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TÂNIA ROSA FERREIRA CASCAES
O INSTITUTO DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO – LACTEC - NA GÊNESE DO PROCESSO TECNOLÓGICO PARANAENSE: UMA CONTRIBUIÇÃO AO
ESTUDO DA HISTÓRIA DA TÉCNICA E DA TECNOLOGIA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Tecnologia Orientadora: Profª. Dra. Maria Vilma Rodrigues Nadal
CURITIBA 2005
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA
O INSTITUTO DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO – LACTEC - NA GÊNESE DO PROCESSO TECNOLÓGICO PARANAENSE: UMA CONTRIBUIÇÃO AO
ESTUDO DA HISTÓRIA DA TÉCNICA E DA TECNOLOGIA
TÂNIA ROSA FERREIRA CASCAES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Tecnologia Orientadora: Profª. Dra. Maria Vilma Rodrigues Nadal
CURITIBA 2005
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UTFPR – Campus Curitiba
C334i Cascaes, Tânia Rosa Ferreira O Instituto de tecnologia para o desenvolvimento – LACTEC – na gênese do pro- cesso tecnológico paranaense : uma contribuição ao estudo da história da técnica e da tecnologia. Tânia Rosa Ferreira Cascaes. Curitiba. UTFPR, 2005 Xxi, 171 f. : il. ; 30 cm Orientador: Profª. Drª. Maria Vilma Rodrigues Nadal Dissertação (Mestrado) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná.. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. Curitiba, 2005 Bibliografia: f. 167-170
1. Energia elétrica - história Brasil. 2. Energia elétrica – Paraná. 3. Copel. 4. tecno- logia – desenvolvimento. 5. Desenvolvimento regional. 6. Crescimento industrial.. I. Nadal, Maria Vilma Rodrigues, orient. II. Universidade Tecnológica Federal do Para- ná. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. III. Título. CDD: 621.310981
ii
DEDICATÓRIA
Ao meu marido, João Carlos, por seu
belo exemplo de vida e carinhoso
incentivo, que me conduziram de volta à
Academia.
À minha mãe, Jovita, in memorian,
modelo maior e incondicional das minhas
virtudes.
Aos meus filhos, Tatiana, Eliana e
Caio Lúcio, o registro de meu amor
eterno, princípio e fim de todas as minhas
realizações.
iii
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, professora e mestra, Doutora Maria Vilma Rodrigues
Nadal, meu eterno reconhecimento por ter acreditado em mim. Seus ensinamentos
científicos e humanos contribuíram para que eu enfrentasse os desafios próprios
desta jornada, acrescentando valores inestimáveis ao meu caráter.
Ao grupo de estudos TRILOGIA (Arte, Técnica e Tecnologia) por haver me
iniciado no campo da ciência sob uma visão humanista da tecnologia, esperança de
um mundo melhor para a humanidade.
Ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia-PPGTE da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR - representado pelo seu corpo docente,
discente e funcional, minha gratidão se estende de forma enfática pelas amizades
que nasceram dessa convivência, com rica troca de experiências na construção do
conhecimento.
Ao Edílson da Costa, amigo querido, especial responsável pelo meu retorno à
Academia.
A Marina Ribas Lupion, grande companheira e conselheira nos bons e nos
difíceis momentos desta longa trajetória.
A Rita de Cássia Teixeira Gusso, meu reconhecimento por suas críticas
sempre construtivas, em favor do meu crescimento intelectual.
À professora Dra. Sônia Ana Leszczynski, coordenadora do PPGTE quando
de meu ingresso no mestrado, pelo apoio e exemplo de mulher batalhadora.
Ao Robert, que iluminou meu caminho espiritual, o que tornou possível a
conclusão desta importante missão.
Aos profissionais do Lactec, componentes do quadro ativo ou não, principais
atores sociais de sua história, pela valorosa colaboração com seus depoimentos
para que esta pesquisa se concretizasse.O acesso às informações através das
entrevistas foram essencialmente valiosas nesta construção.
Aos muitos Mestres da minha vida que sempre me indicaram os caminhos...
Muito obrigada!
iv
REFLEXÕES SOBRE A DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA
(...)“Não havendo um rigoroso exercício de busca de uma tecnologia nacional, ocorre inevitavelmente a atrofia do trabalho criador dos cientistas e engenheiros, e a estagnação dos institutos de pesquisa e das universidades. “Em outras palavras, os meios de produção postos em marcha no país acabam pouco ou nada tendo a ver com a inteligência e a criatividade nacionais... “Como a pesquisa e o desenvolvimento são realizados nos países centrais, não são criados nos países periféricos empregos que requeiram criatividade. (...)
Wladimir Pirró e Longo, citado por GAMA (1985, p. 11), in História da técnica e da tecnologia
v
SUMÁRIO LISTA DE QUADROS.......................................................................................... x
LISTA DE FIGURAS............................................................................................ xi
LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................ xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.............................................................. xv
RESUMO.............................................................................................................. xvi
ABSTRACT.......................................................................................................... xvii
APRESENTAÇÃO DO ESTUDO......................................................................... xviii
1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS...................................................................... 1
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO................................................................................... 6
1.2 OBJETIVOS.................................................................................................. 7
1.2.1 Geral........................................................................................................... 7
1.2.2 Específicos................................................................................................. 7
1.3 METODOLOGIA............................................................................................ 7
2 EXPERIÊNCIAS NA ELETRICIDADE, SUAS APLICAÇÕES TÉCNICAS E A REGIÃO DE FRONTEIRA ENTRE A TÉCNICA E A TECNOLOGIA: UM BREVE EXAME
9
2.1 MAGNETISMO E ELETRICIDADE NOS SÉCULOS XVIII E XIX................. 11
2.2 O MAGNETISMO NO SÉCULO XVIII........................................................... 13
2.3 ELETROSTÁTICA......................................................................................... 14
2.4 GALVANISMO............................................................................................... 20
2.5 ELETROMAGNETISMO E ELETRODINÂMICA........................................... 25
2.6 INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA................................................................. 28
2.7 ESTAÇÕES PRODUTORAS DE ENERGIA ELÉTRICA............................... 31
2.8 TÉCNICA E TECNOLOGIA........................................................................... 33
2.9 ENERGIA ELÉTRICA: FORÇA NO IMPULSO ECONÔMICO NACIONAL. 38
3 O ESTADO DO PARANÁ, A ENERGIA ELÉTRICA E SUA RELAÇÃO NA DETERMINAÇÃO DOS POLOS INDUSTRIAIS.............................................
42
3.1 DESCRIÇÃO FÍSICA DO ESTADO DO PARANÁ E ASPECTOS
HISTÓRICOS DE RELEVÂNCIA CONFORME O TEMA PROPOSTO -
INÍCIO DO DESENVOLVIMENTO COM A MONOCULTURA.....................
42
vi
3.2 O PARANÁ E A DISTRIBUIÇÃO DEMOGRÁFICA....................................... 46
3.3 A HISTÓRIA DA ENERGIA ELÉTRICA NO PARANÁ.................................. 48
3.3.1 Cronologia da COPEL................................................................................ 55
3.3.1.1 Década de 1950...................................................................................... 55
3.3.1.2 Década de 1960...................................................................................... 55
3.3.1.3 Década de 1970...................................................................................... 56
3.3.1.4 Década de 1980...................................................................................... 56
3.3.1.5 Década de 1990...................................................................................... 57
3.3.1.6 Os Primeiros Anos do Século XXI........................................................... 58
3.3.2 Evolução do Atendimento em Energia Elétrica no Paraná........................ 59
4 CENTROS DE P&D EM ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL E O CEPEL COMO INÍCIO DE UM MODELO....................................................................
61
4.1 CENTROS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM ENERGIA
ELÉTRICA NO BRASIL................................................................................
63
4.2 CEPEL - O INÍCIO DE UM MODELO........................................................... 67
5 O LACTEC E SUA CONTRIBUIÇÃO EFETIVA NA GÊNESE DO PROCESSO TECNOLÓGICO PARANAENSE...............................................
69
5.1 DIMENSÃO................................................................................................... 69
5.1.1 Cronologia do LACTEC e suas Origens..................................................... 69
5.2 FATORES DETERMINANTES E FINALIDADES NA SUA ORIGEM, SEUS
RESULTADOS COMO AGENTE COORDENADOR DO
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICO PARA O SETOR
74
5.3 IMPORTÂNCIA DO LACTEC PARA O DESENVOLVIMENTO .............
TECNOLÓGICO DO PARANÁ. ....................................................................
77
5.4 O LACTEC EM DETALHES.......................................................................... 80
5.4.1 Número de Empregados / Número de Estagiários.................................... 80
5.4.2 Custo Operacional e Investimentos........................................................... 80
5.4.3 Artigos Publicados...................................................................................... 80
5.4.4 Convênios.................................................................................................. 80
5.4.5 Principais Clientes...................................................................................... 81
5.4.6 Considerações Gerais................................................................................ 82
5.4.7 Produtos Registrados................................................................................. 87
vii
5.4.8 Exemplo - Alguns Produtos Desenvolvidos............................................... 90
5.4.9 O LACTEC e o Setor Elétrico..................................................................... 93
5.4.10 Os Prêmios Obtidos pelo LACTEC Demonstram o Sucesso de suas
Iniciativas................................................................................................
95
5.4.11 Estrutura e Atuação.................................................................................. 96
5.4.12 Detalhes das Áreas Técnicas do LACTEC.............................................. 100
5.4.12.1 Diretoria de Operação Técnica............................................................. 100
5.4.12.1.1 Departamento de Materiais - DPMA.................................................. 100
5.4.12.1.2 Departamento de Química Aplicada - DPQA..................................... 104
5.4.12.1.3 Departamento de Mecânica e Emissões - DPME.............................. 106
5.4.12.1.4 Departamento de Estruturas Civis - DPEC........................................ 107
5.4.12.1.5 Departamento de Eletricidade - DPEL............................................... 108
5.4.12.1.6 Departamento de Eletrônica - DPEN................................................. 111
5.4.12.1.7 Departamento de Meio Ambiente - DPMB......................................... 111
5.4.12.1.8 Departamento de Recursos Hídricos - DPHR.................................... 111
5.4.12.2 Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico - DDT................................ 113
5.4.12.2.1 Departamento de Desenvolvimento Tecnológico - DPDT................. 113
5.4.12.3 Coordenadoria Executiva de Negócios - CEN...................................... 114
5.4.12.3.1 Departamento de Tecnologia da Informação - DPTI......................... 114
5.5 PARCERIA DO LACTEC, UFPR E OUTRAS INSTITUIÇÕES
PARANAENSES: A DEMANDA E A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS
DE NÍVEL SUPERIOR.................................................................................
114
5.6 CONQUISTAS E BENEFÍCIOS NO PARANÁ VIABILIZADOS POR ESSE
PROCESSO TECNOLÓGICO - A PAVIMENTAÇÃO DO FUTURO............
119
5.7.1 Instituições com Relação Formal à Pesquisa no Paraná........................... 122
6 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS EM DADOS E GRÁFICOS 126
6.1 A CONTEMPORANEIDADE DO LACTEC FACE AOS DESAFIOS DO
TERCEIRO MILÊNIO...................................................................................
126
6.1.1 Sobre os Atores Sociais e Atuação............................................................ 126
6.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS..................................................................... 127
6.3 CONCLUSÃO DA ANÁLISE DAS ENTREVISTAS....................................... 152
6.4 CONTRIBUIÇÕES EFETIVAS DO LACTEC E PROPOSTAS DE P&D....... 154
viii
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................
7.1 SUGESTÕES PARA FUTURAS INVESTIGAÇÕES...
163
166
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 167
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS 170
ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO DISSERTAÇÃO TRFC................................... 171
ix
LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - MOVIMENTO MIGRATÓRIO NO BRASIL..................................... 47
QUADRO 2 - CRONOLOGIA DA CULTURA TÉCNICA NO PARANÁ E DE
ALGUMAS USINAS.......................................................................
72
QUADRO 3 - CUSTO OPERACIONAL E INVESTIMENTOS.............................. 80
QUADRO 4 - PATENTE REGISTRADA.............................................................. 87
QUADRO 5 - PATENTES: PEDIDO DE INVENÇÃO........................................... 87
QUADRO 6 - PATENTES: MODELO DE UTILIDADE......................................... 88
QUADRO 7 - PATENTE: REGISTRO DE PROGRAMAS.................................... 89
QUADRO 8 - PATENTE: DESENHO INDUSTRIAL............................................. 89
QUADRO 9 - INSTITUIÇÕES COM RELAÇÃO FORMAL À PESQUISA NO
PARANÁ......................................................................................
QUADRO 10 – PERFIL DOS ENTREVISTADOS................................................
122
152
x
LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - PEDAÇO DE ÂMBAR....................................................................... 11
FIGURA 2 - BALANÇA DE TORÇÃO.................................................................. 13
FIGURA 3 - LÂMPADA DE ARCO JABLOCHKOFF, 1876.................................. 23
FIGURA 4 - VARIAÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO RURAL E URBANA
NO BRASIL E NO PARANÁ............................................................
48
FIGURA 5 - USINA DE SERRA DA PRATA - PRIMEIRA HIDRELÉTRICA DO
ESTADO DO PARANÁ....................................................................
50
FIGURA 6 - USINA PITANGUI............................................................................. 50
FIGURA 7 - USINA DE CHAMINÉ....................................................................... 51
FIGURA 8 - POTÊNCIA INSTALADA - KW - COPEL.......................................... 54
FIGURA 9 - NÚMERO DE LIGAÇÕES................................................................ 59
FIGURA 10 - NÚMERO DE LIGAÇÕES INDUSTRIAIS, COMERCIAIS E
RURAIS..........................................................................................
60
FIGURA 11 - FOTOGRAFIA DA INAUGURAÇÃO DO LAC................................ 78
FIGURA 12 - LACTEC......................................................................................... 84
FIGURA 13 - DIAGRAMA DA ORIGEM E ABRANGÊNCIA DO LACTEC........... 86
FIGURA 14 - ARGOS - SISTEMA DE MONITORAMENTO DE
INTERRUPÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
90
FIGURA 15 - ROBOTURB - SISTEMA AUTOMATIZADO PARA
RECUPERAÇÃO DE ROTORES DE TURBINAS HIDRÁULICAS
DE GRANDE PORTE....................................................................
91
FIGURA 16 - ESTRUTURA DE ATUAÇÃO......................................................... 96
FIGURA 17 - ÁREAS DE ATUAÇÃO DO LACTEC............................................. 97 FIGURA 18 - COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO LACTEC 98
FIGURA 19 - ESTRUTURA DO LACTEC............................................................ 99
FIGURA 20 - CÉLULA A COMBUSTÍVEL 101
FIGURA 21 - DIAGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTOS DO
LACTEC.........................................................................................
103
FIGURA 22 - DEPARTAMENTO DE QUÍMICA APLICADA - DPQA................. 104
xi
FIGURA 23 - DEPARTAMENTO DE MECÂNICA E EMISSÕES – DPME.......... 106
FIGURA 24 - AVALIAÇÃO DE MOTORES.......................................................... 107
FIGURA 25 – LABORATÓRIO DE ALTA TENSÃO............................................. 108
FIGURA 26 - GERADOR DE IMPULSOS............................................................ 109
FIGURA 27 - DESENVOLVIMENTO ELETRÔNICO........................................... 111
FIGURA 28 - MODELO REDUZIDO DO VERTEDOURO DA USINA DE
CAXIAS DA COPEL.......................................................................
112
FIGURA 29 - MODELO REDUZIDO DO DESVIO - USINA DE PAI-QUERÊ
(RS)................................................................................................
112
FIGURA 30 - O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO........................................ 125
xii
LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - REGISTRO DE DIPLOMAS - CREA/PR. 66
GRÁFICO 2 - PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS NA CRIAÇÃO E
EXISTÊNCIA DO LACTEC...........................
127
GRÁFICO 3 - FATORES DE CRIAÇÃO DOS CENTROS DE P&D.... 129
GRÁFICO 4 - MOTIVAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DO LACTEC 130
GRÁFICO 5 - PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DOS CENTROS DE P&D
PARA O SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA..............
132
GRÁFICO 6 - O QUE ACONTECEU DE MAIS RELEVANTE............................. 133
GRÁFICO 7 - PRINCIPAIS DIFICULDADES DE UM CENTRO DE P&D. 134
GRÁFICO 8 - CONTRIBUIÇÃO DO LACTEC PARA O SETOR DE PESQUISA
E DESENVOLVIMENTO...
136
GRÁFICO 9 - PRINCIPAIS CRITÉRIOS DE DISTRIBUIÇÃO DE
RECURSOS........
137
GRÁFICO 10 - MOTIVOS DE CRIAÇÃO DOS PROJETOS. 138
GRÁFICO 11 - PRINCIPAIS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE EMPRESAS....... 140
GRAFICO 12 - CAMPOS PROMISSORES PARA O LACTEC........ 141
GRÁFICO 13 - IMPORTÂNCIA DE NOVAS PESQUISAS E PRODUTOS...... 142
GRÁFICO 14 – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS 143
GRÁFICO 15 - COMPARATIVO DA CONCEPÇÃO ORIGINAL E A PRÁTICA
ATUAL DO LACTEC
145
GRÁFICO 16 - EFEITOS DA COMERCIALIZAÇÃO......... 147
GRÁFICO 17 - FUTURO DO LACTEC.............................. 147
GRÁFICO 18 - FUNÇÕES DE UM CENTRO DE P&D TIPO LACTEC...... 148
GRÁFICO 19 - FUNÇÃO SOCIAL..................................... 149
GRÁFICO 20 - PAPEL DO LACTEC................................. 150
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS % - Porcentagem
CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
COPEL - Companhia Paranaense de Energia
CEHPAR - Centro de Hidráulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza
CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais
FHC - Fernando Henrique Cardoso
FURNAS - Centrais Elétricas Brasileiras
ICMS - Imposto de Circulação de Mercadorias
INEPAR - Inepar S/A Indústria e Construções
l - Comprimento
Km - Quilômetro
kVA - Quilovoltampere
kW - Quilowatt
LAC - Laboratório Central de Pesquisa e Desenvolvimento
LACTEC - Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento
LAME - Laboratório de Materiais e Estruturas
LEME - Laboratório de Emissões Veiculares
M2 - Metro quadrado
M3 - Metro cúbico
MW - Megawatt
UFPR - Universidade Federal do Paraná
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento
UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná
xiv
RESUMO
Este estudo oferece um conjunto de informações do ponto de vista histórico sobre a eletricidade e o estabelecimento da ciência e de suas aplicações práticas neste campo do conhecimento. Retrata a situação do setor de energia elétrica em âmbito nacional no período que antecede o ápice do desenvolvimento industrial. Procura demonstrar a relevância das iniciativas governamentais ao criar infra-estrutura de natureza científica, gerencial e de investimentos capaz de enfrentar o problema da dependência técnica e científica no setor de energia, em especial o Estado do Paraná do século XX. Relatam-se fatos da História da Energia Elétrica que, entrelaçados com a História Política e Econômica, com ela se confundem. Desse modo se recorre à história da Companhia Paranaense de Energia – COPEL nos desdobramentos que tornaram possível a criação de diversos laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento – P&D. Entre eles, ratifica-se a importância do atual Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC, objeto desta investigação, sobre o qual se descrevem os objetivos de sua criação, sua estrutura física, a dimensão técnico-científica, no âmbito interno, do próprio Instituto com a realização de pesquisas, a formação de novos quadros, e a contribuição que oferece no plano externo e indireto, como fator que incide no crescimento industrial. Este estudo também propõe o aprofundamento da discussão entre aplicações científicas, Técnica e Tecnologia como distintas e que guardam entre si fronteiras bem definidas, para tal recorre aos estudos de História da Técnica e da Tecnologia como suporte teórico. A dissertação foi elaborada numa seqüência lógica de modo que sejam percebidas as modificações conjunturais e estruturais ocorridas no cenário nacional e as alterações nos critérios de planejamento do setor elétrico.
Palavras-chave: Energia elétrica – Desenvolvimento –Técnica – Tecnologia – Conhecimento – Pesquisa
Áreas de conhecimento: História da Ciência; Desenvolvimento Regional; História
da Técnica e da Tecnologia
xv
xvi
ABSTRACT
This study offers a set of information considering the viewpoint of the history of electricity and the development of the science and its practical applications on this field of knowledge. It also depicts the status of the electrical energy sector on a national scope, during the period preceding the advance of the industrial development in Brazil. The present article demonstrates the importance of the government actions when it establishes the scientific and management infra-structure plus investments required to cope with the problem of technical and scientific dependence on the energy sector, particularly in the State of Paraná in the 20th century. Some of the presented facts belong to the electrical energy as well as to the political and economical history. This way, it was recalled the history of the Electrical Energy Company of Paraná – COPEL, the growth of which made it possible the creation of several research and development - R&D laboratories. Among those laboratories, this work asserts the importance of the present Institute of Technology for Development – LACTEC, which is one of the subjects of this investigation. In this report the objectives of this laboratory. are described, including its physical structure, the technical and scientific dimension, under an internal scope, which considers the Institute itself, the researches and the human resources development, as well as under an external and indirect scope, as a factor which influences the industrial growth. This study also proposes a deepening of the discussion among the different scientific, technical and technological applications, which have well defined boundaries. In order to do so, this paper refers to the studies available on technical and technological history as a theoretical support. This dissertation was prepared in a logical sequence, in order that the conjunctural and structural changes that have occurred on the national scenery and on the electrical sector planning criteria may be perceived.
Key Words: Electric Energy – Development – Technical – Technology – Knowledge – Research
Knowledge Areas: History of Science - Regional Development - History of Technical and Technology
APRESENTAÇÃO DO ESTUDO
É consenso dizer que as preocupações relacionadas à sobrevivência há
muito tempo acompanham o ser humano. Isso ocorre, invariavelmente, pela
necessidade, pela curiosidade, pela observação e pela experimentação. Contudo, no
que diz respeito às pretensões ou métodos utilizados para se atingir tal objetivo,
surgem as objeções e divergências.
Movidos pelo desejo de submeter a natureza aos seus desígnios, os
humanos despertam para o fascínio da dominação e para a cobiça de ampliar seus
domínios sem se dar conta de que, ao concretizarem suas ações, muitas vezes
também provocam deformidades tanto na ordem natural como no tecido social. Para
isso, basta apenas um ligeiro exame da trajetória das civilizações desde os
primórdios.
Entretanto, o estado de espírito dos caminhantes deste século, ao mesmo
tempo em que são conhecedores dos excessos cometidos pelos antepassados,
também fazem realçar os seus méritos. A questão da sobrevivência tem
proporcionado um contexto de profundas mudanças em que se propõem soluções
alternativas, através de diferentes formas, entre as quais, atualmente, podem-se
destacar os estudos e pesquisas de situações e problemas que se apresentam
neste novo milênio.
Vale dizer que a tendência atual para a busca de solução aos problemas, que
ganha cada vez mais expressão, é a modalidade interdisciplinar adotada pelos
Centros de Pesquisa, de grande eficiência nos resultados, apesar de se apresentar
como uma tarefa complexa e de difícil realização.
Assim, é plenamente justificável e produtiva a participação de pesquisadores
com formações em áreas distintas a se interessarem por temáticas específicas de
outras áreas do conhecimento, como é o caso deste estudo em que a energia
elétrica é examinada pelo viés das Ciências Humanas.
Identificar a interface que permitiria introduzir reflexões na perspectiva da
História da Técnica e da Tecnologia revelou-se uma desafiadora tarefa que só foi
possível pelo apoio incondicional recebido dos membros do Grupo de Estudos
Trilogia: Arte, Técnica e Tecnologia.
As naturais dificuldades encontradas pelo avançar deste estudo foram
transformando-se em possibilidades que permitiram ampliar a percepção da
xvii
complexa e abrangente temática e dela extrair elementos de análise que se inserem
na compreensão da Tecnologia como ciência do trabalho. Isso porque o LACTEC -
objeto deste estudo - configura-se como um ambiente de produção de conhecimento
técnico-científico, ao mesmo tempo em que rompe os segredos deste saber-fazer
técnico-científico.
Além de realçar tal característica, a presente pesquisa mostra com detalhes o
que representa este Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para o Estado do
Paraná, ao distinguir pontos de convergência entre os fatores que determinaram a
sua criação, enquanto setor estratégico, e as atividades nele desenvolvidas. Estas
observações, por si só, justificam a validade e importância de destinar
aprofundamentos de estudos; todavia, por serem reveladores, outros aspectos foram
acrescentados.
Assim, o estudo apresenta as circunstâncias iniciais de dependência
preponderante do conhecimento estrangeiro no setor de energia elétrica nacional
que se reconhecia suscetível às prerrogativas de empresas estrangeiras para a
capacitação técnica. A demanda gerada pelo mercado, ao mesmo tempo em que se
amplia, exige o aumento das especialidades. A relevância das decisões a partir da
constatação dessa incômoda sujeição mereceu destaque neste trabalho, pois, ao se
identificar uma lacuna no conhecimento endógeno na área no Estado do Paraná, até
meados do século XX, ações efetivas foram realizadas para suprir essa deficiência,
como é o caso da criação dos centros de P&D (Centros de Pesquisa e
Desenvolvimento).
Assim, esta pesquisa, além de mostrar com detalhes a estrutura física,
organizacional e pedagógica do aspecto interno da dinâmica do Centro, assinala o
caráter inovador quanto ao gerenciamento, na medida em que a prática de parceria
com instituições congêneres foi adotada desde o início. Destaca, ainda, o papel de
relevância científica, técnica e acadêmica do Centro, cujos reflexos produzidos no
setor da economia paranaense, em um primeiro momento, já se fazem sentir,
porque sistematicamente vem se expandindo nacionalmente.
Supondo a possibilidade de demonstrar, através deste trabalho, a importância
da energia, na modalidade elétrica, focada no âmbito do Estado do Paraná, nele
optou-se por incluir aspectos da História da eletricidade como forma de encaminhar
a questão, com o intuito de familiarizar os leitores na temática e encaminhá-los nos
desdobramentos dos estudos que podem advir dessa perspectiva.
xviii
Depois de apontar o percurso da investigação nas fases correspondentes à
proposta e à execução, cumpre-se neste momento a apresentação da organização
do trabalho, cuja estruturação apresenta-se a seguir.
No primeiro capítulo, os aspectos introdutórios, dá-se a conhecer as
inquietações que deram origem ao problema de pesquisa, a justificativa, os objetivos
pretendidos e a metodologia utilizada.
O segundo capítulo retrata o panorama inicial da casual descoberta do
magnetismo às sistemáticas e intencionais experiências que tornaram possível o uso
da eletricidade, tal como hoje se conhece, bem como as primeiras aplicações
científicas realizadas, a partir das bases nas quais se afirma a ciência, sobretudo da
Física. Estabelece comparativo entre o produto do conhecimento científico com a
Técnica e Tecnologia, campo onde habitualmente as confusões conceituais se
estabelecem.
O terceiro capítulo apresenta aspectos relativos ao Paraná, em especial a
criação da COPEL (Companhia Paranaense de Energia). Seus efeitos ou
paralelismo com o desenvolvimento paranaense, pela importância da aplicação da
energia elétrica como principal vetor de uma passagem de estado agrícola
monocultor para uma prospectiva de industrialização tardia, fruto de razões
socioculturais que aqui não serão abordadas.
No quarto capítulo faz-se a apresentação dos centros de P&D desde sua
concepção no Brasil, com ênfase no CEPEL - um dos pioneiros em ensaios,
pesquisas e desenvolvimento em energia elétrica, como demonstra seu histórico e
desdobramentos em outros centros do Brasil que lhe conferiram destaque como
início de um modelo. Encontram-se os paradigmas do LACTEC - estudo de caso
proposto - nas referências deste importante centro de pesquisa.
O quinto capítulo apresenta o LACTEC contextualizado na sua dimensão e
importância a partir de sua localização e seu entorno, suas contribuições e objetivos,
pela relevância no prosseguimento de estudos e avanço da pesquisa.
O sexto e último capítulo refere-se à análise dos dados e constitui-se da
avaliação das entrevistas feitas com os atores diretamente relacionados ao histórico
do LACTEC, desde sua concepção até sua formalização como Centro de P&D.
Depois da fusão das instituições, quando se determinou a forma como
atualmente funciona, o LACTEC atende aos apelos de um mercado transformado
pelo desenvolvimento de um Estado com crescente demanda por profissionais
xix
xx
capazes de suprir as necessidades de mão-de-obra direcionada para esta área. Os
resultados desta análise formalizam-se com a descrição detalhada do histórico da
Empresa.
1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Dentre as fontes de energia existentes no Brasil, a modalidade que mais tem
sido aproveitada até o momento é a hidroelétrica. Distribuídos de Norte a Sul do
país, os cursos d’água revelam o imenso potencial hidroelétrico nacional. Devido à
importância deste setor para impulsionar a economia, é também respeitável o
número de interessados na obtenção de conhecimento sobre o assunto, sobre o
qual são inúmeros os estudos realizados, nas mais diferentes abordagens.
Cuidadosamente produzidas, essas contribuições ocupam-se ora em registrar
aspectos do ponto de vista histórico e de localização geográfica, ora das
especificidades e detalhamentos técnicos e outras, ainda, apontam para a
importância e consumo por parte de usuários reais ou potenciais. Entretanto,
discretas são aquelas que abordam o tema na perspectiva da História da Técnica e
da Tecnologia.
O advento da energia elétrica e a conseqüente intensificação de uso
produziram alterações substanciais na vida das pessoas, sobretudo aquelas que a
ela têm acesso. A evolução e a ampliação dos processos de distribuição da energia
elétrica permitiu, individual e coletivamente, a sua utilização no cotidiano de
inúmeras pessoas e em diferentes circunstâncias.
Como traços marcantes, notadamente porque interferem na formação de
novos hábitos e costumes, a eletricidade comumente se faz presente no interior dos
lares, na prática cotidiana da vida moderna, quase onipresente em grande parte das
atividades humanas, ou seja, das residências às indústrias, do acender de uma
lâmpada ao brilho intermitente de um indicador do microcomputador que aciona um
foguete interestelar.
O simples convívio coletivo, proporcionado pelo surgimento da energia
elétrica, foi por si o agente modificador dos hábitos sociais e criadores de novos
costumes1.
1 Nas relações sociais, este fator serviu como diferenciador e modificador de concepções que vão
desde a transformação da família extensa para a família nuclear, como a mobilização dos feudos para a sociedade industrial, um cenário de transformação em um período essencialmente gerador e modificador do espaço urbano: o cenário da sociedade industrial. Com novas características, a família reveste-se de novo formato - o nuclear em que fatores determinantes concorrem para substanciais alterações nos aglomerados urbanos nascentes à definição de um local para a realização de atividades específicas: do comércio, da fábrica, inclusive, à nova concepção de trabalho.
2
Esta mudança de padrão originou-se com o surgimento da maquinofatura a
partir de inventos que explodiam no imaginário coletivo do século XIX, quando a
Humanidade descobriu que podia transformar seus conhecimentos em máquinas a
seu serviço, até atingir as diferentes formas de complexidade atualmente
conhecidas, nas quais a energia elétrica desempenha papel preponderante. De
modo que o ser humano, de ator exclusivo do processo de trabalho, passou a
produzir em larga escala com o auxílio de equipamentos movidos pela força da
eletricidade que, de forma inequívoca, representa fator decisivo para que elevados
níveis de sofisticação sejam alcançados.
Desse modo, torna-se pertinente acentuar que a força motriz, na modalidade
energia elétrica, pela importância que adquire, acaba por tornar-se ela própria uma
indústria - a indústria da eletricidade. E, pela dinâmica que apresenta, nos aspectos
de geração, transmissão e distribuição, requer permanente atualização de
conhecimento cujas especificidades são crescentes pelas demandas sociais
existentes; apontam, ainda, para a necessidade de investimentos em estudos a fim
de que se atenda em complexidade e abrangência o mencionado setor.
É, portanto, correto admitir a inegável importância e absoluta necessidade da
energia elétrica na atualidade, sobretudo pelas dimensões e direções distintas e
interligadas que ela apresenta: a alta tecnicidade e reciprocidade com o avanço
cientifico.
No caso do Estado do Paraná, o conhecimento sobre a energia elétrica tem
origens a partir de decisões técnicas e políticas do aproveitamento de abundantes
recursos hídricos naturalmente disponibilizados, através do entendimento e visão
futurista acerca das possibilidades de potencializar o uso desses recursos naturais,
vislumbrando o fornecimento de matéria prima com vistas a dinamizar a indústria
local ao mesmo tempo em que passa a demarcar um mercado com a oferta do
produto.
Chegou-se, então, a um consenso de que não se pode depender de
conhecimentos exógenos, mas sim desenvolver ações para suprir a carência de um
mercado com necessidades próprias. Assim sendo, somente mediante o
conhecimento dos processos técnicos é que se obtém o avanço requerido, isto é,
aquele que se apresenta intimamente relacionado à tecnologia.
Vale aqui destacar que, ao entender tecnologia como ciência, implica associá-
la ao conhecimento técnico, produzido e veiculado no setor elétrico. E o setor de
3
energia elétrica paranaense, ao que consta, parece bastante determinado no
cumprimento desta meta.
A pretensão, que vislumbra a mudança de paradigma, notadamente se
assenta na convicção de que, ao se gerar conhecimento de expressão, em
abrangência regional, adquirem-se as bases à conquista da independência nacional
e, assim, pode-se subverter a ordem, até então estabelecida, de submissão aos
países hegemônicos, instrumento principal de estratégias políticas e econômicas
pretendidas pelos governantes nos primórdios do século XX, época da instalação
das primeiras hidroelétricas no Brasil e notadamente no Estado do Paraná e com
elas uma nova reorganização da sociedade e da divisão do trabalho.Tais pretensões
estabelecem como primeiro plano o compromisso de gerar, através da pesquisa, o
próprio conhecimento, o que significa conquistar maior independência nos aspectos
técnicos e, por extensão, nos econômicos.
A Europa - pioneira na utilização de avanços técnicos em conhecido
fenômeno denominado de “Revolução Industrial” - e a América do Norte,
posteriormente, deixaram os países latino-americanos e do continente africano à
margem desse processo evolutivo, pois tanto o maquinário, as técnicas e as
relações de trabalho eram mantidos em segredo. No Brasil, a obra “Engenho e
Tecnologia”, de GAMA (1983) retrata bem o caso do melado brasileiro do período
colonial que, ao ser enviado para fora do país para ser transformado em açúcar,
exclui os produtores das possibilidades de aprendizagem dos processos técnicos
que agregam valor ao produto, fator que contribui para apequenar a economia
nacional acarretando, com isto, o “atraso”.
Salienta-se que o conceito de atraso é aqui referente às sociedades
ocidentais acima citadas, cujo modelo de consumo move as relações de mercado de
ideologia capitalista sob uma dependência técnica e econômica, excluindo-se
aspectos culturais que, apesar de importantes porque inerentes, optou-se por não
serem detalhados neste estudo.
A energia elétrica, considerada como modificadora do meio ambiente,
necessária à sobrevivência da sociedade moderna e fundamental na dinamização
do processo produtivo, exige capital intensivo e solicita, entre outras coisas,
profissionais com qualificação técnica específica, a fim de que possa cumprir com
eficácia suas fases de geração, transmissão e distribuição. Este fato remete para a
necessidade da criação de um Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento.
4
Assim, o Estado do Paraná antecipou-se à decisão do que atualmente se
observa por parte de organismos governamentais: o discurso proferido, quase em
uníssono, sobre a necessidade da criação e manutenção de Centros de P&D
criando o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC. Isto se deve,
em grande parte, aos resultados obtidos, sistematicamente demonstrados pela
equipe de pesquisadores em inúmeras oportunidades, de que o desenvolvimento
social, técnico e econômico do país depende de decisões que passam
necessariamente por decisões de natureza estratégica, conseqüentemente,
políticas.
Na raiz das preocupações nacionais desde a metade do século XX, está a
questão de como encontrar alternativas para potencializar o aproveitamento da
energia elétrica - benefício ofertado pela natureza e sedimentado pela intervenção
humana. A necessidade gerada pelo próprio desenvolvimento econômico nacional
em curso tem sua solução dificultada por razões óbvias, que vão desde o
conhecimento nacional disponível neste setor, rudimentar na época, e a absoluta
hegemonia de então, das empresas estrangeiras. Diante do impasse e na tentativa
de equacionar o problema, surge a embrionária idéia de iniciativa paranaense: “... o Paraná criou em 1954 a Companhia Paranaense de Energia (COPEL), constituída, através da Lei 14.947, de novembro de 1954, uma sociedade de economia mista - a Companhia Paranaense de Energia Elétrica - COPEL - dedicada à exploração dos serviços de energia elétrica. Assim se referia o governo a essa nova empresa no ano de 1955... a grande Cia. Mista em organização... abrangerá todo o Estado com um capital de 800 milhões de cruzeiros...” representando um novo marco no caminho da industrialização do Paraná...”(Um Século de Eletricidade no Paraná, página 105, 1994)”.
Credita-se, ainda, ao século XX, década de 50, a decisão técnica e opção
política de criar um centro de Pesquisa e Desenvolvimento - P&D com finalidade de
proporcionar treinamento de alto nível em Engenharia gerando competência
profissional qualificada no Paraná. Intenções que foram consolidadas a partir da
criação do CEHPAR (1959), inspiração inicial para a formação do LAC (1982) e
posteriormente LACTEC (1997). Assim, o Estado, através da organização dessas
Instituições, propiciaria as condições técnico-científicas e a formação de recursos
humanos, prevendo a abertura do leque de possibilidades que permitiriam a
conquista progressiva, inclusive da inserção do trabalhador expatriado, a um
processo de construção de conhecimento endógeno, a exemplo das práticas
verificadas em países desenvolvidos.
5
A demanda por profissionais com perfil específico a esta área de atuação
abria as possibilidades de esforço conjugado entre o Centro Politécnico da
Universidade Federal do Paraná, patrocinado pela COPEL, o Laboratório Central de
Pesquisa e Desenvolvimento (LAC), depois transformado no Instituto de Tecnologia
para o Desenvolvimento (LACTEC), com a função de preparar mão-de-obra
qualificada, mediante a criação de cursos de nível médio e, posteriormente, de nível
superior, assumidos integralmente pelas Universidades e pelo Centro Federal de
Educação Tecnológica do Paraná – CEFET/PR com o apoio da COPEL, por
intermédio deste primeiro centro de Pesquisa.
Pelo exposto, entende-se que a presente investigação justifica-se pela dupla
circunstância com que se pretende examinar o objeto: pelo propósito e pela forma
de abordagem.
O propósito de recuperar aspectos da memória da energia elétrica no Paraná,
enfocando as razões e efeitos da existência do LAC e posteriormente do LACTEC
(1997) - formado em 1997, resultado da união do LAC, do Centro de Hidráulica e
Hidrologia Professor Parigot de Souza (CEHPAR) e do Laboratório de Materiais e
Estruturas (LAME), como suporte para o desenvolvimento de tecnologia.
A forma de abordagem pretendida explica-se porque coloca sob perspectiva o
Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento institucionalmente associado à COPEL,
denominado originalmente de LACTEC, por tratar-se de uma instituição
genuinamente paranaense e que apresenta determinadas especificidades, como o
perfil inovador associado à determinação de seus agentes e principalmente o
modelo técnico-científico intrínseco à dinâmica da Instituição.
Assim sendo, a partir de curiosidades iniciais, das informações obtidas sobre
o setor de energia elétrica no Estado do Paraná, através da literatura e de contatos
informais, ocorreu a aproximação com o tema. Posteriormente, interesses
específicos se apresentaram, o que despertou e impulsionou ações na busca de
informações mais detalhadas.
Localizados aspectos bem definidos quanto à relevância, associada à decisão
política e técnica que culmina com a fundação de centro de excelência no setor,
ainda assim detectaram-se espaços a serem preenchidos.
Aspectos sobre a gênese, área de ação e finalidade do referido centro
parecem merecer exames mais detalhados e, através de apurada sistematização,
recuperar as formulações estabelecidas no ato de criação do LACTEC, as ações
6
inerentes à dinâmica interna bem como as de suas práticas. Além disso, pretende-
se poder oferecer uma contribuição para a História da Técnica e da Tecnologia,
porque, ao abordar questões relativas aos avanços técnicos e pesquisas nesse
setor, também representa preencher sob este ponto de vista, ao menos em parte, a
lacuna existente no tema energia elétrica.
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
As naturais inquietações que movem esta investigação diante da relevância
da energia elétrica, enquanto força necessária para impulsionar o desenvolvimento
econômico, quanto ao papel desempenhado pelo Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento do Paraná e Instituições afins no que se refere à formatação da
Instituição LACTEC e parcerias estabelecidas com a finalidade de garantir o
estabelecimento das bases de sustentação de natureza técnico-científica e auto-
suficiência no setor de energia elétrica, com abrangência regional e nacional,
levaram à formulação do seguinte questionamento:
Que fatores determinantes possibilitaram a criação do Lactec e com que
finalidade ele foi criado?
Para auxiliar na busca das respostas a esse questionamento, foram
elaborados os seguintes pressupostos:
- a participação da COPEL, na criação do LACTEC, ocorre antes e
prioritariamente como desdobramento das atividades específicas de
pesquisa;
- com a criação do Laboratório Central de Pesquisa - LAC em parceria com
outras instituições de pesquisa do mesmo gênero, o Estado do Paraná
despontou como um lócus de formação profissional especializada na área
de energia elétrica na região Sul do Brasil;
- a energia elétrica gerou a substituição de determinadas técnicas em
detrimento de outras, acrescida da constituição da tecnologia.
A problematização apresentada sugere os seguintes objetivos:
7
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
Para a elaboração do objetivo geral, levamos em consideração a pergunta de
pesquisa, cuja elucidação se dará na investigação deste quesito principal, aliado ao
suporte teórico, ou seja:
Conhecer os fatores que determinaram a criação do LACTEC como Centro de
P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) enquanto instituição que propõe a ruptura dos
segredos do saber-fazer em energia elétrica, no estado do Paraná.
1.2.2 Específicos
Quanto aos objetivos específicos, realizaremos os desdobramentos que
determinam a investigação aliada ao prosseguimento da pesquisa que pretendem:
a) Revelar as circunstâncias e os fatos que possibilitaram a criação do
LACTEC.
b) Identificar os fatores e finalidades da criação do LACTEC e ações
aproximativas com a História da Técnica e da Tecnologia.
c) Sistematizar histórico-graficamente o processo de evolução das atividades
desenvolvidas pelo LACTEC no período compreendido entre sua criação
em 1997 e o ano de 2005.
1.3 METODOLOGIA
Este estudo apresenta-se como ESTUDO DE CASO da modalidade
qualitativa e de natureza interpretativa.
• Universo investigado: Foram selecionados 9 (nove) profissionais do setor, considerando a
experiência e vivência de cada um, tanto na área de conhecimento como
o tempo de atuação.
A seleção de sujeitos teve como critério a participação dos responsáveis
pela sua concepção e criação, e também dos técnicos pertencentes ou
não ao atual quadro funcional do LACTEC, com a intenção de obter
8
impressões e opiniões, para desta diversidade formar um corpo de
informações e idéias de modo a dar conformação e legitimidade à
pesquisa.
• Instrumentos: Os instrumentos de coleta de dados foram construídos a partir de
questionário com perguntas abertas voltadas ao interesse contido no
problema desta pesquisa, os quais, conjugados, permitiram maior
aproximação com o objeto de estudo.
• Apoio bibliográfico: Constituíram-se do apoio bibliográfico as fontes primárias e secundárias,
como os documentos disponibilizados para consulta e pertencentes ao
acervo da COPEL e do LACTEC.
• Apoio iconográfico: Como recurso auxiliar recorreu-se a algumas imagens, como gravuras,
desenhos e fotos, por considerá-las representativas para esclarecimento
das informações contidas no texto.
• Outros dados: As informações complementares, obtidas através de depoimentos
pessoais informais, de entrevistas individuais e das respostas
disponibilizadas no referido questionário pré-elaborado com perguntas
abertas.
9
2 EXPERIÊNCIAS NA ELETRICIDADE, SUAS APLICAÇÕES TÉCNICAS E A
REGIÃO DE FRONTEIRA ENTRE A TÉCNICA E A TECNOLOGIA: UM BREVE
EXAME
Este capítulo tem por finalidade reunir informações teoricamente pertinentes
para o estabelecimento das bases conceituais nas quais se apóiam as reflexões
contidas neste trabalho.
Entretanto, ao identificar a abrangência e complexidade do assunto, foram
detectadas algumas dificuldades para a construção do pretendido quadro teórico.
Assim, optou-se por fazê-lo em duas etapas.
Através de um breve inquérito da história da eletricidade, procuramos
destacar conhecimentos iniciais sobre o magnetismo e a eletrostática, seguidos de
algumas aplicações técnicas: uma reunião de fatos em que são descritos elementos
informativos necessários à obtenção de visão sincrética e focalização do tema. Isto
foi realizado, recorrendo-se às narrativas encontradas em várias obras, entre elas:
História da Ciência e da Técnica de Forbes & Dijksterhuis; História da Ciência,de
Sedgwick, Tyler e Bigelow; História da Tecnologia de Derry & Williams.
Em segundo lugar são apresentados aspectos relativos à Técnica e à
Tecnologia na interpretação de GAMA, R., NADAL,M,V.R. por serem os que, entre
outros autores nacionais, rigorosamente abordam a questão, estabelecem a
diferenciação, expandem o horizonte de compreensão e negam-se a admitir
Tecnologia como mercadoria que se compra ou se vende em qualquer circunstância.
