O Império do Grotesco (2002) · A VIDA IMITA A ARTE ... Academia Francesa:...
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Capítulo 1: O que é mesmo o Grotesco?
Capítulo 3: Quem pensou o fenômeno?
Capítulo 4: Gêneros e Espécies.
ANIMALIDADEFISIOGNOMIA: ANALOGIA ENTRE HOMEM E ANIMAL
Giambattista della Porta (1541-1615) “A fisiognomia humana” Sócrates-cervo, 1602.
Charles Le Brun (1619-1690) “Esboço fisiognomônico”. Paris, Louvre, Cabinet des Dessins.
Tiziano, Alegoria da Prudência, 1565-1570, London National Gallery.
•Raciocínio morfológico num sistema alegórico; •Prudência é representada com cabeça humana tríplice; •Símbolos sobrepõem-se e completam-se. (p. 25-26)
Jurgis Baltrusaitis (1903-1988) Aberrações; ensaio sobre a lenda das formas. RJ: Editora UFRJ, 1999.
Inteligência- Presente- Leão Violento, abrupto
Memória-Passado-Lobo Carrega recordações como presa
Previdência- Futuro-Cão Acariciando esperanças futuras
Em 1999 uma agência brasileira de publicidade criou esta campanha publicitária para promover a marca de ração Cesar, da Effem. A campanha se chamava “semelhança” e tinha o seguinte slogan : “Ele pode ter a sua cara, mas não precisa ter a mesma comida”.
CHOQUE
Foto do fotojornalista sul-africano Kevin Carter, em 1993. Foi adquirida pelo New York Times, ganhou o prêmio Pulitzer de 1994 .
GROTESCO CRÍTICO
Traço marcante da imprensa. É um recurso estético para denunciar convenções. No Brasil, rebaixar poderosos e pretensiosos. Assume as formas da paródia e da caricatura (surpresa e exposição ridicularizante)- charge (crítica feroz)- período militar (driblar a repressão). “Lúcida, cruel e rísivel”- elementos para entender a crítica exercida pelo grotesco (2002, p. 72). É o rebaixamento (defeitos, formas, atitudes, situações embaraçosas), o uso do componente ridículo (grotesco, engraçado, risível).
GROTESCO ????
Dicionário Richelet: ‘aquilo que tem algo de agradavelmente
ridículo’
Academia Francesa: ‘ridículo,bizarro,extravagante’. (pág. 30)
É um tipo de criação que às vezes se confunde com as
manifestações fantasiosas da imaginação e que quase
sempre nos faz rir. É algo que se tem feito presente na
Antiguidade e nos tempos modernos. Atravessa tempos diversos. Funciona por catástrofe.
Grotesco????
O termo vem do latim grotto, do italiano grotta, que significa gruta, porão, pequena caverna, e foi aplicado em algumas pinturas antigas fora de toda regra, de todo o sentido comum, com figuras tanto ridículas como monstruosas. Imagens grotescas encontrada em construções abaixo do solo (fim do século XV), em criptas e cavernas antigas, especialmente no palácio romano de Nero (a Domus Aurea) e nas Termas de Tito em Roma. São imagens para ofender ou imitar a natureza de uma forma bizarra, e tornou-se sinônimo de ridículo, esquisito (ornamentos com formas de vegetais/caracóis), extravagante, tosco*.
TOSCO????
Tosco tem origem no latim vulgar tuscu. Durante um certo período os
Etruscos lutaram contra Roma, entretanto entre os anos 295 a.c. e 300
a.c. graças a uma lei romana que designava todos os itálicos como
romanos, foram absorvidos pelo Império. A significação mais conhecida
da palavra Tosco, como rude, malfeito, grosseiro, mal acabado, vem
deste contexto histórico. Os Etruscos eram rivais e posteriormente
fizeram parte da cultura romana, como eram externos ao Império
Romano, foram considerados um povo Bárbaro. Não tardou para a
criação de uma palavra para designá-los, no caso Tosco (tuscu).
Outra origem está relacionada a uma gíria lusitana (Bueno ,1986),
toscar considerada não um adjetivo, mas um verbo. Seu significado é
ver ou avistar ao longe, perceber, compreender. Conjugando no
Presente do Indicativo. Eu tosco/ Tu toscas/ Ele tosca/ Nós toscamos/ Vós toscais/ Eles toscam
Quem pensou o fenômeno?
Muitos autores pensaram sobre o grotesco (como
Montaigne e Justus Möser),porém foi Vitor Hugo quem
teorizou o grotesco como categoria estética.
