O incêndio em Santos e seus – previsíveis – impactos
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O incêndio em Santos e seus – previsíveis – impactos
O Amanhã Simone A cigana leu o meu destino Eu sonhei! Bola de cristal Jogo de búzios, cartomante E eu sempre perguntei O que será o amanhã? Como vai ser o meu destino? ...
Não é necessário ser nenhum vidente, ou ter poderes especiais para prever o futuro, para
antecipar as possíveis consequências de um grande incêndio, ou um outro grande incidente,
num terminal de armazenamento de combustíveis como o que ocorreu no Porto de Santos no
dia 02/04, extinto somente 9 dias depois.
Na imagem abaixo, podemos ver a localização do depósito de combustíveis. Para acessar a
imagem completa no Google Maps use este link http://goo.gl/zoB9Pk
Na imagem a seguir, disponível na Internet no site da Revista Exame de 10/04/15, podemos
ver o incêndio ainda ocorrendo. Para acessar esta reportagem use este link
http://goo.gl/NjADY3
As causas do incêndio ainda estão sendo apuradas mas muitas das consequências já são
conhecidas e muitas poderiam, se não evitadas, pelo menos minimizadas.
Depósitos de combustíveis e congêneres pegam fogo, simples assim. Faz parte do risco da
operação, mesmo com as mais rigorosas regulamentações, controles, mecanismos de
segurança, manutenções etc. sempre existe o risco residual que, caso se materialize, pode
provocar sérios impactos como os que ocorreram neste caso. Portanto, ser vizinho, estar
nas imediações, ou estar na cadeia de suprimentos de um local como este não é nada
recomendável.
Decorrente disto, o cais do porto que pode ser visto na parte superior da imagem, teve
que ser fechado ao custo de, aproximadamente, US$ 50,000/dia por navio aguardando
para descarregar ou carregar. As estimativas são de que pelo menos 10 navios ficaram
aguardando em alto mar.
O efeito sistêmico (termo muito usado no mercado financeiro) foi que os caminhões que
se dirigiam para o terminal do lado direito do Porto de Santos foram retidos no alto da
serra, ou orientados a retornarem ao seu lugar de origem, até que o terminal fosse
liberado. As estimativas iniciais são de que pelo menos 400.000 toneladas de soja, dentre
outros produtos de exportação, tiveram os seus embarques adiados, passíveis de multas
pelos importadores, além dos custos operacionais terrestres com os fretes dos caminhões
retidos.
Para controlar um incêndio de grandes proporções como este, é necessária uma enorme
quantidade de água e outros produtos. Felizmente neste caso há uma grande quantidade
de água nas proximidades que foi bombeada para combater o incêndio. Mas este não é o
caso de muitos depósitos de combustíveis, inflamáveis, indústrias químicas e
petroquímicas pelo Brasil. Os bombeiros estimam que foram utilizados milhões e milhões
de litros de água. Quais seriam as consequências se fosse necessária a utilização de
caminhões pipa para transportar a água?
A água utilizada no combate ao incêndio retornou ao rio de onde havia sido bombeada
com uma temperatura muito elevada e contaminada por produtos químicos e
combustíveis que vazavam dos tanques em chamas provocando sérios impactos
ambientais. As primeiras estimativas são de que serão necessários pelo menos 5 anos,
talvez 10 ou mais, para que a natureza se recupere deste dano ambiental.
Incêndios produzem fumaça, carregada de partículas sólidas, potencialmente
cancerígenas. Ainda não é possível estimar os danos à população que inalou esta fumaça,
mas há vários registros de pessoas com dor de cabeça, tosse, dificuldade de respirar,
dentre outros sintomas. Idosos, crianças e pessoas com histórico de problemas
respiratórios são as mais afetadas. Há ainda o risco de chuva ácida, que pode trazer novos
danos à população e ao meio ambiente, especialmente a vegetação da Serra do Mar,
ocasionando desmoronamentos nas próximas temporadas de chuvas.
Incêndios de grandes proporções necessitam de uma infraestrutura de combate na mesma
proporção, ou maior, que a do incêndio. Passados 4 dias do início do incêndio, a 16ª
maior economia do mundo, contando somente a carga tributária recolhida, estava
aguardando a chegada de uma espuma especial importada emergencialmente para
auxiliar no combate ao incêndio.
Todas estas situações, e respectivas consequências, são previsíveis pois já aconteceram antes
em algum outro lugar do mundo.
Nossas sociedades são muito pouco preparadas e resilientes (tema a que me dedico desde a
minha participação na conferência mundial de recuperação de desastres em Toronto/2014 -
http://www.wcdm.org/) para enfrentar grandes incidentes e enquanto continuarmos
pensando assim, que os incidentes somente acontecerão com os outros, o nosso amanhã, o
nosso destino, será desnecessariamente pior do que poderia ser, caso estivéssemos melhor
preparados.
Sidney Modenesi, MBCI é o Forum Leader do BCI – Business Continuity Institute no Brasil e um
profissional dedicado à Continuidade de Negócios e a Resiliência Organizacional há mais de 25
anos.
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