Ambos assumem posições pouco comuns e bem marcadas quanto à compreensão
de Tecnologia, pois apresentam um enfoque com força argumentativa suficiente
para admitir que, como ciência do trabalho, a Tecnologia afasta-se da percepção
pragmática e utilitarista - noções, demasiada e insistentemente a ela atribuídas.
Diante do amplo espectro de temas existentes e que apresentam
possibilidades de análise na perspectiva da História da Técnica e da Tecnologia,
optou-se, neste trabalho, por destacar o LACTEC como objeto de estudo, pelas suas
características específicas relativas ao tema energia elétrica. Entretanto, é preciso
esclarecer que o que se pretende nesta análise revela-se restrito quanto à
abrangência, porém amplo quanto à especificidade.
Tem-se como certa a afirmação de que grande parte dos avanços técnicos
resultam ou são conseqüência das descobertas empíricas levadas a cabo por
10
pessoas ou grupo de pessoas com conhecimento ou formação eminentemente
práticos: efetivamente já se sabe, na atualidade, que faz pouco tempo que as
aplicações técnicas da ciência - as atividades técnico-científicas - realizam-se em
diversos setores. Esta observação serve para que seja possível estabelecer a
distinção daquilo que interessa conhecer na seara da energia elétrica.
O que ocorreu na indústria elétrica foi uma exceção, se considerado o sentido
da sua origem e desenvolvimento, pois teria sido conseqüência direta de
investigações científicas; por outro lado, este fato possibilita estabelecer com
segurança a data em que ocorre a transição da eletricidade como ciência
experimental e a eletricidade como indústria de plena utilidade.
Dentre os mais expressivos avanços técnico-científicos, foi notável
contribuição para o setor de energia elétrica a demonstração prática da indução
magnética, realizada por Michael Faraday, em 1831, cujo registro ocorreu na Royal
Society1, em 24 de novembro do mesmo ano, e a fabricação de geradores
eletromagnéticos, os quais, em pouco tempo, passaram a ser comercializados.
Apesar de o principal propósito deste estudo estar dirigido às aplicações
práticas da eletricidade, fazem-se relevantes as considerações sobre os avanços do
conhecimento científicos e sua correspondência aos acontecimentos históricos.
Já no século VI a.C., na antiga Grécia se conhecia o fenômeno produzido por
um pedaço de âmbar (elektron, em grego) que, ao ser friccionado, é capaz de atrair
objetos leves, como palhas, penas, algodão ou pedacinhos de papel. Isto se deve a
um fenômeno atualmente denominado de eletricidade estática. Reporta-se, a este
propósito, a Thales de Mileto, como sendo aquele que havia efetuado esta
experiência.
1 Associação Britânica em torno da qual se reuniam os filósofos naturais ingleses, para discutirem
sobre as questões científicas e técnicas, não apenas como forma de entretenimento, mas como uma atividade capaz de auxiliar o progresso econômico. Eles conseguiram fixar no solo britânico uma tradição de auxílio mútuo entre ciência e técnica, que daria frutos importantes a partir do século XVIII.
11
FIGURA 1 - PEDAÇO DE ÂMBAR
FONTE: http://geocities.yahoo.com.br/jcc5001pt/museuambar.htm
Na Antiguidade houve várias teorias ou lendas que pretendiam explicar o
poder de atração do âmbar quando friccionado. Segundo os gregos os grãos de
âmbar eram lágrimas das imaginárias Helíadas2, filhas do Sol.
Outra teoria relacionava a sua cor com o Sol e afirmava que dentro do âmbar
existia grande quantidade de calor. Ao ser friccionado, o âmbar libertava este calor,
ficando o vazio no seu lugar. Segundo o filósofo grego Alexandre de Afrodisias, o
âmbar atraía os corpos leves para tentar preencher o vazio deixado pelo calor, da
mesma forma que uma ventosa atrai um corpo para tentar preencher o vácuo que
produz.
Há fortes razões para se crer no acerto dessa aparente e inocente
interpretação, pois sobre ela se fundam princípios constitutivos da eletricidade. Há,
entretanto um longo interstício que separa a observação e experiência e as
correspondentes explicações justificáveis e precisas, relacionadas ao mencionado
fenômeno físico.
2.1 MAGNETISMO E ELETRICIDADE NOS SÉCULOS XVIII E XIX
A palavra ELETRICIDADE, conforme foi visto deriva da palavra grega
ELEKTRON.
2 Curiosidades: Para os povos do Báltico, o âmbar era uma preciosa mercadoria para troca.
Acreditava-se que a forma de gota do âmbar vinha das lágrimas das Helíadas, que Zeus encolerizado lançava aos infernos por terem calcinado a crosta terrestre. O âmbar é utilizado ainda na Europa para afastar mau-olhado.
12
No começo do século XVIII, o termo eletricidade designava o poder que
possuem certas substâncias, chamadas “elétricas”, de atrair pequenos objetos
quando atritadas; tal poder era atribuído aos eflúvios3 emitidos pelo corpo eletrizado.
No século XVI, os enunciados, proposições, explicações sistematizadas são
revelados através do amplo tratado sobre o magnetismo associado ao nome do
médico William Gilbert (1540-1603), que se tornou famoso por sua obra "De
Magnete" publicada em 1600. O estudioso analisa os fenômenos de atração do
âmbar e da pedra ímã, considerados como sendo de naturezas diferentes. Para Gilbert, só os conhecimentos verificados pela experiência eram críveis. Por isso, experimentou fricionar outras substâncias e concluiu que o poder de atração não era exclusivo do âmbar e outras substâncias como o vidro, o enxofre e muitas outras podiam atrair pequenos corpos, quando friccionadas. Estes corpos podiam ser pedaços de palha, como até então se conhecia, mas também muitos outros, como as folhas de vegetais. Descobriu também que havia muitas substâncias que não era possível eletrizar como, por exemplo, os metais4.
Ao seu trabalho pouco se pôde acrescentar durante dois séculos, mas se
tornaram conhecidas próximo de vinte substâncias que possuíam a mesma curiosa
propriedade do âmbar. Disso havia derivada a conclusão de que o eflúvio que
provocava este fenômeno estava amplamente difundido.
Outras experiências podem ser acrescentadas, como a de Boyle, em 1675, o
qual demonstra que também a borracha friccionada exerce o mesmo poder de
atração no vácuo. No mesmo ano, Jean Picard observa a produção de faíscas
luminosas numa câmara de vácuo invertida numa tina de mercúrio. Esses
experimentos foram levados adiante por Francis Hauksbee, considerado na época
um dos mais ativos filósofos experimentais e um dos primeiros a estudar a
capilaridade. Entre as suas experiências está a do fósforo mercurial, em que se
demonstra a propriedade de o mercúrio emitir luz quando agitado no vácuo. Ele
atribuiu esse fenômeno à eletricidade, comparando-o com o relâmpago.
Os filósofos experimentais dos séculos XVII e XVIII basearam-se muito nesse
interessante fenômeno e verificaram algumas das propriedades da eletricidade
estática, isto é, a carga elétrica como algo diferente da corrente elétrica.
3 Dic. Aurélio - Do latim effluviu - Emanação invisível que se desprende de um fluido; efluência,
exaltação. Emanação sutil que se exala dos corpos organizados (...).Emanação de energia ou de matéria.
4 http://geocities.yahoo.com.br/jcc5001pt/museuambar.htm.
13
2.2 O MAGNETISMO NO SÉCULO XVIII
Depois do tempo de Gilbert, durante aproximadamente duzentos anos não há registro de progresso algum na manufatura de magnetos... Entretanto não faltaram tentativas na intenção de descobrir magnetos naturais potentes, nos quais a ação era concentrada pela utilização de uma armadura, e adotaram-se vários métodos para fazer magnetos artificiais a partir de barras de ferro, friccionando-as com magnetos naturais e empilhando-as juntamente com estes. A primeira espécie de magnetos utilizada era principalmente barras magnéticas.
Na intenção do aperfeiçoamento da peça, tem-se a intervenção de Daniel Bernoulli - um fabricante de instrumento da Basiléia - que sugere a Johann Dietrich dobrar as barras de forma a colocar os pólos juntos um ao outro, criando assim o primeiro ímã de ferradura. John Mitchell mediu as forças exercidas em cada um pelos pólos magnéticos e publicou o seu livro Tratado dos magnetes artificiais, em 1750. Foi o primeiro a apresentar a lei das atrações e repulsões pelo inverso do quadrado, e Charles-Augustin de Coulomb foi quem, em 1785, fez a demonstração utilizando uma balança de torção5.
FIGURA 2 - BALANÇA DE TORÇÃO
FONTE: http://www.lasallecaxias.com.br/alunos/fisica.htm
Os séculos XVII e XVIII registram inúmeras outras tentativas, mais ou menos
fantasiosas, para explicar o magnetismo com base nas hipóteses de René
Descartes6 e de Gassendi Franz Theodor Aepinus, autor de uma teoria de um só
5 Balança de torção. 6 Nasceu em Touraine, 1596. Ofereceu conhecimentos que propiciaram à ciência extraordinários
progressos no decurso dos últimos três séculos, tanto no seu desenvolvimento interno como na sua aplicação a todo o conjunto das ciências físicas; suas especulações favoritas eram as da área
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fluido, a qual admitia que nos pólos de um ímã a concentração normal do fluido
magnético era aumentada ou diminuída. Coulomb preferia a teoria dos campos
magnéticos, boreal e austral (correspondente à eletricidade vítrea ou resinosa, ou
seja, positiva ou negativa).
O astrônomo Edmund Haley produziu obra importante no campo do
magnetismo terrestre. A partir das suas próprias observações, feitas de 1698 a 1700,
quando comandante de um navio de guerra, publicou em 1701 um mapa isométrico
aperfeiçoado. Admitia que a terra possuía quatro pólos magnéticos, havendo em
cada hemisfério um pólo forte e um fraco, Em 1722 George Graham descobriu a
variação diurna e anual da declinação magnética, bem como as flutuações diurnas
da inclinação.
2.3 ELETROSTÁTICA Ao contrário do magnetismo que, devido à sua importância na navegação,
fora estudado durante um período muito mais longo e podia ser mais facilmente
relacionado com a experiência real, a eletricidade no século XVII não tinha sido
nunca considerada mais do que um fenômeno curioso, mas relativamente pouco
importante. Os conhecimentos continuavam sem avançar para além do que os
antigos já haviam observado - que certas substâncias, ao serem friccionadas,
podiam ser trazidas a um chamado estado elétrico que tinha o poder de atrair
objetos leves. A despeito dos estudos de Gilbert, o assunto manteve-se mais ou
menos na mesma situação.
Em 1660, Otto Von Guericke inventou uma máquina de fricção capaz de gerar
um fluxo contínuo de eletricidade. Pouco depois, Francis Hauksbee demonstrava
que os objetos carregados de eletricidade podiam mutuamente repelir-se ou mesmo
atrair-se, e uma descoberta feita em 1729 por Stephen Gray criou uma dificuldade
para a teoria dos eflúvios. Ele verificou que a virtude elétrica de um tubo de vidro
pode ser transmitida a outros corpos e, por meio de fios de arame ou de cordões
molhados, a corpos situados a vários pés de distância. Descobriu-se logo que os
corpos diferem em condutividade, e os condutores foram identificados pelo físico
francês Théophile dês Aguliers ou Desaguliers com os não-elétricos de Gilbert. Ele
de matemática e filosofia. Tornou-se conhecido com o tratado sobre o universo Le Monde, 1629, e Discurso do Método para bem conduzir a própria razão e buscar a verdade nas ciências,1637. Distingue-se na geometria analítica. Faleceu em Estocolmo, 1650.
15
oferece uma importante contribuição ao distinguir entre condutores (principalmente
metais) e não condutores.
Outra descoberta surpreendente feita na década de 1730 e atribuída ao físico
francês Charles Du Fay, foi a de que as folhas eletrizadas pelo vidro friccionado
eram por ele repelidas e atraídas pela resina friccionada. Denominou as duas
espécies de eletricidade, vítrea e resinosa, de acordo com as substâncias que as
produzem. Segundo a teoria dualista, que era aceita por Dufay e defendida pelo
físico inglês Robert Symmer, um corpo neutro continha quantidades iguais dos dois
fluidos, que se deviam encarar como opostos, e a eletrificação de um corpo, assim,
consistia na separação dos dois fluidos. Neste caso também os termos ”negativo” e
“positivo“ eram empregados de maneira arbitrária. Ambas as teorias podiam ser
utilizadas para explicar o fenômeno da indução eletrostática - observado em primeiro
lugar por von Guericke e mais tarde investigado por Aepinus em particular.
Eventualmente a teoria dualista veio conquistar a maior quantidade de adeptos.
A descoberta de Du Fay teria acrescentado um fato novo, produzido pela
experiência, e que se relaciona à classificação tão conhecida nas lides práticas: que
a eletricidade induzida por atrito pode ser de duas classes, chamadas a partir de
então positiva e negativa. Em 1754, John Canton, um aprendiz de tecelagem que
chegaria a tornar-se membro da Royal Society, estabelecia as bases quantitativas
desta ciência ao projetar um instrumento para medir a eletricidade, baseado na
repulsão de bolas de medula de igual carga suspensas por linhas ou fios.
Este importante instrumento foi aprimorado pelo italiano e professor de física
em Paiva, Alessandro Volta, de forma que os investigadores dos distintos
laboratórios pudessem comparar suas conclusões. Em 1787, o mesmo instrumento
seria objeto de um novo projeto, feito por Abraham Bennet, que, ao aplicar o
princípio da indução, o converteria no eletroscópio de lâmina de ouro; o eletroscópio
permitiu a Canton demonstrar que um corpo carregado de eletricidade induz uma
carga em qualquer outro corpo que dele se aproxime.
O final do século XVII presenciou um grande aperfeiçoamento na área, que se
acelerou e aperfeiçoou no século seguinte. A eletricidade, a princípio limitada à
eletrostática, tornou-se um objeto favorito de estudo para muitos filósofos da
Natureza e atraiu o interesse aguçado dos muitos cidadãos de posses, os quais, na
época, dedicavam-se à experimentação científica como passatempo.
16
É o caso de Otto von Guericke cuja Experimenta nova Magdeburgica (1672)
descrevia uma máquina elétrica de fricção primitiva, que consistia numa esfera
rotativa de enxofre na qual se gerava uma carga elétrica esfregando-a na terra seca,
e Francis Hauksbee que, na sua Physico-Mathematical (1709) descrevia
experiências com faíscas longas que obtinha identicamente por fricção de esferas
rotativas de vidro, cera ou enxofre. Observou que as experiências efetuadas em
atmosfera úmida não tinham êxito e que se verificava ser impossível eletrificar barras
metálicas seguras na mão.
Tais observações foram, muito em breve, explicadas pelas investigações
feitas por Stephen Gray (1666-1736) em 1729, as quais o levaram a distinguir entre
elementos condutores e não-condutores da eletricidade, isto é a capacidade de
condução e de isolamento da eletricidade. Próximo a esse período, Du Fay mostrou
a importância de admitir duas espécies de eletricidade. À eletricidade causada pela
fricção de uma haste de vidro chamou de eletricidade vítrea e à da resina friccionada
com lã, eletricidade resinosa. Relacionada com isto deve-se mencionar igualmente a
obra do físico Jean Théophile Désaguliers (1683 – 1744), que fugiu para a Inglaterra
e, nas primeiras décadas do século XVIII, teve papel importante para o despertar do
interesse geral pela ciência experimental.
Sem mencionar as contribuições específicas de cada um, merecem ser
relacionados os nomes dos alemães Christian August Hausen (1693 – 1743),
Johann Heinrich Winkler (1703 – 1770), Johann Friedrich Geissing, Georg Matthias
Bose (1710 – 1761) e Fraz von Nienmayer, o inglês John Canton (1718 – 1772),
William Higgins, Benjamin Wilson e Willian Watson. Andréas Gordon, um escocês
que viveu na Alemanha, o suíço Martin Planta, o francês Jean-René Sigaud de la
Fond (1730 – 1810) e o holandês Jan Ingenhousz (1730 – 1799) também se
dedicaram à área.
No decorrer do século XVIII, a máquina elétrica foi aperfeiçoada gradualmente
à custa do trabalho de uma hoste de investigadores científicos e de fabricantes de
instrumentos em vários países, até que assumiu a forma sob a qual finalmente veio
a tornar-se em geral conhecida - grandes discos de vidro girando entre borrachas
cobertas de uma amálgama de estanho, com pentes para extrair a carga e
condensadoras para armazenar.
Pelo final do século, as máquinas elétricas tinham atingido grandes
proporções. Pode ainda se trazer um exemplo de Harlém, Holanda, na máquina que
17
o fabricante John Cuthbertson construiu para o Instituto Teyler, de Harlém, e que o
diretor do laboratório, Martinus von Marum, utilizou nas suas experiências.
Entretanto, uma invenção muito importante foi o condensador, ou garrafa de
armazenamento, descoberto independentemente, por volta de 1745, por Ewald
Georg von Kleist em Kamin, Pomerânia e Petrus van Musschenbroek e os seus
assistentes em Leyden. A mais antiga referência que lhe é feita aparece numa carta
escrita pelo biologista suíço Abrahan Trembley, na qual relata que o seu compatriota
Jean-Nicolas-Sébastien Allamand tinha efetuado uma experiência em Leyden no
início de 1745. A experiência consistia em eletrificar a água contida num jarro seguro
numa das mãos e em cortar o contato com a outra. Esse experimento tinha sido
repetido por Van Musschenbroek e despertou grande interesse, pois se podiam
obter cargas elétricas muito mais fortes do que até então se julgava possível.
Dessa descoberta, se deu conhecimento ao mundo através do
experimentador popular francês Jean-Antonie Nollet (1700-70), ele foi quem se deu
o nome ao aparelho como garrafa de Leyde.
Em que pese a disputa pela iniciativa, através da “garrafa de Leyde” ou Kleist
- a designação que recebe na Alemanha - podiam-se acumular consideráveis
quantidades de eletricidade produzidas por uma máquina e logo serem
descarregadas com toda facilidade; então, a “garrafa” era, efetivamente, um
condensador, palavra entendida em seu sentido mais amplo.
Foram os conhecimentos de eletricidade obtidos na Europa que encorajaram
o impressor de Filadélfia e cientista amador Benjamin Franklin (1706-90) ao caminho
das experiências e teorias que vieram a tornar-se importantes na subseqüente
história da física. A sua celebrada invenção de condutor para os raios teria sido
comprovada pela primeira vez em 1752 por Dalibard, em Marly, na França, e mais
tarde pelo próprio Franklin na famosa experiência do papagaio.
Na Filadélfia, Benjamin Franklin, fazendo voar pipas durante as tempestades
e obtendo descargas no extremo da linha a que iam atadas, identificou os
relâmpagos como descargas elétricas. Estes experimentos determinaram a invenção
do pára-raios, de rápida difusão para proteger edifícios, especialmente os antigos e
outras construções de natureza especialmente vulnerável.
Um curioso episódio que circunda o fato parece revelador daquilo que, não
raras vezes, ocorre nos bastidores do poder político com conseqüências inevitáveis
para o avanço da ciência. Suscitou-se uma polêmica, que haveria de resolver-se por
18
meio de experimentos e observações, sobre se o extremo dos pára-raios deveria
consistir em uma agulha ou uma bola. Benjamin Franklin defendeu corretamente os
extremos em ponta, porém, quando as colônias inglesas da América iniciaram a
revolução, em que Franklin revelou-se como um dos rebeldes mais proeminentes, o
próprio Jorge III7 se permitiu intervir na discussão defendendo o uso de pára-raios de
ponta roma. Chegou até a intentar influir sobre a Royal Society para que defendesse
seu ponto de vista, porém seu presidente, Sir John Pringle, apesar da delicada
situação política em que se viu envolvido, defendeu firmemente os princípios
científicos e deu uma resposta hoje já clássica: “Sire, I cannot reverse the laws and
operation of nature”, ou “Señor, yo no puedo modificar las leys y procedimientos de
la naturaleza”.
Franklin, que se encontrava então na França negociando a famosa aliança
que asseguraria o triunfo da rebelião, expressou a esperança de que Jorge III
atraísse sobre sua cabeça o raio divino prescindindo dos pára-raios em geral.
Ignorando que os cientistas franceses haviam colocado em prática a sua
sugestão de que a eletricidade poderia ser retirada de uma nuvem por meio de uma
vara colocada num ponto elevado, Franklin e seu filho carregaram uma garrafa de
Leyde com uma chave amarrada ao fio de um papagaio de papel, durante uma
tempestade em junho de 1752. Era esse um dos maiores triunfos da ciência, pois,
associando os coriscos de Júpiter com os choques produzidos por uma garrafa de
Leyde, ele explicava em grande parte um dos fenômenos naturais mais aterradores,
embora conhecido pelo ser humano desde que existe sobre a terra.
Esta descoberta despertou grande interesse através do mundo e conduziu a
outras numerosas experiências, como também suscitou controvérsias quanto a se
saber se seria permitido ao homem interferir desta forma num fenômeno natural,
considerado geralmente como expressão direta da vontade de Deus.
O exemplo de Franklin levou à investigação experimental da eletricidade
atmosférica, que na França recebeu a atenção do médico Louis-Guillaume de
Mounier (1750) e, na Itália, do físico Giovanni Batista Beccaria. O físico russo Georg
Wilhelm Richmann foi vítima deste trabalho de investigação ao ser atingido por um 7 Jorge III do Reino Unido , Jorge Guilherme Frederico 1738 – 1820 - da Casa de Hanôver, foi Rei da
Grã-Bretanha de 1760 até 1801. A partir do Acto de União de 1801, Jorge III passou a ser Rei do Reino Unido. Foi também Duque de Brunswick-Lüneburg e, a partir de 1814, Rei de Hanôver. Jorge III recebeu o cognome de o Louco devido à instabilidade mental causada pela doença crônica que sofria (porfíria).No reinado de Jorge III deu-se a independência dos Estados Unidos da América, até então uma colônia britânica. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
19
raio em S. Petersburgo, no dia 6 de agosto de 1753, quando observava um indicador
de eletricidade atmosférica durante uma tempestade.
O nome de Franklin deve igualmente ser citado em ligação com as suas
teorias sobre a natureza da eletricidade. Como no caso do magnetismo, havia duas
teorias opostas, a unitária ou de fluido único (Franklin) e a dualística ou dos dois
fluidos (Dufay). Ambas podiam ser utilizadas para explicar o fenômeno da indução
eletrostática, observado anteriormente por Von Guericke e mais tarde investigado
por Aepinus em particular. Eventualmente a teoria dualista ganhou maior quantidade
de adeptos.
Nas experiências de indução fazia-se uso de eletroscópios ou eletrômetros,
de diversos tipos, entre os quais o eletroscópio de folhas de ouro (1787) de Abraham
Bennet tornou-se finalmente o mais conhecido.
Com base em experiências com a balança de torção, Coulomb formulou a lei
das forças entre as cargas elétricas que recebeu o seu nome. Demonstrou
igualmente por meio de experiências que uma carga elétrica fica confinada à
superfície de um condutor e que não se encontra qualquer campo elétrico no interior
de um condutor carregado.
Embora no século XVIII não houvesse outros meios de pôr em movimento as
cargas elétricas além de fazer soltar faíscas, pensava-se ser possível que a
eletricidade pudesse ser utilizada na química. Henry Cavendish (1731-1816) fez
passar faíscas através de uma mistura de ar sem flogisto8 (oxigênio) e ar inflamável
(hidrogênio) e verificou que se depositava um orvalho que se provou ser água. Este
processo de síntese pode ser colocado em contraste com os resultados analíticos
dos químicos holandeses Joan Rudolf Deiman e Adriaan Paets van Troostwijk que
descobriram, em 1789, que a água era decomposta quando se faziam passar
através dela, durante algum tempo, as descargas de uma bateria de condensadores.
8 Contemporâneo de Boyle, J.J. Becher (1635-82), cujas obras sobre alquimia gozaram de grande
popularidade, adotou como elementos três “terras”: a mercurial, a vitrificável e a combustível. À última, a combustível - princípio material do fogo, mas não o próprio fogo-G.E Sttahl (1660-1734) deu o nome de flogisto. Considerava-o como sendo algo que era expelido durante a combustão e a calcinação de metais. Como de uma cal metálica (óxido) se podia extrair o metal queimando-a com carvão de madeira, dizia ele que o metal absorvera flogisto do carvão durante esse processo; e o carvão, que desaparecia quase por completo, foi considerado como flogisto quase puro. Inversamente, quando o metal era calcinado (oxidado) pela queima sem carvão,dizia que perdera o seu flogisto. Esta teoria satisfazia o principal requisito imposto a toda teoria nova, isto é, o de explicar os fatos tais como eram conhecidos. Foi adotada durante um século.(...), embora se tornasse necessário admitir que o flogisto possuía um peso negativo, isto é, a qualidade da “leveza”, pois que ao perdê-los os corpos aumentavam de peso.
20
A explicação do fenômeno da combustão, através da hipótese do flogisto,
hoje superada, foi adotada por filósofos naturais durante todo o século XVII.
Embora possa parecer atualmente que a teoria da eletricidade se tenha
limitado apenas à eletrostática, por todo o século XVIII, com certeza, na época,
pareceu tão adiantada aos seus contemporâneos que havia uma certa justificação
para registrar sua história. Isto foi feito por Joseph Priesrley na obra História e
estado presente da eletricidade, com experiências originais, em 1776.
2.4 GALVANISMO
Pelos fins do século XVIII, todas as descobertas sobre a eletricidade como
força tão poderosa no mundo estavam ainda por se realizarem. A mais fundamental
delas, a da corrente elétrica, foi o resultado de trabalhos de investigação realizados
na década de 1780 pelo anatomista italiano Luigi Galvani descritos na sua obra
Comentários sobre as forças da eletricidade em movimento muscular, em 1791.
Simultaneamente, na Itália, estavam se realizando outras importantes
investigações. Tratava-se dos experimentos de Luigi Galvani sobre os movimentos
de um quadril de rã. Ele considerava as contrações musculares como uma
manifestação da eletricidade animal, que era o centro da controvérsia científica no
século XVIII. Pensava-se ter a sua sede no cérebro do animal de onde era
conduzida até os músculos pelo sistema nervoso. Cada fibra muscular era
considerada como um pequeno condensador cuja descarga era acompanhada por
uma contração.
Ele relatou em 1786 que, quando um músculo e seu respectivo nervo eram
postos em comunicação por dois metais em contato, o músculo se contraia como
sob a ação da descarga de uma máquina elétrica. A interpretação dada às suas
observações foi considerada equivocada. As explicações sobre a forma especial de
eletricidade animal de Galvani causou grande agitação, atraindo a atenção do
professor de física em Paiva, o italiano Alessandro Volta (1745-1827), que por muito
tempo estudara a eletricidade e que viria mais tarde a tornar-se o seu mais vigoroso
opositor.
Mais tarde, verificou-se que descobertas mais ou menos semelhantes às de
Galvani tinham sido realizadas pelo físico suíço Johann Georg Sulzer, que em 1760
fizera uma comunicação sobre a sensação de gosto experimentada ao colocar um
pedaço de prata sobre a língua e um pedaço de chumbo debaixo dela, deixando os
21
cantos tocarem-se. Em 1765, o anatomista italiano Leopoldo Marc-Antonio Caldani
observava contrações numa preparação de rã, por influência da eletricidade.
O novo método de gerar eletricidade, designado galvanismo, assegura na
terminologia científica o crédito a Volta pelo fato de ter separado o fenômeno físico
de seu contexto fisiológico, embora o nome de Galvani tenha se mantido, por ter
sido ele quem originalmente descreveu todo este complexo fenômeno.
Reconheceu Volta que, no sistema constituído por uma perna molhada de rã
e pelo gancho de cobre por meio da qual estava suspensa uma barra de ferro,
apenas os metais e o líquido tinham relevância sob o ponto de vista físico, e que a
perna apenas servia como eletroscópio.
As concepções e teorias introduzidas por Volta durante as suas investigações
físicas por muito tempo já pertencem à teoria da eletricidade: ... a diferença de potencial originada no contato em meio úmido entre metais não idênticos (efeito de Volta), a disposição desses metais numa “série potencial ou voltagem”, as leis que os regulam, a impossibilidade de obter uma corrente apenas pelo contato desses metais, o fato de os eletrólitos não terem lugar na série de voltagem, com a conseqüência de que um elemento galvânico pode efetivamente ser montado a partir de dois metais diferentes mais um eletrólito. Fonte: R.J.F. História da ciência e da técnica. V.2 1963.
Volta anunciou esta possibilidade numa carta, datada de 20 de março de
1800, escrita ao presidente da Royal Society, Sir Joseph Banks, na qual descrevia a
pilha denominada mais tarde, em sua homenagem, a pilha voltaica, que em breve se
tornou conhecida como “a pilha”. Consistia num certo número de pares de placas de
zinco e de prata, sempre na mesma ordem, empilhadas entre pedaços de tecido ou
de carvão embebidos numa solução salina.
Alessandro Volta foi quem teria demonstrado que a origem da eletricidade em
tais experimentos era, de fato, o contato entre os diferentes metais embebidos numa
solução. Afirmava que a eletricidade provinha do contato dos dois metais, sem se
dar conta da eletrólise operada nos humores animais, assim como nas pequeninas
almofadas que separavam as sucessivas camadas de cobre e zinco - metais
escolhidos após uma série de sistemáticos experimentos - colocados
alternadamente e separados por pedaços de flanela ou papel absorvidos em
salmoura. Esta foi a origem da pilha voltaica - a “pilha elétrica”.
Como segunda forma, menciona a coroa de taças, uma fila de taças contendo
água salgada ou ácido diluído, ligadas a placas de metal, dobradas, metade das
quais era de zinco e a outra metade de cobre. Denominou este engenho órgão
22
elétrico artificial em oposição ao órgão elétrico natural, que se encontra nos peixes
elétricos.
Sua importância apóia-se no fato de que proporcionava uma fonte simples e
eficaz de corrente elétrica contínua e, deste modo, facilitava enormemente os
experimentos. Uma bateria elétrica desse tipo é, em linhas gerais, uma máquina que
converte a energia liberada durante uma reação química, que normalmente aparece
em forma de calor, em energia elétrica. Em poucos meses se começaram a
construir, em muitos laboratórios, grandes baterias elétricas baseados no princípio
de Volta e, com sua ajuda, foram realizados importantes descobrimentos. A água se
decompunha facilmente, com ajuda de uma corrente elétrica, no hidrogênio e
oxigênio, fornecendo assim uma prova analítica de sua composição, o que viria a
confirmar as conclusões de Lavoisier9, às que havia chegado por métodos de
síntese.
A chamada teoria do contato, por meio da qual Volta procurava explicar o
funcionamento da sua pilha, não era geralmente aceita.
As idéias de Galvani sobre a eletricidade animal continuavam a ganhar
adeptos, entre eles, o estudioso alemão Alexander Von Humboldt. Os físicos
franceses, de maneira geral, concordavam com as concepções de Volta.
Igualmente difícil era convencer a maioria das pessoas da identidade da bem
conhecida eletricidade estática de fricção e da eletricidade galvânica recentemente
descoberta. Neste ponto também se opunha Humboldt, ao mesmo tempo em que o
seu ponto de vista era apoiado pelos físicos alemães Paul Erman e Johann Wilhelm
Ritter e pelo já referido Martinus van Marum, que acrescentou provas experimentais
obtidas com o poderoso aparelho elétrico do Laboratório Teyler em Harlém.
Antes da publicação da carta de Volta, os cientistas ingleses William
Nicholson e Sir Anthony Carlisle, que a tinham visto, anunciavam ter decomposto a
água em hidrogênio e oxigênio com auxílio de uma pilha. Assim se abriu à
investigação um campo inteiramente novo, e muitos entraram nele.
Utilizando a grande pilha construída para a Royal Society em Londres,
Humphry Davy isolou por meio de eletrólise uma série de metais: primeiro, o
potássio, procedente da potassa, e a continuação, o sódio, o bário, o estanho e o
magnésio.
9 Antonie-Laurent Lavoisier (1743-94) - A lei da conservação da matéria (ou da massa).
23
Em 1802, Davy observou que, quando se faz passar de uma forma contínua
uma faísca elétrica entre duas peças de carbono, produz-se uma luz muito brilhante:
este foi o princípio da lâmpada de arco, mesmo que seu desenvolvimento prático
teria que esperar o aparecimento de uma fonte de eletricidade mais barata. Também
se observou que uma corrente elétrica aquece o condutor através da passagem -
descobrimento que encontraria posteriormente uma aplicação prática nas lâmpadas
de incandescência.
FIGURA 3 - LÂMPADA DE ARCO JABLOCHKOFF, 1876
FONTE: História da Tecnologia de Derry & Willians
A obra de Sir Humphry Davy, em particular, é de grande importância. Em
1807 preparou os elementos potássio e sódio por meio da eletrólise.
Uma das descobertas feitas com as baterias eletrolíticas de Volta foi o
desenvolvimento de calor originado pela corrente elétrica em arames metálicos e o
arco elétrico luminoso, observado entre os pólos de uma forte bateria elétrica ou
galvânica, por Davy em 1812.
A pilha de Volta e a sua coroa de taças, e suas modificações, por exemplo, a
pilha seca de Georg Bernhard Behrens (1802) redescoberta em 1810 por Giuseppe
Zamboni permaneceram por muito tempo como as únicas baterias elétricas práticas.
Apresentavam o defeito de a corrente elétrica diminuir rapidamente em
conseqüência da polarização. A partir dos princípios de 1830 fizeram-se muitas
tentativas de se montarem baterias elétrica constantes. As tentativas feitas por John
Frederic Daniel (1836), Sir William Robert Grove (1839), Robert Wilhem Bunsen
(1841) e Georges Leclanché (1867) foram bem sucedidas.
24
A primeira tentativa para constituir uma bateria de armazenamento ou
secundária foi feita em 1803 por Johann Wilhelm Ritter (1776 – 1810) que, depois de
interrompida a corrente, utilizou-se de eletrodos polarizados de um aparelho de
decomposição de água (eletrólise). O assunto foi estudado por William Robert Grove
(1811 – 1896), mas só em 1859 se alcançaram resultados práticos por Gaston
Planté (1834 – 1889) com o seu acumulador, que, depois de aperfeiçoamentos
posteriores, demonstrou ser comercialmente útil.
Quando se recorda a profunda impressão causada em toda a parte pelas
descobertas químicas alcançadas com o auxílio da corrente elétrica, não é de se
espantar que os cientistas tivessem também procurado aplicar conceitos elétricos ao
campo da química teórica. Davy deu origem a uma teoria em que a condição elétrica
oposta apresentada por dois materiais em contato era tomada como uma
propriedade da reação química mútua. Quando se estabelecia o contato, as cargas
opostas neutralizar-se-iam umas às outras; na passagem da corrente elétrica, os
elementos com carga positiva iam para o pólo negativo da bateria e os carregados
negativamente para o positivo. A teoria da eletrólise do químico alemão von Grotthus
seguia o mesmo curso. Esta teoria argumentava que a decomposição de um
eletrólito devia ser causada primeiramente pelas forças atrativas e repulsivas,
exercidas sobre os componentes eletricamente carregados das moléculas por
terminais metálicos de onde a corrente entra e sai da solução. Este conceito, um
tanto modificado, constituía também a base da teoria de August-Arthur de la Rive.
Os conceitos elétricos ocupavam um lugar considerável no sistema químico
de Jöns Jacob Berzelius, que atribuía aos átomos pólos elétricos de força desigual.
O pólo dominante determinava a condição elétrica resultante. Assim começou a
aparecer uma classificação dos elementos em positivos e negativos. As moléculas
de um composto possuíam uma polaridade semelhante. A combinação química era,
por conseguinte, considerada no seu conjunto como resultado da atração entre
cargas opostas.
As teorias de Davy e Berzelius vieram eventualmente a ser abandonadas. No
entanto, manteve-se a idéia fundamental de que as forças elétricas desempenhavam
uma função na estrutura da matéria, desalojando a idéia universal do século XVIII de
que era a gravitação, como no caso dos corpos celestes. A relação íntima entre os
processos químicos e elétricos conduziu também à crítica renovada da teoria de
contato de Volta.
25
Davy procurou a causa do funcionamento da pilha em processos químicos.
Mostrou que a água pura não era sensivelmente decomposta pela corrente elétrica e
que o funcionamento da pilha dependia da capacidade do líquido condutor para
oxidar o zinco do pólo negativo. Nas décadas que se seguiram, travou-se uma
contínua guerra de idéias entre os partidários destas duas teorias, na qual, todavia,
ambos os grupos gradualmente sofreram apreciáveis modificações sob a influência
um do outro.
A descoberta de Volta, quanto à capacidade da “pilha elétrica” de produzir
uma corrente elétrica contínua, despertou imenso interesse, sendo logo seguida pela
construção de poderosas baterias de tipo moderno. Foi assim que se começou a
aplicar a eletricidade às necessidades humanas, provindo daí as palavras:
galvânico, voltaico, galvanômetro, voltímetro, etc.
2.5 ELETROMAGNETISMO E ELETRODINÂMICA
A teoria da eletricidade que, desde o início do século, praticamente se
centrava na eletroquímica, foi enriquecida em 1820 por uma nova descoberta
importante, nomeadamente a da estreita relação entre a eletricidade e o
magnetismo.
Admitia-se há muito tempo que estes dois fenômenos, desenvolvidos
independentemente, estavam relacionados entre si de uma forma ou de outra; a
identidade das leis das forças, ambas formuladas por Coulomb, parecia dar corpo a
esta linha de pensamento, quando fazia a correspondência nas teorias dos “fluidos”
desenvolvidas em cada um destes campos. Os cientistas, porém, não conseguiam
demonstrar experimentalmente esta relação.
O físico dinamarquês Hans Christian Oersted10 fez estes experimentos com
êxito em 1820. Nas suas especulações sobre a filosofia natural, dedicara muitas
vezes a atenção a este problema, e da sua crença na unidade de todas as forças
naturais derivara a certeza intuitiva da existência de uma base real. Num
determinado estágio ocorreu-lhe a idéia de colocar o arame terminal de uma bateria
galvânica paralelamente a uma agulha magnética móvel e não perpendicular a ela, 10 Hans Christian Oersted - físico dinamarquês, verificou que, ao colocar o arame terminal de uma
bateria galvânica paralelamente a uma agulha magnética móvel, e não perpendicular a ela - como tentara antes, obteria o efeito hoje bem conhecido: quando se colocava o arame em sentido inverso sobre a agulha, a direção do desvio era também invertida. Confirmou a suposta relação estreita entre eletricidade e magnetismo. Comunicou a sua descoberta em julho de 1820. Fonte: R.J.F. e E.J.D. História da Ciência e da Técnica. p.493.
26
como havia tentado anteriormente. Constatou o efeito hoje bem conhecido: quando
se colocava o arame em sentido inverso sobre a agulha, a direção do desvio era
também invertida.
A descoberta de Oersted foi anunciada em julho de 1820 e a princípio gerou
um sentimento de ceticismo, mas, depois de confirmada, despertou grande
interesse.
A primeira reação atribui-se mais particularmente ao fato de a força exercida
sobre um pólo magnético por uma corrente retilínea ter mostrado atuar
perpendicularmente ao plano de ambos, e numa direção particular, que só
empiricamente se podia determinar.
Porque os homens de ciência estavam tão habituados a raciocinar em termos
de atração e de repulsão, tinham tendência a considerar os efeitos recentemente
descobertos como impossíveis, por razões de simetria. Na verdade, a assimetria
inerente à nova descoberta introduziu um elemento totalmente novo nas idéias
físicas do tempo.
Em 4 de setembro de 1820, Arago fez uma comunicação sobre o efeito de
Oersted na reunião semanal da Academia das Ciências em Paris. A princípio, ele
mesmo havia duvidado e, mais tarde, ficou convencido, por conta de uma
demonstração em Genebra, feita por De la Rive. Em 11 de setembro, ele próprio faz
a demonstração que foi decisiva para impressionar o espírito ágil do matemático
André Marie Ampére11, inspirando-o na investigação do assunto da eletricidade,
sobre o qual não tinha qualquer experiência prévia. Fatos curiosos e pouco relatados
na História da Ciência.
De 18 a 25 de setembro, Ampére forneceu um relato completo de uma série
de novas descobertas que fizera nos dias anteriores, bem como de uma nova
hipótese quanto à relação entre a eletricidade e o magnetismo, que formulara com
base nas suas experiências. Seus experimentos investigavam as forças exercidas
por arames conduzindo corrente, uns sobre os outros, e as propriedades magnéticas
do solenóide (termo criado nesta ocasião) quando a corrente passa através dele. A
hipótese declarava que em um ímã há correntes elétricas que circulam em pequenos
circuitos, cujos planos são perpendiculares ao eixo magnético.
11 Ampére, André Marie (1775-1836). Ampére desenvolveu em1820 as leis do eletromagnetismo.
A unidade que mede a intensidade da corrente elétrica; foi-lhe dada o seu nome, ampére (A) Fonte: 4. Mariano, Mário (1993), História da Electricidade, EDP, Lisboa.
27
Então, seguia-se uma explicação sobre o magnetismo terrestre, como
resultado de correntes terrestres; e para a força, determinada empiricamente, que na
aparência era exercida pela Terra sobre um quadro de arame por onde passava a
corrente, girando em torno de um eixo vertical.
Tendo definido desta forma os princípios experimentais da eletrodinâmica,
Ampére procurou estabelecer a expressão matemática de uma lei geral que pudesse
descrever todas as forças observadas e viesse a formar, por conseguinte, a analogia
elétrica da lei de gravitação de Isaac Newton. Teria de exprimir as forças exercidas
por dois elementos infinitésimos de condutores por onde passava a corrente, um
sobre o outro, a uma distância dada e numa dada posição relativa sobre a linha que
os unia. A partir daqui toda a dinâmica quantitativa de todos os fenômenos elétricos
e magnéticos teria de ser deduzida por integração. O objetivo pretendido foi atingido
num tratado publicado em 1827. O plano do tratado corresponde aos Principia de
Newton, na medida em que não se faz qualquer tentativa para deduzir as forças
admitidas, a partir das mais básicas hipóteses.
O método aplicado por Ampére para o tratamento matemático dos fenômenos
eletrodinâmicos conduziu-o ao objetivo pretendido, porém não foi de valor
permanente para a teoria da eletricidade. Linhas totalmente diferentes foram
definidas ao longo do desenvolvimento subseqüente, o que, no entanto, não afeta o
significado das suas descobertas.
Depois de Oersted ter confirmado a suposta relação entre eletricidade e
magnetismo, Ampére tornou perfeitamente claro que a relação era muito mais
estreita do que se supusera: o magnetismo parecia não ser algo diferente e isolado
da eletricidade, mas sim, e muito, um aspecto da sua multifacetada natureza, que se
manifestava do mesmo modo nos fenômenos da eletrostática e da ação
eletroquímica.
Mesmo que o minério magnético de ferro nunca tivesse sido descoberto, o
fenômeno do magnetismo viria ainda assim a ser encontrado no estudo mais
detalhado das correntes elétricas, embora pudesse então ter recebido um nome
completamente diferente.
Portanto, de maior importância imediata para o desenvolvimento da indústria
da eletricidade foi a descrição, feita pelo físico H.C.Oersted, do campo magnético
que rodeia a um condutor ao ser recorrido por uma corrente elétrica.
28
Quase ao mesmo tempo A.M. Ampére, em Paris, proporcionava a esta
observação uma base quantitativa, estabelecendo a relação entre a força magnética
e a corrente elétrica que o produz. Também se demonstrou que o movimento de um
condutor contínuo em um campo magnético faz com que aquela seja recorrida por
uma corrente elétrica.
De tal modo, então, estabelecia-se a fundamental relação existente entre
eletricidade e magnetismo, porém ficava por dar o passo importantíssimo que
suporia obter desta relação um resultado prático: este passo seria dado por Faraday.
2.6 INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA
Mesmo que tenham sido consideráveis os avanços da teoria da eletricidade e
do magnetismo durante os primeiros trinta anos do século XIX, a grande descoberta
que tornaria possível o desenvolvimento moderno e as importantes aplicações
técnicas ainda estava por fazer. Era a descoberta da indução eletromagnética, feita
por Michael Faraday, em 1831, resultado proveniente de seus próprios esforços e
dos esforços de muitos outros. O acontecimento chave foi a demonstração prática
da indução eletromagnética levada a cabo por Michael Faraday e de que se tem
registro na Royal Society no dia 24 de novembro de 1831: e em muito pouco tempo
já se fabricavam geradores eletromagnéticos para serem comercializados.
Havia muito que Faraday acalentava a idéia de que uma corrente elétrica
passando num fio condutor podia muito bem originar uma corrente elétrica num
circuito condutor adjacente onde não houvesse qualquer pilha voltaica, da mesma
forma que um corpo carregado eletricamente dá origem a uma carga elétrica estática
num condutor próximo. Fez freqüentes experiências orientadas por esta idéia,
sempre sem êxito.
Em agosto de 1831, enrolou duas bobinas de fio sem ligação entre si, em
torno do mesmo núcleo de ferro macio, das quais uma, a primária, tinha pilha
voltaica e a outra, a secundária, um galvanômetro. Mais uma vez nada apareceu que
mostrasse que, se uma corrente percorresse a bobina primária, uma corrente
apareceria também na secundária. Porém, quando interrompeu a corrente na bobina
primária, crendo que a experiência era mais uma vez um insucesso, observou um
súbito desvio curto da agulha do galvanômetro ligado à bobina secundária.