Durante o Romantismo (séculos XVIII-XIX), Victor Hugo
(1802-1885) introduziu o termo no teatro, no prefácio de
sua obra "Cromwell" (1827), definindo-o como uma
forma de expressão artística que combina "o deforme
com o sublime". Reaparece com o expressionismo,
usado para mostrar a dicotomia entre a natureza
bestial e o comportamento social humano.
Victor Hugo em 1875 por Comte Stanisław
Caricatura de Victor Hugo no ponto máximo de sua carreira política, por Honoré Daumier, (1849).
Hugo quer criticar, chocar, provocar um certo mal-estar. O grotesco como uma “ reinterpretação culta da espontaneidade popular” (p.43) O grotesco hugoliano é cristão: “os humildes deveria herdar o reino dos céus. Nem tudo na criação é humanamente belo, que o feio existe ao lado do belo, o disforme perto do gracioso, o grotesco no reverso do sublime, o mal com o bem, a sombra com a luz” (p. 43) O grotesco simplesmente “é”: o grotesco é o cômico, o feio, o monstruoso, a palhaçada, é qualquer lugar onde aconteça a produção simbólica. (p. 44)
O conceito central do teatro do grotesco é que o
homem tem duas caras, duas personalidades, uma
aparente, uma máscara que o faz socialmente
aceitável e outra face, o íntimo, donde se refletem
todas as misérias humanas. O conflito, a crise, se
produz quando as circunstâncias que provocam essa
face íntima, oculta, aflora e converge com a máscara
social.
Outros pensadores da estética:
Nietzsche: Valoriza afecções corporais e não espirituais,associa o
homem com o animal.
Schopenhauer: Gosto pelo fisiologismo e pela corporalidade
Sloterdijk: Defendia a ideia de “domesticação” do bicho-homem
Habermas: Confrontava com Sloterdijk, defendendo a
racionalização humanista.
Kayser e Bakhtin: afirmam a necessidade de uma nova teoria
e reflexão. Kayser (grotesco como mundo desarticulado e estranho,
produtos da cultura oficial). Bakhtin ( grotesco na cultura popular: carnaval (2º
mundo, rebaixamento (aproximar as coisas da terra), corpo grotesco)
Observam-se nas categorias estéticas:
Criação: grotesco surge na visão de quem sonha, devaneia,
exprime uma visão desencantada da existência (jogo de
máscaras, representação caricatural) assumir formas
fantásticas, horroríficas, satíricas ou simplesmentes absurdas.
Composição: o monstruoso (formas humanas, animais,
vegetais ou maquínicas). Monstruosidade como “ruído de fundo,
murmúrio incessante da natureza (Michel Foucault). Da
aberração, tiramos nossa normalidade.
Efeitos: medo ou riso nervoso para o “estranhamento” do
mundo. Próximo do conceito freudiano de “Unheimliche” (o
“inquietante familiar”, o “estranho”) de associar o grotesco à
angústia, ao horror
“ O grotesco pode tornar-se de fato uma
radiografia inquietante,surpreendente,às
vezes risonha do real. O grotesco é quase
sempre o resultado de um conflito entre
cultura e corporalidade”. (p. 60)
Pães Macabros do padeiro tailandês Kittiwat Unarron para aumentar as vendas.
FONTE: http://artegrotesca.blogspot.com.br/
O artista Shain Erin, cria bonecas inspiradas em zumbis, fantasmas, monstros, esqueletos e múmias.
Beau White é um artista que misturas imagens absurdas e grotescas .
Gêneros:
Representado: cenas ou situações dos diferentes
tipos de comunicação indireta.
Suporte escrito: literatura, imprensa;
Suporte imagístico: pintura, escultura, arquitetura,
desenho, fotografia, cinema e televisão.
Atuado: situações de comunicação direta, vividas na
existência comum ou nos palcos.
Espontâneo: episódios ou incidentes da vida
cotidiana (expostos na mídia), rebaixamento espiritual,
irrisão (absurdos de realidade, disparates levados a
sério, ridículo advindo do exagero). Pode ser uma
atitude ou estilo de vida;
Encenada: “burlesco” (peças teatrais e jogos
cênicos) (p.67)
Carnavalesca: ritos e festas de espírito
carnavalesco e circense (festas populares, feiras
urbanas, festas religiosas com participação popular).
Espécies:
Escatológico: situações referentes a dejetos humanos, secreções, partes baixas do corpo; Teratológico: referências risíveis a monstruosidade, aberrações, deformações, bestialismos...;
Chocante: voltado para provocação superficial, com intenções sensacionalistas;
Crítico: privada percepção do fenômeno, desvelamento público e reeducativo do que nele se tenta ocultar. Formas de paródia , caricatura, charge