durante o período de abertura da economia

chinesa e vêm disputando recursos e mercados desde o momento de sua criação. Para

tanto, essas empresas, quase que imediatamente, optaram por internacionalizarem

com o intuito de aprimorar suas vantagens competitivas. O autor cita o caso da

Shanghai Electric.

3.3.3. Síntese sobre o processo de internacionalização

das empresas chinesas

O texto de Kan (2009) não aborda todos os pontos específicos sobre o

processo de internacionalização das empresas chinesas, mas foi o primeiro a chamar a

atenção para o fato que as empresas chinesas optam por diferentes processos. Para

tanto o autor utilizou dois critérios de classificação das empresas.

Essa idéia de restringir o objeto de estudo em função da classificação das

empresas antes de verificar como é o seu processo será aproveitada para essa

dissertação. Como já mencionado na Figura 8 (repetida da página 59), foram

Page 81: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

66

identificados três padrões de conjunto de características da internacionalização das

empresas chinesas:

Estrutura de

PropriedadeMotivação

Modo de

EntradaLocalização

Lógica 1 CENTRAL SOEsResource-

Seeking

Greenfield/

M&A

Africa/Oceania/América

do Sul

Lógica 2

SOE/Empresas

de Capital

Híbrido

Strategic

Asset-

seeking

M&A/JV Europa/EUA

Lógica 3

SOE/Empresas

de Capital

Híbrido

Marketing-

seekingGreenfield

Leste Europeu/América

Latina

Figura 8 – Lógicas de Internacionalização das Empresas Chinesas

Fonte: Autor (repetida da pagina 59)

É provável que cada um dessas lógicas siga um tipo de processo diferente. Isso

será verificado de acordo com os casos estudados nessa pesquisa. No entanto, dados

os textos apresentados, podemos elaborar o que aconteceria para cada um dos casos.

Como já visto nos textos, a Lógica 1 pode seguir o modelo, sendo o caso da

empresa já importar o recurso de determinado mercado e optar por assegurar esse

fornecimento através de investimento. Ou por outro lado, a Lógica 1 pode não seguir

o processo tradicional, pois as grandes empresas estatais devem investir na localidade

na qual o recurso natural estiver disponível, independente do risco político ou da

distância psíquica.

A Lógica 2 também apresenta possibilidades de avançar em função do modelo

Uppsala. Neste caso, as empresas seguiriam um modelo acelerado de

internacionalização. Isso seria feito para buscar recursos e capacitações que objetivam

mitigar as desvantagens competitivas dessas empresas.

E por fim, é esperado que a terceira lógica siga o modelo Uppsala. Aqui, as

empresas avançam primeiramente para mercados que possuem caracteristicas

similares ao mercado chinês. Estando assim, de acordo com as premissas da distância

psíquica.

Page 82: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

67

3.4. Modelos Explicativos da Internacionalização

das Empresas Chinesas

Um dos principais objetivos dessa dissertação consiste em descrever e tentar

explicar o ingresso de empresas chinesas no Brasil. Dessa forma, faz-se necessário o

estudo dos modelos explicativos da internacionalização das empresas chinesas. Uma

série de modelos foi criada com o intuito de explicar a extensão da atuação

internacional das empresas chinesas. E todos eles entram em contraste com o modelo

tradicional, desenvolvido por Dunning (1977) – OLI Framework.

Para tanto, essa parte da dissertação irá expor os fundamentos do OLI

Framework, assim como apresentar e discutir os principais modelos explicativos que

surgiram a partir da internacionalização das empresas chinesas.

3.4.1. Modelo tradicional – OLI Framework

Em 1977, John H. Dunning defendeu a sua tese de Ph.D que tinha como

objetivo explicar as razões que levam as firmas americanas a investirem no Reino

Unido.

Naquele momento, existiam três correntes teóricas que buscavam explicar o

ingresso de empresas em um mercado estrangeiro. Dunning (1977) denominou essas

correntes como: Teoria da Organização Industrial e da discussão baseada em recursos

da firma; Teoria de Localização; e por fim, Teoria de Internalização.

A primeira corrente teórica referencia os trabalhos de Hymer (1976) e Penrose

(1959). E tem como base argumentar que uma empresa internacional precisa possuir

um conjunto de recursos que lhe possibilite superar as desvantagens de competir

contra empresas locais. Os competidores domésticos possuem maiores informações

sobre o mercado, então a empresa estrangeira precisa contar com vantagens internas

provenientes de seus recursos.

A segunda é baseada nos trabalhos de Vernon (1966) e Kindleberger (1969).

Esses trabalhos chamam à atenção para firmas de países desenvolvidos que optam por

investir em países em desenvolvimento, onde existem vantagens de localização como:

baixo custo de mão de obra, recursos em abundância, incentivos dos governos locais.

Page 83: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

68

As empresas estrangeiras utilizam dessas vantagens para alavancar sua oferta nesses

mercados.

O que Dunning (1977) chama de teoria de internalização, é também conhecido

como a teoria dos custos de transação, baseada nos trabalhos de Coase (1937) e,

principalmente, Williamson (1975). Consiste na capacidade da firma em

“internalizar” atividades que seriam conduzidas através de relações de mercado. A

decisão de investir em uma atividade no mercado externo é tomada em função dos

custos para realizar essa atividade pela empresa em comparação com os custos de

outsource essa atividade para um fornecedor estrangeiro.

Dunning (1977) argumenta que cada uma dessas teorias não seria suficiente

para explicar a atuação de uma firma no exterior. E que devemos entendê-las como

teorias complementares, que formam uma abordagem eclética para a discussão da

internacionalização das firmas.

O paradigma eclético, como ficou conhecido, consiste em um modelo

explicativo (framework) da atividade de uma firma no exterior. Ele postula que, em

um determinado momento, o estoque de ativos internacionais de uma firma é

explicado por três categorias de variáveis: vantagens de propriedade de uma empresa

estrangeira em comparação as empresas nacionais (Ownership Advantages);

vantagens oferecidas pela localização que determinados países oferecem para firmas

estrangeiras (Locational Advantages); e as vantagens provenientes da firma decidir

por internalizar os recursos existentes nesses mercados (Internalization Advantages).

O paradigma sugere que a configuração dessas vantagens de propriedade,

localização e internalização (OLI), variam de acordo com o país, a natureza da

atividade no exterior (exportar, licenciar, investir) e características da firma. O autor

ainda propõe uma heurística para decidir sobre qual tipo de atividade deve ser

escolhida, de acordo, com o conjunto de vantagens que a empresa possui ou encontra

em determinado mercado.

Page 84: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

69

Investimento

Estrangeiro

Direto

SIM SIM SIM

Licenciamento SIM SIM NÃO

Exportação SIM NÃO NÃO

Localização

Ro

ta p

ara

serv

ir u

m m

erca

do

Vantagens Propriedade Internalização

Figura 11 - Rotas para servir um mercado externo

Fonte: Dunning (1977)

Vantagens de propriedade (O) foram originalmente concebidas como aquelas

que derivam de "posse exclusiva ou privilegiada de acesso a ativos", são os recursos e

capacitações da empresa. Como exemplo, temos: sistema de gestão, modelo de

gestão, inovações em produtos e processos, gestão dos processos, competências

organizacionais, organização do trabalho (DUNNING, 1979).

As vantagens de localização (L) podem ser entendidas como: existência de

recursos naturais no mercado, preço dos insumos, custo da mão de obra, qualidade da

mão de obra disponível, barreiras aduaneiras, impostos. Aqui também entram

questões relacionadas ao conceito de distância psíquica, como: língua, educação,

práticas de negócios, cultura (DUNNING, 1979).

As vantagens de internalização (I) leva em consideração: Incerteza do

comprador (sobre a natureza e valor dos insumos, por exemplo, tecnologia). Quando o

mercado não permite discriminação de preços. Necessidade de vendedor para proteger

a qualidade de produtos intermediários ou finais, para compensar a ausência de

mercados futuros, para evitar ou explorar a intervenção do governo (quotas, tarifas,

controles de preços, diferenças de impostos, etc) (DUNNING, 1979).

Page 85: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

70

O paradigma eclético de Dunning foi revisado seis vezes após sua primeira

versão em 1977. Em Dunning (1979) o autor buscou consolidar o OLI framework,

através da inclusão de variáveis para cada uma dessas categorias de vantagens.

Já em Dunning (1981) o autor estava preocupado em entender o nível de

agregação do das variáveis explicativas. Nesse artigo o autor discute que o conjunto

de vantagens do OLI podem tanto pertencer ao nível da firma, da indústria ou do

país.

Em Dunning (1988) o autor adotou uma perspectiva interdisciplinar para o

OLI-framework, ele incorporou variáveis de outros campos de estudo, como:

finanças, leis, políticas, ciências regionais, marketing, gestão.

Já em Dunning (1993) o autor deu atenção às variáveis que emergem da

discussão de estratégia de negócios. Essa revisão foi baseada nos textos de Porter

(1985) e Porter (1990), que discutem variáveis que conformam a atuação de uma

empresa em uma indústria (cinco forças) e em um ambiente nacional (diamante).

Essas foram incluídas como variáveis de localização.

Em sua revisão de 1995, Dunning (1995) buscou alinhar o seu modelo as

novas regras do capitalismo global. O autor argumentava que o mundo entrara em

uma era do “Alliance Capitalism”, em que a tecnologia da informação servia como

driver para o estreitamento das relações. Então, questões como a atuação em redes

deveriam ser incorporadas ao modelo OLI.

Por fim, em sua última revisão em 2006, Dunning (2006) estava preocupado

com a emergência de empresas de países em desenvolvimento, que possuíam forte

apoio de suas instituições nacionais para internacionalizarem. Ele incluiu no modelo

várias relativas às instituições formais (legislações, regulamentações, o papel das

instituições) e informas (código de conduta, cultura de negócios, normas sociais,

relações baseadas em confiança), mecanismos de enforcement/empowerment formais

(penalidades, sanções por não cumprimento de contratos, ou da legislação trabalhista)

e informais (persuasão moral). E por fim, disfunções instituicionais, como práticas

desonestas, corrupção, falta de transparência das instituições.

Page 86: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

71

Todas essas revisões, assim como seu conjunto de variáveis, podem ser

encontradas no Apêndice 2.

3.4.2. Modelos explicativos da internacionalização

das empresas chinesas

Mathews (2002) comenta que Dunning ao longo do tempo tentou adaptar o

seu modelo para novos contextos internacionais, como: o caso de novas fusões e

aquisições, o surgimento de parcerias internacionais, e até mesmo as empresas

emergentes de países em desenvolvimento.

No entanto, o autor considera que o modelo proposto por Dunning é falho para

explicar o movimento das empresas emergentes, principalmente das chinesas. Isso

ocorre, pois, o OLI-framework considera, por definição, que a empresa possui uma

vantagem competitiva que será explorada no mercado externo – seja ela de

propriedade (O), localização (L) ou internalização (I). E esse não é o caso das

empresas emergentes que, mesmo não possuidoras de recursos, decidem pela

internacionalização como uma forma de superar as suas desvantagens competitivas.

Como já mencionado, a partir de Dunning (1993), a busca por ativos

estratégicos é considerada como uma motivação para o investimento no exterior. No

entanto, não existe um rebatimento no modelo OLI para essa motivação.

Isso abre espaço para o argumento de Mathews (2002) que também é

compartilhado por uma série de autores, como Child e Rodrigues (2005), Bonaglia,

Goldstein e Mathews (2007), Li (2007), Yaprak e Karademir (2010), Cardoza e

Fornes (2009), Voss (2011).

A partir dessa constatação, alguns modelos explicativos foram desenvolvidos

com o intuito de explicar o movimento de internacionalização de empresas de países

emergentes, principalmente, chinesas.

Yang, Jiang, Kang(2009) desenvolveram um modelo que integrava a visão

baseada em recursos, visão da indústria e visão institucional da estratégia. Os autores

argumentaram que para entender o processo de internacionalização das empresas

chinesas faz-se necessário o estudo dessas três vertentes teóricas. No entanto, os

Page 87: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

72

autores não apresentaram o modelo com o conjunto de variáveis que poderiam ser

utilizadas para explicar esse fenômeno. O que torna seu uso não aplicável a casos.

O mesmo ocorre com o modelo de Sun, Peng e Yan (2010). Os autores

buscaram entender quais eram os determinantes das fusões e aquisições das empresas

chinesas e indianas. Como resultado, chegaram a um conjunto de características das

fusões e aquisições das empresas que denominaram de modelo explicativo.

Frente esse cenário, essa dissertação destaca dois modelos explicativos, que

estão presentes nos textos de Mathews (2002) e Voss (2011), anteriormente

mencionados, e que serão aqui analisados.

O Modelo LLL

Mathews (2002) começa seu artigo discutindo que uma empresa emergente,

como a chinesa, é um objeto de estudo diferente das empresas americanas e suecas

que serviram como base para a formação do modelo de Dunning. Mathews (2002)

classificou as empresas de países emergentes como “Latecomers” (LCF) e buscou

defini-las como:

Entrada da indústria: A LCF é um entrante atrasado para uma indústria, não

por escolha, mas por necessidade histórica;

Recursos: A LCF possui inicialmente poucos recursos, por exemplo, falta de

tecnologia e acesso a mercados;

Intenção estratégica: A LCF é focada em catch-up como seu principal

objetivo;

Posição competitiva: A LCF tem algumas vantagens competitivas iniciais, tais

como baixo custo, que pode utilizar para alavancar uma posição na indústria

de escolha.

O autor propôs um modelo, denominado LLL (Linkage, Leverage, Learning)

que serviria como base para explicar a internacionalização dessas empresas:

Linkage diz respeito às vantagens que as empresas podem conseguir em um

mundo globalizado, como acesso a recursos que elas não conseguiram no seu lugar de

Page 88: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

73

origem. O autor cita o exemplo de empresas chinesas que realizaram parcerias com

empresas taiwanesas para obter tecnologia.

Leverage está relacionado a parcerias que as empresas chinesas realizaram

com empresas multinacionais para melhorar o nível e o rendimento dos recursos que

foram adquiridos através do Linkage.

Learning consiste no aprendizado organizacional através da repetição de

diversas relações de Linkage e de Leverage. As empresas aprendem a desenvolver

novos produtos e serviços mais rapidamente depois de ter adquirido conhecimento nas

relações para aquisição de recursos (Linkage) e melhoria do nível desses recursos

(Leverage).

O autor ainda afirma as LCF utilizam um conjunto de critérios para escolher

seus recursos de fonte externa, que são:

Recursos menos raros;

Mais imitáveis, ou seja, mais facilmente imitado (por meio de engenharia

reversa, por exemplo);

Mais transferíveis, ou seja, mais facilmente transferido como conhecimento

técnico explícito (disponível através de consultores) ou no mercado aberto, na

forma de equipamentos especializados.

Esses critérios fornecem um quadro para a caracterização da estratégia da LCF

de acordo com o modelo LLL. A LCF possui como meta alavancar os recursos que

são os menos raros, mais imitáveis e transferíveis.

Mathews (2006) buscou comparar o seu modelo explicativo com o

desenvolvido por Dunning, e chegou ao seguinte quadro:

Page 89: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

74

Tabela 9 - Comparação entre o Modelo OLI e LLL

Critério OLI LLL

Utilização dos recursos Recursos própriosRecursos acessados através do linkage

com firmas estrangeiras

Escopo Geográfico

Localização estabelecida como

parte da integração vertical da

empresa

Localização aproveitado como parte da

rede internacional

Comprar ou fazer?Viés para operações internalizadas

através das fronteiras nacionais

Viés para operações criadas através de

ligações externas

Aprendizado Não faz parte do frameworkAprendizado obtido através da repetição

de linkages e leverages

Processo de

InternacionalizaçãoNão faz parte do framework

Processo incremental através de

linkages

Organização Não faz parte do frameworkBusca a integração global como uma

vantagem

Driving Paradigm Economia dos Custos de transação Captura das vantagens do latecomer

Time frameComparações estáticas entre dois

momentos do tempo

Processo cumulativo de

desenvolvimento

Comparação entre o OLI framework e o LLL

Fonte: Mathews(2006)

O autor não comenta esse quadro em seu artigo, o que deixa muitas dúvidas,

mas aproveitando essa comparação, seria possível elaborar uma resposta para cada um

desses critérios.

Com relação ao primeiro critério “utilização de recursos”, Mathews (2006)

parece estar equivocado quanto à utilização de recursos próprios da empresa no

modelo de Dunning. Tanto que, Dunning (2006) escreveu uma resposta seu artigo de

Mathews, comentando que já havia incorporado questões como a busca por ativos

estratégicos em seu modelo.

O mesmo ocorre para o ponto de “escopo geográfico”. Dunning (1993) discute

o capitalismo de aliança, ressaltando a importância da formação de redes e alianças

estratégicas. Como pode ser visto no Anexo 2, existem variáveis no OLI framework

que possuem essas características.

No critério “Comprar ou Fazer” não fica claro o que Mathews pretende

discutir. Esse ponto foi incluído na primeira versão do OLI framework, e é muito

Page 90: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

75

difícil entender se existe ou não um viés para a internalização. O que Dunning

apresenta é um conjunto de variáveis que serviriam como base para a empresa decidir

se vale mais a pena “Comprar ou Fazer”.

Já os critérios de “Aprendizado”, “Processo de Internacionalização” e

“Organização”, realmente não são contemplados no OLI. E também não é claro se

deveriam ser, dado que o propósito do modelo OLI é apresentar um conjunto de

variáveis para explicar o porquê uma empresa decidiu operar em um mercado

estrangeiro.

Com relação ao “Driving Paradigm”, Dunning (1977) deixa claro que o OLI

framework ou, como também chamado, o Paradigma Eclético consistia na

complementaridade de três abordagens teóricas: a economia dos custos de transação,

teoria de localização e a teoria organizacional e da firma. O nome eclético foi,

justamente, colocado em função dessas três vertentes distintas.

Por fim, o critério “Time frame”, consiste em uma das maiores críticas ao

modelo de Dunning. O OLI framework é um modelo estático (VOSS, 2011). No

entanto, Dunning, em 1981, escreveu o artigo: “Explaining the international direct

investment position of countries: Towards a dynamic or developmental approach”.

Neste, o autor busca explicar que a configuração das variáveis OLI em um

determinado tempo T+1 é função das variáveis no tempo T. Dessa forma, a

comparação dinâmica ocorre através da evolução, em dois momentos do tempo, do

contexto político, econômico e social que influenciam as variáveis OLI. Ainda

existem muitos pontos opacos sobre essa abordagem. É possível que essas críticas ao

modelo OLI compartilhem dessa opinião, dado que, diversos textos (MATHEWS,

2002, 2006; VOSS 2011; BUCKLEY et al 2010), posteriores a 1981, continuam a

criticar a falta de dinamicidade do modelo.

Lau, Ngo e Yiu (2010) consideram que o modelo LLL e OLI seriam modelos

complementares, dado que o modelo LLL chama a atenção para a questão da busca e

melhoria de recursos pelos “Latecomers”, ponto que já foi considerado por Dunning

(1993).

Page 91: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

76

No entanto, pelo que observamos através da comparação, percebemos que é

difícil traçar um paralelo entre os modelos. O modelo LLL fornece uma descrição do

que seria um processo, ou as principais etapas de desenvolvimento internacional, de

uma empresa emergente. Por outro lado, o modelo OLI busca apresentar um conjunto

de variáveis que ajudariam a entender o porquê uma determinada firma decidiu

investir em um mercado externo. Dessa forma, é mais viável, utilizarmos o modelo

OLI para o estudo de caso da internacionalização de uma empresa chinesa.

Posto esse argumento, seria viável uma comparação entre o modelo LLL e o

modelo Uppsala de processo de internacionalização. Através dessa comparação,

chegaríamos à conclusão de que o modelo LLL representa um processo acelerado de

internacionalização. Neste, as empresas, com o objetivo de superar suas desvantagens

competitivas, optam por arcar com os riscos do não conhecimento de mercados e

aceleram o seu comprometimento em recursos.

Page 92: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

77

Regime de Investimento Estrangeiro Chinês

Voss (2011) têm como objetivo apresentar os determinantes do investimento

chinês no mundo. Para tanto, o autor formulou um modelo explicativo específico

para o IED chinês.

Este tem como objetivo explicar os padrões de investimento e de

comportamento internacional das empresas chinesas. O modelo tem suas raízes nas

teorias de negócios internacionais e possui especial ênfase na teoria institucional

econômica.

Para Voss (2011) a literatura existente sobre IED geralmente reconhece as

"mãos visíveis" de instituições de países emergentes, uma vez que são consideradas

como restrições para os investidores estrangeiros. As mesmas instituições formais

também desempenham um papel quando as empresas de seu país decidem

internacionalizar.

Dependendo da configuração e da intenção das instituições, eles podem servir

como uma fonte de vantagem competitiva ou retardar a internacionalização das

empresas nacionais. Voss (2011) argumenta que o ambiente institucional nos níveis

nacionais e subnacionais da China consistem em um fator importante no

desenvolvimento do IED chinês.

Além desses elementos formais, o IED chinês também contém elementos

informais. Um fator informal, como o guanxi, fornece acesso a uma rede de negócios

internacionais. Essa rede de negócios pode ser entre:

(i) uma empresa da China continental e uma empresa chinesa no exterior;

(ii) uma empresa nacional e os seus parceiros comerciais estrangeiros;

(iii) ou facilitadores de negócios internacionais, como agências de promoção

de investimento.

Embora as empresas chinesas sejam influenciadas pelos elementos acima

discutidos é evidente que esses, por si só, não são suficientes para explicar o IED

chinês.

Page 93: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

78

Dessa forma, abstraindo o lado institucional deve-se também levar em

consideração as teorias já estabelecidas sobre negócios internacionais. Como as

motivações de investimento no exterior (resource-seeking; market-seeking;

efficiency-seeking; strategic-asset-seeking) e os fatores de distância psíquica (riscos

do país destino, regime político, ambiente de negócios, cultura).

Assim, um modelo combinado trazendo elementos institucionais e tradicionais

pode se adequar melhor as características necessárias para entender o IED chinês.

O modelo apresentado por Voss (2011) pode ser considerado como a principal

contribuição da literatura para essa dissertação. Este foi especificamente formulado

para o caso das empresas chinesas, levando em consideração questões institucionais

características do ambiente chinês.

Figura 12 - Modelo Explicativo Regime de IED da China

Fonte: Voss(2011)

PAÍS DESTINOCHINA

Imperfeições dos mercados de capitais

Política Industrial

Competição

Empresas com capital estrangeiro

Instituições Chinesas

(MOFCOM, SAFE,

NDRC...)

Matriz Filial

Barreira de saida IED

Tratados de investimentos bilaterais

Tratados bilaterais de dupla tributação

Tratados multilaterais

Redes sociais empresariais

Redes de negócio empresarial:a) laços comerciais

b) alianças estratégicas na China

market seeking

resource seeking

strategic asset seeking

efficiency seeking

Fatores de Risco do País Destino:

a) Políticob) Financeiro

c) Econômicos

Fatores de Proximidade

Física:a) Regime Político

b) Ambiente de Negócios

Membro da OMC

Fluxo de Investimento

Barreira de entrada IED

Page 94: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

79

3.4.3. Síntese sobre os modelos explicativos para a

internacionalização das empresas chinesas

Dentre os modelos explicativos sobre a internacionalização, percebemos que o

modelo formulado por Voss (2011), por utilizar de variáveis distintivas sobre a China

e contexto que as empresas chinesas investem, seria o ideal para utilizarmos como

base para os estudo das empresas no Brasil.

No entanto, as variáveis apresentadas pelo modelo são externas a firma. Este

não consegue captar as vantagens de propriedade da empresa. Questões como a

existência de uma vantagem que será explorada no mercado externo, ou ainda a busca

por recursos externos para superar as desvantagens das empresas, não são

contemplados pelo modelo.

O modelo de Voss (2011) também não leva em consideração fatores de

localização, como características da demanda, existência de recursos ou ainda custos e

qualidade da mão de obra no país destino.

Todos esses pontos que faltam ao modelo de Voss (2011) são contemplados

pelo modelo OLI. Isso significa dizer que existe uma possível complementaridade

entre os dois.

É interessante usarmos o OLI framework em conjunto com o modelo de Voss

(2011). Pois o modelo OLI possui um conjunto de variáveis genéricas que visam

explicar a internacionalização das empresas. No entanto, esse modelo é falho em

considerar as variáveis institucionais relevantes no caso da China, e Voss (2011)

supre, exatamente, essa necessidade.

Como síntese, é interessante adicionar ao modelo de Voss (2011), variáveis de

localização no país destino, assim como as variáveis de internalização. Também é

prudente considerar as variáveis de propriedade existentes na empresa.

Page 95: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

80

Este novo modelo serve como base para o estudo das empresas chinesas, pois

ele se propõe a levantar as variáveis explicativas para a descrição da decisão de

ingresso da empresa no Brasil. E se refere não somente a fatores endógenos chineses,

como aos fatores que atraem a empresa para um determinado país destino.

Como podemos perceber o modelo possui um conjunto extenso de variáveis

para a sua utilização. Frente à restrição de informações, principalmente sobre as

variáveis endógenas chinesas, discutiremos mais a frente, uma possível redução do

modelo para o uso nesta dissertação.

Figura 13 - Modelo Explicativo Global para a Internacionalização das Empresas Chinesas

Fonte: Autor baseado em Voss (2011) e Dunning (1977)

PAÍS DESTINOCHINA

Imperfeições dos mercados de capitais

Política Industrial

Competição

Empresas com capital estrangeiro

Instituições Chinesas

(MOFCOM, SAFE,

NDRC...)

Matriz Filial

Barreira de saida IED

Tratados de investimentos bilaterais

Tratados bilaterais de dupla tributação

Tratados multilaterais

Redes sociais empresariais

Redes de negócio empresarial:

a) laços comerciaisb) alianças estratégicas na China

Fatores de Propriedade da Empresa que a permitem explorar novo

mercado:a) Inovação Tecnológica

b) Capacitaçõesc) Sistema de gestão

d) Competências Organizacionais

Fatores de Risco do País Destino:

a) Políticob) Financeiro

c) Econômicos

Fatores de Proximidade Física:

a) Regime Políticob) Ambiente de Negócios

Fluxo de Investimento

Barreira de entrada IED

Fatores de Localização que alavancam ou sustentam a posição

da empresa:a) Características do Mercado

b) Tamanho do Mercadoc) Custo dos fatores de produção

d) Existência de Ativos Estratégicos

Fatores de Internalização dos recursos existentes no país destino:

a) Incerteza do compradorb) Risco moral e seleção adversa

c) Custos de negociação.d) Custo dos contratos quebrados e

e) Mercado não permite f) Necessidade de vendedor para proteger a qualidade de produtos

intermediários ou finais

Page 96: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

81

4. Estrutura do Estudo das Empresas Chinesas

que Investiram no Brasil

Esse capítulo possui como objetivo apresentar o método de trabalho que será

utilizado como base para o estudo dos projetos de investimento das empresas chinesas

no Brasil. Também serão detalhadas as fontes de dados que serão utilizadas para as

análises. É um capítulo que visa interligar o modelo conceitual proposto aos dados

utilizados para análise, apresentando ao leitor como os investimentos e

internacionalização das empresas serão estudados.

4.1. Método de Trabalho

O método de trabalho utilizado para o estudo dos investimentos realizados

pelas empresas será dividido em duas partes. Primeiramente, será analisado o

conjunto dos projetos de investimento anunciados de 1999–2011, buscando identificar

se há algum padrão no ingresso dos investimentos chineses no Brasil, questão que

guia esta pesquisa. Segundo, serão selecionadas algumas empresas para um estudo

mais detalhado da sua entrada no Brasil.

Para tanto, faz-se necessária a apresentação do protocolo de análise e a

discussão sobre as fontes de informação utilizadas para responder ao protocolo.

Sistemática de análise das empresas e seus investimentos

O protocolo de análise deriva diretamente do modelo conceitual apresentado

no capítulo três. Vimos que existem três vertentes teóricas de discussão sobre a

internacionalização das empresas. A ideia é utilizar dessas vertentes para ofertar uma

análise descritivo-explicativa das empresas chinesas e seus investimentos no Brasil.

Page 97: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

82

Figura 14 - Modelo Conceitual para o Estudo das Empresas Chinesas no Brasil

Fonte: Autor

O eixo de características será utilizado para estudar o conjunto de

investimentos realizados pelas empresas no Brasil nos últimos anos, com o objetivo

de entender se existe um padrão entre os investimentos. Todos os projetos de

investimentos anunciados pelas empresas chinesas de 1999 a 2011 serão classificados

de acordo com características como: Objetivo, Modo de Ingresso, Propriedade da

Empresa, Localização do Investimento, Tipo de Operação. Essas análises serão

retratadas no capítulo 5 da dissertação.

Esse eixo também servirá como base para a seleção dos casos, pois através das

características dos investimentos, poderemos escolher com mais acurácia quais seriam

os casos a serem detalhados.

Page 98: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

83

Figura 15 - Modelo Conceitual - Conjunto de Características

Fonte: Autor

Com o grupo de empresas escolhidas, utilizaremos os outros dois eixos para

estudar cada uma delas. É importante ressaltar que as características são utilizadas

para estudar o conjunto de investimentos realizados pelas empresas, enquanto o

modelo explicativo e o processo de internacionalização têm como foco o estudo de

uma empresa por vez.

Figura 16 - Modelo Conceitual – Base Teórica de Análise do Caso

Fonte: Autor

Ao entrarmos no nível da empresa, buscaremos entender o porquê e como ela

se internacionalizou para o Brasil. A ideia seria utilizar todas variáveis apresentadas

pelo modelo teórico formulado a partir de Voss (2011) e Dunning (1977) – Figura 15.

Page 99: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

84

No entanto, por não possuir acesso a todas as informações referentes ao contexto

China, faz-se necessária a redução das variáveis a serem utilizadas para o estudo das

empresas no Brasil. Na parte do modelo relacionada à China, buscaremos

informações sobre o perfil da empresa, sua estrutura de propriedade e relação com as

instituições nacionais. Assim como vamos descrever os marcos da trajetória de seu

crescimento, e os principais pontos sobre o seu posicionamento no mercado chinês.

Não foi possível obter muitas informações sobre imperfeições do mercado; tratados

bilaterais que apoiam a internacionalização; e redes sociais de empresários e sua

influência no egresso de capital.

Já para o Brasil, o modelo se mantém. Neste caso, buscaremos identificar,

através das entrevistas, os fatores que explicariam o ingresso da empresa chinesa aqui

e discutiremos o que essa empresa teria como estratégia para o país.

A seguir uma versão derivada do modelo conceitual, que servirá como base

para o protocolo de análise das empresas:

PAÍS DESTINOCHINA

Marcos na Trajetória de Crescimento

Posicionamento da Empresa e Competição

Estrutura de Propriedade e

Relacionamento com as Instituições Chinesas

FirmaChinesa

Fatores de Propriedade da Empresa que a permitem explorar novo

mercado:a) Inovação Tecnológica

b) Capacitaçõesc) Sistema de gestão

d) Competências Organizacionais

Fatores de Risco do País Destino:

a) Políticob) Financeiro

c) Econômicos

Fatores de Proximidade Física:

a) Regime Políticob) Ambiente de Negócios

Fluxo de Investimento

Fatores de Localização que alavancam ou sustentam a posição

da empresa:a) Características do Mercado

b) Tamanho do Mercadoc) Custo dos fatores de produção

d) Existência de Ativos Estratégicos

Fatores de Internalização dos recursos existentes no país destino:

a) Incerteza do compradorb) Risco moral e seleção adversa

c) Custos de negociação.d) Custo dos contratos quebrados e

e) Mercado não permite f) Necessidade de vendedor para proteger a qualidade de produtos

intermediários ou finais

Filial

Figura 17 - Modelo Conceitual Reduzido para aplicação aos casos

Fonte: Autor

Page 100: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

85

Assim, a análise das empresas seguirá o seguinte protocolo:

1. Perfil da Empresa

a. Estrutura de propriedade da empresa – relação com instituições

nacionais

b. Principais marcos da trajetória de crescimento da empresa na

China

c. Principais pontos sobre o posicionamento da empresa no

mercado chinês

2. Trajetória de Internacionalização da Empresa

a. Em quais mercados essa empresa já se internacionalizou

b. O que ela buscou nesses mercados

3. Modelo Explicativo Aplicado à Empresa para o Caso do Brasil

a. Descrição do projeto de investimento da empresa no Brasil

b. O que explicaria a entrada dessa empresa no país:

i. Fatores de propriedade da empresa

ii. Fatores relacionados à localização do destino

iii. Fatores institucionais de incentivo à vinda dessa

empresa para o Brasil

iv. Fatores de internalização dos recursos no mercado

brasileiro

c. Discussão sobre o que podemos esperar como estratégia da

empresa para o Brasil

O estudo das empresas será contemplado no capítulo 6 da dissertação, e após a

análise de cada empresa, discutiremos se é possível realizar uma comparação entre os

casos, assim como o que dentre os casos somados ao estudo do contexto geral

podemos inferir sobre o perfil de ingresso das empresas chinesas no Brasil. Tudo isso

será feito levando em consideração que não é possível generalizar através do estudo

de somente duas empresas. Contudo, é proveitoso utilizarmos das informações

colhidas para discutir um ponto mais abrangente, como é o ingresso das empresas

chinesas no Brasil.

Page 101: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

86

4.2. Fontes de Dados para o Estudo

Partindo da ideia de se estudar primeiramente o conjunto dos investimentos

para depois entrar nos detalhes no ingresso das empresas, apresentaremos também as

fontes de informação para cada um desses estudos.

4.2.1. Fontes de dados para o estudo das

características dos projetos de investimento

Antes de entrarmos na descrição das fontes de dados, vale lembrar, como

abordado no capítulo 2 e explicado no Anexo 1, que as fontes primárias de

informação – Banco Central e o Ministério do Comércio da China (MOFCOM) – não

servem como fontes para o estudo. Dessa forma, faz-se necessária a busca por outras

fontes de dados.

A primeira fonte utilizada como recurso para contornar a falta de dados são as

agências de governo que têm como função lidar com investimentos. Para o caso do

Brasil, existe a Rede Nacional de Investimentos (RENAI). No entanto, o órgão não

realiza a análise sistemática dos dados relacionados à China.

Outra fonte que poderia ser utilizada são os órgãos de governo que lidam com

a China, como é o caso da Embaixada do Brasil na China. Até o inicio de 2011, a

Embaixada não possuía uma lista dos investimentos chineses no Brasil. Essa lista

começou a ser formada em parceria com o Conselho Empresarial Brasil-China

(CEBC), que apoia a Embaixada no levantamento. Já a Embaixada Chinesa no Brasil

também informou que não possui dados sobre os projetos.

Por outro lado, agências que não fazem parte do governo poderiam servir

como fonte para obtermos os dados dos projetos. Uma delas é o Conselho Empresarial

Brasil-China (CEBC), que já lançou uma pesquisa sobre o assunto. Também podemos

contar com os bancos que, regularmente, monitoram a entrada de investimentos no

Brasil. Por exemplo, o Banco Bradesco possui um levantamento sobre os

investimentos que, gentilmente, foi cedido para esta dissertação. Por fim, resta ainda

Page 102: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

87

considerar as agências de notícias que divulgam os anúncios de investimentos das

empresas, e que também servirão como base para captarmos os dados.

Apresentadas as fontes, é preciso mostrar como cada uma delas será utilizada

para o estudo das características do conjunto de investimentos chineses no Brasil, de

1999 a 2011.

A pesquisa lançada pelo CEBC em 2011 possui todos os dados referentes a

2010 e parte de 2011. Para completar os dados de 2011, será utilizado o texto de

Soares (2011), também publicado pelo CEBC, que apresenta todos os projetos desse

ano.

Falta ainda uma reconstrução histórica dos investimentos de 1999 a 2009. Para

esse período, contaremos com o levantamento feito pelo Bradesco, que registra os

projetos de 2006 a 2009. E por fim, no período anterior a 2009, foram feitas buscas

nas principais agências de notícias brasileiras e internacionais, para verificar se houve

algum anúncio de investimento entre 1999 e 2005.

Como resultado do levantamento, cruzando todas as fontes, chegamos a um

número de 60 projetos de investimentos chineses no Brasil, no período de 1999 a

2011. Esta será a base de dados utilizada para a análise das características dos

investimentos e investigação de um possível padrão de ingresso.

4.2.2. Fontes de informação para o estudo das

empresas chinesas investidoras no Brasil

`Para o estudo mais aprofundado das empresas no Brasil, que será apresentado

no capítulo 6, serão utilizadas três fontes de informação: noticiário sobre a empresa

em canais de imprensa; artigos e livros que abordam a empresa como caso; e

entrevistas com executivos da empresa.

As duas primeiras fontes de informação são necessárias para traçarmos um

perfil de trajetória de internacionalização da empresa, assim como entendermos sobre

o perfil de internacionalização para outros mercados. Serão abordados fatores

explicativos como as vantagens de propriedade das empresas e seu

background/relacionamento com instituições chinesas.

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88

Já as entrevistas servirão como base para entender com detalhes o ingresso e

atuação da empresa no Brasil. Será formulado um roteiro de entrevista para cada

empresa, levando em consideração os fatores apresentados pelo protocolo de análise.

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89

5. Características dos Investimentos Chineses

no Brasil de 1999 a 2011

Este capítulo tem como objetivo apresentar a análise das características dos

investimentos chineses no Brasil, que foram anunciados de 1999 a 2011. Como

relatado, através de diversas fontes, identificamos 60 projetos de investimento,

anunciados por 45 diferentes empresas chinesas. Todos foram categorizados de

acordo com o modelo conceitual, listando características como:

Valor do Projeto

o (US$ milhões);

Determinante do Ingresso

o (Market seeking/Resource seeking/Strategic asset seeking/

Efficiency seeking);

Modo de Entrada

o (Greenfield/Fusão e Aquisição/Joint Venture)

Setor de Atuação;

o (Energia, Mineração, Automotivo, Siderúrgico etc.)

Estrutura de Propriedade da Empresa Chinesa;

o (SOE - State Owned Enterprise/ Central SOE – Central State

Owned Enterprise / Privada)

De posse das características de todos os projetos, buscaremos verificar se

existe um padrão no ingresso dos investimentos chineses no Brasil. A lista com todos

os projetos e suas características encontra-se no Apêndice 3.

É necessário alertar que as análises serão focadas nos projetos de investimento

e não, necessariamente, no valor anunciado em cada projeto. Isso será feito porque

existe uma discrepância em projetos voltados para recursos naturais em comparação

com projetos de manufaturas. O volume de dinheiro necessário para a construção de

uma mina ou para adquirir uma empresa produtora de determinado recurso natural, é,

pelo menos, uma ordem de grandeza superior ao capital investido para a instalação de

uma fábrica no Brasil. Então, para não distorcermos as análises, elas serão feitas com

Page 105: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

90

base no número de projetos anunciados e não no valor que cada projeto possui. O

valor será utilizado, caso necessário, para apoiar e aprimorar a análise.

5.1. Três Diferentes Períodos de Ingresso do

Capital Chinês no Brasil

Antes de entrarmos nas características dos investimentos, vale destacar que

existem três diferentes períodos de ingresso do capital chinês no Brasil. O primeiro

consiste entre 1999 e 2009, o segundo é o ano de 2010, e o terceiro é o ano de 2011.

O argumento que concentra 1999-2009 em um mesmo período está baseado na

discrepância no número de projetos e no volume de investimentos que 1999-2009

recebeu em comparação com 2010-2011. Como pode ser visto pelo Gráfico 4, existe

uma dispersão no ingresso de projetos e de volume de capital chinês ao longo de

1999-2009:

No período de 1999 a 2009, foram anunciados 17 projetos de investimentos

relativos a US$ 5,37 bilhões, enquanto somente em 2010 foram anunciados 24

projetos referentes a US$ 35,45 bilhões, mais do que sete vezes o valor acumulado da

década anterior.