29
Insistindo, uma investigação mais apurada veio demonstrar que não era a
presença da corrente primária, mas sim o seu estabelecimento, ou interrupção, ou
qualquer mudança na sua força que ia produzir uma “corrente de indução” na bobina
secundária. Além de ocupar-se com o fenômeno que poderia ser análogo à indução
eletrostática, Faraday intuía a possibilidade de gerar uma corrente elétrica com o
auxílio do magnetismo, dando assim lugar à contrapartida do efeito de Hans
Christian Oersted. Isto se demonstrava agora como possível: parecia que uma
corrente percorria uma bobina de fio fechada quando e sempre que se fazia penetrar
nela uma barra de ferro, ou se retirava, ou, de forma geral, ela se deslocava em
relação à bobina. Observou também que havia uma corrente de indução quando a
bobina secundária se movia em relação à primária ou a um ímã.
Em setembro de 1831 utilizou a interação dos campos elétrico e magnético
para produzir um movimento mecânico. Primeiro, a 03 de setembro fez que um fio
ou cabo recorrido por uma corrente elétrica girasse em torno a um imã fixo; ao dia
seguinte fez que um imã girasse em torno a um cabo pelo qual passava uma
corrente. Mesmo que o instrumento de Faraday fosse puramente experimental e não
se pretendia dele nenhuma utilidade prática, representava um passo adiante.
Faraday reconheceu, de pronto, o grande significado teórico da sua
descoberta antes desconsiderada por alguns de seus contemporâneos. Além do
mais tinha a certeza de sua importância técnica. Para a descrição geral das
condições sob as quais aparece uma corrente de indução numa bobina de fio, ou de
uma forma mais geral, quando se gera a força eletromotriz de indução num circuito
aberto ou fechado, utilizou a sua imagem favorita, linhas de força magnéticas, com a
qual estava habituado a explicar os fenômenos magnéticos.
A exigência era que um fio condutor devia cortar linhas de força magnéticas, e
a força eletromotriz de indução parecia ser proporcional ao número de linhas de
força cortadas na unidade de tempo. Esta imagem das linhas de força da qual
Faraday sempre foi adepto e com a qual em 1851 dizia mais uma vez, um tanto
enfático, que podia ilustrar todos os fenômenos experimentalmente determinados,
devia a sua existência às bem conhecidas figuras segundo as quais se dispõem as
partículas de limalha de ferro nas proximidades de um ímã. Idealizou-as sob a forma
de linhas que enchiam todo o espaço e cuja tangente dava em cada ponto a direção
do campo magnético, assim como introduziu concepções tais como tubo de força e
30
unidade de tubo de força, que desde então têm sido conceitos básicos essenciais
da física.
Ao mesmo tempo em que Faraday fazia as suas descobertas, observações
semelhantes eram feitas pelo americano Joseph Henry. No decurso de experiências
sobre a capacidade de carga de eletromagnetos, observou, em 1829, a aparição de
uma forte faísca na interrupção da corrente num fio comprido enrolado em bobina
em torno de um núcleo de ferro. Foi assim descoberto o fenômeno da auto-indução.
Sobre o assunto, foi publicado um folheto, em 1832. Neste mesmo ano, William
Jenkins, na Inglaterra, disse a Faraday que havia experimentado um choque ao
cortar um circuito idêntico. Isto levou Faraday a publicar o resultado das
investigações em 1835 sobre as chamadas “extra- correntes” obtido ao estabelecer
e interromper um circuito.
Nas suas experiências, Faraday e Henry teriam feito inconscientemente o uso
do transformador. Um tipo que se tornou bem conhecido durante o século XIX era a
bobina de indução, por meio da qual se podiam gerar descargas de alta tensão, e
que tem o nome do fabricante alemão de instrumentos Henrich Daniell Ruhmkorff,
que vivia em Paris (1851). Anteriormente, porém, nos Estados Unidos, Grafton Page
tinha construído uma bobina de indução em 1831 e aperfeiçoado em 1851. Mais
tarde foram introduzidos neste instrumento numerosos melhoramentos cujas funções
consideráveis foram ulteriormente preenchidas pelo transformador de circuito
fechado na eletrônica.
A descoberta da indução eletromagnética em breve conduziu a tentativas
para gerar correntes potentes que pudessem ser utilizadas para objetivos da técnica.
No início, os cientistas conseguiram resultado fazendo girar bobinas entre os pólos
de imãs permanentes e mais tarde entre os de eletroímãs. Em 1861, António
Pacinotti, e, independentemente, em 1868, Zénobe-Théophile Gramme inventaram
um método por meio do qual as correntes alternadas produzidas podiam ser
convertidas em corrente contínua. De grande importância era o chamado princípio
do dínamo, introduzido em 1866 por Werner von Siemens: o campo magnético que
gera a corrente é produzido pela corrente fornecida pela própria máquina. Isto se
tornava possível devido ao magnetismo remanescente nas peças polares.
Não se vai abordar sobre as muitas aplicações subseqüentes da indução
eletromagnética nos geradores de corrente alterna e trifásica e em diversos tipos de
motores elétricos por considerar desnecessário para o propósito deste trabalho.
31
Entretanto, precisa ficar registrado que foi o desenvolvimento da eletrotécnica que
tornou possível, em primeiro lugar, a aplicação prática da lâmpada elétrica - um fato
bastante considerado. Nos anos 1877-80, vários inventores se ocuparam deste
capítulo e, entre eles, Thomas Alva Edison (1847-1931) foi o mais bem sucedido.
Se o aparelho de Faraday era puramente experimental e dele não se
pretendia obter nenhuma utilidade prática, representava o grande passo a dar
adiante. Ele, não só havia projetado o primeiro motor elétrico, uma vez que um
dínamo é, em linhas gerais, um motor elétrico que funciona ao contrário, mas havia
também mostrado o caminho à conversão da energia mecânica em energia elétrica.
Mesmo ainda, tendo que se resolver muitas dificuldades práticas, se havia feito o
possível para o desenvolvimento da moderna indústria da eletricidade.
Assim, a história do desenvolvimento da indústria elétrica durante o século
XIX pode ser descrita sob três aspectos gerais: produção, distribuição e utilização.
Depois do grande impulso aos estudos experimentais sobre a eletricidade, haveria,
sem dúvida, alguns consideráveis aperfeiçoamentos a serem feitos para vencer as
imperfeições quanto a cada um destes aspectos.
A trajetória da energia elétrica caracteriza-se por caminhos diversos que
assumem diferentes contornos e abordagens, desde estudos de engenharia
eminentemente técnicos e, mais recentemente, o interesse das ciências humanas na
vertente social do consumo, em particular, para este trabalho, nos estudos da
energia elétrica na perspectiva da História da Técnica e da Tecnologia.
Entretanto, os diferentes encaminhamentos naturalmente se vinculam à
produção, distribuição e utilização da eletricidade, até porque apresentam
desdobramentos que podem acrescentar ingredientes que não são novos, porém
pouco considerados no tratamento das reais necessidades e exigências mais
urgentes reclamadas pela da sociedade atualmente.
2.7 ESTAÇÕES PRODUTORAS DE ENERGIA ELÉTRICA
A construção de bons geradores de corrente alternada não apresentava
dificuldades especiais. O transformador ainda estava na sua infância, mas Deprez,
Carpentier, Gaulard, Gibbs, e Westinghouse e outros construíram os primeiros
transformadores em condições de utilização nos anos 1880-90. As lâmpadas
elétricas típicas desses tempos - as lâmpadas de arco - foram desenvolvidas por
Brush, Jablochkoff (Cuja lâmpada foi usada no primeiro sistema no mundo de
32
iluminação pública elétrica em Lisboa, no Chiado em 1878) e Weston (1877), tendo
Edison fornecido muitas invenções que auxiliaram na conveniente produção e
distribuição de eletricidade.
Em 1878 foram instaladas 16 lâmpadas de Jablochkoff, perto da Ópera de
Paris. Um ano depois, a primeira companhia, Califórnia Electric Light Co., instalou
geradores Brush alimentando lâmpadas de arco e já vendia eletricidade nos Estados
Unidos. Em 1880 seguiu-se Nova Iorque e, à medida que a lâmpada elétrica de
ampola se desenvolvia, o progresso tornou-se rápido. Em 1882, Thomas Alva
Edison abriu a estação produtora de energia elétrica de Pearl Street, da Companhia
de Iluminação Elétrica Edison, Nova Iorque, que fornecia corrente elétrica para 800
lâmpadas e, em pouco mais de um ano, este número aumentava para 12.732, e
Edison havia, entretanto, inventado um contador para ser usado pelo consumidor.
A primeira estação hidroelétrica foi aberta em Appletown, Wisconsin, em
1882. Quatro anos mais tarde, Buffalo era a primeira cidade que contava com uma
estação geradora de corrente alternada, fornecendo eletricidade para lâmpadas e
energia em larga escala.
Daí em diante, até 1910, houve inúmeras experiências e estudos para novas
aplicações da eletricidade, apesar de, até então, várias vezes tenham sido evocadas
as possibilidades de novas aplicações. Exemplo disso foi a demonstração feita em
1803 durante a realização da Feira de Viena, onde praticamente todas as aplicações
da eletricidade foram expostas: o fogareiro elétrico, caçarolas, almofadas e lençóis
elétricos. Data de 1865 o mais antigo aspirador de carpetes e máquinas de lavar
pratos utilizando o princípio da força centrífuga, e as primeiras máquinas de lavar
roupa foram comercializadas em 1869. A Feira Mundial de Chicago em 1893 teve
muito a ver com a rápida disseminação da aparelhagem elétrica.
Depois de 1910, a tração elétrica e o consumo de energia para outros fins
passaram a utilizar a eletricidade intensamente. O abastecimento aos carros
elétricos, lâmpadas e motores veio regularizar esta carga errática das estações
geradoras que começaram a produzir de forma contínua e econômica.
Foi, portanto, a partir de 1920 que o consumo de eletricidade ascendeu de
forma constante devido ao desenvolvimento das centrais hidroelétricas e à utilização
desta modalidade de energia nas indústrias. Tais usos podem ser exemplificados
pela sua utilização na metalurgia dos aços especiais e do alumínio e na produção de
carburetos e outros produtos químicos.
33
Na história da eletricidade, da qual foram destacados aspectos mais
abrangentes, facilmente pode-se situar que eram contemplados mais os objetos
produzidos e pouco sobre como foram feitos - o conhecimento que os
fundamentava.
Bem mais adiante, os esforços empreendidos e os detalhamentos foram
sendo conhecidos; ainda que restritas, as explicações do processo e de seus
resultados eram dados a conhecer, na forma de tratados. Apenas para recordar
alguns deles, já mencionados no decorrer da explanação: “De magnete”, 1600, de
Gilbert; Tratado dos magnetes artificiais, 1750, de John Mitchell; a obra Comentários
sobre as forças da eletricidade em movimento muscular, 1791, de Luigi Galvani; a
obra História e estado presente da eletricidade, com experiências originais, 1776, de
Joseph Priesley; Concepções e teorias da eletricidade, 1800, de Volta;
Demonstração prática da indução eletromagnética, 1831, de Michael Faraday.
Na seqüência, alternam-se as descobertas científicas, as aplicações
científicas e os produtos delas resultantes, porém nem sempre isso ocorre de forma
simultânea, daí outra distinção precisa ser estabelecida entre invenção e inovação.
A invenção, a grosso modo, corresponde à aplicação técnica, tendo como resultado
um novo produto, e a inovação representa a aceitação social pelo produto e/ou a
sua absorção.
A descrição sobre as questões internacionais, conforme se optou fazer
inicialmente, justifica-se pela precedência que tem sobre as nacionais e serve, entre
outras coisas, para revelar as inclinações que existiram a partir de um determinado
período em associar a teoria e a prática no setor elétrico. Entretanto, a associação
direta e imediata entre inventos e aplicações industriais por si só não se configura
como Tecnologia, tampouco a indústria de equipamentos elétricos pode ser
interpretada como representante dos avanços técnico-científicos. Há, entretanto,
raras e honrosas exceções.
2.8 TÉCNICA E TECNOLOGIA
Algumas questões objetivas, porque impregnadas de significado, merecem
ser tratadas e também porque, ao lado da especificidade do conhecimento científico,
também fundamentam e dão sentido ao conjunto deste trabalho.
34
Recorre-se, como elemento de reflexão a questões relativas da História da
Técnica e da Tecnologia, pois elas fazem parte do cenário em que ocorrem os já
descritos avanços científicos.
Embora sejam expressões veiculadas atualmente com certa regularidade,
nem sempre expressam os conflituosos excessos presentes nas combinações entre
conceitos, concepções, definições de Técnica e Tecnologia, porque invariavelmente
aparecem associadas, confundindo e, assim, dificultando a compreensão de cada
uma delas quanto às distinções e nexos existentes. Sabe-se, entretanto, que estas
expressões guardam entre si diferenças substanciais, nem sempre observadas. Para
remover, ao menos em parte, a visão reducionista estabelecida e que persiste,
sabidamente, por razões ideológicas e superficiais - fonte de infindáveis debates -,
decidiu-se retomar a questão do ponto de vista teórico.
Dentre as conseqüentes formulações teóricas, interessa destacar agora
apenas duas questões levantadas em estudos sobre a Técnica e a Tecnologia por
considerá-las relevantes ao que se pretende. Num primeiro momento, cumpre
reconhecer que Técnica e Tecnologia, segundo GAMA, representam categorias
distintas, que precisam ser examinadas separadamente. Num segundo momento
reconhecer aspectos diferenciadores entre Técnica e Tecnologia.
Adotar esta visão como fundamento de análise de outras causas significa
também ter claras essas distinções, que não correspondem a pormenores ou
simplesmente detalhes. Ao contrário, estimulam, ampliam e enriquecem o debate.
Tratam de pontos de referência julgados necessários para demarcar o plano teórico
consistente quanto à força argumentativa, à substancialidade, porquanto a
credibilidade das concepções encontradas na vasta obra deste conceituado autor.
Quanto aos aspectos relativos à Técnica, referencia-se a conceituação
adotada por GAMA (1986 p30) extraída do Dicionário das Ciências Sociais12 como
sendo o conjunto de regras práticas para fazer coisas determinadas, envolvendo a
habilidade do executor e transmitidas, verbalmente, pelo exemplo, no uso das mãos,
dos instrumentos e ferramentas e das máquinas.(...). Observou-se, porém, através
da exposição inicial sobre o magnetismo, que nada foi acrescentado em relação ao
que já se havia observado: os aspectos técnicos relacionados ao conhecimento
12 Alain Birou. Dicionário das Ciências Sociais. Lisboa, D.Quixote.1966.
35
empírico, as pré-condições e fatores determinantes à realização das descobertas
iniciais.
Até onde foi possível identificar, é improvável associar inteiramente o fato
relatado sobre o magnetismo aos progressos técnicos que se tornaram possíveis a
partir do estabelecimento da ciência e que foram introduzidos na seqüência em que
os resultados eram comunicados - a natureza espontânea, através da qual ocorre a
descoberta, e a conceituação proposta parecem ter ficado à margem quando o autor
se refere à “transmissão”. O registro é necessário para o entendimento daquilo que
se compreende por Tecnologia, tanto do ponto de vista da concepção quanto da
localização histórica.
Este fato remete aos encaminhamentos feitos por GAMA (1987, p.30), sobre
Técnica e Tecnologia. Técnica: conjunto de regras práticas para fazer coisas determinadas, envolvendo a habilidade do executor e transmitidas, verbalmente, pelo exemplo, no uso das mãos, instrumentos e ferramentas e das máquinas. Alarga-se freqüentemente o conceito para nele incluir o conjunto dos processos de uma ciência, arte ou ofício, para obtenção de um resultado determinado com o melhor rendimento possível. Tecnologia: estudo e conhecimento científico das operações técnicas ou da técnica. Compreende o estudo sistemático dos instrumentos, ferramentas e das máquinas nos diversos ramos da técnica, dos gestos e dos tempos de trabalho e dos custos, dos materiais e da energia empregada.
Reconhecer os aspectos diferenciadores entre Técnica e Tecnologia seria o
segundo momento da análise. Implica também reconhecer que, entre outros,
igualmente importantes estudiosos na área de História da Técnica e da Tecnologia,
foi GAMA quem primeiro chamou a atenção para as visões reducionistas,
mercadológicas e superficiais correntes sobre Tecnologia. Preocupações alinhadas
também aparecem nas produções de NADAL (2000), ao dizer que: (...) a confusão conceitual sobre Tecnologia, estabelecida pelo senso comum vem sendo apressadamente reproduzida; prospera e por vezes impera até mesmo no âmbito da comunidade acadêmica. Sem reflexão crítica não se percebem as conseqüências que a visão reducionista sobre Tecnologia pode acarretar. Apesar de todo o esforço de desmistificação a confusão conceitual persiste. Testemunhamos, com grande freqüência, os termos Técnica e Tecnologia, invariavelmente, ou com raras exceções, apresentados como se tivessem o mesmo significado. Fonte: Técnica e Tecnologia: aparências e essência. In: Arte, Técnica e Tecnologia nos caminhos-de-ferro do Paraná. São Paulo,FAU/USP.2000.
Embora essas expressões sejam veiculadas atualmente com certa
naturalidade pela maioria das pessoas, elas são utilizadas usualmente apresentando
a mesma conotação, o que faz com que se confundam num mesmo texto. Basta
examinar com atenção a mensagem em que Gama afirma que ”Técnica e
Tecnologia representam categorias distintas” que precisam ser examinadas
separadamente, que a confusão conceitual e os excessos ficam evidentes.
36
Observa e acrescenta NADAL,1995, que: (...) a percepção de que Tecnologia, conseqüentemente, precisa ultrapassar a visão simplista de instrumentos, utensílios, ferramentas e máquinas. Assim sendo, torna-se tão imprescindível quanto urgente a superação da deficiência, quase crônica, de associar Tecnologia a objetos, numa clara intenção de coisificá-la e ao mesmo tempo, distanciando-a de sua função precípua de ocupar, ao lado da Inovação de processos, em diferentes setores da atividade humana, o seu papel fundamental na promoção do desenvolvimento econômico e social.
Por se considerarem sensatas as observações anteriores, quanto à visão
reducionista de Tecnologia, optou-se neste trabalho acompanhar esta linha de
raciocínio até porque revela claras vinculações com o que disse Marx a esse
respeito: o que distingue as diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas
como se faz, com que meios de trabalho se faz. Na célebre obra, O Capital, Marx
procura provar que o mal do mundo repousa, exclusivamente, na má distribuição das
riquezas e separa ontologicamente o instrumento da máquina.
Assim, novamente, recorre-se à outra formulação de GAMA para Tecnologia. A tecnologia é o estudo sistemático dos instrumentos, dos procedimentos e métodos que se empregam nos diversos ramos da técnica. Esta disciplina, essencialmente prática nasceu com o aparecimento da ciência aplicada. Antes disso os vários ofícios aprendiam-se empiricamente: a criação e utilização dos instrumentos necessários faziam-se por transmissão direta, pela destreza etc. A tecnologia é a aplicação dos métodos das ciências naturais e das ciências físicas ao exercício de uma atividade a fim de conhecer todas as leis intervenientes, de criticar e aperfeiçoar os processos e de comunicar o seu conhecimento pelo ensino técnico. (GAMA,1982,p, 163)
Nessa perspectiva, tem-se que a tecnologia estuda cientificamente a técnica e
o uso dos meios de trabalho, portanto é uma ciência e, assim sendo, ocupa-se da
revelação do segredo do saber-fazer técnico em diversos campos do conhecimento.
Ou seja, gerar o conhecimento e promover a sua transmissão, tendo como função
alimentar e realimentar o processo produtivo no interior das relações sociais,
transformando realidades em diferentes segmentos.
Esta compreensão vem sendo utilizada em trabalhos que abordam outros
temas explorados em História da Técnica e da Tecnologia, que originalmente nela se
apóiam reforçando esta mesma referência. Contudo, a ênfase se faz necessária,
justamente para salientar a sua força explicativa, cuja consistência se amplia pelos
exemplos enriquecedores e que aguçam o interesse pelo seu aprofundamento.
Dissociado da conceituação veiculada nos apelos de mídia, como sendo o
aperfeiçoamento de máquinas, utensílios e artefatos, encontra-se o pensamento de
Gordon Childe, citado por Gama no livro Engenho e tecnologia: (...) a Tecnologia deveria abranger o estudo das atividades que têm por objetivo a satisfação das necessidades humanas e que produzem alterações no mundo físico. (...) ampliou-se o conceito do termo para incluir o resultado de tais atividades. Tomada nesta acepção, toda
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Tecnologia, como a própria vida humana, envolve a cooperação regular e habitual dos membros de um grupo humano, de uma sociedade. O caráter de cooperação do grupo, em qualquer época, é afetado pelo seu tamanho, pelas necessidades reconhecidas pela sociedade e pelo relacionamento entre os seus componentes (organização social). (GAMA, 1986, p.44)
Aqui se acrescenta a justificativa: Depois de estabelecer a diferenciação entre Técnica e Tecnologia, tem-se claro o significado e a finalidade de cada uma. Cumpre dizer que é possível crer que Tecnologia, como ciência do trabalho, resulta da atividade humana e, necessariamente, encontra-se inserida num contexto histórico, cultural, social, econômico e político. Portanto, tecnologia e trabalho se confundem no momento em que se pretende compreender o processo de organização da sociedade através dos Modos e Meios de Produção. Fonte:(Projeto do Grupo de estudos Trilogia: Arte, Técnica e Tecnologia, 2001)
Nisto reside, em grande parte, o sentido humanista do significado de
tecnologia, a tônica que perpassa estudos e debates empreendidos pelos membros
do Grupo Trilogia: Arte, Técnica e Tecnologia13 encetado por Maria Vilma Rodrigues
Nadal14 2000, que habitualmente prima pela observância dos princípios das ciências
humanas nas formulações relacionadas à Tecnologia.
Para aquecer o debate, NADAL se pronuncia, sempre que precisa rebater a
crença utópica da “tecnologia transferida comprada, vendida enfim comercializada”,
adotada e exibida em linguagem corrente por alguns descuidados simplistas,
quando diz: Se considerássemos tecnologia somente ciência aplicada, bastaria a “transferência”, que o desenvolvimento tecnológico estaria assegurado como um processo automático e universal, podendo ocorrer em todas as sociedades de modo instantâneo. Isto porque, sendo pensado e regulado pelas leis e valores de racionalidade instrumental e eficácia e ditado pelo sistema econômico hoje universalmente vigente, independe da vontade dos indivíduos para se estabelecer. Ao sobrepor-se aos aspectos culturais e se subordinar à vontade humana é indubitável a funesta conseqüência: da óbvia aproximação mais a um absolutismo tecnológico do que ao almejado desenvolvimento tecnológico. Diante do impasse, a opção que se tem aponta dois caminhos: a deliberada resistência conseqüente ou optar pela multiplicação do discurso da moda. Razão pela qual insistimos na importância da interpretação honesta da Tecnologia, isto é, como produto das relações humanas no mundo do trabalho, portanto, a ciência do trabalho e que não se restringe apenas à “aplicação da ciência”.
Desde que foi criado em 2001, no Estado do Paraná, o Grupo elaborou um
escopo teórico centrado nessa linha de pensamento no qual a coordenadora e seus
membros mais atuantes vêm contribuindo ao seu aprofundamento através de
13 Grupo de estudos e pesquisas idealizado e dinamizado no Estado do Paraná desde fevereiro de
2001. 14 Pedagoga - Supervisora de Ensino; Mestre em Educação pela UFPR;
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP; Docente e Pesquisadora do Programa de Pós Graduação em Tecnologia - PPGTE até 2003. Coordenadora do Grupo Trilogia: Arte, Técnica e Tecnologia - PR.
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encontros periódicos para estudos e discussões e com a realização de pesquisas
coletivas e individuais nesta direção.
Outro aspecto que convém sublinhar neste trabalho é que os esforços foram
conjugados na direção de ultrapassar a visão do senso comum quanto à
compreensão de tecnologia, para o que se destacam fatores particulares
compartilhados pela via acadêmica e pelos Centros de P&D, como é o caso do
LACTEC.
Neste instante importa observar que ingredientes não apenas técnicos fazem
parte do contexto. Forças políticas e interesses econômicos não podem ser
desconsiderados.
2.9 ENERGIA ELÉTRICA: FORÇA NO IMPULSO ECONÔMICO NACIONAL
Ainda que marcadamente tenha sido no eixo Rio - São Paulo que o capital
estrangeiro teve maior poder de penetração e instalação em atividades produtivas,
foi na primeira metade do século XX que desabrocha, não por acaso, o Brasil.
Capitais estrangeiros são investidos em setores ainda não cobertos pelos
nacionais, como ocorreu no setor de energia elétrica, uma vez que se tem um Brasil
cuja maturidade para a ascensão no processo de industrialização estava longe de
ser alcançada.
Este fato fica mais evidente após a Primeira Guerra Mundial, com a intensa
penetração dos capitais norte-americanos em atividades produtivas, sobretudo nos
setores primário e secundário nacionais. Entretanto, representa um projeto nada
revolucionário do ponto de vista das alterações sociais substantivas.
No que se refere às aplicações industriais, pouco se pode relatar, uma vez
que o processo de industrialização ainda incipiente, impulsionado pela monocultura -
a cafeicultura, riqueza agrícola que estimula a indústria manufatureira em São Paulo
- favoreceu, entre outros setores, a indústria, com a construção de ferrovias e
investimentos em energia elétrica. Também a indústria têxtil que, até 1907, tinha a
maioria de suas máquinas movidas a vapor.
Para exemplificar, em 1889, capitalistas canadenses formaram, em Toronto, a
São Paulo Light and Power Co., com capital de 6 milhões de dólares, para geração,
uso e venda de eletricidade, incluindo a exploração de telégrafos, telefones e
transportes urbanos. Antes, porém, é preciso destacar a iniciativa de fazendeiros-
empresários que fundaram várias companhias para o fornecimento de energia
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elétrica em São Paulo - a Cia. Água e Luz do Estado de São Paulo - que foi
rapidamente incorporada pela São Paulo Tramway, Light and Power Co, de Toronto.
Apesar de não ter sido uma aceitação passiva, deu-se o monopólio da Light - a
chamada “polvo canadense” - obtido através da concessão através da Lei Municipal
nº 528 de julho de 1901.
Evidencia-se, dessa forma, que elementos de outra ordem, que não os
técnicos, fazem parte do contexto. Forças políticas e interesses econômicos não
podem ser desconsiderados. O artigo veiculado num periódico nacional de ampla
circulação “O Cruzeiro”, 1928, pode ajudar a entender o que pensavam sobre o
futuro, agora presente, e que estamos a revelar através deste estudo. A Éra das Forças Hydraulicas –site citado nas referências
Anno 2000. A população do Brasil attingiu 200 milhões de pessoas a precisarem de energia para as suas multiplas actividades: compreende-se como essa necessidade levou ao aproveitamento das forças hydraulicas. Lentamente, medrosamente, a principio, essa utilização de energia se foi, depois, aos poucos accelerando. No anno 2000 já estão longe os tempos em que ainda se importavam carvão e petroleo! Esses recursos primitivos, condemnados pelo progresso da technica, foram desapparecendo, passando a constituir apenas uma recordação historica. Os 50 milhões de cavallos-vapor de energia hydro-electrica, utilizados no Brasil, no anno 2000, equivalendo ao trabalho mecanico de 600 milhões de homens, a população brasileira, do ponto de vista energetico, é então computavel em 800 milhões. Nessas condições, não admira que sejam enfrentados e convenientemente resolvidos os problemas da producção. As questões nacionaes são, então, estudadas por gente competente, tendo acabado, ha muito, a influencia dos politicos profissionaes. A Natureza, dia a dia dominada, é cada vez mais perfeitamente aproveitada. A luta do homem para o progresso passou a ser travada especialmente nos laboratorios de pesquisa. Ahi é que perscrutam, pacientemente, os segredos da Natureza, e dahi é que saem os processos, cada vez mais aperfeiçoados, de dominio da energia cosmica. Como estamos longe dos tempos em que nem havia Universidade no Brasil, a nao ser umas instituições de fachada, formadas por escolas exclusivamente para ensino profissional, e onde a pesquisa scientifica não se podia fazer! Todas as actividades industriaes foram avassaladas pela energia electrica. São as industrias electro-chimicas, num desdobramento maravilhoso; é a electro-metallurgia; é, ainda, a energia para tudo. As distancias desappareceram, por assim dizer, desde que se resolveu o problema de irradiação da energia. Lembram-se todos como começou a ser resolvida essa questão. Foi, a principio, a radio-telephonia, logo seguida da radio-photographia. Pouco depois, irradiava-se energia pra fins industriaes, e os motores electricos com energia irradiada se installaram em todos os vehiculos: bondes, trens, automoveis, aeroplanos, navios; e em todas as fabricas; e em todos os logares onde a energia se faz precisa. O problema da distribuição da energia passou, desde então, a ser uma questão definitivamente resolvida. Transformara-se, com isso, a vida, que Nietzsche affirmou ser, essencialmente, uma aspiração á maior somma de poder, numa vontade que permanece, intima e profunda, em
40
todo ser vivo. A luta pela existencia, pelo poder, pela preponderancia, com a nova forma de distribuição de energia passara a ser uma luta pela posse da energia electrica. A importancia dos povos se alterara, sendo regida a sua classificação pelo valor das reservas em forças hydraulicas. É assim que o 1° lugar passara a ser da Africa, com os seus 190 milhões de cavallos-vapor hydro-electricos. Em 2° logar vinha a Asia, com 71 milhões. A America do Norte, com 62 milhões, ficara em 3° logar, e a America do Sul em 4° logar, com 60 milhoes de cavallos-vapor hydro-electricos, dos quase 50 cabendo ao Brasil. A Europa, com 45 milhões de cavallos, ficara tendo atrás de si unicamente a Oceania, com 17 milhões. Cabia agora o dominio aos povos que dispunham de maior somma de energia hydro-electrica. Passara o tempo do imperialismo do carvão e do petroleo, e chegara a era da energia electrica. Os 445 milhões de cavallos-vapor, em que se orçara a energia total das forças hydraulicas da Terra, passaram a regular decisivamente a importancia relativa das 5 partes do mundo. Ainda ha, no anno 2000, philosophos a indagarem se o progresso existe, affirmando que o que interessa não é poder ser enviado o pensamento á volta da terra, em alguns segundos, mas sim saber se esse pensamento é melhor, mais profundamente humano, mais justo. A vida, em todo caso, mudou completamente. Melhor? Peor? - É difficil sabe-lo. Mas, seguramente, é differente. É a era da electricidade. A differença entre a vida de então e a dos anteriores é alguma coisa como a differença hoje
existente entre a vida dss grandes cidades e a do campo. O ambiente é outro. Outra é a organização da vida. Cada vez o homem se afasta mais da Natureza. Primeiro, liberta-se do dia e da noite. A luz artifical permitte-lhe a vida nocturna absolutamente igual á do dia; a luz solar não é mais reguladora dos habitos quotidianos. A vida em grandes aglomerações vae, aos poucos, deixando em todos os habitos a sua marca. As facilidades augmentam para tudo e os multiplos actos da vida se vão, lentamente mas constantemente, adaptando á nova ordem das coisas. O tempo se distribue de outro modo, e os affazeres são outros. Outros são, tambem, os divertimentos. Insensivelmente, as differenças se vão accentuando. As viagens e os proprios passeios diminuiram muito, desde que, sem sair de casa, pode-se ver o que ha em qualquer parte da Terra: a televisão, juntada á telephonia, modificou radicalmente os habitos.
Não ha necessidade de sair para fazer compras: vê-se, escolhe-se, encommenda-se tupo pelo telephone-televisor automatico. Não ha mais necessidade de viajar, para ver terras longinquas: é só ligar o receptor, e visita-se, commodamente, qualquer museu, ou qualquer paiz. Sómente os objectos devem ser transportados. Na era da electricidade o rei dos metaes é o aluminio, retirado das argilas pela energia electrica. O aluminio supplantou, com as suas ligas, o ferro, pesado demais e facilmente oxydavel, e ainda substitui o papel, tão facilmente deterioravel. De aluminio são os livros. É em folhas de aluminio que se escreve. A era da electricidade se caracteriza, essencialmente, pelo emprego da electricidade em todas as formas de energia. Energia luminosa: tudo se iluminna electricamente. Energia chimica: tudo deriva da electricidade. Energia thermica: tudo se aquece ou se resfria pela electricidade. Energia mecanica: tudo se movimenta pela electricidade. Servindo para tudo, a energia electrica passa a ser a nova moeda. O ouro e as suas representações são formas obsoletas de medir valores. A moeda, no anno 2000, é, tambem, a energia electrica. Pagam-se as compras em kilowatts. Paga-se o trabalho en kilowatts. A revolução trazida é principalmente nos habitos. Continúa a haver desigualdades sociaes. Ha ricos, possuidores de milhões de killowatts-horas, remediados, que têm alguns milhares de unidades de energia; e pobres, que dispõem apenas de algumas unidades. É verdade que não ha mais fome, desde a adopção do trabalho obrigatorio minimo, nas usinas distribuidoras de energia. Mas as questões sociaes continuam. Muitos pretendem estender o dominio da actividade industrial do Estado. Parece-lhes insufficiente o monopolio governamental das usinas geradoras e distribuidoras de energia. Começou a questão
41
a proposito da regularização do clima. Uma vez reservada para o Estado a faculdade de provocar as chuvas pela energia irradiada ás nuvens, determinando-lhes a condensação, pareceu a muitos que se deveriam ampliar ainda mais as horas de trabalho obrigatorio minimo, servir-se-ia melhor a colectividade minima do trabalho. Só haveria vantagens nisso. Objectam, porém, alguns ser o caso das usinas de energia, evidentemente, especial. Da mesma forma, o da distribuição das chuvas, vantajosamente affecto ás autoridades, para beneficio geral. A Repartição das Chuvas, dispondo de todo o serviço official de estatistica, e em connexão com os demais repartições do Ministerio da Agricultura, é uma organização que se resolveu dever ser do Estado. Ampliar, porém, ainda mais os serviços governamentaes, numa socialização progressiva de todas as actividades, não merece as sympathias de um grupo numeroso. Já todos os homens e todas as mulheres, maiores de 18 annos, são obrigados a um serviço diario de 2 horas. Breve serão 3 horas. Onde se irá para nesse caminho? Invocam-se contra as idéias de socialização os velhos principios da liberdade individual. A questão está, assim, longe de ser resolvida. Sonho? - Sim. Mas o sonho de hoje poderá ser, amanhã, realidade. Sabe-se lá até onde nos levará a evolução que hoje se processa tão aceleradamente? Como será a vida no anno 2000? A inserção do Brasil à condição de país em processo de industrialização vem ocorrendo de forma lenta e gradual, em que se alternam períodos de avanço e estagnação. As condições gerais nacionais apontavam, em fins do século XIX, mais para as então restritas possibilidades de alçar vôo do que para grandes perspectivas, a exemplo do que estava ocorrendo no cenário internacional em países em desenvolvimento. Revista O Cruzeiro, http://www.memoriaviva.digi.com.br/ocruzeiro/10111928/101128_3.htm acessado em outubro de 2005.
O artigo acima mostra uma visão romântica e futurista da importância da
eletricidade no ano de 1928, tanto que a imagina se transformando em moeda de
troca. Nos ditames dos acertos e erros afeitos às previsões é muito próximo do que
vemos atualmente, com destaque para a análise social.
42
3 O ESTADO DO PARANÁ, A ENERGIA ELÉTRICA E SUA RELAÇÃO NA DETERMINAÇÃO DOS PÓLOS INDUSTRIAIS.
Através desse capítulo considerou-se importante apresentar algumas
informações sobre o Estado do Paraná, as quais ilustrarão afirmações sobre o tema
central desta dissertação.
No Paraná e para os paranaenses, a história da energia elétrica é parte de
seu cotidiano. Em conseqüência das muitas polêmicas em torno do tema e do
potencial hidroelétrico conhecido em todo o Brasil, o povo paranaense conhece e
valoriza essa atividade.
O Paraná emergiu com vigor, ao final do século XIX, quando
coincidentemente a energia elétrica começava a ser utilizada como base energética
para a vida urbana e industrial. Por diversas razões, pode-se afirmar que o
desenvolvimento do Estado encontrou na eletricidade uma base vital e oportuna: Assim o ideal de bem estar identifica-se diretamente com as noções de progresso e modernidade. Para aqueles que podem viver dentro dessa nova ordem, não usufruir as novas conquistas tecnológicas, como a eletricidade, significa abrir mão do conforto e, como tal, uma postura retrógrada e antiquada. (A vida cotidiana no Brasil moderno, 2001, p.67)
3.1 DESCRIÇÃO FÍSICA DO ESTADO DO PARANÁ E ASPECTOS HISTÓRICOS
DE RELEVÂNCIA CONFORME O TEMA PROPOSTO - INÍCIO DO
DESENVOLVIMENTO COM A MONOCULTURA
Mais distante de Portugal, a Região Sul do Brasil teve ocupação tardia. A
presença formal européia no Paraná, início de sua história, ocorreu no século XVII,
quando foi fundada a Vila de Paranaguá, com a chegada em 1640, do Capitão
Provedor Gabriel de Lara, de fidalga família com investidura de governo militar. Em
1646, mandara erigir o Pelourinho, símbolo de poder e justiça de El-Rei. Em 1648,
tornava-se a Vila de Nossa Senhora do Rocio de Paranaguá. Primeiro município
fundado no Paraná, em razão de um desenvolvimento rápido, foi transformada pelo
Marquês de Cascais em Capitania, na data de 8 de março de 1655. Nessa primeira
etapa, procurava-se ouro e a posse e fortalecimento de terras ao sul do Brasil, junto
à fronteira com as terras de ocupação espanhola.
A energia utilizada para todos os fins era a lenha. Entretanto, a baleia, cuja
pesca era intensa nas costas brasileiras, fornecia óleo para iluminação e
composição de argamassa, o qual se verifica na composição da massa aglutinante
de tijolos, que ainda estrutura prédios históricos na região litorânea do Paraná.
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Imigrantes não-portugueses começaram a chegar ao Estado a partir de 1829,
acrescentando habilidades e atividades em seu processo de formação. Nesse
tempo, a Europa era um continente imerso em conflitos e com problemas sociais
enormes, estimulando a emigração, que se reforçava por campanhas de atração de
mão-de-obra para os países americanos.
No Paraná, primeiramente, vieram os alemães que se estabeleceram no Sul
do Estado. Depois vieram os franceses, suíços, ingleses, poloneses, italianos,
ucranianos, espanhóis e, mais tarde, os holandeses e japoneses.
Em princípio, a imigração era estimulada pelo governo imperial, num esforço
de ocupação das terras ao sul diante dos conflitos de fronteira, consolidação de
posse e ação de piratas na região.
Outro aspecto relevante a ser mencionado é que o Paraná estava no roteiro
dos tropeiros, gente que buscava no sul do Brasil o charque e o couro para a
população mais desenvolvida do Brasil, na Região Sudeste. Os Campos Gerais
eram parte desse caminho que viabilizou o surgimento de muitas cidades,
destacando-se Castro, Ponta Grossa, Jaguariaíva e Piraí do Sul.
A ampliação do comércio entre a região de mineração e o extremo sul da
colônia (BRASIL) motivou a abertura de uma estrada ligando Curitiba à Colônia de
Sacramento. Os caminhos atravessavam os Campos Gerais, onde tropeiros
conduziam o gado e muares de Viamão, no Rio Grande do Sul, para a comercializá-
los em Sorocaba, São Paulo. Destaca-se que tais percursos se tornaram artérias
econômicas e culturais no sul do Brasil. Assim, no início do século XVIII, a Região
adquiriu identidade cultural e formação histórico-regional característica. O tropeiro,
figura comum na formação do sul brasileiro, configurou-se elemento comum e típico
nos Campos Gerais.
As fazendas e invernadas da Região deram origem a povoados, vilarejos,
vilas e cidades. No decorrer dos últimos três séculos, os Campos Gerais se
constituíram fundamentais para a formação e o desenvolvimento do Paraná. Os
caminhos abertos no início do século XVIII continuaram servindo como principais
vias para o comércio e a integração entre o extremo sul e o restante do país.
Paralelamente, o Paraná teve a cultura da erva-mate, começando uma base
econômica visível aos tropeiros de passagem e fixando viajantes nas terras
paranaenses. Torna-se interessante registrar que, até o início da Primeira Guerra
Mundial, o mate era considerado o esteio econômico do Paraná. No início do século
44
XX, contudo, a madeira começou a conquistar a condição de principal produto.
Nesse início de século, havia no Paraná mais de noventa engenhos para beneficiar
a erva-mate, sendo o produto exportado, sobretudo para o mercado platino.
A qualidade de suas terras e os espaços livres para ocupação atraíram
brasileiros de outros estados, especialmente Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
São Paulo e Minas Gerais. Eram, em sua maioria, imigrantes empreendedores que a
partir de 1900 fizeram surgir cidades, cooperativas e empresas agrícolas.
Pode-se notar que o Paraná sobreviveu economicamente à base de ciclos em
cuja economia se ancorou basicamente um produto, da erva-mate para a madeira,
da madeira para o café, depois a soja, diversificando sua economia somente a partir
da segunda metade do século XX.
A fim de evidenciar alguns indicadores econômicos paranaenses, visitou-se a
página eletrônica na Internet (jul. 2004 <http://www.totaltrade.com.br/
PAGES/OPARANA1.htm>), de onde foram extraídos os números de produção
apresentados no texto em seqüência.
Conforme o referido site, a produção declinou a partir da década de 70 do
século passado, agravada pelas fortes geadas do ano de 2000; a se considerar que
a safra de café do Estado registrou grandes perdas – a produção foi de 25,5 mil
toneladas, muito abaixo das 120 mil toneladas da safra 1999/2000. A área plantada
também registrou grande redução, de 142 mil para 59,7 mil hectares, com o Paraná
situando-se, em 2003, no sexto lugar do ranking nacional na produção de café.
O café passou a ser substituído por diversos cereais que, por sua vez, deram
viabilidade à agroindústria, possível devido à existência de energia elétrica em
abundância, quando se consegue agregar valor ao produto e, deste modo
incrementar mão de obra em crescente demanda.
Ao cumprir sua vocação no setor produtivo, os agricultores do Paraná
colheram um total de 30,89 milhões de toneladas de grãos na safra 2002/2003, em
uma área de 9,4 milhões de hectares, somando-se às culturas de verão com
produtos tais como: algodão, amendoim, arroz, feijão, milho e soja; além das
culturas de inverno, com destaque para a safra do trigo e triticale - híbrido de
semente de trigo com centeio - que colheu 3,12 milhões de toneladas, com
crescimento de mais de 90% sobre a safra de 2002.
45
O resultado da produção somou R$ 27 bilhões à economia estadual em 2003,
colocando a safra paranaense com cerca de 25% da safra brasileira, que foi de
122,4 milhões de toneladas, no ano de 2003.
Por suas características relacionadas à agropecuária, à avicultura e à
pecuária também cresceram. De fato, o Paraná alcançou, em 2003, o posto de maior
produtor de aves do país, com o abate de 55 milhões de cabeças mensais em
média. O Estado produz 100 mil toneladas/mês de carne de aves, quase 20% da
produção nacional, que ainge 520 mil toneladas por mês. Possui ainda 10,3 milhões
de cabeças de bovinos, e 4,2 milhões de cabeças de suínos.
A visão do governador Ney Braga, que não era diferente da imaginada por
diversas lideranças à época, foi um ponto de partida administrativo do estado,
promovendo mudanças significativas na estratégia de desenvolvimento.
Em seu discurso proferido em 31 de janeiro de 1961 Ney Braga afirma que : (...) Uma das etapas do nosso programa procurará criar condições necessárias para dar estabilidade à nossa economia e reduzir a fuga de recursos que aqui deveriam ser aplicados. Um Paraná industrializado, cuja estabilidade econômica garanta a agricultura, será possível desde que se prepare, com urgência, a sua infra-estrutura econômica nos setores de energia elétrica e transportes.(...)( Ney Braga citado por Silva, p.89,1993)
A industrialização do Estado do Paraná tornou-se significativa nas últimas três
décadas do século passado, devido a investimentos voltados à infra-estrutura e
políticas de parceria com interesses afins.
Além disso, ao final do século XX e início deste século, a economia
paranaense tem experimentando importante avanço em seu perfil industrial, com a
expansão da agroindústria, implantação de pólos de tecnologia e atração de novos
empreendimentos.
O governo estadual adotou forte política de incentivos, o que levou o Paraná
a contabilizar US$ 21,4 bilhões em novos projetos industriais nos últimos seis anos,
com a geração de 500 mil novos empregos.
Atualmente, a indústria é responsável por 35% da atividade econômica
paranaense, e obteve em 2002 o maior faturamento dos últimos dez anos, maior em
60% que o volume de 1992. As vendas industriais cresceram 9% e as compras
tiveram um aumento de 18,3%.
Ainda, o Paraná é um dos estados mais competitivos do Mercosul, não só
pelo seu potencial econômico, mas por sua localização estratégica e pela ampla
infra-estrutura de transporte, que inclui rodovias, ferrovias, portos e aeroportos de
boa qualidade.
46
No ano de 2003, o Paraná exportou US$ 7,1 bilhões, cerca de 10% das
vendas do Brasil ao exterior. Os produtos integrantes do chamado complexo soja –
grãos, farelo e óleo - foram responsáveis por um terço do volume das exportações
paranaenses. No mesmo ano, o agronegócio respondeu por cerca de 65% (US$ 4,7
bilhões) das vendas do Paraná ao exterior.
O montante das importações também cresceu consideravelmente nos últimos
anos, por conseqüência da expansão industrial, que leva o Paraná a adquirir mais
peças e insumos. O volume das importações paranaenses, no ano de 2003, foi de
quase U$ 4 bilhões, resultando um superávit comercial de US$ 3,7 bilhões no ano.
