O IMPACTO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE NA VISÃO DAS … · 2012-11-14 · A...
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O IMPACTO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE NA VISÃO DAS FAMÍLIAS
Josefa Janete de Azevedo1 Sônia Maria Chaves Haracemiv2
RESUMO Esta dissertação teve como foco registrar e analisar o impacto do Programa de Desenvolvimento de Comunidade e Cidadania-PDC, a partir da voz da comunidade Jardim Libanópolis no Município de São José dos Pinhais, no Estado do Paraná, procurando refletir coletivamente as práticas socioeducativas levando-as em conta o processo de mobilização, participação e organização comunitária, nas ações do Projeto Núcleo Familiar, Projeto Estrela Guia Projeto Adolescente em ação pela Paz e Projeto Pequeno Cidadão. A relevância desse trabalho deveu-se ao fato de que até então não se tinha registros da evolução do PDC e de que forma foram significativas na vida pessoal, familiar e comunitária, e que mudanças foram promovidas. Considerando a educação como processo que ocorre ao longo da vida em todos os espaços sociais, fenômeno que modifica comportamento e visão de mundo, essa reflexão foi dirigida a partir das experiências das práticas educativas, de trocas e aprendizagens entre as pessoas no âmbito comunitário. Perspectiva que foi consubstanciada do conhecimento da realidade sócio educacional da pesquisadora, que ao longo do trabalho social de extensão universitária vem sendo associado ao cotidiano das famílias. A metodologia na qual se baseou o estudo foi fundamentada na pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, descritivo e influenciada pela pesquisa-ação, pois a pesquisadora é autora do PDC, coordenadora técnica-pedagógica, orientou e supervisionou estágio curricular obrigatório de Graduação e Pós-Graduação em Serviço Social das Faculdades Integradas Espírita, cujo campo de estágio é a referida comunidade. Dessa forma manteve vínculo direto e constante, condição propicia para fazer uma reflexão com base empírica e teórica, assim sendo, essa investigação foi concebida e realizada em estreita associação com ações desenvolvidas no PDC. Essa estratégia de pesquisa possibilitou o movimento: ação, reflexão e nova ação coletiva, participativa e ativa dos atores sociais. Para nortear a reflexão buscou-se discutir algumas categorias que envolveram a mobilização, a participação e organização social no contexto sociocomunitário. A investigação teve como documento base o cadastro social das famílias atendidas no referido programa comunitário, para seleção das vinte e seis famílias pesquisadas, foram considerados como participantes da pesquisa pessoas idosas e adultas, categorizando-os em três momentos: a construção do perfil dos moradores, o grau de mobilização, participação e organização dos sujeitos e o impacto das ações do PDC no olhar dos participantes. Os resultados da pesquisa enquanto indicadores analisados apontaram a necessidade de mudanças profundas e imediatas junto ao poder público municipal e estadual.
1 UFPR. E-mail: [email protected]
2 UFPR. E-mail: [email protected]
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Palavras-Chave: Ações e Práticas Socioeducativas, Mobilização, Organização, Participação Social, Voz da Comunidade.
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ABSTRACT This dissertation focused on register and analyses the impact of the programme of Community Development and citizenship-PDC, from the voice of Libanópolis Community Garden, seeking to reflect collectively educational practices taking into account the process of mobilization, community participation and organization in the actions of the Familiar Nucleus Project, Adolescent Project star Guide. Project into action for peace and small citizen project. The relevance of this work is because, it had recorded the evolution of PDC and how it was significant in personal life, family and community, and the changes that were promoted. Considering education as a process that occurs throughout life in all social spaces, phenomenon that modifies behavior and worldview, and ass a reflection that was directed from the experiences of educational practices, exchanges and learning between the people in the community context. Knowledge of perspective i.e. socio educational research, over social work University extension has been associated with the daily lives of families. The methodology on which it was based the study was supported by qualitative research, exploratory and descriptive character and influenced by the action research, because it is the author of the PDC, technical-pedagogical coordinator, guides and oversees internship required for graduation and post graduation in Social Service of the Faculdades Integradas Espírita, whose field is the community. This way maintains direct link and constant condition provided to make a reflection on the basis of empirical and theoretical, therefore, this research was designed and carried out in close association with actions developed in the PDC. This strategy enabled the movement research: action, reflection, and new action collective, participatory and active social actors. To guide the discussions trying to discuss some categories that involves the mobilization, participation, and social organization in the social context. The research documented the social register of families found in the Community programme, by selection of twenty-six families surveyed, were regarded as participants elderly and adults, categorizing them in three moments: the construction of the profile from the residents the degree of mobilization, participation and organization of the subject and the impact of the actions of the’ PDC in the participants. The search resulted, that the indicators analyzed, pointed out the need for profound changes and immediate actions from State and local public authorities. Keywords: Actions and Educational Practices, Mobilization, Participation,
Social Organization, Voice of the Community.
Introdução
O presente trabalho propõe-se a analise do impacto das ações do Programa
de Desenvolvimento de Comunidade e Cidadania-PDC na Comunidade Jardim
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Libanópolis, município de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, no
Estado do Paraná, durante o período de 2004 a 2009.
Com a implantação do Programa, foi possível atender as reivindicações dos
moradores da Comunidade Jardim Libanópolis, que clamavam por ações e projetos
que atendessem às necessidades sociais no interior da comunidade. Durante este
período, o PDC teve como metas, o desenvolvimento de práticas preventivas,
inclusivas e interventivas, direcionadas a pessoas e famílias em situação de risco e
de vulnerabilidade social. A prioridade inicial era combater a exclusão e fazer o
acompanhamento sócio-educacional da população.