O Gráfico 4 sustenta com números o argumento de Castro et al (2011):

“No período anterior a 2005, os investimentos chineses no Brasil não

possuíam vulto significativo, consistindo em pequenos investimentos orientados pelo

Gráfico 4 - Projetos de Investimentos Chineses no Brasil

Fonte: Castro et al (2011), Soares (2011), Bradesco, Imprensa Elaboração: Autor

50 240 0 10

1944 3030

105

35452

10890

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

1999 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

US$

Milh

õe

s

Volume de Investimentos Anunciados

3

1 1 1

54

2

24

19

0

5

10

15

20

25

30

1999 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

de

Pro

jeto

s

Projetos Anunciados

Page 106: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

91

planejamento estratégico pontual das empresas chinesas. O Brasil representava,

ainda, uma fronteira a ser alcançada pelos interesses daquela economia” (Castro et

al, 2011:20).

Mais precisamente, a barreira ao ingresso dos investimentos chineses se

manteve até o inicio de 2010, quando foi verificado um salto no volume de anúncios

de investimentos no Brasil.

Ainda devemos argumentar sobre porque considerar 2010 um período

diferente de 2011, já que, assim como em 2010, no ano de 2011 foi mantida uma alta

taxa de ingresso de empresas chinesas, representadas por 18 projetos anunciados, e o

volume de investimentos também atingiu um elevado patamar – US$ 10,89 bilhões.

A razão que diferencia o ano de 2011 é a orientação dos investimentos. Como

pode ser visto pelo Gráfico 5, os investimentos chineses anunciados em 2011

possuem características distintas dos anunciados no ano anterior. Dentre os 19

projetos, apenas três estão relacionados a setores como agronegócio, petróleo & gás e

mineração, responsáveis por 60% dos projetos divulgados em 2010. Então, se

considerarmos o ano de 2010 e o de 2011 como um mesmo período, estaremos

deixando de observar significativas diferenças de interesse do capital chinês no país.

Como síntese, a descrição das características dos investimentos chineses no

Brasil será feita de acordo com três períodos: 1999-2009, 2010 e 2011. Como pode

Gráfico 5 - Diferença entre Projetos em 2010 e 2011

Fonte: Catro et al (2011), Soares (2011) Elaboração: Autor

58%29%

13%

Projetos em 2010

Recursos Naturais

Manufatura

Serviços

22%

67%

11%

Projetos 2011

Recursos Naturais

Manufatura

Serviços

Page 107: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

92

ser observador no Gráfico 6, analisaremos os 17 projetos anunciados entre 1999-2009;

os 24 projetos referentes a 2010, e os 19 projetos relativos a 2011.

Por fim, é necessário alertar que o recorte feito para esses três períodos de

análise tem como base os dados que temos até o momento. A maneira como esses

dados serão analisados e caracterizados no futuro, a partir do ingresso de novos

investimentos em 2012, poderá mudar.

5.2. Características dos Investimentos Chineses no

Brasil entre 1999 e 2009

Como já comentado, os investimentos chineses no período de 1999 a 2009

possuem um perfil de entrada irregular, com poucas aplicações, ao longo desses dez

anos. Em 1999, foi registrado o ingresso de três projetos de investimento, dois deles

voltados para manufatura de eletroeletrônicos, representados pelas empresas: Gree

(produtora de ar condicionado) e SVA (produtora de televisões e rádios), e

telecomunicações, com a entrada da Huawei – maior empresa fornecedora de

equipamentos de Telecom da China.

No período de 2000 a 2003, existe um hiato no anúncio de investimentos, que

é interrompido pelo ingresso da Sinopec, em 2004. A Sinopec foi a primeira empresa

estatal chinesa, controlada pelo governo central, a ingressar no Brasil. A motivação da

Fonte: Castro et al (2011), Soares (2011), Bradesco, Imprensa Elaboração: Autor

Gráfico 6 - Investimentos Chineses em três períodos

17

2419

0

5

10

15

20

25

30

1999-2009 2010 2011

de

Pro

jeto

s

Projetos Anunciados

5379

35452

10890

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

1999-2009 2010 2011

US$

Milh

õe

s

Volume de Investimentos Anunciados

Page 108: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

93

sua entrada está relacionada a um acordo entre governos, que pode ser percebido nas

palavras do presidente da empresa chinesa:

“A SINOPEC começou a atuar no Brasil em 2004, quando os governos

brasileiro e chinês buscavam alianças estratégicas. O Gasoduto GASENE tornou-se

um dos maiores empreendimentos de cooperação entre os dois países” (Zuo, Y,

2008).

O projeto do GASENE, construção de um gasoduto entre o Rio de Janeiro e o

Espírito Santo para a Petrobras, obteve participação dos Ministérios das Minas e

Energias de ambos os países, assim como do BNDES e do Banco de Importação e

Exportação da China (SINOPEC, 2008).

Em 2005 e 2006, tivemos apenas o anúncio de um investimento em cada ano,

representado, respectivamente, pela entrada da Lenovo e da Midea. A Lenovo é a

maior produtora de computadores da China, e a Midea é outra grande empresa que

fabrica ar condicionado.

Entre 2007 e 2008, percebemos os primeiros anúncios de investimentos

chineses com determinante para a busca de recursos naturais. Em 2007, a China

Minmetals Corp anunciou uma joint venture com a Cosipar para a construção de um

complexo siderúrgico e porto no Pará. E a Sateri, empresa privada, com sede em

Hong Kong, comprou a Bahia Pulp, por US$ 425 milhões, até então, o maior volume

de investimento chinês comprometido em um projeto. A Sateri tinha como objetivo a

produzir um tipo especial de celulose solúvel. Até hoje, a empresa mantém o controle

da Bahia Pulp e possui operações no Brasil. Já em 2008, tivemos a tentativa de

ingresso da Baosteel, anunciando uma joint venture com a Vale para montar uma

usina siderúrgica no Maranhão, com capacidade de produção de 4,1 milhões de

toneladas de placas ao ano.

Os anos de 2007 e 2008 apresentam as primeiras tentativas de ingresso de

empresas chinesas com vistas a adquirir recursos naturais. Tendência que seria

confirmada pelo elevado patamar de investimentos anunciados para busca de recursos

naturais em 2010.

Page 109: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

94

A década termina em 2009, com um inexpressivo volume de investimentos

anunciados, somente dois projetos – um relativo ao ingresso da Guangdong

Yuandong, empresa chinesa privada, que anunciou a construção de uma fábrica de

produção de equipamentos de ênvase, no Rio Grande do Sul. E outro, referente ao

tentativa de compra da Nacional Minérios (Namisa), pela China Steel.

Características do conjunto de projetos anunciados:

A primeira característica que deve ser ressaltada do período de 1999-2009

consiste na concentração de investimentos setores manufatureiros, como

eletroeletrônicos, automotivo e telecomunicações.

Gráfico 7 - Distribuição de Projetos - 1999-2009

Fonte: Imprensa, Bradesco Elaboração: Autor

Como já mencionado, as primeiras empresas chinesas a ingressarem no país

tinham como objetivo a busca por mercado, consistiam em empresas de

telecomunicações (Huawei), eletroeletrônicos (Midea, Gree, SVA, Lenovo) e

automotivas (motos – Fei Ying Motor (FYM), Traxx – China South Industry

Corporation Group). E o principal modo de entrada foi através de greenfield, foram

abertas fábricas no Amazonas, aproveitando os incentivos dados pela Zona Franca, e

unidades de prestação de serviços em São Paulo. Não se percebe aqui nenhum

movimento coordenado por necessidades da economia chinesa ou brasileira para o

ingresso desses investimentos. Como mencionado em Castro et al (2011), os

investimentos eram aportes orientados pelas estratégias corporativas das empresas.

24%

18%

18%

17%

6%

6%

6%5%

Setores de Ingresso (% do Nº Projetos)

Eletroeletrônicos

Automotivo

Telecomunicações

Siderurgia

Agribusiness

Energia (Petróleo e Gás)

Máquinas e Equipamentos

Mineração 71%

18%

11%

Modo de Entrada (% Nº de Projetos)

Greenfield

Joint Venture

Fusões & Aquisições

Page 110: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

95

Também é pontual o ingresso de empresas que buscam por recursos natuirais.

Dentre o conjunto de 17 projetos anunciados nesse período, somente cinco projetos

tinham como objetivo a busca por recursos naturais. Vale ainda destacar que somente

o projeto da Sateri pode ser confirmado. E, de acordo com o presidente da Baosteel no

Brasil, os dois projetos que envolviam a Vale, um de uma siderúrgica com a Baosteel

e outro com a Aluminum Corp of China (Chalco) não saíram do papel.

Já com relação à estrutura de propriedade das empresas chinesas, em sua

maioria, assistimos ao ingresso de empresas estatais não centrais (Lenovo, Gree,

Traxx), que também possuem capital privado, e de empresas privadas (Huawei,

Midea, SVA).

Não é significativo o ingresso de estatais centrais do governo chinês no

mercado brasileiro, somente foi registrado o ingresso da Sinopec e da Baosteel. Um

ponto interessante sobre esse tema é que a entrada da Sinopec, que foi incentivada

pelo governo brasileiro, quando normalmente as empresas estatais centrais sofrem

resistência ou suspeita por parte dos governos ao ingresso em seus países (BUCKLEY

et al, 2007). Isso ocorre porque são empresas estratégicas para a China, com forte

influência do governo central. As Central SOE´s acabam por sofrer resistência ou

71%

29%

Determinantes do Ingresso (% do Nº Projetos)

Market seeking

Resource seeking

47%

41%

12%

Estrutura de Propriedade (% Nº Projetos)

SOE

Privada

Central SOE

Gráfico 8 Distribuição dos Projetos 1999-2009 (II)

Fonte: Imprensa, Bradesco Elaboração: Autor

Page 111: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

96

serem até impedidas de ingressar em mercados desenvolvidos (ROSEN, D e

HANEMANN, T. 2011).5

Como síntese, podemos caracterizar o perfil de 1999–2009 como empresas

estatais não centrais ou privadas, orientadas pela estratégia de busca de mercados para

seus produtos, que ingressaram, via greenfield, em setores como eletroeletrônicos,

telecomunicações e automotivo (motos).

5.3. Características dos Investimentos Chineses no

Brasil em 2010

Como já observado na introdução desta dissertação, o ano de 2010 representa

o período contemplado pela pesquisa realizada pelo Conselho Empresarial Brasil-

China (CEBC) sobre os investimentos chineses no Brasil, que foi coordenada pelo

professor Antônio Barros de Castro, e da qual o presente autor participou.

Isso implica dizer que nesta parte serão relatados os principais resultados da

pesquisa do Conselho, com vistas a apresentar as características dos investimentos em

2010.

O que distingue o perfil de 2010 dos anos anteriores é o salto no volume de

investimentos anunciados pelas empresas chinesas. Como apresentado no Gráfico 4,

o volume de investimentos anunciados chegou a US$ 35,45 bilhões, enquanto o teto

histórico registrado residia nos US$ 3,03 bilhões, em 2008. Castro et al (2011)

constataram que esse drástico volume anunciado poderia significar o início de uma

nova fase no relacionamento entre os dois países.

“O salto verificado neste volume de investimentos chineses no Brasil

anunciado pela imprensa, é um importante indicador do surgimento de uma nova fase

no relacionamento bilateral. Além de um aumento de 52% na corrente de comércio

entre os países no período de 2009–2010, a mudança assinala um novo e importante

5 Para maiores detalhes de uma lista com todos os investimentos chineses nos EUA que foram classificados como

controversos, ver o texto: An American Open Door, por Rosen e Hanemann, 2011, Tabela 4.1.

Page 112: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

97

componente: a chegada de um expressivo volume de investimentos estrangeiros

diretos” (CASTRO et al., 2011).

Os autores também identificaram que esse salto estava fortemente

correlacionado com a busca por recursos naturais pelas empresas chinesas. E que

como a China não dispõe internamente da diversidade e do volume necessário desses

recursos para manter as suas taxas de crescimento, suas empresas começaram a

investir em ativos no exterior que assegurassem o fornecimento de matérias-primas

(CASTRO et al,, 2011).

Características do conjunto de projetos anunciados:

Como pode ser observado pelo Gráfico 9, a principal característica do ano de

2010 é a busca por recursos naturais. Setores como mineração, agronegócio, energia

(petróleo e gás) e siderurgia, foram responsáveis por mais de 60% dos projetos

anunciados.

Empresas como a Wuhan Iron Steel Group (WISCO) comprou 21,5% do

capital da MMX por US$ 400 milhões. A Sinopec realizou o seu primeiro

investimento de porte no país, adquirindo a operação da Repsol Brasil por US$ 7,1

bilhões. E, a Sinochem adquiriu da Statoil, 40% da exploração do Campo de petróleo

offshore Peregrino, por US$ 3,07 bilhões. Esses exemplos apontam para outra

característica de 2010, as empresas chinesas utilizaram-se de fusões e aquisições para

ingressar no Brasil. Isso pode ser explicado pela necessidade de se adaptar a um

67%

24%

9%

Determinantes do Ingresso (Nº Projetos)

Resource seeking

Market seeking

Strategic Asset Seeking

22%

18%

13%13%

9%

9%

4%

4%4% 4%

Setores de entrada (Nº Projetos)

Energia (Petróleo e Gás)

Mineração

Agribusiness

Automotivo

Bancário

Máquinas de construção

Educação

Energia elétrica

Ferroviário

Siderurgia

Gráfico 9 - Características dos Projetos 2010

Fonte: CEBC Elaboração: Autor

Page 113: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

98

ambiente de negócios e operação tão distinto do chinês (CASTRO et al., 2011), ou

ainda para assegurar um tipo de ativo que já está em operação e é capaz de fornecer

recursos naturais de forma imediata para a China.

Outra característica que merece ser destacada é o alarmente ingresso, em

termos de número de projetos anunciados e de volume de investimento, de empresas

estatais centrais para o governo chinês – as Central SOE´s. Foram anunciados 14

projetos por 10 empresas estatais centrais, referentes a um volume anunciado de US$

33,12 bilhões.

Castro et al (2011) afirmaram que a entrada de tantas empresas estatais

centrais para a economia chinesa, como são as Central SOE´s, no tecido produtivo

brasileiro pode ser indicador de um interesse estratégico e orientado pelo governo

chinês, um processo que não é meramente temporário, nem facilmente reversível.

Fonte:CEBC Elaboração: Autor

Gráfico 10 - Características dos Projetos 2010 (II)

Fonte:CEBC Elaboração: Autor

58%25%

17%

Estrutura de Propriedade (Nº Projetos)

Central SOE

SOE

Privada

94%

5% 1%

Estrutura de Propriedade (% Volume Anunciado)

Central SOE

SOE

Privada

Gráfico 11 - Características dos Projetos 2010 (III)

50%46%

4%

Forma de Ingresso (% Nº Projetos)

Greenfield

Fusões & Aquisições

Joint Venture

23%

67%

10%

Forma de Ingresso (% Volume Anunciado)

Greenfield

Fusões & Aquisições

Joint Venture

Page 114: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

99

Analisando com mais critério o conjunto das empresas estatais centrais que

anunciaram investimentos no Brasil, percebemos que mais de 70% delas tinham como

objetivo a busca por recursos naturais, sendo mineração e energia, petróleo e gás os

setores que mais receberam investimentos. Isso consiste no exemplo do que Castro et

al (2011) chamaram de incorporação do Brasil às necessidades de desenvolvimento

da economia chinesa, feita através das empresas estatais centrais.

Por fim, Castro et al (2011) também chamam a atenção para um conjunto de

investimentos que embora menos significativos quando comparados ao grupo que

busca por recursos naturais, podem ter forte impacto na evolução da indústria

brasileira. Como exemplo, temos os investimentos anunciados por empresas

automobilísticas e fabricantes de máquinas e equipamentos que decidiram ingressar

no Brasil, tentando ao máximo manter suas vantagens competitivas obtidas na China.

Em outras palavras, são empresas que buscam mercado no Brasil e montam uma

operação denominada de CKD (Complete Knock-Down Production), na qual os

componentes são importados da China e a empresa somente monta o produto no

Brasil. Castro et al (2011) alertam para esse tipo de investimento, pois ele tem

impactos diretos na cadeia de suprimento em seus setores de atuação. Caso essas

empresas avancem em participação de mercado no país, maiores serão os impactos

para os fornecedores.

Fonte:CEBC Elaboração: Autor

36%

15%15%

13%

7%

7%7%

Setores de Entrada (Nº Projetos)

Energia (Petróleo e Gás)

Agribusiness

Mineração

Bancário

Automotivo

Energia elétrica

Siderurgia71%

29%

Determinantes do Ingresso (Nº Projetos)

Resource seeking

Market seeking

Gráfico 12 - Características dos Projetos das Central-SOEs

Fonte:CEBC Elaboração: Autor

Page 115: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

100

Como síntese, podemos caracterizar o perfil de 2010, como empresas estatais

centrais, orientadas por uma estratégia de nacional de suprimento das necessidades de

recursos naturais para manter as taxas de crescimento da China, que ingressaram via

fusões e aquisições, em setores como mineração, energia (petróleo e gás) e

agronegócio.

Ainda pode ser aberta uma discussão sobre esse padrão. Como observamos

durante a descrição do perfil dos investimentos em 2010, e, pode ser visto em detalhes

no Apêndice 3, a maioria dos investimentos anunciados como Fusões e Aquisições

remete à troca de ativos entre empresas estrangeiras; por exemplo, a Sinopec

(chinesa) e a Repsol (espanhola), ou ainda, a Sinochem (chinesa) e a Statoil

(norueguesa). Podemos considerar esses projetos como investimentos no Brasil?

Esta foi uma questão bastante discutida pela equipe do Conselho Empresarial

Brasil–China durante a elaboração de sua pesquisa. O Conselho acabou considerando

esses projetos como investimentos no Brasil por dois motivos: primeiro porque o

capital foi registrado no Brasil; por exemplo, a compra da Repsol pela Sinopec por

US$ 7,1 bilhões foi registrada pelo Banco Central como ingresso de capital no Brasil;

segundo porque esse capital foi destinado para manter em funcionamento a operação

dessas empresas no Brasil. A Sinochem irá operar o campo de Peregrino, que ainda

carece de investimentos para extração. Consiste em um capital que ingressa para

manter em funcionamento operações de empresas europeias que, com a crise, não

possuíram capacidade de continuar operando no Brasil.

O presente autor concorda com os argumentos apresentados pela equipe do

Conselho e, por essa razão, foram mantidos esses anúncios dentro do conjunto de

projetos analisados no ano de 2010.

5.4. Características dos Investimentos Chineses no

Brasil em 2011

Em comparação com os projetos de 2010, os investimentos anunciados em

2011 apontam para um rearranjo em favor da indústria e de setores de tecnologia mais

avançada. A partir desse ano, vemos o interesse do capital chinês se intensificar pela

Page 116: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

101

busca de mercado e com vistas à formação de plataformas de exportação para a

América Latina.

O marco que caracteriza 2011 é a viagem da presidente Dilma Rousself para a

China, pois, somente, durante a visita oficial, oito projetos de investimento foram

anunciados. Todos com orientações voltadas para setores de maior tecnologia. É,

nesse momento, que começamos a verificar o anúncio de projetos de investimento de

volume significativo para a formação de centros de pesquisa e desenvolvimento no

Brasil. Como exemplo, temos a Huawei, que anunciou um investimento de US$ 300

milhões para a instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento em São Paulo.

E a ZTE (segunda maior empresa de Telecom da China), que anunciou a construção

de um parque industrial com um centro de desenvolvimento para o Brasil e América

Latina, anunciando um volume de investimento de US$ 200 milhões.

No entanto, apesar da novidade constatada pelo ingresso de investimentos em

P&D, nada é mais característico em 2011 do que o ingresso das montadoras chinesas.

Em 2010 contemplamos a entrada da Chery Automobile. Já em 2011, outras sete

montadoras anunciaram investimentos – JAC, Shineray, Foton, Lifan, Changan,

Haima, CR Zhongshen. O caso do ingresso das montadoras automobilísticas no

mercado brasileiro será abordado no Capítulo 6, com o estudo da Chery. Contudo,

pode-se adiantar que esse volume de projetos anunciados foi tão significativo que o

governo brasileiro adotou recentemente medidas para frear a entrada de empresas

chinesas, como o aumento no IPI para a importação de componentes e a exigência de

65% de conteúdo local na fabricação dos carros no Brasil (VALOR, 2011). O anúncio

do governo teve um impacto direto nesses projetos de investimentos. Por exemplo, a

Geely, segunda maior montadora independente da China, possuía um projeto para o

ingresso no mercado brasileiro que teve de ser adiado, pois foi inviabilizado pelas

novas restrições legais impostas pelo governo brasileiro.6

6 Essa informação foi obtida informalmente em consulta direta ao diretor de marketing da Geely, na feira de

internacional de automóveis de Cantão – China, 2011.

Page 117: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

102

Características do conjunto de projetos anunciados:

O Gráfico 13 confirma a orientação pela busca por mercados como o principal

determinante para o ingresso de empresas chinesas no Brasil, em 2011. Como

derivada direta do interesse chinês por mercados, setores como automotivo,

eletroeletrônicos, telecomunicações e máquinas para construção, foram responsáveis

por mais de 70% dos projetos anunciados.

Empresas como a JAC Motors, que anunciou a instalação de uma fábrica na

Bahia, por US$ 900 milhões. A Foxconn que pretende investir US$ 3 bilhões na

instalação de um parque industrial para a produção de tablets no Brasil. E a Xuzhou

Machinery Group, anunciou um projeto de US$ 200 milhões para a construção de

uma fabrica de máquinas de construção civil e guindastes. Todos são exemplos de

empresas que buscam mercado no Brasil.

Um ponto interessante que é comum entre os anúncios consiste na intenção

das empresas em utilizar o Brasil como plataforma de exportação para a América

Latina. Diferentes fatores contribuem para a decisão de se instalar no Brasil, dentre

eles podemos destacar: altos custos logísticos para o transporte dos produtos da China

ao Brasil; incertezas com relação à demanda relacionada a um demorado tempo de

chegada do pedido; e a não-existência de outros países na região com uma estrutura

industrial já estabelecida como a brasileira. Esse tipo de estratégia impacta

diretamente a forma de ingresso das empresas chinesas no Brasil, que, em 2011,

concentrou-se em greenfield:

80%

10%

10%

Determinante do Ingresso (% do Nº Projetos)

Market seeking

Resource seeking

Strategic Asset Seeking

37%

16%11%

10%

6%

5%

5%5%

5%

Setores de Entrada (% do Nº Projetos)

Automotivo

Eletroeletrônicos

Telecomunicações

Energia (Petróleo e Gás)

Máquinas de Construção

Agribusiness

Ferroviário

Fibras de Vidro

Mineração

Gráfico 13 - Características dos Projetos de 2011

Fonte:CEBC Elaboração: Autor

Page 118: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

103

Em 2011, também é notado um declínio no ingresso de empresas estatais

centrais do governo chinês. Apenas três projetos estão relacionados às empresa

centrais, são eles a compra de parte de operação brasileira da Galp pela Sinopec, por

US$ 3,5 bilhões; a compra de 15% da CBMM por um consórcio de grandes estatais

chinesas, incluindo a Anshan Iron e Steel, maior mineradora chinesa, por US$ 1,9

bilhões. E a PetroChina, que formou uma joint venture com a Asperbras para a

criação da empresa Bomcobras Negócios e Equipamentos para Petróleo e Gás S.A.,

para fornecimento de maquinário destinado à perfuração oceânica.

Em sua maioria os investimentos foram anunciados por empresas estatais.

Nesse momento, faz-se necessária uma digressão com o intuito de esclarecer sobre a

estrutura de propriedade dessas empresas. Desde 1998, com a reforma das empresas

estatais na China, e em 2001, com a acessão da China à OMC, as empresas estatais

chinesas começaram listar parte de sua propriedade, através de unidades de negócio

nas bolsas de Hong Kong, Shenzhen e Shanghai. As empresas estatais abriram parte

de seu capital com o intuito de adquirir mais recursos para a modernização de suas

operações ou para internacionalização. Esse tipo de decisão resultou em uma legião

de empresas estatais que possuem capital híbrido. Zeng e Williamson (2007) afirmam

que apesar de parte do capital ser de propriedade do estado, elas possuem autonomia

para gerir a empresa. É importante ressaltar esse ponto, pois, dentre as 11 empresas

estatais que anunciaram investimentos no Brasil, em 2011, 80% delas são empresas de

capital híbrido:

58%21%

21%

Forma de Ingresso (% do Nº de Projetos)

Greenfield

Fusões & Aquisições

Joint Venture

63%

21%

16%

Estrtutura de Propriedade (% do Nº Projetos)

SOE

Privada

Central SOE

Gráfico 14 - Características dos Projetos (II)

Fonte: CEBC Elaboração: Autor

Page 119: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

104

Gráfico 15 - Detalhamento da Estrutura de Propriedade das Empresas Estatais

80%

20%

Estrtutura de Propriedade (% do Nº de Projetos)

Empresas com capital híbrido

Empresas Estatais

Fonte: Imprensa Elaboração: Autor

5.5. Síntese sobre o Perfil dos Investimentos

Chineses no Período de 1999–2011

Antes de entrarmos nos detalhes da síntese sobre o perfil dos investimentos

chineses no Brasil, é interessante reapresentarmos a questão que guia esta dissertação.

No capítulo 1, foi colocada como questão de pesquisa a seguinte pergunta:

Há um padrão no perfil do ingresso de investimentos estrangeiros diretos da

China no Brasil?

Para responder essa pergunta, foram catalogados e caracterizados 60 projetos

de investimento, desde 1999 até 2011. Contudo, não foi encontrada uma resposta

direta para ela. O primeiro ponto que identificamos ao percorremos os anos é que

existem três períodos diferentes de ingresso de capital chinês no Brasil. Esse ponto

levanta outras duas questões, que são: 1) existe um padrão dentre esses três períodos?

2) Ou os três períodos podem ser considerados como três diferentes padrões de

ingresso?

A resposta para essas questões reside na discussão entre as características que

definem cada um dos três períodos, o que elas têm em comum, e se os pontos

semelhantes indicam a um padrão único.

Com o intuito de auxiliar a análise, a Tabela 10 apresenta as características

preponderantes dos projetos de investimento chineses, nos três períodos identificados:

Page 120: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

105

Tabela 10 - Perfil dos Investimentos Chineses em diferentes períodos

PeríodoDeterminante

do Ingresso

Modo de

EntradaSetor

Estrutura de

Propriedade

1999-

2009

Market

seekingGreefield

Eletroeletrônicos/

Automotivo/

Telecomunicação

SOE´s/Privadas

2010Resource

seeking

Fusões e

Aquisições

Energia/

Mineração/

Agronegócio

Central SOE´s

2011Market

seekingGreenfield

Automotivo/

Eletroeletrônicos/

Telecomunicação

SOE´s/Privadas

Fonte: A partir dos dados de CEBC, Bradesco, Imprensa Elaboração: Autor

Como primeira análise derivada da tabela, percebemos que o perfil do ingresso

de 1999-2009 é muito similar ao encontrado em 2011, e difere do apresentado em

2010. Isso nos leva a crer que o ano de 2010 pode ser um ponto fora da curva em

termos de ingresso do capital chinês no Brasil. No entanto, essa é uma afirmativa que

ainda não pode ser sustentada, em função do momento no qual a dissertação está

sendo escrita. O que percebemos em 2010, e foi ressaltado em Castro et al (2011), é

que este ano representa um marco, no qual a China venceu a última fronteira em

termos de mercados para aquisição de recursos naturais. Inicialmente, a China

expandiu-se para países da Oceania e África, e foi no ano de 2010 que ela começou a

ingressar em um dos mercados mais distantes para obter recursos naturais – o Brasil.

A falta desse tipo de investimento em 2011 não garante que o país tenha perdido o

interesse pelos recursos naturais brasileiros, e esse é o principal ponto pelo qual não

podemos afirmar se 2010 foi um ano fora da curva.

A falta de ingresso de investimentos em recursos naturais no ano de 2011

também pode ser explicada por outros fatores, como a perspectiva de desaceleração

da economia chinesa e as restrições impostas pelo governo central ao crédito as

empresas chinesas.

Vale ainda lembrar que o cenário internacional de incertezas quanto à

demanda nos EUA e na Europa, pode ter levado as empresas chinesas a adiarem

projetos de investimentos em recursos naturais. Pois, não é lógico se comprometer

com investimentos em operações na base da cadeia de produção (como são os

Page 121: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

106

recursos naturais), em um momento no qual a demanda mundial por produtos pode

desacelerar.

Assim, podemos afirmar que 2010 é um marco, com características distintas e

próprias, que podem voltar a aparecer na lista de investimentos chineses no Brasil

mais a frente, caso a China consiga desenvolver seu mercado interno de consumo, ou

caso os mercados desenvolvidos voltem a aquecer.

Isso responde parte das questões colocadas. Não podemos afirmar que os três

períodos correspondem a três padrões diferentes. Resta ainda verificarmos se é

possível considerarmos 1999–2009 e 2011 como um único perfil de ingresso, e se,

assim, teríamos um padrão.

Apesar das características serem semelhantes, a resposta para esse tipo de

questão seria não. Os investimentos de 1999–2009 não possuem porte ou objetivos

similares aos encontrados em 2011. Enquanto as empresas entre 1999–2009

ingressavam no Brasil em busca de mercado interno, com investimentos em torno de

US$ 50 milhões, as empresas que ingressaram a partir de 2011 buscam não somente

atender ao mercado brasileiro, como montar plataformas de exportação para a

América Latina e anunciam investimentos por volta de US$ 300 milhões.

Isso nos levaria a afirma que não existe um padrão no perfil dos investimentos

chineses no Brasil. Contudo, algumas características se mantiveram similares em

todos esses anos. Ao observarmos a evolução das características dos investimentos ao

longo do tempo, percebemos que existe alguma semelhança no ingresso do capital

chinês.

Primeiramente, vamos recorrer à evolução do determinante dos investimentos

chineses no Brasil. Através do Gráfico 16, fica claro que ao longo dos anos, as

empresas chinesas ingressaram no Brasil em busca de mercados:

Page 122: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

107

E que a partir de 2007 começamos a perceber o interesse por recursos naturais,

que vem a explodir em 2010. O mesmo acontece para a busca por ativos estratégicos

que aparece, ainda tímida, em 2010, e ganha um pouco de expressão em 2011. Se

tivermos que apresentar um padrão sobre o modo de ingresso, responderíamos que a

busca por mercados é a característica marcante da entrada de capital chinês nos

últimos anos.

O mesmo ocorre ao analisarmos a evolução do modo de ingresso das

empresas. Greenfield seria a resposta para a característica marcante ao longo do

tempo.

1999 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Market Seeking 3 1 1 1 3 2 1 9 15

Resource Seeking 0 0 0 0 2 2 1 14 2

Strategic Asset Seeking 0 0 0 0 0 0 0 1 2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

de

Pro

jeto

s

Evolução do Determinante

Fonte: CEBC, Bradesco, Imprensa Elaboração: Autor

Gráfico 16 - Evolução do Determinante dos Investimentos

Page 123: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

108

E por fim, com relação à estrutura de propriedade das empresas, não

percebemos uma regularidade comparada às outras características:

O posicionamento do presente autor é o de não afirmar um padrão categórico

para o ingresso dos investimentos chineses. No entanto, deve-se ressaltar que existem

características marcantes originadas da análise do conjunto de projetos. A primeira

delas está relacionada com o determinante do ingresso, no qual busca por mercados é

1999 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Greenfield 3 1 1 1 3 2 1 10 11

Fusão e Aquisição 0 0 0 0 1 0 1 14 4

Joint Venture 0 0 0 0 1 2 0 1 4

0

2

4

6

8

10

12

14

16

de

Pro

jeto

s

Evolução do Modo de Ingresso

Gráfico 17 - Evolução do Modo de Ingresso

Fonte: CEBC, Bradesco, Imprensa Elaboração: Autor

Fonte: CEBC, Bradesco, Imprensa Elaboração: Autor

1999 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

SOE 1 0 1 0 2 3 1 7 12

Central SOE 0 1 0 0 0 1 14 3

Privada 2 0 0 1 3 0 1 3 4

0

2

4

6

8

10

12

14

16

de

Pro

jeto

s

Evolução Propriedade

Gráfico 18 - Evolução da Estrtutura de Propriedade

Page 124: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

109

perceptível em todos os anos. E a segunda é a forma de entrada das empresas, na qual

greenfield se destaca.

Também foi observado o surgimento de uma nova tendência, em termos que

determinante do ingresso, que consiste na busca por recursos naturais, cujo marco está

no ano de 2010.

Neste capítulo ainda cabe uma comparação entre as lógicas de ingresso do

capital chinês, emergidas a partir da revisão da literatura – Figura 8, com o que foi

observado no caso do Brasil – Tabela 10, apresentada no inicio desta seção.

Estrutura de

PropriedadeMotivação

Modo de

EntradaLocalização

Lógica 1 CENTRAL SOEsResource-

Seeking

Greenfield/

M&A

Africa/Oceania/América

do Sul

Lógica 2

SOE/Empresas

de Capital

Híbrido

Strategic

Asset-

seeking

M&A/JV Europa/EUA

Lógica 3

SOE/Empresas

de Capital

Híbrido

Marketing-

seekingGreenfield

Leste Europeu/América

Latina

Figura 8 – Lógicas de Internacionalização das Empresas Chinesas (repetida página 59)

Fonte: Autor

É interessante como o ano de 2010 se enquadra na Lógica 1, assim como o ano

de 2011 e o período 1999-2009 estão correlacionados com a Lógica 3. A ideia por trás

da Figura 8 era a de sintetizar o que a literatura sobre as características dos

investimentos chineses no mundo apresentava. O caso dos projetos no Brasil é uma

evidência empírica que pode vir a sustentar essa síntese.

Cabe ressaltar que a Lógica 2 ainda se encontra de forma muito incipiente no

Brasil, pois apesar dos registros dos investimentos da Huawei e outras empresas

chinesas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil, não podemos

afirmar que será realizado P&D no país, ou que busca competências específicas no

país. Como se discutido adiante, o mais provável é que esses centros sirvam como

lócus de adaptação dos produtos para as necessidades da demanda brasileira.

Page 125: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

110

6. Trajetória de Internacionalização de

Empresas Chinesas para o Brasil

Como vimos anteriormente, foram anunciados 60 projetos de investimento por

45 diferentes empresas chinesas, no período entre 1999-2011. Esse capítulo tem como

objetivo estudar, ao nível da empresa, o ingresso no Brasil. Para tanto, inicialmente

discutiremos sobre a seleção da amostra das empresas, visando responder, que

empresa seria interessante e/ou possível de estudar. E em seguida, será apresentado o

estudo sobre as empresas selecionadas. Lembrando que o estudo será guiado pelo

protocolo de análise já apresentado no Capítulo 4.

6.1. Amostra de Empresas Chinesas no Brasil

Através do estudo dos artigos e livros que tratam das características da

internacionalização das empresas chinesas, chegamos a três lógicas dominantes –

Figura 8. Estas levam em consideração a estrutura de propriedade da empresa, o modo

de ingresso, o objetivo e a localização do investimento.

A ideia de sintetizar os artigos em três lógicas dominantes consiste em um

alerta sobre três tipos diferentes de objetos de estudo. Como já mencionado, as

empresas que buscam recursos naturais e são Central-SOE se comportam de forma

distinta das empresas que buscam ativos estratégicos e possuem capital híbrido.

Apesar da obviedade intrínseca a essa constatação, os artigos e livros teorizam sobre a

internacionalização das empresas chinesas, sem levar em consideração essa diferença

entre os objetos de estudo.

Partindo do pressuposto que possuímos três tipos de objeto de estudo, seria

interessante realizar um estudo de caso sobre cada empresa que segue uma dentre as

três lógicas. Para tanto, foi feita uma distribuição dos projetos e empresas que

investiram no Brasil, de acordo com cada uma dessas lógicas:

Page 126: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

111

Esse exercício foi válido para perceber que essas lógicas não são exaustivas

para discriminar as empresas que servirão como objeto de estudo para os casos. Isso

ocorre, pois identificamos exceções como Stategrid, que busca mercado, apesar de ser

uma Central-SOE, e, Honbridge, que busca recursos naturais e é uma empresa de

propriedade não estatal central.

Também foi visto que existe uma forte correlação entre as categorias utilizadas

para distinguir os objetos de estudo. O objetivo pelo qual a empresa investe em um

país, pela tabela, se apresenta altamente correlacionado com a localização do

investimento. Empresas chinesas buscam recursos naturais na África, Austrália e

América do Sul. Isso indica que essas categorias podem estar sobrepostas.

Uma alternativa para a seleção dos casos é utilizar, além das categorias já

estabelecidas, o setor que essa empresa está ingressando no Brasil. A ideia, agora, é

mapear todos os casos de acordo com três categorias: Propriedade da Empresa, Modo

de Entrada e Setor da Economia.

É relevante distinguirmos as empresas de acordo com seu tipo de propriedade,

pois essa característica é determinante para entender o suporte que essa empresa pode

possuir para entrar e se estabelecer no Brasil.

O modo de ingresso é importante para distinguir o grau de comprometimento

da empresa com recursos no Brasil e seus impactos. Como exemplo, uma empresa

Tabela 11 - Projetos de Investimento - Critério de Seleção

Fonte: Autor com base em CEBC e Imprensa e Bradesco

Estrutura de

PropriedadeMotivação

Modo de

EntradaEmpresas

Lógica 1 Central SOEsResource

Seeking

Greenfield

/M&A

Cofco, Sinopec, Wisco, Anshan Iron & Steel,

Sinochem, Sinopec, Cnooc, CNADC

Lógica 2

SOE/Empresas

de Capital

Hibrido

Strategic

Asset

Seeking

M&A/JV Huawei, ZTE, Lifan

Lógica 3

SOE/Empresas

de Capital

Hibrido

Market

SeekingGreenfield

CR Zongshen, Fei Ying Motor (FYM),

Foxconn, Guangdong Yuandong, Huawei,

Midea do Brasil S.A, Sany Heavy Industry,

SVA, Chery, China Rail Construction

Company, Foton Aumark do Brasil, Gree,

JAC, Lenovo, Lifan, Sangfeng, Traxx, XCMG,

ZTE

Page 127: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

112

que investe através de greenfield precisará montar toda uma operação no país e é

provável que fique por mais tempo no país, gerando novos empregos e negócios para

uma rede de fornecedores.

E por fim, o setor é uma categoria que deve ser considerada, pois é no nível

setorial que poderemos ver o impacto da atuação das empresas chinesas no mercado

brasileiro.