O produto interno bruto (PIB) do Estado, com esses avanços, multiplicou-se
de R$ 21 bilhões, em 1994, para quase R$ 95 bilhões no ano 2003, levando a renda
per capita no Estado a US$ 3,400.00. Do PIB paranaense, 40% têm origem no
agronegócio, sendo 29,8% originados somente na agropecuária, que registrou o PIB
de R$ 28 bilhões, em 2003.
3.2 O PARANÁ E A DISTRIBUIÇÃO DEMOGRÁFICA
Por ocasião do último recenseamento (Censo 2000), de acordo com os dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o número de habitantes do
Paraná era de 9,5 milhões, dos quais 7,7 milhões residentes na zona urbana e 1,7
milhão na zona rural.
A taxa anual de crescimento demográfico no Estado é moderada, de 1,2%.
No Paraná existem 399 municípios, que ocupam 199.554 km2,
correspondentes a uma área de 2,3% do território nacional. As maiores cidades, em
números absolutos de população, são: Curitiba, Londrina, Maringá, Ponta Grossa,
Foz do Iguaçu e Cascavel.
O Estado do Paraná se destaca nacionalmente pelo seu potencial econômico,
condição natural de sua topografia, clima e localização. Com a ampliação da
fronteira agrícola brasileira sobre o território paranaense, sobretudo na cultura
cafeeira, no começo do século XX, o Paraná conquistou uma base econômica que
atraiu imigrantes, povoando uma região antes ocupada por densas florestas. Essas
florestas, dominadas por araucárias e outras árvores de grande valor, haviam sido
objeto de atenção dos madeireiros, abrindo espaços para a agricultura, ainda que,
por sua vez, em alguns lugares a pecuária dominasse.
47
A partir da metade do século XX, o desenvolvimento econômico paranaense
transcorreu de modo acelerado, havendo, entretanto, passado por alguns
retrocessos entre os quais o maior, provavelmente, foi a erradicação do café. Tratou-
se de uma década em que cidades do interior viram diminuir suas taxas de
crescimento demográfico e, por outro lado, Curitiba passou a crescer
aceleradamente com o êxodo rural. Tal fenômeno passaria a ser objeto de estudo de
vários pesquisadores pois essa transferência em massa do campo para a cidade
selou um destino socioeconômico que mudaria substancialmente seu perfil histórico,
sem precedentes no Brasil.
Conforme o que preconiza NADAL (2000), O movimento migratório de origem rural veio sacrificar pesadamente o sistema de cidades do Paraná: 57% dos núcleos urbanos cresceram em taxas superiores ao crescimento vegetativo; a taxa de urbanização da população paranaense passou de 36% para 58%. E a concentração espacial da indústria resultou no crescimento desregrado da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a que mais cresceu em todo o país durante o período (70-80), com taxas médias de 5,8% ao ano (IN Revista Educação e Tecnologia, N.7,2003, p.96).
De acordo com o IBGE, vislumbra-se como tem sido esse processo,
particularmente no Paraná, bem como no cenário nacional. QUADRO 1 - MOVIMENTO MIGRATÓRIO NO BRASIL
1950 1960 1970 1980 1991 2000
TOTAL 51.944.397 70.992.343 93.134.846 119.011.052 146.825.475 169.799.170
URBANO 18.782.891 32.004.817 52.097.260 80.437.327 110.990.990 137.953.959
RURAL 33.161.506 38.987.526 41.037.586 38.573.725 35.834.485 31.845.211
TOTAL 2.115.547 4.296.375 6.929.821 7.629.849 8.448.713 9.563.458
URBANO 528.288 1.327.982 2.504.253 4.472.506 6.197.953 7.786.084
RURAL 1.587.259 2.968.393 4.425.568 3.157.343 2.250.760 1.777.374
BRASIL
PARANÁ
ANOESPECIFICAÇÃO
FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, 1994.
O gráfico apresentado na figura 4 mostra que até a década de sessenta o
Paraná possuía uma parcela de sua população na área rural maior que a média
brasileira. Esse cenário começou a mudar na década de setenta, quando o Estado
sofreu o fenômeno da geada negra de 1975 e a erradicação do café.
O resultado conjugado “erradicação do café / industrialização” promoveu um
forte processo de urbanização do Estado, fortalecido também pela elevação das
áreas urbanas, criando-se municípios abrangendo espaços praticamente rurais,
48
detalhe este que não é priorizado no presente estudo. O gráfico apresentado na
figura 4 mostra essa tendência a partir da década de setenta do século passado,
onde pode-se notar uma forte inflexão na taxa de urbanização do Paraná,
aproximando-se do índice nacional. FIGURA 4 - VARIAÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO RURAL E URBANA NO BRASIL
E NO PARANÁ
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
1945 1955 1965 1975 1985 1995 2005
Brasil - urbano Brasil - ruralParaná - urbano Paraná - rural
FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, 1994.
Na década de oitenta do século passado o processo de migração em direção
às cidades continuou apesar dos esforços de fixação do trabalhador no campo com
a implementação de grandes programas de eletrificação rural.
3.3 A HISTÓRIA DA ENERGIA ELÉTRICA NO PARANÁ
As primeiras usinas elétricas do Brasil surgiram no ano de 1883, em Campos
(RJ), Juiz de Fora e Diamantina (MG).
No Paraná, a energia elétrica teve início em 9 de setembro de 1890, quando o
presidente da Intendência Municipal de Curitiba, Dr. Vicente Machado, assinou
contrato com a Companhia de Água e Luz do Estado de São Paulo, para iluminar a
cidade com "uma força iluminativa de onze mil velas". Com esse contrato e uma
49
concessão de vinte anos, a Companhia instalou a primeira usina elétrica do Paraná
num terreno próximo à antiga estação ferroviária, localizada atrás do então
Congresso Estadual (hoje, Câmara Municipal de Curitiba), inaugurada em outubro
de 1892. Duas unidades a vapor fabricadas em Budapeste produziam 4.270 HP de
força, consumindo duzentos metros cúbicos de lenha por dia, biomassa que aqui era
abundante, ao contrário dos países europeus, onde o carvão era a base energética,
apoiada por um sistema de transporte eficaz.
Anos depois, em 18 de maio de 1898, a empresa José Hauer & Filhos
adquiria a concessão do contrato e da usina, cogitando aumentar a sua capacidade,
a considerar que Curitiba já contava com uma população estimada em 40 mil
habitantes.
Com a chegada do século XX, em 1901, foi instalada a primeira usina
termelétrica propriamente dita, num terreno situado na Avenida Capanema perto da
garagem ferroviária, também na Capital, onde hoje está a Estação Rodoferroviária. A
usina operava dois conjuntos geradores de 200 HP cada um, tendo sido ampliada
três anos mais tarde, com a incorporação de outro gerador de igual potência.
Enquanto isso, o contrato de concessão para a exploração e fornecimento de
energia elétrica era sucessivamente transferido. Em 1904, passou para a Empresa
de Eletricidade de Curitiba (Hauer Junior & Companhia), e, em 1910, para a The
Brazilian Railways Limited.
Somente depois de decorridos dez anos do surgimento da eletricidade em
Curitiba é que uma segunda cidade no Estado – Paranaguá – passou a contar com
tal benefício. Desse modo, em 1902, a família Blitzkow colocava em operação um
sistema de geração com dois grupos a vapor de 65 kVA. Dois anos mais tarde, foi a
vez de Ponta Grossa ter eletricidade, onde a primeira empresa a obter a concessão
foi a Guimarães & Ericksen Filho e, após conflitos, a substituta Martins & Carvalho. A
estas localidades pioneiras, seguiram-se: Campo Largo, Prudentópolis, Castro,
Guarapuava, Piraí do Sul e Campo do Tenente, todas em 1911.
Ainda pela ordem cronológica, sucederam-se: Palmeira, Irati, Ipiranga, São
Mateus do Sul, Jaguariaíva, Sengés, Tibagi, Araucária, Cambará, Rio Azul, Andirá,
Itambaracá, Santo Antônio da Platina, Antonina, Guarapuava, Rio Negro, Lapa e
Siqueira Campos, estas últimas já ao final da década de 1920.
50
FIGURA 5 - USINA DE SERRA DA PRATA - PRIMEIRA HIDRELÉTRICA DO ESTADO DO
PARANÁ
FONTE: LIVRO “A CONQUISTA DA SERRA DO MAR” DE RUBENS R. HABITZREUTER,
EDITORA PINHA
Em1910, era inaugurada a primeira hidrelétrica do Estado, a Usina de Serra
da Prata, perto de Paranaguá, com potência de 360 KW e que fornecia eletricidade
ao município até o início da década de 1970, quando foi desativada.
FIGURA 6 - USINA PITANGUI
FONTE: FOTOGRAFIA ACERVO COPEL
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Um ano depois (1911) era colocada em operação no município de Ponta
Grossa a hidrelétrica de Pitangui, com potência de 360 kW, aumentada em 1929
pelo acréscimo de mais um grupo gerador com 450 KW, que permanece em
operação e vem a ser a mais antiga usina do parque gerador próprio da COPEL.
Outras centrais desse tipo continuaram a ser instaladas, mas foi somente em 1930
que se inaugurou uma usina considerada grande para os padrões da época, a de
Chaminé, com 9 MW, implantada na Serra do Mar, nas proximidades de Curitiba. A
usina passou mais tarde por ampliações e permanece em operação até hoje, com
potência instalada de 16 MW.
FIGURA 7 - USINA DE CHAMINÉ
FONTE: FOTOGRAFIA ACERVO COPEL
Algumas indústrias também começaram a instalar geradores para consumo
próprio, como, por exemplo, as Indústrias Reunidas F. Matarazzo, para movimentar
um moinho de trigo junto ao porto de Antonina, em 1921, e, em 1925, para fazer
funcionar um frigorífico e uma indústria têxtil em Jaguariaíva. A Companhia
Melhoramentos do Norte do Paraná instalou uma pequena usina em Cianorte para
atendimento restrito, e as Indústrias Brasileiras de Papéis, em Arapoti, passou a
contar com eletricidade em 1926.
52
Fato importante para a história da energia elétrica no Paraná ocorreu em 18
de julho de 1928, quando foi assinado o contrato de concessão de distribuição de
energia elétrica em Curitiba, entre o Governo do Estado e o Grupo de Empresas
Elétricas Brasileiras que, em seguida, transferiu o compromisso à Companhia Força
e Luz do Paraná, constituída naquela ocasião. A área da capital paranaense contava
então com 2.590 kW de capacidade geradora e 7.543 unidades consumidoras.
Do ponto de vista dos avanços técnicos as primeiras usinas geradoras de
eletricidade instaladas no Paraná eram movidas a vapor, posteriormente com o
desenvolvimento desses avanços foram inseridos grupos geradores diesel
(Paranaguá, Maringá, Curitiba (bairro do Capanema),Foz do Iguaçu, e outras)
construída a termoelétrica de Figueira, a carvão, que entrou em operação em 1963
no município de Figueira.
Os empreendimentos no setor de energia já tinham, então, o respaldo do
Código de Águas, instituído pelo decreto-lei n.º 24.463, de 10 de julho de 1934; e do
Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (lei n.º 185, de 1939), que permitiam
ao poder público o início da coordenação do setor, até então vulnerável e quase
integralmente dependente da iniciativa privada.
Assim, com o apoio do Plano Nacional de Eletrificação, que preconizava a
intervenção direta do Estado na área da produção de energia, foi criado o Serviço de
Energia Elétrica do Paraná, o qual, um ano depois, foi transformado no
Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).
Por volta de 1948, a potência instalada em usinas no Paraná totalizava
43.195 kW. Fora da região de Curitiba, atendida pela Companhia Força e Luz do
Paraná, o Sul do Estado (regiões da Lapa, Rio Negro e Campo do Tenente) recebia
energia da Empresa Sul Brasileira de Eletricidade e da Empresa de Eletricidade
Alexandre Schlemm, esta, atendendo União da Vitória e Porto União.
Por sua vez, as cidades de Ponta Grossa, Castro e Piraí do Sul eram
abastecidas pela Companhia Prada de Eletricidade. A Companhia Hidro Elétrica do
Paranapanema atendia a vinte municípios do Norte Pioneiro. As cidades de
Londrina, Arapongas, Cambé, Ibiporã, Rolândia e Jataizinho eram abastecidas pela
Empresa Elétrica de Londrina S/A.
Para projetos de eletrificação, o Estado utilizava o seu Departamento de
Águas e Esgotos (DAE). Acima de tudo, contava ainda com empresas privadas que
produziam e distribuíam energia elétrica, em diversos sistemas isolados. Sob tais
53
condições, o atendimento era precário, frágil e limitador do desenvolvimento.
Consciente dessa realidade, que não era exclusiva dos paranaenses, o Governo
Federal e os estaduais promoveram mudanças institucionais, criando as empresas
federais para produção e transmissão de energia elétrica a grandes distâncias e as
estaduais, para distribuição.
Por meio do decreto n.° 4.947, de 26 de outubro de 1954, o governo estadual
criou a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL), tendo como base para
a integralização de seu capital o Fundo de Eletrificação. O reconhecimento do
Governo Federal deu-se pelo decreto n.° 37.399, de 27 de maio de 1955, que
concedia autorização para que a COPEL funcionasse como empresa de energia
elétrica nos termos da legislação federal que regulamentava o setor.
Como sociedade de economia mista, a COPEL procurava investir em obras
rentáveis. Contudo, por conceber energia elétrica como serviço público, muitas
vezes assumia obras deficitárias reclamadas pela população da capital e do interior
do Estado, cujo não-atendimento ocasionaria "problemas de ordem social".
Com o Decreto n° 1.412, em 1956, após dois anos de sua fundação, a
COPEL centralizou as ações governamentais de planejamento, construção e
exploração do sistema de produção, transmissão, transformação, distribuição e
comércio de energia elétrica e serviços correlatos. Ela incorporava todos os bens,
serviços e obras em poder de diversos órgãos e integralizava o capital aplicando os
recursos do Fundo de Eletrificação. Cabia à COPEL, portanto, a responsabilidade
pela construção dos grandes sistemas hidroelétricos previstos no Plano de
Eletrificação do Paraná.
Vale destacar que, durante a década de 1960, o maior desafio para a
Companhia era encontrar uma solução definitiva para o abastecimento de energia
elétrica em larga escala. A solução estava representada pelo aproveitamento de
Capivari-Cachoeira, projeto desenvolvido a partir de meados de 1961.
Além disso, a construção da Usina Termelétrica de Figueira, em 1963, foi
fundamental na implantação do Plano Estadual de Eletrificação. Em 1967, a COPEL
inaugurava a Usina Salto Grande do Iguaçu, que veio beneficiar dezoito municípios
e, finalmente, em 1974, inaugurava oficialmente a Hidrelétrica Capivari-Cachoeira.
Essa obra representou um passo fundamental na infra-estrutura para a aceleração
do desenvolvimento paranaense.
54
No momento da sua inauguração, Capivari-Cachoeira era a principal unidade
geradora da COPEL e a maior usina em funcionamento no sul do Brasil. Anos
depois, em 1980, era inaugurada a Hidrelétrica Foz do Areia, com 1.676 MW, com
unidades geradoras que eram então as maiores do Brasil.
Nesse período, houve no Estado um intenso crescimento do mercado de
energia, exigindo-lhe cada vez maiores esforços para atender à demanda existente.
Foram elaborados novos projetos, destacando-se o início do projeto da Usina de
Segredo e a concessão para construir a Usina Hidrelétrica de Salto Caxias,
efetivamente consolidadas na década de 1990. Inaugurada em 29 de setembro de
1992, a Usina de Segredo reduziu a dependência paranaense de energia comprada
de outros estados. Em dezembro de 1998, entrou em operação a usina Salto
Caxias, denotando-se um novo avanço na geração de energia elétrica, com
conseqüências positivas no desenvolvimento do Estado do Paraná.
FIGURA 8 - POTÊNCIA INSTALADA - KW - COPEL
0
1.000.000
2.000.000
3.000.000
4.000.000
5.000.000
6.000.000
7.000.000
8.000.000
1950 1960 1970 1980 1990 2000
POTÊNCIA INSTALADA USINAS - KW HIDRÁULICA TÉRMICA
FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, 1994.
55
A figura 8 mostra nitidamente o impacto, a partir de 1970, da entrada em
operação de grandes hidroelétricas na capacidade de produção de energia no
Paraná, além da predominância da utilização do potencial hidroelétrico do estado do
Paraná.
3.3.1 Cronologia da COPEL Desde a sua idealização, concepção e fundação, até tornar-se uma das mais
desenvolvidas companhias de energia do país, a cronologia da COPEL pode ser
registrada, conforme os itens a seguir.
3.3.1.1 Década de 1950
Na década de 1950, a energia elétrica surgiu como sustentáculo do processo
de industrialização. O poder público passou a investir com mais determinação,
culminando sua política de crescimento com a criação da COPEL, em 1954, para
preencher as lacunas energéticas do Estado.
A Empresa passou a executar projetos de geração, transmissão e
distribuição, iniciando assim uma nova fase. Com a criação da COPEL, o Governo
do Estado assumiu claramente a sua posição de executor da política de eletrificação.
Em 1956, passam para a administração da Empresa os serviços de luz e força de
Maringá, Apucarana, Pirapó, Cambará e Campo Mourão, antes administrados pelo
Governo do Estado.
Nessa fase a empresa tinha como principal fonte de geração usinas diesel,
caras e de conservação difícil, criando inúmeras dificuldades tanto para seus clientes
quanto para o povo atendido. Também nesta década a empresa começou a ter
diretores (inaugurando a lista Pedro Viriato Parigot de Souza, diretor técnico entre
1955 e 1956 e futuro presidente da empresa) oriundos da Universidade Federal do
Paraná, onde lecionavam Hidrologia, tendo participado (fundador) do atual
CEHPAR, introduziram na empresa o sentimento da importância de laboratórios para
ensaios, pesquisa e desenvolvimento.
3.3.1.2 Década de 1960
Nessa década, foram construídas as usinas de Melissa, Ocoí, Chopim 1,
Mourão 1, Salto Grande do lguaçu e Figueira, além de um sistema elétrico que
interligava as usinas geradoras com diferentes regiões do Estado. No mesmo
período, foi também concluído o denominado Sistema Tronco Principal, que
56
interligava o Estado de São Paulo ao norte do Estado do Paraná e à Usina de
Figueira e esta a Ponta Grossa e Curitiba.
O consumo na capital, no entanto, precisava ainda ser equacionado. Os
racionamentos eram constantes e o número de consumidores crescia
acentuadamente em todas as categorias. Entre 1960 e 1970, os consumidores
residenciais passaram de 17.055 para 126.528; o número de ligações industriais
cresceu de 96 para 1.833 e as localidades atendidas cresceram de 14 para 245.
Esses desafios foram enfrentados com investimentos consideráveis na construção
de grandes centrais elétricas, tanto na Serra do Mar como no Rio lguaçu.
A existência de muitas usinas e a necessidade de qualidade na medição de
faturamento e proteção de instalações levaram a COPEL a formar seus primeiros
ambientes rudimentares de laboratório.
3.3.1.3 Década de 1970 No início da década, já estavam concluídas as Usinas de Salto Grande do
Iguaçu, Júlio de Mesquita Filho e Capivari-Cachoeira, obra que representou um
passo fundamental na constituição da infra-estrutura para a aceleração do
desenvolvimento paranaense, pois, no momento da sua inauguração, Capivari-
Cachoeira era a principal unidade geradora e a maior usina em funcionamento no
sul do Brasil. Nesse período, a COPEL incorporou 23 empresas privadas, 47 órgãos
municipais fornecedores de energia e 123 empresas auto-produtoras.
Ao mesmo tempo, consolidava-se a implantação do sistema elétrico estadual
e a interligação deste com as Regiões Sul e Sudeste do país, além do Paraguai.
Salto Osório e Foz do Areia foram, nos anos de 1970, os dois maiores projetos da
Companhia. Em 1979, um decreto estadual alterou o nome da empresa para
Companhia Paranaense de Energia.
Essa fase da COPEL coincidiu com a oferta de financiamento para compra de
equipamentos de laboratório, o que foi plenamente aproveitado, colocando-a em
condições de se desenvolver rapidamente. Também nessa década encaminhou os
primeiros profissionais para cursos de mestrado em engenharia elétrica.
3.3.1.4 Década de 1980
Os anos 80 marcaram a inauguração da Usina Hidrelétrica de Foz do Areia,
hoje denominada Usina Governador Bento Munhoz da Rocha Netto (UGBM), em 12
de dezembro de 1980, com unidades geradoras que eram então as maiores do
57
Brasil. Com a operação da Foz do Areia, a geração própria da COPEL atingiria 2,9
bilhões de kWh, contra 1,9 bilhões do ano anterior.
Nessa década, as atenções estiveram voltadas ao atendimento de zonas
rurais e da população de baixa renda, quando a COPEL desenvolveu estudos para
aproveitamento futuro dos rios Piquiri e Tibagi. Foram elaborados novos projetos,
destacando-se, em 1980, o início do projeto da Usina de Segredo e a concessão
para construir a Usina Hidrelétrica de Salto Caxias, usinas estas efetivamente
consolidadas na década de 1990.
Em 1982, o Laboratório Central (LAC) era inaugurado.
3.3.1.5 Década de 1990
Inauguradas as usinas de Segredo, hoje denominada Usina Governador Ney
Braga, e de Salto Caxias, a COPEL reafirmou seu conceito de concessionária de
energia modelo para o Brasil.
Na mesma década, em julho de 1997, foi realizado o lançamento das ações
da COPEL na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Em 1998, a COPEL tornou-se a
primeira empresa do setor elétrico brasileiro a obter licença da Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL), para prestação de serviços de telecomunicações.
Das demandas verificadas e oportunidades constituídas, a Empresa criou, em
1994, o Laboratório de Materiais e Estruturas (LAME), responsável pela realização
de ensaios, análises e caracterizações de materiais, modelos estruturais,
geotécnicos, físicos e matemáticos, principalmente, aplicados em obras de
engenharia. Um ano antes, fora criado o SIMEPAR, (Instituto Tecnológico SIMEPAR) pelo
decreto estadual n.º 2152, de 17 de março de 1993, na forma de um convênio entre
o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e a COPEL. O Instituto Tecnológico SIMEPAR, entidade de direito privado e interesse público, unidade complementar do Serviço Social Autônomo Paraná Tecnologia, vinculado a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná, vem suceder o Sistema Meteorológico do Paraná, o qual foi instituído através do Decreto Estadual n.º 2152, de 17 de março de 1993, na forma de um convênio entre o Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR e a Companhia Paranaense de Energia - COPEL. Em 25 de maio de 2000, através do Decreto Estadual n.º 2047, as atividades do Sistema Meteorológico do Paraná foram transferidas para o Instituto Tecnológico SIMEPAR, empreendimento tecnológico que tem por finalidade consolidar uma infra-estrutura física e humana para o provimento de informações (dados e previsões) de natureza meteorológica, hidrológica e ambiental bem como conceber, desenvolver e executar atividades ligadas á pesquisa científica e tecnológica e formação e capacitação de pessoal, tendo em vista a promoção da competitividade empresarial e o desenvolvimento sócio-econômico e tecnológico do Paraná e do País. http://www.simepar.br/ 24 de julho de 2005
58
A inspiração para criar o SIMEPAR veio do LAC, em face de problemas
enfrentados pela COPEL nas cheias do Rio Iguaçu, numa demonstração dos
diversos significados da existência de uma empresa paranaense, dedicada à
energia, com bases operacionais no próprio Estado e da existência de um pólo de
apoio de alto nível como era o LAC.
3.3.1.6 Os primeiros Anos do Século XXI Atualmente a COPEL pode ser considerada uma das maiores e melhores
empresas do setor elétrico brasileiro, fato este constatado pelos sucessivos prêmios
de qualidade gerencial recebidos ao longo das duas últimas décadas. Atende hoje a
mais de três milhões de clientes, em 393 municípios, compreendendo a quase
totalidade da população do estado do Paraná. Tem 18 usinas com 4.512 MW de
capacidade nominal instalada. São quase 7.000 km de linhas de transmissão, 360
subestações e 165 mil km de linhas de distribuição. As usinas e linhas de
transmissão da COPEL alimentam todas as regiões do Estado do Paraná e uma
significativa porção excedente é exportada para o resto do país. Em termos
percentuais, a COPEL, sozinha, responde por 5,5 % de toda a energia consumida
no Brasil.
Além das áreas de geração, transmissão e distribuição de energia, a Empresa
também está presente no setor de telecomunicações. Em junho de 2002, as ações
da Companhia passaram a ser negociadas também no mercado europeu pela
Latibex (Bolsa de Madri).
59
3.3.2 Evolução do Atendimento em Energia Elétrica no Paraná
FIGURA 9 - NÚMERO DE LIGAÇÕES
0
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
1949 1959 1969 1979 1989 1999
DISTRIBUICAO DIRETA - MWh RESIDENCIAL INDUSTRIALCOMERCIAL PODERES PÚBLICOS
FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, 1994.
Nota-se, no gráfico da figura 9 que a partir da década de setenta a
eletrificação ganha velocidade, mudando a inflexão da curva ilustrada.
O padrão de desenvolvimento do Estado do Paraná pode ser observado na
evolução do tipo de ligações, conforme demonstrado na Figura 10.
60
FIGURA 10 - NÚMERO DE LIGAÇÕES INDUSTRIAIS, COMERCIAIS E RURAIS
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
1950 1960 1970 1980 1990 2000
INDUSTRIAL COMERCIAL RURAL
FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, 1994.
Observa-se também, no gráfico da figura 10, o efeito do esforço a favor da
eletrificação rural, objeto de diversos programas de governo, que, na primeira etapa
criou a COPEL, consolidou-a, partiu para um programa de construção de usinas e na
seqüência promoveu a universalização do uso da energia elétrica no Paraná.
Percebe-se, entre outros fatores, o efeito dos programas de eletrificação rural
e a evolução gradual da indústria no território paranaense.
61
4 CENTROS DE P&D EM ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL E O CEPEL COMO
INÍCIO DE UM MODELO
As ciências exatas nasceram devido à capacidade de observação e
experimentação do ser humano. Os povos que primeiro se fixaram à terra,
assumindo atividades agrícolas e pastoris, ganharam tempo para vigiar as estrelas,
descobrir os planetas e suas matemáticas. Nações mais estáveis tiveram pessoas
que dedicaram seu tempo a procurar deuses e descobrir matérias que deram
viabilidade a construções, em que a arte aliou-se à engenharia e à arquitetura, e
então começaram a ganhar forma.
Necessidades militares e civis cresceram com o aumento da população,
demandando novas ferramentas, máquinas e soluções para a vida e a morte. Ao
procurarem a pedra filosofal em seus experimentos, os alquimistas descobriram
fórmulas e soluções básicas, assim como, pouco a pouco, médicos desvelaram os
segredos do corpo humano. Em todos os casos, as descobertas e invenções
precisaram de ambientes adequados e motivações nem sempre sensatas, mas
eficazes, dependendo dos resultados.
O Brasil, país estruturado a partir da dominação colonial e terra de escravidão
tardia, paradoxalmente, não teve espaços para grande atividade criadora. Restrições
da metrópole mantiveram o Brasil à margem de uma inclusão social mais
significativa, sem liberdade de produzir uma base econômica forte. Astutamente,
Portugal criava impedimentos a qualquer atividade que pudesse desenvolver em sua
maior colônia alguma estrutura de independência.
Laboratórios e oficinas costumavam acompanhar indústrias que, pela
libertação gradativa dos impérios distantes, no Brasil demoraram a existir. Pode-se
verificar em diversos estudos e na própria observação dos fatos históricos a atuação
de grandes potências impedindo o desenvolvimento industrial brasileiro. Somente no
século XX, começou-se a criar ambientes um pouco mais dedicados à tecnologia,
capazes de estimular a criatividade de candidatos a cientistas.
Assim, no Estado de São Paulo encontra-se o maior foco de atração de
imigrantes, indústrias e comércio – as primeiras iniciativas e os mais fortes pólos de
P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). O destaque maior veio por conta do Instituto
Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Universidade do Estado de São Paulo (USP) e
62
Universidade de Campinas (UNICAMP). Devido à atuação empresarial e política dos
paulistas, essas entidades nasceram e cresceram, tornando-se referências nacionais
em ciência e tecnologia.
A cidade do Rio de Janeiro, com o privilégio de ser a capital do Brasil na
primeira metade do século XX, e a sediar até hoje o Grupo Eletrobrás, fundou o
Centro de Pesquisas Elétricas (CEPEL), o principal centro de P&D em eletricidade
no país. Essa entidade merece destaque, pois sua existência propiciou um centro de
referência em engenharia elétrica, respeitado internacionalmente, ainda que
penalizado pelas últimas ondas neoliberais.
Com a reforma do ensino, na década de 1970, e a abertura de mais
universidades, públicas e privadas, esses centros de ensino se tornaram focos de
geração de indústrias e serviços, fato notável se observarmos os seus efeitos nas
cidades em que se instalaram.
No Paraná, estado novo em um país jovem, a pesquisa começou com a
Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde o Centro de Hidráulica Professor
Pedro Viriato Parigot de Souza (CEHPAR) foi o ponto de partida para a formação do
Laboratório Central (LAC) e outros laboratórios.
Nesse contexto e ainda com muitas oportunidades de consulta sobre origens
e efeitos da construção da base de P&D no Paraná, pretende-se analisar as
relações e resultados da criação do LACTEC, pessoa jurídica extremamente nova
mas construída a partir de laboratórios existentes no Centro Politécnico da UFPR.
Reconhece-se que o Paraná ainda está em processo de industrialização. A
instalação de montadoras de veículos automotores na Região Metropolitana de
Curitiba formou base segura de desenvolvimento industrial, antes alavancado pela
agroindústria e serviços. Desse modo, percebe-se a necessidade de mão-de-obra
qualificada em todos os níveis. No setor elétrico, ainda que perdendo algumas
indústrias, como, por exemplo, instalações da INEPAR, há indústrias principalmente
na área de automação e equipamentos para a distribuição de energias, muitas em
torno das necessidades da COPEL (fábricas de transformadores de distribuição,
chaves, postes etc).
Sob tal perspectiva, torna-se importante avaliar a capacidade de transmissão
dos conhecimentos de um instituto de P&D em plena época de globalização, quando
a competição e a capacitação são palavras de ordem e podem ser apontadas como
a regra de sobrevivência mais requerida. Esse indicativo demanda a importância de
63
entender entidades de pesquisa e desenvolvimento mantidas pelo Estado, porque,
elas têm em seus estatutos uma das finalidades atuar de acordo com os interesses
sociais. Sendo mantidas pelo contribuinte ou aproveitando subsídios, deveriam
submeter-se a diretrizes estratégicas capazes de conduzir a nação para estágios
que propiciem a ampliação da qualidade de vida ao conjunto da sociedade.
Se o LACTEC, objeto deste estudo de caso, caminha para a auto-
sustentação, foi, acima de tudo, em função do esforço do povo paranaense e
brasileiro. Investimentos a fundo perdido foram utilizados para dar-lhe viabilidade,
assim como foram investidos recursos de incentivo a P&Ds provenientes das faturas
de energia de todos os brasileiros.
4.1 CENTROS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM ENERGIA ELÉTRICA
NO BRASIL
A história da energia elétrica no mundo teve uma trajetória identificada a
cotidianos empíricos, cuja evolução ocorreu por efeito de comportamentos científicos
de alguns povos e ganhou dimensão econômica de caráter capitalista ao se
transformar em base para indústrias e poder, conforme historicamente verifica-se a
partir da revolução industrial.
O ambiente de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) teve substância em
nações que primeiro perceberam sua importância, mas teve bases mais fortes onde
a certeza de produzir ganhos materiais era característica nacional. Desse modo, não
é surpresa ver que Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos da América do Norte,
entre outros países, evoluíram rapidamente, tanto em termos científicos quanto na
indústria e comércio de equipamentos para produção e uso da energia elétrica.
Nesses países, a criação de centros de pesquisa era parte da base de
desenvolvimento que surgia em torno de universidades ou como instituição
totalmente fora desse ambiente (vide CEPEL no Brasil) ou, ainda, na estrutura de
grandes indústrias. Na história da General Electric (GE), Westinghouse e Siemens
descobriu-se a capacidade criativa e empresarial de pessoas que transformaram em
realidade sonhos que hoje iluminam a humanidade. Grandes universidades também
foram base para criação de empresas e cientistas No Brasil, país tardiamente
industrializado, o estudo da eletricidade veio com empreendedores que formaram
centros de formação de profissionais – IEI, atual UNIFEI e Mackenzie –, de início, e,
muito depois, já na década de 1960 e coincidindo com o período da ditadura militar,
64
a real preocupação em se instalar laboratórios de apoio a cientistas dedicados a
empresas estratégicas para o Brasil.
O maior destaque deve ser dado ao Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
(CEPEL), criado em 1974, no auge de uma visão nacionalista, dominante à época.
Como o próprio nome indica, o CEPEL era dedicado a pesquisas relacionadas à
engenharia elétrica, o que lhe permitiu, com o apoio do Grupo Eletrobrás, participar
de grandes projetos nacionais e formar profissionais de destaque científico. Deve-se
registrar, contudo, que estes centros de P&D pouco se empenharam em desenvolver
tecnologia em engenharia elétrica, limitando-se, em geral, a análises de
desempenho, certificação e, mais recentemente, ao desenvolvimento de programas
de computador para estudos elétricos.
Torna-se pertinente considerar que a produção científica permanecia
basicamente por conta da publicação de artigos técnicos sobre estudos criados na
esteira dos processos em que se envolveram. Um indicador forte da ausência
brasileira na ciência em torno da engenharia elétrica é o fato de não ter registrado
qualquer patente, descoberta ou invenção de relevância internacional.
Essa característica brasileira é também uma conseqüência de decisões
ideológicas estratégicas que inibiram a formação de uma indústria nacional, que
torna dependentes de capital e patentes estrangeiras. Além disso, impede, cada vez
mais, o desenvolvimento auto-sustentável.
Enquanto as grandes nações do mundo criavam suas empresas estatais ou
privadas, fortemente apoiadas em incentivos de toda espécie, o Brasil permanecia à
deriva de multinacionais. Outro fator a se considerar foi a principal preocupação das
escolas técnicas de segundo e terceiro graus centradas na formação de profissionais
para obras, manutenção e operação, praticamente seguindo sempre um treinamento
de acordo com demandas das indústrias, quase sempre estrangeiras, excluindo a
mudança de paradigma de uma educação tecnológica mais voltada para um sujeito
com consciência crítica.
As principais concessionárias de energia, antes da década de sessenta do
século passado, potenciais clientes para qualquer indústria, eram estrangeiras, não
exercendo qualquer pressão a favor de indústrias nacionais. Houve longos debates
e discussões políticas em torno do assunto, mas, até a ação firme do governo militar
nos anos setenta, nada de concreto fora feito para o desenvolvimento da tecnologia
65
brasileira em engenharia elétrica, “passar do conhecimento de know-how para o do
know-why.” (GAMA, p.12, 1985)
Com a estatização do setor elétrico e a criação de grandes empresas
concessionárias brasileiras e sob uma política restritiva às importações, começa a
ter espaço a pesquisa no Brasil, cujo destaque foi a criação de alguns centros de
P&D, seguindo o exemplo do CEPEL. Essa diretriz, contudo, durou pouco, pois logo
ocorreram crises intermináveis, culminando com a privatização das empresas
distribuidoras de energia e a abertura de fronteiras a produtos importados. Nos anos
oitenta, considerada por muitos analistas sociais como “década perdida”, estagnou-
se e não ocorreram avanços voltados para a formação de uma base que poderia ter
feito do Brasil uma grande potência em eletrotécnica.
Para ilustrar o que representou essa crise, segue gráfico 1, demonstrando
com o número de registros de diplomas no CREA/PR o efeito da crise durante a
década de oitenta. Pode-se notar a diminuição de interesse no estudo da
Engenharia, Arquitetura e Agronomia a partir da metade da década de oitenta,
refletindo a visão pessimista em relação ao futuro do Brasil à época e à falta de
condições de muitos estudantes que deixaram as universidades sem concluir seus
cursos.
66
GRÁFICO 1 - REGISTRO DE DIPLOMAS - CREA/PR.
registro de diplomas no CREA/PR
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
registro de diplomas
FONTE: CREA / PR
Então, além do ensino para qualificação profissional, torna-se evidente a
importância de aprender a pensar, a pesquisar, a desenvolver produtos, serviços e,
ainda, de valorizar o próprio trabalhador. No Brasil, algumas universidades e
ambientes de P&D desenvolvem esforços, ainda que tímidos, para essa sinergia
criativa, essencial ao desenvolvimento.
Sabe-se que os laboratórios das universidades, muitas vezes, ainda são
ambientes para aulas práticas, raramente utilizados para pesquisa realmente. Com a
preocupação do governo federal em desenvolver a pesquisa para apoio à indústria,
surgiram programas de apoio a universidades, entre eles um dedicado a cursos de
mestrado em engenharia elétrica.
Para o setor elétrico, a partir da década de 1970, entretanto, algumas
instituições de ensino superior, como a Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Escola Federal de Itajubá
(UNIFEI) começaram a ofertar mestrados em sistemas de potência, reunindo
67
professores com competência reconhecida e criando laboratórios dedicados à
engenharia elétrica.
Posteriormente, com a reforma do ensino, na década de 1970, e a exigência
de cursos de pós-graduação para a docência, professores passaram a procurar
cursos de doutorado, iniciando-se aí uma efetiva preocupação com a pesquisa, no
interior das universidades.
Depreende-se, outrossim, que a desvinculação com a indústria e a ausência
de parcerias, diferentemente do que aconteceu em outros países, levaram a um
resultado desprezível na transformação prática desses estudos em patentes e
produtos reais, não colaborando, tampouco, para a valorização do quadro
acadêmico nacional.
4.2 CEPEL - O INÍCIO DE UM MODELO
Além de perceber a necessidade da criação de uma tecnologia endógena
pela crescente demanda, o pioneirismo do CEPEL pode ser assim explicitado: A criação do CEPEL, no início de 1974, situou-se, portanto, na confluência de duas perspectivas fundamentais: de um lado, tentar diminuir a carga exercida pelo pagamento de royalties e patentes no balanço de pagamentos e, de outro, dotar as empresas de energia elétrica de um centro de pesquisas tecnológicas exclusivo, tendo em vista as crescentes necessidades nesse campo. (História do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica-CEPEL, 1991, p.17.)
Resultado da área de infra-estrutura vinculada ao grupo Eletrobrás, o CEPEL
foi conseqüência do Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), no qual
havia um Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT). Para
o período de 1973 a 1974, nele existiam duas prioridades: a pesquisa em tecnologia
industrial e a de infra-estrutura.
Conforme relatado, o CEPEL foi oficialmente criado para procurar diminuir o
pagamento de royalties e patentes e oferecer às empresas de energia elétrica um
centro de pesquisas exclusivo, capaz de apoiá-las nos desafios de criar a infra-
estrutura em energia elétrica de que o Brasil necessitava. Estava assim, porventura
pela primeira vez, tentando conceber as relações de trabalho para obter resultados
práticos através de tecnologia.
A conseqüência do apoio federal foi a criação de excelentes laboratórios e a
formação de pesquisadores não apenas de alto nível acadêmico mas, sobretudo,
por efeito do reconhecimento de demanda existentes.
68
O CEPEL merece especial destaque por seu esforço de racionalizar o uso da
energia elétrica, dando viabilidade ao selo Procel, que aponta o consumo em
equipamentos elétricos e eletrodomésticos também, sutilmente sua graduação de
excelência em qualidade, orienta o usuário na economia de energia.
Vale ainda acentuar que grandes desafios foram conquistados pelos seus
pesquisadores em projetos do porte de usinas hidroelétricas como Itaipu e Tucuruí.
Do CEPEL saíram estudos e orientações para o projeto, construção e operação
dessas usinas e suas linhas de transmissão, significando o germe de uma produção
científica num centro próprio que pudesse gerar desenvolvimento auto-sustentável,
sonho de emancipação em um país dependente.
Ao final da década de 1970, década de 1980 e parte da década de 1990,
entretanto, as crises econômicas originadas dos choques provocados pelos preços
do petróleo marcaram intensamente o CEPEL, cujo início ocorreu em grande estilo,
mas desacelerou projetos por quase duas décadas, pela falta de recursos e
incentivos para continuar seus projetos.
Assim mesmo, a estrutura do CEPEL serviu de base para laboratórios
similares, ainda que de porte notadamente menor. A semente foi plantada, precisava
germinar.
69
5 O LACTEC E SUA CONTRIBUIÇÃO EFETIVA NA GÊNESE DO PROCESSO
TECNOLÓGICO PARANAENSE
Subsídios obtidos do estudo da história da técnica e da tecnologia, sob o
tema energia elétrica, permitem estabelecer uma ligação histórica nesses
progressos que fizeram culminar no Brasil a instalação das primeiras fábricas. O
reordenamento dos espaços urbanos relativos à formação da atividade econômica
nas cidades e seu entorno no Estado do Paraná não pode ser dissociado da
importância desta constatação.
Os capítulos anteriores desta dissertação dão o alicerce para a construção
que se apresenta neste capítulo e que referenda os pressupostos e os relatos
contidos sob o viés da História da Técnica e da Tecnologia confrontando-os e
contextualizando-os.
Neste capítulo, no qual se aborda um estudo de caso, procura-se situar o
LACTEC no tempo e no espaço, paralelamente, e, antes de analisar os instrumentos
da pesquisa, busca-se aprofundar a historicidade da instituição-alvo da pesquisa,
para não apenas descrevê-la, mas para demonstrar e responder o questionamento
da investigação.
Vale transcrever, do livro “A Era dos Extremos, O breve século XX, 1914-
1991”: ... quanto mais complexa a tecnologia envolvida, mais complexa a estrada que ia da descoberta ou invenção até a produção, e mais elaborado e dispendioso o processo de percorrê-la. “Pesquisa e Desenvolvimento” [R & D em inglês] tornaram-se fundamentais para o crescimento econômico e, por esse motivo, reforçou-se a já enorme vantagem das “economias de mercado” sobre as demais. O país “desenvolvido típico” tinha mais de mil cientistas e engenheiros por milhão de habitantes na década de 1970, mas o Brasil tinha cerca de 250...o processo de inovação passou a ser tão contínuo que os gastos de desenvolvimento de novos produtos se tornaram uma parte cada vez maior e mais indispensável dos custos de produção...
5.1 DIMENSÃO
5.1.1 Cronologia do LACTEC e suas Origens
A partir da exploração intensiva do seu potencial hidroelétrico, o Paraná
entrou numa fase de desenvolvimento em que a formação de profissionais em
engenharia, dedicados à energia elétrica, passou a ser um fator decisivo à absorção
dessa oportunidade para constituição de um centro criador e transmissor de
conhecimento relativo às suas demandas. A consciência dessa condição apareceu
70
já na criação do CEHPAR (1959), quando se constatou a necessidade de uma nova
geração de profissionais. A UFPR já tinha seus cursos na área de engenharia e o
CEHPARr formava especialistas em hidrologia e desenvolvia estudos de
aproveitamentos hidroelétricos em seus laboratórios.
As décadas de 1960 e de 1970 foram decisivas nessa marcha. A COPEL, a
Cesp, a ELETROSULl e ITAIPU se destacavam no Estado e em suas fronteiras,
empreendendo obras gigantescas, inconcebíveis poucas décadas antes. A
Universidade Federal do Paraná, única universidade pública federal paranaense, foi
o espaço em que o governo encontrou ambiente para criar pilares de preparação
dos profissionais, assim como de pesquisadores para a grande tarefa que se
iniciava. Nela, tanto cursos foram criados como, após o CEHPAR, outros
laboratórios surgiram e formaram o pólo de P&D lá existente nos dias atuais.
O Brasil da década de 70 do século passado vivia momentos do chamado
milagre econômico. Sob uma visão nacionalista, os governos militares procuraram
formas de criar uma base brasileira para produção de tecnologia. Na área de energia
elétrica, foi dada viabilidade para a instalação do CEPEL (Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica), no Rio de Janeiro, e no Paraná houve incentivo e apoio financeiro
para a efetivação do Laboratório Central de Eletrotécnica e Eletrônica (LAC), cuja
inauguração se deu em 9 de março 1982.
Desse modo, a COPEL, o TECPAR, o IAPAR, a UFPR, o CEFET-PR, o LAC,
o CEHPAR obtiveram investimentos em infra-estrutura material e creditícia (BADEP
e BRDE) que permitiram alavancar o crescimento do Estado que, apesar da crise
dos anos oitenta, continuou se desenvolvendo com soluções próprias, devido aos
conhecimentos formados em seus espaços.
Torna-se digno de registro que a ciência nem sempre se revela em técnicas
caras e sofisticadas. Na década de 1980, os engenheiros da COPEL implementaram
lógicas simplificadas, de menor custo, no maior programa de eletrificação rural
existente à época no Brasil, possibilitando levar energia elétrica a milhões de
paranaenses, inserindo-os no século XX, de onde viviam segregados.
Consciente da importância da energia elétrica, o governo estadual sabia que
uma unidade monetária gasta diretamente pela COPEL, em eletrificação rural,
levaria a cinco de entrada indireta no caixa do Estado pelo consumidor atendido, em
menos de cinco anos, originadas de impostos (ICMS) na aquisição de
eletrodomésticos, equipamentos de trabalho, instalação elétrica e outros, razão pela
71
qual, entre outras, foi estimulada a opção de investir para levar eletricidade ao
campo.
