O Inventário Do Mundo - Arthur Bispo Do Rosário e Peter Greenaway
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Transcript of O Inventário Do Mundo - Arthur Bispo Do Rosário e Peter Greenaway
O inventrio do mundo: Arthur Bispo do Rosrio e PeterGreenawayMaria Esther MacielToda ordem precisamente uma situao oscilante beira do precipcio.Walter Benjamin Aproximar artistas de contextos radicalmente distintos e com histrias de vida no menos dissonantes no deixa de ser um exerccio de imaginao. Sobretudo quando no h pontos de interseo entre suas trajetrias criativas, nem evidncia de qualquer dilogo explcito entre eles que possa justiicar possveis ainidades. !ste " o caso da aproximao que tentarei estabelecer entre o artista brasileiro #rthur $ispo do %osrio e o cineasta brit&nico 'eter (reena)a*, + lu, de alguns escritos de -orge .uis $orges. #dvindos de culturas inteiramente diversas, criando a partir de condi/es sociais e de motiva/es est"ticas contrastantes, $ispo e (reena)a* encontram0se, entretanto, no mesmo apreo pelas taxonomias e enumera/es impossveis, compartilhando uma certa cumplicidade em relao ao que $orges chamou de 1la tarea de dibujar el mundo1. 2o oi + toa que (reena)a*, em seu primeiro contato com a obra de $ispo, em agosto de 3445, quando esteve no %io de -aneiro para a exibio da pera 1366 7bjetos para %epresentar o 8undo1, reconheceu as ainidades de seu prprio trabalho com o do artista brasileiro 9 este um ex0pugilista, ex0marinheiro e ex0empregado dom"stico, negro, psictico, nascido em 3464. 1!le " mais obsessivo do que eu: a obsesso dele " ininita1 9 admitiu (reena)a* 9 + medida que percorria o vasto acervodos trabalhos de $ispo, composto de quase mil peas criadas ao longo de cinq;enta anos de coninamento do artista em uma instituio psiquitrica. !ssas peas, que vo desde objetos avulsos, como navios de madeiras ou uma roda debicicleta, at" assemblages, ard/es, ichrios, aixas, paninal. =e meados dos anos ?6 at" sua morte em 3454, $ispo se dedicou, com grande ainco e extraordinrio senso de rigor, +sua misso, convicto de que tinha sido o escolhido de =eus para reconstruir o mundo aps o im de tudo, repovoando a terra com seus 1objetos mumiicados1 e suas listas ininitas de nomes e imagens bordadas sobre panos ordinrios. $uscava sua mat"ria prima no cotidiano mais imediato, nos redutos marginali,ados da pobre,a, no agora desua prpria experincia@ sapatos, canecas, pentes, garraas, latas, erramentas, talheres, embalagens de produtos descartveis, papelo, cobertores pudos, madeira arrancada das caixas de eira e dos cabos de vassouras, linha desiada dos uniormes dos internos, bot/es, estatuetas de santos, brinquedos, enim, tudo o que a sociedade jogou ora, tudo o que perdeu, esqueceu ou despre,ou. Aomprederico 8orais, um dos maiores divulgadores da obra do artista@1Sem que algum dia tivesse sado de sua cela para visitar exposi/es ou olhear revistas de arte em alguma biblioteca soisticada, $ispo e, nos anos G6 assemblages como as de #rman, Aesar, 8artial %a*sse e =aniel Spoerri, integrantes do 2ovo %ealismo. H...I # lgica ormal com que $ispo envolve seus trabalhos antecipa certos aspectos da nova escultura inglesa, de um Jon* Aragg, por exemplo. H...I 7s textos costurados de $ispo lembram os manuscritos de -oaquim Jorres0(arca, nos quais ele unde palavra e imagem. H...I 7 manto e as demais roupas de $ispo remetem aos parangol"s de F"lio 7iticica, tanto quanto sua cama0nave assemelha0se + casa0ninho de 7iticica em sua residncia nova0iorquina ou ao Kden que ele exp