Através dessas três categorias, temos o seguinte mapa das empresas chinesas

no Brasil:

Page 128: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

113

Tabela 12 - Distribuição das Empresas Chinesas Investidoras de acordo com: Setor,Modo de Ingresso, Estrutura de Propriedade

Fonte: Autor com base em CEBC e Imprensa

Greenfield

M&

AJoint V

entureG

reenfieldM

&A

Joint Venture

Greenfield

M&

AJoint

Venture

Autom

otivoD

ongfeng Motor Corporation

Chery, Foton Aum

ark do Brasil,

TraxxJA

CLifan, CR Zongshen, Fei Ying M

otor

(FYM), Shineray

Mineração

Wuhan Iron and Steel

Group Co. (W

isco)Changan, H

aima

East China Mineral Exploration

and Developm

ent Bureau (ECE)H

onbridge Holdings

Energia (Petróleo e Gás)

Sinopec,China National

Offshore O

il

Corp (Cnooc)

PetroChina

Siderurgia

Wuhan Iron and Steel

Group Co. (W

isco),

Baosteel

Alum

inum Corp of China

(Chalco), China

Minm

etals Corporation

Agribusiness

China National A

gricultural

Developm

ent Group Corporation

(CNA

DC)

CofcoChongqing G

rain Group

Anhui Longping H

igh-

Tech SeedsG

rupo Pallas International Sateri

EletroeletrônicosG

ree, Lenovo, SangfengFoxconn, M

idea, SVA

,

Bancário

Bank of China, Industrial &

Comm

ercial

Bank of China (ICBC)

EducaçãoZTE

Energia ElétricaState G

rid

FerroviárioChina Rail Construction

Company

CNR (China N

orthern Railway)

Máquinas Pesadas

Xuzhou Construction

Machinery G

roup, Hangzou

Cogeneration

Sany Heavy Industry

Fibras de Vidro

Chongqing Polycomp International

Corporation (CPIC)

Tecnologia da Informação e

Comunicação

LenovoFoxconn

TelecomZTE

Huaw

ei

Central-SOE

SOE

Privada

Page 129: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

114

Seleção da Amostra

Uma alternativa de amostra seria escolher entre duas empresas que investiram

no mesmo setor, mas possuem estrutura de propriedade distinta. Isso seria interessante

de ser estudado para aprendermos mais sobre a diferença na estrutura das empresas e

sua influência nos projetos de investimento. Dito isto, existem três setores que

apresentam investimentos de empresas que são SOE´s e Privadas. São eles:

Automobilístico, Mineração e Máquinas Pesadas. Para tanto, teríamos o seguinte

grupo de amostras:

Automotivo: Chery ou JAC (SOE)/LIFAN ou CR Zhongshen (Privada)

Mineração: East China Mineral Exploration and Development Bureau

(SOE)/Honbridge Holdings (Privada)

Máquinas Pesadas: Xuzhou Construction Machinery Group ou

Hangzou Cogeneration (SOE)/Sany Heavy Industry

Ainda explorando a questão da estrutura de propriedade, é interessante realizar

um estudo sobre as Central-SOEs presentes no Brasil. Como já exposto, as Central-

SOEs são empresas controladas pelo governo central e atuam em setores estratégicos

para a economia chinesa. Assim, teríamos como possíveis casos, por setores:

Mineração: Wuhan Iron and Steel Group Co. (Wisco)

Petróleo: Sinopec

Agribusiness: Cofco

Bancário: Bank of China

Energia Elétrica: StateGrid

Outro tipo de abordagem seria estudar as empresas chinesas que buscam ativos

estratégicos no país. Isso se justifica, pois, como visto pela revisão da literatura, o

estudo dessas empresas têm indicado que novas teorias sobre internacionalização das

firmas são necessárias para explicar o seu movimento. Esse seria o caso de voltarmos

para a Tabela 12 e escolhermos como caso empresas:

ZTE

Huawei

Page 130: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

115

Lifan

A partir da diversidade de casos que podem ser utilizados, é interessante

escolher uma empresa que corresponda a cada uma das três discussões apresentadas.

No entanto, o acesso a essas empresas é o principal critério de escolha. Mesmo

utilizando de fontes secundárias para montar o estudo, faz-se necessário algum

contato com a empresa, para, pelo menos, validar as informações divulgadas. Outra

justificativa que pesa a favor do contato com a empresa é o fato de existir pouco

material escrito por fontes secundárias sobre o ingresso das empresas no Brasil.

A princípio, considerando que o presente autor acumula a função de

coordenador de pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China, e existem empresas

chinesas associadas ao Conselho, não seria de grande dificuldade o acesso a elas. No

entanto, um fato recente fez com que as empresas chinesas ficassem receosas com a

divulgação de suas informações. As mudanças impostas pelo governo brasileiro em

prol de medidas protecionistas à indústria brasileira, e os novos códigos (mineração,

terras etc.) que estão para ser decididos e divulgados pelo governo em futuro próximo,

fizeram com que as empresas chinesas fechassem suas portas para falar sobre seus

projetos no Brasil. Isso ocorre também, pelo fato de que o Brasil, recentemente,

entrou com um processo na OMC contra o ingresso de produtos de chineses no

mercado brasileiro. Então, qualquer informação que essas empresas venham a dar,

neste momento sensível para as relações, pode ser interpretada como algo contra os

próprios chineses. Sendo assim, eles preferem manter a postura de low-profile.

Frente a essas restrições, duas empresas foram entrevistadas pelo autor, em

conjunto com o professor Antonio Barros de Castro, que, à época, coorientava esta

dissertação. São elas: Huawei e Chery.

Como mencionado, o caso da Huawei seria de interessante estudo, pois a

empresa foi uma das primeiras a ingressar no Brasil, e acabou de anunciar um novo

investimento em P&D no país. Além disso, a Huawei é uma das empresas mais

internacionalizadas da China, com atuação em 140 países.

Já a Chery é outro caso interessante de estudar, pois consiste em uma empresa

estatal, de uma província de pouca relevância econômica para a China, que foi capaz

Page 131: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

116

de desenvolver sua própria tecnologia para fabricação dos componentes chaves de

seus carros, e está presente em 80 países. O caso da Chery também deve ser estudado,

já que o setor automobilístico está no centro das discussões entre Brasil e China, com

o governo brasileiro tomando medidas para frear o ingresso das automobilísticas

chinesas.

6.2. Estudo da Huawei

6.2.1. Perfil da empresa – Trajetória de crescimento

A Huawei Technologies, fundada em 1988, consiste em uma empresa chinesa

privada, produtora de equipamentos de Telecom, dispositivos de rede, prestadora de

serviço de redes 3G e, mais recentemente, produtora de aparelhos de celular. A

empresa, em 2010, obteve uma receita de US$ 28 bilhões, e figura em segundo lugar

em participação de mercado mundial, atrás somente da Ericsson, com US$ 30 bilhões

(THE ECONOMIST, 2011).

O sucesso que a empresa hoje possui é decorrente de seu esforço,

primeiramente, para ganhar mercado na China. Em 1988, a Huawei iniciou sua

operação com um capital de Rmb 20 mil (à época, US$ 5 mil), revendendo

interruptores de telefone para a Hutchisson, empresa de Hong Kong. Em 1990, a

empresa investiu todo o seu lucro para desenvolver e produzir seu próprio tipo de

interruptor. E já no inicio de 1992, lançou sua primeira linha de produtos, considerado

o primeiro programa de controle digital para interruptores produzidos na China, que

estavam de acordo com as normas estabelecidas pelo governo central, e serviam para

atender à demanda rural chinesa (YU e ZHANG, 2010).

Na década de 1990, o mercado de equipamentos para Telecom na China era

monopolizado por fornecedores estrangeiros. No momento em que a Huawei entrou

no mercado, a empresa teve de enfrentar diretamente esse tipo de competidor. Wu e

Zhao (2007) em entrevista ao CEO e fundador da empresa, Ren Zhengfei, sobre como

a Huawei conseguiu ganhar mercado na China, obtiveram a resposta: A Huawei teve

de usar a mesma ideologia revolucionária de Mao Zedong, cercar as cidades pelo

interior – “encircling the cities from the countryside”.

Page 132: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

117

Esta foi a estratégia adotada pela Huawei para ganhar mercado interno na

China: a empresa focou suas vendas na região rural e interior do país, ignorada pelos

fornecedores estrangeiros. Ao entrar em pequenas e médias cidades chinesas, a

empresa construiu sua marca e começou a consolidar mercado. Entre 1991 a 1999, a

Huawei manteve a tática de investir em Pesquisa e Desenvolvimento para fabricar

produtos de acordo com a demanda chinesa, e lançar novas linhas de produtos e

serviços no interior do país, avançando a cada ano, até chegar aos grandes centros

(WU e ZHAO, 2007). Ao final de 1995, a Huawei obteve uma receita de Rmb 1,5

bilhões, tornando-se a maior empresa fornecedora de equipamentos da China

(HUAWEI, 2007).

Outra característica marcante da Huawei é a sua capacidade de adaptar as

soluções às necessidades do cliente. Por exemplo, em 1996, a empresa desenvolveu

para Hutchisson, um sistema de portabilidade para números de telefone, em Hong

Kong, específico para a demanda da Hutchisson, e que, à época, as empresas

estrangeiras não possuíam capacidade de desenvolver. Zeng e Williamson (2007)

comentam que a Huawei sempre prezou por atender a demandas, que os autores

classificaram como troublesome, problemáticas, nas quais a capacidade de inovação

da empresa seria testada e expandida.

Bom resultado no mercado interno consiste em um dos principais indicativos

de que está na hora da empresa buscar mercados no exterior. Mas não foi somente por

isso que a Huawei decidiu por internacionalizar. Wu e Zhao (2007) apresentam três

motivos pelos quais a empresa optou por realizar uma inflexão em sua estratégia e

voltar sua atuação para o mercado externo. Primeiro, apesar do grande potencial

apresentado, a intensa competição no mercado chinês poderia frear o

desenvolvimento da empresa. Competir nas grandes cidades demandaria da Huawei

capacitações niveladas às das empresas estrangeiras, algo que, operando somente na

China, seria difícil de conseguir. Segundo, o mercado de Telecom é caracterizado por

requisitar produtos cada vez mais inovadores. É imperativo para a Huawei sobreviver

no mercado, estar presente nos grandes centros, nos quais os avanços tecnológicos são

lançados. Isso seria feito com o intuito de aprender, absorver e avançar, por conta

própria, a fronteira tecnológica dos produtos que oferta. Terceiro, era uma melhor

Page 133: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

118

estratégia para a empresa competir no mercado internacional a manter-se passiva,

defendendo-se no mercado interno.

Hoje, a Huawei atua em mais de 140 países e 64% da sua receita é proveniente

do mercado externo. A empresa emprega mais de 110 mil funcionários, dos quais 51

mil vivem em outros países. Mais de 46% dos funcionários da empresa estão

engajados em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento. E a Huawei possui 20

centros de P&D no exterior (HUAWEI, 2010).

Percebemos que, hoje, o mercado externo é majoritário na fonte de receitas da

empresa. E seu empenho em gerar capacitações em P&D está vinculado com sua

operação no exterior. No entanto, ainda fica a pergunta: Como em 15 anos a empresa

passou de uma “adaptadora” de soluções para as áreas rurais da China à segunda

maior empresa de Telecom no mundo, presente em mais de 140 países? Quais foram

os principais pontos da trajetória de internacionalização da Huawei? E, quais a

vantagens em termos de propriedade, localização e internalização que a empresa

buscou explorar ou adquirir durante essa trajetória? Isso é o que buscaremos

responder a seguir.

6.2.2. Trajetória de internacionalização da Huawei

De acordo com Yu e Zhang (2010), a Huawei segue uma trajetória de

internacionalização que pode ser caracterizada como “passo a passo”, inicialmente, se

expandindo para países em desenvolvimento e, mais à frente, ingressando em países

desenvolvidos. Os autores ainda comentam que a trajetória segue do mais simples ao

mais difícil, iniciando em Hong Kong, depois Rússia, países da Ásia, África e

América Latina, para então ingressar na Europa e nos EUA. Wu e Zhao (2007)

comentam que essa é versão internacional da estratégia de cercar as cidades pelo

interior - “encircling the cities from the countryside”.

Zhu (2008) realizou uma extensa pesquisa sobre a trajetória de

internacionalização da Huawei e chegou a conclusão que a empresa passou por três

diferentes estágios de internacionalização: 1) Estágio de Tentativa (1996–1998); 2)

Estágio de Lançamento (1999–2001); 3) Estágio Maduro (2001–2008).

Page 134: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

119

No primeiro estágio, a Huawei seguiu uma estratégia de "partir do mais fácil

ao mais difícil". O autor considera Hong Kong como o primeiro destino de

internacionalização da empresa. Em 1996, a Huawei cooperou com a fornecedora de

serviços telefônicos de Hong Kong, Hutchison Whampoa, fornecendo produtos e

soluções de serviços de linha de rede fixa. Em comparação com seus concorrentes

internacionais, além da vantagem de preço, a Huawei também ofertou soluções

flexíveis ajustadas às necessidades da empresa. Assim, a Huawei ajudou a Hutchison

Whampoa a se diferenciar da concorrência em Hong Kong no mercado de

telecomunicações. Zhu (2008) ainda comenta que, durante a cooperação, os rigorosos

requisitos exigidos para qualidade de produtos e serviços impostos pela Hutchison

Whanpoa estimularam a Huawei a ajustar sua oferta de produtos e serviços mais

próxima ao benchmark internacional.

Após a cooperação com Hutchison Whampoa, a Huawei começou a explorar

mercados dos países em desenvolvimento e economias em transição. Os mercados-

alvo foram inicialmente aqueles que possuíam uma indústria de telecomunicações

relativamente atrasada e com potencial de consumo restrito por preços ou níveis de

qualidade. A empresa, então, começou a abrir representações na Rússia, países

asiáticos (Iêmen e Laos), países africanos (Etiópia) e também na América latina

(Brasil).

Por exemplo, em 1997, quando a Rússia estava em crise econômica, a Huawei

entrou no mercado russo. No entanto, a Huawei teve dificuldade em atrair clientes e

expandir o mercado por si só. Para tanto, no mesmo ano, formou uma joint venture

Huawei (Beto-Huawei) com Umberto Konzern Rússia, uma empresa de

telecomunicações russa. Em 2000, após a recuperação econômica, o mercado russo se

tornou uma das principais fontes para as vendas da Huawei no exterior. Em 1998, a

Huawei entrou no mercado asiático, incluindo Iêmen e Laos, pela primeira vez através

de licitação internacional (ZHU, 2008).

Zhu (2008) comenta que nesse estágio, os clientes internacionais ainda não

sabiam e confiavam na empresa chinesa. O autor afirma que a Huawei, nesse

momento, obteve consciência que deveria investir em sua marca e reputação, caso

desejasse atender a esses clientes internacionais, pois até essa data a oferta da empresa

Page 135: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

120

era baseada em seu baixo custo de desenvolvimento de produtos e serviços para os

clientes, alinhada a um elevado grau de customização, dada as características distintas

de cada mercado.

De acordo com Zhu (2008), o segundo estágio (1998-2001) é considerado de

maior velocidade de expansão internacional da empresa. Com consciência de que era

necessário investir em P&D para manter atualizadas suas capacitações em

customização para os clientes e que a reputação e marca da empresa eram

fundamentais para a Huawei, a empresa começou a realinhar seu modelo de negócio

para o mercado externo. Foi a partir de 1999, que a Huawei passou a investir 10% do

seu lucro em P&D e começou a contratar engenheiros para sua operação. Também,

nesse momento, empreendeu esforços em um programa de marketing internacional

denominado a “Nova Rota da Seda”. Com intuito de garantir maior receita no

mercado externo, a empresa chinesa passou a participar de todas as feiras

internacionais no setor de telecomunicações, e convidava os possíveis clientes para

visitarem Shenzhen e ver as instalações da empresa e como ela seria capaz de atender

às suas necessidades.

Como resultado desses esforços, a Huawei acelerou seu processo de

internacionalização, ingressando em países da Ásia (Tailândia, Singapura, Malásia),

Oriente Médio (Arábia Saudita, Emirados Árabes) e África (África do Sul, Egito).

Nesse período, a Huawei manteve a estratégia de ingressar em mercados periféricos,

nos quais a vantagem de preço, alinhada à customização da empresa seria um

diferencial para fechar os contratos. Zhu (2008) ainda comenta que, nesses dois anos,

a Huawei ainda estabeleceu escritórios de prestação de serviço em mais de 40 países e

as vendas internacionais passaram a representar 12% da receita da empresa.

Vale ainda destacar que a partir de 1999, a Huawei começou a apresentar um

segundo padrão de internacionalização que seria confirmado mais à frente. Soh e Yu

(2008) e Huawei (2007) afirmam que, em 1999, a empresa abriu seu primeiro centro

de P&D no exterior, em Bangalore, Índia. A decisão de se estabelecer na Índia estava

vinculada à necessidades da empresa chinesa em realizar um catch-up no

desenvolvimento de softwares. Soh e YU (2008) comentam que o projeto foi tão bem

Page 136: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

121

sucedido que em poucos anos o centro da Huawei em Bangalore recebeu certificação

nível 5 no CMM.

E, por fim, o terceiro estágio de internacionalização de Zhu (2008) consiste no

período de 2001-2008, no qual o perfil de ingresso da empresa no exterior muda em

função de dois vetores: mercado e tecnologia. A empresa passa a firmar uma série de

acordos tecnológicos e abre centros de P&D nos principais centros de

desenvolvimento tecnológico no mundo. E, também, começa a ingressar em mercados

centrais. Então, a Huawei se internacionaliza para a busca por tecnologia e mercados

centrais.

Por exemplo, Segundo Zhu (2008), a operação da Huawei na Europa se inicia

em 2001, com a implementação do sistema 10Gbps Synchronous Digital Hierarchy

(SDH) em Berlin, Alemanha. Em 2004, a empresa chinesa assina um contrato de US$

100 milhões com a Nokia Siemens para a formação de um centro de desenvolvimento

de tecnologia TD-SCDMA, rede sem fio de terceira geração (3G). Também em 2004,

a Huawei estabelece sua sede na Europa, localizada na Inglaterra. No ano seguinte,

assina com a Marconi (Inglaterra) um acordo para exploração de seus produtos no

Reino Unido. Também em 2005, a Huawei foi escolhida pela British Telecom como a

principal fornecedora de equipamentos de Telecom e serviços de rede 3G no país. Em

2006, foi o ano que a Vodafone (Espanha) escolheu a Huawei para desenvolver sua

rede de rádios.

Já os EUA, maior mercado de Telecom do mundo, foi o mais difícil para o

ingresso da Huawei (ZHU, 2008). Em 2003, a Huawei formou uma joint venture com

a 3COM, a Huawei-3COM (H3C), para o estabelecimento de canais de venda nos

EUA. Em 2007, a empresa chinesa, em conjunto com a Bain Capital, fez uma oferta

pela 3COM, que foi vetada pelo CFIUS – Comitê de Investimento Estrangeiro dos

EUA, em função de alegações de segurança nacional dos EUA (WALLSTREET

JOURNAL, 2011).

Em sinergia com a expansão de mercado, a Huawei firmou uma séria de

parcerias tecnológicas e abriu centros de P&D pelo mundo. Após o centro em

Bangalore, Índia, a empresa estabeleceu centros de P&D no Vale do Sílicio e Dallas,

nos EUA, Stockholm, na Suécia, e Moscou, Rússia. Em 2005, a Huawei já havia

Page 137: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

122

estabelecido mais de dez laboratórios de P&D com a Texas Instruments, Motorola,

IBM, Intel, Agere Systems, Sun Microsystems, Altera, Qualcomm, Infineon e

Microsoft. No final de 2010, esse número subiu para 20 laboratórios de P&D. A

empresa possui mais de 49 mil patentes e cooperou no desenvolvimento de 123

padrões internacionais de redes e sinais de 3G e LTE (Long Term Evolution).

(HUAWEI, 2010).

Nesse terceiro período, vemos a emergência de duas novas características de

internacionalização da Huawei: a busca por capacitações em P&D no exterior e o

ingresso em mercados centrais. Para ingressar em mercados centrais e, até mesmo

para competir na China contra as empresas multinacionais, era necessário que a

Huawei montasse uma rede de P&D internacional, com a qual a empresa fosse capaz

de absorver e inovar a partir do que está sendo desenvolvido na fronteira tecnológica

em seu setor. E essa foi a maior característica dessa inflexão estratégica no seu padrão

de internacionalização.

6.2.3. Análise da Huawei de acordo com o protocolo

estabelecido

Traçado o perfil da empresa e a sua trajetória de internacionalização, agora é o

momento de analisarmos a Huawei de acordo com as variáveis estabelecidas no

protocolo de análise. Buscaremos aqui uma explicação através dos fatores de

propriedade, localização, internalização e específicos do regime de

internacionalização das empresas chinesas que oferecem uma síntese sobre a trajetória

internacional da Huawei.

Fatores de Propriedade da Empresa (Ownership):

Cinco diferentes fatores de propriedade da empresa servem como base para ela

explorar mercados no exterior. Seriam eles:

Custo e Eficiência da Operação de P&D da Empresa;

Capacitações voltadas para Customização dos Produtos para o Cliente

a baixo preço;

Capacitações em Aquisição de Tecnologias e Desenvolvimento

Tecnológico;

Page 138: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

123

Construção de uma Marca e Reputação mundial;

Modelo de Gestão da Empresa de acordo com Padrões Internacionais.

Primeiramente, com relação ao custo e eficiência da operação da empresa, de

acordo com Zhu (2008), a principal vantagem comparativa de propriedade da Huawei

em relação aos seus concorrentes para ganhar mercados no exterior é o seu baixo

custo com P&D, representado pelo seu exército de engenheiros de baixo custo. Ainda

de acordo com o autor, relatórios da Huawei, em 2008, mostram que o custo com um

engenheiro na Huawei está em torno de US$ 25 mil por ano, enquanto seus

concorrentes europeus e americanos pagam, em média, US$ 120 – 150 mil, seis vezes

mais o valor da Huawei. E não é só isso, os engenheiros chineses trabalham em média

2.750 horas por ano, enquanto os europeus atingem no máximo 1.300 horas, metade

dos chineses. Como resultado, a Huawei não possui somente um baixo custo de

P&D, como também é mais rápida para responder as necessidades da demanda. Pelo

números de 2010, são mais de 51 mil engenheiros focados em P&D, o que fez com

que o The Economist caracterizasse o centro da Huawei em Shenzhen como a Torre

dos 10 mil Engenheiros.

Essa primeira característica de propriedade da empresa possui direto impacto

na segunda, que é a oferta de produtos customizados para os clientes com baixo preço

– diferenciação a baixo preço. Soh e Yu (2008) comentam que a oferta da Huawei

costuma ser em média 25–30% mais barata que seus concorrentes. Possuir um baixo

custo em P&D apoia esse tipo de posicionamento de mercado. No entanto, esse é

outro fator de escolha estratégica da empresa para ingressar em mercados

internacionais. A Huawei abre mão de altas margens de lucro para garantir

participação de mercado. E o preço não é o único driver dessa oferta. Além disso, a

empresa chinesa também opta por customizar ou adaptar seus produtos e serviços às

necessidades do cliente (ZHU, 2008). Isso é positivo, pois tenciona suas capacitações

em P&D, elevando o grau de expertise da empresa para atender a novas demandas.

Outro fator de propriedade da empresa e que suporta o seu ingresso em

mercados consiste na capacidade de aquisição e desenvolvimento de tecnologias com

empresas estrangeiras. Zhu (2008) comenta que as capacitações de P&D geradas a

partir do baixo custo dos fatores de produção na China não são perenes, pois com o

Page 139: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

124

tempo essa reserva tende a diminuir por uma série de atualizações pelas quais os

custos desses fatores estão passando e passarão. Isso significa dizer que o

posicionamento de mercado de baixo preço alinhado à customização, que são

baseados no baixo custo de P&D da empresa e no posicionamento de abrir mão de

altas margens de lucro, irão padecer. Para tanto, a empresa, a partir de 2000, lançou

uma série de iniciativas para elevar as suas capacitações de aquisição e

desenvolvimento tecnológico, que, como vimos, foi feita através de várias parceiras

internacionais. Essa rede de P&D criada no mundo, alinhada ao “batalhão” de

engenheiros focados em P&D da Huawei, a coloca em uma posição de criação de uma

expertise, quase única, no que diz respeito à aquisição e desenvolvimento tecnológico.

Isso foi determinante para a empresa ingressar e se estabelecer em mercados centrais.

Mais um fator crítico de propriedade da Huawei para a sua expansão

internacional foi a criação de uma marca e reputação como prestadora de serviço de

qualidade. Como já foi comentado, participar de todas as feiras internacionais no setor

e levar executivos para ver as suas instalações na China foram importantes para a

Huawei ganhar a confiança, primeiro, de consumidores de países emergentes, e

depois, de países centrais.

Como gerir os recursos da empresa, incluindo a cadeia de fornecimento,

controle de qualidade, finanças e recursos humanos, em uma escala global, pode ser

considerado determinante para o sucesso da internacionalização de uma empresa

(Dunning, 1993). Zhu (2008) caracteriza a Huawei com uma capacidade não usual de

eficiência em sistemas de gestão internacional. Ainda de acordo com Zhu (2008), isso

é resultado de uma série de parcerias que a Huawei estabeleceu com consultorias de

gestão internacional desde 1997. O autor nos fornece os exemplos da cooperação com

a Hay Group (EUA), Fraunhofer-Gesellschaft (FhG, Alemanha) e

PricewaterhouseCoopers, em termos de gestão de recursos humanos e gestão de

finanças internacionais. Já em 2000, a Huawei firmou um contrato com a IBM para a

introdução de dois sistemas de gestão internacionais de tecnologia de produção, o

Integrated Product Development (IPD) – que visa diminuir o ciclo de

desenvolvimento de novos produtos em rede e o Integrated Supply Chain (ISC) – que

prevê a melhor integração dos recursos ao longo da cadeia (ZHU, 2008). Nas palavras

de Zhu (2008):

Page 140: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

125

“Os mecanismos de benchmark internacional de gestão da empresa geraram

reações químicas na Huawei, com vistas a diminuir a redundância de recursos e

estimular a eficiência da produção e prestação de serviç a nível internacional. Com

isso a Huawei se equipou com capacitações de gestão que suportam a sua escalada

internacional.”

Fatores de Localização da Empresa no Estrangeiro (Locational):

Já com relação aos fatores intrínsecos à localização dos mercados que a

Huawei buscou internacionalizar, é possível identificar dois tipos distintos, são eles:

Mercados Periféricos com Características Similares às Encontradas

pela Huawei na China;

Mercados Centrais com Características Estimulantes à Busca por

Tecnologia.

A decisão da Huawei em ingressar primeiramente em mercados periféricos

está relacionada a uma séria de fatores. O primeiro consiste na falta de expertise

existente nesses mercados, muitos deles estavam passando por reestruturações no

setor de telecomunicações, ou não tinham um setor consolidado (WU e ZHAO, 2007).

Outro ponto está relacionado ao fato desses mercados não possuírem capacidade de

arcar com os elevados preços cobrados pelos fornecedores internacionais

estabelecidos (WU e ZHAO, 2007).

Entendemos, a partir do que foi exposto, que a falta de competição das grandes

empresas internacionais, aliada às restrições da demanda, abriram um espaço para a

prestação de serviço de baixo preço, com um elevado grau de customização. Falamos

em um elevado grau de customização, pois esses mercados possuem características

distintas em termos geográficos e de capacidade de TI instalada para Telecom

diferente dos apresentados em países desenvolvidos (WU e ZHAO, 2007).

Todas essas restrições e requisitos estavam alinhados com a maneira de

operação da Huawei, seu baixo custo em P&D e capacidade de customizar produtos

para os clientes fez com que a empresa fosse uma das poucas, senão a única, capaz de

atender a essa demanda.

Page 141: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

126

Outro ponto interessante que foi levantado por Zhu (2008) consiste no

tamanho da demanda presente não somente nesses mercados, como nos mercados

periféricos a esse. Índia, Brasil, Rússia, apesar de não possuírem o setor de Telecom

estruturado na década de 1990, poderiam se tornar grandes demandantes, passado o

período de reformas e estruturação do setor. Como também poderiam servir como

base para atender aos países ao redor.

A decisão da Huawei em ingressar em mercados centrais foi inicialmente

motivada pela aquisição de tecnologia. Antes de buscar por novas demandas em

mercados centrais, a Huawei acelerou seu processo de internacionalização se

comprometendo em parcerias e operações de P&D com empresas desses países. O

investimento da Huawei em mercados centrais é marcada pelo catch-up tecnológico.

Esses países possuem empresas líderes de mercado em termos tecnológicos, e esse foi

o principal determinante para o ingresso da Huawei (THE ECONOMIST, 2009).

Além disso, de acordo com Zhu (2008), são países que possuem infraestrutura para

desenvolvimento tecnológico já estabelecida, com grandes centros de pesquisa e

pesquisadores de alto nível.

Como já comentado, a Huawei possui mais de 20 centros de P&D e parcerias

com as principais empresas dos países centrais. Esse foi o driver para que a empresa

aprimorasse suas capacitações em termos de desenvolvimento tecnológico e fosse

capaz de começar a ofertar produtos de maior complexidade, de acordo com a

demanda desses países. Então, temos que a orientação da Huawei por

internacionalizar para mercados centrais em busca de ativos estratégicos faz parte da

estratégia de aprimoramento tecnológico que a torna, mais à frente, hábil a explorá-

los.

Fatores de Internalização dos Recursos no País Destino (Internalization):

De acordo com Dunning (1993), os fatores de internalização estão

relacionados aos custos de transação e riscos associados ao comprometimento dos

recursos no exterior. Nesse momento, faz-se necessária uma discussão sobre o modo

de ingresso e de envolvimento da empresa no país destino.

Page 142: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

127

Um primeiro ponto que observamos no caso da Huawei que deve ser

ressaltado é a interalização de recursos em países com alto risco político, nos quais

empresas dos grandes centros não ousariam se comprometer com operações. Esse

ponto é destacado por Voss (2011), que em seu estudo, mostra que as empresas

chinesas não consideram o risco político como as ocidentais no momento do ingresso

em determinado mercado. A Huawei, no segundo período de internacionalização

(1988–2001), internalizou recursos em uma série de mercados periféricos, como

Etiópia, Iêmen, Laos, Egito, Líbia, que possuem considerável risco político. Essa falta

de sensibilidade ao risco ajudou a empresa a garantir esses mercados. No entanto, boa

parte de suas operações são baseadas em exportações (WU e ZHAO, 2007), o que

remete a um baixo grau de comprometimento.

Outro ponto que já foi destacado é o elevado grau de comprometimento em

operações de P&D em países centrais, como os da Europa e os EUA. Como a Huawei

possui um gap de capacitações em P&D, ela teve de se comprometer com

investimentos diretos em operações cujo retorno não é imediato. Seus 20 centros e

laboratórios de P&D, hoje, fazem parte de um conjunto de recursos que diferenciam a

empresa de seus competidores. No entanto, esse tipo de envolvimento, acelerado, com

o mercado, impunha, no início, grandes riscos ao retorno da operação.

E, por fim, uma terceira característica são os centros de adaptações existentes

em mercados periféricos (ZHU, 2008). O core da operação de P&D da Huawei reside

na China e em seus laboratórios nos países centrais para os quais a empresa empenhou

significativo montante de recursos, aproximadamente 10% de seus lucros, com o

intuito de realizar um catch-up tecnológico. No entanto, como em países periféricos o

comprometimento com recursos em P&D é escasso, a Huawei ingressa através da

importação de seus produtos e realização de serviço localmente, e possui, no máximo,

um centro de adaptações para a demanda local (ZHU, 2008). Isso não reflete sua

estratégia de P&D, e os riscos em internalizar recursos de P&D em mercados

periféricos, frente ao retorno que pode-se esperar deles, não é estrategicamente válido

para a Huawei.

Page 143: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

128

Fatores Distintivos da China em Apoio à Internacionalização de suas

Empresas:

Em estudo do processo de internacionalização da Huawei, Zhu (2008)

identificou três fatores distintos que são relevantes para a explicação do caso da

Huawei e não residem dentro da teoria estabelecida. São eles:

O Suporte Dado pelo Governo Chinês-

Intervenção do Governo na Empresa-

Capacidade de Estabelecer Laços Políticos entre a Empresa e o

Governo.

Com relação ao papel do governo, Zhu (2008) comenta que uma das funções

que o governo central começou a desempenhar a partir da reforma das empresas

estatais e da política de “Go Global” foi o de guia e formulação de um grupo de

empresas, denominadas de campeãs nacionais. O suporte do governo à Huawe e de

outras empresas de equipamentos para Telecom, como a estatal ZTE, veio

inicialmente, na década de 1990, através de pedidos de compras para as empresas

estatais de telefonia. A China Telecom e a China Mobile, as maiores empresas

chinesas na prestação de serviços de telefone, são estatais, e foi, através do

direcionamento de suas demandas por produtos e serviços para empresas como a

Huawei, que o governo apoiou o crescimento da empresa e formulou as bases para

sua internacionalização (ZHU, 2008). Vale lembrar que isso ocorreu após o esforço da

Huawei em se diferenciar no interior e cidades periféricas da China. Após ter

mostrado suas competências em zonas mais afastadas, a empresa conseguiu o apoio

do governo central, através do atendimento de demandas das grandes estatais

chinesas.

Ainda de acordo com Zhu (2008), o governo ofereceu a Huawei crédito para a

montar suas operações no exterior, a baixas taxas de retorno. Bancos estatais, como o

Export-Import Bank of China (China Eximbank) e o China Development Bank

(CDB), cederam à Huawei crédito de US$ 600 milhões e US$ 10 bilhões,

respectivamente, em 2004 (ZHU, 2008).

Page 144: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

129

Sem contar que a matriz da Huawei fica em Shenzhen, primeira Zona

Econômica Especial (ZEE), estabelecida pelo governo central com o intuito de apoiar

o crescimento das empresas chinesas voltadas para a exportação. As ZEE são regiões

nas quais os investimentos são encorajados por baixas taxas de impostos,

procedimentos burocráticos simplificados e, principalmente, por incentivos

alfandegários, como a exportação de partes e componentes isentos de taxas.

Já com relação à intervenção do governo na empresa, Zhu (2008) comenta que

esse é um fator relevante no processo de internacionalização. O governo, com

intenção de criar seu conjunto de campeões nacionais, induziu diversas empresas

chinesas a internacionalizarem. No entanto, em entrevistas diretas aos executivos da

empresa, o pesquisador não percebeu nenhum tipo de intervenção do governo na

gestão da Huawei e em uma possível indução a atuar em determinados mercados fora

da China.

A questão da estrutura de propriedade da Huawei e seu relacionamento com o

governo ainda permanece um ponto nebuloso sobre a empresa (THE ECONOMIST,

2011). Como já mencionado, a Huawei é um empresa privada, sem participação

estatal. No entanto, Ren Zhenfei, fundador da empresa e CEO, já trabalhou como

engenheiro do PLA (exército chinês). E logo após a sua saída do exército, ele fundou

a Huawei. Outro ponto interessante que emerge da discussão da estrutura de

propriedade da empresa é que a Huawei lida com um setor estratégico para o país,

seja a China ou em outros mercados que ingressa. A empresa é responsável pela

criação de redes de dados e sua manutenção. Esse é um motivo pelo qual certos

mercados, por exemplo, o Americano, é resistente ao ingresso da empresa (THE

ECONOMIST, 2011).

O que se percebe, ao observamos de fora, é que Ren Zhenfei foi capaz de criar

a capacidade de estabelecer laços políticos com o governo central, que foram

oportunos em diferentes momentos da trajetória de internacionalização da Huawei.

Zhu (2008) afirma que Ren Zhenfei vê, claramente, que o desenvolvimento

internacional da Huawei está intimamente ligadado com sua capacidade de

estabelecer laços com os políticos chineses. E o pesquisador ainda apresenta algumas

evidências de tal envolvimento. Por exemplo, em 1996, quando a empresa ainda

Page 145: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

130

estava se preparando para a internacionalização e passava por restrições de fundos,

Ren Zhenfei conseguiu convidar o premier chinês Zhu Rongji para inspecionar a

fábrica da Huawei. No momento da visita, Zhu realizou um discurso encorajando a

internacionalização da Huawei e meses depois a empresa conseguiu empréstimos nos

bancos de Shenzhen. Outro exemplo dado por Zhu (2008) remete ao ano de 2000,

quando empresários chineses acompanharam o vice premier, Wu Bangguo, em visita

a países da África. Ren Zhenfei afirmou que estava com dificuldades de ingressar na

África, nessa época. E, nesse momento, os países africanos buscavam por apoio e

doações dos chineses para reconstruir sua infraestrutura. O conjunto de apoio à

reforma da infraestrutura dos países africanos, dado pelo governo central, foi decisivo

para a Huawei ingressar nesses mercados. É interessante essa passagem do texto de

Zhu (2008), pois mostra como o acordo entre governo é significativo para a atuação

das empresas chinesas na África. A restrição de recurso que a Huawei enfrentava para

penetrar o mercado africano foi suavizada pelos empréstimos dados aos africanos,

pelo governo chinês.

6.2.4. Síntese da trajetória de internacionalização da

Huawei

Como síntese da trajetória de internacionalização da Huawei, identificamos

dois diferentes padrões de envolvimento internacional. Cada um deles composto por

fatores de propriedade, localização, internalização e relacionamento com o governo

chinês distintos.

O primeiro padrão explicativo da internacionalização da Huawei remete à

busca por mercados periféricos, com características de localização de alta restrição de

preço, grande capacidade de mercado e setor de Telecom em reforma ou não

desenvolvido. Esse tipo de mercado abriu uma janela de oportunidade para os fatores

de propriedade da Huawei desenvolvidos ao longo da sua trajetória de crescimento na

China, como seu baixo custo de P&D, sua capacidade de customização e

diferenciação. Para esses mercados, a Huawei arcou com riscos de comprometimento

de recursos e internalizou determinadas operações de adaptação dos seus produtos

para os clientes, através de centros de adaptação. Além disso, a empresa ainda contou

com apoio do governo chinês, através do suporte de crédito para a

Page 146: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

131

internacionalização, Além da capacidade de contar com os laços políticos

estabelecidos entre a liderança da Huawei e do governo para ingressar em mercados,

por acordos entre governos.

O segundo padrão de internacionalização da Huawei tem sua explicação

baseada na busca por ativos estratégicos em mercados centrais. Fatores de localização

desses mercados, como centros de pesquisa, pesquisadores de alto nível, presença dos

principais competidores, motivaram a Huawei a se comprometer com recursos em

atividades de P&D e parcerias de desenvolvimento de produtos. Isso também foi feito

com o intuito de aprimorar determinados fatores de propriedade da empresa, como

sua capacidade de realizar desenvolvimento tecnológico, entendido como central para

competir nos mercados centrais.

Então, esse tipo de estratégia de internacionalização, apesar dos riscos

apresentados pela internalização dos recursos, intensifica as capacitações da empresa,

possibilitando, assim, que ela atenda à demanda desses mercados. E, também,

diminua a sua dependência dos fatores de produção de baixo custo que possui na

China.

Ao longo do tempo, espera-se que a Huawei passe de uma posição que, hoje, é

representada por líder em custo, para uma posição de diferenciação nesses mercados

(THE ECONOMIST, 2011). Isso implicará uma intensificação na competição desse

setor, pois, hoje, a posição de diferenciação está com a Ericsson. No entanto, com as

sinergias criadas por esses centros e a capacidade da Huawei de absorver esse

conhecimento, e geri-lo em escala global, poderá ameaçar a posição da empresa

sueca.

Page 147: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

132

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Figura 18 - Modelo de Internacionalização da Huawei

Fonte: Autor

Page 148: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

133

6.2.5. Trajetória da Huawei no Brasil

A Huawei é líder no mercado de banda larga fixa e móvel, e detém 70% do

mercado nacional de modems USB de acesso 3G, com mais de 1 milhão de terminais

vendidos desde a implantação do sistema no Brasil. Além disso, a empresa é líder no

fornecimento de infraestrutura de redes para as principais operadoras de telefonia

móveis e fixas no país (HUAWEI, 2011).

A empresa chinesa conta com uma estrutura corporativa com mais de mil

funcionários em três escritórios instalados em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília,

além de um centro de treinamento em Campinas, SP, onde mais de 6 mil pessoas já

receberam treinamento técnico especializado (HUAWEI, 2007).

Em 2008, o faturamento da Huawei no Brasil atingiu US$ 1 bilhão, numa

crescente expansão de contratos e ampliação do trabalho de pesquisa e

desenvolvimento, uma de suas características mais fortes (HUAWEI, 2007).

Três projetos de investimento foram anunciados pela Huawei no Brasil. O

primeiro corresponde ao ingresso da empresa, em 1999, no mercado brasileiro, com o

estabelecimento de escritórios comerciais, na ordem de US$ 10 milhões. O segundo

investimento está relacionado à construção de uma fábrica, que seria responsável pelo

fornecimento de transmissores e componentes eletrônicos para a Huawei do Brasil, e

no futuro, para a América Latina, outro investimento de aporte de US$ 10 milhões. E

o terceiro foi anunciado durante a visita da presidente Dilma à China, em 2011. A

empresa chinesa divulgou o projeto de instalação de um centro de pesquisa a nível

internacional, por US$ 300 milhões, em Campinas, SP (CEBC, 2011; BRADESCO,

2010).