Considerando que a COPEL era empresa estatal, de economia mista, os
investimentos realizados pela empresa eram (e são) do governo que, por sua vez,
era compensado pelo aumento da arrecadação. Ou seja, ainda que a empresa de
energia viesse a ter prejuízos com a eletrificação rural, o Estado ganhava em
impostos o que ela gastava por meio da COPEL, sem falar do aumento da
produtividade, segurança, saúde e, principalmente nos objetivos e no papel social
implícitos nas metas de uma empresa estatal.
A eletricidade estimula o consumo, aumentando a arrecadação do ICMS; dá
viabilidade ao uso de máquinas no beneficiamento de produtos agrícolas e melhora
as condições sanitárias da população, além de permitir o uso de sistemas de
comunicação (rádio, televisão, telefonia), tornando a vida no campo mais atrativa e,
conseqüentemente, diminuindo o êxodo rural, talvez até criando uma via de mão
dupla, onde as metrópoles já apresentam sinais de falta de estrutura para absorver o
forasteiro que vem em busca de novas oportunidades, podendo com isso determinar
um reordenamento da população numa fase de globalização na qual quem não
participa de um mundo com certos níveis de conforto, sente-se excluído.
O LAC, posteriormente LACTEC, apoiou a eletrificação rural na análise -
ensaios, certificação, avaliação e outros – de componentes e no desenvolvimento de
produtos, sobretudo para a indústria instalada no Paraná. Seus laboratórios de alta,
média e baixa tensão, criados logo no início do LAC, possibilitaram ensaios de tipo e
pesquisas no aprimoramento de transformadores, isoladores e materiais isolantes.
Tendo áreas dedicadas à eletrônica, eletrotécnica, materiais e informática, o LAC
cobria uma ampla gama de objetivos, possibilitando pesquisas em que se fizesse
necessário e seus recursos o permitissem.
A preocupação com a privatização da COPEL no final da década de 1990 e
nos primeiros anos do século XXI levaram o governo do Estado a desligar o LAC e o
CeHpar da COPEL, criando no ano 1997 o LACTEC - Instituto de Tecnologia para o
Desenvolvimento - de maneira a unir esses dois institutos, mais o Laboratório de
Materiais e Estruturas - LAME, criado em 1994. Chegar a esse momento, contudo,
foi o resultado de um longo caminho, de acordo com o que se resume no quadro a
seguir.
72
QUADRO 2 - CRONOLOGIA DA CULTURA TÉCNICA NO PARANÁ E DE
ALGUMAS USINAS
ANO DESCRIÇÃO
1892
Em 1892 Rocha Pombo, político e historiador, à época jornalista e professor, colocava no Largo Ouvidor Pardinho a pedra fundamental da Universidade do Paraná. O projeto, no entanto, não foi adiante. Motivo: o Movimento Federalista impediu a criação da Universidade.
1909 Criação da Escola de Aprendizes e Artífices do Paraná, origem do Cefet-PR.
1912
Em 1912 a intelectualidade do Paraná era reduzidíssima (tinha apenas nove médicos e quatro engenheiros) e o Estado, no entanto, precisava de massa crítica para defendê-lo. Um acontecimento na época fez as lideranças políticas se empenharem ainda mais pela criação da Universidade: o Paraná havia perdido, na Justiça, a Região do Contestado, que ficou para o Estado de Santa Catarina. Foi aí que o médico Victor Ferreira do Amaral, deputado e diretor de Instrução Pública do Estado, liderou a criação efetiva da Universidade. Era chegada a hora. O Paraná não podia mais esperar, pois se desenvolvia muito com a abundante produção de erva-mate.
1913
Em 1913, a Universidade começou a funcionar (no início como instituição particular). Os primeiros cursos ofertados foram Ciências Jurídicas e Sociais, Engenharia, Medicina e Cirurgia, Comércio, Odontologia, Farmácia e Obstetrícia. Após ter fundado a Universidade do Paraná, Victor Ferreira do Amaral, seu primeiro reitor, fez empréstimos e iniciou a construção do prédio central, na Praça Santos Andrade, em um terreno doado pela Prefeitura. Durante mais de trinta anos, foi uma longa luta para a restauração da Universidade. Somente no início da década de 50 é que as faculdades foram reunidas e formada novamente a Universidade do Paraná. Para conseguir essa unificação, foi fundamental o apoio da imprensa e da comunidade. Depois disso, veio a federalização. A partir daí, iniciou-se uma fase de grande expansão. Em oito décadas muita coisa mudou. Mudou também a Universidade Federal do Paraná. Ela acompanhou as transformações oriundas dos mais diversos setores.
1920
Em 1920, uma lei determinou o fechamento das Universidades. O Governo Federal não recebia bem as iniciativas surgidas de forma independente nos estados. Mesmo assim, apesar de contraditório, o Governo criou a Universidade do Rio de Janeiro. Era necessário criar alternativas para evitar o fechamento da Instituição. A forma encontrada na época para driblar a lei e continuar funcionando, foi desmembrar a Instituição em faculdades.
1937
A Escola de Aprendizes e Artífices do Paraná (futuro Cefet-PR) passou a ministrar o ensino de 1.º grau, sendo então denominada de Liceu Industrial de Curitiba. A mão-de-obra especializava-se nas atividades de alfaiataria, sapataria, marcenaria, pintura decorativa e escultura ornamental.
1940 Criado o Laboratório de Análises e Pesquisas do Departamento de Agricultura da Secretaria de Obras Públicas, Viação e Agricultura do Estado, origem do Tecpar.
73
ANO DESCRIÇÃO
1944 A Escola de Aprendizes e Artífices do Paraná (futuro CEFET-PR) passou a chamar-se Escola Técnica de Curitiba. Nessa época, março de 1944, foi criado o primeiro curso de 2º ciclo na Instituição: o de Mecânica
1948
Com a redemocratização do país e o fim do Estado Novo, foi elaborada uma nova constituição para o país. As novas leis previam que uma universidade deveria ser composta no mínimo por quatro faculdades, nos moldes da Universidade do Brasil. Por força disso, em 1948, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras se incorpora às faculdades de Direito, Medicina e Engenharia, restaurando assim o antigo estatuto de Universidade do Paraná.
1959
Criado o CeHpar, como órgão vinculado ao Setor de Tecnologia da UFPR, desenvolvendo pesquisas básicas e aplicadas em hidráulica, hidrologia, mecânica dos fluídos, obras hidráulicas, recursos hídricos e energéticos, Informações georeferenciáveis e planejamento e comercialização de energia.
1959 Criada a Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), reconhecida pelo Governo Federal em 17 de maio de 1960.
1971 Entrada em operação da Usina Governador Parigot de Souza e de Xavantes (fronteira PR/SP).
1972 Criado o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).
1973 A Escola Técnica Federal de Curitiba passou a ofertar os cursos de Engenharia de Operação na área da construção civil e elétrica.
1975 Entrada em operação da Usina de Salto Osório.
1978 A Escola Técnica de Curitiba passou a chamar-se Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, passando a ministrar também o ensino superior.
1980 Entrada em operação das usinas Governador Bento Munhoz da Rocha Netto e Salto Santiago
1982 Inaugurado o LAC, laboratório com laboratórios nas áreas de eletricidade, eletrônica, materiais e química aplicada.
1984 Entrada em operação da Itaipu.
1993
Criado o Sistema Meteorológico do Paraná, Simepar, o qual foi instituído pelo decreto estadual n.º 2152, de 17 de março de 1993, na forma de um convênio entre o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e a Companhia Paranaense de Energia (COPEL).
1994
Inaugurado o Lame, Laboratório de Materiais e Estruturas, responsável pela realização de ensaios, análises e caracterizações de materiais, modelos estruturais, geotécnicos, físicos e matemáticos, principalmente, aplicados em obras de engenharia.
1997 Fundado o LACTEC, instituição com objetivo de promover o desenvolvimento econômico, científico, tecnológico e social. Neste ano, passou a coordenar a captação de recursos, vendas de serviços e parcerias do Laboratório Central de
74
ANO DESCRIÇÃO Pesquisa e Desenvolvimento até então mantido pelo convênio entre a UFPR e a Companhia Paranaense de Energia.
1998
Inaugurado o condomínio tecnológico CETIS (Centro Tecnológico Industrial do Sudoeste Paranaense), convênio entre o LACTEC, a COPEL e Prefeitura Municipal de Pato Branco, contando também com apoio da Finep. O CETIS é um dos referenciais do início do desenvolvimento tecnológico do sudoeste do Paraná, conta com laboratórios, serviços e produção industrial. São seis módulos industriais, seis empresas em operação, duas em implantação e gera mais de 400 empregos diretos.
1999 O LACTEC assume as operações do LAC, incorporando 84 profissionais, passando a responder também pelos investimentos e por todas a despesas com custeio e pessoal.
2000
O LACTEC passa a responder pelas operações e quadro de pessoal do Lame (Laboratório de Materiais e Estruturas), até então mantido pelo convênio entre a UFPR e a COPEL. Inaugurado em 1994, conta com laboratórios de Estruturas Civis, Concreto e Solos. Assume as operações e quadro de pessoal do CEHPAR (Centro de Hidráulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza).
2005 Criação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR
FONTE: LACTEC-CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO
5.2 FATORES DETERMINANTES E FINALIDADES NA SUA ORIGEM, SEUS
RESULTADOS COMO AGENTE COORDENADOR DO DESENVOLVIMENTO
CIENTÍFICO-TECNOLÓGICO PARA O SETOR.
Em cada contexto histórico, verifica-se a necessidade obstinada da
compreensão relativa a por que veio, a que veio e como veio este ou aquele
progresso. A energia elétrica surgiu no Brasil no início do século XX, por força de
demandas relacionadas à vida pública e privada. Sob tal conjuntura, houve
mudanças de hábitos sociais, culturais e, sobretudo, na relação da produção de
objetos e seu consumo, fruto do nascimento de uma nova era - a sociedade de
consumo. Criada a partir da revolução industrial e alvo principal de seus objetivos ao
sair da era feudal, passou a estimular atividades e instalações de várias ordens,
como tema e objeto de estudo.
Conforme mencionado na obra A vida cotidiana no Brasil moderno, (...) os limites cronológicos compreendem transformações importantes na sociedade brasileira. Na virada do século XIX para o século X, ocorre a mudança do eixo econômico, a abolição da escravidão e a consolidação do regime republicano. Daí até os anos 1930 desponta o desenvolvimento da sociedade industrial e de consumo, quando o país já assiste a disseminação das modificações provocadas pela utilização dessa nova forma de energia - a eletricidade - principalmente na vida doméstica e no efeito multiplicador dos
75
recursos e serviços disponíveis nos grandes centros urbanos a uma parcela sempre crescente da população brasileira. (2001 p. 13 - 14)
Um dos resultados desse processo foi a criação do LAC, transformado no
LACTEC, que possibilitou este nova visão para essa área de pesquisa em torno da
energia elétrica e que busca também contribuir para a história da técnica e da
tecnologia. Por efeito de suas dimensões e desenvolvimento no setor elétrico, esta
instituição possibilitou ao Paraná a criação de relações entre a ciência e a
tecnologia. Por sua natureza e objetivos, é o exemplo perfeito da necessidade de
repasse de conhecimento do saber-fazer por meio dos centros de pesquisa e
desenvolvimento, criados a partir da energia elétrica. Na criação deste importante
centro de pesquisa, são disponíveis vários depoimentos dos objetivos com que ele
foi criado, os quais vêm ao encontro do que está publicado no trecho do livro Quinze
anos vencendo desafios em tecnologia, conforme BOSCHILIA E ARCHANJO (1997,
p.103-4): “(...) hoje diversas empresas já identificam o LAC - atual LACTEC - como
um local onde elas podem ter solução para seus problemas, tanto em ensaios, em
transferências de conhecimento, como na realização efetiva de projetos de pesquisa
e desenvolvimento”.
A interpretação que o historiador e pesquisador faz do passado, sua seleção
do que realmente é relevante, desenvolve-se com o surgimento de novos objetivos e
necessidades. A partir da revolução industrial, os fins econômicos e sociais vieram
substituir os fins constitucionais, políticos e metafísicos.
No Estado do Paraná, mais precisamente na COPEL, não havia ainda um
ambiente em que a consciência da necessidade de um centro de P&D fosse
generalizada, era, contudo, um local onde havia essa preocupação entre pessoas
com responsabilidade técnica na área de manutenção e operação. Verificava-se que
a formação convencional dos engenheiros era insuficiente para solucionar os
problemas verificados, por exemplo, pela amplitude de usinas do porte da Usina
Governador Bento Munhoz da Rocha Neto e, depois, Salto Segredo e Salto Caxias.
Nessas instalações, clamava-se vigorosamente por áreas que pudessem resolver
problemas e criar soluções sem dependências exteriores, que permitissem resolver
problemas técnicos com auto-suficiência e competência técnica além da
convencional, ocasionadas obviamente pela ausência de centros de pesquisa à
semelhança do LACTEC.
76
Com o propósito de construir um ambiente de desenvolvimento técnico e
científico, os primeiros a perceber a necessidade de um laboratório adequado foram
os especialistas da empresa com responsabilidades técnicas no projeto, construção
e operação das grandes usinas e subestações.
De fato, o uso seguro de instalações de grande porte requer conhecimentos e
ensaios que uma empresa comum não é capaz. Ainda carente de estruturas
técnicas mais consistentes, na década de 1970, o Paraná precisava criar infra-
estrutura para pretender relativa autonomia na realização de seus serviços
essenciais. Estes serviços eram prestados sempre por especialistas estrangeiros, o
que determinava uma dependência quase absoluta em termos de técnicos para
prestação de serviços e manutenção de seus equipamentos.
Desde sua criação estava previsto que o LAC não se definiria “como uma
oficina de experimentos, mas sim como um núcleo pensante...” que seria, conforme
o coordenador Rogério Moro, em 1982, quando o LAC foi criado, “uma usina de
idéias, de soluções”, para resoluções de problemas da COPEL. (Boschilia e
Archanjo,p.75,1997)
Na evolução do LAC, o LACTEC veio ao encontro dessas necessidades,
como um ambiente de formação de especialistas e local de ensaios especiais, que
muitas vezes deram sustentação à COPEL para definição de responsabilidades
com empresas nem sempre suficientemente capazes de produzir o que vendiam.
No LACTEC, também estava o CEHPAR, órgão criado muito antes do LAC e
responsável por estudos de grande responsabilidade no projeto de usinas
hidroelétricas. Pela sua natureza e relações com a Universidade Federal do Paraná,
constituiu pólo de formação de especialistas de elevado nível, chamados a prestar
serviços inclusive no exterior.
É interessante registrar, acima de tudo, a visão de algumas personalidades
paranaenses, graças às quais o Estado assumiu e construiu empresas com o porte e
o padrão da COPEL, assim como laboratórios e universidades onde a ciência e a
tecnologia foram objeto de atenção de especialistas e instrumento de formação
profissional.
Considerando que ciência caracteriza-se por descobertas e que ao contrário
de verdades absolutas, como pretendia a metafísica, constatam-se quase sempre
verdades transitórias - parâmetros para o avanço da ciência - um ambiente de
77
pesquisa é necessário para progredir-se nessa afirmação e aproveitar o
conhecimento para construir uma sociedade melhor.
Considerando também que pelo que se constata como discurso corrente, o
conhecimento será a principal moeda de troca do terceiro milênio, os ambientes de
pesquisa e desenvolvimento serão o maior objeto de desejo das sociedades
hegemônicas.
Essas visões foram e são fundamentais na ação das lideranças de uma
determinada sociedade. A formação da infra-estrutura técnica e científica do povo
paranaense foram decisivas à arrancada econômica do Estado, a partir da metade
do século passado. Aproveitando satisfatoriamente uma série de circunstâncias
favoráveis, de ordem política, econômica e social, o Paraná viabilizou a COPEL e
seus desdobramentos, entre os quais está o LACTEC.
5.3 IMPORTÂNCIA DO LACTEC PARA O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
DO PARANÁ
A importância do LACTEC pode ser avaliada lembrando-se as bases sobre as
quais foi formado. O CEHPAR (1959), LAC (1982), LAME (1994) e LEME (2000) são
laboratórios que surgiram de acordo com necessidades e oportunidades que o
Paraná teve, aproveitando-as e criando uma base tecnológica de primeira grandeza
no cenário brasileiro.
Conforme já se explicitou, o CEHPAR começou a existir em 1959, como
órgão vinculado ao Setor de Tecnologia da UFPR, desenvolvendo pesquisas
básicas e aplicadas em hidráulica, hidrologia, mecânica dos fluídos, obras
hidráulicas, recursos hídricos e energéticos, informações georeferenciáveis e
planejamento e comercialização de energia.
Atualmente, ocupa uma área coberta de 7.000 m2, para modelos e ensaios, e
outra de 5.000 m2 não coberta. Para a realização de estudos em modelos reduzidos,
conta com duas cisternas subterrâneas de dois mil metros cúbicos, e dois
reservatórios elevados de duzentos metros cúbicos. A capacidade de vazão do
sistema é de 1.600 l/s, o que dá uma visão de sua dimensão.
Abriga salas de aula e de estudos, oficinas de marcenaria e mecânica,
laboratório fotográfico, biblioteca especializada com 4.800 obras e periódicos, além
de laboratório didático de mecânica dos fluidos e hidráulica.
78
Um ambiente de P&D exerce muitas formas de influência na comunidade em
que existir. Essas influências vão desde a mudança cultural até a viabilização de
indústrias, que encontram entre seus profissionais pessoas com preparo de alto
padrão e a possibilidade de uso de seus laboratórios para serviços especiais.
Do LAC e CEHPAR para o LACTEC, todas as possibilidades de atuação
foram percebidas a partir da criação desses laboratórios.
O CEHPAR viabilizou a apropriação do potencial hidroelétrico do Paraná, pela
estatal COPEL, assim como proporcionou às suas cidades o apoio no
desenvolvimento de estratégias de utilização de seus recursos hídricos. Também
formou profissionais que vieram a integrar os quadros técnicos do Estado e apoio a
projetos internos e externos ao Paraná.
O LAC, conforme também já se explicitou, foi inaugurado em março de 1982.
Com sede em Curitiba, capital paranaense, ocupava uma área de 4.500 m2 de
edificações num terreno de 18.000 m2. Dispunha de laboratórios nas áreas de
eletricidade, eletrônica, materiais e química aplicada, totalizando investimentos em
equipamentos, sistemas e correlatos da ordem de R$ 45 milhões.(valores
atualizados)
FIGURA 11 - FOTOGRAFIA DA INAUGURAÇÃO DO LAC
FONTE: ACERVO DA COPEL,-1982.
79
O LAC tornou-se um ambiente de pesquisas multidisciplinares. Formou
laboratórios em eletrotécnica, física, química e informática, com equipamentos e
salas especiais para ensaios de alta e média tensão, padrões para aferição de
instrumentos de testes e medidas, ensaios gerais em eletrotécnica, laboratório para
ensaios físico-químicos, desenvolvimento de processadores e outros. Por sua
multidisciplinaridade e também por seu papel inicial de dar apoio à empresa-mãe,
COPEL, talvez não tenha valorizado a criação de uma política de apropriação de
novas pesquisas, não tendo registrado nenhuma patente em sua existência. Essa
concepção de valorizar resultados de pesquisa em produtos e patentes surgiram
com a criação do LACTEC, pela mudança de política de atuação, conforme
apresentamos na seqüência dos capítulos.
O LACTEC é um ambiente de P&D, que uma indústria comum não teria
condições de manter. Suas instalações abrigam aparelhos especiais, de alto custo,
que se justificam pela amplitude do serviço prestado, criando condições para
trabalhos especiais e pesquisas que acontecem por efeito da existência de um grupo
de doutores, mestres, especialistas em diversas áreas dedicados ao
desenvolvimento científico e tecnológico.
A seguir apresentar-se - á uma exposição do LACTEC com mais detalhes
para confirmação desta declaração.
80
5.4 O LACTEC EM DETALHES
5.4.1 Número de Empregados / Número de Estagiários
Desde 1999 até 2005 (atualmente) o LACTEC mantém em seu quadro de
funcionários efetivos entre 200 e 300 colaboradores; e em seu quadro de estagiários
entre cinqüenta e 130 alunos.
5.4.2 Custo Operacional e Investimentos
QUADRO 3 - CUSTO OPERACIONAL E INVESTIMENTOS (R$ 1,00)
ANO 2001 2002 2003
ATIVO CIRCULANTE 20.696.537 26.193.309 13.934.063
REALIZÁVEL A LONGO PRAZO 1.959.149 479.845 900.060
PERMANENTE 39.006.149 50.328.402 77.161.327
TOTAL DO ATIVO 61.661.835 77.001.556 91.995.450
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO 10.057.647 8.728.485 8.344.573
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 42.053.662 54.922.232 49.093.724
CUSTO DOS SERVIÇOS PRESTA-DOS E PROJETOS (32.706.816) (46.546.807) (51.557.666)
RECEITAS E DESPESAS OPERA-CIONAIS (1.778.765) (3.486.420) (10.024.305)
RECEITAS NÃO OPERACIONAIS 32.128 14.069 (150.593)
SUPERAVIT DO EXERCÍCIO 7.600.209 4.903.074 (12.638.840)
FONTE :LACTEC-CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO, 2005.
5.4.3 Artigos Publicados
Período de 1999 a 2004: 475 artigos publicados.
5.4.4 Convênios
• COPEL - Companhia Paranaense de Energia;
81
• Universidade Federal do Paraná;
• Ministério de Ciência e Tecnologia;
• Universidade Federal do Rio de Janeiro;
• Universidade Federal de Santa Catarina;
• Procel - Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica;
• Paraná Metrologia - Rede Paranaense de Metrologia e Ensaios;
• INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial;
• SBM - Sociedade Brasileira de Metrologia;
• Universidade de Strathclyde (Escócia);
• JICA - Japan International Cooperation Agency (Japão);
• University of Wales ( Inglaterra);
• Institut für Spektroskopie und angewandte Spectrochemie - ISAS
(Alemanha);
• Gesellschaft für Analytische Sensorsysteme (Alemanha);
• Gesellschaft für Analytische Sensorsysteme (Brasil);
• Projeto Rede de Centros Especializados em Gestão Tecnológica -
ABIPTI.
5.4.5 Principais Clientes:
• AMPLA (ex-CERJ-Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro);
• ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica);
• ANP (Agência Nacional do Petróleo);
• Grupo Rede - Celpa (Centrais Elétricas do Pará);
• Grupo Rede - Cemat (Centrais Elétricas Mato-grossense S/A.);
• COPEL (Companhia Paranaense de Energia);
• ELETROPAULO (CPFL-Companhia Paulista de Eletricidade);
• EXCELSA (Espírito Santo Centrais elétricas S/A);
• COELBA (Companhia Eletricidade da Bahia);
• COELCE (Companhia Eletricidade do Ceará);
• Electrolux;
• ENERGIPE (Empresa Energética de Sergipe);
• Furnas Centrais Elétricas;
82
• Furukawa;
• IAP (Instituto Ambiental do Paraná);
• Indústria Balestro;
• Johnson Matthey Brasil;;
• Ministério da Saúde;
• NEC do Brasil;
• Renault do Brasil;
• RGE (Rio Grande Energia);
• Volvo do Brasil;
• WEG Indústrias S/A.
5.4.6 Considerações Gerais
É importante lembrar que a formação do LACTEC aconteceu a partir de
laboratórios que refletem a história do desenvolvimento do Estado do Paraná.
O LEME (Laboratório de Emissões Veiculares), por exemplo, inaugurado em
maio de 2000, com investimentos de 9 milhões de reais, acompanhou a instalação
da indústria automobilística no Paraná. No âmbito do programa de incentivos a essa
indústria, o Estado formou esse laboratório, que também dá suporte à pesquisa em
meio ambiente.
O LEME atua na pesquisa e desenvolvimento de motores de combustão,
avaliação de combustíveis e componentes automotivos e também análise da
qualidade de emissões gasosas de veículos.
O laboratório realiza ensaios qualificados de veículos e de motores, em
regime estacionário e transiente. Nessas condições, é quase uma extensão das
montadoras de veículos automotores embora também permita a formação de
pesquisadores - o que constitui o grande diferencial de um centro de P&D – que
poderão dar sua contribuição à tecnologia nacional. Assim, o LEME atende
fabricantes de veículos e auto-peças, institutos de pesquisa de meio ambiente,
universidades e órgãos ambientais. Para tanto, ocupa uma área de 30.000 m2,
destes, 5.050 m2 em edificações, para abrigar unidades de ensaios, preparação de
veículos e motores, além de armazenamento de combustíveis.
A criação desse braço no LACTEC remete à importância e emergência de um
suporte para as indústrias que conquistaram seu espaço na criação de um parque
83
industrial, onde são necessários os progressos técnicos e tecnológicos, sustentáculo
da sociedade de consumo e da criação de novos empregos.
Por meio desses argumentos, o LACTEC desenvolve na pesquisa e na
transmissão do saber-fazer, prerrogativa de uma de uma sociedade democrática
com interesses em desenvolvimentos auto-sustentáveis, próprio de países
hegemônicos que souberam conquistar seu espaço pela criação da própria
tecnologia.
Por sua vez, o LAME resultou do aproveitamento da oportunidade de
construção da Usina de Segredo, para a qual a COPEL foi compelida a adquirir
equipamentos de ensaios mecânicos. Inaugurado em dezembro de 1994, possui
4.000 mil m de edificações, numa área total de oito mil metros.
O LAME realiza ensaios, análises e caracterizações de materiais, modelos
estruturais, geotécnicos, físicos e matemáticos, aplicados em obras de engenharia e
atua na qualificação de fornecedores, certificação de produtos, durabilidade e
recuperação de estruturas civis e na consultoria técnica em obras e projetos de
engenharia civil.
O LAME também faz pesquisas básicas e aplicadas ao desenvolvimento e
controle da qualidade de materiais civis, caracterização geotécnica de solos e
rochas, análise de fundações, modelos estruturais e recuperação de obras civis.
A criação recente dos laboratórios LEME e LAME ilustra a integração do
LACTEC ao Estado do Paraná, pois foram momentos oportunos para criar bases
tecnológicas para o país, com condições especiais de formação de profissionais de
alto nível, no território paranaense.
A partir de seu desligamento da COPEL, observação recorrente na pesquisa
realizada, um aspecto preocupante é a situação financeira do LACTEC, que
depende de recursos que deverá gerar, podendo prejudicar sua possível capacidade
de pesquisa em projetos de longo prazo ou sem rentabilidade comercial.
O balanço mostra que sua receita líquida está decrescente, colocando a
dúvida sobre a qualidade e condições de sobrevivência desse ambiente de P&D. O
LACTEC passa por uma fase cuja sobrevivência dependerá muito da compreensão
da importância de sua existência e do que se pretende com esse laboratório.
De fato, corre o risco de se tornar um simples prestador de serviços
sofisticados, perdendo oportunidades de desenvolvimento de pesquisas importantes
na luta pela própria existência, e da filosofia que explica a existência de um centro
84
de P&D que faz de seu projeto maior - a pesquisa - uma conseqüência secundária e
alheia a seus projetos maiores.
LACTEC é uma instituição nova, ainda em processo de consolidação como
Centro de P&D, relativamente independente e necessitando se manter com os
resultados de seu trabalho. Nessas condições o LACTEC deve aplicar-se em
pesquisa e desenvolvimento atento aos resultados comerciais de seu trabalho, o que
explica, inclusive, a sua preocupação em mostrar publicamente suas competências.
FIGURA 12 - LACTEC
FONTE: FOTOGRAFIA DE TÂNIIA ROSA FERREIRA CASCAES, 2005.
Um destaque para essa instituição que presta serviços especializados é a
necessidade de apropriar ao Instituto o resultado das pesquisas, de modo a poder
garantir receita com seus inventos, que ainda são poucos sob a denominação
LACTEC, pois é uma entidade recente. À medida que o LACTEC garantir
remuneração com novos inventos, terá mais recursos para aplicação em P&D, sem
necessidade de manter um programa intenso de prestação de serviços de rotina.
A produção técnica deste Instituto tem, entretanto, o benefício das suas
origens. Devido ao trabalho dos centros de P&D que o formaram pôde já começar
com muitos processos e equipamentos em desenvolvimento, possibilitando uma
carteira de produtos que lhe permitem uma renda além da simples prestação de
serviços. A realização de trabalhos especializados em nome do LACTEC também
aconteceu desde a sua criação, pois o Instituto de Tecnologia para o
85
Desenvolvimento, o LACTEC, iniciou com laboratórios montados, equipes formadas,
treinadas e atuando no Paraná e fora dele.
Os laboratórios que formaram o LACTEC propiciaram-lhe também forte
presença no setor elétrico. A grande maioria dos profissionais do LACTEC ou são
oriundos da COPEL ou trabalharam indiretamente para a empresa. Assim a
produção científica e material desse instituto é predominantemente dedicada a
empresas de energia elétrica ou indústrias a ela dedicadas. Muitos projetos não são
passíveis de apropriação tecnológica ou não foram aproveitados dessa forma.
Um aspecto a destacar é que antes da formação do LACTEC não existia no
pólo LAC/LAME/CEHPAR uma estratégia sólida de registro de propriedade
intelectual. Os melhores trabalhos com possibilidade industrial eram apropriados
pela indústria que motivava a pesquisa.
Os laboratórios que antecederam o LACTEC, sendo entidades sem
preocupações quanto a resultados financeiros, não desenvolveram procedimentos
de apropriação de cultura técnica. Independentemente dessa situação, desde a
formação do primeiro laboratório, esse ambiente de P&D criou bases para o
aprimoramento da cultura técnica no Paraná e para o Brasil, de modo geral.
Nesses laboratórios pôde-se realizar serviços especiais como, por exemplo,
avaliar respeito a especificações de equipamentos de grande porte através do
laboratório de alta tensão. Nele, exemplificando, a COPEL verificou que
transformadores adquiridos de uma grande multinacional estrangeira não atendiam
as especificações, estando com capacidade de transformação muito inferior à
mencionada na placa. Nesses laboratórios a COPEL também encontrou apoio para
disciplinar a fabricação de transformadores de distribuição, pequenos, mas em
volume tal que representariam prejuízo de vultosas somas se continuassem a ser
fabricados sem respeito às normas técnicas. Na área de materiais, durante muitos
anos a COPEL teve dificuldades de equacionar a avaliação e proteção de
superfícies metálicas em suas usinas. Condutos forçados, sempre úmidos, não
aceitavam pintura. O LAC estudou e desenvolveu procedimentos e recomendações
quanto às tintas para esse serviço de manutenção, servindo de base técnica
também para as novas instalações. Em medição o LAC chegou a desenvolver
padrões para aferição dos medidores de energia, um ponto importante na estratégia
comercial e técnica da empresa. Muito foi feito desde a criação do primeiro
laboratório, mas a espécie de serviço realizado sempre foi de alta complexidade, não
criando mídia nem sendo capaz de atingir a compreensão do mundo político. Essa
86
dificuldade tem prejudicado esta Instituição na obtenção de recursos para o seu
desenvolvimento.
O diagrama da figura 13, seguir mostra essa origem que garantia a
sobrevivência dos laboratórios pré-existentes ao LACTEC e com o LACTEC a nova
condição de sobrevivência. Note-se que antes da criação do LACTEC os
laboratórios eram mantidos tacitamente pela UFPR e COPEL, eventualmente
aproveitando verbas de apoio à P&D e realizando serviços externos. Com a
privatização, criando-se o LACTEC, a existência dessa instituição passou a
depender principalmente dos resultados financeiros dos seus serviços e pesquisas.
FIGURA 13 - DIAGRAMA DA ORIGEM E ABRANGÊNCIA DO LACTEC
COPEL CONSULTORIA EXTERNA
VERBAS FEDERAIS
CEHPARLAC
LAME
RECURSOS ESPECIAIS (Verbas a fundo perdido,
outras)
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS
(Inventos)
UFPR
P&D COM UTILIZAÇÃO DOS
FUNDOS SETORIAIS
MUDANÇA DE SUSTENTAÇÃO
COMERCIALIZAÇÃO DE SERVIÇOS
LACTEC
FONTE: PESQUISA TÂNIA ROSA FERREIRA CASCAES, 2005.
87
5.4.7 Produtos Registrados
O LACTEC tem em seu portal (julho de 2005) a relação dos produtos e
serviços passíveis de registro para utilização sob licença. O atraso na obtenção dos
registros definitivos deve-se em parte em função da sobrecarga dos órgãos
dedicados ao assunto.
QUADRO 4 - PATENTE REGISTRADA
Nº do Pedido Título
MU 7600052 -4
Dispositivo localizador de faltas aplicável em redes aéreas de distribuição de energia elétrica
Fonte: Centro de Documentação do LACTEC, disponível no site:<http://www.Lactec.org.br/em> Acessado em 16 jul 2005.
QUADRO 5 - PATENTES: PEDIDO DE INVENÇÃO
Nº do Pedido Título
PI 9805374
Circuito de medição precisa de potência elétrica com termoconversores conectados em ponte
PI 9802955
Revestimento descartável para luminárias
PI 9802938
Dispositivo sensor de corrente e tensão aplicável para localização de faltas em redes aéreas de distribuição de energia elétrica
PI 9703181
Equipamento eletrônico integrado de sensoriamento e transmissão de falta de energia em baixa tensão
PI 9703180
Equipamento eletrônico integrado de alerta para motorista de veículos automotores
PI 9605628
Sistema fotoelétrico eletrônico de ciclo reduzido
PI 9501805
Fotocélula eletrônica n.a.
PI 9502888-9
Protetor catódico de grelhas de linha de transmissão aérea convencional
PI 9600116-0
Fotocélula eletrônica capacitativa integrada
PI 0006643-5
Aparelho eletrônico digital para detecção de isoladores perfuradores em linhas de distribuição de energia elétrica
88
PI 0102507-4
Equipamento eletrônico programável para discagens telefônicas
PI 0106313-8
Processo de regeneração de óleos minerais lubrificantes industriais e isolantes
Fonte: Centro de Documentação do LACTEC, disponível no site:<http://www.LACTEC.org.br/em> Acessado em 16 jul 2005.
QUADRO 6 - PATENTES: MODELO DE UTILIDADE
Nº do Pedido Título
MU 7901357
Caixa para encapsulamento de reator eletrônico e outros equipamentos
MU 8102903-9
Equipamento registrador e sinalizador de faltas em linhas de distribuição e subtransmissão
MU 8101013-3
Sistema de monitoramento de ligações telefônicas
MU 8102978-0
Equipamento eletrônico localizador de cabos elétricos embutidos
MU 7800121-8
Transdutor ativo de corrente elétrica com linearidade estendia
MU 7702137-1
Medidor eletrônico monofásico de energia elétrica
MU 8102181-0
Aperfeiçoamento introduzido em protetor catódico para grelhas de linhas de transmissão aréas convencionais
MU 7601861-0
Dispositivo detetor de ligações clandestinas na entrada de consumidores de energia elétrica
MU 7601862-8
Reator aplicável a lâmpada de vapor de mercúrio ou sódio com regimes de potência diferenciados (reator inteligente)
MU 7901356
Reator eletrônico multi-volt com fotocélula para aplicações gerais e iluminação pública
MU 7901355
Equipamento identificador de fases
MU 7900346
Fotocélula eletrônica incorporada a reatores eletrônicos para iluminação pública com temporização
MU 7900171
Fotocélula diferencial eletrônica em estado sólido com temporizador
MU 7802359
Economizador de energia programável para iluminação pública
MU 7802320
Reator eletrônico bi-volt para lâmpadas vapor de sódio e multivapores metálicos com controle de potência sobre a lâmpada
89
MU 7802319
Reator eletrônico bi-volt para lâmpadas vapor de sódio e multivapores metálicos
MU 7802318
Reator eletrônico com controle de potência para lâmpadas vapor de sódio e multivapores metálicos
MU 7802194
Reator eletrônico para lâmpadas vapor de sódio e multivapores metálicos
MU 7702137
Medidor eletrônico monofásico de energia elétrica
MU 7700863
Sistema de monitoramento do fornecimento de energia elétrica em baixa tensão
Fonte: Centro de Documentação do LACTEC, disponível no site:<http://www.Lactec.org.br/em> Acessado em 16 jul 2005.
QUADRO 7 – PATENTE: REGISTRO DE PROGRAMAS
Nº do Pedido Título
RP 99002371 Software autolab de gestão e automação de laboratórios
Fonte: Centro de Documentação do LACTEC, disponível no site:<http://www.Lactec.org.br/em> Acessado em 16 jul 2005.
QUADRO 8 - PATENTE: DESENHO INDUSTRIAL
Nº do Pedido Título
DI 6204051-0 Configuração aplicada em luminária pública
Fonte: Centro de Documentação do LACTEC, disponível no site:<http://www.Lactec.org.br/em> Acessado em 16 jul 2005.
Note-se a importância do registro de propriedade intelectual em nome do
LACTEC. Para manter seus quadros de pesquisadores o Instituto deverá gerar receita, o que poderá obter comercializando o resultado de invenções que puder apropriar a seu patrimônio.
90
5.4.8 Exemplo - Alguns Produtos Desenvolvidos
FIGURA 14 - ARGOS - SISTEMA DE MONITORAMENTO DE INTERRUPÇÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA
FONTE: PORTAL DO LACTEC, 2005.
Sistema que permite, de forma automática e on-line, obter e monitorar os índices de continuidade nos serviços de fornecimento de energia elétrica em baixa tensão. Possibilita à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), agências reguladoras estaduais, concessionárias de energia elétrica e aos consumidores o acompanhamento das informações de interrupção de energia elétrica. Permite também a monitoração dos indicadores de qualidade DEC, FEC, DIC e FIC. A interrupção e os indicadores são obtidos pela Internet, no portal ARGOS. Disponibiliza informações sobre a data, hora, duração e freqüência das interrupções e restabelecimento do fornecimento de energia elétrica. Informa com rapidez e precisão os centros de operação de distribuição de energia elétrica sobre o estado de energização dos ramais de distribuição . Obtém automaticamente os indicadores de qualidade DEC, FEC, DIC e FIC. Determina com rapidez as regiões e ramais que se encontram sem energia elétrica. Diminui o congestionamento das linhas telefônicas dos serviços de emergência 120 ou 196. Conta com cobertura nacional. Foi totalmente desenvolvido pelo LACTEC, em convênio com a ANEEL.
Esse é o produto que deu ao LACTEC (após os laboratórios que o
antecederam) maior destaque junto à ANEEL, agência reguladora do setor elétrico.
Ele atendeu uma necessidade especial dessa agência e aconteceu por efeito da
sinergia entre COPEL e LACTEC. “Um dos produtos patenteados pelo LACTEC e mais conhecido em todo o país é o Sistema Argos (Sistema de Monitoração de Interrupção do Fornecimento de Energia Elétrica). Em caso de falta de luz, o Argos informa automática e instantaneamente, as concessionárias de energia elétrica, via Internet, o local onde foi interrompido o fornecimento de energia elétrica. O Argos permite ainda que a Aneel monitore com precisão a qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias de energia elétrica. O Argos permite analisar o tempo exato de um apagão, por exemplo, e é uma forma independente e efetiva de fiscalização e controle da sociedade. O consumidor tem um instrumento para sua defesa.
91
A patente PI 9703181 trata de equipamento eletrônico integrado de sensoriamento e transmissão de falta de energia em baixa tensão.. Trata-se de um Sistema que permite, de forma automática, segura, confiável, auditável e instantânea (on-line e via Internet), obter e monitorar informações sobre as interrupções do fornecimento de energia elétrica e os índices de continuidade e qualidade dos serviços prestados pelas Concessionárias de Energia Elétrica, ... Para a ANEEL, Agências Reguladoras Estaduais e aos Consumidores em geral: Possibilita o acompanhamento e a fiscalização das informações sobre as interrupções do fornecimento de energia elétrica e os indicadores DEC, FEC, DIC, FIC e DMIC; Para as Concessionárias de Energia Elétrica: Nos CENTROS DE OPERAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO - COD's disponibiliza, de forma on-line, informações sobre os trechos da Rede de Distribuição(circuitos, chaves, ramais, religadores automáticos) que se encontram com defeito(sem energia elétrica); ... Permite diminuir significativamente o Tempo de Espera para o atendimento emergencial” .
Fonte: http://www.finep.gov.br/bv/noticias/vendadeeletro.htm http://www.LACTEC.org.br/lacte/prod_argos.html
http://www.finep.gov.br/premio/pre_1999.htm acesso em julho de 2005-07-16
http://inventabrasilnet.t5.com.br/argos.htm FIGURA 15 - ROBOTURB - SISTEMA AUTOMATIZADO PARA RECUPERAÇÃO DE
ROTORES DE TURBINAS HIDRÁULICAS DE GRANDE PORTE
FONTE: FOTOGRAFIA DE TÂNIIA ROSA FERREIRA CASCAES, 2005.
Sistema automatizado para recuperação de rotores de turbinas, cavitação.
Em operação as pás das turbinas perdem material que deve ser reposto através de
eletrodeposição durante as manutenções.
92
O processo convencional é lento, dependendo de mão de obra difícil e em
condições de trabalho extremamente severas.
O equipamento desenvolvido poderá ter outras aplicações, a partir dos
desenvolvimentos realizados, aumentando a eficácia dos sistemas de manutenção à
distância via robôs.
93
5.4.9 O LACTEC e o Setor Elétrico
Devido às fontes de recursos para P&D no setor elétrico e principalmente às
relações existentes entre os colaboradores do LACTEC e as concessionárias de
energia elétrica, vê-se que a informação destacada no portal do Instituto de
Tecnologia para o Desenvolvimento, o LACTEC “ possui uma grande experiência em
desenvolvimento de projetos de P&D para Concessionárias de Energia, tendo
atendido, de 1999 a 2002, cerca de 25 concessionárias, compreendendo 79
projetos, somente no âmbito do atendimento a LEI Nº 9991.”
Os projetos relacionados mostram a abrangência do LACTEC e sua amplitude
nacional:
• desenvolvimento de metodologia para monitoramento do grau de poluição nos alimentadores de 13,8 e 69 kV da ilha de São Luís.
• desenvolvimento e implementação de dispositivo para contagem e memorização de faltas momentânea em redes de distribuição.
• estudos de técnicas alternativas para o manejo da vegetação sob as linhas de distribuição de energia elétrica, em área de proteção ambiental (pantanal - MT).
• pesquisa do comportamento dos cabos protegidos e acessórios de rede protegida aérea compacta submetidos às solicitações típicas da região centro oeste do Brasil.
• desenvolvimento de modelo para aprimoramento, modernização e automação operacional de PCH´s através de novos processos de gerenciamento, supervisão, monitoramento e controle.
• regeneração de mata ciliar em reservatórios e/ou rios • sensor de surto de tensão com memória, para baixa tensão. • desenvolvimento de uma metodologia a para a caracterização e
diagnóstico de falhas no sistema de medição de energia elétrica da concessionária.
• dispositivo para a indicação visual de sobrecarga em transformador de distribuição.
• estudo do processo de envelhecimento natural e artificial de isoladores. • desenvolvimento de chave estática em estado sólido para sistemas de
distribuição. • estudo da degradação de materiais utilizados na rede de distribuição de
energia instalada na orla de Aracaju.
94
• inovação do processo de avaliação de óleos minerais isolantes baseado na aplicação de um protótipo de sistema móvel de amostragem e análise.
• desenvolvimento sistema de comunicação alternativo para indicadores de interrupção de fornecimento de energia para áreas urbanas isoladas.
• pesquisa sobre o impacto de descargas atmosféricas na confiabilidade de linhas de distribuição, em região rural do Estado de Santa Catarina
• pesquisa do comportamento dos cabos protegidos e acessórios submetidos a alta poluição atmosférica, salinidade e ataque biológico, em áreas litorâneas do Estado de Santa Catarina.
• estudo de tecnologias para o desenvolvimento de uma metodologia para a calibração transformadores de potencial em campo.
• estudo sobre a qualidade e durabilidade de materiais utilizados em ferramentas para serviços em linha viva.
• avaliação da vida útil dos transformadores de distribuição da COPEL. • desenvolvimento de algoritmos matemáticos para a otimização do sistema
de distribuição de energia elétrica. • aplicação de tecnologia de filtragem ativa para melhoria da qualidade de
energia elétrica em baixa tensão. • avaliação dos impactos da poluição atmosférica correlacionados à
manutenção de estruturas utilizadas no setor elétrico. • procedimentos e metodologia para estudo geotécnico de terrenos e para
projeto de fundações de estruturas de suporte de linhas aéreas de distribuição e de transmissão de energia elétrica.
• estudos e diagnósticos dos materiais empregados nos sistemas de aterramento de subestações 34,5 kV / 13,8 kV.
• estudo da utilização de rejeitos de isoladores de porcelana, na fabricação de artefatos de concreto (postes e cruzetas).
• estudo do superaquecimento de conexões elétricas em subestações de distribuição.
• fatores de influência na compatibilidade de cabos protegidos, isoladores e acessórios utilizados em redes aéreas compactas de distribuição de energia elétrica, sob condições de multi-estressamento.
• desenvolvimento de materiais poliméricos uretânicos para purificação on-line de transformadores contaminados com ascarel.
95
5.4.10 Os prêmios obtidos pelo LACTEC demonstram o sucesso de suas iniciativas
2004 - Conquista do Troféu Expressão de Excelência Tecnológica 2004 na
categoria Produto com o "Sistema Seqüenciador de Eventos" – SOE
2003 - Conquista do Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica 2003 (Nacional
e Região Sul), como melhor Instituição de Pesquisa. A Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, tem como objetivo promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa e outras instituições públicas ou privadas, mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econômico e social do País. A FINEP privilegia, em sua atuação, o apoio a empresas e instituições que investem no desenvolvimento de novos produtos e processos, na busca contínua da inovação e da liderança tecnológica. O processo de inovação é apoiado em todas as suas etapas e dimensões: da pesquisa em laboratório ao desenvolvimento de mercados para produtos inovadores; da incubação de empresas de base tecnológica à estruturação e consolidação dos processos de pesquisa e desenvolvimento das empresas já estabelecidas. São inovações tecnológicas as implantações de produtos e processos tecnologicamente novos ou com substanciais melhorias tecnológicas. Uma inovação é considerada implantada se estiver introduzida no mercado ou usada no processo de produção.