O ingresso da Huawei no Brasil ocorreu em um momento no qual o setor de

telecomunicação estava passando por grandes mudanças. A privatização das empresas

de telefonia estatais resultaria na modernização do setor e no aumento na demanda

por equipamentos e dispositivos de redes. De acordo com Li Xiaotao, vice-presidente

da Huawei no Brasil, em entrevista ao autor e ao professor Barros de Castro,

Page 149: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

134

publicada pelo Conselho Empresarial Brasil-China,7 a primeira fase de ingresso da

Huawei no mercado brasileiro pode ser considerada de divulgação de informações

sobre a tecnologia chinesa e a experiência da empresa. O executivo comenta que logo

após a abertura do setor de Telecomunicação, houve um expressivo aumento na

demanda por serviço; no entanto, as empresas não conheciam a marca da Huawei.

Como conseqüência, o Brasil ingressou no programa de marketing da

empresa, a já comentada New Silk Road, na qual os executivos e possíveis clientes da

empresa, são convidados a visitarem a sede em Shenzhen e suas operações em

Pequim e Xangai. Li comenta que esse foi um ponto decisivo para apresentar aos

clientes toda a revolução na indústria de Telecom que a China havia passado e como a

Huawei seria capaz de atender a sua demanda (CASTRO et al,, 2011).

Esta diretriz de marketing foi mantida nos dois primeiros anos da empresa no

Brasil, até quando, em 2001, ela conseguiu fechar o seu primeiro contrato com uma

empresa do triângulo mineiro, a CTBC. De acordo com Li, a CTBC era uma empresa

relativamente pequena e foi executado um serviço padrão – não houve customizações

para o caso da CTBC (CASTRO et al, 2011).

Ainda de acordo com a entrevista, a primeira fase de atuação da empresa no

Brasil se manteve até 2006, quando a Huawei fechou seu primeiro grande contrato

com a operadora de telefonia VIVO. Passada a fase de estabelecimento, adaptação e

formação de sua marca, o contrato com a VIVO representou um divisor de águas na

trajetória da Huawei no Brasil. O projeto previa a criação de uma rede GSM para a

VIVO, e era a primeira oportunidade de a Huawei utilizar suas capacitações em P&D

para formar a rede no Brasil. Para tanto, nesse momento, a Huawei abriu centros de

pesquisa e adaptação em universidades como Campinas, São Paulo e Brasília.

A segunda fase de atuação da Huawei no Brasil é caracterizada por uma

elevada expansão de mercado. Com o sucesso do projeto com a VIVO, a empresa

fechou outros contratos com prestadoras de serviço de telefonia. Todavia, o que marca

o avanço e estabelecimento da empresa chinesa como líder no mercado brasileiro é o

7 O Anexo 2 apresenta a entrevista na íntegra

Page 150: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

135

Huaweino BrasilGrau de atuação

Tempo

Esforços em Marketing -Pequenos Contratos

Padronizados

Grande expansão de mercado -Contratos customizados -Formação de

redes GSM e 3G

Grande Projeto de Centro em P&D - Brasil

e América Latina

1999 2006 2011

surgimento das redes 3G e seus modems. Como já citado, a Huawei fechou seu

primeiro contrato com a VIVO, em 2008. E assim como para o padrão GSM, a

empresa chinesa prestou serviço de desenvolvimento de redes 3G e modems para as

principais empresas prestadoras de serviço de telefonia no país (HUAWEI, 2011).

Esta fase de expansão da Huawei no mercado brasileiro se mantém até hoje.

Porém, o anúncio do projeto de investimento de US$ 300 milhões para a construção

de um centro de pesquisa e desenvolvimento a nível internacional em Campinas, pode

indicar uma inflexão na estratégia de atuação da empresa no país. Dando origem,

assim, a uma terceira e nova etapa de atuação da Huawei no Brasil, no momento em

que a empresa chinesa estará não somente explorando o mercado brasileiro, mas

também adquirindo novas capacitações que a possibilitará explorar outros mercados,

mais provavelmente na América Latina.

Figura 19 - Trajetória da Huawei no Brasil

Fonte: Autor

Page 151: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

136

6.2.6. Análise da Huawei no Brasil de acordo com o

protocolo de análise

Traçado o perfil da empresa e seu ingresso no Brasil, agora faz-se necessária a

análise da Huawei de acordo com as variáveis estabelecidas no protocolo.

Buscaremos aqui, uma explicação através dos fatores de propriedade, localização,

internalização e específicos do regime de internacionalização das empresas chinesas,

que oferecem uma síntese sobre a trajetória da Huawei no Brasil.

Fatores de Propriedade da Empresa (Ownership):

Para o caso específico do Brasil, dois fatores de propriedade da empresa

devem ser destacados e justificam o seu ingresso no país.

O primeiro diz respeito à construção de uma marca e reputação mundial.

Como visto, a Huawei passou os primeiros dois anos no Brasil sem ter nenhum

contrato de prestação de serviço, somente desenvolvendo a sua marca e apresentado

aos empresários brasileiros a capacidade da empresa em prestar o serviço demandado.

O Brasil fez parte do projeto New Silk Road e vários empresários foram para a China,

com o intuito de conhecer o que era a Huawei.

O caso da Huawei no Brasil não pode ser considerado um caso clássico de

ingresso e exploração da marca. Por mais que a empresa não possuísse propriedade

sobre uma marca globalmente conhecida, ela se comprometeu com recursos e

desenvolveu as capacitações necessárias para se estabelecer no mercado brasileiro.

O segundo fator está relacionado às capacitações para a customização dos

produtos para os clientes a baixo preço. Esse fator foi crítico para a fase de expansão

da Huawei no mercado brasileiro. Na entrevista realizada, Li Xiaotao comenta que no

momento de grande construção de banda larga fixa e móvel no Brasil, nem todos

possuíam experiência de construção de rede em escala. Aproveitando essa

oportunidade, a Huawei ofertou soluções custo efetivas conforme as necessidades dos

clientes (CASTRO et al, 2011).

Page 152: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

137

Fatores de Localização da Empresa no Brasil (Locational):

Já com relação aos fatores intrínsecos à localização dos mercados que a

Huawei buscou internacionalizar, podemos caracterizar o Brasil como um dos

mercados periféricos que fizeram parte da estratégia de internacionalização da

empresa.

A decisão da Huawei em entrar no Brasil estava associada à questão da

reestruturação pela qual o setor de telecomunicações do país passava através das

privatizações. Depois de passado o período de transição, era esperado o surgimento no

país de uma demanda por equipamentos e serviços de formação de redes GSM e, mais

à frente, de redes 3G. Então, o potencial do mercado brasileiro consistiu em um fator

de localização que influenciou o ingresso da Huawei.

Outro fator está relacionado à restrição de preço que essas empresas possuíam

para requisitar serviços de rede. A privatização representa para as empresas

compradoras dos ativos um elevado custo de aquisição, principalmente para o caso de

recursos obsoletos e ineficientes como eram as prestadoras de serviços de telefonia

brasileiras. Isso significa dizer que as novas empresas de serviço telefônico

precisariam modernizar a sua prestação de serviço. E em um momento no qual foram

gastos significativos volumes com o investimento, essas empresas necessitariam

contratar serviços que fossem modernos a um baixo custo de execução. Essa é outra

característica da demanda que pode ser considerada um fator de atração de localização

ao ingresso da Huawei no Brasil.

Um terceiro ponto está associado ao fato de o Brasil poder servir como uma

plataforma para a prestação de serviço em outros países da América Latina. Após

1999, a Huawei abriu uma série de escritórios de prestação de serviços em países

como Chile, Argentina, Uruguai, os quais possuem uma estrutura menor se

comparada à operação brasileira. Nenhum deles possuí centros de adaptação e número

de funcionários da ordem do Brasil.

Page 153: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

138

Fatores de Internalização dos Recursos no Brasil (Internalization):

Percebe-se para o caso brasileiro uma resistência, por parte da Huawei, em

internalizar recursos de produção. Em 2007, a empresa, pela primeira vez realizaria

investimentos na construção de uma fábrica, que seria responsável pelo fornecimento

de transmissores e componentes eletrônicos para a Huawei do Brasil e, no futuro, para

a América Latina. No entanto, até hoje, não há indícios de que a fábrica esteja em

funcionamento. Não há nenhum pronunciamento oficial da empresa sobre o assunto,

mas ainda não existe uma unidade de produção operando no Espírito Santo (MELLO

e HENNEMANN, 2011).

A Huawei opera sobre uma estratégia de importação de seus equipamentos e

componentes na China e prestação do serviço no Brasil. As atividades da empresa no

país estão concentradas em projetar novas redes de telefonia, adaptando ou

customizando seus equipamentos para as necessidades dos clientes brasileiros.

Esse é um tipo de estratégia de operação que não compromete recursos de

produção locais. Assim, a empresa não arca com elevados custos dos fatores de

produção do Brasil, se comparados com os da China, e explora no mercado uma de

suas principais capacitações – adaptação e projeção de redes de telefonia.

Para tanto, a Huawei precisou se comprometer com centros de pesquisa, que

se caracterizam por serem centros de adaptação dos seus produtos à demanda local. A

empresa chinesa possui acordos de cooperação com a Universidade de São Paulo, a

Universidade de Brasília, além de um grande centro em conjunto com a Universidade

de Campinas.

Li Xiaotao comenta na entrevista que esse tipo de comprometimento faz-se

necessário, pois no início a Huawei não tinha muita experiência, a maioria dos

trabalhos de adaptação eram feitos por vários centros de P&D na China. E o vice-

presidente ainda afirma que está ciente que através desse P&D remoto na China a

Huawei tinha uma baixa eficiência; por isso, teve de estabelecer esses centros de

pesquisa no Brasil.

Page 154: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

139

Fatores Distintivos da China em apoio à internacionalização da Huawei

para o Brasil:

Não foi encontrado nenhum indicio direto de apoio do governo chinês para o

ingresso da Huawei no Brasil. Sabemos que o Brasil fez parte dos planos de

internacionalização da empresa, e que a Huawei contou com créditos dos bancos

estatais para suportar seu avanço internacional. No entanto, tirando esse tipo de apoio

não existem informações que comprovem o intervencionismo, o direcionamento do

governo chinês, ou ainda, acordo entre governos para que a Huawei ingressasse no

Brasil.

6.2.7. Síntese da trajetória de internacionalização da

Huawei para o Brasil

De acordo com a descrição da trajetória da Huawei no Brasil e da análise dos

fatores contribuintes para o seu ingresso no país, podemos afirmar que a Huawei no

Brasil se comporta conforme o padrão 1 – busca por mercados, identificado na síntese

sobre a trajetória de internacionalização da Huawei.

O fato de o Brasil, no momento do ingresso da Huawei, possuir características

de mercado, como setor em transição, elevado potencial de consumo, restrição a preço

e necessidade de customização, indica que podemos considerar o país como um dos

mercados periféricos para o qual a Huawei internacionalizou.

Essa hipótese ainda é sustentada pelos fatores de propriedade da Huawei,

como sua capacidade de ofertar serviços customizados a baixo preço, ter uma

estrutura de P&D de baixo custo que suporta essa oferta, e ter investido para

desenvolver uma marca no Brasil.

E, por fim, o receio da empresa em internalizar recursos no mercado brasileiro

faz com que ela mantenha a base de suas vantagens comparativas em termos de

fatores de produção na China, não intencionando, assim, se comprometer com esse

tipo de recurso no mercado brasileiro.

No entanto, caso se confirme o projeto de investimento de P&D em Campinas,

a Huawei pode começar a trilhar uma trajetória de diferenciação a partir do que é

Page 155: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

140

desenvolvido no mercado brasileiro, até mesmo para explorar em mercados vizinhos,

como a América Latina.

Infelizmente, ainda não possuímos informações suficientes sobre esse projeto.

Ele foi anunciado em Abril de 2011 e, desde então, a empresa não se pronunciou mais

sobre o assunto. De acordo com informações divulgadas pelo prefeito de Campinas ao

Estado de São Paulo, esse centro de P&D da Huawei estaria de acordo com um dos

seus 20 centros de desenvolvimento a nível internacional, todos localizados em

mercados centrais (ESTADO DE S. PAULO, 2011).

CHINA

Huawei

BRASIL

FLUXO PADRÃO 1BUSCA MERCADOS

Ownership Desenvolvidas:

Custo e Eficiência em P&D;Customização de Produtos e Serviços;

Marca e Reputação mundial;

Suporte do Governo:

Crédito para operações no exterior;

Localization:

Atender aos mercados periféricos;Requisitos de preço do

mercado chines;Incentivos dados a ZEE de Shenzhen

Localization:Clientes com restrição de preço;Setor de Telecom em reformas ou não estruturado;

Necessidade de customizar a solução para o cliente ;Mercado satélites para a região;Mercado com potencial de demanda, após

reformas ou estruturação

Ownership Exploradas:Custo e Eficiência em P&D;

Customização de Produtos e Serviços;Marca Reputação / Modelo de Gestão

Internalization:Centros de adaptações de soluções para esses mercados - baixa internalização de recursos de P&D

HuaweiSubsidiária

Suporte do Governo:

Não identificado

Figura 20 - Perfil de Internacionalização da Huawei para o Brasil

Fonte: Autor

Page 156: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

141

6.3. Estudo da Chery

6.3.1. Perfil da empresa – Trajetória de crescimento

Chery Automobile é uma empresa chinesa estatal provincial da cidade de

Wuhu. Foi fundada em 8 de janeiro de 1997, com capital social de RMB 3,68 bilhões.

A empresa é a maior montadora independente da China. Sediada em uma área de

aproximadamente 2 milhões de metros quadrados, na cidade de Wuhu, província de

Anhuí. O primeiro carro saiu da linha de produção em 18 de dezembro de 1999.

Atualmente, a Chery tem uma capacidade de produção anual de 900.000 carros

(CHERY, 2011).

A empresa chinesa está presente em 80 países, tem 15 unidades produtivas e

emprega aproximadamente 25 mil funcionários em todo o mundo. Ainda possuí

quatro submarcas: Chery, Karry, Rich e Rely, com produtos que abrangem desde

veículos até minivans, e correspondem a 16 diferentes modelos ofertados no mercado

(CHERY, 2011).

Para entendermos o perfil e a trajetória de crescimento da empresa,

primeiramente, é preciso esclarecer algumas peculiaridades do setor automobilístico

chinês. De acordo com dados do State Statistical Bureau, referentes ao ano de 2010, a

China possui o maior mercado automotivo do mundo, foram 18 milhões de veículos

registrados em 2010 (contra 7,76 milhões nos EUA) e conta com o segundo maior

estoque de veículos no mundo – 70 milhões. No entanto, o cenário de expansão do

mercado automotivo chinês nem sempre foi assim. Por exemplo, na década de 1990, a

China possuía um estoque de 5 milhões de veículos (CHIN, 2010).

O exponencial aumento no volume de carros vendidos na China é resultado de

um esforço, coordenado pelo governo chinês, que foi iniciado no final da década de

1980, mais especificamente, com o lançamento da Política Industrial Automotiva de

1988 (PIA–1988) e, mais à frente, com a formulação da Política Industrial

Automotiva de 1994 (PIA–1994).

Page 157: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

142

Gráfico 19 - Volume de Carros Vendidos por Ano - China e EUA

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

EUA 13,02 12,80 11,42 12,28 12,11 11,99 11,95 11,26 10,78 8,69 5,73 7,76

China 1,83 2,07 2,33 3,29 4,44 5,23 5,71 7,19 8,88 9,30 13,79 18,26

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

20,00

Ve

nd

as d

e c

arro

s p

or

ano

Fonte: OICA Elaboração: Autor

A PIA–1998 foi projetada dentro do contexto das grandes reformas de abertura

da economia chinesa, iniciadas em 1978 (CHIN, 2010). De acordo com Thun (2006),

a política visava à descentralização do controle da indústria, dando maior autonomia

para as províncias desenvolverem o setor automotivo. Thun (2006) comenta que uma

das estratégias utilizadas pelas províncias em busca de desenvolvimento foi incentivar

a abertura de montadoras de veículos, por se tratar de um setor intensivo em mão de

obra, e por atrair uma série de outras indústrias na cadeia de suprimento. Chin (2010)

coloca que esse foi um período de proliferação do número de montadoras, chegando a

124 diferentes montadoras chinesas em 1994. Ainda de acordo com Chin (2010), esse

elevado número de montadoras não era compatível com as 10 mil unidades

produzidas por ano. O que significa dizer, que até 1994, a China possuía uma

indústria automotiva descentralizada e fragmentada, com um grande número de

montadoras frente ao volume de carros produzidos. Thun (2006) afirma que esse

“batalhão” de montadoras era ineficiente e possuía um grande gap em termos

tecnológicos e de capacidade de produção.

Diante deste cenário, o governo chinês lançou, em 1994, sua segunda política

industrial direcionada ao setor automotivo, a PIA–1994. De acordo com Chin (2010),

a política teve duas frentes estratégicas. A primeira está associada à consolidação, por

parte do governo chinês, do número de indústrias no setor. O governo buscou criar um

grupo de três a cinco grandes montadoras chinesas, restringiu o número de licenças

para novas a criação de novas montadoras e coordenou uma série de fusões entre as já

Page 158: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

143

existentes. Desse movimento surgiram grandes estatais automotivas, como a

Dongfeng, FAW, SAIC e BAIC. Já a segunda diretriz estratégica diz respeito ao

ingresso dos investimentos estrangeiros diretos com o objetivo de modernizar o

parque industrial automotivo chinês. Foi a partir da PIA–1994 que as montadoras

multinacionais começaram a entrar no mercado chinês, e a política foi fundamental

para conformar o framework de ingresso e operação. De acordo com Chin (2010), a

política determinava:

Obrigatoriedade para o ingresso da existência de uma joint venture

com uma empresa chinesa;

A empresa estrangeira poderia ter no máximo 49% da propriedade da

joint venture;

A joint venture deveria começar a produzir com 40% de conteúdo

local, caso contrário seria incidida uma alíquota extra de imposto de

37,5% na importação dos componentes;

Para carros de passeio, o conteúdo local deveria variar entre 60–80%;

A empresa estrangeira deveria abrir um centro de pesquisa e

desenvolvimento na China.

As medidas tomadas pelo governo central resultaram no surgimento de uma

série de joint ventures entre as estatais chinesas e as montadoras estrangeiras, dando

origem assim, a uma teia de associações entre as empresas, que traz à tona uma

grande peculiaridade do setor automotivo chinês.

A partir de 2001, com o acesso à OMC, a China precisou reduzir o número de

restrições em diferentes setores, dentre eles o automotivo. Uma das barreiras

superadas consiste na restrição ao registro de uma nova montadora chinesa. Nesse

momento, assistimos ao surgimento das chamadas montadoras independentes. Castro

etr al (2011) alertam que independente na China não é desvinculado do estado.

Independente, nesse momento, diz respeito a montadoras que não estão associadas às

empresas estrangeiras e que possuem independência com relação à marca e tecnologia

(CASTRO et al,, 2011).

A PIA–1994 e o surgimento das montadoras independentes reforça a ideia da

teia de associações e conforma os atores envolvidos no setor automotivo chinês:

Page 159: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

144

Figura 21 - Atores no setor automotivo chinês

Fonte: Chin (2010)

Foi nesse contexto que a Chery foi criada em 1997. A empresa chinesa nasce

como pivô do projeto de desenvolvimento municipal da cidade de Wuhu. Essa cidade

era a capital da província de Anhui, uma das mais pobres da China, e o prefeito da

cidade viu na indústria automotiva um vetor de desenvolvimento e geração de

emprego e renda para o município (LUO, 2005).

No entanto, como já mencionado, a partir de 1994 o governo chinês buscou

restringir o número de registros de novas montadoras na China. Dessa forma, a Chery

é fundada como uma empresa produtora de autopeças e outros componentes, apesar

de possuir capacidade para a produção de automóveis, já que comprou da Ford

Inglesa uma de suas antigas linhas de produção (LUO, 2005).

Castro et al comentam que outro ponto relevante da trajetória da Chery foi a

contratação de Yin Tongyao, seu atual presidente. Ainda de acordo com Castro et al

(2011), Yin era natural de Anhui e fora por 12 anos engenheiro da FAW (uma das

grandes estatais chinesas que possuíam joint venture com as empresas estrangeiras),

gerente da linha de montagem da FAW-VW Jetta. Além de conhecimento sobre a

FAW

SAIC

Dongfeng

Changan

GAIC

BAIC

NAIC

Brilliance

Geely

GreatWall

Chery

JAC

Hafei

BYD

GM

Toyota

Ford

DaimlerChrysler

Volkswagen

Peugeot-Citroen

Hyundai

Honda

Renault-Nissan

Fiat

Mazda

BMW

Suzuki

KIA

Page 160: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

145

produção de carros, Yin também trouxe consigo mais de 100 pessoas da FAW para a

Chery. Castro et al (2011) afirmam que, nesse momento no qual a Faw produzia

apenas carros para Volkswagen, a proposta da Chery era a produção de carros nativos

chineses, o que era bastante atraente em termos de desafio para os engenheiros locais.

Mesmo sem a licença para produzir carros, a Chery contou com o apoio do

governo de Anhui, que autorizou a prefeitura de Wuhu a encomendar a sua frota de

taxis de carros da Chery. Com o apoio local e longe da fiscalização de Pequim, a

Chery começou a produzir seus carros e vender para regiões mais interiores da China

(LUO, 2005).

Como já comentado, a empresa era independente em termos de marca e de

tecnologia. De acordo com Castro et al (2011), isso significa dizer que a

independência está associada a capacidade das empresas em projetar os principais

componentes do carro, como o powertrain (motor e transmissão), enquanto as grandes

estatais utilizam-se de motores de seus parceiros, como exemplo os carros da SAIC,

que possuem motores Volkswagen ou GM.

Dessa forma, a Chery, composta por engenheiros já experientes na produção

de motores e transmissões, como Yin Tongyao e a equipe vinda da FAW, começou a

firmar uma série de parcerias internacionais que a possibilitassem aprender a fazer o

design dos componentes-chave do carro, a exemplo do que ocorreu com a AVL e a

Pininfarina (LUO, 2005).

No momento em que a empresa começou a ganhar mercado no interior da

China, chamou a atenção da SAIC – Shanghai Automotive Industrial Company. A

SAIC é a maior montadora estatal chinesa e possui joint ventures com a GM e com a

VW. Sob pressão da SAIC, em conjunto ao governo central, a Chery teve de vender

20% de sua propriedade para a montadora de Shanghai (LUO, 2005). Castro et al

(2011) comentam que essa fusão foi positiva para a Chery por dois motivos: primeiro

porque a Chery conseguiu, assim, a sua licença para a produção de carros e manteve a

autonomia gerencial; segundo porque vender carros associados à SAIC induzia os

clientes à crença de que os carros da Chery possuíam a mesma qualidade que os da

grande montadora de Shanghai. Dessa forma, em 2001, foi criada a SAIC–Chery que

esteve em atividade até meados de 2004.

Page 161: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

146

O ano de 2004 foi decisivo na trajetória da Chery. Em meados de 2003, a

Chery lançou o seu modelo Chery QQ, um subcompacto, cujo preço era muito baixo e

de acordo com a demanda chinesa. Esse lançamento ocorreu seis meses antes da GM

lançar o Spark, a sua versão de modelo compacto produzido para o mercado chinês.

De acordo com Luo (2005), a GM alegou que o modelo Chery QQ era uma cópia do

GM-Spark e pressionou a SAIC, sócia em comum das duas empresas, a forçar a

Chery a parar de vender o Chery QQ no mercado chinês. Como a SAIC não possuía

autonomia sobre a administração da Chery, ela não conseguiu intervir na venda do

modelo subcompacto. E, para não criar maiores conflitos com a GM, optou por

vender a sua participação na Chery (LUO, 2005).

Foi, então, em 2004, que a Chery comprou novamente os 20% que havia

vendido para a SAIC e conseguiu a independência de sua marca. A partir desse

momento, a Chery obteve liberdade para explorar mercados, não somente na China

como também no exterior.

Desde então, as vendas da empresa dispararam e ela ingressou em mais de 80

países. A trajetória de internacionalização da Chery e sua análise de acordo com o

protocolo estabelecido serão apresentadas a seguir:

Gráfico 20 - Evolução das Vendas da Chery no Mundo

2,830,1

50,4

101,1

79,6

185,6 307,2

427,9 508,6

682,6

0,0

100,0

200,0

300,0

400,0

500,0

600,0

700,0

800,0

2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Ve

ícu

los

(mil)

Vendas - Chery

Fonte: OICA Elaboração: Autor

Page 162: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

147

6.3.2. Trajetória de internacionalização da Chery

De acordo com Luo (2005), a trajetória de internacionalização da Chery

iniciou-se em 2001, com a venda de 1.100 veículos encomendados pelo governo da

Síria. Depois desse pedido, houve um hiato até janeiro de 2005, quando o governo de

Cuba encomendou 4.000 veículos. Esse foi o ano em que a empresa lançou a sua

estratégia de internacionalização, denominada “Going Out”. No final do ano de 2006,

a empresa já havia exportado 50.000 mil veículos para mais de 67 países. A evolução

exponencial dessa estratégia culminou no ano de 2010, quando a empresa exportou

92.000 unidades e foi responsável por 50% das exportações de automóveis da China

(CHERY, 2011).

A empresa sempre teve o intuito de se internacionalizar, como podemos ver

por declaração de Yin Tongyao: A Chery não é estável, sem mercado interno, não é

forte, sem mercado externo...(CHERY, 2011).

No entanto, o que leva uma empresa como a Chery, instalada em um mercado

de 18 milhões de demanda de veículo por ano, em plena expansão, se voltar para o

mercado externo?

A resposta reside em parte pela oferta de produtos que a Chery tem, e também

pelas características da demanda de carros na China. Apesar de a Chery ser a maior

montadora independente da China, as montadoras independentes ainda possuem

grande resistência nos grandes centros chineses (LUO, 2005). Como podemos ver

pelo market share do setor automotivo chinês, em 2010, as montadoras

independentes, em conjunto, representam apenas 13,4% do mercado:

Page 163: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

148

Tabela 13 - Principais Montadoras de Carros de Passeio em 2010

Rank MontadoraVendas

em 2010

Vendas

em 2009Crescimento

Participação

de Mercado

em 2010

1 Shanghai GM 1.038.900 708.000 46,7% 5,8%

2 Shanghai VW 1.001.000 728.000 37,5% 5,6%

3 FAW VW 870.000 670.000 29,9% 4,8%

4Beijing

Hyundai703.000 570.000 23,3% 3,9%

5Dongfeng

Nissan661.000 519.000 27,4% 3,7%

6 Chery 618.000 500.000 23,6% 3,4%

7 BYD 520.000 448.000 16,1% 2,9%

8 FAW Toyota 506.000 417.000 21,3% 2,8%

9 GreatWall 397.300 225.000 76,6% 2,2%

10 JAC 460.000 320.000 43,8% 2,6%

11 Geely 416.000 329.000 26,4% 2,3%

12 Changan Ford 411.000 316.000 30,1% 2,3%

Independentes

(Chery, BYD,

GreatWall,

JAC, Geely)

2.411.300 1.822.000 32,3% 13,4%

Principais Montadoras Chinesas de carros de passeio em 2010

Fonte: Baseado em CAMM (2010) Elaboração: CEBC

De acordo com Cartro et al (2011), isso ocorre porque as montadoras

independentes adotaram a opção estratégica de produzir carros com baixo valor de

mercado e focaram em segmentos de menor poder de compra. Outra explicação, dada

por Luo (2005), é que essas montadoras ainda não possuem experiência para

fabricação de carros e motores de alta qualidade. O nível de qualidade dos carros é

bom, considerando o design e se correlacionarmos com o preço, mas ainda não está

no mesmo patamar dos carros montados pelas grandes estatais em parcerias com as

empresas estrangeiras (CHIN, 2010).

Outra explicação que motiva a internacionalização dessas empresas é o fato de

serem independentes em termos de marcas, possibilitando, assim, a exploração de

mercados no exterior (CASTRO et al, 2011). Por exemplo, as grandes montadoras

estatais – SAIC, FAW, BAIC – não podem se internacionalizar, pois não possuem

liberdade de marca para venderem seus carros, dado que eles são comercializados

através de marcas como Ford, GM, Peugeot, Renault.

Page 164: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

149

E, por fim, com as grandes estatais impossibilitadas de expandir no exterior, as

atenções dos programas e políticas adotadas pelo governo para a internacionalização

das empresas se voltaram para as independentes, principalmente aquelas de origem

estatal provincial, como a Chery. Zhang e Filippov (2010) comentam que a empresa

recebeu US$ 10 bilhões de crédito do Export–Import Bank of China para sua

expansão internacional.

Dessa forma, a partir de 2006, a Chery começou a buscar uma série de

mercados que tivessem características de demanda similares às encontradas no

interior da China. Em outras palavras, mais adequadas a sua oferta de baixo custo com

bom nível de qualidade e design. O quadro abaixo representa a extensão de países em

que a empresa, de acordo com seu site, possui operações de revenda:

Como podemos ver, são todos países considerados como mercados

periféricos, com elevada restrição por parte da demanda em termos de preços dos

produtos. Em todos esses países, a Chery desenvolveu uma rede de vendas e trabalha

com base em exportações da China, exceto os países iluminados em verde. Tais

países, como Indonésia, Rússia, Ucrânia, representam outra face da estratégia de

internacionalização da Chery, o investimento em fábricas CKD. Essas são siglas em

inglês para complete knock down production, modelo de operação no qual todas as

Europa América do Norte África América do Sul Oceania

11 10 11 9 1

Albania Bahamas Baren Nepal Algéria ChilePolinésia

Francesa

Armenia Bermudas Tailândia Paquistão Burkina Faso Colombia

Azerbaijão Costa Rica Indonésia Filipinas Egito Equador

Bosnia Cuba Irã Qatar Etiópia Paraguai

Bulgaria Guatemala IraqueArábia

SauditaGana Brasil

Croácia Honduras Israel Singapura Líbia Peru

Russia Jamaica Jordania Síria Madagascar Bolívia

Macedonia Nicaragua Kazaquistão Turquia Marrocos Uruguai

Montenegro Panama Kuwait Vietnã Nigéria Venezuela

Servia Salvador Laos Iêmen Senegal

Ucrânia Malasia Taiwan Sudão

Ásia

22

Chery no Mundo

Fonte: Chery Elaboração: Autor

Tabela 14 - Localização da Chery no Mundo

Page 165: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

150

partes e componentes do veículo são importadas da matriz da empresa na China e

somente a montagem é feita no país destino.

Castro et al (2011) comentam que a estratégia de estabelecer fabricas CKD é

até mesmo anterior ao grande período de expansão iniciado em 2006. E afirmam que

essa estratégia teve inicio em 2003, quando a Chery fechou um projeto com a Irã SKT

Co., para instalar uma fábrica CKD com capacidade de cerca de 50.000 automóveis.

A Chery forneceu a tecnologia de produto assim como de montagem da linha de

produção. Hoje a empresa conta com 11 fábricas CKD no exterior, em países como:

Irã, Malásia, Ucrânia, Rússia, Egito, Indonésia, Uruguai, Tailândia (CASTRO et al,

2011).

Outro perfil de avanço no exterior da empresa está associado à sua busca por

tecnologia e recursos capazes de apoiar o seu catch-up. O ingresso da Chery em

mercado centrais não tem o propósito de atender à demanda por consumo, e sim para

se apropriar de ativos estratégicos para atualizar suas capacitações tecnológicas. Isso

teve inicio em 2003, em acordo com a Pininfarina, empresa de design italiana, que

realiza projetos para a Ferrari. O projeto do modelo Chery-Cielo foi realizado em

conjunto com a empresa italiana. Hoje a empresa possui pelo menos cinco grandes

acordos de desenvolvimento tecnológico em conjunto com empresas da Italia,

Inglaterra, Japão, Alemanha (LUO, 2005).

6.3.3. Análise da Chery de acordo com o protocolo

estabelecido

Traçado o perfil da empresa e a sua trajetória de internacionalização, agora é o

momento de analisarmos a Chery de acordo com as variáveis estabelecidas no

protocolo de análise. Buscaremos aqui uma explicação através dos fatores de

propriedade, localização, internalização e específicos do regime de

internacionalização das empresas chinesas, que oferecem uma síntese sobre a

trajetória internacional da Chery.

Page 166: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

151

Fatores de Propriedade da Empresa (Ownership):

Em Castro et al (2011), podemos identificar dois fatores de propriedade da

empresa que contribuíram para a busca por mercados no exterior :

Independência em Marca;

Autonomia Tecnológica.

Luo (2005) oferta ainda outras variáveis como:

Capacitações para a Produção de Carros a Baixo Preço com Qualidade

Aceitável;

Capacitações em Aquisição de Tecnologias e Desenvolvimento

Tecnológico;

Modelo de Gestão da Empresa de acordo com Padrões Internacionais.

A questão da marca já foi abordada ao longo da descrição da trajetória de

internacionalização da empresa. Para o caso do setor automotivo chinês, o fato de a

empresa possuir uma marca própria faz com que ela esteja habilitada a explorar

mercados no exterior, já que as empresas estatais parceiras das montadoras

estrangeiras vendem produtos com as marcas estrangeiras.

Já a autonomia tecnológica é resultado da opção da empresa por desenvolver

seus próprios motores, transmissões e design – a identidade tecnológica dos carros.

Luo (2005) comenta que as grandes estatais, assim como outras montadoras

independentes, desenvolveram capacitações relacionadas à produção dos carros,

estando sempre dependentes de componentes centrais do carro, como motores de seus

parceiros estrangeiros. Por exemplo, a JAC Motors, a segunda maior montadora

independente da China, compra o motor de seus carros da Toyota. A empresa é

desenvolve somente o design do carro.

No entanto, a Chery decidiu não trilhar essa trajetória e buscou formar um

departamento de P&D que lhe proporcionasse autonomia e identidade tecnológica. O

ponto crítico dessa iniciativa está na escolha de Yin Tongyao como seu CEO. Yin era

um engenheiro experiente da FAW e já havia trabalho no design de carros. Além

disso, de acordo com Luo (2005), Yin trouxe um grupo de 100 engenheiros da FAW

Page 167: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

152

para a Chery. E também a empresa conseguiu atrair mais um grupo de 20 engenheiros

da Dongfeng (outra grande estatal), que havia trabalhado em um projeto de P&D da

empresa em conjunto com a Citroen, todos haviam sido treinados pela Citroen na

França (LUO, 2005).

No entanto, a autonomia tecnológica não veio somente com o agrupamento de

recursos capazes de desempenhar P&D. Esse avanço foi coordenado em conjunto com

outro fator de propriedade da empresa, que são suas capacitações para a aquisição de

tecnologia e desenvolvimento tecnológico. Luo (2005) comenta que para desenvolver

a sua capacidade de projetar e produzir os componentes centrais do carro (motores,

transmissores, design), a Chery firmou uma séria de parcerias em desenvolvimento

tecnológico com empresas no exterior.

Em termos de desing do carro, a Chery colaborou com Pininfarina e Bertone

(designer da Lamborghini) e algumas empresas de design japonesas. Já para motores,

a empresa chinesa firmou, em 2003, um contrato com a AVL, empresa austríaca, para

desenvolver em conjunto 18 modelos de motores, todos de acordo com os padrões de

segurança estipulados pela União Europeia. Além disso, Ricardo Consulting

Engineers Ltda, da Inglaterra, está desenvolvendo carros híbridos em conjunto com a

Chery.

Luo (2005) comenta que a estratégia de obtenção de tecnologias de produtos a

partir de diferentes fontes de tecnologia, na verdade impede a dependência

tecnológica da Chery em uma empresa específica ou fonte de tecnologia. E que em

todos os projetos a Chery fez questão de formar equipes mistas, nas quais seus

funcionários de P&D estivessem presentes para aprender a desenvolver em conjunto

com os estrangeiros.

Para tanto, a Chery montou uma estrutura organizacional com quatro institutos

voltados para o desenvolvimento tecnológico: Automotive Engineering & Research

Institute; Central Research Institute; Planning & Design Institute, e Testing Center.

A empresa anuncia que dispõe de 6 mil funcionários, 24% de sua força de trabalho,

alocada para desenvolver, de acordo com cada instituto, e em conjunto com parceiros

internacionais e fornecedores novos motores, transmissores e designs de carros

(CHERY, 2011). Além disso, a empresa, em 2010, tornou-se líder no registro de

Page 168: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

153

novas patentes no mercado automobilístico chinês, tendo aplicado 5.552 patentes e

recebido o certificado em 3.672 delas.

Já com relação à capacidade da empresa em ofertar produtos de baixo preço,

com qualidade aceitável, ainda não foram mapeadas as fontes de vantagens de custo

que a Chery possui e que possam sustentar tal oferta, como pode ser visto no

levantamento feito pelo CEBC.

No entanto, Luo (2005) busca apontar alguns elementos que podem ter

contribuído para a oferta da Chery, como o baixo custo do desenvolvimento de novos

carros, dado que a empresa possui um elevado número de engenheiros dedicados a

P&D que não custam o mesmo que os engenheiros das grandes empresas estrangeiras.

E também a baixa margem de lucro que a empresa pode ter cobrado por seus carros.

Apesar do autor não divulgar o percentual que a Chery adota como margem de lucro,

ele aponta que as empresas estrangeiras em joint venture com as grandes estatais

adotam um margem de lucro muito elevada. Assim, a Chery possui espaço para

determinar uma margem inferior a eles e ainda ter um significativo lucro para

reinvestir em suas operações. A hipótese do autor pode ser sustentada pelo

levantamento feito sobre os carros compactos na China. Estes chegam a ser ofertados

a quase 50% do valor do preço das grandes joint ventures:

$4.735,55

$8.118,08

$11.654,37

$-

$2.000,00

$4.000,00

$6.000,00

$8.000,00

$10.000,00

$12.000,00

$14.000,00

QQ Fuwin A3

Chery Chery Chery

Mini Cars Compact cars Premium cars

Tabela 15 - Preços de Diferentes Modelos Chery na China (US$)

Fonte: Chery.com Elaboração: CEBC

Page 169: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

154

Outra hipótese, também abordada por Luo (2005), esta relacionada ao modelo

de gestão de acordo com padrões internacionais, que é o conjunto de técnicas de

padronização, eficiência em gestão, como o Total Quality Control – TQC da Toyota,

adotados pela Chery desde o seu surgimento. O autor afirma que a Chery contratou

um consultor japonês de renome, especialista na implementação de modelos como o

TQC, com o intuito de projetar as linhas de produção da empresa. Assim como

também trouxe um ex-gerente de linha de produção da VW, um alemão com

experiência de 40 anos na gestão de linhas de produção de carros. E, já em 2001, logo

após o lançamento de sua primeira fábrica, a empresa contava com certificações de

qualidade como a ISO-9001. E em 2002, obteve a ISO/TS16949, à época, o

certificado de qualidade de maior relevância para a indústria automobilística (LUO,

2005).

Todas as técnicas de produção voltadas para a eficiência e controle das linhas

de produção, somadas ao baixo custo de desenvolvimento de novos produtos, e a

decisão estratégica de cobrar menores margens em seus produtos, oferece uma teoria

para a oferta de baixo preço alinhado à qualidade que a Chery possui.

$8.118,08

$16.743,54 $17.343,17

$-

$2.000,00

$4.000,00

$6.000,00

$8.000,00

$10.000,00

$12.000,00

$14.000,00

$16.000,00

$18.000,00

$20.000,00

Fuwin Cruze Sunny (Jetta)

Chery SAIC-GM SAIC-VW

Compact cars Compact cars Compact cars

Fonte: ChinaAutoweb.com Elaboração: CEBC

Tabela 16 – Preço dos Carros Compactos na China (US$)

Page 170: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

155

Fatores de Localização da Empresa no Estrangeiro (Locational):

Já com relação aos fatores intrínsecos à localização dos mercados que a Chery

buscou internacionalizar, é possível identificar dois tipos distintos, são eles:

Mercados Periféricos com Características Similares às Encontradas

pela Chery na China;

Mercados Centrais com Características Estimulantes à Busca por

Tecnologia.

A Chery anuncia como sua estratégia de expansão internacional a seguinte

trajetória de ingresso nos mercados: “Países em desenvolvimento primeiro, depois

países desenvolvidos” (CHERY, 2011). Como observamos pela Tabela 14, a

localização da Chery no mundo, todos os países em que a empresa possui operações

são países em desenvolvimento, com características similares ao mercado encontrado

na China. A Chery encontrou nesses países uma demanda de acordo com a sua

capacidade de oferta, e como pode ser visto em outro levantamento feito pelo CEBC,

a empresa chinesa atua nesses países com valores de mercado significativamente

diferentes dos da China, demonstrando, assim, que mesmo com características

semelhantes, a Chery ainda pode obter considerável lucro:

Tabela 17 - Preço Chery QQ em Diferentes Mercados (US$)

China Preço -> 4.735,55$

Mercados Selecionados Preço Var .%

Malásia 12.867,10$ 172%

Africa do Sul 10.428,17$ 120%

Ucrânia 8.299,00$ 75%

Panama 8.500,00$ 79%

Venezuela 18.648,02$ 294%

Brasil 14.188,35$ 200%

Equador 10.489,51$ 122%

Colômbia 9.764,27$ 106%

Uruguai 9.500,00$ 101%

Chile 8.250,62$ 74%

Peru 7.390,00$ 56%

Base

Fonte: Diversos Sites de Compra dos Países Elaboração: CEBC

Page 171: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

156

Outro ponto que deve ser comentado sobre a atuação da Chery em mercados

periféricos, consiste na sua opção por montar uma operação de produção CKD em 12

desses países. A empresa possui pelo menos uma fábrica ao modelo CKD em todos os

continentes que ela atua. A motivação por trás desse tipo de decisão pode estar

relacionada à diminuição dos custos logísticos, estocando nessas fábricas os modelos

semimontados. Esse tipo de estratégia tem como base irradiar a produção para países

próximos a esses polos.

Também é interessante notar que a empresa ainda não conseguiu vencer a

barreira dos mercados centrais. Somente o Brasil e a Rússia – países em que a Chery

atua – figuram entre os 10 primeiros mercados para venda de veículos. Os três

principais após a China – Japão, Alemanha e Coréia do Sul, a Chery ainda não oferta

seus produtos. Uma hipótese para esse tipo de ausência reside no elevado nível de

qualidade requisitado por esses mercados.

O mesmo ocorre em termos de aquisição de tecnologia. Por mais que a Chery

possuía contratos e acordos de desenvolvimento tecnológico em conjunto com

empresas de países centrais, como Itália, Alemanha e EUA, ela ainda não tem nenhum

centro de P&D localizado nesses países. A busca por ativos estratégicos é feita sob a

forma de contratos e alianças estratégicas, nas quais o produto é desenvolvido em

conjunto e a empresa não internaliza os recursos nesses países com vistas a

desenvolver os produtos de forma independente.

Assim, podemos afirmar que existe o ingresso em países com características

estimulantes à busca por tecnologia; no entanto, a empresa não opta por internalizar

esses recursos.

Fatores de Internalização dos Recursos no País Destino (Internalization):

Assim como no caso da Huawei, um ponto que observamos na trajetória da

Chery é a interalização de recursos em países com alto risco político, nos quais

empresas dos grandes centros não ousariam se comprometer com operações. Apesar

de possuir um baixo grau de envolvimento, somente através de revendas, a Chery

optou por atuar em mercados como Síria, Líbia, Iraque, Irã, que possuem elevado

Page 172: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

157

risco político e são, usualmente, ignorados por empresas de mercados centrais, como

EUA, Alemanha e Japão.

Outra característica de internalização da Chery está associada à resistência da

empresa para internalizar ou se comprometer com recursos em um grau mais elevado

nos países que ingressa. Isso ocorre em mercados periféricos, nos quais o ingresso por

investimento é guiado por uma fábrica com baixo conteúdo local e total dependência

dos fatores de produção na China. Assim como em mercado centrais, atuando através

de alianças estratégicas e não formando centros de P&D.

Fatores Distintivos da China em Apoio à Internacionalização de suas

Empresas:

O fato de a Chery ser uma empresa estatal provincial favorece a hipótese de

pensarmos que ela possui uma série de apoios à sua internacionalização. No entanto,

pelo levantamento bibliográfico feito, dois tipos de fatores distintivos referentes ao

governo chinês influenciaram de forma positiva a expansão internacional da Chery:

O Suporte Dado pelo Governo Chinês;

Acordo entre Governos.

O primeiro diz respeito ao apoio dado pelo governo chinês na forma de crédito

à expansão internacional da empresa, como foi o caso citado por Zhang e Filippov

(2010) dos US$ 10 bilhões de crédito cedidos pelo Export-Import Bank of China para

a Chery.

O segundo está associado ao acordo feito entre governos para a compra de

veículos da Chery, como apontado por Zhu (2005), o governo da Síria encomendou 1

100 veículos e o de Cuba 4.000.

Fora esses dois aspectos, só podemos especular sobre a intervenção do

governo na empresa e seu apoio ao ingresso em outros países. E como esse não é o

objetivo desta dissertação, ficamos com esses dois fatores e suas evidências.

Page 173: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

158

6.3.4. Síntese da trajetória de internacionalização da

Chery

Como síntese da trajetória de internacionalização da Chery, identificamos

dois padrões de expansão internacional significativos e elementos de outro tipo de

movimento que podem sugerir um terceiro modelo de expansão. Cada um deles,

composto por fatores de propriedade, localização, internalização e relacionamento

com o governo chinês dinstintos.

O primeiro padrão a que nos referimos remete à busca por mercados

periféricos, com características de localização de alta restrição de preço e proibitivos

para os competidores estrangeiros, apresentando, assim, uma demanda em potencial

não atendida.

Esses mercados são destrancados pela capacidade de oferta da Chery, que tem

base em fatores de propriedade como baixo custo de desenvolvimento, gestão de

produção eficiente e autonomia tecnológica. O fato de a Chery possuir independência

com relação à sua marca, a habilita a ingressar nesses mercados.

Já em termos de internalização, vemos que a Chery não é avessa ao risco

político intrínseco a muitos deles. No entanto, a empresa se comporta de forma

resistente para internalizar recursos no exterior. Em sua maioria, a forma de ingresso é

através de revendas e a empresa busca atuar com base na exportação de carros

completos.

O segundo padrão possui características de localização e propriedade quase

semelhantes ao primeiro. Todavia, a Chery enxerga esses mercados como polos

irradiantes para a região ao seu redor. Esses mercados são escolhidos para receber as

fábricas CKD da Chery. Esse tipo de forma de internalização pode ser explicado pela

necessidade de manter as fontes de vantagem de sua oferta na China. Em outras

palavras, a empresa opta por abrir fábricas CKD, em vez de se comprometer com os

fatores de produção no mercado externo, pois pretende manter ao máximo as

vantagens provenientes dos fatores de produção na China. Esse tipo de estratégia pode

ser a chave para a Chery preservar a sua oferta de preço baixo e, assim, conseguir

acessar esses mercados.

Page 174: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

159

E, por fim, outros elementos que não podemos afirmar ser um padrão estão

relacionados à série de alianças que a empresa fez no exterior, com vistas a elevar o

seu grau de capacitação em desenvolvimento tecnológico. O vetor de localização

desses mercados remete às características de mercados centrais, como existência de

centros de pesquisa e desenvolvimento, e pesquisadores de alto nível, além dos

principais competidores presentes no local. No entanto, o que vemos em termos de

comportamento da Chery, é novamente uma resistência à internalização de recursos.

O ingresso é feito por parcerias e alianças com empresas desenvolvedoras dos

principais componentes tecnológicos da Chery. Vale, novamente, ressaltar que esse

tipo de movimento está associado ao incremento de fatores de propriedade da

empresa, como autonomia tecnológica.

Não podemos considerar esse tipo de ingresso um padrão, pois ele possui

características que não são perenes ao longo do tempo. Como a empresa não se

comprometeu com recursos nesses mercados, como por exemplo, montar centros de

P&D, não podemos afirmar que esse tipo de ingresso possa se manter após a Chery

considerar que é suficiente o grau de envolvimento internacional para aprimorar seus

fatores de propriedade, como suas capacitações de P&D. Isso significa dizer que

assim que a Chery alcançar a sua autonomia tecnológica, ela poderá deixar de fazer

esse tipo de alianças.

Ou ainda, com a orientação da China em atrair empresas para montar seus

centros de P&D no país, anunciada no novo catálogo de guia de investimentos

estrangeiros, revisado em 2011. É possível que as novas parcerias da Chery para

desenvolver-se tecnologicamente sejam feitas em zonas de desenvolvimento

tecnológico na própria China. Assim, a empresa deixaria de ir ao exterior em busca

desse tipo de aliança.

Como síntese, a própria Chery apresenta uma estratégia de internacionalização

baseada nos seguintes princípios:

Países em desenvolvimento primeiro, depois países desenvolvidos;

Exportações de veículos, depois instalação de CKD;

CKD em localização de radiação regional;

Cooperação primeiro, depois joint venture;

Page 175: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

160

Estabelecer o controle dos canais de marketing no país;

Instalar uma unidade de produção local.

Até o momento, ainda não presenciamos o ingresso da Chery como uma

unidade de produção local, ao modelo de sua operação na China. Assim como a

empresa ainda não venceu a barreira dos mercados dos países desenvolvidos.

Page 176: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

161

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Figura 22 - Modelo de Internacionalização da Chery

Fonte: Autor

Page 177: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

162

6.3.5. Trajetória da Chery no Brasil

De acordo com Luís Curi, CEO da Chery no Brasil, o projeto de ingressar no

mercado brasileiro vem sendo estudado desde 2007. No entanto, com a crise

americana em 2008, o projeto ficou um pouco de lado, pois a matriz da empresa na

China ainda não sabia os impactos que a crise poderia ter (CASTRO et al, 2011).

Até que, em meados de 2009, a Chery desembarcou no Brasil, como um

mercado promissor para a fabricante em sua estratégia de internacionalização.

Instalada em Salto, interior de São Paulo, a sede administrativa da companhia no país

ocupa uma área de 100 mil metros quadrados e conta com escritórios para os

executivos da montadora, área administrativa, oficinas, salas de treinamento,

showroom e um completo depósito de peças (CHERY, 2011).

A Chery anuncia que chegou ao Brasil para oferecer a melhor relação em

custo e benefício do mercado. A empresa se posiciona como uma oferta que apresenta

uma opção de carro completo, com todos os acessórios, e econômica ao consumidor

brasileiro. Com quatro modelos comercializados no mercado automotivo brasileiro: o

SUV Tiggo; o Cielo, nas versões hatch e sedan; o Face e o QQ – a companhia espera

conquistar significativo market share nos próximos anos (CHERY, 2011). A Chery

intenciona ingressar no Brasil com o mesmo tipo de oferta que ela fez em outros

países, vendendo carros mais baratos e completos aos consumidores da base da

pirâmide.

A empresa ingressou através de uma rede de revendas com um sócio local,

uma empresa de São Paulo, denominada Venko. De acordo com Luis Curi, esse modo

de entrada foi escolhido porque a empresa precisava de um sócio que conhecesse o

mercado brasileiro. No entanto, já estava nos planos da Chery cessar essa sociedade

em um momento logo após o estabelecimento no mercado (CASTRO et al, 2011).

O primeiro passo da Chery foi abrir uma série de redes de revenda. Até o

momento, já foram abertas mais de 80 concessionárias da Chery, em uma cobertura

de todos os estados brasileiros (CHERY, 2011).

Em meados de 2010, a empresa chinesa anunciou um projeto de investimento

com vistas à instalação de uma fábrica no Brasil. O projeto da unidade será financiado

Page 178: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

163

pela Chery, com investimento total de US$ 400 milhões, e a planta será instalada em

um parque industrial, com área de 1.000.000 m² (CASTRO et al, 2011).

Ainda de acordo com Luis Curi, o projeto está programado para ser construído

em duas fases. A primeira, com investimento de US$ 130 milhões, com capacidade

anual de produção de 50 mil veículos, e operação para ser iniciada em 2013. A

segunda, com investimento de US$ 270 milhões, com capacidade de 150 mil veículos

por ano, e com a atração de fornecedores chineses para o terreno comprado pela

Chery (CHERY, 2011).

Castro et al (2011) comentam que a segunda fase do investimento tem como

objetivo atender não somente ao mercado brasileiro, como ao da América Latina. O

Brasil serviria como plataforma de exportação para os mercados ao redor.

De acordo com o Luis Curi, a decisão por instalar uma fábrica no Brasil foi

motivada por três razões. A primeira está relacionada aos custos e incertezas

logísticas correspondentes ao transporte dos carros da China ao Brasil. A segunda diz

respeito à capacidade da empresa em responder a eventuais mudanças do mercado,

pois o tempo entre a ordem do pedido e o recebimento da China dura em torno de

quatro meses. Caso o mercado apresentasse qualquer tipo de aquecimento, a empresa

não teria tempo de resposta suficiente para aproveitar a oportunidade.

A terceira razão está associada à pergunta feita pelo professor Barros de

Castro, sobre o porquê de o Brasil ser o país escolhido e não outro país da América

Latina. De acordo com Luis Curi, o Brasil, diferente de outros países da América

Latina, já possui um parque industrial automotivo consolidado, no qual se encontram

presentes diversas empresas fornecedoras de partes e componentes.

Mais um ponto deve ser esclarecido sobre o projeto da fábrica da Chery no

Brasil: como a empresa conseguirá manter sua vantagem de ofertar um carro a baixo

preço e completo, em um país com carga tributária e custo dos fatores de produção tão

distintos da China?

Antes de respondermos a essa pergunta, vale destacar o modelo de operação

escolhido para a fábrica da Chery no Brasil. Como vimos, a Chery possui o padrão de

se instalar em um mercado externo, através de fábricas CKD (Complete Knock

Page 179: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

164

Down), que são fábricas nas quais todos os componentes necessários para a

montagem do carro são importados da matriz na China. Em outras palavras, não se

utiliza da cadeia de suprimento do local. No entanto, a proposta da Chery para o

Brasil é um pouco diferente, a empresa intenciona utilizar a cadeia de suprimentos

local. De acordo com Laguna (2011), a fábrica da Chery irá contar com 40% de

conteúdo local no momento do inicio da operação.

Agora, voltando à questão da competitividade da oferta da Chery, segundo

Castro et al (2011), a empresa pretende ao máximo manter a origem das suas

vantagens, e só irá comprar no Brasil aquilo que não for economicamente viável

trazer da China. Esse índice de 40% de conteúdo local é o resultado de uma análise

sobre o que vale a pena suprir localmente, frente à opção de trazer os componentes da

matriz na China. Castro et al (2011) caracterizam esse tipo de operação como uma

quase-CKD, na qual componentes como, pelo menos, assentos, vidros, baterias e

pneus, tendem a ser supridos pela rede local de fornecedores.

Esse tipo de modelo de operação, somado a uma série de anúncios de outras

automobilísticas chinesas interessadas em ingressar no mercado brasileiro (seja por

revenda ou por instalação de uma fábrica), fez com que o governo brasileiro se

posicionasse, anunciando uma elevação no imposto sobre produtos industrializados

(IPI) de 30 pontos percentuais para os carros importados, e a exigência de 65% de

conteúdo local para os carros produzidos no Brasil.

Esse tipo de mudança, repentina, na legislação, teve um impacto direto nos

planos da empresa no Brasil. Como visto, a Chery estava projetando uma fábrica para

ser abastecida com 40% de conteúdo local. Como resposta, segundo Laguna (2011), a

empresa pretende utilizar do grande terreno que comprou no Brasil – 1 milhão de

metros quadrados, metade de sua matriz na China, com dois milhões – para atrair

outras empresas chinesas fornecedoras de componentes para os carros da Chery.

Castro et al (2011) comentam que essa era uma opção estratégica já vislumbrada no

momento da decisão de adquirir um terreno desse porte. No entanto, isso estava

previsto para uma segunda etapa do investimento, a partir de 2013, quando a Chery

aumentaria a sua capacidade de produção, mirando o mercado latino americano. Ao

Page 180: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

165

que tudo indica, frente a essas restrições do governo, a empresa teve de adiantar seu

planejamento.

Em síntese, podemos identificar duas fases de atuação da Chery no Brasil:

uma referente ao período de 2009 a 2013, baseada na importação de carros e revenda

no Brasil; e outra, a partir de 2013, com produção local, visando, não somente, o

mercado brasileiro, mas também o mercado latino-americano:

Chery no BrasilGrau de atuação

Tempo

Revenda de Carros - 88 concessionáriasem todos os estados brasileiros

Fábrica com conteúdo local -atendimento do mercado brasileiro e

latino americano

2009 2013

Figura 23 - Atuação da Chery no Brasil

Fonte: Autor

Page 181: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

166

6.3.6. Análise da Chery no Brasil de acordo com o

protocolo de análise

Traçado o perfil da empresa e seu ingresso no Brasil, agora faz-se necessária a

análise da Chery de acordo com as variáveis estabelecidas no protocolo. Buscaremos

aqui, uma explicação, através dos fatores de propriedade, localização, internalização e

específicos do regime de internacionalização das empresas chinesas, que oferecem

uma síntese sobre a trajetória no Brasil da Chery.

Fatores de Propriedade da Empresa (Ownership):

Para o caso específico do Brasil, dois fatores de propriedade da empresa foram

relevantes para se estabelecer no mercado brasileiro: A independência da marca e as

capacitações para a produção de carros que são ofertados a baixo preço e com

qualidade aceitável.

A questão da independência da marca está associada à liberdade da Chery em

ir buscar mercados no exterior, dentre eles o Brasil. Por ser uma montadora

independente, a Chery tem a capacidade de explorar novos mercados com a sua marca

e isso foi utilizado para o Brasil.

No entanto, pode-se questionar o modelo de ingresso da Chery, pois, apesar

de possuir essa liberdade, a empresa parece não ter explorado ao máximo a sua

capacidade de construir uma marca no Brasil. De forma geral, podemos dizer que a

Chery não apostou muito em divulgar a sua marca, a empresa já possui mais de 80

concessionárias no país, mas está longe de um projeto de divulgação e fortalecimento

da marca como se vê, por exemplo, nas iniciativas da JAC Motors – outra montadora

independente chinesa atuante no mercado brasileiro. A JAC Motors contratou um

famoso apresentador da televisão brasileira para divulgar a sua marca e é possível ver

seus anúncios em todas as mídias, comentando das 50 concessionárias da JAC que

podem ser encontradas no Brasil. A Chery manteve um perfil de ingresso mais

característico chinês, com base no lowprofile.

Já com relação à sua capacidade de oferta, os carros da Chery estão sendo

comercializados no Brasil com preços similares aos seus concorrentes. Não

enxergamos no Brasil uma disrupção de mercado, como se observa, por exemplo, no

Page 182: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

167

Uruguai (US$ 9 mil), Chile (US$8 mil), Peru (US$ 7 mil). No Brasil o carro é

vendido a US$ 14 mil.

O preço do Chery QQ é, na realidade, R$ 2 mil reais mais caro que o Fiat

Mille.8 Isso significa dizer que o ingresso da Chery não é tão impactante quanto o que

pode ter sido em outros países. A Chery possui uma oferta de um carro que é barato,

mas que foi encarecido, seja por tributos e impostos, ou por opção da empresa em

obter maiores margens de lucro por produto.

Contudo, Castro et al (2011), comentam que há que se ter vários cuidados na

comparação de preços. Por exemplo, carros como o Chery QQ estão sendo ofertados

no Brasil com itens de série como: freios ABS, airbag, direção hidráulica e ar

condicionado inclusos na compra (CASTRO et al, 2011). A oferta é a de um carro

completo, que se compararmos com o preço, por exemplo, novamente, do Fiat Mille

completo, a diferença muda a favor do Chery QQ, agora, R$ 6 mil reais mais barato

que o carro da Fiat.9

Isso significa dizer que a vantagem de propriedade da empresa, em

comercializar um produto muito abaixo do nível do mercado não é vista a uma

primeira análise. Podemos afirmar que a proposta da Chery para o mercado brasileiro,

é distinta da maneira como ela ingressou em outros mercados. A empresa chinesa vem

com uma oferta de preço opaca, que só se releva quando comparamos os itens de série

de seus carros com os de terceiros. A proposta da Chery reside em uma oferta de um

carro com acessórios de carro de luxo, a um preço popular.

8 Preços: Uno Mille: R$ 21.963,16; Chery QQ: R$ 23.900,00 – Consulta feita no dia 15/12/2011

9 Preço: Uno Mille completo: R$ 29.850,00 – Consulta feita no dia 15/12/2011

Page 183: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

168

Fatores de Localização da Empresa no Brasil (Locational):

Já com relação aos fatores intrínsecos à localização dos mercados que a Chery

buscou internacionalizar, podemos caracterizar o Brasil como um dos mercados que

fizeram parte de sua estratégia de internacionalização. A empresa anuncia um tipo de

estratégia que visa expandir-se partir de mercados periféricos para mercados centrais.

A decisão de entrar no Brasil pode ser entendida como um teste da Chery para atuar

em um mercado que possui tanto características de mercado periférico, quanto de

mercado central.

O Brasil é hoje o sexto maior mercado automotivo do mundo, com uma

demanda da ordem de 3,6 milhões de carros por ano. Um mercado em expansão como

o brasileiro é certamente uma característica que atrai e justifica o ingresso da Chery

no país.

Outra característica do mercado são os preços dos carros cobrados no Brasil.

Pacheco (2008) comenta que os carros no Brasil são mais caros se comparados com o

mesmo modelo no exterior. E que isso tem origem em diversos fatores, como os

impostos brasileiros e a margem de lucro cobrada das empresas. A autora comenta

que, enquanto em 2008 a Volkswagen obteve prejuízo no mundo, o Brasil era um dos

três mercados no mundo em que ela havia lucrado. Isso significa dizer que um

mercado que está acostumado a pagar por elevados preços pelos carros é outro fator

de atração específico do ambiente que atrai o ingresso da Chery para o Brasil.

Além disso, o Brasil possui uma longa tradição no setor automobilístico,

contando com a presença de empresas multinacionais que já operam no Brasil há mais

de 50 anos. Como afirmado pelo CEO da Chery, Luis Curi, o país possui 200 milhões

de experts em carros. Lidar com uma demanda com elevados níveis de requisito sobre

o produto, servirá a Chery como aprendizado para, mais à frente, atuar em mercados

desenvolvidos, como o americano e o europeu.

Além do porte e das características do mercado consumidor, vimos que a

existência de um parque industrial automotivo foi outro motivador do ingresso da

Chery no Brasil. A proposta da empresa de montar uma fábrica como plataforma de

exportação para a América Latina, só se fez viável para o caso brasileiro. Isso ocorre

Page 184: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

169

porque se comparado a outros países da América Latina, o Brasil é único que possui

um vasto número de fornecedores autopartidas estabelecidos.

E, por fim, o fato de o Brasil ser um mercado distante da China, em termos

geográficos, faz com que a empresa se submeta a riscos e custos de transporte dos

produtos. Esse tipo de custo pode ser reduzido com o ingresso e estabelecimento de

uma fábrica e/ou centro de distribuição no país. Por exemplo, esse tipo de

característica de localização do mercado não seria considerada, caso estivéssemos

analisando um país geograficamente próximo à China.

Fatores de Internalização dos Recursos no Brasil (Internalization):

Com relação à internalização de recursos no mercado brasileiro, dois pontos

devem ser comentados.

O primeiro ponto está relacionado com a estratégia da empresa de se

comprometer com recursos, mesmo sem um grande tempo de operação e

conhecimento do mercado brasileiro. Somente após um ano de ingresso no Brasil, a

Chery fechou um memorando de compra de um terreno de 1 milhão de metros

quadrados em Jacareí, São Paulo. E dois anos após o ingresso, já havia lançado a

pedra fundamental da construção da fábrica. Isso significa dizer que a empresa optou

pelo Brasil como um dos mercados estratégicos para a sua expansão, arcando, assim,

com riscos no comprometimento de recursos, mesmo antes de obter justificativas em

termos de resultados no mercado. Para tanto, esse ingresso pode ser considerado um

avanço acelerado.

O segundo é curioso se colocado em contraste com o primeiro ponto, pois diz

respeito à resistência da empresa em se comprometer com recursos necessários para

operar uma unidade de produção no Brasil. Como vimos, a ideia inicial da Chery era a

da montagem de uma fábrica com baixo conteúdo local, mantendo, ao máximo, sua

vantagem proveniente da produção na China. Esse tipo de iniciativa pode ter sido uma

forma de contornar a necessidade de se instalar, por uma unidade de produção local,

no mercado brasileiro. A Chery decidiu com pouco tempo de mercado que deveria

instalar uma fábrica aqui; no entanto, a empresa chinesa não intencionava perder suas

fontes de vantagem competitiva.

Page 185: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

170

Esse tipo de estratégia tornou-se inviável, devido à mudança na legislação,

obrigando as empresas a possuírem pelo menos 65% de conteúdo local. A empresa

chinesa contava com um projeto para o Brasil de 40% de conteúdo local. Isso forçou a

Chery a se comprometer com recursos que não estavam planejados pelo projeto. No

momento da mudança na legislação, a empresa estava lockin dentro desse contexto,

pois já havia iniciado a construção da fábrica no Brasil. Como medida de contorno, a

Chery está buscando fornecedores chineses interessados em se instalar no terreno da

empresa, para, assim, tentar ao máximo replicar as vantagens obtidas através do

cluster de produção estabelecido em Wuhu, província de Anhui, na China.

Fatores Distintivos da China em Apoio à Internacionalização da Huawei

para o Brasil:

Não foi encontrado nenhum indício direto de apoio do governo chinês para o

ingresso da Chery no Brasil. Sabemos que o Brasil fez parte dos planos de

internacionalização da empresa, e que a Chery contou com créditos dos bancos

estatais para suportar seu avanço internacional.

No entanto, tirando esse tipo de apoio, não existem informações que

comprovem o intervencionismo, o direcionamento do governo chinês, ou ainda,

acordo entre governos para que a Chery ingressasse no Brasil.

6.3.7. Síntese da trajetória de internacionalização da

Chery para o Brasil

Podemos entender o Brasil como um caso único e novo na trajetória de

internacionalização da Chery. Isso decorre de vários motivos. Primeiro, a proposta da

empresa já era tornar o Brasil uma plataforma de exportação para países da América

Latina, com um modelo de operação que poderia ser considerado um quase-CKD, no

qual a empresa compraria localmente o que não fosse economicamente viável e

importaria as outras partes da China. Modelo este diferente das outras 12 fábricas que

a empresa possui no mundo. De imediato, esse tipo de modelo força a empresa a criar

uma rede de fornecimento local que deverá ser gerida, algo que não acontece nas suas

outras operações.

Page 186: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

171

Segundo porque o governo brasileiro adotou medidas que acabaram forçando

a empresa a elevar o seu grau de comprometimento em recursos no mercado

brasileiro. Agora, com 65% do conteúdo local, a Chery terá de convencer seus

fornecedores chineses a se instalarem no Brasil e tentará replicar certas vantagens

obtidas através do cluster de produção montado em Anhui. Na China, a Chery possui

um terreno de 2 milhões de metros quadrados, no qual ela opera em conjunto com

uma série de fornecedores. Agora, no Brasil, a empresa deverá utilizar o terreno de 1

milhão de metros quadrados adquiridos para trazer consigo alguns fornecedores que

sejam estratégicos em termos de custo e que forneçam os componentes para a

empresa chinesa atingir os 65% de conteúdo local.

Esses dois pontos fazem com que a operação da Chery no Brasil seja

consideravelmente distinta das outras fabricas CKDs que ela possui no exterior.

Enquanto nesses países a empresa precisa somente montar os componentes fornecidos

pela matriz na China; no Brasil a Chery deverá operar como uma fábrica similar a que

possui na China. Será a primeira vez em sua trajetória de internacionalização que a

empresa buscará replicar seu modelo no exterior.

Por outro lado, caso a Chery consiga manter sua operação, vimos que a

empresa chinesa possui uma oferta que se adéqua às características do mercado

brasileiro. Comercializar carros com características de luxo por preços similares aos

populares parece atingir o cerne do setor automobilístico brasileiro, que como é

sabido, está quantitativamente centrado nos compactos populares (CASTRO et al,

2011). Isso significa dizer que, aprovado nos requisitos mínimos de qualidade dos

consumidores, podemos esperar que a empresa avance em termos de market share,

intensificando a competição no segmento de carros populares no Brasil.

Page 187: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

172

INGRESSO COM OPERAÇÃO LOCAL

CHINA

Chery

Ownership Desenvolvidas:

Autonomia Tecnológica;Independênci a de Marca;

Abrir mão de margens elevadas;

Eficiência Operacional

Suporte do Governo:

Crédito para operações no exterior;

Acordo entre governos

Empresa Estatal - Forte apoio na trajetória de crescimento interno

Localization:

Atender aos mercados interiores na ChinaRequisitos de preço do mercado

chinês como um todo;Elevada competição no mercado chinês - dificuldade de penetração no principais mercados da China.

NOVO MODELO DE INGRESSOBUSCA POR MERCADOS

Localization:Clientes com restrição de preço;

Clientes exigentes em qualidadeMercado com demanda em expansão;Mercado com altos preços cobrados pelos carros;

Mercado com capacidade para plataforma

Internalization:Comprometimento em recursos para operação uma operação local, similar a operação da Chery na China

CherySubsidiária

Suporte do Governo:

Apoio através de crédito para a Chery

Ownership Exploradas:Independência de Marca;

Autonomia Tecnolófica;Eficiência de custo para manter a oferta de baixc preço

Figura 24 - Perfil de Internacionalização da Chery para o Brasil

Fonte: Autor

Page 188: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

173

7. Conclusões

Nesta última parte do trabalho, cabe ressaltar alguns pontos que são relevantes

para o desfecho da dissertação. O trabalho teve como objetivo uma observação

exploratória sobre os investimentos diretos realizados pelas empresas chinesas no

Brasil. Partimos da questão de pesquisa que buscava entender se existe um padrão no

ingresso dos investimentos chineses no Brasil.

Poucos esforços haviam sido direcionados para esse tipo de questão. Foi

somente identificada uma pesquisa que aborda diretamente o assunto, a realizada pelo

Conselho Empresarial Brasil-China, que lida com os investimentos durante o ano de

2010. A dissertação partiu da análise do Conselho e buscou ir além, através de dois

vetores. O primeiro, com foco no período de análise: enquanto o Conselho analisou

projetos referentes ao ano de 2010, este trabalho buscou entender se existe um padrão

através do estudo dos projetos referentes ao período de 1999–2011. O segundo refere-

se ao aprofundamento nos estudos de casos e na busca pelo entendimento da trajetória

de internacionalização das empresas e seu ingresso no Brasil.

Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica com foco na

internacionalização das empresas chinesas. O intuito inicial era aprender o que o

estado da arte reportava sobre a trajetória de expansão internacional das empresas

chinesas e como isso era tratado frente à literatura de internacionalização já existente.

Esta revisão serviu como base para a formulação de um modelo conceitual, cujo

objetivo era auxiliar de forma sistemática a análise dos projetos e da trajetória das

empresas em si.

Nivelado o arcabouço conceitual, para responder a questão de pesquisa

colocada, fez-se necessário um levantamento empírico dos dados associados aos

projetos de investimento chineses no Brasil. Assim, diferentes fontes foram

consultadas e chegamos a um conjunto de 60 projetos de investimento anunciados por

45 empresas chinesas no período 1999–2011. As características dos projetos serviram

como dados que foram tratados através da base conceitual com o intuito de responder

a questão de pesquisa.

Page 189: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

174

A partir do universo de 45 empresas chinesas, foi discutido o que seria uma

amostra ideal de empresas para o estudo aprofundado da sua trajetória de

internacionalização e ingresso no Brasil. Selecionamos duas empresas chinesas, a

Huawei e a Chery, e utilizamos do modelo conceitual como ferramenta para tentar

entender a sua trajetória de internacionalização, o padrão de envolvimento da empresa

no exterior e seu percurso no Brasil.

Como podemos perceber, este trabalho apresentou diferentes etapas, que vão

desde a escolha e tratamento do referencial teórico até a análise dos dados coletados

sobre os projetos de investimento. Assim sendo, é importante para o desfecho da

dissertação apresentarmos as conclusões referentes a essas etapas.

7.1. Sobre o Referencial Teórico-Base para o

Estudo da Internacionalização das Empresas

Chinesas

Como apresentado no capítulo 2 – revisão bibliográfica, dentre os quatro

diferentes clusters de discussão sobre o estudo da internacionalização das empresas

chinesas, o quarto cluster era composto por textos que discutem a validade da teoria

estabelecida sobre a internacionalização das empresas. Esses artigos buscam

interpretar as opiniões resultantes dos estudos de empresas chinesas e, através dessas,

buscam demonstrar que a atual base teórica sobre a internacionalização de empresas

não é suficiente para explicar o processo e nem para descrever os casos das empresas

chinesas.

Frente a esse cenário, os autores buscaram interpretar os dados sobre os

projetos de investimento das empresas chinesas no mundo, de acordo com modelos

próprios, adotando uma nova abordagem de discussão que deveria ser distinta da

estabelecida. Isso é claramente visto nos textos de Mathews (2002) e Voss (2011).

Child e Rodrigues (2005) apontam que uma extensão da teoria deveria ser feita, ou,

em outras palavras, uma nova teoria deveria ser composta para explicar o

deslocamento internacional das empresas chinesas.

No entanto, ao revisarmos a teoria tradicional de internacionalização, focada

nos textos de Buckley e Casson (1976), Himmer (1976), Johanson e Vahlne (1977) e

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175

Dunning (1977), percebemos que os pontos levantados por esses autores ainda se

mantinham válidos e que uma nova abordagem conceitual poderia ser proposta, mas

não de forma a excluir a já existente.

Child e Rodrigues (2005) partem do pressuposto que as empresas chinesas se

internacionalizam para obter vantagens competitivas que não possuem em

comparação aos seus competidores multinacionais já estabelecidos no mercado. Isso

seria um tipo de abordagem inovadora, se comparada às motivações apresentadas

pelos textos clássicos, que diziam que as empresas multinacionais se

internacionalizam para explorar algum tipo de vantagem em um mercado no exterior.

Frente a isso, podemos perceber que existe determinada complementaridade

nas motivações apresentadas pelas duas linhas de pensamento. Como vimos no estudo

das empresas chinesas, elas apresentam comportamentos que se adéquam tanto na

busca por atualizar suas vantagens através da atuação no exterior, como também

exploram suas vantagens já adquiridas em mercados similares aos chineses.

Essa complementaridade teve implicação direta no modelo explicativo

utilizado para estudar o caso das empresas. O modelo proposto para o estudo das

empresas parte da teoria já estabelecida. No entanto, não temos como utilizar o

Modelo OLI de Dunning para o caso das empresas chinesas. Caso contrário,

estaríamos perdendo informações que são distintas da forma de organização e

governança das empresas chinesas em sua economia e relacionamento com o governo

chinês. Para tanto, adotamos uma abordagem complementar ao texto de Voss (2011),

que apresentava um modelo específico para o estudo das empresas chinesas e que

contemplava essas especificidades.

Pelo resultado apresentado, esse tipo de abordagem complementar mostrou-se

suficiente para o estudo das empresas. Apesar de não utilizar todas as variáveis do

modelo, em função do tempo e da disponibilidade de informações, o modelo

explicativo cumpriu com o seu propósito.

Todo modelo é composto por representações simplificadas da realidade e é

intrínseco à sua formulação a existência de falhas em aderência. Um ponto que foi

identificado pelo estudo das empresas e que poderia ser adicionado ao modelo

Page 191: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

176

consiste na interlocução entre o governo chinês e o governo do país receptor do

investimento para fechar acordos. Como vimos na expansão da China na África, os

acordos são feitos entre governos. Grandes comitivas governamentais vão para a

África com o intuito de negociar com os lideres africanos a atuação das empresas

chinesas. O acordo, usualmente, é feito através de empréstimos do governo chinês

para determinado país africano, o qual se compromete em utilizar o dinheiro para

contratar empresas chinesas com a intenção de realizar, por exemplo, obras de

infraestrutura, e o governo do país africano paga o empréstimo com recursos naturais.

Esse é um tipo de acordo que leva em consideração a política externa chinesa,

e é articulado entre as empresas e os bancos de apoio do país. Dessa forma, para

entendermos melhor o avanço das empresas chinesas no mundo, e percebemos esse

modelo de operação, devemos considerar a política externa chinesa como uma

variável de análise que poderia ser adicionada ao modelo conceitual proposto.

Para essa pesquisa, e para o caso específico do Brasil, esse tipo de variável não

se mostrou relevante, levando em consideração as duas empresas estudadas. No

entanto, é nítido que esse é um tipo de fator que influencia o comportamento das

empresas chinesas em outros países e tem impacto direto sobre as empresas brasileiras

que estão nesses mercados.

Como será proposto mais à frente, outros estudos baseados no modelo

explicativo proposto deveriam ser feitos, pois quão maior a variedade de empresas

atuantes em diferentes setores forem estudadas, mais vezes o modelo poderá ser

testado e tanto ele, quanto a teoria, podem ser tencionados contra os fatos empíricos.

Por fim, é importante vermos o modelo explicativo proposto como uma

hipótese teórica que auxilia a descrição e análise da trajetória de internacionalização

das empresas chinesas, buscando entender o porquê e como elas ingressaram em

mercados no exterior.

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177

7.2. Sobre o Conjunto de Investimentos Chineses

Anunciados no Brasil – 1999 a 2011

Como vimos na análise dos investimentos anunciados pelas empresas chinesas

no Brasil, de 1999–2011, o país começou a receber investimentos significativos em

termos de número de projetos e volume de investimento a partir de 2010. Ano ao qual

a pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China caracteriza como o marco de uma

nova fase no relacionamento bilateral. Agora, além da intensificação no comércio

entre os países, assistimos ao surgimento de um novo componente – os investimentos

diretos no país.

Como pudemos ver, já existem investimentos chineses no Brasil desde 1999,

mas somente em 2010 percebemos um salto no número de projetos anunciados. Este

se manteve em 2011, indicando que a hipótese da nova fase lançada pelo Conselho

tinha fundamento.

No entanto, ainda não podemos ser conclusivos sobre o perfil dos

investimentos. A análise feita mostra três diferentes períodos de ingresso, cada qual

com características próprias. O ano de 2010 é marcante pelo ingresso de projetos

voltados para recursos naturais, enquanto o período de 1999–2009 e o ano de 2011

possuem características de motivação voltadas para busca de mercados.

A mistura de motivações que induzem as empresas chinesas a ingressar no

Brasil reflete a heterogeneidade da economia de nosso país. Se por um lado,

possuímos e exploramos recursos naturais que são do interesse dos chineses; por

outro, o Brasil apresenta características de mercado consumidor e indústria

estabelecida que atrai outro perfil de empresas chinesas para o país.

Dessa forma, se o Brasil não possui políticas de orientação ao ingresso de

investimentos estrangeiros, será difícil prever ou determinar um tipo de perfil

associado ao capital chinês no país.

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178

7.3. Sobre os Estudos da Trajetória de

Internacionalização das Empresas e Possíveis

Comparações

Após a análise do conjunto de projetos de investimento, suas características

foram utilizadas como base para a escolha da amostra de empresas que seriam

estudadas com maior profundidade.

Nessa discussão, pontos como a estrutura de propriedade das empresas e a

existência de empresas chinesas estatais centrais anunciando projetos de investimento

no Brasil se mostraram relevantes para o estudo. No entanto, diante da dificuldade de

acesso a esse tipo de empresa, o presente trabalho restringiu-se a estudar duas

empresas com características totalmente distintas. A Huawei é uma empresa privada,

de alta tecnologia, atuante no setor de serviços, enquanto a Chery é uma empresa

estatal provincial, montadora de carros, atuante no setor de manufaturas.