Portal FINEP - Julho de 2005
2003 - Conquista do Prêmio Expressão de Ecologia na categoria Tecnologia
de Controle Ambiental.
2002 - Conquista do Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica 2002 (Região
Sul), como melhor Instituição de Pesquisa.
2001 - Aprovação de 24 projetos na Mostra Energia Brasil, promovida pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia e pela FINEP, representando 42% do total de
projetos selecionados nacionalmente entre empresas, universidades e centros de
pesquisa.
2001 - Conquista do Troféu Expressão de Excelência Tecnológica na
categoria Centro de Pesquisa.
2000 - Conquista da Menção Honrosa no Prêmio FINEP de Inovação
Tecnológica (Regional Sul), pela apresentação do projeto Controle de Aditivação e
Degradação de Polietileno.
1999 - Conquista do Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica, na categoria
Produto - Tecnologia da Informação - pela apresentação do projeto Argos e uma
Menção Honrosa pelo conjunto dos trabalhos inscritos, principalmente, pelo case
Proteção Catódica de Pés de Torres de Linhas de Transmissão.
96
5.4.11 Estrutura e Atuação
FIGURA 16 - ESTRUTURA DE ATUAÇÃO
Treinamento e orientação na qualificação de recursos humanos. Elaboração e execução de programas em vários níveis de formação. Ações educacionais para capacitação tecnológica.
Caracterização, diagnóstico e certificação de produtos, componentes, processos e sistemas.
LACTEC
AÇÕES EDUCACIONAIS
Estudos sobre fomento, demanda, aplicação, especificação e oferta de tecnologias. Estudos, engenharia básica e serviços técnicos especializados. Geração, adaptação, transferência e licenciamento de tecnologia. Assessoria e consultoria técnica em todas as áreas do conhecimento
SERVIÇOS TECNOLÓGICOS
TESTES, ENSAIOS E ANÁLISES
QUALIFICADAS
P&D
Projetos de pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental e Engenharia do Produto. Desenvolvimento de protótipos e produção de produtos, processos e sistemas de base tecnológica.
O LACTEC concentra as atividades que antes eram desempenhadas pelos
laboratórios que lhe deram origem.
97
As áreas de atuação do LACTEC atualmente são:
FIGURA 17 - ÁREAS DE ATUAÇÃO DO LACTEC
ELETRÔNICA ELETRICIDADE
LACTEC
ESTRUTURAS CIVIS
MEIO AMBIENTE
QUÍMICA
SERVIÇOS EM ENERGIA ELÉTRICA
MATERIAIS
RECURSOS HÍDRICOS
MECÂNICA E EMISSÕES TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO
Essas atividades refletem a formação de pesquisadores que permitem e
possibilitaram ao longo do tempo atividades especiais na área de Engenharia.
98
Para cumprir suas obrigações o LACTEC está estruturado da seguinte forma:
FIGURA 18 - COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO LACTEC
3 representantes COPEL
Companhia Paranaense de Energia
3 representantes UFPR
Universidade Federal do Paraná
1 representante IEP
Inst. de Engenharia do Paraná 1 representante
FIEP Fed. das Indústrias do
Estado do Paraná
1 representante ACP
Associação Comercial do Paraná
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
1 representante LACTEC
Inst. de Pesquisa e Desenvolvimento EMPREGADOS
1 representante LACTEC
Inst. de Pesquisa e Desenvolvimento
LACTEC
99
FIGURA 19 - ESTRUTURA DO LACTEC
SUPERINTENDÊNCIA
Diretoria de Operação TécnicaDOT
Diretoria de Administração
e Finanças DAF
Diretoria De Desenvolvimento
Tecnológico DDT
Departamento de Materiais - DPMA
Metálicos e Cerâmicos Polímeros e Dielétricos
Departamento de Química Aplicada -DPQA
Óleos Minerais Química Aplicada
Departamento de Mecânica e Emissões - DPME
Mecânica Emissões
Departamento de Estruturas Civis - DPEC
Ensaios e Análises Serviços em Estruturas Civis Pesquisa em Estruturas Civis
Departamento de Eletricidade - DPEL
Alta Tensão Baixa Tensão Metrologia Compatibilidade Eletromagnética Serviços em Energia Elétrica
Departamento de Eletrônica - DPEN
Microeletrônica Sistemas Eletrônicos
Departamento de Meio Ambiente - DPMB
Departamento de Recursos Hídricos - DPHR
Hidráulica Recursos Hídricos Geossoluções Gestão da Geração
Departamento de Empreendimentos Institucionais - DPEI
Departamento de Desenvolvimento Tecnológico - DPDT
Departamento de Recursos Humanos - DPRH
Departamento Contábil-Financeiro - DPCF
Departamento de Logística - DPLG
Coordenadoria Executiva de Negócios
Departamento de Gestão de Projetos - DPGP
Departamento de Tecnologia da Informação - DPTI
Departamento de Comercialização - DPCM
100
5.4.12 Detalhes das Áreas Técnicas do LACTEC
Neste capítulo ´transcrito com alguns comentários e ilustrações os recursos
técnicos do LACTEC, divulgados em seu portal. Pela alta especialização e para não
excluir detalhes que mostrarão sua importância para quem tem condições técnicas
de compreendê-lo, o detalhamento na forma de sua apresentação original no portal
do LACTEC foi mantido com alguns comentários adicionais e cortes onde os
detalhes pouco acrescentavam. .
5.4.12.1 Diretoria de Operação Técnica
Esta Diretoria é responsável pela parte operacional do LACTEC sendo suas
atividades desenvolvidas pelos Departamentos que a compõem.
5.4.12.1.1 Departamento de Materiais - DPMA
Este departamento apresenta no portal do LACTEC uma descrição minuciosa
de suas atribuições e atividades, servindo como exemplo do que essa instituição é
capaz. Ele é um produto direto das necessidades geradas pela COPEL em suas
áreas de construção e operação, tornando-se uma área de ponta dentro do LACTEC
pelo aproveitamento inteligente e eficaz das oportunidades criadas. Do site do
LACTEC foi extraído o seguinte: É responsável pela realização de testes, ensaios e análises qualificadas, transferência de conhecimento, serviços tecnológicos e projetos de pesquisa e desenvolvimento na área de Engenharia e Ciência dos Materiais, para empresas do setor elétrico, automobilístico, eletro-eletrônico, telecomunicações, indústrias químicas, entre outros parceiros. Tem participação nos Programas de Graduação e Pós-Graduação da UFPR (Programa de Pós-Graduação em Engenharia, PIPE, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental e no Programa de Pós-Graduação da Engenharia Civil e da Construção Civil), PUC-PR, CEFET-PR e UNICENP, ministrando disciplinas e orientando estagiários de Iniciação Científica e alunos de Mestrado e Doutorado nos diversos programas. Possui interações técnicas com grupos de outras Universidades no âmbito brasileiro, como a Universidade de São Paulo e a Universidade Federal de São Carlos. Visando o melhor desempenho das atividades, estudo das propriedades e novos desenvolvimentos em Engenharia e Ciência dos Materiais, o departamento está dividido em duas grandes unidades: Tecnologia de Materiais Inorgânicos, compreendendo a Unidade de Tecnologia de Materiais Cerâmicos e Metálicos e a unidade de Tecnologia em Materiais Orgânicos, denominada Unidade de Tecnologia de Polímeros e Dielétricos. Serviços e produtos do DPMA O departamento apresenta uma grande experiência em desenvolvimento de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para Concessionárias de Energia, tendo aprovado, desde 1999, 42 projetos, somente no âmbito do atendimento à Lei 9991. Destes projetos, 12 foram concluídos, 19 encontram-se dentro do cronograma de execução estipulado e o restante foi mantido como reserva. Atua, também, em projetos de P&D em parceria com diferentes segmentos de mercado, como CNPq, Petrobrás e FINEP e outras instituições de fomento, órgãos governamentais e indústrias que necessitam de soluções para área de Materiais e Eletricidade, especialmente com os seguintes temas:
101
FIGURA 20 – CÉLULA A COMBUSTÍVEL
FONTE: FOTOGRAFIA DO LACTEC, 2005
• fontes de energia alternativa:
Célula a combustível; painéis fotovoltaicos; dispositivos eletroquímicos – célula solar nanocristalina;patologias em estruturas de concreto (artefatos de concreto das redes de distribuição e transmissão de energia e de estruturas concretadas de barragens); dispositivos eletrocrômicos; dispositivos eletroluminescentes; desempenho dos materiais poliméricos de redes compactas; desenvolvimento de metodologias para qualificação e otimização de uso de materiais para processos e produtos; estudo de materiais poliméricos utilizados como dielétricos além de desenvolvimento de equipamentos que permitam a avaliação interna de peças e equipamentos; aprimoramento e aplicação de ensaios não-destrutivos e não-invasivos em materiais, tais como a radiografia e tomografia computadorizada de raios X; estudos de passivação, mecanismos e teorias, ruptura da passivação, fenômenos de transporte em tintas e esquemas de proteção anticorrosiva, novos materiais, materiais para dispositivos eletroquímicos de energia, sensores de gases; estudos para co-disposição e reciclagem de materiais em outras matrizes; desenvolvimento e teste de dispositivos com novos materiais para o setor elétrico; estudos em dispositivos eletroluminescentes; estudos envolvendo a corrosividade ambiental sobre os diversos materiais das redes de distribuição e transmissão de energia; estudos de desenvolvimento e testes de dispositivos conectores metálicos para as redes de distribuição e transmissão de energia; pesquisa e desenvolvimento com eletrólitos e materiais de eletrodo para diferentes dispositivos eletroquímicos como células combustíveis de óxido sólido; estudos de efeito de compatibilidade sobre as diversas alternativas de construção de dispositivos envolvendo materiais poliméricos disponíveis no mercado (cabos, isoladores, espaçadores, amarrações, etc.); análises termo-mecânicas de estruturas de concreto; modelagem dos efeitos da reação álcali-agregado em barragens; análise computacional de sistemas de proteção catódica; simulação da propagação de trincas; modelagem de problemas acústicos; desenvolvimento de sistemas protetivos de metais quanto à corrosão; P&D de operação e manutenção de células a combustível de ácido fosfórico (parâmetros de eficientização e custos); projeto Malha de sub-estações, para diagnóstico corrosivo das malhas de terra em subestações; P&D para entender os mecanismos envolvidos na degradação de materiais poliméricos e outras reações químicas que alteram as características químicas destes, principalmente, de polietileno.
102
Transferência de conhecimentos a partir do DPMA Este item contém informações dos principais trabalhos de transferência tecnológica desenvolvidos no departamento, nos últimos 4 anos, além dos relatórios e laudos técnicos normalmente emitidos quando de uma solicitação externa. Seminários, Congressos e Cursos Dentro de suas atribuições é um dos propagadores da Ciência e Tecnologia na área de materiais para o setor elétrico, promovendo cursos de extensão, de especialização e, ministrando por meio dos seus colaboradores, cursos para alguns dos programas de pós graduação da UFPR, já descritos. Também, tem tido participação ativa na elaboração de eventos relacionados à área. Alguns dos destaques do DPMA encontram-se apresentados neste item. Eventos • CEMEE. I A IV edições do Curso de especialização de materiais para equipamentos
elétricos; SEMEL. I A VI edições do Seminário de Materiais Para o Setor Elétrico, realizados em Curitiba; CBECIMAT. 13º Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência de Materiais; I Curso de baterias; EBCA. I a V edições do Encontro em Baterias de Chumbo Ácido.
Orientações acadêmicas O DPMA participa do Programa de Pós-Graduação em Engenharia, PIPE, orientando alunos em Mestrado e em Doutorado, participa do Colegiado do Curso. Colabora com os Programas de Pós-Graduação na Construção Civil e em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental.
O DPMA se mostra na mídia do LACTEC, como um centro de P&D pode
transferir conhecimentos para a comunidade que o contém.
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FIGURA 21 - DIAGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTOS DO LACTEC
EXEMPLO: SEMEL EXEMPLO: CEMEE
SEMINÁRIOS, CONGRESSOS, ENCONTROS
TÉCNICOS
EXEMPLO: INEPARCURSOS
Transferência para a indústria
TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTOS Transferência
para empresas de serviços
ORIENTAÇÃO E APOIO A ACADÊMICOS, MESTRANDOS, DOUTORANDOS
EXEMPLO: COPEL
PUBLICAÇÕES TÉCNICAS
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5.4.12.1.2 Departamento de Química Aplicada - DPQA
É responsável pelo desenvolvimento de projetos, pela prestação de serviços
técnicos e pela realização de ensaios químicos para o setor produtivo em geral.
FIGURA 22 - DEPARTAMENTO DE QUÍMICA APLICADA – DPQA
FONTE: FOTOGRAFIA CEDIDA PELO LACTEC, 2005
Competência: Apresenta uma grande experiência em desenvolvimento de projetos de P&D em Química para Concessionárias de Energia e para Industria em geral. Atua também em Pesquisa e Desenvolvimento para clientes de diferentes segmentos de mercado. São instituições, órgãos governamentais, indústrias que necessitam de soluções na área de Química, especialmente com os seguintes temas: - Fontes de Energia Renováveis. Desempenho de Materiais em Equipamentos. Desenvolvimento de Metodologias de Ensaios Químicos. Qualidade de Produtos. Polímeros Funcionalizados para fins específicos. Serviços e Produtos • Óleos Isolantes:
O LAC (antes do LACTEC) desenvolveu um programa de monitoramento da qualidade do óleo isolante dos grandes transformadores da COPEL, evitando grandes acidentes e prolongando a vida útil desses equipamentos. Os transformadores de grande porte são elementos essenciais ao atendimento energético de cidades e regiões do estado. Qualquer dano a um equipamento desse porte e significado representa um grande prejuízo para a concessionária e para a população atendida. - Assessoria na especificação de fluidos isolantes, minerais ou sintéticos. Apoio na
avaliação e/ou manutenção de equipamentos elétricos isolados a óleo mineral em instalações industriais, baseado nos resultados de análises físico-químicas e de gases dissolvidos no fluido isolante. Assessoria na recepção de equipamentos elétricos isolados e/ou refrigerados por líquidos minerais ou sintéticos. Ensaios em Óleos Isolantes. Ensaios de Campo. Óleos Lubrificantes com assessoria na
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especificação de óleos lubrificantes industriais. Apoio na avaliação e/ou manutenção de equipamentos industriais, baseado nos resultados de ensaios físico-químicos. Ensaios em Óleos Lubrificantes.
• Águas: A importância de um laboratório reside em seus recursos humanos e materiais e na utilização de que for objeto. Temos problemas sérios a serem estudados em nosso país.
A capacidade de realizar ensaios especiais evidencia-se quando sabemos
que:
Fator de risco: dados da ANDEF - Associação Nacional dos Defensivos
Agrícolas, dão conta de que em 1999 as vendas totais de agrotóxicos no Brasil
foram superiores a 288.000.000 de kg de produtos comerciais, o que significou um
valor total de vendas na casa dos US$ 2,329,067,000.00 (ANDEF, 2003),
A vigilância dos rios brasileiros é uma das ações mais eficazes a favor do
desenvolvimento, pois escolhendo-se criteriosamente tecnologia e locais de
monitoramento pode-se ter indicadores confiáveis do grau de adulteração do meio
ambiente e informações para medidas corretivas. Lembrando que ao longo dos rios
tem - se hidroelétricas, empresas de saneamento e outras formas de interferência,
seria perfeitamente lógico e realizável a implementação de sistemas integrados de
segurança e controle. Nesta tarefa o LACTEC está preparado para um apoio
integrado pois é um órgão multidisciplinar com áreas de concentração de
conhecimentos necessárias a um programa dessa espécie,.
O LACTEC tem, portanto, condições de apoiar autoridades e empresas na
preservação do meio ambiente. - Assessoria na especificação de parâmetros necessários para determinação da qualidade da água consumida. Apoio na avaliação de redes de distribuição de água, seja residencial, comercial ou industrial. Realização de ensaios para a execução de estudo de impacto ambiental e elaboração de relatório de impacto do meio ambiente (EIA/RIMA). Ensaios em Água: - Ensaios de Alcalinidade, Ânions (cloretos, fluoretos, nitratos, nitritos, fosfatos, sulfatos), Cátions (sódio, potássio, amônio, cálcio, magnésio), BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno), Condutividade, Cor, DBO, DQO, Determinação de Cianetos e Sulfetos, Determinação de Metais (ferro, manganês, cobre, alumínio, cádmio, chumbo, cromo total, cromo hexavalente, mercúrio, arsênio, selênio, bário, boro, estanho, estrôncio, níquel, prata, zinco, tungstênio, molibdênio), Determinação de Sulfitos, Dureza Total, Fósforo Total, Gás Carbônico, Índice de Fenóis, Nitrogênio Total, pH, Óleos e Graxas, Temperatura e Oxigênio Dissolvido, Sólidos Sedimentáveis, Sólidos Suspensos, Sólidos Dissolvidos, Sólidos Totais, Turbidez. Materiais Diversos: - Assessoria na especificação da composição química de diferentes materiais, polímeros, ligas metálicas e soluções não aquosas. Apoio na avaliação química de materiais para detecção de problemas em equipamentos industriais, peças ou para manutenção de equipamentos, bem como, para controle de qualidade industrial. Monitoramento da qualidade do ar e emissões gasosas.
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Ensaios em Materiais Diversos: Peças Automotivas: - Ensaios de Carbono Total, Fogging, Formaldeído. Polímeros: - Caracterização Química por Infra-Vermelho. Ligas Metálicas: - Ensaio de Metais (ferro, manganês, cobre, alumínio, cádmio, chumbo, cromo total, cromo hexavalente, mercúrio, arsênio, selênio, bário, boro, estanho, estrôncio, níquel, prata, zinco, tungstênio, molibdênio). Solos e Sedimentos: - Ensaio de BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno). Ensaio de Hidrocarbonetos Totais. Materiais Diversos: - Análises Orgânicas de Traços por Cromatografia Gasosa e Massas. Ensaio de Aldeídos e Cetonas por Cromatografia Líquida (emissões veiculares).
5.4.12.1.3 Departamento de Mecânica e Emissões - DPME
Compreende as unidades de Mecânica e Emissões. Os profissionais que
compõem o departamento têm como objetivo promover pesquisa e desenvolvimento,
ensaios e análises qualificadas e transferência de conhecimentos e serviços
tecnológicos, relacionados à tecnologia mecânica.
FIGURA 23 - DEPARTAMENTO DE MECÂNICA E EMISSÕES - DPME
FONTE: FOTOGRAFIA EXTRAÍDA DO SITE DO LACTEC
• Serviços A unidade de Mecânica atua na execução de projetos de pesquisa e realiza serviços de inspeção e manutenção envolvendo as seguintes áreas de conhecimento: projeto e construção mecânica, vibrações e acústica; medições de tensões e integridade estrutural; soldagem; automação; robótica e desempenho de máquinas voltados a componentes, equipamentos e instalações do setor elétrico tais como: cabos condutores e acessórios de linhas de distribuição e transmissão, barragens, tomadas d’água, comportas, unidades geradoras hidráulicas, aerogeradores, transformadores, sistemas de trocas térmicas e outros.
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FIGURA 24 - AVALIAÇÃO DE MOTORES
FONTE: FOTOGRAFIA DO LACTEC, 2005
A unidade de Emissões Veiculares avalia o desempenho de motores de
combustão interna, veículos automotores e componentes veiculares. Além de
realizar ensaios qualificados e consultoria na área automotiva, executa também
pesquisa e desenvolvimento de motores de combustão e agregados.
5.4.12.1.4 Departamento de Estruturas Civis – DPEC
É responsável pelo desenvolvimento de atividades de Engenharia Civil. Tem sua origem no LAME - Laboratório de Materiais e Estruturas, fruto de um convênio assinado em 1994 entre a COPEL e a UFPR. Em 2000 passou a integrar o LACTEC. Realiza uma ampla gama de atividades, envolvendo pesquisa e desenvolvimento, serviços tecnológicos de controle de qualidade de obras e consultoria, transferência de conhecimento e ensaios de estruturas, de materiais de construção e de geotecnia. Possui laboratórios equipados para realização de uma grande quantidade de ensaios e análises. A equipe responsável pelos ensaios é constituída por engenheiros e técnicos de grande experiência. Tais laboratórios realizam trabalhos para clientes externos, além de apoiar as atividades de pesquisa, ensino e prestação de serviços tecnológicos do departamento. O laboratório é credenciado junto o INMETRO desde 1999, fazendo parte da RBLE – Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios, sendo o único no sul do Brasil acreditado na área de construção civil para ensaios com concreto e bloco de concreto. • Serviços
Rotineiros e especiais, que requerem conhecimento direcionado. Esses elementos são o resultado da combinação de conhecimento científico e tecnológico, com a prática de controle tecnológico em obras e de projetos. Possui uma equipe de pesquisadores, engenheiros e técnicos altamente qualificados, e laboratórios equipados e estruturados para realizar serviços com garantia da qualidade. O resultado de tudo isso é uma engenharia de alto nível, aplicada a serviços tecnológicos e pesquisas.
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Soluções eficientes e inovadoras são resultados da interação do departamento com outras áreas do LACTEC, mecânica, ciência dos materiais, hidráulica e hidrologia, ambiental, química, elétrica e eletrônica. A capacidade dos profissionais e laboratórios do LACTEC em todas essas áreas, garante a formação de equipes multidisciplinares competentes para resolver problemas complexos. A experiência do departamento em atuação em temas inerentes a Estruturas civis de Usina Hidrelétricas é uma das maiores do Brasil atualmente.
5.4.12.1.5 Departamento de Eletricidade - DPEL
Atua no setor da engenharia elétrica, com destaque para as áreas de Sistema de Potência, Qualidade de Energia, Equipamentos de Alta e Baixa Tensão, Compatibilidade Eletromagnética e Metrologia. Está estruturado para oferecer soluções integradas, eficazes e econômicas para o cliente, que compreende desde ensaios e calibrações em geral até projetos de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Competências O LACTEC apresenta uma grande experiência em desenvolvimento de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento para Concessionárias de Energia, tendo atendido, desde 1999, mais de 80 projetos somente no âmbito do atendimento à Lei 9991. Atua também em P&D para clientes de diferentes segmentos de mercado. São instituições, órgãos governamentais, indústrias que necessitam de soluções para área de Eletricidade, especialmente com os seguintes temas: - Fontes de Energia Renováveis - Geração Distribuída - Compatibilidade Eletromagnética, Descargas Atmosféricas, Vida Útil e Desempenho de Equipamentos, Desenvolvimento de Metodologias de Ensaios em Alta Tensão, Desenvolvimento de Equipamentos Elétricos de Alta Tensão, Qualidade de Energia, Compensação Reativa, Eficiência Energética, Conservação de Energia - Instrumentação e sensores
FIGURA 25 – LABORATÓRIO ALTA TENSÃO
FONTE: FOTOGRAFIA DE TÂNIIA ROSA FERREIRA CASCAES, 2005.
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O laboratório de ensaios de alta tensão elétrica foi um dos primeiros do LAC e
talvez aquele que lhe deu mais mídia em conseqüência das proporções físicas e
resultados a serviço da indústria. A partir dele e da experiência do CEPEL outros
foram construídos no Brasil.
FIGURA 26 - GERADOR DE IMPULSOS
FONTE: FOTOGRAFIA DE TÂNIIA ROSA FERREIRA CASCAES, 2005.
- Assessoria na especificação de equipamentos elétricos de alta tensão e na definição de ensaios necessários para garantir a qualidade do fornecimento ou dos materiais empregados; apoio na avaliação e/ou manutenção de equipamentos elétricos de alta tensão em instalações industriais, particularmente em subestações; assessoria na recepção de equipamentos elétricos nas instalações do fabricante; controle de qualidade por ocasião do recebimento de equipamentos elétricos de alta tensão; ensaios em Equipamentos Elétricos com ensaios de tipo e rotina em transformadores de força e distribuição, transformadores de corrente e potencial, reguladores de tensão, equipamentos de manobra, isoladores, cubículos, buchas, pára-raios, etc; impulso atmosférico de até 2.400 kV; impulso de manobra de até 2.000 kV, a seco e sob chuva; tensão aplicada em 60 Hz, com tensão de até 650 kV; ensaios combinados - BIAS; impulso de corrente de até 100 kA; tensão induzida em transformadores; perdas e elevação de temperatura em transformadores; estanqueidade em pára-raios; medição de capacitâncias; ensaios diversos como medição de relação de transformação, medição de fator de potência, resistência de isolamento, ruído audível, etc. Ensaios completos em transformadores de distribuição (exceto curto-circuito). Ensaios em isoladores, incluindo
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cadeias e chaves seccionadoras. Ensaios em pára-raios de distribuição. Ensaios em transformadores de instrumentos. Ensaios de elevação de temperatura com circulação de corrente e dielétricos em cubículos. Ensaios com a aplicação de impulsos de tensão e tensão em freqüência industrial. Ensaios com a aplicação de impulsos de corrente. Ensaios com a aplicação de correntes elevadas. Ensaios de Campo com ensaios especiais de tensão aplicada e medição de descargas parciais em subestações isoladas a gás SF6; ensaios de comissionamento em equipamentos de subestações tais como transformadores, disjuntores, transformadores de instrumentos, etc; ensaios de apoio a serviços de manutenção ou identificação de problemas. Calibração de Sistemas de Medição em Alta Tensão: Baixa Tensão - Ensaios de Tipo e Recebimento; luminotécnicos; climáticos; ciclos Térmicos; segurança elétrica em equipamentos eletroeletrônicos; certificação de produtos, componentes, processos e sistemas. - Cursos, Palestras e preparação de Workshops na Área de Qualidade de Energia, Compensação Reativa, Eficiência Energética, Conservação de Energia e Fontes de Energia Renováveis; - Auditoria de qualidade – Programa QUALICERT; - Estudos de fomento, demanda, aplicação, especificação e oferta de tecnologias para Baixa Tensão; - Estudos, engenharia básica e serviços técnicos especializados em Baixa Tensão; - Diagnósticos e estudos em Qualidade da Energia Elétrica: Harmônicos, Flicker, Desequilíbrios, VTCD, Compensação Reativa, etc. - Ensaios completos em: lâmpadas a vapor de sódio, mercúrio e vapores metálicos. Lâmpadas de luz mista. Lâmpadas fluorescentes (menos ensaio de vida). Lâmpadas fluorescentes compactas incluindo ensaio de vida. Lâmpadas incandescentes incluindo ensaio de vida. Reatores eletromagnéticos e eletrônicos para lâmpadas a vapor de sódio e mercúrio.Reatores eletromagnéticos e eletrônicos para lâmpadas fluorescentes, relés fotoelétricos. - Ensaios de eficiência em luminárias. Medições de iluminância em ambientes internos e externos. - Ensaios de envelhecimento, de suportabilidade à temperatura e umidade, de limites de funcionamento, de limites de suportabilidade e de durabilidade em equipamentos e componentes eletro-eletrônicos e em materiais. - Outros ensaios segundo especificações de fabricantes, dentro das limitações das câmaras existentes. - Ensaios de grau de proteção dentro dos limites existentes. - Ensaios elétricos de qualificação de conectores para linhas de distribuição/transmissão, do tipo cunha, perfurante e outros até 10 kA. - Ensaios em equipamentos e dispositivos os mais diversos, como fontes de alimentação, no-breaks, reguladores de tensão, pilhas elétricas, economizadores de energia elétrica, pequenos motores, consumo de eletrodomésticos e eletroeletrônicos em geral, eficiência energética em aparelhos diversos, elevação de temperatura em painéis e gabinetes, etc. - Os ensaios em conectores são complementados por outros laboratórios, como o de Intemperismo e por análises químicas. Compatibilidade Eletromagnética - Pacote completo de ensaios de homologação em produtos de telecomunicações segundo a resolução 237 da ANATEL; laudos para estações rádio-base de telefonia celular segundo a resolução 303 da ANATEL; pacote completo de ensaios de EMC em medidores eletrônicos de energia elétrica segundo a norma ABNT NBR 14520:2000; mapeamentos ambientais de campos eletromagnéticos com freqüências de 5 Hz a 18 GHz; ensaios de compatibilidade conforme normas IEC, CISPR, IEEE, ABNT e etc; resolução de problemas relacionados à EMC em produtos e instalações; simulação computacional de campos eletromagnéticos; consultoria especializada; treinamentos em EMC: Introdução à Compatibilidade Eletromagnética; técnicas de EMC para a Mitigação de Defeitos. Metrologia Calibração do mais alto nível em eletricidade com credenciamento pelo INMETRO - RBC .
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5.4.12.1.6 Departamento de Eletrônica - DPEN
É responsável pelo desenvolvimento de atividades que envolvem a aplicação dos conceitos de Engenharia Eletrônica no desenvolvimento de soluções voltadas para o Setor Elétrico. Tem sua origem no LAC - Laboratório Central de Pesquisa e Desenvolvimento, fruto de um convênio entre a COPEL e a UFPR. Em 1999 passou a integrar o LACTEC.
FIGURA 27 - DESENVOLVIMENTO ELETRÔNICO
FONTE: FOTOGRAFIA CEDIDA PELO LACTEC, 2005.
Realiza uma ampla gama de atividades, envolvendo pesquisa e desenvolvimento, serviços tecnológicos, consultoria, transferência de tecnologia, transferência de conhecimento e ensaios de dispositivos e sistemas eletrônicos. Possui equipe altamente qualificada e experiente no desenvolvimento de soluções integradas envolvendo desde a análise do problema até sua concepção, implementação e avaliação de desempenho no campo. Participando e auxiliando ainda no processo de transferência de tecnologia para o setor produtivo.
5.4.12.1.7 Departamento de Meio Ambiente - DPMB A área de meio ambiente do LACTEC foi criada em 1999, como unidade inserida no Departamento de Materiais. Em junho de 2000, passou a integrar o Departamento de Recursos Ambientais e desde março de 2003, foi elevada à condição de departamento, sendo criado então, o Departamento de Meio Ambiente, que atua em diversas atividades de pesquisa e desenvolvimento para a maioria das concessionárias nacionais do setor público e privado e para diversas indústrias nacionais e internacionais. O Departamento engloba as áreas de Gerenciamento de águas continentais, Gerenciamento costeiro, Planejamento ambiental, Gerenciamento da qualidade do ar, Gerenciamento de resíduos e Gerenciamento ambiental em empresas.
5.4.12.1.8 Departamento de Recursos Hídricos -DPHR O LACTEC CEHPAR desenvolve projetos de pesquisas científicas e tecnológicas e presta serviços nas áreas de hidráulica, hidrologia, mecânica dos fluidos, estudos ambientais, obras hidráulicas, informações georreferenciáveis, recursos hídricos e energéticos.
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FIGURA 28 - MODELO REDUZIDO DO VERTEDOURO DA USINA DE CAXIAS DA COPEL
FONTE: FOTOGRAFIA EXTRAÍDA DO SITE DO LACTE, 2005.
O LACTEC CEHPAR tem colaborado com a sociedade em temas tais como: Regionalização hidrometeorológica; Drenagem urbana e viária; Análise e mitigação de eventos extremos; Consistência, extensão e análise de séries hidrológicas; Modelagem qualitativa e quantitativa do ciclo hidrológico; Previsão de vazões; Soluções baseadas em informações georreferenciadas; Modelos reduzidos de obras hidráulicas; Hidromecânica de estruturas; Impacto de ruptura de barragens; Sistemas de irrigação; Hidráulica fluvial; Estruturas de saneamento; Modelagem física e matemática do escoamento de fluidos; Estudos sedimentológicos; Modelagem e diagnóstico da qualidade da água e do ar; Operação de sistemas de monitoramento da qualidade do ar; Monitoramento ambiental; Gestão ambiental de usinas de geração elétrica; Impactos Ambientais (EIA, RIMA, PBA e PCA); Plano diretor de uso das águas; Estudos hidrológicos e de regularização; Otimização de sistemas; Expansão, operação e comercialização em sistemas hidrelétricos de geração; Ensino e formação profissional.
FIGURA 29 - MODELO REDUZIDO DO DESVIO - USINA DE PAI-QUERÊ (RS)
FONTE: FOTOGRAFIA CEDIDA PELO LACTEC, 2005.
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Histórico do DPHR O Centro de Hidráulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza – CEHPAR – foi organizado sob a inspiração e orientação do Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, em 1959, como órgão vinculado ao Setor de Tecnologia da UFPR. No ano de 2000, convênio estabelecido entre a UFPR, a COPEL e o LACTEC, dispõe, entre outros temas, sobre a relação do CEHPAR com os três partícipes e atribui ao LACTEC a representação legal do Centro. O LACTEC CEHPAR completará 45 anos de atuação em 2004, consolidando-se como centro de referência em pesquisas nas áreas de recursos hídricos no Paraná e no Brasil. Atuação Atende as demandas da sociedade nas áreas de Hidráulica, Recursos Hídricos e Recursos Energéticos, desenvolvendo pesquisas e serviços tecnológicos, com ênfase nos campos da Mecânica dos Fluidos, Hidráulica, Engenharia Hidrológica, Engenharia Ambiental, Simulação e Otimização de Sistemas. Marcos Reconhecimento nacional e internacional.
Mais de 50 estudos hidráulicos de usinas hidrelétricas, entre elas Itaipu, Xingo e todas as usinas hidrelétricas da COPEL.
Desenvolvimento de tecnologias em Hidráulica, tais como aeração em vertedouros e vertedouros em degraus, reconhecidas mundialmente.
Mais de 300 estudos realizados nas suas áreas de atuação. Mais de 400 artigos científicos publicados. Quadro profissional conta com 7 doutores e doutorandos e 17 mestres e mestrandos. Acima de 110.000 h de orientação de estagiários. Apoio ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental
– PGERHA, com mais de 40 dissertações defendidas. Biblioteca com 6.000 volumes e mais de 40 periódicos voltados a sua área de atuação.
O mais recente Laboratório implementado é o de Informações Georreferenciáveis que conta com alta competência em recursos humanos, um mapeador digital a laser aerotransportado, de última geração, e infra-estrutura computacional compatível, que permitem soluções integradas nas áreas de recursos hídricos, ambientais e de sistemas elétricos.
5.4.12.2 Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico - DDT
5.4.12.2.1 Departamento de Desenvolvimento Tecnológico - DPDT É responsável pelo desenvolvimento de atividades que envolvem: Gestão da inovação tecnológica • Prospecção tecnológica • Planejamento tecnológico Gestão da informação e do conhecimento tecnológico • Memória técnica em P&D • Matriz de competências Gestão da propriedade intelectual • Processos para registros de patente • Licenciamentos e transferências de tecnologia Gestão da divulgação técnico-científica • Publicação de trabalhos e artigos técnicos • Memória técnico-científica Gestão da inserção acadêmica • Apoio e desenvolvimento acadêmico • Convênios de cooperação técnico-científica
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5.4.12.3 Coordenadoria Executiva de Negócios - CEN
5.4.12.3.1 Departamento de Tecnologia da Informação - DPTI Formada por profissionais altamente capacitados, o Departamento de Tecnologia da Informação (TI), atua com as mais novas tecnologias, nas áreas de desenvolvimento e implantação de sistemas, bem como a prestação de serviços tecnológicos. Seu núcleo de inteligência, propõe soluções para o Gerenciamento de Projetos e o Desenvolvimento de Software, criando e implementando sistemas corporativos junto a empresas do setor público e iniciativa privada. Serviços e produtos Outsourcing – através de modelos de alocação de mão-de-obra e prestador de serviços nas áreas de: - Administração de redes locais - Helpdesk e Suporte Técnico - Datacenter - Desenvolvimento e manutenção de sistemas de informação - Integração de Sistemas Legados Implementação de soluções – atuando como instituição integradora em projetos de: - Sistemas de gestão empresarial (ERP/CRM) - Sistemas de gestão comercial - Automação de processos para geração, transmissão e distribuição de energia - Soluções geo-referenciadas - Mercado atacadista de energia Engenharia de Software – desenvolvimento de pesquisa aplicada utilizando: - Estado-da-arte em tecnologias - Alianças estratégicas - Metodologias (RUP, CMM) Características O LACTEC está credenciado pelo CATI - Comitê da Área de Tecnologia da Informação, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, como Instituição apta na execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento para área de Tecnologia da Informação (TI). O título dá ao LACTEC condições de prestar serviços na área de TI para empresas que se utilizam dos benefícios da Lei 8.248/91 (Lei da Informática). O modelo de atuação em projetos de Tecnologia da Informação é apresentado pelos ciclos de vida: - Project Management Lifecycle - Software Development Lifecycle
5.5 PARCERIA DO LACTEC, UFPR E OUTRAS INSTITUIÇÕES PARANAENSES:
A DEMANDA E A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR
Mão-de-obra qualificada, preparada com educação afim, é o alvo principal e
imprescindível a qualquer empreendimento razoavelmente sofisticado. A formação
de engenheiros para projeto, construção, operação, manutenção e desenvolvimento,
antes de base para qualquer nação que pretenda alguma autonomia industrial, é
diferencial e esperança de desenvolvimento para uma determinada região e seu
entorno.
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Certamente, outras especializações são necessárias, no âmbito do tema
destacado nesta dissertação, contudo, restringe-se a tratar de um Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento voltado à área da engenharia no setor de energia
elétrica que, como o próprio nome diz, é a arte de engenhar, de fazer, de saber
cuidar de máquinas.
No Paraná, os laboratórios na Universidade Federal do Paraná (UFPR) foram
o ambiente e o cenário que a empresa estatal de energia elétrica encontrou para
direcionar essa universidade na criação de espaços propícios ao ensino da
engenharia, qualificação profissional essencial a suas atividades.
Ao estudar a história da COPEL, depreende-se que ela trazia profissionais de
regiões distantes para formar seus quadros técnicos até que, com a criação de
cursos de engenharia elétrica na UFPR, começou a poder contratar engenheiros
formados no Paraná.
Até a década de 1970, a maioria dos profissionais admitidos na COPEL eram
formados fora do Estado, acima de tudo pela ausência de cursos que
possibilitassem o aproveitamento de técnicos e engenheiros paranaenses.
Sob tal ângulo, era perceptível na COPEL a predominância de profissionais
formados em Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Em engenharia civil,
porém, uma profissão basicamente generalista, a predominância era de profissionais
paranaenses já que a UFPR tinha condições de formá-los, até com especialização
em hidráulica, qualidade importante para as atividades de uma empresa que, no
início da década de 1960, começou a investir em geração, num Estado cujo
potencial hidroelétrico recomendava um dos maiores investimentos para seu macro-
desenvolvimento.
Está claro o fato de as especialidades acadêmicas serem fruto do
amadurecimento e das escolhas necessárias de uma sociedade, como
direcionamento econômico e profissional.
Par e passo, a UFPR formou sua primeira turma de engenharia elétrica em
1967, começando aí uma mudança que se refletiu na formação dos quadros
técnicos da COPEL e do desempenho do Estado do Paraná, à medida que outras
universidades e cursos foram sendo criados, fruto das demandas e anseios de uma
década que estava por vir com todo o potencial que era necessário para uma nova
realidade.
116
Na década de 1970, a COPEL cresceu exponencialmente em tamanho e
complexidade, coincidindo com oportunidades nacionais de investimento em
tecnologia. Assim, a empresa aproveitou e formou o LAC, em parceria com a UFPR,
cuja nova fase somente não foi mais produtiva por efeito do impacto da crise
generalizada dos anos oitenta, quando o Brasil estagnou por vários motivos que aqui
não serão abordados.
Nesse momento foi muito importante a existência do CEPEL que, apesar de
suas dimensões muito maiores, serviu de referência para o LAC. É importante
registrar que a COPEL participava do Conselho de Administração do CEPEL,
trazendo e levando para lá a sua visão de P&D.
Apesar das dificuldades financeiras, da crise permanente, o LAC foi um pólo
de irradiação de tecnologia, destacando-se nessa época o seu laboratório de alta
tensão que, além de prestar serviços inestimáveis ao Estado, serviu de modelo para
outras instituições. Seus especialistas apoiaram a criação de outros laboratórios,
disseminando espaços de controle de qualidade e P&D.
Na área de físico-química, o LAC desenvolveu um laboratório que possibilitou
a criação de padrões de serviços importantes, atividades que entraram na rotina de
muitas empresas.
Desde seu início, o LAC, CEHPAR, LEME e LAME tiveram ambientes para
estagiários, principalmente de estudantes alunos da UFPR. A relação entre as duas
entidades teve problemas, sobretudo no conflito de interesses de um laboratório
dominado pela COPEL, frente aos interesses de uma universidade onde a prioridade
era a formação profissional.
Nesses laboratórios, enquanto eram sustentados pela COPEL, não se
duvidava da sobrevivência e aprimoramento de suas atividades. Atualmente, com a
necessidade de auto-sustentação, a tendência será o agravamento na atenção a
atividades não-rentáveis.
O relacionamento entre o LAC, a UFPR e a COPEL evidencia a falta de uma
estratégia clara, firme e contínua de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento
tecnológico. O LAC teve longos períodos sem grande apoio a suas finalidades,
apesar de grandes investimentos que a COPEL fazia na expansão do seu sistema
de distribuição, transmissão e geração de energia elétrica.
117
Ainda, o LAC conseguiu criar funções operacionais que o valorizaram perante
a comunidade, mas perdeu na integração com a UFPR e na produção científica. A
situação evoluiu negativamente, havendo, dentro da COPEL, sugestões de extingui-
lo por acreditarem que seria desnecessário.
A partir da década iniciada em 1990, com a recuperação do setor elétrico, a
COPEL encontrou formas de apoiar o LAC, levando-o a uma nova fase de
crescimento e produtividade, tendo, inclusive, servido de base para a criação do
SIMEPAR, LAME e LEME.
Envolta em seus próprios problemas, nesse contexto, a UFPR pouco interferiu
nas ações e decisões do LAC. De maneira lamentável, perdeu o controle sobre o
uso pedagógico de suas instalações, fato que atingiu gravemente seu corpo
discente. A COPEL decidia tudo, pouco se importando com interesses eventuais da
UFPR.
Um aspecto positivo a ser considerado é que a expansão do LAC, CEHPAR,
LAME e LEME, posteriormente reunidos no LACTEC, e a criação do SIMEPAR
aconteceram dentro do campus da UFPR, criando, pelo menos, vinculações físicas
com a UFPR, algo que mais cedo ou mais tarde poderá evoluir para um
relacionamento mais produtivo.
Em prosseguimento a esta pesquisa, verifica-se que a própria UFPR carece
de informações que auxiliem a visualizar concretamente esse relacionamento. A
ausência de dados e fatos sistematizados, essenciais à uma análise concreta, é
surpreendente, pois seria o mínimo a ilustrar os benefícios e prejuízos do Lactec, ao
longo da história que o precedeu.
De todo modo, é irrefutável que o LAC foi importante a indústrias mecânicas e
eletroeletrônicas que se instalaram no Paraná. Essas empresas sempre tiveram
possibilidade de tirar do LAC, e de outros laboratórios da UFPR, e COPEL
informações valorosas no desenvolvimento de suas atividades.
Desde o INEPAR até a indústria automotiva puderam, mesmo por ação
governamental, com a criação do Leme, em 2000, agir de forma pró-ativa dentro da
comunidade.
Por sua vez, ao entrar na área ambiental, o Lactec tem feito estudos
imprescindíveis sobre as questões ambientais paranaenses, participando, inclusive,
da análise do acidente da Petrobrás que contaminou o Rio Iguaçu há alguns anos.
118
Nesse sentido o LACTEC tem a vantagem de ser uma instituição de P&D
multidisciplinar, simplificando análises e agrupando especialistas que podem
oferecer diagnósticos mais completos de qualquer situação em torno de sua vocação
inicial.
Outro evento foi a criação do Centro Tecnológico Industrial do Sudoeste
Paranaense (CETIS), situado na cidade paranaense de Pato Branco.