Tamanha diferença no perfil de atuação das empresas, setores em que estão

presentes, estrutura de propriedade, inibe uma comparação direta entre elas. Porém,

podemos ressaltar alguns pontos que se apresentaram em comum para ambos os

casos.

Com relação aos fatores de propriedade das empresas, vemos que tanto a

Huawei quanto a Chery se internacionalizaram com vistas a desenvolver capacitações

que ainda não possuíam e eram necessárias para competir em seus mercados. Essas

são voltadas para a busca por uma autonomia de desenvolvimento tecnológico da

empresa, assim como a sua capacidade de projetar novos produtos e soluções.

Também devemos destacar a clareza como os mercados são selecionados de

acordo com características intrínsecas à localização. Ambas as empresas avançaram

inicialmente para mercados periféricos com características similares às encontradas na

China. E mais à frente, no caso da Huawei, já ingressou em mercados centrais e, no

caso da Chery, ainda pretende ingressar em mercados centrais. É significativa a

trajetória de ir da periferia para o centro, muito comentada no texto de Zeng e

Willamson (2007). Assim como já comentado no parágrafo anterior, os mercados

centrais, como Europa e EUA, são polos de desenvolvimento tecnológico, com

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179

instituições de pesquisa e mão de obra qualificada, que atraem o ingresso de empresas

chinesas ávidas por atualizar suas capacitações em P&D. Os dois casos estudados

diferem-se no modelo de comprometimento das empresas com esses recursos:

enquanto a Huawei abriu centros de pesquisa nesses mercados, a Chery formou

alianças estratégicas.

Por outro lado, é perceptível a intenção das empresas em manterem suas

vantagens competitivas na China. A internalização de recursos em um mercado

externo é sempre evitada, em detrimento de manter a base da produção na China. Isso

ocorre tanto com a Chery como com a Huawei. A Chery adota o modelo de

exportação ou de fábricas CKD, enquanto a Huawei monta centros de serviço, e

mantém a produção de seus equipamentos na China.

E, por fim, independente da sua estrutura de propriedade, as duas empresas

receberam apoio do governo chinês para internacionalização. Esse apoio pode ter

vindo diretamente de políticas do governo central de suporte ao egresso das empresas,

como a Go Global Policy, lançada em 1998, como também pode ser realizado através

de acordos entre governos e participação das empresas em comitivas oficiais. Outro

ponto interessante é que não se viu, para esses dois casos, a intervenção do governo

apontando qual mercado eles deveriam ingressar. Ao que tudo indica, a escolha por

esses mercados foi de autonomia das empresas.

Apesar dos pontos de semelhança apresentados, o número de empresas

estudadas nessa pesquisa ainda é muito restrito para propormos uma generalização,

uma vez que as empresas que buscam recursos naturais e de estrutura de propriedade

central do estado não foram estudadas. Esse tipo de perfil de empresa poderia

confrontar os pontos de semelhança identificados entre a Huawei e a Chery. Frente a

isso, a presente pesquisa opta por não se posicionar com relação a um padrão de

internacionalização das empresas chinesas. Outros estudos devem ser feitos, que

somados a este, apresentarão um conjunto de informações mais robustas, indicativas

ou não de um padrão.

Page 195: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

180

7.4. Sobre Possíveis Impactos para o Brasil e seu

Posicionamento

Ainda que esteja fora do escopo da dissertação estudar o impacto dos

investimentos no Brasil e como o país deve se posicionar frente ao ingresso de capital

chinês, vale apresentarmos pontos que foram levantados pela pesquisa e que podem

servir como base para reflexões de outros pesquisadores e agentes públicos

responsáveis por esse tipo de análise.

Como vimos, o ingresso do capital chinês varia entre dois polos, um de

empresas que buscam recursos naturais e outro de empresas manufatureiras que vem

competir com a indústria estabelecida.

Esses são os mesmo polos que ditam o relacionamento comercial entre Brasil

e China. A discussão das pautas de comércio está intimamente ligada à busca dos

chineses por recursos naturais, através da exportação brasileira de commodities, e da

intenção dos chineses em vender manufaturados para o Brasil, representada pelas

importações brasileiras. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento

Indústria e Comércio, em 2011, mais de 80% da pauta de exportação brasileira para a

China concentrou-se em commodities: minério de ferro (43,45%), soja (27,05%) e

petróleo (10,05%). E mais de 70% da pauta de importação brasileira da China estão

concentradas em máquinas e equipamentos: máquinas e aparelhos mecânicos

(32,65%), máquinas e aparelhos elétricos (25,67%), partes e componentes para

veículos (14,09%).

Observamos agora um maior grau de comprometimento dos chineses com o

intuito de explorar esse cenário estabelecido no comércio. Em outras palavras, os

investimentos chineses são orientados para sustentar um tipo de relação que já está de

acordo com seus interesses no âmbito comercial.

As inversões orientadas para recursos naturais tendem a estabelecer maior

segurança para o fornecimento dos mesmos. E as relacionadas a manufaturas buscam

explorar um mercado que já é positivo, via comércio bilateral.

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181

Como já comentado, a China possui um posicionamento muito claro sobre o

que deseja no relacionamento com o Brasil. Agora, e o Brasil? O que muda com esse

novo componente que são os investimentos?

No momento em que analisamos a relação através da pauta de comércio,

vemos uma distinção muito clara de interesse das empresas brasileiras. Aquelas que

são transformadoras de recursos naturais possuem uma imagem muito positiva da

China, pois o país costuma ser seu principal cliente. Por outro lado, aquelas que

enfrentam os produtos chineses, via importação, possuem uma imagem negativa do

país asiático. Temos assim, pressões distintas; porém, não conflitantes sobre como as

empresas brasileiras veem o relacionamento comercial entre os dois países.

Agora, se adicionamos a variável investimento nesse cenário, teremos outro

tipo de implicações. A partir do momento em que as empresas chinesas começaram a

extrair commodities no Brasil, elas tenderão a comprar menos commodities das

empresas brasileiras. Além de poder começar a transferir essas commodities através

de preços de transferência, usualmente, menores que os de mercado. Esse tipo de

movimento, sujeito às condições de demanda por recursos naturais da China em

determinado ano, pode ser negativo para as empresas brasileiras transformadoras e

exportadoras de recursos naturais. Ativando, assim, um alerta que não existia quando

o relacionamento era tratado no plano comercial.

No lado das empresas manufatureiras brasileiras, o ingresso de empresas

chinesas no mercado brasileiro, instalando fábricas, tende a aumentar a

competitividade. Contudo, isso dependerá do modelo de operação escolhido pela

empresa chinesa para se estabelecer no Brasil. Se for um modelo no qual as empresas

chinesas mantém suas vantagens de produção na China, como exemplo o CKD, e

operam de forma econômica no Brasil, a indústria nacional sofrerá com árdua

competição dos chineses. Seja por via direta, competição produto a produto, ou via

indireta, competição que retira demanda dos fornecedores brasileiros, pois os chineses

estão avançando em participação de mercado e impossibilitando novos pedidos das

empresas já estabelecidas para a rede de fornecimento. Esse tipo de movimento lança

novos desafios à indústria nacional, pois se não conseguir equiparar a oferta chinesa,

deverá contar com o apoio do governo ou fechar as portas.

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182

Um terceiro e último componente dessa relação – as inversões direcionadas à

aquisição de ativos estratégicos ou investimento em P&D – até o momento não faz

parte dos interesses do capital chinês no Brasil. Assim, não observamos investimentos

que possibilitem as empresas chinesas e brasileiras a trabalharem em parcerias para

contribuir com o avanço da fronteira tecnológica em setores de ambos os países.

Para lidar com esses cenários, o governo vem, ao longo de 2011, formulando

uma série de medidas que tendem a orientar os investimentos chineses no país. O

grande problema é que são medidas pontuais, não direcionadas a uma estratégia ou a

um posicionamento do que o Brasil quer com a China.

Como exemplo, para o caso dos recursos naturais, está sendo formulado, em

2011, um novo código da mineração, que visa regulamentar o ingresso de empresas

estrangeiras, orientado-as a investirem em diferentes etapas da cadeia de valor do

setor, assim como a nova lei para a compra de terras, que está para ser sancionada no

país, dificultando a aquisição de terras por estrangeiros. Já no lado das manufaturas, o

governo aumentou para 30 pontos percentuais o IPI para carros importados, e

requisitou as empresas estrangeiras montadoras no Brasil a possuir 65% de conteúdo

local.

O que todas essas medidas possuem em comum? São medidas pontuais, em

diferentes setores, todas com viés protecionista nos setores das empresas

estabelecidas. Seria essa a melhor maneira de lidar com os chineses: se proteger?

A resposta para esse ponto foge do escopo desta dissertação, uma vez que

envolve outras variáveis, além da analise dos investimentos diretos. Como por

exemplo, a situação da economia e indústria brasileira em um dado momento e suas

perspectivas, em comparação com os rumos da economia e indústria chinesa no

mesmo momento e suas perspectivas.

No entanto, para não deixar a pergunta sem resposta, podemos trazer à tona

um texto do professor Barros de Castro que toca exatamente nesse ponto. Castro

(2008) apresenta três tipos de estratégias para lidar com a China: o entrincheiramento,

a estratégia adaptativa e a estratégia transformadora.

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183

Por respeito e admiração, o autor da presente dissertação gostaria de iluminar

essas estratégias, reportando-as nas palavras originais do professor Barros de Castro.

Muitos discutem que o Brasil precisa de uma estratégia para lidar com a China, mas

que até o momento nenhuma foi elaborada. No entanto, poucos prestam a atenção que

um primeiro passo foi dado. Uma primeira hipótese de opções de posicionamento foi

levantada. Claro que está ainda precisa se testada dado às restrições encontradas na

realidade. Contudo, temos um norte.

“A estratégia de entrincheiramento, busca proteger a industria como ela é,

frente a mudanças recentemente surgidas, que a prejudiquem ou ameacem. Assinale-

se, a esse respeito, um contraste entre a proteção do tipo que acaba de ser referido, e

aquela concedida quando a industria ainda está sendo implantada. Neste último caso

as empresas (não raro principiantes) tratam de adquirir e dominar capacitações de

que raramente o país dispõe - mas que já são tradicionais em outras economias. Elas

se movem por interesses próprios, mas têm, também, a missão histórica de incorporar

novas competências ao acervo de que o país dispõe. No caso em foco, porém, a

proteção (demandada, possivelmente, pelas próprias empresas), tenta, quando muito,

preservar competências, que além de amplamente dominadas, podem já estar se

tornando arcaicas.

Mas há ainda alguns sérios riscos. Por exemplo, os proprietários dos ativos

podem (justificadamente, talvez, havendo a este respeito grande assimetria de

informações) considerar a sua posição já seriamente ameaçada, ou mesmo

definitivamente perdida. Em tais casos, a proteção por eles pleiteada trará alívio

apenas momentâneo, o patrimônio particular dos donos terá sido beneficiado - e os

órgãos públicos terão funcionado como balcão de atendimento a reclamos. Além

disso, não é demais acrescentar, nos próprios segmentos ameaçados, empresas

particularmente criativas, já estarão possivelmente desenvolvendo soluções

inovadoras - que correm o risco de serem desestimuladas pela proteção oferecida ao

“entrincheiramento”.

A proteção pode no entanto se revelar proveitosa - para a empresa e para o

país - desde que combinada com efetivas mudanças, que tragam consigo o

reposicionamento de empresas. Mas isto requer que ao invés de se proteger o

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184

passado, assumam-se firmes compromissos de mudança: as empresas, bem como as

políticas públicas, deverão apoiar ativamente o reposicionamento. Nestes casos,

porém, já estaríamos ingressando na próxima estratégia – em que se privilegia

saídas, pelo menos, adaptativas.

A proteção de posições ameaçadas, enfim, gera benefícios imediatos – sendo

por isto mesmo politicamente atraente. O entrincheiramento como solução maior, no

entanto, frente a mudanças de grande magnitude, e vista a questão do ponto de vista

do país, traz em si um grave erro de diagnóstico. Não é uma resposta à altura do

referida como estratégia. Afinal, um comportamento adequadamente referido como

estratégico deve possuir visão de futuro, para o que é indispensável ter em conta a

conduta, os objetivos e os planos de ação dos atores que estão entrando em cena.

A emergência da China, e as transformações por ela induzidas, porém,

caracterizam uma autêntica ruptura da normalidade - e o surgimento de novas

tendências. Em outras palavras estamos, no caso, diante de um fenômeno

essencialmente histórico e único.

Face a uma ruptura deste tipo, as empresas devem indagar-se sobre as suas

chances no novo contexto, tendo assim início os trabalhos para a elaboração de uma

estratégia de segundo tipo, dita adaptativa. Cabe, neste caso, preliminarmente, um

trabalho de reavaliação dos recursos, visando definir como a empresa se vê diante

das novas circunstâncias. Esta operação nada tem de simples.

Seu ponto de partida é, necessariamente, um esforço pra distinguir, na poeira

dos fatos, o que deve ser efetivamente tido como reflexo das novas “tendências

pesadas”, devendo portanto perdurar. Segue-se, mudando o prisma de análise, o

delicado balanço daquilo que pode ser tratado com as competências já existentes,

versus o que requer o desenvolvimento de novas competências. Além disto, há a

questão do timing: como distribuir os esforços entre as oportunidades (e ameaças)

imediatamente percebidas, vis a vis os objetivos presumivelmente alcançáveis

somente a médio ou longo prazo?

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185

Voltando à segunda, parece plausível considerar que as mudanças integrantes

da estratégia adaptativa requererem o seu tempo de maturação – bem como o apoio

de terceiros. No que toca ao tempo, é importante - e caracteriza a estratégia

adaptativa, por contraposição ao entrincheiramento – uma certa presteza no

reconhecimento de que certas mudanças vieram para ficar, e têm que ser

efetivamente enfrentadas. No que tange ao apoio de terceiros, referimo-nos,

sobretudo, à importância decisiva para o reposicionamente substantivo das

empresas, de colaboração, parcerias, bem como o recurso a instituições integrantes

do Sistema Nacional de Inovação. Isto implica dizer que a adoção de uma estratégia

adaptativa requer a existência - pelo menos em estágio embrionário - de um Sistema

Nacional de Inovação.

Em suma, políticas públicas, que vão do estímulo ao esforço tecnológico a,

digamos, mudanças de regulação, se fazem necessárias, atuando no mais das vezes

como catalizadores das decisões privadas. Mas, apesar de apoiar ativamente a

evolução dos negócios, a estratégia adaptativa só residualmente tem em conta

transformações da economia. Este tipo de mudança, como já foi anunciado, é

prerrogativa da terceira estratégia, daqui por diante comentada.

Na terceira estratégia o tom não é dado por esforços que pretendam a

adaptação evolutiva às novas circunstâncias e, quanto ao futuro, não se espera que

ele seja espontaneamente engendrado por decisões tomadas, uma a uma, pelas

empresas, com ou sem apoio de políticas públicas. Na realidade uma estratégia de

transformação faz diferença, na medida em que vislumbre possibilidades que só

podem ser alcançadas mediante esforços cooperativos e concentrados, em busca de

uma certa visão de futuro.

Adaptações ocorrerão, devendo, no âmbito de uma estratégia transformadora,

ter o futuro como importante referência. A blindagem de certas posições pode

também ser, excepcionalmente, acolhida. Mas o que deve dar o tom, se é verdade que

estamos diante de um grande deslocamento (como, por exemplo, a redefinição do

centro de gravidade do crescimento da economia mundial), são as transformações.

Para este efeito, as tendências pesadas não deveriam ser tomadas apenas como

alterações profundas e duradouras, das condições com que se depara no mercado.

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186

Elas devem ser vistas – e tratadas - como mudanças que guardam diversas

possibilidades, não plenamente reveladas.

A escolha das transformações a serem priorizadas requer a elaboração de

visões do futuro. Estas, ainda quando abertas a correções e aperfeiçoamentos, e

desde que acompanhadas de propostas consistentes, persuasivas, privilegiadas por

políticas eficazes, e amparadas por revisões da regulação, tendem a coordenar,

potenciar e dar rumo às transformações” (CASTRO, 2008).

7.5. Sobre Futuras Pesquisas Realizadas a partir

Desta e Desfecho

Para terminar a pesquisa cabe indicar o que pode ser feito a partir dela para

aumentar o nível de conhecimento sobre a China, empresas chinesas e seus

investimentos no Brasil. O interessante de realizar uma pesquisa exploratória sobre

um tema novo é que diversas pesquisas podem ser derivadas do presente trabalho. A

ideia será expor uma linha de pesquisa que vai desde o referencial teórico exposto,

passando pela adoção de novos casos e, por fim, do posicionamento do Brasil, com

base nos investimentos, frente ao interesse chinês.

Inicialmente, podemos derivar as três estratégias apresentadas pelo professor

Barros de Castro como pesquisas que podem ser aprofundadas tomando como base

diferentes setores. Uma série de publicações pode ser feita com vistas a analisar o

ingresso das empresas chinesas em determinado setor, possíveis impactos e

possibilidades de cooperação para desenvolvimento tecnológico. Isso formaria a base

para a formulação de diversas opções estratégicas para lidar com a China.

Com relação à linha teórica adotada, o modelo conceitual e explicativo

proposto, pode ser modificado e/ou incrementado frente a outras literaturas, sempre,

de acordo com o foco de pesquisa que está em questão. Por exemplo, pode-se

contrastar a literatura de international business revisada com a literatura de estratégia

de negócios ou de operações, buscando adaptar o modelo de análise para limites

internos ao da organização. O risco para a adoção desse tipo de abordagem são as

variáveis utilizadas e o acesso a informações intrafirma chinesa, que são difíceis de

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187

conseguir. O mesmo pode ser feito para outras literaturas, como por exemplo, a

discussão de inovação.

Outro conjunto de pesquisas está associado à base de dados sobre os projetos

de investimentos chineses que foi consolidada neste trabalho. A presente pesquisa

realizou uma reconstrução histórica dos projetos anunciados por empresas chinesas,

contemplando o período de 1999 a 2011. Como não existem fontes sistemáticas e

confiáveis para esse tipo de informação, a base aqui apresentada pode conter algumas

falhas, como investimentos que foram anunciados e não contabilizados. Além do fato

de estarmos limitados ao ano de 2011. Isso significa dizer que outras pesquisas,

consolidando os dados e analisando as características dos projetos de investimento,

podem ser feitas para períodos de tempo diferentes dos abordados na presente

dissertação, seja mais para o passado ou para os anos a seguir de 2012. A presente

dissertação já apresenta um método de como analisar tais investimentos. Assim,

caberia a essas outras pesquisas, utilizá-lo para novos investimentos anunciados ou

investimentos antigos descobertos.

Ainda com relação aos dados dos investimentos, vale uma pesquisa que

busque verificar o grau de efetivação desses projetos. A pesquisa do Conselho

Empresarial Brasil-China de 2010, apesar de centrar as análises nos investimentos

anunciados, aborda a questão de quantos projetos foram somente anunciados e

quantos foram confirmados e serão executados naquele ano ou nos anos a seguir. Para

a presente dissertação, foi inviável checar com todas as empresas desde 1999 os

projetos de investimento anunciados, até porque não era essa a intenção deste texto.

Assim como a pesquisa do Conselho, a presente dissertação buscou entender o

interesse dos chineses no Brasil. A não-confirmação de um investimento e sua

imediata retirada dos dados de análise pode incorrer em um erro de momento. O

investimento pode muito bem não ser confirmado agora, e mais à frente vir a se

concretizar. Então, de forma a entender os interesses dos chineses no Brasil, assim

como seu padrão de ingresso, faz sentido analisarmos os investimentos como um

todo. Como também será interessante, em outra pesquisa, buscar entender quais

projetos foram somente anunciados, a taxa de efetivação e os motivos porque tal taxa

existe ou se mantém ao longo do tempo.

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188

Agora, com foco nos estudos das empresas chinesas, os casos específicos de

ingresso no Brasil. Se considerado viável, é possível replicar o modelo explicativo e o

método de trabalho utilizado para estudar um conjunto maior de empresas chinesas

que anunciaram projetos de investimento no Brasil. Diversas pesquisas podem ser

feitas direcionadas por setores e com estudos de empresas chinesas com diferentes

características de propriedade. Os estudos setoriais que abordam casos das empresas

no Brasil seriam oportunos para a formulação de políticas que não sejam pontuais.

Assim como quanto maior o número de casos estudados, mais provável será a nossa

capacidade de entender se existe um padrão no movimento das empresas chinesas

com intuito de ingressar no Brasil.

Ampliando um pouco o foco de atuação, os dados apresentados nesta

dissertação, assim como as empresas listadas, podem servir como base para estudos

econômicos dos impactos desses investimentos na economia brasileira, e para a futura

formulação de políticas frente a esses impactos. Aqui, a ideia de explorar os casos por

setores também será oportuna, até para medir os impactos do ingresso das empresas

nos setores, como o número de empregos que deixariam de existir diante da nova

competição chinesa, os impactos nos preços dos produtos ofertados, ou ainda as

perspectivas de desenvolvimento ou perda de capacitações das empresas locais frente

ao ingresso dos competidores chineses.

E, por fim, uma última linha de pesquisa pode ser realizada a partir da análise

dos interesses mútuos de investimentos da China e do Brasil. Esse tipo de trabalho

teria como base mapear as perspectivas de investimentos chineses no mundo, assim

como os setores promovidos pelo governo chinês frente às necessidades ou

oportunidade oferecidas pela economia brasileira. Nesse tipo de pesquisa, pontos em

comum e de cooperação e desenvolvimento mútuo poderão ser encontrados e isso

pode servir como base para o governo brasileiro orientar e/ou promover o ingresso do

capital chinês no país.

Enfim, o presente autor do trabalho espera que o esforço empreendido nesse

texto sirva como base para o incremento do conhecimento sobre a China e,

principalmente, sobre as empresas chinesas no Brasil.

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The Economist Intelligence Unit:

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China Car Times:

http://www.chinacartimes.com/

China Association of Automoblie Manufacturers:

http://www.caam.org.cn/english/

International Organization of Motor Vehicle Manufacturers (OICA):

http://www.oica.net/category/production-statistics/

Informações sobre a Chery:

Chery Brasil:

http://cherybrasil.com.br/conheca-a-chery

Chery Notícias no Brasil:

http://cherybrasil.com.br/novidades

Chery International:

http://www.cheryinternational.com/

Informações sobre a Huawei:

Huawei Brasil:

http://www.huawei.com/pt/

Huawei International:

http://www.huawei.com/en/

Huawei Milestones:

http://www.huawei.com/en/about-huawei/corporate-info/milestone/index.htm

Huawei Annual Report:

http://www.huawei.com/en/about-huawei/corporate-info/annual-report/annual-

report-2010/index.htm

Page 215: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

200

APÊNDICE 1 - Busca Bibliográfica

A busca realizada

Antes de realizar uma busca sobre a disponibilidade de fontes para a execução

da dissertação é necessário determinar quais seriam as principais palavras chaves que

guiariam essa busca, foram levantadas dez palavras que estariam diretamente

relacionadas com o tema, são elas:

Tabela 18 - Conjunto de Palavras-Chave

Palavras Chave

China

Chinese

Internationalization

Outward Investments

International

Companies

Business

Global

Strategy

Fonte: Autor

A partir dessas palavras foram escolhidas as seguintes combinações para a

busca, são elas:

Tabela 19 - Combinações de Pesquisa

Combinações

Internationalization Chin*

International Business Chin* Compan*

Outward Investments Chin* Compan*

International Strateg* Chin* Compan*

Global Strateg* Chin* Compan*

Fonte: Autor

A palavra “Companies” foi suprimida na primeira combinações pois não faz

muita diferença se adicionada na busca. E a palavra “China” e “Chinese” pode ser

pesquisada através do termo “Chin*”.

Cabe agora determinar as fontes que serão utilizadas para essas pesquisas, são

elas: livros, artigos e pesquisas de instituições que tratam sobre o tema.

Page 216: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

201

Busca por livros

Antes de partir para uma busca em bases de periódicos foi feita uma busca

com essas palavras chaves no site Amazon. O quadro abaixo demonstra a resposta

obtida ao compulsar essa fonte:

Tabela 20 - Resultado busca Amazon

Combinações Amazon

Internationalization Chin* 21

International Business Chin* Compan* 350

Outward Investments Chin* Compan* 17

International Strateg* Chin* Compan* 12

Global Strateg* Chin* Compan* 6

Fonte: Autor baseado em amazon.com

Percebemos que não existe um número muito grande de livros publicados

sobre o assunto. A única resposta que possui um maior retorno consiste nos 350 livros

sobre “International Business Chin*”, isso ocorre pois muitos desses consistem em

livros sobre a etiqueta de negócios na China, ou como fazer negócios com a China,

tópico que não se correlaciona com a pesquisa. A palavra chave “International

Business” está mais associada ao campo de estudo que o tema dessa pesquisa faz parte

do que uma palavra chave que guie a pesquisa. Mesmo assim, optou-se por continuar

utilizando esse termo.

Essa busca inicial foi útil para percebemos o volume de literatura que já foi

escrito sobre o tema. Buckley (2010) comenta que muita atenção ainda não foi dada

aos investimentos estrangeiros diretos das empresas chinesas em outros países. E o

resultado apresentado pela Amazon, de certa forma, sustenta o argumento do autor.

Outro ponto importante que deve ser comentado é que a utilização de palavras

chave como “Internationalization” e “Investments” foi útil para aumentar a variedade

de livros. A internacionalização de uma empresa consiste em investimentos que essa

empresa exerce em outro país. Quando buscamos livros utilizando o termo

“Internationalization”, encontramos resultados como Larcon (2008), intitulado,

Page 217: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

202

“Chinese Multinational”. Livro que comenta sobre as multinacionais chinesas que

internacionalizaram e investiram no exterior. Por outro lado, quando buscamos

através de palavras como “Investments”, temos resultados que nos leva a livros como

o de Buckley (2010), intitulado, “Foreign Direct Investment, China and the World

Economy”, cujo foco é descrever e explicar o conjunto dos investimentos chineses em

outros países, o objeto de estudo nesse tipo de livro não são as empresas, mas sim o

volume de investimentos e suas características.

Busca por artigos

Após a busca realizada por livros, partiu-se para a pesquisa nas bases filiadas a

CAPES, especificamente a ISI-Web of Knowledge e a SCOPUS.

Para a ISI as combinações foram utilizadas nos campos de pesquisa como

“Topic” ou “Title”, utilizando o filtro para “Business & Economics” , obteve-se o

seguinte resultado:

Tabela 21 - Resultado busca ISI

Combinações ISI

Internationalization Chin* 108

International Business Chin*

Compan*78

Outward Investments Chin*

Compan*33

International Strateg* Chin*

Compan*85

Global Strateg* Chin*

Compan*61

Fonte: Autor baseado na resposta da ISI

A partir desse resultado verificaram-se quais seriam os principais periódicos

que estão tratando sobre o assunto:

Page 218: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

203

Tabela 22 - 10 periódicos que mais publicam sobre o tema - ISI

JOURNAL OF INTERNATIONAL

BUSINESS STUDIES16

JOURNAL OF WORLD BUSINESS 14

HARVARD BUSINESS REVIEW 11

INTERNATIONAL BUSINESS REVIEW 10

INTERNATIONAL MARKETING REVIEW 10

ASIA PACIFIC JOURNAL OF

MANAGEMENT8

INTERNATIONAL JOURNAL OF

HUMAN RESOURCE MANAGEMENT8

ASIA PACIFIC BUSINESS REVIEW 6

CHINESE MANAGEMENT STUDIES 6

CHINA & WORLD ECONOMY 4

Os 10 periódicos que mais publicam sobre o tema (ISI)

Fonte: Autor baseado na resposta da ISI

De acordo com a ISI, esses são os periódicos que mais publicam artigos sobre

a internacionalização das empresas chinesas e seus investimentos em outros países no

mundo. Pelo perfil desses periódicos, podemos perceber a importância que o tema

vem ganhando, pois consagrados fóruns de discussão como o Jounal of International

Business Studies, Journal of World Business e International Business Review são os

periódicos que mais publicam artigos sobre esse assunto. Isso demonstra um interesse,

principalmente dos pesquisadores americanos e europeus, em entender o que as

empresas chinesas desejam em seus países.

Agora com relação aos autores que mais publicam artigos sobre o tema temos

através da busca na ISI, o seguinte resultado:

Page 219: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

204

Tabela 23 - 10 autores que mais publicam sobre o tema (ISI)

Autores Artigos

Liu, Y. 6

Johansson, U. 5

Heschmeyer, C. 4

Khavul, S. 4

Si, S. 4

Tait, N. 4

Sutherland, D. 4

Takala, J. 3

Zhou, L. 3

Schuler-Zhou, Y. 3 Fonte: Autor baseado na resposta da ISI

O mesmo procedimento foi realizado para a base de pesquisa SCOPUS,

diferente da ISI a SCOPUS possui como fonte, além de periódicos, conferências e

congressos. Como podemos ver no resultado da busca, dentre os dez periódicos que

mais publicam sobre o assunto, temos conferências como International Conference on

Management ans Service Science :

Tabela 24 - 10 Periódicos que mais publicam sobre o tema (SCOPUS)

Journal of World Business 9

Harvard Business Review 8

Asia Pacific Journal of Management 8

2010 International Conference on Management and

Service Science7

International Journal of Human Resource Management 6

Strategic Direction 6

Chinese Management Studies 5

International Marketing Review 5

Strategic Direction 5

Journal of International Business Studies 5

Os 10 periódicos que mais publicam sobre o tema (SCOPUS)

Fonte: Autor baseado na resposta da SCOPUS

A busca realizada na SCOPUS apresenta resultado semelhante ao encontrado

na ISI, temos os principais periódicos internacionais publicando artigos sobre o tema

dessa dissertação.

Já com relação aos autores, temos como resultado da busca na base SCOPUS:

Page 220: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

205

Tabela 25 - 10 autores que mais publicam sobre o tema (SCOPUS)

Autores Periódicos

KHAVUL, S 4

LIU, Y 4

ZHOU, LX 4

GHEMAWAT, P 3

CHEN, SH 3

CHILD, J 3

ELLIS, PD 3

SELMER, J 3

TAM, CM 3

WAN, TW 3

Fonte: Autor baseado na resposta da SCOPUS

Por essa lista, percebemos que consagrados autores sobre “Strategic &

Business” e “International Business”, como Ghemawat e Child, respectivamente,

estão escrevendo artigos sobre a imersão internacional das empresas chinesas.

Page 221: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

206

APÊNDICE 2 – Variáveis Modelo-OLI

Esse apêndice apresenta as variáveis do Modelo OLI discutidas em cada uma

das revisões feitas por Dunning:

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Cro

ss-cou

ntry id

eo

logical, lan

guage

, cultu

ral, bu

sine

ss, po

litical diffe

ren

ces.

Econ

om

ies o

f cen

tralization

of R

&D

pro

du

ction

and

marke

ting.

Econ

om

ic system

and

strategie

s of go

vern

me

nt: th

e in

stitutio

nal fram

ew

ork

for re

sou

rce allo

cation

.

Ph

ysical and

psych

ic distan

ce b

etw

ee

n

cou

ntrie

s.

Go

vern

me

nt in

terve

ntio

n (tariffs,

qu

otas, taxe

s, assistance

to fo

reign

inve

stors

or to

ow

n M

NEs)

Origin

and

distrib

utio

n o

f imm

ob

ile re

sou

rces.

Transp

ort co

sts of in

term

ed

iate an

d fin

al goo

d

pro

du

cts.

Ind

ustry-sp

ecific tariff an

d n

on

-tariff barrie

rs.

Natu

re o

f com

pe

tition

be

twe

en

firms in

ind

ustry.

Can

fun

ction

s of activitie

s of in

du

stry be

split?

Significan

ce o

f ‘sen

sitive’ lo

cation

al variable

s, e.g. tax

ince

ntive

s, % e

ne

rgy and

labo

ur co

sts.

Man

agem

en

t strategy to

ward

s fore

ign in

volve

me

nt.

Age

and

exp

erie

nce

of fo

reign

invo

lvem

en

t (po

sition

of e

nte

rprise

inp

rod

uct cycle

, etc.).

Psych

ic distan

ce variab

les (cu

lture

, langu

age, le

gal and

com

me

rcial

frame

wo

rk). Attitu

de

s tow

ards ce

ntralisatio

n o

f certain

fun

ction

s,

e.g. R

&D

, regio

nal o

ffice an

d m

arket allo

cation

, etc.

Ge

ograp

hical stru

cture

of asse

t po

rtfolio

and

attitud

e to

risk

dive

rsification

.

Internalization

To avo

id se

arch an

d n

ego

tiating co

sts.

To avo

id co

sts of m

oral h

azard an

d ad

verse

sele

ction

, and

to p

rote

ct

rep

utatio

n o

f inte

rnalizin

g firm.

To avo

id co

st of b

roke

n co

ntracts an

d e

nsu

ing litigatio

n.

Bu

yer u

nce

rtainty (ab

ou

t natu

re an

d valu

e o

f inp

uts, fo

r exam

ple

,

tech

no

logy, b

ein

g sold

).

Wh

en

marke

t do

es n

ot p

erm

it price

discrim

inatio

n.

Ne

ed

of se

ller to

pro

tect q

uality o

f inte

rme

diate

or fin

al pro

du

cts.

To cap

ture

eco

no

mics o

f inte

rde

pe

nd

en

t activities (se

e (b

) abo

ve).

To co

mp

en

sate fo

r abse

nce

of fu

ture

marke

ts.

To avo

id o

r exp

loit go

vern

me

nt in

terve

ntio

n (q

uo

tas, tariffs, price

con

trols,

tax diffe

ren

ces, e

tc).

To co

ntro

l sup

plie

s and

con

ditio

ns o

f sale o

r inp

uts (in

clud

ing te

chn

olo

gy).

To co

ntro

l marke

t ou

tlets (in

clud

ing th

ose

wh

ich m

ight b

e u

sed

by

com

pe

titors).

To b

e ab

le to

en

gage in

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s, such

as cross-su

bsid

ization

, pre

dato

ry

pricin

g, lead

s and

lags, transfe

r pricin

g as a com

pe

titive (o

r antico

mp

etitive

)

strategy.

Go

vern

me

nt in

terve

ntio

n an

d e

xten

t to w

hich

po

licies e

nco

urage

MN

Es to in

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alise

transactio

ns, e

.g. transfe

r pricin

g.

Go

vern

me

nt p

olicy to

ward

s me

rgers.

Diffe

ren

ces

in m

arket stru

cture

s be

twe

en

cou

ntrie

s

e.g. w

ith re

spe

ct to tran

saction

costs,

en

force

me

nt o

f con

tracts, bu

yer u

nce

rtainty,

etc.

Ad

eq

uacy o

f tech

no

logical, e

du

cation

al,

com

mu

nicatio

ns, e

tc., infrastru

cture

in h

ost

cou

ntrie

s and

ability to

abso

rb co

ntractu

al

reso

urce

transfe

rs.

Exten

t to w

hich

vertical o

r ho

rizon

tal inte

gration

is

po

ssible

/de

sirable

, e.g. n

ee

d to

con

trol so

urcin

g of

inp

uts o

r marke

ts. Exten

t

to w

hich

inte

rnalisin

g advan

tages can

be

captu

red

in

con

tractual agre

em

en

ts (cf. early

and

later stage

s of p

rod

uct cycle

).

Use

mad

e o

f ow

ne

rship

advan

tages. C

f. IBM

with

Un

ileve

r type

op

eratio

n.

Exten

t to w

hich

local firm

s have

com

ple

me

ntary

advan

tages to

tho

se o

f fore

ign firm

s.

Exten

t to w

hich

op

po

rtun

ities fo

r ou

tpu

t spe

cialisation

and

inte

rnatio

nal d

ivision

of lab

ou

r exist.

Organ

isation

al and

con

trol p

roce

du

res o

f en

terp

rise.

Attitu

de

s to gro

wth

and

dive

rsification

(e.g. th

e b

ou

nd

aries o

f a

firm’s

activities).

Attitu

de

s tow

ards su

b-co

ntractin

g – con

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ntu

res, e

.g.

licen

sing, fran

chisin

g, tech

nical assistan

ce agre

em

en

ts, etc.

Exten

t to w

hich

con

trol p

roce

du

res can

be

bu

ilt into

con

tractual

agree

me

nts.

Type

of tran

saction

s un

de

rtaken

, e.g. th

e d

egre

e o

f un

certain

ty or

idio

syncrasy attach

ed

to te

chn

olo

gy transfe

rs.

The

freq

ue

ncy w

ith w

hich

transactio

ns o

ccur.

Du

nn

ing (1

98

1)

Tabela 26 - Revisões Modelo-OLI

Fonte: Dunning (1977, 1979, 1981, 1988, 1993, 1995, 2006)

Page 222: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

207

Man

agemen

t

(Porter, D

oz, H

am

el, Negan

dh

i, Prahalad

)

Organ

ization

(William

son

, Simo

n, Tee

ce, Ch

and

ler,

Ou

chi,

Gh

osh

al, Bartlett)

Marketin

g

(Go

od

no

w, Terp

stra, Keegan

, Mattso

n,

An

derso

n/G

atigno

n)

Finan

ce

(Lessard, A

liber, R

ugm

an)

Political scien

ce and

intern

ation

al relation

s

(Nye, Ko

brin

, Mo

ran, B

od

dew

yn)

Regio

nal scien

ce

(Dicken

, Taylor, Th

rift)

Law

(Vagts, Fo

lsom

, Go

rdo

n an

d Sp

agno

le)

Econ

om

ic and

bu

siness

histo

ry

(Ch

and

ler, Wilkin

s, No

rth, Jo

nes, N

icho

las)

Ownership

Man

agemen

t, cultu

re,

experien

ce, strategy

Qu

ality of m

anagem

ent

Prod

uct q

uality

Econ

om

ies of sco

pe

Co

ord

inatin

g op

tion

s

Organ

ization

al cultu

re/

resou

rces/structu

re

Co

mp

lemen

tary assets to co

re advan

tages

Synergistic eco

no

mies

Natu

re of extern

al relation

ship

s (e.g.

netw

orkin

g)

Prod

uct ch

aracteristics

Segmen

ted m

arkets

Go

od

will/b

rand

nam

es

Co

ntro

l of d

istribu

tion

Netw

ork ad

vantages

Access to

finan

ce capital o

n favo

urab

le

terms

Portfo

lio d

iversification

across n

ation

al

bo

un

daries

Cu

ltures, id

eolo

gies as affecting ‘O

advan

tages

Econ

om

ic systems

Structu

re of go

vernm

ent

Lob

byin

g ability/b

argainin

g po

wer

Mu

ltiplan

t econ

om

ies

Ab

ility to im

pro

ve or red

uce co

st of

transp

ort,

Info

rmatio

n/co

mm

un

ication

s

Legal infrastru

cture

Patent/co

ntract/co

mp

any law

Entrep

reneu

rship

Econ

om

ics of vertical in

tegration

Organ

ization

al form

s.

Access to

resou

rces/markets

Interp

erson

al relation

ship

s

Localization

Co

mp

arative resou

rce

end

ow

men

ts

Co

nfigu

ration

op

tion

s

Oligo

po

listic strategy

Enviro

nm

ental co

mp

lexity

Ease of tran

sferring o

rganizatio

nal

structu

res and

external relatio

nsh

ip

Inter-co

un

try social an

d cu

ltural

differen

ces

Physical d

istances

Nee

d fo

r pro

du

ct custo

mizatio

n

Exchan

ge rates

Co

ntro

ls on

sou

rcing, cap

ital and

divid

end

,

remissio

ns, etc.