A respeito vale transcrever a notícia veiculada pelo portal da FINEP em julho
de 2005 (http://www.finep.gov.br/imprensa/noticia.asp?cod_noticia=522 ): Criado em 1998, o Centro Tecnológico Industrial do Sudoeste Paranaense (CETIS) já abriga oito empresas que, somente no ano passado, faturaram R$ 16,3 milhões. Instalado em uma área de 38 mil metros quadrados na cidade de Pato Branco, esse “condomínio tecnológico e industrial” é responsável por cerca de 300 empregos diretos e mil indiretos. Para viabilizar sua implantação, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) aportou no projeto cerca de R$ 20 milhões, provenientes da linha de crédito externa oferecida pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC). Mais de 80% desses recursos foram gastos com importações de maquinário. O projeto é resultado da articulação entre várias instituições. Além da FINEP, há o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento - LACTEC, centro de pesquisas que é o coração do complexo (o LACTEC transfere conhecimentos e tecnologias para as empresas que estão no CETIS, o que permitiu a criação de dez produtos que já estão sendo comercializados). A prefeitura de Pato Branco participou do projeto ao ceder o terreno onde foi construído o condomínio. E o empreendimento também contou com o suporte da maior empresa do estado, a Companhia Paranaense de Energia - COPEL. As empresas localizadas no CETIS têm acesso a laboratórios de materiais, de eletrotécnica e de eletrônica, que possuem equipamentos para testes, ensaios e pesquisa tecnológica. Além disso, também usufruem da infra-estrutura industrial do complexo — e as máquinas compradas com os recursos liberados pela FINEP permitiram a redução do custo desses serviços. Um exemplo é o sistema de montagem de placas de circuito integrado (o SMD), conjunto de equipamentos que realiza a montagem automática de componentes em placas de circuito impresso. Desenvolvendo a região Um dos impactos previstos - e esperados - do apoio concedido pela FINEP foi o desenvolvimento da região sudoeste do Paraná, onde há 42 municípios. “Houve uma transformação do perfil socioeconômico da região”, diz Mário José Dallavalli, coordenador do projeto. “Antes, só existia uma instituição formadora de técnicos em Pato Branco, o Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET. Essa instituição acabava exportando mão-de-obra para cidades mais distantes, como Curitiba, porque seus alunos não encontravam empregos em locais mais próximos. Isso mudou com a instalação do CETIS. Além disso, foram surgindo outros centros de ensino na cidade, como uma unidade da Universidade Federal do Paraná, a Faculdade de Pato Branco e a Faculdade Mater Dei”, ressalta. Segundo Dallavalli, o condomínio tecnológico e industrial criado pelo LACTEC é responsável hoje por 300 empregos diretos (a maioria oriunda do CEFET) e cerca de outros mil indiretos. A atividade empreendedora e a inovação também são incentivadas no CETIS. Dois casos são exemplares: a CPM, empresa presente no condomínio, a partir da qual foram criadas 35 microempresas de desenvolvimento de software, e o Hotel Tecnológico do CETIS, que permitiu a criação de cinco produtos sob encomenda para a área de agropecuária, desenvolvidos por alunos do CEFET. “Esse modelo é fundamental para o desenvolvimento regional. O CETIS criou uma cadeia produtiva local que incentiva o empreendedorismo e a inovação. Como conseqüência, há geração de emprego e renda e melhoria da qualidade de vida”, diz Suely Branco, técnica do Departamento de Controles Financeiros de Contratos Nacionais e Internacionais da FINEP.
119
Suely, que também é responsável pelo gerenciamento financeiro da linha de crédito do JBIC, destaca que o complexo do CETIS serviu de modelo para experiências similares em Sergipe e na cidade de Missiones, na Argentina. Linha de crédito estrangeira Flávia Maria Costa, advogada da FINEP, explica como os recursos do JBIC chegaram ao CETIS. “A linha de crédito oferecida pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC) foi viabilizada depois que o Governo Federal celebrou acordo com o Export-Import Bank of Japan. A partir de então, a linha passou a financiar o Projeto de Modernização de Infra-Estrutura de Ciência e Tecnologia, cujo objetivo é bancar os custos de importação de equipamentos para pesquisas destinados a universidades e instituições de pesquisa. E a FINEP foi designada como agente executor do acordo, em nome do Governo Federal, e instância decisória quanto à alocação de recursos”, conta Flávia. “Foi assim que o CETIS foi selecionado pela FINEP para receber o financiamento”, acrescenta. Suely Branco lembra que o CETIS é um dos projetos analisados pelo trabalho Avaliação dos Impactos da Linha de Crédito JBIC, ação que ela coordena. "Essa avaliação vem sendo realizada por uma equipe composta por um representante do Departamento de Fomento, Análise e Acompanhamento Técnico da FINEP, Sergio Leser, uma representante da Área Jurídica da FINEP, Flávia Maria Costa, uma repreentante da Secretaria Executiva do Ministério da Ciência e Tecnologia, Rita de Fátima Aragão, e dois consultores ad-hoc: o doutor pela UnB Rafael Timóteo de Sousa e a gerente de desenvolvimento regional da Fundação CERTI, Maria Angélica Jung Marques." Estas são as empresas instaladas no CETIS: - Green Lights - Desenvolve produtos para iluminação, relês eletrônicos, controle e racionalização do uso de energia. - Relm Chatral - Desenvolve equipamentos de radiocomunicação, transceptores bidirecionais e acessórios. Criada em São Paulo há 32 anos, investiu em um nova unidade no CETIS. - Metavision - Especializada em aparelhos para medição dos padrões de qualidade de energia elétrica (utilizados pela Agência Nacional de Energia - ANEEL), alarmes automotivos e sensores de presença. - Hosonic - Produz cristais osciladores de quartzo e unidades osciladoras para o mercado latino-americano. Esses componentes são utilizados em aparelhos de televisão, celulares e relógios digitais. - Visum - Fabrica placas de circuito impresso em SMT e THT, e desenvolve projetos e serviços voltados para a área eletrônica. - CPM - Desenvolve software para sistemas bancários e para grandes corporações. - MineralTech - Realiza a regeneração do óleos minerais isolantes e lubrificantes para o setor elétrico nacional. - Inovaduck - Empresa regional que produz peças injetadas em plástico e alumínio.
5.6 CONQUISTAS E BENEFÍCIOS NO PARANÁ VIABILIZADOS POR ESSE
PROCESSO TECNOLÓGICO - A PAVIMENTAÇÃO DO FUTURO
A existência de ambientes de P&D cria condições para a industrialização e
formação de outros pólos de pesquisa e desenvolvimento. Um exemplo recente e de
grande repercussão econômica e cultural foi a criação do Centro Tecnológico
Industrial do Sudoeste Paranaense (CETIS).
O CETIS, instalado no município de Pato Branco, Paraná, é um condomínio
industrial para pesquisa e desenvolvimento de estudos para reduzir custos
operacionais e administrativos de novas indústrias, oferecendo produtos
tecnológicos, a todas as empresas instaladas na região.
120
Foi fundado em julho de 1998 e conta com a participação do LACTEC (84%)
e COPEL (16%), além do apoio da Prefeitura Municipal de Pato Branco. As
universidades federais do Paraná e Santa Catarina também participam com recursos
humanos, o que lhe dá uma característica regional, explicável pela sua situação
geográfica, no sudoeste paranaense. Nessas condições, o CETIS é uma sociedade
civil de direito privado, sem fins lucrativos e atua como uma incubadora para o
desenvolvimento de empreendimentos em tecnologia.
Em sua estrutura, estão agregados laboratórios de desenvolvimento
tecnológico voltado para as áreas de eletrotécnica, eletrônica e materiais; hotel
tecnológico (incubadora); serviços industriais; apoio para negócios; laboratório P&D
para ensaios e testes, e setor de desenvolvimento empresarial.
Ainda, é um condomínio tecnológico que abriga serviços de administração
empresarial, laboratoriais em eletrotécnica, eletrônica, materiais e industriais no
apoio à produção. O modelo é pioneiro no Brasil, por meio do qual pretende-se
desenvolver a região via empresas de desenvolvimento tecnológico.
Em sua primeira etapa de funcionamento, o CETIS está equipado com
laboratórios para pesquisa, desenvolvimento e ensaios de produtos eletro-
eletrônicos. O empreendimento estimula a inovação e a capacitação industrial na
região de Pato Branco.
Como é de praxe, por suas proporções continentais, o Brasil contém espaços
físicos amplos. Esse empreendimento ocupa uma área física de 38.000 m2. São
7.500 m2 de edificações, divididos em 1.700 m2 para unidades laboratoriais e
administrativas e 5.800 m2 para seis módulos industriais. Seu desenvolvimento,
contudo, mede-se pelos recursos humanos disponíveis e qualidade de seus
laboratórios. Ou seja, é um exemplo concreto de como se pode ampliar os efeitos de
um centro de P&D criando-se alternativas distribuídas de acordo com conveniências
políticas e econômicas, sob uma visão estratégica de desenvolvimento do Estado.
Na história dos laboratórios que formaram o LACTEC, há inúmeros exemplos
de sinergia entre eles e a COPEL; contudo, as universidades aqui instaladas
ganharam também profissionais mais bem preparados, assim como indústrias e
empresas de serviços aproveitaram os investimentos feitos em P&D, no Paraná, a
fim de criar as próprias atividades.
121
Torna-se pertinente entender que uma parte do processo de desenvolvimento
de um Estado é a atração de indústrias, mais uma vez chamando à atenção para as
atividades econômicas que priorizam o mercado de consumo, que são sempre mais
valorizadas pelo seu valor agregado.
Entre os critérios que empreendedores devem considerar está o
desenvolvimento da região, com evidentes sinalizações de crescimento, de recursos
humanos qualificados, e, se possível, de laboratórios que possam auxiliar o
processo produtivo.
No Paraná, existem laboratórios em diversos níveis de qualidade, sendo o
LACTEC, conceituado na área de engenharia. Em conseqüência disto o Paraná tem
recebido investimentos importantes, destacando-se a instalação de diversas
montadoras do setor automobilístico, que aqui encontraram infra-estrutura por
intermédio do LACTEC, essencialmente responsável para uma mudança de
paradigma num Estado essencialmente agrícola, sem abandonar, contudo, o
agronegócio.
Importa reconhecer que o Paraná já possui uma infra-estrutura de ensino
razoável. De acordo com o IPARDES, no início de 2004, existiam no Estado, oitenta
instituições de ensino superior, sendo oito federais e 29 estaduais.
Nesse cenário, consolida-se a formação de uma base capaz de suportar o
desenvolvimento industrial assim como todas as atividades relativas à formação de
uma sociedade moderna. Nesse contexto, o LACTEC e sua origem certamente
tiveram importância fundamental ao desenvolvimento da cultura técnica no Paraná.
Evidentemente, o LACTEC e seus laboratórios afetaram de modo especial a
indústria eletromecânica e de energia, considerando-se esta como insumo
necessário para qualquer progresso e, por indução, estimularam outras atividades e
laboratórios.
De acordo com o IPARDES, obteve-se, no início de 2004, a seguinte relação
de instituições ligadas à tecnologia no Paraná.
122
5.7.1 Instituições com Relação Formal à Pesquisa no Paraná
QUADRO 9 - INSTITUIÇÕES COM RELAÇÃO FORMAL À PESQUISA NO PARANÁ
INSTITUIÇÃO MUNICÍPIO
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - Centro Nacional de Pesquisa de Soja – CNPSo LONDRINA FEDERAL
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) - Centro Nacional de Pesquisa Florestal – CNPF COLOMBO FEDERAL
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Regional Sul CURITIBA FEDERAL
Incubadora Tecnológica de São Mateus do Sul SÃO MATEUS DO SUL
FEDERAL
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) - Regional Paraná CURITIBA FEDERAL
Centro de Diagnóstico Marcos Augusto Enrietti CURITIBA ESTADUAL
Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Paraná (HEMEPAR) CURITIBA ESTADUAL
Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza (CEHPAR) CURITIBA ESTADUAL
Centro de Medicamentos do Paraná (CEMEPAR) CURITIBA ESTADUAL
Centro de Produção e Pesquisas de Imunobiológicos (CPPI) CURITIBA ESTADUAL
Companhia de Informática do Paraná (CELEPAR) CURITIBA ESTADUAL
Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/PR) CURITIBA ESTADUAL
Empresa Paranaense de Classificação de Produtos (CLASPAR) CURITIBA ESTADUAL
Fundação Araucária CURITIBA ESTADUAL
Incubadora Tecnológica de Curitiba (INTEC) CURITIBA ESTADUAL
Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) LONDRINA ESTADUAL
Instituto Ambiental do Paraná (IAP) CURITIBA ESTADUAL
Instituto de Biologia Molecular CURITIBA ESTADUAL
Instituto de Pesos e Medidas do Paraná (IPEM) CURITIBA ESTADUAL
Instituto de Saúde do Paraná (ISEP) CURITIBA ESTADUAL
Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR) CURITIBA ESTADUAL
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e S i l (IPARDES)
CURITIBA ESTADUAL
123
INSTITUIÇÃO MUNICÍPIO
Social (IPARDES)
18 Laboratório Central do Estado (LACEN) CURITIBA ESTADUAL
Minerais do Paraná S/A (MINEROPAR) CURITIBA ESTADUAL
Paraná Tecnologia CURITIBA ESTADUAL
Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR) CURITIBA ESTADUAL
Centro Tecnológico Industrial do Sudoeste Paranaense (CETIS)
PATO BRANCO MUNICIPAL
Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNDETEC) CASCAVEL MUNICIPAL
Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNTEC) TOLEDO MUNICIPAL
Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico de Marechal Cândido Rondon (FUNDEMARC)
MAR. CÂNDIDO RONDON
MUNICIPAL
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) CURITIBA MUNICIPAL
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Escritório do Paraná (DRS-PR) CURITIBA NÃO-GOV.
Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Londrina (ADETEC) LONDRINA NÃO-GOV.
Associação Paranaense de Empresas de Biotecnologia (APEBI) CURITIBA NÃO-GOV.
Centro de Integração de Tecnologia do Paraná (CITPAR) CURITIBA NÃO-GOV.
Centro Internacional de Tecnologia de Software (CITS) CURITIBA NÃO-GOV.
Companhia de Desenvolvimento de Curitiba – CIC CURITIBA NÃO-GOV.
Cooperativa Central Agropecuária de Desenvolvi-mento Tecnológico e Econômico Ltda – (COODETEC) Centro de Pesquisa Eloy Gomes
CASCAVEL NÃO-GOV.
Departamento intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômicos (DIEESE) Escritório Regional do Paraná CURITIBA NÃO-GOV.
Fundação ABC para Assistência Técnica e Divulgação Agropecuária CASTRO NÃO-GOV.
Fundação da Universidade Federal do Paraná para o Desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Cultura (FUNPAR)
CURITIBA NÃO-GOV.
Fundação de apoio à Pesquisa e ao Desenvolvi-mento do Agronegócio (FAPEAGRO) LONDRINA NÃO-GOV.
Fundação de Pesquisa Florestais do Paraná (FUPEF) CURITIBA NÃO-GOV.
Instituto de Bioengenharia Erasto Gaertner (IBEG) CURITIBA NÃO-GOV.
124
INSTITUIÇÃO MUNICÍPIO
Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Paraná (IBQP/PR) CURITIBA NÃO-GOV.
Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) CURITIBA NÃO-GOV.
Instituto de Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Social (ITEDES) LONDRINA NÃO-GOV.
Instituto "Euvaldo Lodi" do Paraná (IEL/PR) CURITIBA NÃO-GOV.
Instituto Tecnológico de Automação e Informática – (ITAI) FOZ DO IGUAÇÚ NÃO-GOV.
Instituto Tecnológico do Laboratório Central de Pesquisa e Desenvolvimento (LACTEC) CURITIBA NÃO-GOV.
Liga Paranaense de Combate ao Câncer CURITIBA NÃO-GOV.
Serviço de Apoio às Pequenas Empresas do Paraná (SEBRAE-PR) - Escritório Regional de Curitiba CURITIBA NÃO-GOV.
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – (SENAI-PR) Departamento Regional do Paraná CURITIBA NÃO-GOV.
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – (SBPC) Regional do Paraná CURITIBA NÃO-GOV.
FONTE: IPARDES-2004
Na relação acima, há instituições com níveis diferentes de competência e
condições de qualificação, mas, de todo modo, cada uma delas implica a extensão
de um processo de formação importante. Pela precedência, lembrando as datas de
sua criação, pode-se considerar o CEHPAR e LAC legítimas fontes de inspiração e
pioneirismo para muitas dessas entidades.
Outro efeito fundamental da infra-estrutura educacional e de P&D é a
versatilidade que propicia na região onde se situa. Profissionais com escolas
adequadas e centros de pesquisa têm mais facilidade para se reposicionar em
relação ao mercado de trabalho.
Num ambiente como o do LACTEC, pode-se rapidamente mobilizar
especialistas alternativos, criando-se mídia para outros vetores de desenvolvimento.
Em sua curta história, o LACTEC já apresentou diversos encontros técnicos, debates
e análises que dão ao povo paranaense a possibilidade de descobrir outras
atividades profissionais.
O desenvolvimento econômico requer bases que podem ser ilustradas
conforme a Figura 30.
125
FIGURA 30 - 0 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Globalização
Saturação ambiental
Concentrações humanas elevadas
Desafios : Meio ambiente
Ecologia Segurança
Desenvolvimento econômico
Sociedade século 21
Demanda por tecnologia Mão de obra abundante e qualificada
Formação profissionalCientífica
Infra-estrutura materialUniversidades
Escolas técnicas Centros de P&D
Infra-estrutura técnica e cultural
Sociedade século 19 Revolução industrial
Mercantilista Agropecuária ainda primária
Organização do aprendizado
Reestruturação do trabalho
Aprimoramento de ferramentas
Descobertas e invenções básicas
Sociedade primária, extrativista, agricultura sem tecnologia
Assim, torna-se factível afirmar que o Paraná possui uma base adequada
para viabilizar seu desenvolvimento econômico, de forma que os seus laboratórios
construídos na relação entre a COPEL e a UFPR tiveram papel significativo, se não
decisivo em muitos projetos que se realizaram e que, certamente, serão realizados.
126
6 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS EM DADOS E GRÁFICOS
6.1 A CONTEMPORANEIDADE DO LACTEC FACE AOS DESAFIOS DO
TERCEIRO MILÊNIO
Considerando que este capítulo destina-se à análise dos depoimentos dos
Entrevistados, coletados a partir de questionário elaborado conforme o interesse
desta investigação já explicitado no momento da introdução deste relatório de
pesquisa e, com o objetivo de informar o resultado deste estudo, optou-se por
agrupar as respostas da totalidade dos 9 (nove) entrevistados.
Como procedimento inicial foram substituídos os nomes dos entrevistados
pelos respectivos códigos alfabéticos A, B, C, D, E, F, G, H.I.
Isto porque, resguardar a privacidade e a identidade dos colaboradores além
de denotar respeito pelo entrevistado, mantendo sigilo sobre o que se revela em
confiança, atende às recomendações mencionadas em estratégias metodológicas.
6.1.1 Sobre os Atores Sociais e Atuação
Foram consultados e analisados conteúdos das respostas dos questionários
aplicados junto a 9 (nove) profissionais com formação específica, todos engenheiros
e que participaram de forma ativa ou na concepção, na formalização ou na criação
deste laboratório objeto deste estudo.
Parte dos entrevistados ainda exerce funções e são vinculados à Instituição-
alvo, outros se encontram alocados em outro órgão de pesquisa e alguns exercem
outra função, ligada à pesquisa ou exercício comum da profissão. São dirigentes,
gestores, técnicos, pesquisadores, educadores que, de forma direta ou indireta,
sonharam, construíram, trabalharam, ou ainda estão presentes, de modo pró-ativo,
na trajetória do LACTEC, ou das instituições que o precederam.
Pela possibilidade de referendar os pressupostos que valorizam a existência
dos P&D como fator de promoção humana, em sua dimensão de cidadania, torna-se
pertinente destacar e transcrever trechos selecionados da entrevista estruturada em
questionário com perguntas abertas, constitutivas do estudo de caso em questão.
Cabe pontuar que as opiniões histórico-críticas apresentadas e a visão da
situação atual por demandas que persistem refletem posições consubstanciadas na
127
experiência do trabalho cotidiano, cada um em sua área de atuação. Tal
disponibilidade e tal presteza para o êxito deste estudo de caso ensejaram a
condição de uma análise dos dados obtidos, que também está presente neste
capítulo.
6.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
O questionário foi efetuado com profissionais que na sua diversidade - fato
este que já foi mencionado - sujeitos que de um universo de pesquisa adotado
tiveram de alguma forma e/ou mantêm relações com o LACTEC e suas origens. As
amostras são proporcionais ao número de profissionais em relação à sua atuação,
com a devida proporcionalidade, fato este que consta de manuais dedicados à
pesquisa qualitativa, na modalidade adotada.
GRÁFICO 2 - PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS NA FORMAÇÃO E EXISTÊNCIA
DO LACTEC
0 1 2 3 4 5 6
gerência do LAC e/ouLACTEC
Conselho de Administração doLAC
Conselho de Administração doLACTEC
diretoria na COPEL
diretoria do LACTEC
pesquisador no LACTEC e/oulaboratórios de origem
As respostas mostram o enorme envolvimento das pessoas com a formação
do LACTEC, onde alguns tiveram cargo de direção.
128
Destaque-se, inicialmente, a seguinte resposta que resume muito do que se
pretende demonstrar: H - O estado do Paraná, através da COPEL e da inserção de professores da UFPR, tem
sido altamente inovadora (sic) em termos de geração hidrelétrica. Como exemplo temos as obras de Capivari Cachoeira, Foz do Areia, Jordão e Caxias, que se notabilizaram pelo desenvolvimento tecnológico e a utilização de tecnologias novas. Este desenvolvimento gerou a formação de ambiente técnico de ponta e equipes altamente treinadas. Os laboratórios tiveram como motivação a preservação deste patrimônio intelectual, a formação de profissionais de alto nível no setor de energia e a geração de talentos para a UFPR e a COPEL.
Ou seja, graças aos laboratórios que foram criados a partir da COPEL e
posteriormente em conseqüência destes, o Paraná apropriou-se de cultura técnica
que lhe permite expressão junto à comunidade científica.
A vontade daqueles que decidiram pela criação do LACTEC (fato
relativamente recente) pode ser inferida pelas respostas ao questionário, pois muitos
daqueles que atenderam a consulta tiveram participação direta ou indireta nesse
processo.
Basicamente deduz-se pelas respostas que a intenção foi preservar um
ambiente de pesquisa diante da provável privatização da COPEL, formando um pólo
de P&D de interesse do estado do Paraná. Existia a convicção de que o pólo de
pesquisa formado pelo LAC, LAME e CEHPAR era de alto valor para o setor elétrico
(principalmente) devendo sobreviver às mudanças prováveis na condição societária
da COPEL.
129
GRÁFICO 3 - FATORES DE CRIAÇÃO DOS CENTROS DE P&D
0 1 2 3
Não respondeu
Visão gerencial
Desenvolvimento tecnológicodo Paraná
Necessidades da COPEL esetor elétrico
Desenvolvimento profissional,apoio ao ensino superior,
UFPR
Criação do LACTEC diante daprivatização da COPEL
O gráfico 3 mostra a visão estratégica dos responsáveis pela administração
estadual (COPEL, governo do estado etc) e da UFPR, procurando formas de
viabilização da criação de uma base de desenvolvimento tecnológico no estado do
Paraná.
Duas diretrizes dominaram a criação do LACTEC, primeiro criar um pólo de
P&D no Estado do Paraná e a segunda preservar empregos e projetos dos
pesquisadores que lá trabalhavam, pois com a privatização havia a compreensão de
que os novos proprietários da COPEL teriam pouco interesse em manter a estrutura
existente.
A legislação brasileira e os critérios de relacionamento entre instituições de
fomento à P&D no Brasil e no mundo externo também contribuíram para a convicção
da necessidade de se criar o LACTEC como instituição independente, totalmente
130
dedicada à P&D e mantendo atividades que lhe sustentassem, sem depender
essencialmente de uma empresa com as características da COPEL. As respostas ao
questionário de referência mostram essa situação.
A perspectiva da privatização da COPEL deve ter sido mandatária na decisão
de desconectar o LACTEC da COPEL, colocando-o, ainda assim, sob o comando de
uma série de entidades paranaenses, inclusive a COPEL, de modo a garantir o
respeito aos interesses do estado.
GRÁFICO 4 – MOTIVAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DO LACTEC
0 1 2 3
Não respondeu
Aprimoramento técnico da COPEL
Maior agilidade na captação e aplicação de recursos
Redução de custos da COPEL e preservação do ambientede p&D
Ambiente favorável e Importância de um laboratório comessas características
Sobrevivência dos pesquisadores
4
Naturalmente deve-se questionar o que tantos laboratórios deram ao Paraná
e à ciência. Uma das respostas talvez expresse com fidelidade essa contribuição: D - O conhecimento permite que melhor sejam deslocados os investimentos no setor
elétrico. Um país que simplesmente contrate licitações internacionais para obras de geração, transmissão ou distribuição de energia, sempre será dependente do conhecimento externo e talvez não venha a ter competência para visualizar as soluções que apresentem a melhor relação custo benefício para o país, mas acaba "engolindo" aquelas que maximizam o lucro dos fornecedores internacionais.
O setor elétrico, entre outros, depende da compreensão das novidades
técnicas, do custo e validade da utilização dos melhores recursos para poder se
131
desenvolver com segurança. Um bom exemplo é a automação, um recurso amplo
com possibilidades diversas, inclusive de criar problemas enormes se for utilizado
inadequadamente. O LACTEC tem sido um ambiente de estudos em torno da
automação, dando à COPEL e às indústrias que utilizam os serviços do LACTEC
maior segurança na transformação de seus procedimentos e aquisição de sistemas.
A dependência de pólos industriais distantes é um grande risco de aquisição
de produtos inadequados ou dimensionados erroneamente.
A otimização de investimentos depende muito do acerto e respeito a normas e
especificações. Uma empresa sem condições de medir, testar, avaliar, verificar
produtos poderá ser ludibriada pelo fornecedor. O LAC, principalmente, tem muitos
relatos de ensaios que demonstraram o não respeito a condições pré estabelecidas
de fabricação.
O rigor na aquisição e instalação de equipamentos é necessário a que se
tenha o máximo proveito do dinheiro gasto nesses projetos.
Naturalmente um ambiente de P&D viabiliza a criação de novos processos e
produtos. Esse efeito foi apontado pelos entrevistados e pode ser constatado na
relação de serviços e produtos em processo de registro de propriedade intelectual,
conforme mostrado no corpo desta dissertação.
O gráfico 5 demonstra essas visões na resposta a uma das questões
apresentadas.
132
GRÁFICO 5 - PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DOS CENTROS DE P&D PARA O SETOR
DE ENERGIA ELÉTRICA
0 1 2 3 4 5
Agregação de valor nos processos
Gerar soluções tecnológicas
Incentivos à pesquisa
Otimização de custos e investimentosno setor elétrico
Capacitação profissional
Apoio às instituições de ensino
Outra resposta merece destaque: G - O setor de energia elétrica tem um amplo leque de Especialidades que, evidentemente,
se entrelaçam em suas aplicações práticas no cotidiano da humanidade. Somente o desenvolvimento de novos materiais, específicos para aplicações nos equipamentos e instalações, permitiu que se universalizasse o uso da energia elétrica. Quer criando as condições para o transporte de grandes volumes de energia, vencendo longas distâncias, quer iluminando as grandes cidades, somente a pesquisa de soluções tecnológicas em centros de P&D permitiu o salto que se verificou nos últimos 50 anos.
A relação de atividades do LACTEC mostra como um laboratório dessa
espécie pode ser útil ao setor de energia elétrica.
Na opinião dos entrevistados, a criação dos “Fundos Setoriais de Ciência e
Tecnologia”, criados a partir de 1999, com certeza foi o que de mais importante
aconteceu nesses últimos vinte anos a favor da pesquisa e desenvolvimento no
Brasil. Essa fonte de recursos mais os encargos sobre as tarifas de energia elétrica,
associados à sustentação da ANEEL e outras entidades relativas ao setor elétrico
geraram recursos importantes à manutenção de ambientes de P&D no Brasil.
133
GRÁFICO 6 - O QUE ACONTECEU DE MAIS RELEVANTE
0 1 2 3 4 5
Criação dos Fundos Setoriais
Aprimoramento técnico das empresasde energia
Regulamentação dos Fundos Estaduaisde Tecnologia
Criação de novos centros de P&D
Criação de encargos sobre a energiaelétrica dedicados à P&D
Desenvolvimento de novos produtos
Formação de massa crítica em P&D
Com os recursos existentes foi possível multiplicar-se laboratórios.
As receitas desses Fundos são criadas a partir de contribuições incidentes
sobre o resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União, parcelas
do Imposto sobre Produtos Industrializados de certos setores e de Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente sobre os valores que
remuneram o uso ou aquisição de conhecimentos tecnológicos/transferência de
tecnologia do exterior, praticamente todos à disposição de uma entidade de
pesquisa com as características do LACTEC.
O LACTEC tem utilizado esses recursos assim como outras fontes de
recursos.
As dificuldades enfrentadas por um centro de P&D são permanentes e
ilustramos a seguir:
134
GRÁFICO 7 - PRINCIPAIS DIFICULDADES DE UM CENTRO DE P&D
0 2 4 6 8 10 12
Política inadequada ou inexistente
Falta de recursos
Não sabe
Burocracia de serviços públicos
Profissionalização inadequada
A maior parte das respostas dá indicações claras de que a ingerência política
e a descontinuidade por efeito da alternância de poder têm sido danosas às
atividades do LACTEC e dos laboratórios que o antecederam. Essa perturbação
acontece pela falta de uma política sustentada de desenvolvimento tecnológico do
Paraná.
Vale destacar a seguinte resposta: E - Os centros de P&D do Paraná sofrem do mesmo mal dos centros de P&D espalhados
pelo Brasil, ou seja: a) carência de recursos e b) alternância de rumos, devido a freqüentes mudanças na sua direção, sendo que algumas vezes a direção dos centros de pesquisa é entregue a leigos, sem vivência na área de P&D.
Os centros de P&D brasileiros nasceram e se desenvolveram dentro de um
processo de maturação natural nesses casos.
Registre-se a resposta: B - Foram particularmente relevantes a realização de ensaios, testes e correlatos, que foram
os primeiros serviços dos centros de pesquisa, ainda então na fase "laboratorial". Tais serviços contribuíram para o controle de qualidade de equipamentos e produtos adquiridos pelas concessionárias, contribuíram para normatização do setor elétrico e também para a melhoria da competitividade da indústria nacional.
135
A partir desse início os laboratórios empreenderam outras atividades, em
especial a pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos.
A resposta: G - Somente quando a pesquisa básica se torna instrumento para o desenvolvimento
tecnológico é que se obtém o retorno do investimento feito. O setor de energia elétrica paranaense e brasileiro tem sido enormemente afetado pelas idéias e resultados de outros centros de P&D, geralmente do exterior, onde os investimentos são gigantescos e vem sendo feitos há muito tempo nesses centros. Acredito que pouca coisa de exclusivo desenvolvimento nacional tenha sido feita. Entretanto, a formação de pessoal de alto nível, reconhecido internacionalmente, seja um excelente produto dos nossos centros.
Destaque-se nessa contribuição a opinião de que não se produz “coisas”
inéditas mas que a formação de pessoal de alto nível é algo importante e
significativo, apesar dessa observação parecer uma compensação pequena para o
que o Brasil poderia ter feito no setor de energia elétrica.
Os laboratórios que formaram o LACTEC e o próprio LACTEC têm sido
importantes para o desenvolvimento da P&D no Brasil, a partir deles ou com eles
outros laboratórios foram criados (exemplos mais recentes: o CETIS, desenvolvido
em parceria com o LACTEC e o Núcleo de Estudos e Pesquisas do Nordeste –
NEPEN, com a participação de profissionais que se desligaram do LACTEC para
atuação naquela região), técnicas de ensaios e fabricação evoluíram de acordo com
o ambiente brasileiro, tropical, com restrições de recursos etc..
A relação desses laboratórios com o ensino superior no Brasil é natural pois
dentro deles pode-se criar condições para a realização de cursos de mestrado e
doutorado com suporte em profissionais dedicados à P&D e equipamentos mais
caros, complexos. A viabilização desses pólos torna-se possível graças ao efeito
econômico sobre o país e às finanças do próprio laboratório, capaz de prestar
serviços e levantar recursos essenciais a suas atividades.
As incubadoras e o apoio à indústria são elementos fundamentais ao
desenvolvimento da região.
Acima de tudo ao ganhar credibilidade perante empresas estrangeiras nossos
laboratórios formaram um novo padrão de relacionamento extremamente necessário
à qualidade e seriedade de produtos que, de outra forma, poderiam ter prejudicado o
desenvolvimento do Brasil.
O diagrama apresentado a seguir mostra de forma simplificada qual foi a
contribuição do LACTEC e os laboratórios de origem ao desenvolvimento do Paraná.
136
GRÁFICO 8 - CONTRIBUIÇÃO DO LACTEC PARA O SETOR DE PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO
0 1 2 3
Normatização do setor elétrico
Aprimoramento de processos e produtos
Criação de demanda de pesquisadores
Controle de qualidade
Sucesso empresarial da COPEL
Atração de indústrias
Redução da dependência de empresas fora doBrasil
Apoio na análise e solução de problemas maiscomplexos
Formação de massa crítica para o desenvolvimentode produtos no Brasil
Desenvolvimento de tecnologias adaptadas àrealidade brasileira
137
Dentro de um ambiente de P&D o desafio é distribuir recursos financeiros,
escolher áreas para investimentos na compra de equipamentos de ensaios,
preparação de pesquisadores, manutenção e operação etc.
O LACTEC, tendo surgido como entidade independente, precisa de muita
atenção para a gerência dos seus recursos financeiros pois deles sairá o dinheiro
necessário à sua sustentação. Assim é natural que essa entidade seja altamente
dependente dos seus clientes.
Basicamente, em função das respostas, conclui - se que o critério é de
oportunidade, ou seja, o dinheiro é gasto em função de quem paga, conforme
demonstrado no Gráfico 9. Com a criação dos Fundos Setoriais as empresas
geradoras desses recursos passaram a decidir sobre a utilização do dinheiro assim
como os clientes, indústrias de modo geral, sempre definiram que tipo de pesquisa
um laboratório, dependente de recursos de contratantes, pode desenvolver.
Um dos entrevistados, excepcionalmente, afirmou que 30% dos recursos
obtidos são utilizados para projetos com base estratégica, ou seja, criando
conhecimentos que darão base para desenvolvimentos posteriores enquanto 70%
têm finalidade econômica, levantar fundos para manutenção do LACTEC. GRÁFICO 9 - PRINCIPAIS CRITÉRIOS DE DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS
Critérios estabelecido pela fonte de
recursos56%
Não respondeu33%
Estratégicos (30%) e
econômicos (70%)11%
138
A omissão de alguns não respondendo a essa questão foi compreendida
como natural pois já estão distantes da administração do LACTEC ou não
participaram de sua gerência.
De qualquer modo, uma parte dos projetos que o LACTEC desenvolve são de
iniciativa e responsabilidade do próprio laboratório. São considerados estratégicos.
Um laboratório que precisa conquistar clientes depende do que se denomina
“mercado” para seu potencial de trabalho. As respostas mostram claramente essa
condição do LACTEC, criando limitações que precisarão ser avaliadas ao longo do
tempo.
O Gráfico 10, mostra essa situação.
GRÁFICO 10 - MOTIVOS DE CRIAÇÃO DOS PROJETOS
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Demanda e negociação com omercado
Iniciativa do LACTEC
Solicitação do mercado sobestimulação do LACTEC
Não respondeu
São criados em função dos FundosSetoriais e outros recursos
disponíveis
As respostas convergem para algo tão simples quanto a declaração de um
dos entrevistados:
139
E - Os projetos de desenvolvimento industrial no LACTEC nascem da necessidade do Mercado, das empresas, ou seja, o LACTEC acompanha os movimentos da indústria, especialmente do Paraná, sem, entretanto limitar suas atividades ao Estado.
Note-se que o LACTEC, por essa informação e por outras, tem uma dimensão
nacional, não se limitando ao Paraná.
Com relação à indústria vale destacar: I - Ela não participa dessa fase. Só entra na fase de prototipagem e de desenvolvimento
industrial do produto. Não participa porque não tem capital para arriscar.
Refletindo uma condição da maioria das empresas privadas brasileiras, as
decisões do LACTEC envolvem uma avaliação de risco muito especial pois quando
se dedica a alguma indústria deverá fazê-lo com um grau elevado de segurança pois
as empresas privadas brasileiras não têm, de modo geral, capital para arriscar em
pesquisa e desenvolvimento.
Ainda para garantir remuneração o LACTEC preocupa-se com a apropriação
dos direitos autorais do que produz, tendo um dos maiores acervos junto ao Instituto
Nacional de Propriedade Intelectual, INPI.
Não existe critério pré definido para escolha de parceiros, denunciando,
talvez, uma falta de política estratégica que poderá não ser tão ruim diante da
necessidade de se aproveitar oportunidades.
O LACTEC é uma entidade relativamente nova, precisando criar produtos e
desenvolver clientes que dêem segurança operacional. Muitas oportunidades foram
criadas mas também, diante das mudanças políticas, sofreram variações que devem
ter prejudicado entidades como o LACTEC.
Merece destaque, contudo, a criação de pólos de fomento industrial com o
apoio do LACTEC.
140
GRÁFICO 11 - PRINCIPAIS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE EMPRESAS
0 1 2
Representatividade da empresa em seu mercado
Consonância com os interesses do LACTEC
Comprometimento com o resultado e colocação doproduto no mercado
Princípios de transparência, isonomia, capacidadetécnica, qualidade, prazo e preço.
Afinidade na área de conhecimento
Capacidade econômica
Não existem critérios pré definidos
O LACTEC não está focado em "grandesempresas"
Não respondeu
O LACTEC fomentou um pólo industrial paraabsorção de seus desenvolvimentos
Nas incubadeiras o critério é o interesse estratégicono desenvolvimento de tecnologia.
Em função de contrato
Critérios definidos pela fonte de recursos
Uma preocupação essencial à sobrevivência de um pólo independente de
P&D é saber que áreas de P&D devem ser motivo de atenção prioritária. O
planejamento estratégico de um centro dessa espécie é importantíssimo pois dele
dependerá o sucesso ou não da entidade.
As respostas mostram predominantemente a conveniência de se dedicar às
energias alternativas e à geração distribuída, basicamente a novas formas de
141
produção de energia elétrica. Apontando para uma área de excelência do LACTEC
vemos também a conveniência de se dedicar à tecnologia de materiais, onde o
LACTEC herdou uma base excelente. O gráfico 12 mostra que alguns entrevistados
indicaram mais do que uma alternativa
GRÁFICO 12 - CAMPOS PROMISSORES PARA O LACTEC
0 1 2 3 4 5
Geração distribuída
Fontes alternativas de energia
Energias renováveis
Tecnologia do hidrogênio
Desenvolvimento de materiais para geradores etransformadores
Compatibilidade magnética
Supercondutividade
Software
Otimização de instalações
Técnicas de manutenção preventiva
Corrosão
Inteligência competitiva e gestão do conhecimento
Automação, mecatrônica
Geração, transporte, distribuição e utilização de energia
Semicondutores
Meio ambiente
Nanotecnologia
Biotecnologia
Tecnologia de materiais
Qualidade de energia
142
A Gráfico 12 mostra a visão dos entrevistados em relação ao futuro do
LACTEC, se pretender avançar em P&D.
A possibilidade de se desenvolver em torno de tecnologia de interesse
ambiental é um destaque nas respostas além da possibilidade de aplicação dos
conhecimentos de automação. Entende - se como promissores porque estão dentro
da competência dos pesquisadores do LACTEC e atendem, de acordo com
especialistas, focos de desenvolvimento necessários ao país.
A relação criada ilustra o potencial de criação, desenvolvimento e
transferência do saber fazer à sociedade paranaense. Nota-se que muitas áreas
foram apontadas, significando espaços que os entrevistados consideram passível de
atenção pelo LACTEC. O LACTEC surgiu diante de uma situação política distinta das lógicas
técnicas, ou seja, como disse um dos entrevistados: I - No caso do LACTEC a criação foi um fator de SOBREVIVÊNCIA. Se não se criasse o
LACTEC, 93 colaboradores da COPEL, mestres e doutores, estariam na rua.
GRÁFICO 13 - IMPORTÂNCIA DE NOVAS PESQUISAS E PRODUTOS
0 1 2 3 4 5
Não entendeu ou não respondeu apergunta
Não surgiu da necessidade de uma ououtra tecnologia
Necessidade de um apoio de alto nívelem questões relativas à tecnologia
Foi importante
A ausência de planos de desenvolvimento tecnológicos para o estado do
Paraná, planos aceitos e aplicados indistintamente por governos que se sucederam,
criaram inconsistência às razões e resultados. A informação apresentada acima foi
143
dada por um dos principais executores das decisões de governo à época, mostrando
a lógica dominante.
Transcrevendo: D - O LAC foi criado inicialmente não para geração de novas tecnologias mas para a
validação ou qualificação das chamadas tecnologias importadas. A este tipo de serviço denominamos "ensaios qualificados" e servem para que as empresas brasileiras não adquiram "gato por lebre". Posteriormente com a crescente capacitação de seu corpo técnico, reais inovações foram sendo criadas no LACTEC.
Deve-se destacar a área de meio ambiente onde o LACTEC poderá
desenvolver competências úteis à sociedade de modo geral.
As respostas ao questionário mostram claramente a indicação de que a
necessidade de se sustentar não prejudicou o LACTEC, algumas delas, ao contrário,
destacando essa condição como sendo favorável à entidade.
GRÁFICO 14 - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
0 1 2 3 4 5 6
Não
Sim
É útil
Muda o foco dotrabalho
Não respondeu
A alta concentração de respostas em “não” mostra que, se atrapalha, não é
uma condição sensível à maioria dos entrevistados. Uma das razões é a criação de
maior contato com o público externo, possibilitando uma compreensão melhor das
áreas mais interessantes para P&D.
144
É prudente transcrever, contudo, a seguinte afirmação de um dos
entrevistados: G - Eu diria que esse aspecto é uma das delicadas mudanças de rumo e foco por que
passou a instituição. A necessidade de geração de recursos financeiro para sua sobrevivência levou a se priorizar essa prestação de serviços. Geralmente essa prestação de serviços é uma situação mais cômoda do que aquela de pesquisa, conduzindo a mente dos pesquisadores para um campo de produção mais imediata do que de longa e exaustiva maturação. Talvez tenha sido um recurso de sobrevivência, porém trouxe suas conseqüências menos nobres (competição por desempenho financeiro entre as áreas, o que não deixa de ser interessante, porém não pode ser o foco principal).
O LACTEC é o resultado de um processo evolutivo, onde experiências
gerenciais conduziram à convicção de que a entidade teria melhores resultados se
independente da COPEL.
Deve - se destacar a seguinte resposta: B - Os resultados nesses seis primeiros anos do LACTEC demonstraram que é possível
transformar tecnologia em empregos, qualificação profissional, novas empresas e tantos outros benefícios. Ao contrário da grande maioria das universidades e outros centros de pesquisa brasileiros, o LACTEC se orientou para o mercado e para a sociedade, conquistando clientes e apresentando resultados práticos, pelos quais os interessados se dispunham a pagar.
O LACTEC, pelos prêmios conquistados, mostra sucesso e potencial para
crescer. Na fase em que os laboratórios que lhe deram origem estiveram dedicados
à COPEL, foram ofuscados pela existência de uma empresa muito maior,
eventualmente sem condições de apresentarem suas melhores qualidades. Ainda
nesse período correram o risco de deixarem de existir diante de dificuldades
eventuais que a COPEL, na condição de concessionária de um serviço público, teve
de enfrentar.
Com relação ao passado deve - se destacar a seguinte contribuição: C - Naturalmente em cada etapa de existência dos laboratórios que precederam o LACTEC
e o LACTEC a visão da importância desses laboratórios foi diferente. O maior obstáculo sempre foi a ignorância do potencial de realização desses laboratórios a favor do estado do Paraná. Pode-se, analisando os investimentos feitos, medir esse interesse, podendo-se descobrir longos períodos de abandono dessas instituições.
145
GRÁFICO 15 - COMPARATIVO DA CONCEPÇÃO ORIGINAL E A PRÁTICA ATUAL DO
LACTEC
0 1 2 3 4
Aconteceu uma evolução
O LACTEC se orientou para o mercado e para asociedade
Ainda com fragilidade institucional frente às ingerênciaspolíticas.
Descontinuidade
Não respondeu
A interferência política mudou o perfil da instituição e seufoco.
A ingerência política ainda é mal vista, sendo apontada como um grande
problema para o LACTEC. Um exemplo foi a descontinuidade causada pela
mudança de governo em 2003.
A transcrição abaixo de parte de uma das respostas apresenta um cenário
que pode ser constatado de diversas maneiras (prêmios, referências, participações,
contratos etc). B - ...até 2002, o LACTEC rapidamente avançou, mantendo a trajetória iniciada desde sua
criação. Apresentou um expressivo crescimento do faturamento, aumento sustentado na geração de empregos diretos e indiretos, excelente lucratividade todos os anos, ampliação do seu patrimônio, conquista de clientes em todo o país, se tornando um dos maiores centros tecnológicos brasileiros em porte e produção tecnológica, recebendo inúmeras premiações. Foram adotadas várias práticas inovadoras na gestão de um centro de pesquisa que contemplaram, em especial, um envolvimento do corpo funcional. Para promover o desempenho, geração de resultados e atenuação das perdas salariais, foi implantado um sistema de remuneração variável, baseada em indicadores de desempenho e
146
resultados superavitários da entidade. As últimas pesquisas junto ao corpo funcional, realizadas nessa primeira fase, indicaram um clima extremamente favorável, com as pessoas tendo orgulho do LACTEC, reconhecendo um excelente ambiente de trabalho e com alto grau de confiança nos dirigentes e nos rumos da instituição. Os resultados nesses seis primeiros anos do LACTEC demonstraram que é possível transformar tecnologia em empregos, qualificação profissional, novas empresas e tantos outros benefícios. Ao contrário da grande maioria das universidades e outros centros de pesquisa brasileiros, o LACTEC se orientou para o mercado e para a sociedade, conquistando clientes e apresentando resultados práticos, pelos quais os interessados se dispunham a pagar. Nos últimos anos dessa primeira fase, o LACTEC ofertava mais de 100 mil horas anuais de estágios, dezenas de bolsas para alunos de mestrado e doutorado, tinha atraído empresas para o Paraná e criados novos empreendimentos tecnológicos. Os recursos da operação superavitária permitiram investir em projetos estratégicos, ampliar e modernizar laboratórios, ofertar bolsas e auxílios à pesquisa e tantos outros benefícios. No início de 2000, o LACTEC foi qualificação como OSCIP, sendo umas primeiras entidades brasileiras a receber tal qualificação e a primeira na área de ciência e tecnologia. O LACTEC assumiu a liderança nacional em várias temáticas estratégicas e estabeleceu um vigoroso ritmo de intercâmbio técnico-científico recebendo pesquisadores, profissionais e alunos de diversas partes do país e do exterior; bem como promovendo seminários, cursos e eventos correlatos. Em momento nenhum nesse período, o LACTEC recebeu subvenções ou dotações orçamentárias para pagar seu pessoal e seu custeio. O LACTEC é um exemplo forte da relação de um centro de pesquisa e desenvolvimento com o poder político. Nele encontraremos exemplos de atitudes positivas e negativas, com destaque para a violência com que os políticos podem interferir numa entidade que precisa de estabilidade e credibilidade para conquistar seus objetivos.