Ro

le of p

ow

er grou

ps ( e.g. trad

e un

ion

s)

Politically in

du

ced in

centives an

d b

arriers

to FD

I

Inter-co

un

try po

litical relation

s

Spatial d

istance

Transp

ort co

sts

Extraterritorality

Restrictive p

ractices legislation

Co

des o

f con

du

ct

Tariffs and

oth

er imp

ort co

ntro

ls

Size of m

arkets

Go

vernm

ent regu

lation

s

State’s role in

enfo

rcing co

ntracts

Beh

aviou

ral no

rms

Internalization

Form

of in

volvem

ent as p

art of a firm

’s

com

petitive p

ostu

re/strategy Strategic

partn

ering

Transactio

n co

sts: bo

th in

terand

intra-firm

Strategic partn

ering

Markets ’h

ierarchies’ clan

op

tion

s

Cu

ltural d

ifferences affectin

g

organ

ization

al form

s

Transactio

n co

sts with

respect to

:

a) entry m

od

es

b) agen

cy costs

c) sup

plier relatio

nsh

ips

Market failu

re in cap

ital/ exchan

ge

markets

Agen

cy costs

Netw

ork an

alysis

Transactio

n co

sts arising fro

m p

olitical risk

Nego

tiating/b

argainin

g

Go

vernm

ent in

terventio

n

Spatial co

sts of o

rganizin

g hierarch

ies

Litigation

pro

cedu

res

Efficiency o

f con

tract law ( in

pro

tecting

pro

perty righ

ts)

To cap

ture eco

no

mics o

f com

mo

n

govern

ance

Qu

ality con

trol

Agen

cy costs

Co

st of en

forcin

g con

tracts

Du

nn

ing (1

98

8)

Tabela 27 - Revisões Modelo-OLI

Fonte: Dunning (1977, 1979, 1981, 1988, 1993, 1995, 2006)

Page 223: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

208

Du

nn

ing (1

99

3)

Hierarch

ical-related ad

vantages

Allian

ce or n

etwo

rk-related ad

vantages

INSTITU

TION

S

Form

al

INSTITU

TION

S

Info

rmal

ENFO

RC

EMEN

T/EMPO

WER

ME

NT

MEC

HA

NISM

S

Form

al

ENFO

RC

EMEN

T/EMPO

WER

MEN

T

MEC

HA

NISM

S

Info

rmal

INSTITU

TION

AL

DYSFU

NC

TION

Ownership

Pro

pe

rty right an

d/o

r intan

gible

asset ad

vantage

s

Pro

du

ct inn

ovatio

ns, p

rod

uctio

n m

anage

me

nt, o

rganizatio

nal

and

marke

ting syste

ms, in

no

vatory cap

acity, no

nco

difiab

le

kno

wle

dge

, ‘ban

k’ of h

um

an cap

ital exp

erie

nce

, marke

ting,

finan

ce, kn

ow

ho

w.

Tho

se d

ue

main

ly to size

, pro

du

ct dive

rsity and

learn

ing

exp

erie

nce

s of e

nte

rprise

, e.g. e

con

om

ies o

f scop

e an

d

spe

cialization

.

Exclusive

or favo

red

access to

inp

uts, e

.g. labo

r, natu

ral

reso

urce

s, finan

ce, in

form

ation

.

Ab

ility to o

btain

inp

uts o

n favo

red

term

s (du

e, e

.g. to size

or

mo

no

pso

nistic in

flue

nce

).

Exclusive

or favo

red

access to

pro

du

ct marke

ts.

Acce

ss to re

sou

rces o

f pare

nt co

mp

any at m

arginal co

st.

Syne

rgistic eco

no

mie

s (no

t on

ly in p

rod

uctio

n, b

ut in

pu

rchasin

g, marke

ting, fin

ance

, etc. arran

gem

en

ts).

Mu

ltinatio

nality e

nh

ance

s op

eratio

nal fle

xibility b

y offe

ring

wid

er o

pp

ortu

nitie

s for arb

itraging an

d p

rod

uctio

n sh

ifting.

Mo

re favo

red

access to

and

/or b

ette

r kno

wle

dge

abo

ut

inte

rnatio

nal m

arkets, e

.g. for in

form

ation

, finan

ce, lab

or, e

tc.

Ab

ility to take

advan

tage o

f geo

graph

ic diffe

ren

ces in

factor

en

do

wm

en

ts, gove

rnm

en

t inte

rven

tion

, marke

ts, etc. A

bility

to d

iversify o

r red

uce

risks, e.g. in

diffe

ren

t curre

ncy are

as and

creatio

n o

f op

tion

s and

/or p

olitical an

d cu

ltural

scen

arios.

Ab

ility to le

arn fro

m so

cietal d

iffere

nce

s in o

rganizatio

nal an

d

(a) Pro

pe

rty right an

d/o

r intan

gible

asset ad

vantage

s (Oa)

Pro

du

ct inn

ovatio

ns, p

rod

uctio

n m

anage

me

nt, o

rganizatio

nal an

d

marke

ting syste

ms, in

no

vatory cap

acity, no

n-co

difiab

le kn

ow

led

ge: ‘b

ank’

of h

um

an cap

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erie

nce

; marke

ting, fin

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, kno

w-h

ow

, etc.

(b) A

dvan

tages o

f com

mo

n go

vern

ance

, i.e. o

f organ

izing O

a with

com

ple

me

ntary

assets (O

t)

(i) Tho

se th

at bran

ch p

lants o

f estab

lishe

d e

nte

rprise

s may e

njo

y ove

r de

no

vo firm

s.

Tho

se d

ue

main

ly to size

, pro

du

ct dive

rsity and

learn

ing e

xpe

rien

ces o

f

en

terp

rise, e

.g. eco

no

mie

s of sco

pe

and

spe

cialization

. Exclusive

or

favou

red

access to

inp

uts, e

.g. labo

ur, n

atural re

sou

rces, fin

ance

,

info

rmatio

n. A

bility to

ob

tain in

pu

ts on

favou

red

term

s (du

e, fo

r exam

ple

,

to size

or m

on

op

son

istic influ

en

ce). A

bility o

f

pare

nt co

mp

any to

con

clud

e p

rod

uctive

and

co-o

pe

rative in

terfirm

relatio

nsh

ips, e

.g. as be

twe

en

Japan

ese

auto

assem

ble

rs and

the

ir

sup

plie

rs. Exclusive

or favo

ure

d acce

ss to p

rod

uct m

arkets. A

ccess to

reso

urce

s of p

aren

t com

pan

y at margin

al cost.

Syne

rgistic eco

no

mie

s (no

t on

ly in p

rod

uctio

n, b

ut in

pu

rchasin

g,

marke

ting, fin

ance

, etc., arran

gem

en

ts)

(ii) Wh

ich sp

ecifically arise

be

cause

of m

ultin

ation

ality. Mu

ltinatio

nality

en

han

ces o

pe

ration

al flexib

ility by o

fferin

g wid

er o

pp

ortu

nitie

s for

arbitragin

g, pro

du

ction

shiftin

g and

glob

al sou

rcing o

f inp

uts. M

ore

favou

red

access to

and

/or b

ette

r kno

wle

dge

abo

ut in

tern

ation

al marke

ts,

e.g. fo

r info

rmatio

n, fin

ance

, labo

ur, e

tc.

Ab

ility to take

advan

tage o

f geo

graph

ic diffe

ren

ces in

factor e

nd

ow

me

nts,

gove

rnm

en

t inte

rven

tion

, marke

ts, etc. A

bility to

dive

rsify or re

du

ce risks,

e.g. in

diffe

ren

t curre

ncy are

as, and

creatio

n o

f op

tion

s and

/or p

olitical

(a) Ve

rtical alliance

s

(i) Backw

ard acce

ss to R

&D

, de

sign e

ngin

ee

ring an

d train

ing facilitie

s of su

pp

liers.

Re

gular in

pu

t by th

em

on

pro

ble

m so

lving an

d p

rod

uct in

no

vation

on

the

con

seq

ue

nce

s of p

roje

cted

ne

w p

rod

uctio

n p

roce

sses fo

r com

po

ne

nt d

esign

and

man

ufactu

ring. N

ew

insigh

ts into

, and

mo

nito

ring o

f, de

velo

pm

en

ts in m

aterials,

and

ho

w th

ey m

ight im

pact o

n e

xisting p

rod

ucts an

d p

rod

uctio

n p

roce

sses

(ii) Forw

ard acce

ss to in

du

strial custo

me

rs, ne

w m

arkets, m

arketin

g tech

niq

ue

s and

distrib

utio

n ch

ann

els, p

articularly in

un

familiar lo

cation

s or w

he

re p

rod

ucts n

ee

d

to b

e ad

apte

d to

me

et lo

cal sup

ply cap

abilitie

s and

marke

ts. Ad

vice b

y custo

me

rs on

pro

du

ct de

sign an

d p

erfo

rman

ce. H

elp

in strate

gic marke

t po

sition

ing

(b) H

orizo

ntal allian

ces

Acce

ss to co

mp

lem

en

tary tech

no

logie

s and

inn

ovato

ry capacity. A

ccess to

add

ition

al

capab

ilities to

captu

re b

en

efits o

f tech

no

logy fu

sion

, and

to id

en

tify ne

w

use

s for re

lated

tech

no

logie

s. Encap

sulatio

n o

f learn

ing an

d d

eve

lop

me

nt tim

es.

Such

inte

rfirm in

teractio

n o

ften

gen

erate

s its ow

n kn

ow

led

ge fe

ed

back

me

chan

isms an

d p

ath d

ep

en

de

ncie

s

(c) Ne

two

rks

(i) of sim

ilar firms:

Re

du

ced

transactio

n an

d co

-ord

inatio

n co

sts arising fro

m b

ette

r disse

min

ation

and

inte

rpre

tation

of kn

ow

led

ge an

d in

form

ation

, and

from

mu

tual su

pp

ort an

d

coo

pe

ration

be

twe

en

me

mb

ers o

f ne

two

rk. Imp

rove

d kn

ow

led

ge ab

ou

t pro

cess an

d p

rod

uct

de

velo

pm

en

t and

marke

ts. Mu

ltiple

, yet co

mp

lem

en

tary, inp

uts in

to in

no

vatory

de

velo

pm

en

ts and

exp

loitatio

n o

f ne

w m

arkets. A

ccess to

em

be

dd

ed

kno

wle

dge

of m

em

be

rs of n

etw

orks. O

pp

ortu

nitie

s to d

eve

lop

‘nich

e’ R

&D

strategie

s, share

d le

arnin

g and

trainin

g exp

erie

nce

s, e.g. as in

the

case o

f

coo

pe

rative

rese

arch asso

ciation

s. Ne

two

rks may also

he

lp p

rom

ote

un

iform

pro

du

ct stand

ards

Extern

al legislatio

n/re

gulatio

ns

Discip

line

of e

con

om

ic marke

ts

Co

rpo

rate go

als, inte

rnal co

mm

and

system

s and

ince

ntive

structu

res

Co

de

s/no

rms/co

nve

ntio

ns

Co

un

try/corp

orate

cultu

res

Mo

ral eco

logy/m

ind

sets (p

articularly o

f

de

cision

takers)

Pre

ssure

s from

com

pe

titors an

d sp

ecial

inte

rest gro

up

s

Sanctio

ns/p

en

alties (b

oth

exte

rnal &

inte

rnal to

firms)

Stakeh

old

er actio

n (co

nsu

me

rs,

inve

stors, lab

ou

r un

ion

s, civil socie

ty)

Mo

ral suasio

n

Loss, o

r gain, o

f status/re

cogn

ition

Re

taliatory o

ptio

ns

Bu

ild u

p/d

eclin

e o

f relatio

nal asse

ts

(e.g. tru

st, recip

rocity, e

tc)

Blackb

alling

Dish

on

est acco

un

ting p

ractices, frau

d

and

oth

er co

rpo

rate m

alfeasan

ce

Lack of tran

spare

ncy

Inad

eq

uate

institu

tion

al frame

wo

rk

Localization

Spe

cial distrib

utio

n o

f natu

ral and

create

d re

sou

rce

en

do

wm

en

ts and

marke

ts.

Inp

ut p

rices, q

uality an

d p

rod

uctivity, e

.g., labo

r, en

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mate

rials, com

po

ne

nts, se

mifin

ishe

d go

od

s.

Inte

rnatio

nal tran

spo

rt and

com

mu

nicatio

ns co

sts.

Inve

stme

nt in

cen

tives an

d d

isince

ntive

s (inclu

din

g

pe

rform

ance

req

uire

me

nts, e

tc.)

Artificial b

arriers (e

.g. imp

ort co

ntro

ls) to trad

e in

goo

ds an

d

service

s.

Socie

tal and

infrastru

cture

pro

vision

s (com

me

rcial, legal,

ed

ucatio

nal, tran

spo

rt and

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mu

nicatio

n).

Cro

ss-cou

ntry id

eo

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guage

, cultu

ral, bu

sine

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po

litical, etc. d

iffere

nce

s.

Econ

om

ics of ce

ntralizatio

n o

f R&

D p

rod

uctio

n an

d m

arketin

g.

Econ

om

ic system

and

po

licies o

f gove

rnm

en

t: the

institu

tion

al

frame

wo

rk for re

sou

rce allo

cation

.

Spatial d

istribu

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of n

atural an

d cre

ated

reso

urce

en

do

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en

ts and

marke

ts Inp

ut p

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uality an

d p

rod

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.g. labo

ur, e

ne

rgy,

mate

rials, com

po

ne

nts, se

mifin

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d go

od

s

Inte

rnatio

nal tran

spo

rt and

com

mu

nicatio

n co

sts

Inve

stme

nt in

cen

tives an

d d

isince

ntive

s (inclu

din

g pe

rform

ance

req

uire

me

nts e

tc.)

Artificial b

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.g. imp

ort co

ntro

ls) to trad

e in

goo

ds

Socie

tal and

infrastru

cture

pro

vision

s (com

me

rcial, legal, e

du

cation

al,

transp

ort an

d co

mm

un

ication

)

Cro

ss-cou

ntry id

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, cultu

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sine

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litical, etc.,

diffe

ren

ces

Econ

om

ies o

f cen

tralization

of R

&D

pro

du

ction

and

marke

ting

Econ

om

ic system

s and

po

licies o

f gove

rnm

en

ts: the

institu

tion

al

frame

wo

rk for re

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rce cre

ation

and

allocatio

n

The

L-spe

cific advan

tages o

f alliance

form

ation

s arise e

ssen

tially from

the

pre

sen

ce

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lio o

f imm

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ile lo

cal com

ple

me

ntary asse

ts, wh

ich, w

he

n o

rganize

d

with

in a fram

ew

ork o

f alliance

s and

ne

two

rks, pro

du

ce a stim

ulatin

g and

pro

du

ctive

ind

ustrial atm

osp

he

re.

The

exte

nt an

d typ

e o

f bu

sine

ss districts, in

du

strial or scie

nce

parks an

d th

e e

xtern

al

eco

no

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s the

y offe

r particip

ating firm

s are e

xamp

les o

f the

se ad

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s wh

ich,

ove

r time

, may allo

w fo

reign

affiliates an

d cro

ss-bo

rde

r alliance

s and

ne

two

rk

relatio

nsh

ips b

ette

r to tap

into

, and

exp

loit, th

e co

mp

arative te

chn

olo

gical and

organ

ization

al advan

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f ho

st cou

ntrie

s. Localize

d n

etw

orks m

ay he

lp re

du

ce th

e

info

rmatio

n asym

me

tries an

d like

liho

od

of o

pp

ortu

nism

in sp

atially linke

d m

arkets.

The

y may also

create

local in

stitutio

nal th

ickne

ss, and

foste

r inte

rfirm le

arnin

g

eco

no

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s and

social e

mb

ed

de

dn

ess.

No

te th

at glob

alization

, wh

ile h

eigh

ten

ing th

e m

ob

ility of so

me

O-sp

ecific

advan

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incre

asing so

me

distan

ce-re

lated

transactio

n co

sts, and

lean

ing

to m

ore

‘sticky’ place

s

Laws/re

gulatio

ns

Discip

line

of p

olitical m

arkets

Ru

les-b

ased

ince

ntive

s/stand

ards

Cro

ss-bo

rde

r inve

stme

nt agre

em

en

ts

Inh

erite

d so

cial custo

ms, trad

ition

s

Fore

ign o

rganizatio

ns as in

stitutio

n

resh

ape

rs

Mo

tivating in

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ns (e

.g. re

inn

ovatio

n, e

ntre

pre

ne

ursh

ip),

com

pe

titiven

ess.

Attitu

de

s tow

ard ch

ange

and

un

certain

ty

Sanctio

ns, p

en

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olicie

s

Qu

ality of p

ub

lic organ

ization

s (e.g. re

pro

tectio

n o

f pro

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rty rights; ru

le

settin

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m).

Co

llective

learn

ing (in

shap

ing an

d

imp

lem

en

ting in

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ns)

Be

lief syste

ms

Traditio

n (e

.g. prid

e/sh

ame

)

De

mo

nstratio

ns, active

particip

ation

in

po

licy makin

g organ

ization

s (Bo

ttom

up

influ

en

ce)

Socie

tal guid

ance

/ mo

ral suasio

n

(Top

-do

wn

influ

en

ce o

n in

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ns,

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ization

s and

ind

ividu

als)

Social safe

ty ne

ts

Crim

e, co

rrup

tion

, flaws in

justice

system

, bre

akdo

wn

in

com

mu

nitie

s/pe

rson

al relatio

ns

Inab

ility to co

pe

with

tech

no

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or in

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nal ch

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Internalization

Avo

idan

ce o

f search

and

ne

gotiatin

g costs.

To avo

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sts of m

oral h

azard an

d ad

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sele

ction

, and

to

pro

tect re

pu

tation

of in

tern

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.

To avo

id co

st of b

roke

n co

ntracts an

d e

nsu

ing litigatio

n.

Bu

yer u

nce

rtainty (ab

ou

t natu

re an

d valu

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f inp

uts [e

.g.

tech

no

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ein

g sold

).

Wh

en

marke

t do

es n

ot p

erm

it price

discrim

inatio

n.

Ne

ed

of se

ller to

pro

tect q

uality o

f inte

rme

diate

or fin

al

pro

du

cts.

To cap

ture

eco

no

mics o

f inte

rde

pe

nd

en

t activities (se

e b

.

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To co

mp

en

sate fo

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nce

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marke

ts.

To avo

id o

r exp

loit go

vern

me

nt in

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ntio

n (e

.g. qu

otas,

tariffs, price

con

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iffere

nce

s, etc.).

To co

ntro

l sup

plie

s and

con

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ns o

f sale o

f inp

uts (in

clud

ing

tech

no

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To co

ntro

l marke

t ou

tlets (in

clud

ing th

ose

wh

ich m

ight b

e

use

d b

y com

pe

titors).

To b

e ab

le to

en

gage in

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s, e.g. cro

ss-sub

sidizatio

n,

pre

dato

ry pricin

g, lead

s and

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r pricin

g, etc. as a

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pe

titive (o

r antico

mp

etitive

) strategy.

Avo

idan

ce o

f search

and

ne

gotiatin

g costs

To avo

id co

sts of m

oral h

azard, in

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ation

asymm

etrie

s and

adve

rse

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ction

, and

to p

rote

ct rep

utatio

n o

f inte

rnalizin

g firm

To avo

id co

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roke

n co

ntracts an

d e

nsu

ing litigatio

n

Bu

yer u

nce

rtainty (ab

ou

t natu

re an

d valu

e o

f inp

uts (e

.g. tech

no

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be

ing so

ld)

Wh

en

marke

t do

es n

ot p

erm

it price

discrim

inatio

n

Ne

ed

of se

ller to

pro

tect q

uality o

f inte

rme

diate

or fin

al pro

du

cts

To cap

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eco

no

mie

s of in

terd

ep

en

de

nt activitie

s (see

(b) ab

ove

)

To co

mp

en

sate fo

r failure

or ab

sen

ce o

f futu

re m

arkets

To avo

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loit go

vern

me

nt in

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ntio

n (e

.g. qu

otas, tariffs, p

rice

con

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iffere

nce

s, etc.)

To co

ntro

l sup

plie

s and

con

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ns o

f sale o

f inp

uts (in

clud

ing te

chn

olo

gy)

To co

ntro

l marke

t ou

tlets (in

clud

ing th

ose

wh

ich m

ight b

e u

sed

by

com

pe

titors)

To b

e ab

le to

en

gage in

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s, e.g. cro

ss-sub

sidizatio

n, p

red

atory

pricin

g, lead

s and

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r pricin

g, etc., as a co

mp

etitive

(or an

ti-

com

pe

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gy

Wh

ile, in

som

e case

s, time

-limite

d in

terfirm

co-o

pe

rative re

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ship

s may b

e a

sub

stitute

for FD

I, in o

the

rs the

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d to

the

I ince

ntive

advan

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f the

particip

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ierarch

ies, R

&D

alliance

s and

ne

two

rking w

hich

may h

elp

stren

gthe

n

the

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rall com

pe

titiven

ess o

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particip

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s. Mo

reo

ver, th

e gro

win

g

structu

ral inte

gration

of th

e w

orld

eco

no

my is re

qu

iring firm

s to go

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tside

the

ir

imm

ed

iate b

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nd

aries to

captu

re th

e co

mp

lex re

alities o

f kno

w-h

ow

tradin

g and

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wle

dge

exch

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in in

no

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, particu

larly wh

ere

intan

gible

assets are

tacit and

ne

ed

spe

ed

ily to ad

apt co

mp

etitive

-

en

han

cing strate

gies to

structu

ral chan

ge

Allian

ces o

r ne

two

rk-relate

d ad

vantage

s are th

ose

wh

ich p

rom

pt a ‘vo

ice’ rath

er

than

an ‘e

xit’ resp

on

se to

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t failure

; the

y also allo

w m

any o

f the

advan

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f

inte

rnalizatio

n w

itho

ut th

e in

flexib

ility, bu

reau

cratic or risk-re

lated

costs asso

ciated

with

it. Such

qu

asi-inte

rnalizatio

n is like

ly to b

e m

ost su

ccessfu

l in cu

lture

s in w

hich

trust, fo

rbe

arance

, recip

rocity an

d co

nse

nsu

s po

litics are at a p

rem

ium

. It sugge

sts

that firm

s are m

ore

app

rop

riately like

ne

d to

archip

elago

s linke

d b

y cause

ways rath

er

than

self-co

ntain

ed

‘island

s’ of co

nscio

us p

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er. A

t the

same

time

, flagship

or le

ad

MN

Es, by o

rche

strating th

e u

se o

f mo

bile

O ad

vantage

s and

imm

ob

ile ad

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s,

en

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ce th

eir ro

le as arb

itragers o

f com

ple

me

ntary cro

ss-bo

rde

r value

-add

ed

activities

Co

ntracts (e

.g. inte

r-firm)

Co

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.g. intra-firm

)

Co

ven

ants, co

de

s, trust-b

ased

relatio

ns (b

oth

inte

r and

intra firm

).

Institu

tion

-bu

ildin

g thro

ugh

ne

two

rks/cluste

rs of firm

s

Exten

t/form

of in

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nal/cu

ltural

distan

ce

Pe

naltie

s for b

reakin

g con

tracts

Strikes, lo

ck-ou

ts, high

labo

ur

turn

ove

r

Edu

cation

/trainin

g

No

rep

eat tran

saction

s

Gu

ilt, sham

e

Extern

al eco

no

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s arising fro

m

ne

two

rks/alliance

s, e.g. le

arnin

g

be

ne

fits

Blackb

alling

Lack of go

od

intra o

r inte

r-corp

orate

relatio

ns. Failu

re o

f alliance

s, cod

es,

lack of tran

spare

ncy/h

on

esty e

tc.

Du

nn

ing (1

99

5)

Du

nn

ing (2

00

6)

Tabela 28 - Revisões Modelo-OLI

Fonte: Dunning (1977, 1979, 1981, 1988, 1993, 1995, 2006)

Page 224: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

209

APÊNDICE 3 – Projetos de Investimentos Chineses Anunciados – 1999-

2011

Projeto de

InvestimentoPeríodo Ano Empresa origem Empresa destino Breve Descrição do Projeto

Valor Anunciado

US$Estado Modo de entrada Setor Estrutura de propriedade

Determinantes do

investimento

1 1999-2009 1999 Gree - Instalação de fábrica para produção de ar-condicionados $20.000.000 Amazônia Greenfield Eletroeletrônicos SOE Market seeking

2 1999-2009 1999 Huawei - Instalação da sede para prestar serviços no Brasil e base para a américa latina $10.000.000 São Paulo Greenfield Telecomunicações Privada Market seeking

3 1999-2009 1999 SVA - Instalação de uma fábrica de produção de televisões $20.000.000 Amazônia Greenfield Eletroeletrônicos Privada Market seeking

4 1999-2009 2004 Sinopec -Instalação de um escritório de serviço para execução do projeto GASCAV - braço sul do

GASENE$240.000.000 Rio de Janeiro Greenfield

Energia (Petróleo e

Gás)Central SOE Market seeking

5 1999-2009 2005 Lenovo - Instalação de uma fábrica para a produção de computadores Não divulgado São Paulo Greenfield Eletroeletrônicos SOE Market seeking

6 1999-2009 2006 Midea do Brasil S.A - Instalação de um centro de distribuição de ar condicionados $10.000.000 Santa Catarina Greenfield Eletroeletrônicos Privada Market seeking

7 1999-2009 2007 Huawei -Construção da fábrica, que será responsável pelo fornecimento de transmissores e

componentes eletrônicos para a Huawei do Brasil, e no futuro, para a América Latina.$10.000.000 Espírito Santo Greenfield Telecomunicações Privada Market seeking

8 1999-2009 2007 Fei Ying Motor (FYM) - Instalação de uma fábrica para a produção de motos $3.000.000 São Paulo Greenfield Automotivo Privada Market seeking

9 1999-2009 2007 Sateri Bahia Pulp Fábrica de produção de celulose soluvel especial $425.000.000 Bahia

Fusões &

Aquisições

(completa)

Agribusiness Privada Resource seeking

10 1999-2009 2007 China Minmetals Corporation Cosipar Construção de um complexo siderúrgico com aciaria, coqueria e porto no Pará. $1.500.000.000 Pará Joint Venture Siderurgia SOE Resource Seeking

11 1999-2009 2007Traxx - China South Industry

Corporation Group- Instalação de uma fábrica para a produção de motos $6.000.000 Amazônia Greenfield Automotivo SOE Market seeking

12 1999-2009 2008 ZTE - Instalação de unidade de prestação de serviço e torná-la um centro de estudos em

telecomunicações para parceiros e empresas.$10.000.000 São Paulo Greenfield Telecomunicações SOE Market seeking

13 1999-2009 2008 Aluminum Corp of China (Chalco) ValeImplantar uma fábrica de alumina. A usina começará com produção de 1,8 milhão de toneladas

de alumina ao ano – a nacional é de 8 milhões de toneladas anuais.$1.000.000.000 Pará Joint Venture Siderurgia SOE Resource Seeking

14 1999-2009 2008 Baosteelmontar uma usina siderúrgica no Maranhão, com capacidade de produção de 4,1 milhões de

toneladas de placas ao ano.$2.000.000.000 Maranhão Joint Venture Siderurgia Central SOE Resource Seeking

15 1999-2009 2008Traxx - China South Industry

Corporation Group- Ampliação da fábrica para a produção de motos $20.000.000 Amazônia Greenfield Automotivo SOE Market seeking

16 1999-2009 2009 Guangdong Yuandong - Construção de uma fábrica de máquinas que produzirá equipamentos de ênvase $10.000.000 Rio Grande do Sul GreenfieldMáquinas e

EquipamentosPrivada Market seeking

17 1999-2009 2009 China Steel - Compra de participação na companhia brasileira Nacional Minérios (Namisa) $95.000.000 Pará

Fusões &

Aquisições

(completa)

Mineração SOE Resource Seeking

18 2010 2010 Sinopec Repsol Brasil Compra de 40% das operações brasileiras da empresa

espanhola Repsol $7.109.000.000 Rio de Janeiro

Fusões &

Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e

gás)Central SOE Resource seeking

19 2010 2010 Sinochem Statoil ASA Aquisição de 40% da exploração do Campo de petróleo offshore Peregrino $3.070.000.000 Rio de Janeiro

Fusões &

Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e

gás)Central SOE Resource seeking

20 2010 2010 State Grid

Elecnor SA, Abengoa SA,

Isolux Ingenieria SA e

Cobra Instalaciones y Servicos SACompra de sete concessionárias de transmissão de energia $989.000.000 São Paulo

Fusões &

Aquisições

(completa)

Energia elétrica Central SOE Market seeking

Tabela 29 - Projetos de Investimentos Chineses Anunciados - 1999-2011

Fonte: CEBC, Bradesco, Imprensa

Page 225: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

210

Projeto de

InvestimentoPeríodo Ano Empresa origem Empresa destino Breve Descrição do Projeto

Valor Anunciado

US$Estado Modo de entrada Setor Estrutura de propriedade

Determinantes do

investimento

21 2010 2010Wuhan Iron and Steel

Group Co. (Wisco) MMX Compra e venda de minério de ferro, prevê fornecimento de 50% da

produção da Unidade de Serra Azul para a Wisco$400.000.000 Minas Gerais

Fusões &

Aquisições

(parcial)

Mineração Central SOE Resource seeking

22 2010 2010 Chery Governo de São Paulo Instalação de fábrica $400.000.000 São Paulo Greenfield Automotivo SOE Market seeking

23 2010 2010 Honbridge Holdings Votorantim Novos NegóciosCompra do “Projeto Salinas”, que inclui exploração de minério, a construção de um mineroduto

de 500 quilômetros e de um porto em Ilhéus - BA$390.000.000 Bahia

Fusões &

Aquisições

(completa)

Mineração Privada Strategic Asset Seeking

24 2010 2010Jianhuai Automotive Co.

(JAC)- Rede de concessionárias $200.000.000 São Paulo Greenfield Automotivo SOE Market seeking

25 2010 2010 Sany Heavy Industry - Instalação de fábrica $100.000.000 São Paulo GreenfieldMáquinas de

construçãoPrivada Market seeking

26 2010 2010 CR Zongshen - Instalação de fábrica utilizando a marca Kasinski $20.000.000 Rio de Janeiro Greenfield Automotivo Privada Market seeking

27 2010 2010Xuzhou Construction

Machinery Group-

Instalação de um centro de distribuição e uma montadora de equipamentos de

carregadeiras e escavadeiras $12.000.000 Pernambuco Greenfield

Máquinas de

construçãoSOE Market seeking

28 2010 2010China National Agricultural

Development Group Corporation

(CNADC)

Governo de Goiás

Participação em projetos de expansão de lavouras de grãos e investimento na construção de

ramais da ferrovia Norte-Sul (em Goiás). Soja produzida nessa área de 2,4 milhões de hectares

será exportada para a China.

$7.000.000.000 Goiás Greenfield Agribusiness Central SOE Resource seeking

29 2010 2010Sinopec/

China National Offshore Oil

Corp (Cnooc)

OGX Petróleo e Gás

ParticipaçõesNegociações separadas para aquisição de 20% no campo de petróleo offshore e participação

em ativos da OGX$6.000.000.000 Rio de Janeiro

Fusões &

Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e

gás)Central SOE Resource seeking

30 2010 2010Wuhan Iron and Steel

Group Co. (Wisco)

Passagem Mineração

(Pamin) Aquisição da empresa $5.000.000.000 Minas Gerais

Fusões &

Aquisições

(completa)

Mineração Central SOE Resource seeking

31 2010 2010Wuhan Iron and Steel

Group Co. (Wisco) EBXInstalação de siderúrgica, com 70% de participação da Wisco na joint-venture

$3.500.000.000 Rio de Janeiro Joint Venture Siderurgia Central SOE Resource seeking

32 2010 2010East China Mineral Exploration

and Development Bureau (ECE)

Itaminas Comércio de

Minérios S.A Aquisição da Itaminas $1.200.000.000 Minas Gerais

Fusões &

Aquisições

(completa)

Mineração SOE Resource seeking

33 2010 2010 Bank of China - Atuar no comércio bilateral $60.000.000 São Paulo Greenfield Bancário Central SOE Market seeking

34 2010 2010 ZTE

Instituto Nacional de

Telecomunicações (Inatel) Instalações de Ensino $2.000.000 Minas Gerais Greenfield Educação SOE Strategic Asset Seeking

35 2010 2010China Rail Construction

CompanyGoverno do Mato Grosso

Parceria para construção de 4 trechos de ferrovias: Rondonópolis (MT) a

Cuiabá (MT); Rondonópolis a Porto Velho (RO); Cuiabá a Santarém (PA) e Alto Araguaia (MT) a

Araguari (MG). Não divulgado Mato Grosso Greenfield Ferroviário SOE Market seeking

36 2010 2010 Cofco. LtdCompanhia Nacional de Açúcar

e Álcool (CNAA)

Compra de duas unidades da Companhia

Nacional de Açúcar e Álcool (CNAA)Não divulgado Minas Gerais

Fusões &

Aquisições

(completa)

Agribusiness Central SOE Resource seeking

37 2010 2010 Sinopec PetrobrásCompra de dois blocos exploratórios da Petrobrás

(PAMA-3 e PAMA-8)Não divulgado Maranhão

Fusões &

Aquisições

(completa)

Energia (petróleo e

gás)Central SOE Resource seeking

38 2010 2010 Sinopec PetrobrásParticipação acionária no Complexo Siderúrgico do

Rio de Janeiro (Comperj)Não divulgado Rio de Janeiro

Fusões &

Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e

gás)Central SOE Resource seeking

39 2010 2010Industrial & Commercial

Bank of China (ICBC)Operar diretamente no Brasil (a forma ainda não foi definida) Não divulgado Não definido Greenfield Bancário Central SOE Market seeking

40 2010 2010 Dongfeng Motor CorporationAcordo de cooperação com representante da marca no Brasil;

possibilidade de instalação de fábrica no futuroNão divulgado São Paulo Greenfield Automotivo Central SOE Market seeking

Tabela 30 - Projetos de Investimentos Chineses Anunciados - 1999-2011

Fonte: CEBC, Bradesco, Imprensa

Page 226: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

211

Tabela 31 - Projetos de Investimentos Chineses Anunciados - 1999-2011 Projeto de

InvestimentoPeríodo Ano Empresa origem Empresa destino Breve Descrição do Projeto

Valor Anunciado

US$Estado Modo de entrada Setor Estrutura de propriedade

Determinantes do

investimento

41 2010 2010 Grupo Pallas International Governo da Bahia Aquisição de terras para produção de grãos para exportação e atuação em bioenergia Não divulgado Bahia Greenfield Agribusiness Privada Resource seeking

42 2011 2011 Foton Aumark do Brasil - Instalação de fábrica de caminhões no país. $500.000.000 Não definido Greenfield Automotivo SOE Market seeking

43 2011 2011 Shineray - Construção de fábrica de motos. $50.000.000 Pernambuco Greenfield Automotivo Privada Market seeking

44 2011 2011

Citic Group e grandes

companhias fabricantes de aço

do país - Anshan Iron & Steel,

Baosteel , uma das maiores

siderúrgicas do mundo,

Shougang e Taiyuan Iron & Steel.

CBMM Compra de 15% do capital da CBMM. $1.950.000.000 Minas Gerais

Fusões &

Aquisições

(parcial)

Mineração Central SOE Resource Seeking

45 2011 2011 Changan/Haima Parceiro: Districar Construção de fábrica de carros, com início das operações planejado para janeiro de 2013. $200.000.000 Não definido Joint Venture Automotivo SOE Market seeking

46 2011 2011 JACConstrução de fábrica de carros, com capacidade de produção de 100 mil unidades por ano,

gerando 3.500 empregos diretos.$500.000.000 Bahia Joint Venture Automotivo SOE Market seeking

47 2011 2011 PetroChinaBrasil China Petróleo (BRCP) e

Asperbras

Criação da empresa Bomcobras Negócios e Equipamentos para Petróleo e Gás S.A., para

fornecimento de maquinário destinado a perfurações oceânica (offshore ) e terrestre (onshore ).$70.000.000 Bahia Joint Venture

Energia (Petróleo e

Gás)Central SOE Market seeking

48 2011 2011 Lifan Grupo Effa Construção de fábrica com capacidade inicial para produção de 10.000 automóveis por ano. $100.000.000 São Paulo Greenfield Automotivo SOE Market seeking

49 2011 2011 CNR (China Northern Railway) Fábrica da T´Trans

Fabricação de 34 trens para o Governo do Estado do Rio de Janeiro. O valor será investido na

aquisição de maquinário e modernização de planta já existente. A previsão é alcançar 2.500

trabalhadores

$200.000.000 Rio de Janeiro

Fusões &

Aquisições

(completa)

Ferroviário SOE Market seeking

50 2011 2011 Foxconn -A instalação de duas fábricas para a produção de telas sensíveis ao toque para equipamentos

eletrônicos.$3.000.000.000 São Paulo Greenfield Eletroeletrônicos Privada Market seeking

51 2011 2011Chongqing Polycomp

International Corporation (CPIC)Fábrica da Owens Corning

Produção e comercialização de reforços de fibras de vidro, prestação de suporte técnico,

incentivo à inovação junto a clientes e estímulo a novas aplicações do produto.Não divulgado São Paulo

Fusões &

Aquisições

(completa)

Fibras de Vidro SOE Market seeking

52 2011 2011 Anhui Longping High-Tech Seeds Não decidido

Dois possíveis modelos de negócio estão em discussão: i) fornecimento da genética de

sementes de arroz para um parceiro local, responsável pela multiplicação das sementes para

comercialização e pagamento de royalties ao grupo chinês; ii) criação de J oint-Venture , cujas condições

seriam discutidas futuramente.

Não divulgado Não definido Joint Venture Agribusiness SOE Market seeking

53 2011 2011 ZTE -Construção de Parque Industrial, o primeiro desse tipo fora da China, que prevê a contratação

de 2 mil funcionários e deve começar em até seis meses.$200.000.000 São Paulo Greenfield Telecomunicações SOE Market seeking

54 2011 2011 Huawei - Instalação de Centro de Pesquisa & Desenvolvimento. $300.000.000 São Paulo Greenfield Telecomunicações Privada Strategic Asset Seeking

55 2011 2011 Lenovo - Criação de ampla rede de distribuição. Não divulgado Não definido Greenfield Eletroeletrônicos SOE Market seeking

56 2011 2011 Lifan Não decidido Instalação de Centro de Pesquisa & Desenvolvimento. $70.000.000 São Paulo Greenfield Automotivo SOE Strategic Asset Seeking

57 2011 2011 CR Zongshen -

Formação de grupo de fornecedores para operação em sistema modular. Três empresas

chinesas já confirmaram unidades para produção de chassis, assentos e peças plásticas,

enquanto fabricantes de outras peças estão em negociação. O grupo espera, com isso, adquirir

localmente 45% das peças usadas na produção.

Não divulgado Amazônia Greenfield Automotivo Privada Market seeking

58 2011 2011 Sangfeng - Instalação de uma fábrica para a produção de celulares $50.000.000 São Paulo Greenfield Eletroeletrônicos SOE Market seeking

59 2011 2011 Sinopec Galp Brasil 30% dos ativos da Galp no Brasil $3.500.000.000 Rio de Janeiro

Fusões &

Aquisições

(parcial)

Energia (Petróleo e

Gás)Central SOE Resource Seeking

60 2011 2011Xuzhou Construction

Machinery Group-

Construção de um Parque Industrial . A empresa pretende construir uma fábrica para atender a

américa latina, além de um centro de desenvolvimento de produtos. A XCMG pretende produzir

guindastes, rolos compactadores, motoniveladoras, escavadeiras.

$200.000.000 Minas Gerais GreenfieldMáquinas de

construçãoSOE Market seeking

Fonte: CEBC, Bradesco, Imprensa

Page 227: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

212

ANEXO 1 – Discussão sobre Métodos de

Captação de Dados de Investimentos –

Pesquisa CEBC

Esta parte tem como objetivo mostrar qual será o caminho trilhado para

alcançarmos os objetivos. Para tanto, existem três métodos de trabalho distintos que

serão utilizados. O primeiro refere-se à captação dos dados dos investimentos

chineses no Brasil. O segundo consiste no método para a revisão bibliográfica dos

sobre os investimentos chineses e internacionalização de empresas chinesas no

mundo. E o terceiro consiste no método proposto para o estudo de alguns casos de

empresas chinesas que ingressaram no Brasil.

Inicialmente, pretende-se consolidar os dados sobre o volume de

investimentos realizados pelas empresas chinesas no período de Janeiro 2010 a Junho

de 2011. Depois, a partir da revisão bibliográfica sobre investimentos chineses e

internacionalização das empresas chinesas, será formulado um sistema classificatório

desses investimentos, com vistas a caracterizar esses investimentos e descrever o

fenômeno como um todo. E por fim, também em função da revisão da literatura,

pretende-se estudar alguns casos com mais detalhamento, buscando entender melhor

qual é a estratégia dessas empresas para o Brasil.

Tanto a revisão bibliográfica, quanto o protocolo para o estudo de casos

possuem uma seção especifica nessa pesquisa. Vale, então, expor, qual será o método

utilizado para a captação dos dados sobre os investimentos chineses no Brasil.

Método de captação dos dados de investimentos chineses no Brasil

Ainda que o objetivo deste estudo não seja somente o de quantificar os

investimentos chineses em 2010-2011, é prudente que se considerem as estatísticas

oficiais sobre o assunto. Neste propósito, é importante reconhecer os desafios

metodológicos que são inerentes aos dados oficiais.

Com relação à metodologia de medição do IED chinês, Zhan (2006) apresenta

três abordagens: balanço de pagamentos, abordagem administrativa ou survey.

Page 228: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

213

A primeira abordagem sugere utilizar os dados das transações do balanço de

pagamentos para obter estatísticas sobre o Investimento Estrangeiro Direto (IED). No

entanto, o autor alerta que uma porção significativa dos investimentos no exterior não

está associada às transações de capitais entre fronteiras, como os lucros reinvestidos,

capital transferido em forma de máquinas e dívidas entre empresas. Outro ponto

desfavorável à utilização do balanço de pagamentos diz respeito à falta de visibilidade

da informação disponível sobre os investimentos. Através do balanço não é possível

obter informações sobre distribuição geográfica e alocação setorial dos investimentos.

Para o caso da China, existe o Balanço de Pagamentos da China, divulgado pelo

National Bureau of Statistics. Entretanto, como explicado, essa fonte não é confiável,

pois carrega uma série de imprecisões.

Já a abordagem administrativa considera fontes administrativas do país sede

que possuem a função de analisar, apoiar e aprovar projetos de investimentos no

exterior. Para o caso da China, temos o Ministério do Comércio (MOFCOM),

responsável por captar esses dados e gerar as estatísticas. O ponto desfavorável à

utilização desta fonte consiste no método utilizado pela instituição. Com relação ao

MOFCOM, muito autores discutem a falta de precisão dos dados. De acordo com o

relatório da OECD (2003), apresentamos a Tabela 2, que mostra a discrepância da

metodologia utilizada pelo MOFCOM em comparação com os padrões internacionais.

Relatórios de 2006 e 2008 da OECD sobre IED chinês também referenciam o estudo

feito em 2003 e apontam que estas limitações continuam existindo.

Page 229: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

214

Padrão Internacional recomendado (OECD/FMI) Estatística MOFCOM

Tipo de dados de

IED utilizados

Fluxo de IED, estoque, e a receita proveniente do investimento

(interno ou externo)

Os dados relacionados as transações são

referenciados ao fluxos de entrada de capitais,

enquanto o fluxo de saída é baseado nas estatísticas

da Nações Unidas.

MOFCOM não compila o estoque de IED, utiliza

fluxos acumulados como representação.

Não existem estatísticas sobre receita relacionada a

IED.

Classificação

industrial e

alocação de

setores

A classificação por industrias deve ser feita com base na United

Nations International Standard Industrial Classification for all

Economic Activitie , que habilita uma análise compreensiva entre

países

OECD recomenda que o investimento estrangeiro da empresa

deve ser analisado levando em consideração a atividade

industrial do país destino e também a atividade industrial

proposta pelo IED

O método utilizado pelo MOFCOM para a alocação de

classificação de indústrias não é recomendado.

As estatísticas do MOFCOM são baseadas na

classificação nacional de atividade econômicas.

Consequentemente, é dificil comparar

internacionalmente

Fonte de dados

OECD reconhece três fonte de dados:

Sistema de reporte de dados internacionais (balanço de

pagamentos)

Fontes administrativas

Pesquisas com empresas (survey)

Um grande número de países da OECD utilizam pesquisas com

empresas para calcular o valor do IED, fontes administrativas

servem como uma base secundária de informações

As estatísticas do MOFCOM dependem de fontes

administrativas

Definição de IED

Um tipo de investimento internacional feito por uma entidade

residente (investidor direto) com o objetivo de estabelecer um

interesse duradouro em uma empresa residente em um

economia outra a do investidor. Interesse duradouro implica na

existência de um compromisso de longo prazo entre o investidor

direto e a empresa, e também implica em um grau significativo

de influencia do investidor direto (aproximademente 10%) na

participação da gestão da empresa

Investimento direto envolve tanto as transações nacionais entre

duas entidades, quanto todo o capital subsequente a transação e

que seja trocado entre o investidor direto e a empresa

Todos os investimos estrangeiros são considerados

pelas estatísticas do MOFCOM, independente dos

10% mínimo de participação do investidor direto.

O não cumprimento com os padrões de definição do

IED resulta em um obstáculo inicial para a

comparação internacional das estatísticas. Deve

existir maiores discrepências no futuro de acordo

com a diversificação do IED chinês.

As estatísticas do MOFCOM estão relacionadas

somente com os investimentos iniciais, o que é

provável que resulte em uma subestimação do

montante de transações entre investidor direto e

empresa em um dado periodo de tempo.

Definição de

Empresa

resultante de IED

Um empresa incorporada na qual o investidor externo detém

10% ou mais de suas ações ordinárias ou o poder de voto.

A propriedade de 10% ou o direito de voto demonstram a

existência de um relacionamento através do investimento

externo. Uma "voz efetiva" na gestão da empresa consite na

evidência necessária para que a empresa seja relacionada a um

IED. Empresas resultantes de IED são aquelas diretamente ou

indiretamente sob a propriedade do investido estrangeiro,

podém ser subsidiárias, associadas

As estatísticas do MOFCOM incluem:

Joint-ventures

Joint-ventures contratuais

Empresas compradas no exterior

FDI share-holding system

Joint exploration

A definição do MOFCOM não necessariamente segue

as diretrizes internacionais, podendo incluir casos

que não são considerados como empresas

resultantes de IED

Componentes

padrões inclusos

nas estatísticas

de IED

Equity Capital

Lucros Reinvestidos

Outros capitais: empréstimos entre empresas, debt securities ,

crédito com fornecedores, ações preferenciais

MOFCOM observa em suas estatísticas somente o

Equity Capital.

Valor contratado

e valor realizado

A classificação internacional de IED não reconhece essa

diferença entre valores

MOFCOM fornece diferentes classificações para o

dado de IED: contratado e realizado.

A interpretação desses dados dificulta as análises

pois a definição do que é contratado e realizado não

é claramente exposta pelo MOFCOM.

Comparabilidade Internacional das Estatísticas sobre IED da China

Tabela 32 - Comparabilidade Internacional dos dados de IED da China

Fonte: Autor com base em OECD (2003)

Page 230: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

215

Rosen & Hanemann (2009), ao discutirem os direcionadores e políticas de

IED da China, comentam sobre a uma série de fatores que distorcem os dados

apresentados pelo MOFCOM:

“Several factors distort the accuracy of China‟s aggregate data on OFDI. First,

MOFCOM does not rely on direct enterprise surveys to compile data but rather on

information collected by local commerce bureaus, where firms must register their

overseas investments. This can result in significant underreporting by firms that wish

to side-step approval procedures for a variety of reasons, thus dragging down the

aggregate figures. Another major problem, resulting in undercounting, is that many

Chinese firms do not report foreign earnings that are reinvested abroad as

OFDI as required by international standards. While these factors suggest that actual

outflows could be much higher, there are also reasons to suspect that China‟s official

statistics are too high.” (ROSEN & HANEMANN, 2009: 3).

Brown (2008) destaca: “Com relação às estatísticas na China, o bravo, o sábio,

o covarde e o tolo permanecem em igualdade”. Face a esse contexto de falta de

confiabilidade com relação às estatísticas geradas pelas instituições administrativas na

China, resta a abordagem por survey apresentada por Zhan (2006).

Por fim, a abordagem por survey ou pesquisas de campo é favorável para a

coleta de dados que não estão dentro dos moldes padrões do Balanço de Pagamentos

ou fora do escopo das unidades administrativas, por exemplo, capitais reinvestidos,

reavaliação de capitais frente à depreciação dos ativos e empréstimos entre empresas.

Além disso, através dessas pesquisas podemos conseguir dados mais apurados sobre o

rastro do investimento (setor, localização geográfica e tipo de operação).

Vale ainda comentar um pouco mais sobre o fenômeno conhecido como

round-tripping. Esse termo é utilizado para caracterizar o processo de envio de capital

da China para Hong-Kong e o retorno desse “investimento” para a China.

Esse é um ponto muito comentado entre os autores que discutem o método de

captação de dados de IED chinês Huang (2005); OECD (2003); Brown (2005); Zhang

Page 231: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

216

(2006); OECD (2008); Rosen & Hanemann (2009); Sutherland (2010). Toda essa

discussão, de acordo com Xiao (2004), acontece pois o Round-Tripping pode

contribuir com uma superestimação de 25 a 50% nos dados sobre o IED chinês.

Xiao (2004) conduziu um estudo detalhado sobre o impacto quantitativo do

Round-Tripping no volume de IED calculado pelo MOFCOM, assim como buscou os

principais motivos para o manejo do capital através de Hong Kong. São eles:

Vantagens e incentivos fiscais: a China possui políticas preferenciais para

atrair IED, incluindo baixas taxas de impostos, direitos de uso de terras, suporte

administrativo e, através de instituições financeiras domésticas, fornece serviços

financeiros preferenciais.

Proteção dos direitos de propriedade: a China continental possui um sistema

legal e institucional diferente de Hong Kong. A infraestrutura básica para o

cumprimento dos direitos de propriedade na China é fraca. Muitas empresas chinesas

deixam seu capital em um ambiente com regulamentações mais restritas e quando

vislumbram uma oportunidade de incentivo aos direitos de propriedade, por parte do

governo chinês, direcionam os investimentos para essa região.

Expectativas sobre o controle de câmbio e a taxa de câmbio: nos últimos anos,

intensificaram-se as pressões internacionais para a reavaliação do valor do RMB. A

China também vem progressivamente relaxando o controle sobre as contas de capital.

Ainda que atividades relacionadas à especulação com as taxas de juros sejam difíceis

de serem rastreadas, existe a hipótese de que os investimentos entram e saem da

China de acordo com os reajustes monetários.

A competitividade de Hong Kong com relação aos serviços financeiros:

muitas empresas chinesas possuem uma relação estreita com empresas de Hong Kong,

assim como possuem também escritórios e subsidiárias nessa região. O principal fator

de atração para a ida de empresas chinesas para Hong Kong consiste no mercado de

ações que existe em Hong Kong. Muitas empresas chinesas, inclusive, são listadas na

Bolsa de Hong Kong.

Diante destes precedentes, a pesquisa lançou mão de três recursos, que são

similares aos utilizados também em pesquisas sobre FDI chinês: Morck, Yeung e

Page 232: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

217

Zhao (2008), Xiao (2004), Zhan (2006), Huang (2005), Heritage Foundation, US-

China Business Council.

O primeiro foi a consulta sistemática ao noticiário, que geralmente anuncia os

investimentos principais e de maior vulto, ainda que esta fonte possa não cobrir

alguns investimentos de pequeno valor que, se tomados em conjunto, podem tornar-se

significativos. O segundo foi entrevistar diretamente as empresas e o governo

brasileiro em busca de informações sobre os investimentos. Já o terceiro foi o exame

de relatórios financeiros de empresas chinesas e brasileiras e outros tipos de

documentos que comprovam ou, ao menos, apontam investimentos diretos no país.

Com relação ao primeiro recurso – o do noticiário – é importante ressaltar que

os números presentes neste estudo se referem a anúncios de investimentos. Assim, é

de se esperar que, após o anúncio, siga-se naturalmente um cronograma de aplicações.

Com isto, uma redução dos anúncios de um ano para o outro poderá ser observada

sem que isto signifique redução do fluxo de investimentos: trata-se apenas de uma

fase de transição de meros anúncios para a progressiva execução dos investimentos.

Por fim, cabe lembrar que alguns investimentos são apenas transferência de

propriedade, o que implica dizer que não geram impactos sobre a economia brasileira

em um primeiro momento. Ainda assim, eles significam um aumento da presença

chinesa no Brasil, sendo, portanto, objeto de estudo. Esse é o caso da compra de 40%

das operações brasileiras do conglomerado espanhol Repsol pelo grupo chinês

SINOPEC, bem como da compra de sete concessionárias de transmissão de energia

pela State Grid.

Page 233: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

218

ANEXO 2 – Entrevista com o vice presidente

da Huawei, Li Xiaotao - CEBC

Entrevistadores

Antônio Barros de Castro

André Soares

Roteiro de Entrevista:

O roteiro serviu como base para a entrevista e foi elaborado pelo pesquisador

em conjunto com o professor Antonio Barros de Castro e o coordenador de análise

Édison Renato. As perguntas são derivadas da discussão que o grupo teve a partir da

revisão da literatura de internacionalização que nesse documento está apresentado no

capítulo 3 - modelo conceitual e capítulo 4 - método de análise. E também foram

considerados textos específicos da Huawei.

1. Como foi o processo de internacionalização da Huawei? Ela obteve

incentivos para expandir-se pelo mundo?

2. Quando a Huawei decidiu vir para o Brasil, quais eram os objetivos iniciais?

3. Com mais de dez anos no Brasil, quais foram as etapas da evolução da

Huawei?

4. Quais as principais diferenças da atuação da Huawei no Brasil em relação a

os outros países onde também há operações?

5. Quais são as principais dificuldades encontradas pela Huawei na chegada e

consolidação no mercado Brasileiro?

6. Quais são as perspectivas para o futuro da Huawei no Brasil?

7. Qual é a estratégia da Huawei para se tornar mais competitiva no Brasil, em

um país com características tão diferentes?

8. Em 2009, a Huawei superou diversas companhias reconhecidas por investir

em inovação, registrando mais de 40 mil pedidos de patentes. Qual como a

empresa desenvolve essas capacitações?

Page 234: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

219

9. A Huawei investe no desenvolvimento de tecnologia no Brasil? Quais são os

principais projetos em andamento?

10. Qual é o papel desempenhado pela operação Brasileira na área de P&D?

11. Como a Huawei pretende se posicionar com o lançamento da banda 4G no

Brasil?

12. Como as diferenças culturais entre os dois países provocam a necessidade

de adaptações no modelo de negócios da Huawei?

13. De que forma a Huawei vê que seu modelo de gestão, que o faz ser tão

competitiva, poderia ajudar o desenvolvimento da cultura gerencial brasileira?

14. Em um cenário de relações trabalhistas diferentes, como foi adaptar-se a

cultura de gestão Brasileira?

15. Em sua visão, há alguma proposta ou sugestão de ações para estreitar ainda

mais o relacionamento Brasil-China?

Entrevista:

PERGUNTA

Com mais de dez anos no Brasil, gostariamos que descrevessem quais

foram as etapas da evolução da Huawei.

RESPOSTA

A primeira etapa poderia ser considerada de divulgação de informações sobre

a tecnologia chinesa e a experiência da nossa empresa. A maioria das pessoas possuía

alguma noção básica sobre a empresa, associada, na China, a produção em massa,

mas em forma geral não possuía muito conhecimento. Foi uma época dificil.

Quando a Huawei entrou em 1999, não existiam instituições como o Conselho

Empresarial Brasil China e seria muito interessante, no momento da entrada da

Huawei, a presença de uma associação como o CEBC.

Vocês pegaram a desvalorização do real exatamente na entrada, como

foi isso?

Page 235: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

220

O que afetou negativamente foi sobretudo a falta de conhecimento por parte

dos clientes. Também geograficamente falando a China é um país distante, o que

dificultava ainda mais o conhecimento por parte dos clientes brasileiros.

A primeira estratégia que definimos foi expandir o conhecimento sobre a

Huawei e sobre a China, esta levou o nome de A nova rota da Seda. Convidamos uma

quantidade de clientes para conhecer Beijing, Shanghai e Shenzhen, núcleos da

economia chinesa. Todo mundo ciente que há 2 mil anos atrás existia o caminho da

seda, justamente nossa estratégia carregava a mesma função de iniciar intercâmbio,

conhecimento, amizade.

Principalmente nos primeiros dois anos, a empresa focava no lado de divulgar

a imagem da Huawei, divulgar o perfil de uma empresa chinesa de alta tecnologia,

que poderia trazer grande beneficio tecnológico para o mercado brasileiro.

O grande segredo embutido no sucesso, é ter foco nas necessidades dos

clientes, ouvir a grande demanda que vem do lado dos clientes. Talvez as pessoas

estejam cientes dessa filosofia de focar nos clientes, a Huawei leva essa filosofia

muito a sério.

Depois de tanto esforço investindo nessa estratégia, finalmente em 2001,

conseguimos o primeiro contrato com CTBC, com sede em Uberlândia no triângulo

mineiro.

CTBC era uma operadora relativamente pequena, mas foi o primeiro contrato

continua até hoje como um bom cliente.

Nesse primeiro contrato, vocês já conseguiram fazer alguma adaptação

as necessidades do cliente, que é a grande qualidade de vocês, a marca de

vocês?

Tinha pouco envolvimento nosso de adaptação e costumização naquela época,

foi um contrato padrão. Mas em 2006, cinco anos depois, com VIVO GSM, a Huawei

fez um projeto 100% costumizado.

Quer dizer, em uma primera fase vocês ainda não tinham capacidade de

fazer customização, que era o grande trunfo de vocês. Mas em 5 anos vocês

Page 236: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

221

conseguiram colocar em prática a capacitação para adaptar produtos a

contextos?

Em um primeiro estágio ainda não tinha a capacidade de fazer essas

costumizações. Depois de anos de esforço, a Huawei conseguiu virar esse cenário,

nossa filosofia de customização entrou em todos os aspectos da operação local.

Especialmente no momento de grande construção de banda larga fixa e móvel

no Brasil, nem todos possuíam experiência de construção de rede em escala.

Aproveitando essa oportunidade a Huawei ofertou soluções conforme as necessidades

dos clientes.

Nosso sucesso acompanhou a grande demanda de construção da banda larga

no Brasil. Por isso, a Huawei também foi primeira empresa de Telecom que trouxe,

em 2004, a tecnologia de banda larga fixa para o Brasil.

Neste caso, a Huawei introduziu alguma adaptação, fizeram no Brasil

algum P&D relacionado a implantação da banda larga ?

Huawei está ciente desde o inicio da necessidade de ter um P&D local, faz

parte da estratégia global da empresa. Tudo isso encaixou na nossa estratégia

fundamental de atendimento as necessidades dos clientes.

No início, como não tinhamos muita experiência, a maiora dos trabalhos de

adaptação eram feitos por vários centros de P&D na China. Também estamos cientes

que através desse P&D remoto na China conseguiamos uma baixa eficiência, por isso

estabelecemos um centro de P&D no Brasil.

Fale um pouco sobre o P&D no Brasil?

Nossa equipe local possui grande conhecimento sobre a demanda local. E

também todos sabem que o Brasil é muito rico em recursos humanos, com bons

engenheiros e talentos em engenharia. Não forma um grande volume de engenheiros

por ano, mas os que forma são bons engenherios.

Por isso essa equipe possui toda capacidade de carregar as funções

fundamentais no trabalho de P&D.

Page 237: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

222

Qual é a estratégia da Huawei para se tornar mais competitiva no que se

refere a implantação do 4G no Brasil ?

Não temos o conceito de 4G, não chamamos de 4G, chamamos de LDE. O

grande diferencial dessa tecnologia é que oferece uma banda mais larga, muito mais

veloz que o 3G de hoje em dia.

Huawei está apostando fortemente em LDE, porque a demanda de banda larga

móvel esta crescendo e crescendo bem rápido.

Toda tecnologia tem a sua limitação para o consumidor final, como o caso do

3G, então a longo prazo a LDE tem bastante futuro. Com essa visão Huawei está

investindo muito na LDE, é o primeiro fornecedor de LDE no mundo.

E aqui no Brasil estamos dispostos a investir mais nessa tecnologia.

No Brasil, então o desenvolvimento dessa tecnologia não será pelo P&D

remoto na China?

A Huawei possui uma estrutura global, presença universal em todos os países

e cada unidade contribui em tecnologia. Possuimos globalmente 51 mil engenheiros

dedicados a P&D espalhados em diferentes países, é a maior equipe de pesquisadores

do mundo em Telecom.

Está havendo uma corrida de várias empresas de fronteira para fazer

P&D no Brasil. No entorno da UFRJ, no Rio de Janeiro, estão surgindo novos

grandes laboratórios de P&D. É como se o Brasil estivesse entrando em um

novo estágio. A Huawei também tem um projeto desse estilo para o Brasil?

Nessa momento, ainda não temos uma operação com intuiçoes educacionais

no Rio, mas possuimos em São Paulo com USP e em Brasilia também, grandes

laboratórios com essas universidades, com equipamentos doados pela Huawei. Se

existir projeto em conjunto no Rio, seria um grande prazer participarmos.

A Huawei possui um relacionamento especial com seus funcionários, é

uma cultura muito particular, mesmo dentro da China. Como essa cultura tão

especial, consegue se adaptar no Brasil, que dificuldades ela enfrenta?

Page 238: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

223

Hoje em dia, a Huawei tem uma presença universal, é natural que encontremos

obstáculos e um cenário trabalhista diferente do que temos na China.

O Brasil tem característcas bem diferentes, todo mundo está ciente disso. Por

isso, esses 11 anos de convivência no mercado serviram como caminho de

aprendizagem e adaptação contínua.

Sempre valorizamos essa estratégia de localização utilizando o máximo de

talentos no Brasil, possuimos funcionários brasileiros com mais de 10 anos de

Huawei. Esse grupo de talentos transmite esse conhecimento rico sobre o lado

trabalhista e tributário para nosso grupo chinês.

Pois estamos cientes que dado que estamos no Brasil temos de respeitar as leis

e regulamentos do Brasil, sem discussão. E para efetuar nossa operação e prezar o

longo prazo, temos de conhecer o ambiente e o cenário do Brasil.

Também para os colegas brasileiros o grupo de colegas chinês serve como

janela com o exterior para conhecer uma cultura corporativa diferente. Por isso, temos

um programa para levar funcionários brasileiros para a China, efetuar treinamentos e

abrir oportunidades de trabalho. Inclusive eu tenho essa idéia, vou levar alguns

talentos brasileiros para nossa estrutura para a China, para trabalhar lá por algum

período, para melhorar o rendimento.

Desde o inicio, a Huawei do Brasil tem o grande objetivo de se tornar uma

empresa brasileira, como uma empresa chinesa investindo no Brasil. Tudo faz parte

da nossa estratégia de localização, ter um time mais brasileiro e uma cultura mais

brasileira.

A China através do seu 12º Plano Quinquenal e de uma séria de

medidas anunciadas e recentemente discutidas na assembléia do povo,

demonstra que está entrando em uma nova etapa; sobre o Brasil se pode

dizer, que também está entrando em uma nova etapa. Dada essas duas

transições para uma nova etapa, que sugestões e propostas fariam vocês para

melhorar as relações Brasil-China no novo contexto?

Page 239: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

224

Esse é um assunto muito amplo, estou muitos anos no Brasil e não estou

prestando muita atenção na Assembléia na China, você está muito atualizado, mais do

que eu. Por enquanto nosso grande foco, ainda continua na demanda dos clientes.

Concordo com essa visão sobre os dois grandes países e que estão em

fundamental transição e tem grandes esperanças no futuro. O relacionamento bilateral,

de cultura e comércio, enxergo uma tendência ao estreitamento das relações. Toda

hora ouvimos comentários sobre o crescente interesse do governo brasileiro em

estreitar o relacionamento com a China. Mas essa é uma questão muito abragente,

muito macroeconômica.

Uma coisa que temos certeza, que também senti pessoalmente, os dois países

estão em sincronia ao focarem em novas áreas como novas energias, novas indústrias

e energias alternativas. Ambos enfrentam portanto desafios semelhantes para crescer.

Page 240: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

225

ANEXO 3 – Entrevista com o CEO da Chery

no Brasil, Luis Curi - CEBC

Entrevistadores

Antônio Barros de Castro

André Soares

Roteiro de Entrevista:

O roteiro serviu como base para a entrevista e foi elaborado pelo pesquisador

em conjunto com o professor Antonio Barros de Castro e o coordenador de análise

Édison Renato. As perguntas são derivadas da discussão que o grupo teve a partir da

revisão da literatura de internacionalização, que nesse documento está apresentado no

capítulo 3 - modelo conceitual e capítulo 4 - método de análise. E também foram

considerados textos específicos da Chery.

1. Como foi a decisão de entrar no mercado brasileiro? Quais caracteristicas do

mercado nacional atraíram a vinda da Chery ?

2. Quais foram/estão sendo, as principais dificuldades encontradas pela

empresa para se estabelecer no Brasil? Como a empresa contornou esses

desafios?

3. A Chery recebeu algum incentivo por parte do governo brasileiro/chinês para

auxiliar seu ingresso no Brasil?

4. Algumas medidas foram recentemente anunciadas pelo governo visando o

freio do consumo de veículos, como a elevação da taxa de juros para o

financiamento dos carros, e a provável redução do limite de parcelas para 48

meses. Como a Chery pretende lidar com esse cenário?

5. Foi anunciado um investimento de US$ 400 milhões de doláres no país em

2010 para a construção de uma fábrica em Jacareí, esse número se

confirma? Existem perspectivas futuras de investimentos? Quais?

Page 241: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

226

6. Hoje os carros da Chery são importados do Uruguai, qual é o papel dessa

nova operação brasileira? Abastercer o mercado interno? Servir como base

para a américa do sul?

7. A Chery possui oito fabricas no mundo, e de acordo com dados da própria

empresa, a maioria são fabricas de montagem de CKD, esse será o mesmo

perfil da operação montada no Brasil? Quais modelos serão produzidos aqui?

Uma das marcas da empresa é a concepção de produtos de forma

independente, produtos que se adequam as necessidades dos usuários. A

exemplo, o Brasil possuí um mercado para carros a alcool com um porte que não

se encontra em outros paises do mundo.

8. Frente a isso, a Chery pretende realizar alterações em seus modelos para

atender ao mercado brasileiro? A empresa realiza algum tipo de P&D no

país?

Em um levantamento feito pelo CEBC, o preço de mercado do QQ no Brasil

em dólares é o segundo maior no mundo, perdendo apenas para a Venezuela. Foi

anunciado que o QQ entrará no país a um preço de R$ 22 900, competindo com

carros como Ford Ka, a R$ 24 480 e Celta R$ 27 600.

9. Quais são as expectativas para o lançamento do QQ? A empresa considera

que ele causará um forte impacto no mercado como causou em outros

países?

10. A vantagem competitiva do QQ – um preço muito baixo para um carro com

nível regular de conforto – será mantida no Brasil?

Os carros da Chery em comparação com seus concorrentes, temos:

Chery Cielo 43 990 Tiggo 52 900 Face 32 990

Concorrentes

Astra 44 900 Ecosport 56 900 Novo Uno 32 900

Focus 48 990 Picanto 33 900

Golf 51 200 Agile 37 708

11. Frente a esse cenário, como o Sr. poderia explicar a vantagem da Chery?

Reside além do preço, no fato do carro possuir uma quantidade maior de

itens de série em comparação ao concorrente?

Page 242: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

227

12. As vendas da Chery cresceram mais de 1000% em 2010. Quais foram as

principais iniciativas adotadas pela empresa para atingir esse patamar?

Como superar a desconfiança do consumidor para comprar um carro novo?

13. Quais são as perspectivas para a Chery nos próximos anos no Brasil?

Entrevista:

PERGUNTA

Nós gostaríamos de saber qual é o passo adiante que a Chery está

projetando, vocês estão indo além da rede de concessionárias, têm uma hipótese

de fábrica em Jacareí, um terreno de aproximadamente um milhão de metros

quadrados e uma referência de 400 milhões de dólares a ser investido lá. Isso

seria nitidamente um passo adiante na estratégia da empresa. Nós gostariamos

de saber como primeira grande questão o porquê desse passo, as intenções, os

objetivos.

RESPOSTA

Deixa eu primeiro posicionar a Chery no Brasil, como o André citou a Chery

já estuda o Brasil há um tempo, eu já estou envolvido nesse projeto desde 2007, o

Brasil sempre foi um mercado interessante, prioritário para a Chery, em determinado

momento nas negociações com parceiros de revenda local, a Chery decidiu entrar no

Brasil por conta própria. Com a crise americana em 2008, essa idéia ficou um pouco

de lado, pois ninguém sabia o tamanho dessa crise, como ia afetar os países. De

início, realmente ela se mostrava bastante danosa, como foi no resto no mundo, com

exceção a China e o Brasil.

Então decidimos entrar como todas as newcomerces entram em mercados

desconhecidos e novos, que é através de um parceiro local, assim como a JAC está

fazendo. Entramos através da empresa que se chama Vengue. Mas isso desde o

começo já estava definido como um período de transição, até a Chery absorver

conhecimento e cultura suficiente para começar a andar com as próprias pernas.

Page 243: O INVESTIMENTO DIRETO DAS EMPRESAS CHINESAS NO ...

228

O investimento da fábrica já faz parte dos planos da Chery desde de 2007.

Esse é um projeto para 2013, um projeto já sacramentado pela National Development

Reform Comission, pelo governo federal chinês, vinculado diretamente ao premier da

China. A Chery é uma estatal, de uma provincia chamada Anhui.

Então o porquê da fábrica, dado que existe uma grande vantagem em produzir

na China. Essa vantagem não se aplica a Chery, primeiro porque a Chery é uma

montadora, ela compra as principais peças para compor o automovel. Ela compra

peças das mesmas empresas que fornecem para uma FIAT, uma Ford, uma GM:

refiro-me a Bosch, Magneti Marelli, Visteon, Johnson Controls. Não tem fundamento,

você achar que uma peça da Bosch vai custar na China 10% do que custa no Brasil,

ela custa 20-25% mais barato e não 90% mais barato. E a Chery faz isso com mais de

75% das peças, ela só monta o carro.

No Brasil, nós temos uma tributação punitiva, que são os 35% de imposto

sobre importação. Além disso, temos um leadtime, um tempo muito grande, entre o

pedido e o recebimento da mercadoria aqui, de 4 meses. Durante esse tempo ficamos

expostos a uma variação cambial, um custo financeiro e a questões de abastecimento,

a logística pode acarretar em grandes custos, dado um agravamento da situação no

oriente médio, na África ou mesmo na Ásia.

Por outro lado, a Chery tem a missão de ser uma marca global, ela tem um

programa chamado foreign abroad. São muitos os países que não têm muita tradição

em automóveis, no Brasil temos quase 200 milhões de experts em automóveis. Então

vai ser fundamental para a Chery a experiência no Brasil. Nós pessoalmente, estamos

auxiliando a Chery nisso, pois na China é uma cultura diferente. Exemplo, o interior

branco típico na China não é aceito por aqui. Estamos aprendendo. Uma fábrica aqui,

com um centro de pesquisa e desenvolvimento vai ajudar a dar um ar mais ocidental

para o carro da Chery.

Isso foi um processo natural das coreanas, a China está seguindo os mesmos

passos em termos automotivos só que muito mais rápido que as coreanas, e o Brasil é

prioritário nesse processo da internacionalização da marca. E há a questão do

mercado: o Brasil é o quarto maior mercado de carros do mundo.

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229

Primeiro é a China, segundo EUA, terceiro Japão e quarto Brasil. Como a

Chery ainda não tem folego e capacidade produtiva para enfrentar o mercado

americano e japonês e como também, são mercados que não interessam para a Chery.

A empresa optou por focar nos BRIC, está indo bem na Rússia e planos para entrar

forte na Índia. No momento a empresa está construindo mais três fabricas na China e

uma nova no Brasil.

Gostaria de explorar um pouco sua última frase de mais três fábricas na

China e uma nova Brasil, qual é a diferença entre uma fábrica na China e uma

no Brasil para a Chery?

Para a Chery a fábrica no Brasil é uma experiência nova. Apesar da empresa

possuir 11 fábricas, na verdade são 11 CKDs e o primeiro grande empreendimento

feito pela Chery fora da China é no Brasil. Então a grande diferença é esse ineditismo,

é ver como é a legislação trabalhista, a legislação ambiental, negociação com

fornecedores. A negociação com a Bosch China é diferente da negociação no Brasil.

A Chery é uma montadora, suprida por Bosch, Visteon, etc… Como a

Bosch está na China e está no Brasil, temos uma semelhança grande nas

operações. Se as negociações derem certo, você vai receber da Bosch aqui e da

Visteon aqui. E se não derem certo, importa?

Então semana passada eu fui convidado para conhecer a Benteler, fornecedora

de eixos de suspensão que fechou um grande pedido com a Chery. Agora é aquela

questão, é o que falei, toda a Chery está sendo abastecida pela Benteler lá da China.

Não acredito que a Benteler da China faça pela metade do preço da Benteler do

Brasil, porque não abastecer por aqui? Não chegamos no item principal que é preço.

Se tiver preço, é fazer como se faz lá, podemos nos abastecer por aqui, exatamente

como uma montadora americana, européia ou japonesa.

Então a diferença do Brasil para Uruguai, é que no Uruguai não havia

chance de fazer isso: não existiam fornecedores locais como os da China, aqui

existe a chance de montar como na China.

Exatamente, essa é a grande diferença. No Uruguai não há nenhuma indústria

autopartista, e portanto lá no Uruguai a fábrica da Chery é um CKD.

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230

Lá é CKD strictu-sensu, quando vem no container um carro desmontado?

Exatamente, é quando vem o kit com o carro para ser montado .

Então na verdade, essa fábrica no Brasil, será a primeira da Chery fora

da China que não vai seguir esse padrão de CKD?

Exatamente, será uma montadora.

Fora a estamparia, o que mais seria feito aqui?

Tudo vai depender do preço, mas a princípio o powertrain viria da China, o

resto excluindo o powertrain estamos abertos a negociações.

Estou interessado na sua ênfase no powertrain, porquê isso?

Tecnologia, essa é a grande diferencial da Chery da maioria das independentes

chinesas, a Chery possui sua própria tecnologia para motores e transmissões, que é a

ACTECO. Muitas marcas da China dependem de motores da Mitsubishi, da Suzuki e

são motores antigos. A Chery não, possui sua própria tecnologia, não dependemos de

ninguém para abastecer o coração do carro – motor somado a transmissão.

Você usou o termo independente. Para a pessoa que ouve isso pela

primeira vez, pode haver uma certa dúvida, o que significa ser independente?

Pelo contrário, a Chery é uma estatal. Independente ao que nos referimos é

estar vinculado a uma marca própria. Na China estão todas as marcas automotivas

globais.

A SAIC não vai exportar para o Brasil, porque o que ela vai exportar?

Produtos da GM e da VW para o Brasil? O resto não, a JAC ela tem uma marca

própria, GreatWall, BYD, HAFEI, LIFAN, também.

E o critério maior então é o powertrain, ou existem outras diferenças?

Pode ser só de design? Para você, o coração do carro é de vocês, é o que define a

tecnologia, mas esse é o único possível definidor de uma independente?

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231

Não, pelo contrário, vamos colocar o exemplo da CHANA, ela vai e compra

um motor de segunda geração, “segunda linha” da Mitsubishi, Suzuki, ela compra a

tecnologia que está disponivel. Mas o dia em que a Mitsubishi, a Suzuki, a Hyundai,

falar que não vende mais essa sua linha de motores, aí complica a situação dela.

A independente, não depende de uma parceira internacional.

Independente para produzir e adquire-se indepêndencia com relação a

mercados?

Correto.

Tecnologia para o coração do carro e liberdade de mercados é o que

define a independência?

Correto e a Chery é a maior independente da China, a SAIC é muito maior

porque vende VW e GM.

As independentes estão ganhando peso no mercado chinês?

Anualmente. Nas grandes cidades obviamente você vê mais marcas ocidentais,

japonesas ou coreanas. No entanto, no interior da China são os independentes, é a

GreatWall, a BYD, a Chery.

O chinês, ele passou direto da bicicleta para o carro. Hoje temos um mercado

de 18 milhões na China, que não representa nada em comparação com o potencial da

China, significa que 2% da população têm carros na China.

Por que no interior há uma prevalência forte dos independentes?

A tendência é essa. A licença para você vender automóvel em Shanghai é cara.

Para você emplacar o carro em Shanghai é caro. É diferente de emplacar o carro em

Wuhu.

Eu acho que de qualquer maneira a China caminha para uma crise de

espaço terrível. As avenidas de Pequim já estão cheias de carros, apesar do

metrô crescer explosivamente lá?

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232

Mas no interior se ve muito Chery e GreatWall.

Não terá aí uma coisa localista, um nacionalismo provincial de Anhui com

a Chery?

Isso sem dúvida, também.

Para o público brasileiro não está claro que a Chery tem como estratégia

subordinada a questões de custos, que poderá comprar de fornecedores

brasileiros. A suspeita que se tem é que vai importar tudo. Seria uma forma de

regressão para a estrutura industrial brasileira. Tenho impressão que essa é uma

questão sobre a qual vocês tem que ter um posicionamento forte e claro?

A nossa luta é para quebrar esse paradigma, esse estigma que traz o produto

chinês e a empresa chinesa.

A exemplo, quando anunciamos que a Chery estava chegando, os comentários

eram que a Chery viria para logo ir embora, com produtos de má qualidade.

Vamos para a fábrica, os comentários eram que não sabiam direito o que seria,

achavam que não teríamos fábrica aqui. Fomos e assinamos o contrato com a

prefeitura de Jacareí e com o Estado de São Paulo.

Já fui em dois pólos da industria automotiva, estive com o sindicato para

correr atrás de fornecedores e negócios a serem feitos por aqui. A Chery está aqui, já

estive em reuniões com mais de 10 empresas, Benteler, Visteon, Bosch, Johnson

Controls, Magnete Marelli.

Agora é aquela coisa, temos um cunho econômico, temos que ter preço para

comprar aqui. Nessa luta estamos constantemente tendo que provar que fazemos parte

do comécio mundial, com as mesmas condições de uma empresa americana, européia,

australiana, asiática.

A Holding Chery produz autopeças?

Não, mas temos Joint Ventures para autopeças. Temos por exemplo uma para

ar condicionados, outra com a Johnson Controls, mas são poucas autopeças.

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Dizem que a Hyundai vai trazer os próprios fornecedores da Coréia, que

vão ficar redor da fábrica? Não é o mesmo?

Em alguns casos específicos pode vir a ser para algum componente,

especialmente se não existir por aqui. Pode ser que a Chery convença algum dos

parceiros a vir para o Brasil, isso depende de negociação.

Agora você falou em P&D aqui no Brasil. Pretendem fazer P&D de que

tipo?

É um centro para adaptações para o mercado latino americano. O Brasil sem

dúvida nenhuma vai ser um pólo de exportação. Porque um dos segredos de ter um

produto com um preço altamente competitivo é hoje a elevada produção de um

mesmo produto, de um mesmo modelo. Se vamos por essa linha de estratégia, o

Brasil não vai absorver a produção desse único modelo, teremos de abastecer outros

mercados.

A questão do carro flex estaria dentro desse conjunto de adaptações em

P&D?

O flex já foi desenvolvido na China e está chegando na próxima leva de

carros. Foi desenvolvido pela Delphi brasileira e em julho já recebemos três modelos

totalmente flex.