A descontinuidade estratégica na condução do pólo de pesquisas criado na
UFPR entre a COPEL e a UFPR e a ainda dependência de decisões de estado têm
sido vistas como prejudiciais ao LACTEC, diminuindo e neutralizando eventuais
preocupações quanto à necessidade de levantar recursos pela prestação de
serviços externos. À questão “... nos últimos anos a comercialização de serviços
comprometeu as atividades de pesquisa e desenvolvimento do LACTEC?” as
respostas deram o seguinte resultado:
147
GRÁFICO 16 - EFEITOS DA COMERCIALIZAÇÃO
0 1 2 3 4 5
Não
Sim
Não com cuidado
Não respondeu
A dependência da vontade política do governo do Estado do Paraná, ainda
que menor, cria uma grande incerteza em relação ao futuro do LACTEC.
GRÁFICO 17 - FUTURO DO LACTEC
0 1 2
Depende do cenário político
Só o futuro dirá
Viver da sua "inérciacompetitiva"
Retorno às origens
O futuro dependerá muito dacredibilidade do LACTEC
O LACTEC depende doconsenso dos associados
Pesquisa aplicada
Não respondeu
148
Destacando uma resposta: B - ...As mudanças políticas compreendendo, especialmente, a mudança no governo
estadual no início de 2003, demonstraram a fragilidade da entidade, especialmente frente à ingerência política. Com as mudanças impostas, veio um novo modelo de gestão com um viés "estatal", com indicação política de novos diretores...
A interferência política, que deveria respeitar interesses de estado, acaba
sendo negativa à medida que desrespeita pressupostos mínimos de competência e
seriedade.
Colocada a questão “Quais seriam as principais funções de um centro de
pesquisas como o LACTEC?”, extremamente importante considerando a qualidade
dos entrevistados, obteve - se a seguinte relação de respostas:
GRÁFICO 18 - FUNÇÕES DE UM CENTRO DE P&D TIPO LACTEC
0 1
Transformar o conhecimento cientifico emprodutos ou processos tecnológicos que sejam de
uso e melhoria de vida da sociedade
Oferecer soluções e respostas para demandastecnológicas do setor produtivo
Apoiar o desenvolvimento do estado do Paraná
Transformar conhecimento em tecnologia
Fazer a "ponte" entre a pesquisa pura, que seencontra no meio acadêmico e a indústria, com
ênfase à Copel
Propiciar soluções tecnológicas para aengenharia e para a manutenção
Atuar com fator de desenvolvimento tecnológico
Desenvolvimento de recursos humanos
Não respondeu
Fazer P&D
Prospecção, geração e internalização de novastecnologias, serviços e processos.
Gerar tecnologia para a geração de emprego edivisas
2
149
O LACTEC tem um amplo espectro de possibilidade científicas e
tecnológicas, podendo criar soluções e obter resultados em muitas áreas de
especialização, tudo dependendo de como for conduzido ao longo dos anos.
Vale transcrever: I - É estratégica. Sem instituições como o LACTEC PURO não se tem avanços e progressos
na sociedade, sendo ela refém de outras sociedades mais evoluídas tecnologicamente falando, através da necessidade de novos serviços e produtos (dependência tecnológica).
A resposta acima diz tudo, sem necessidade de outras considerações. Deve-
se, contudo, destacar que no pólo de P&D existente no campus da UFPR foram
feitos enormes investimentos em equipamentos, instalações e recursos humanos,
merecendo máxima atenção dos responsáveis pelos destinos do LACTEC. Sendo
gerenciado de forma adequada poderá trazer grandes benefícios ao estado do
Paraná e ao Brasil, pois lá existe um grande patrimônio intelectual capaz de produzir
e agregar conhecimentos de extremo valor aos brasileiros.
Questionados quanto ao futuro do LACTEC, que espaços deveria ocupar, as
respostas, ainda que algumas não pertinentes à questão proposta, foram as
seguintes:
GRÁFICO 19 - FUNÇÃO SOCIAL
0 1 2 3
Extremamente importante
Depende da militância política de seuscomponentes
Interface entre as universidades e centros depesquisa pura com as indústrias e empresas
Empresa cidadã
Não respondeu ou perdeu o foco
A nucleação do desenvolvimento tecnológico,priorizando o desenvolvimento social do país,
estando aderente às políticas do estado.
Ser empresa estratégica - relevância estratégica
150
Nota-se uma preocupação quanto à visão política de muitos entrevistados,
alguns com certeza mais conscientes do significado dessa instituição para o país e o
povo de modo geral.
O tema da dissertação é complexo à medida que estabelece uma visão mais
sociológica e menos de Engenharia às questões formuladas, a própria compreensão
do trabalho é prejudicada pela especialização dos entrevistados que, entretanto,
perguntados “Considerando o referencial teórico de minha pesquisa, em que a
importância de um desenvolvimento auto sustentado é referenciada na transmissão
do saber fazer e desenvolver tecnologia própria para maior soberania tecnológica, é
um centro de pesquisa e desenvolvimento uma base fundamental a este processo?”
responderam:
GRÁFICO 20 - PAPEL DO LACTEC
0 2 4 6 8 10
Sim
Fundamentais na geração do conhecimento queirá contribuir para o desenvolvimento auto
sustentado do país
Ser a ponte transformando ciência emtecnologia para melhoria dos nossos processosprodutivos (industrias) e conseqüente qualidade
Complementar às Universidades que tem comofunção a geração e transmissão do
conhecimento às novas gerações, os centros de
O desenvolvimento de tecnologia própria éfundamental ao país
Naturalmente um centro que cria e dispõe seus conhecimentos à
comunidade, que apóia o ensino através de cursos, laboratórios, treinamento
informal etc é fundamental ao desenvolvimento auto sustentado e à transmissão do
saber fazer. O LACTEC pode demonstrar essa eficácia ao longo da sua história e
dos laboratórios que o constituíram.
151
Finalmente vale destacar as seguintes contribuições: B - Na criação da citada "holding tecnológica", o LACTEC tinha por objetivos ampliar as
fontes de sustentação financeira, aumentar as sinergias operacionais e os benefícios para a sociedade. A primeira iniciativa foi a criação, em 1998, do CETIS (Centro Tecnológico Industrial do Sudoeste Paranaense), uma instituição sem fins lucrativos, localizada em Pato Branco, chegou a gerar cerca de 350 empregos diretos, atraiu várias empresas para a cidade e foi considerada pela FINEP um empreendimento de concepção inovadora, recebendo US$ 7 milhões em investimentos> Um pontos fortes do empreendimento foi o uso da tecnologia para atrair empresas, gerar empregos e promover o desenvolvimento regional no curto prazo. Sem paralelos no Brasil, a concepção do CETIS - condomínio tecnológico, baseada na transferência de tecnologia e suporte técnico do LACTEC, estaria se tornando um referencial de estudos para sua reprodução em outras localidades. Entretanto, a partir de 2003 o CETIS começou a enfrentar algumas dificuldades, num momento particularmente crítico para sua consolidação e para conclusão do Projeto FINEP. Esse fato também prejudicou o início das medidas para conquistar sua auto-sustentabilidade, cujo custeio desde sua implantação, tem ficado à cargo exclusivo do LACTEC. Além do CETIS, o LACTEC teve (ou ainda tem) uma pequena participação na COPEL AMEC, uma joint venture da COPEL Participações e uma grande empresa canadense de engenharia. A idéia era criar um novo canal de serviços para o LACTEC, especialmente na área de geração de energia, e ainda contribuir com a COPEL na gestão da empresa. Outra joint venture, em fase de encerramento, foi a Fuel Cell Brasil - FCB, criada para ser a pioneira no Brasil em termos de desenvolvimento de mercado, comercialização de células a combustível e prestação de serviços especializados nesse segmento de vanguarda mundial. Também sediada em Pato Branco está a MINERALTEC, um pequena empresa com participação do LACTEC e do CETIS, que realiza serviços de regeneração de óleos minerais. Apesar de investimentos recentes para ampliação de suas instalações, é estimado que a empresa esteja operando com menos de 20% de sua capacidade. No início de 2002, por proposição da COPEL o LACTEC adquiriu 60% da Escolectric. Com novo controlador foi efetuada uma reestruturação estratégica e operacional, que possibilitou, já 2002, a reversão do quadro deficitário e que proporcionou em 2003, um lucro após IR de aproximadamente R$ 500 mil. Atualmente, existe um conjunto de ações no sentido de transferência para terceiros das participações do LACTEC.
C - A necessidade de mobilização da sociedade paranaense a favor de seus centros de P&D.
E- Ressalto a importância do LACTEC para a COPEL, Paraná e Brasil, aliada ao referencial teórico da pesquisa em questão. Creio que a simples existência de uma pesquisa acadêmica envolvendo profundamente o LACTEC, por si só é um reconhecimento a sua importância.
F - Tanto a ciência como o desenvolvimento tecnológico tem sido obtido em diversos exemplos no mundo através e políticas e estratégias de longo prazo. As questões formuladas a respeito do foco, funções bem como do futuro da instituição dependem basicamente destes aspectos.
G - Acredito que fui um tanto impreciso em alguns pontos, porém refletem a perda de contato com a área e o prazo que me afastei do LAC. Considero que nunca tivemos tantos recursos para P&D como agora, com os aportes compulsórios que as empresas vinculadas às diversas agencias nacionais (ANEEL, ANP, ANATEL, ANVISA, ANA, etc.) estão fazendo. É preciso não perder a oportunidade e trazer grupos de especialistas para debate das oportunidades, gerando idéias que sejam "vendáveis" para essas agências (por exemplo, projetos "ANEELizáveis"), partindo de propostas que os agentes ofereçam como propostas de P&D após "comprarem" essas idéias dos centros que as geraram. Agradeço a oportunidade de expor essas idéias.
152
I - O LACTEC precisa e deve voltar às bases e origens da sua concepção e ter uma ação menos política e mais tecnológica.
Conclui - se com a visão de que o LACTEC precisa continuar seu trabalho
com mais cuidado por parte do governo estadual pois tem condições de produzir
muito mais desde que seja apoiado de forma pró ativa por aqueles que têm poder
sobre os seus destinos.
6.3 CONCLUSÃO DA ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
Os entrevistados tinham o seguinte perfil (qualificação máxima):
Quadro 10 – Perfil dos entrevistados
A Gerente B Direção LACTEC C Direção Copel D Pesquisador E Direção da Copel F Pesquisador G Direção da Copel H Direção da Copel I Pesquisador
Diante do resultado obtido, relativo ao questionário com perguntas abertas
pode-se considerar que a pergunta de pesquisa deste trabalho foi satisfatoriamente
respondida pelas entrevistas individuais dirigida aos membros selecionados da
Empresa, no estudo de caso em questão, bem como aos responsáveis pela criação
desse Centro de Pesquisa e Desenvolvimento.
Foram levantados dados importantes na aplicação do questionário, tanto
quanto à pergunta de pesquisa quanto aos objetivos gerais e específicos.
Informações adicionais às apresentadas nos questionários indicam que o
LACTEC tem obtido sucesso nacional, ainda que prejudicado por ações externas
conduzidas inadequadamente. (políticas e administrativas), conforme relatado pelos
questionados.
É importante apontar a criação dos Fundos Setoriais como instrumento
relevante às atividades desse centro de P&D, assim como de outros similares no
Brasil.
153
Devido ao LACTEC e aos laboratórios que o precederam, atualmente o
Estado do Paraná e empresas brasileiras podem encontrar suporte para maior
desenvolvimento neste segmento.
No que se refere tanto à questão fundamental de pesquisa e aos objetivos
gerais e específicos, tem-se a considerar que os questionários foram pertinentes,
esclarecedores e importantes às considerações finais.
Quanto ao Apoio Bibliográfico no item documentos disponibilizados para
consulta, tem-se a destacar que, abandonando-se os aspectos administrativos
exaustivamente descritos, constam na ata de criação do LACTEC subsídios que
possibilitam averiguar que este importante Centro de P&D muito contribuiu para a
evolução da história da técnica e da tecnologia.
154
6.4 CONTRIBUIÇÕES EFETIVAS DO LACTEC E PROPOSTAS DE P&D
Na avaliação do LACTEC e dos laboratórios que o antecederam conclui-se
que o pólo de P&D existente no campus da UFPR foi de grande valor para a
eletrificação do estado e desenvolvimento do Paraná pois deu base técnica local e
confiável para:
• o aproveitamento do potencial hidroelétrico do estado,
• contribuiu para o aprimoramento das hidroelétricas construídas (análise
e ajuste de projeto de vertedores, ensecadeiras, barragens e outras
estruturas afetadas pelas águas),
• permitiu também ganhos em estudos ambientais e propostas de
monitoração dos rios (enchentes, estiagens),
• viabilizou tecnicamente o SIMEPAR, que hoje oferece serviços de alta
qualidade em meteorologia e climatologia,
• criou laboratório de alta, média e baixa tensão em que equipamentos
elétricos são ensaiados, garantindo qualidade e segurança
• a área de físico química realiza ensaios especiais e desenvolve produtos
importantes para a indústria, COPEL etc
• as equipes de automação criam produtos com tecnologia própria,
reduzindo-se custos e aumentando a confiabilidade da modernização de
instalações da COPEL e de outras empresas
• foi criado ambiente para aferição de alta precisão de equipamentos
• a área de estruturas civis estudam a qualidade dos insumos para a
construção de barragens, estruturas eletromecânicas etc
• equipes treinadas em eletrônica criam produtos e dão suporte a outras.
• viabilização de cursos de terceiro grau, aperfeiçoamento, pós graduação,
mestrado e doutorado
• Inspiração e modelo para criação de outros centros de P&D.
Naturalmente o LACTEC tem como vocação básica o desenvolvimento
de produtos e serviços para a geração, transmissão e distribuição de
energia elétrica. Tem atuado nesta área devendo evoluir dentro de uma
visão mais empresarial, à medida que depender de resultados para
sobreviver como instituição de P&D independente da COPEL e UFPR. A
155
dedicação à indústria de energia elétrica, de modo geral, continuará
diante dos enormes investimentos existentes em suas instalações e da
base cultural dominante no LACTEC. Novos conceitos tais como
conservação de energia, geração distribuída e aproveitamento de
energia alternativa além da avaliação e controle da qualidade serão
básicos nas atividades do LACTEC.
Nesse ambiente o LACTEC tem condições de desenvolver outros produtos e
de se dedicar a pesquisas pioneiras e ainda participar de equipes internacionais no
desenvolvimento de produtos e descobertas científicas. É interessante saber que o
LACTEC reserva uma parcela de seus recursos para desenvolvimentos estratégicos
e outra para pesquisa aplicada, separando, assim, com consciência, o que é
necessário à sua evolução e o que precisa para se sustentar.
Das respostas oferecidas ao questionário que foi elaborado, obteve-se como
proposta de desenvolvimento e dedicação do LACTEC uma relação de sugestões.
1. A Geração Distribuída, de acordo com definição encontrada no portal do
Instituto Nacional de Eficiência Energética - INEE (http://www.inee.org.br/
forum_ger_distrib.asp em 30 de julho de 2005): Geração Distribuída (GD) é uma expressão usada para designar a geração elétrica realizada junto ou próxima do(s) consumidor(es)independente da potência, tecnologia e fonte de energia. as tecnologias de GD têm evoluído para incluir potências cada vez menores. a gd inclui:
• Cogeradores; • Geradores que usam como fonte de energia resíduos combustíveis de processo • Geradores de emergência; • Geradores para operação no horário de ponta; • Painéis foto-voltáicos; • Pequenas Centrais Hidrelétricas - PCH's.
O conceito envolve, ainda, equipamentos de medida, controle e comando que articulam a operação dos geradores e o eventual controle de cargas (ligamento/desligamento) para que estas se adaptem à oferta de energia.
Esse é um tema atual, tendo a atenção do setor elétrico quando atende
uma série de condições de desenvolvimento energético com as restrições
existentes a grandes centrais de energia elétrica.
2. Preservação do Meio Ambiente é uma preocupação que se insere na
estrutura do LACTEC e que deve crescer e merecer mais atenção. Dentro
dessa diretriz encontramos uma legislação nova que se aperfeiçoa e
exige mais e mais de qualquer empreendimento novo ou velho. Assim,
156
nesse contexto, é mais do justo registrar essa sugestão oriunda do
questionário formulado nesse trabalho.
3. Fontes alternativas de energia, não obrigatoriamente dentro do conceito
de geração distribuída mas com atenção especial para as restrições
ambientais, é uma linha de P&D importante pois trata de busca de outras
formas de produção de energia elétrica. Nessa situação pode-se
encontrar a produção de energia elétrica com processos de fusão nuclear
(ao contrário da fissão nuclear, base para as usinas nucleares existentes).
Energias renováveis, incluindo-se hidroelétricas onde as turbinas
existentes podem ser substituídas por outras de maior rendimento, a
energia solar, talvez em grandes centrais instaladas em locais adequados
etc. A necessidade de se garantir o abastecimento de energia
permanentemente dá às energias renováveis uma condição de interesse
especial pois as demandas de energia tendem a crescer muito e
continuamente.
4. Tecnologia do hidrogênio onde existe uma esperança razoável de máximo
aproveitamento de usinas que têm períodos em que a ausência de carga
leva a desperdício de sua capacidade de produção, como, por exemplo,
grandes hidroelétricas que vertem água fora de horário de ponta ou que
simplesmente, tendo carga reduzida por não terem a quem entregar esta
energia, deixam de turbinar uma parcela considerável da água retida
pelas suas barragens. Nesse item há espaço para muita pesquisa, ainda
que de retorno a longo prazo pois a utilização do hidrogênio exige
equipamentos com padrões de construção muito elaborados, agravando
consideravelmente os seus custos.
5. Desenvolvimento de materiais para geradores e transformadores é uma
área de P&D permanente. Sempre existe algo que pode ser feito para
maior rendimento, redução de custos, mais segurança e qualidade dos
transformadores e máquinas elétricas (motores, geradores, etc). o
LACTEC, aproveitando potenciais humanos e materiais que
eventualmente possua poderá encontrar nessa área produtos e aprimorar
serviços para retorno a médio prazo, principalmente em parceria com
157
indústrias dedicadas à produção e manutenção de equipamentos
elétricos..
6. A compatibilidade eletromagnética, sugerida por um dos entrevistados, é
apresentada da seguinte forma: A Compatibilidade Eletromagnética (CEM) é uma área técnica moderna e em desenvolvimento rápido no Brasil e internacionalmente devido à evolução constante da complexidade nos projetos eletro-eletrônicos e de telecomunicação. A Compatibilidade Eletromagnética é uma matéria cada vez mais preocupante para qualquer pessoa que opere equipamentos e sistemas elétricos, eletrônicos ou de telecomunicações e, ainda que a sua designação seja algo pesada (pelo menos à primeira abordagem para pessoas sem formação específica em eletricidade), está associada a alguns efeitos que fazem parte do nosso dia a dia, e que são do conhecimento geral, decorrentes do fato de qualquer aparelho elétrico gerar perturbações radioelétricas. Exemplos desses efeitos são as perturbações visíveis na imagem de um televisor quando um veículo motorizado ruidoso (em radiação eletromagnética) passa nas proximidades ou quando ouvimos no nosso receptor de rádio perturbações oriundas de um aspirador elétrico. (portal http://www.wirelessbrasil.org/thomas_krzesaj/emcrf.html em 30 de julho de 2005).
7. A supercondutividade é uma área de P&D com aplicações em potencial
em muitas atividades humanas e motivo de muitas pesquisas nos grandes
centros de P&D em eletrotécnica. Do portal http://pt.wikipedia.org/wiki/
Supercondutividade em 30 de julho de 2005 depreende-se que:
Supercondutividade (SC) é a característica intrínseca de certos materiais, quando se esfriam a temperaturas extremamente baixas, para conduzir corrente sem resistência nem perdas. Esta propriedade foi descoberta em 1911 pelo físico Alemão H. Kamerlingh Onnes, quando observou que a resistência elétrica do mercúrio desaparecia quando resfriado a 4K (-452°F). A supercondutividade existe só sob: • A Temperatura Crítica • A Corrente Crítica • O Campo Magnético Crítico
Este fenômeno físico é apresentado por certas substâncias, como metais ou cerâmicas especiais, caracterizado pela diminuição da resistência elétrica em temperaturas muito baixas. Com isso a corrente elétrica pode fluir pelo material sem perda de energia. Teoricamente, a supercondutividade permitiria o uso mais eficiente da energia elétrica. O fenômeno surge após determinada temperatura de transição, que varia de acordo com o material utilizado. ... C). As aplicações são várias, embora ainda não tenham revolucionado a eletrônica ou a eletricidade, como previsto pelos entusiastas. Têm sido usados em pesquisas para criar eletromagnetos capazes de gerar grandes campos magnéticos sem perda de energia ou em equipamentos que medem a corrente elétrica com precisão. Podem ter aplicações em computadores mais rápidos, reatores de fusão nuclear com energia praticamente ilimitada, trens que levitam e a diminuição na perda de energia elétrica nas transmissões.
8. Software, naturalmente existe sempre espaço para desenvolvimento de
programas de computador para todo tipo de aplicação. O LACTEC, pela
excelência de seus pesquisadores, poderá desenvolver inúmeros
produtos nessa área, tendo, contudo, atenção para a maximização de
158
resultados aproveitando a sinergia de seus colaboradores e oportunidades
de financiamento e colocação de seus produtos no mercado.
9. Otimização de instalações será sempre uma área de atuação do LACTEC,
desde projetos hidroelétricos até os eletromecânicos. Nesse setor entra a
eficientização do uso da energia assim como a aplicação de recursos para
maior qualidade, confiabilidade e segurança.
10. Em Técnicas de Manutenção Preventiva o LAC e posteriormente o
LACTEC criaram muitas orientações e produtos de interesse da COPEL,
principalmente. Instalações metálicas, por exemplo, exigiram muitos
estudos, análises e ajustes de procedimentos para prolongamento de vida
útil. Na origem dessa diretriz registra-se os trabalhos de apoio à
manutenção preventiva das hidroelétricas da COPEL, onde sabe-se que
muitas contribuições dos laboratórios em torno do atual LACTEC deram
diversas soluções importantes, algumas em desenvolvimento, como por
exemplo, o Roboturb, mostrado neste trabalho, que deverá significar um
grande avanço na recuperação de turbinas de grande porte, afetadas pelo
fenômeno denominado “ cavitação” .
11. Corrosão, como vimos na explicação do item Manutenção Preventiva, é
um tema importante merecendo a existência de uma Associação
Brasileira de Corrosão - ABRACO, de onde (http://www.abraco.org.br/
corros11.htm) foi extraída a seguinte conceituação e classificação: A corrosão consiste na deterioração dos materiais pela ação química ou eletroquímica do meio, podendo estar ou não associado a esforços mecânicos. Ao se considerar o emprego de materiais na construção de equipamentos ou instalações é necessário que estes resistam à ação do meio corrosivo, além de apresentar propriedades mecânicas suficientes e características de fabricação adequadas. A corrosão pode incidir sobre diversos tipos de materiais, sejam metálicos como os aços ou as ligas de cobre, por exemplo, ou não metálicos, como plásticos, cerâmicas ou concreto. A ênfase aqui descrita será sobre a corrosão dos materiais metálicos. Esta corrosão é denominada corrosão metálica. Dependendo do tipo de ação do meio corrosivo sobre o material, os processos corrosivos podem ser classificados em dois grandes grupos, abrangendo todos os casos deterioração por corrosão: Corrosão Eletroquímica; Corrosão Química.
12. Tecnologia de materiais, de modo geral, é um espaço de P&D ilimitado.
Qualquer atividade humana utiliza materiais que podem ser aprimorados,
tornando-os melhores e mais eficientes conforme a diretriz aplicada.
Atualmente tem-se uma atenção especial pela preservação do meio
159
ambiente, redução do lixo, reaproveitamento de materiais, impacto
ambiental de modo geral, forçando a indústria a rever processos e
produtos. Cria-se, assim, um espaço importante à P&D que o LACTEC
pode aproveitar em seu desenvolvimento.
13. Qualidade de Energia é assunto que merece atenção e deve constar dos
planos de desenvolvimento do LACTEC. As perdas pelo uso inadequado
da energia na rotina do usuário da energia, seja ela elétrica, do petróleo
ou outra forma é calculada em centenas de bilhões de dólares anuais, em
todo o mundo. O aprimoramento dos combustíveis e do serviço das
concessionárias de energia elétrica, assim como o refinamento dos
produtos industriais, vem a favor da redução dos custos, dos impactos
ambientais etc. a pesquisa em torno da qualidade da energia é, pois,
assunto estratégico de alta relevância.
14. A biotecnologia, é uma área de atuação que interessa ao Paraná de uma
maneira especial, graças à sua vocação agropecuária. Um parceiro que
poderá ser agregado aos esforços do LACTEC nesse caminho pode ser a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, de onde
tiramos sua visão apresentada abaixo sobre a biotecnologia, que também
poderá ser agregada aos planos do LACTEC (http://www.cenargen.
embrapa.br/biotec/biotec.html): ...estratégia de pesquisa e desenvolvimento está ancorada nos seguintes objetivos globais: • Agregação de valor a biodiversidade; • Desenvolvimento de soluções tecnológicas; • Estabelecimento de parcerias de base tecnológica; • Geração e proteção de conhecimentos e inovações em biotecnologia; • Transferência de conhecimentos, produtos e tecnologias. Os objetivos específicos do Núcleo de Biotecnologia incluem: • Desenvolvimento e aplicação da tecnologia genômica, proteômica e de análise
bioquímica e biofísica para a identificação de características especiais, como substâncias bioativas, gerando alternativas para a diversificação da produção e produtos de alto valor agregado;
• Desenvolvimento e aplicação das tecnologias de genôma funcional, proteôma, sistemas de bioinformática e pós-genoma para a determinação da função de novos genes e seus constituintes;
• Introdução de genes em plantas animais e microrganismos, gerando eventos elites de interesse para a agricultura;
• Caracterização dos mecanismos biológicos, associados à reprodução e desenvolvimento animal e vegetal, visando o estabelecimento de processos, produtos e inovações tecnológicas;
• Desenvolvimento de tecnologias biológicas associadas à reprodução animal e vegetal, para a conservação, multiplicação e transformação genética;
160
• Desenvolvimento de sistemas de expressão gênica em plantas, animais e microrganismos, como biofábricas moleculares, para produção de compostos de alto valor agregado;
• Desenvolvimento de novas tecnologias de análise molecular para a detecção de pragas e doenças e para garantir a segurança alimentar e ambiental;
Desenvolvimento das Nanotecnologias associadas à liberação controlada de drogas e antígenos;
15. Nanotecnologia é uma das fronteiras de P&D em desenvolvimento nos
países mais fortes em P&D. Registrando a sugestão, descobriu-se que a
nanotecnologia é uma ciência nova mas em franco desenvolvimento.
Do portal http://www.comciencia.br/reportagens/nanotecnologia/ nano
10.htm , obtém-se o seguinte: O objetivo da nanotecnologia, seguindo a proposta de Feynman, é o de criar novos materiais e desenvolver novos produtos e processos baseados na crescente capacidade da tecnologia moderna de ver e manipular átomos e moléculas. Os países desenvolvidos investem muito dinheiro na nanotecnologia. Mais de dois bilhões de dólares por ano, se somarmos os investimentos dos Estados Unidos, Japão e União Européia. Países como Coréia do Sul e Taiwan, que têm sido muito melhor sucedidos que o Brasil na utilização de tecnologias modernas para gerar bons empregos e riquezas para seus cidadãos, também estão investindo centenas de milhões de dólares nessa área. nanotecnologia não é uma tecnologia específica, mas todo um conjunto de técnicas, baseadas na Física, na Química, na Biologia, na ciência e Engenharia de Materiais, e na Computação, que visam estender a capacidade humana de manipular a matéria até os limites do átomo. As aplicações possíveis incluem: aumentar espetacularmente a capacidade de armazenamento e processamento de dados dos computadores; criar novos mecanismos para entrega de medicamentos, mais seguros e menos prejudiciais ao paciente dos que os disponíveis hoje; criar materiais mais leves e mais resistentes do que metais e plásticos, para prédios, automóveis, aviões; e muito mais inovações em desenvolvimento ou que ainda não foram sequer imaginadas. Economia de energia, proteção ao meio ambiente, menor uso de matérias primas escassas, são possibilidades muito concretas dos desenvolvimentos em nanotecnologia que estão ocorrendo hoje e podem ser antevistos. ... A nanotecnologia é extremamente importante para o Brasil, por que a indústria brasileira terá de competir internacionalmente com novos produtos para que a economia do país se recupere e retome o crescimento econômico. Esta competição somente será bem sucedida com produtos e processos inovadores, que se comparem aos melhores que a indústria internacional oferece. Isto significa que o conteúdo tecnológico dos produtos ofertados pela indústria brasileira terá de crescer substancialmente nos próximos anos e que a força de trabalho do país terá de receber um nível de educação em ciência e Tecnologia muito mais elevado do que o de hoje. Este é um grande desafio para todos nós. Cylon Gonçalves da Silva é físico, ex-diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e idealizador do Centro Nacional de Referência em Nanotecnologia
16. A proposta de aplicação de recursos de P&D em semicondutores
entendemos que seja para desenvolvimento de produtos e materiais
nessa área. Essa é uma atividade já muito desenvolvida exigindo grandes
recursos para descoberta e aprimoramento de novos materiais. É uma
opção oportuna para promoção de parcerias com centros mais
desenvolvidos, num esforço de absorção de competência técnica.
161
Podemos qualificar como materiais semicondutores os materiais que apresentam uma condutividade entre a alta dos condutores e a baixa dos isolantes. Exemplos mais comuns e utilizados de tais materiais são o silício (Si) e o germânio (Ge). Para serem utilizados industrialmente estes materiais devem ser tratados e modificados com a introdução de "impurezas" especiais que lhe dão algumas características distintas. Citaremos estas características mais posteriormente. Os materiais semicondutores são largamente utilizados na indústria eletrônica devido as suas características ímpares. Os exemplos mais claros são o diodo, o transistor e os circuitos integrados (CIs), dispositivos imprescindíveis na fabricação e desenvolvimento de equipamentos e maquinários eletrônicos.
17. Automação e Mecatrônica são ciências modernas com espaço ilimitado de
P&D. no Paraná, de uma maneira especial, tivemos na COPEL uma
empresa pioneira em automação na área de concessionárias de energia
elétrica, tendo aplicado equipamentos e lógicas desenvolvidas dentro da
própria empresa. Em Mecatrônica (Ciência e curso que forma um
profissional de múltiplos talentos. Um profissional que sai especializado
em áreas como mecânica, eletrônica, informática e instrumentação.
Depois de formados, os engenheiros são capacitados a trabalhar com
automação e controle) o Paraná já dispõe de diversos cursos de formação
e especialização, criando um contingente crescente de profissionais que
podem, tendo ambiente adequado, desenvolver mais produtos e serviços.
o LACTEC tem essas condições de apoio e desenvolvimento, devendo
continuar nesse caminho em que é fácil obter apoio (financiamento,
parcerias etc).
18. Inteligência competitiva e gestão do conhecimento são qualidades e
ciências que devem merecer atenção especial do LACTEC, inclusive na
preparação de seus colaboradores em ambiente aberto, sem a tutela de
uma grande empresa. Gestão do Conhecimento é tema atual merecendo,
inclusive, seminários específicos promovidos pela própria Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL. a importância do conceito Gestão
do Conhecimento justifica a transcrição seguinte(http://www.cidade.usp.br/
projetos/dicionario/gestao.php em julho de 2005): É o conceito que cria rotinas e sistemas para que todo o conhecimento adquirido num determinado ambiente cresça e seja compartilhado. Uma importante função da GC é explicitar, registrar e disseminar por toda a organização maneiras de fazer que estão restritas a indivíduos, propiciando a geração de novos conhecimentos. Nas organizações, a criação, explicitação, compartilhamento, apropriação e aplicação do conhecimento, são algumas etapas que ilustram o processo de GC. Quando se considera as micro e pequenas empresas, dimensões como a visão estratégica dos sócios e diretores, cultura organizacional e aprendizado com o ambiente externo, são consideradas fundamentais para a GC. Uma questão prática na gestão do conhecimento nas empresas está em como
162
transformar informação em conhecimento, e considerando-se que o conhecimento tácito também inclui dados que muitas vezes nem são percebidos pelos indivíduos, tem-se uma questão mais abrangente: como transformar experiência e/ou vivência em conhecimento? A busca pela obtenção de conhecimento, além da informação e da prática, mostra que o fator humano e sua interação com o ambiente são fundamentais no enriquecimento e manifestação dos conhecimentos tácito e explícito dos membros da organização, colocando as pessoas em interação produtiva, tornado-as parceiras na socialização, combinação, compartilhamento e apropriação de conhecimento produzido em equipes. Na GC, o conhecimento explícito, ou aquele que pode ser mais facilmente codificado, tem uma característica mais voltada às tecnologias da informação e comunicação, principalmente através do uso de ferramentas (intranets, grupos de discussão, datawarehouse, etc.) que facilitam integrar e trocar informação e conhecimento, sofisticar projetos, olhar a informação em vários contextos, entre outros. Os trabalhadores do conhecimento gerenciam a si mesmos, têm a aprendizagem e o ensino contínuos como parte de sua função, têm alta mobilidade e são parceiros do empreendimento. O profissional de GC precisa conhecer bem tanto os negócios quanto as tecnologias. Outra questão para se pensar a GC é a criatividade, que pode ser classificada em três focos: econômico, visto nas inovações de produto e tecnologia; empreendedorismo visto na criatividade de novos negócios e estratégias; e cultura e arte, visto na criatividade em novas fronteiras da arte e inovações culturais. As empresas são mais focadas no primeiro e segundo focos, porém, de forma limitada ao negócio em que atua. No espaço público, cabe às políticas públicas incorporar os três focos atuando em incubadoras, políticas de ciência e tecnologia, serviços de apoio aos negócios, promovendo cultura e educação, ou seja, criando espaços de interação e promoção da criatividade e do conhecimento, podendo esse ser um dos caminhos para a política pública que considere a GC.
A aplicação de técnicas automatizadas e lógicas avançadas na gerência de
documentos, inclusive na gestão da P&D, transformam-se em ciência elaborada com
desdobramentos, que devem merecer máxima atenção por uma entidade com as
características do LACTEC.
163
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
VI – DE Em virtude da relevância e da amplitude do tema escolhido para esta
dissertação, procurou-se, durante a extensão da pesquisa, criar uma atmosfera
literária propícia a fim de realçar os itens considerados mais significativos para o viés
proposto.
Deste modo, estabeleceu-se o critério de apresentar algumas considerações
relativas ao processo de industrialização no Paraná, cujo desenvolvimento ocorreu
tardiamente em relação ao país. Em 1947 a potência instalada no Paraná (total de
usinas existentes somando-se a capacidade nominal de produção de todas elas) era
de 34.696 kW, enquanto no Estado de São Paulo era então calculada em 650.000
kW. Pode-se inferir, entre outras, as seguintes causas dessa defasagem:
- falta de preparo para o processo industrial;
- existência de densas florestas na região mais fértil e a esterilidade
agrícola principalmente da região central do Estado;
- falta de riquezas minerais mais atraentes – ouro, pedras preciosas;
- competição com regiões de ocupação mais antiga;
- falta de infra-estrutura em estradas, energia, comunicação, entre outras.
Com o declínio do ciclo do café, veio a exportação sob a égide da
monocultura, com grãos vendidos sem maior trabalho além da colheita, secagem,
ensacamento e transporte, desprovida de valor agregado, como toda economia do
setor primário.
A partir da década 1970, do século passado, a monocultura e a dependência
de uma agricultura primária foram motivos para o Estado iniciar um processo de
industrialização tardio. Impulsionado pelo êxodo rural originado da redução da
exploração do café, em função, sobretudo, das fortes geadas e outras motivações
econômicas que aqui não cabem ser analisadas, o Paraná passou a industrializar-
se, processo que se acentuou com a vinda das montadoras da indústria
automobilística, na década de 1990.
Vale ainda destacar que na década de 1970, foi criada a Cidade Industrial de
Curitiba (CIC), com a finalidade de absorver parte da mão-de-obra emergente e
proveniente da lavoura. Ao final dessa década decidiu-se criar o LAC, especialmente
para reforçar essa capacidade de atração de indústrias, aproveitando as
164
necessidades de rotina da COPEL, o que dava condições técnicas e econômicas
para a formação, em convênio com a UFPR, de um laboratório capaz de serviços
especiais em energia elétrica e mantendo pesquisadores que contribuiriam com o
desenvolvimento de cultura técnica no estado.
Ainda, importa mencionar que outros pólos no Paraná ganharam forma, como
Ponta Grossa, Londrina e outros, sobretudo em torno da agroindústria. Na Região
Metropolitana de Curitiba essa diretriz era diferente, procurando-se outro padrão de
industrialização. A refinaria de petróleo em Araucária, além de viabilizar fábrica de
fertilizantes da Petrobrás, foi sinal de uma transformação, que se prolonga e se
acentua nos relatórios econômicos atuais. Indústrias eletromecânicas, a
automobilística (iniciada pela Volvo), de equipamentos de informática, têxteis etc se
instalaram na Região Metropolitana de Curitiba formando a base para a estrutura
industrial existente atualmente.
Considerando a importância da criação de centros de P&D, o Estudo de
Caso ora apresentado, relativo ao Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento
(LACTEC), situado na capital do estado do Paraná e voltado ao setor de energia
elétrica, buscou-se ratificar a importância de um lócus, onde a transmissão desse
saber-fazer materializasse a prática sob uma perspectiva endógena, a qual amplia
condições de uma predominância de atores preparados para uma atuação
profissional, fruto dessa aquisição de conhecimento e inseridos no seu contexto
geográfico. Embora se saiba que o progresso proveniente das descobertas e da
ciência não se concretiza por isolamento cultural, mas sim por uma rica troca de
experiências, que sempre se confirmaram ao longo das civilizações, seja pelo
inconsciente coletivo, seja pela internacionalização das conquistas que foram
imprescindíveis para o avanço científico, nota-se que as razões políticas e as
estratégias econômicas tendem a direcionar as pesquisas atuais para a valorização
do espaço, contemplando-o com seus resultados, justificando, assim nosso estudo.
Pode-se afirmar que a criação de centros de excelência em P&D, no Paraná,
notadamente do LACTEC, localizado em Curitiba, representa a importância do
esforço conjunto para o enfrentamento de desafios relativos à busca da qualidade de
vida por meio da técnica e da tecnologia.
Neste caso, trata-se de reconhecer que, em algum ponto de sua trajetória, a
Universidade Federal do Paraná e a Companhia Paranaense de Energia bem
souberam incluir em sua missão o trabalho a favor do desenvolvimento humano.
165
Torna-se necessário conservá-lo, pela valorização do já construído, em benefício
dos interesses sociais.
Enquanto na atualidade está posto o conjunto de seus acertos consagrados e
equívocos a serem superados, vale destacar que o LACTEC, apoiado por seus
gestores e pesquisadores na curiosidade de aprender, na persistência para
descobrir, bem que deve manter o foco – a luz – de se determinar as políticas de
P&D que acrescentem qualidade de vida ao maior número possível de pessoas.
Sabe-se, entretanto, que essa ação depende, sobretudo, da vontade política de
dirigentes governamentais, o que também implica um desafio a ser superado.
Ainda, por sua contribuição de grande alcance social já efetivada, torna-se
meritório o reconhecimento público ao LACTEC (antes LAC, LAME e CEHPAR), por
ter participado ativamente da formação de uma infra-estrutura técnica e cultural, cuja
resposta tem se dado por meio do surgimento de novas universidades e centros de
pesquisa que, somados à infra-estrutura física do Estado, têm possibilitado um
crescimento socioeconômico significativo na perspectiva das transformações
exigidas.
Assim, esta dissertação atinge seu ponto de chegada, não sem antes ter
percorrido caminhos históricos, teóricos e práticos, sempre perseguindo aspectos
relacionados a uma abordagem humanística da tecnologia.
Rumo aos tempos ditos modernos, a humanidade fez longo percurso no
acúmulo de conhecimentos no campo da arte, da técnica e, finalmente, da
tecnologia. A ruptura dos segredos do saber-fazer foi precedida por grandes
períodos de obscuridade no campo do trabalho, tanto nas estratégias das
corporações quanto na perseguição por soberania, em detrimento de políticas que
incluíssem no saber científico o que pode ser entendido como bem maior dos povos:
a solidariedade.
De fato, a cooperação, marca constituinte da racionalidade humana, deveria
prestigiar mais a função social dos avanços técnicos. Seria isto um sonho? Talvez.
Mas tal noção de desenvolvimento deve, sim, ser reconhecida como um grande
desafio a ser compartilhado por todos os envolvidos com o saber-fazer. Entende-se,
desse modo, que tal exercício - a ruptura dos mistérios do trabalho – possa afirmar e
reafirmar, na práxis, a importância do que cada um tem a contribuir para um mundo
melhor.
166
7.1 SUGESTÕES PARA FUTURAS INVESTIGAÇÕES
O recorte e o viés adotado nesta investigação em face ao tema escolhido é
apenas um dos possíveis objetos de estudo e análise para o grande universo de
investigação propiciado pelo importante assunto que é a História da Técnica e da
Tecnologia no Paraná.
Em virtude de estarmos diante de um cotidiano em que as questões relativas
à historicidade sempre deixam os atores sociais da contemporaneidade sujeitos à
reflexão do passado, seria possível ampliar o universo desta temática com as
seguintes sugestões:
• Verificar perante a sociedade paranaense a percepção da importância dos
seus centros de pesquisa.
• Quantificar e analisar os impactos de pesquisas realizadas no Paraná na
indústria brasileira.
• Avaliar a instrumentação e eficácia dos laboratórios paranaenses.
• Analisar os programas de pesquisa e desenvolvimento promovidos pelo
Estado
• Pesquisar quanto à efetividade e realização dos propósitos que
nortearam esses programas.
• Na substituição da monocultura pela industrialização, qual o papel dos
Centros de Pesquisa para o aumento da qualificação profissional no foco
da energia elétrica.
• Economia real proporcionada pela substituição de mão de obra importada.
• Verificar e registrar o histórico das interfaces que contribuíram para
avanços técnicos no Estado do Paraná.
167
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APÊNDICE 1
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QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA Nome:
Função
Data de Atuação no LACTEC
1. Qual foi a sua atuação (relacionamento, vivência profissional) em relação ao
LACTEC?
2. Quais os principais fatores que levaram a COPEL e a UFPR a tomar a iniciativa
de criar centros de pesquisa?
3. Quais os fatores determinantes que possibilitaram a criação do LACTEC e com
que finalidade ele foi criado?
4. Quais as principais contribuições dos centros de pesquisa para o
desenvolvimento do setor de energia elétrica?
5. Na sua opinião, o que aconteceu de mais relevante neste segmento de pesquisa
nos últimos vinte anos?
6. Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos centros de P&D paranaenses
para a execução das suas atividades?
7. Quais as contribuições dos centros de pesquisa e desenvolvimento para o
desenvolvimento tecnológico do setor de energia elétrico paranaense e
brasileiro?
8. Quais os critérios utilizados na alocação de recursos para a pesquisa e
desenvolvimento?
9. Como nascem os projetos de desenvolvimento industrial no LACTEC? Como se
dá a participação da indústria na fase inicial dos projetos de desenvolvimento
tecnológico industrial, que é a que comporta maiores riscos?
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10. Quais os critérios usados na seleção das maiores empresas para as quais será
transferida a tecnologia desenvolvida no LACTEC?
11. Na sua opinião, quais os campos mais promissores em que o LACTEC poderá
se desenvolver nos próximos anos?
12. Até que ponto a necessidade de desenvolvimento de uma tecnologia maior foi
determinante para a criação do LACTEC?
13. A captação de recursos por meio da prestação de serviços comprometeu a
atividade de pesquisa e desenvolvimento do LACTEC?
14. O senhor poderia fazer uma comparação entre a concepção original do LACTEC
e as práticas desenvolvidas por este centro ao longo dos últimos anos?
15. O senhor acredita que nos últimos anos a comercialização de serviços
comprometeu as atividades de pesquisa e desenvolvimento do LACTEC?
16. Considerando a trajetória do LACTEC durante esses anos, quais os rumos que
ele tende a tomar futuramente?
17. Quais seriam as principais funções de um centro de pesquisas como o LACTEC?
18. Qual é o espaço a ser ocupado na sociedade por uma instituição com essas
características?
19. Considerando o referencial teórico de minha pesquisa, em que a importância de
um desenvolvimento auto sustentado é referenciada na transmissão do saber
fazer e desenvolver tecnologia própria para maior soberania tecnológica, é um
centro de pesquisa e desenvolvimento uma base fundamental a este processo?
20. Há mais alguma coisa que o Senhor considere importante registrar e acrescentar
nesta oportunidade?
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