Com o propósito interventivo, educativo e formativo, o PDC buscou o
fortalecimento e a participação efetiva dos moradores nos diversos aspectos da vida
sócio pessoal, familiar e comunitária. As primeiras ações foram destinadas às
famílias vinculadas a Escola, principalmente as crianças e adolescentes em situação
de vulnerabilidade e déficit escolar.
Para tanto, investigar sobre o impacto das ações do PDC no contexto
comunitário, a partir da voz dos sujeitos, significa estabelecer um diálogo intrínseco
entre o objeto da ação e o objeto de investigação. Se configurando numa relação
dialética e híbrida, que funcionou como sendo uma estratégica dinâmica da pesquisa
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em foco, investigação em que “(...) a educação social pertence à ordem das práticas,
processos, fenômenos (...) quer dizer, à ordem da realidade educativa” (ROMANS,
2003 p. 16). Ambiente favorável em que o campo da educação comunitária se
caracterizou como um “laboratório” de práticas educativas e como um campo aberto
para pesquisa de campo. Por considerar as demandas e os fenômenos observáveis
abrangentes e presentes na realidade sócio-educacional.
Os principais motivos da investigação e realização do trabalho se deram, a
partir das observações e percepções na mudança do comportamento individual e
coletivo dos moradores. Assim como, pela necessidade de estudos e produção
científica que permitisse um melhor conhecimento sobre a realidade local.
Para dialogar com o objeto, buscou-se o embasamento teórico-metodológico
à luz das ciências humanas e sociais, nas áreas de Sociologia, Psicologia Social,
Antropologia e História Social, contribuições importantes, que deram fundamental
suporte para a pesquisa. Os pressupostos teóricos e conceituais que auxiliaram na
compreensão do tema e na reflexão das categorias na análise dos dados, deram a
base para uma leitura socioeducacional da realidade pesquisada. A partir das ações
oriundas e promovidas pelo PDC, assim como, as propostas, ideias e opiniões
manifestadas pelos participantes da pesquisa, foi possível refletir sobre as
expectativas de futuras ações do PDC, enquanto beneficio da qualidade de vida
pessoal, familiar e comunitária dos moradores.
Para se discutir a realidade e as práticas do programa como instrumentos
geradores de impactos sociais, os resultados das ações foram analisados, a partir da
voz dos moradores, que eram usuários dos serviços comunitários promovidos pelo
PDC e também participantes da pesquisa. A proposta de avaliar o impacto teve como
elemento de destaque, a opinião da população usuária dos serviços sociais e, nestes
serviços, se incluiu uma rede de atividades comunitárias no atendimento as
demandas sociais, nos variados campos da vida comunitária como: saúde,
habitação, alimentação, educação, segurança, entre outros.
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Lendo e Relendo pelo Olhar dos Teóricos as representações sociais no âmbito comunitário
Representações sociais, nesse trabalho, podem ser entendidas,
(...) por um conjunto de conhecimentos, proposições e explicações originadas na vida cotidiana, no curso de comunicações interpessoais. Elas são equivalentes, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença das sociedades tradicionais e podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum (OLIVEIRA; WERBA in JACQUES, 2003:106).
Acolher uma realidade é tarefa árdua de inúmeras associações, entidades e
ONGs que geralmente representam os grupos sociais que são historicamente
discriminados, tais como, prostitutas, drogados, moradores de rua, abandonados,
catadores de papel, flanelinhas entre outros. São pessoas que geralmente carregam
o estigma da marginalidade: imoralidade, violência, perversão e promiscuidade.
Conceitos do senso-comum, que possuem vida própria, resistindo às várias gerações
na história da humanidade. Segundo Goffman (1988), acredita-se que o
estigmatizado não seja completamente humano e por isso, muitas vezes sem
pensar, são discriminados, reduzindo suas chances de vida.
Pode-se compreender esse processo através da análise da origem da
representação social, pela qual,
(...) constata-se que criamos as representações sociais para tornar familiar o não familiar. Este movimento que se processa internamente vem a serviço de nosso "bem-estar", pois tendemos a rejeitar o estranho, o diferente, enfim, tendemos a negar as novas informações, sensações e percepções que nos trazem desconforto (OLIVEIRA e WERBA, 1998: 114).
Neste caso, as representações sociais que caracterizam tais grupos foram
criadas pelo processo de ancoragem, definido pelas autoras da seguinte forma,
citadas no parágrafo anterior: “(...) é o processo pelo qual procuramos classificar,
encontrar um lugar, para encaixar o não familiar”. Pela nossa dificuldade de aceitar o
estranho e o diferente, este é muitas vezes percebido como ameaçador. “(...) A
ancoragem nos ajuda em tais circunstâncias”, é um movimento que implica, na
maioria das vezes, em juízo de valor, pois, ao ancorar, classificar uma pessoa, ideia
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ou objeto já a situamos dentro de alguma categoria que historicamente comporta
uma dimensão valorativa. “(...) Quando algo não se encaixa exatamente a um
modelo conhecido, nós os forçamos a assumir determinada forma, ou entrar em
determinada categoria, sob a pena de não poder ser decodificado” (OLIVEIRA;
WERBA, 1998 p. 114).
(...) construir representações sociais envolve ao mesmo tempo a proposição de uma identidade e de uma interpretação da realidade. Isso significa que, quando sujeitos sociais constroem e organizam campos representacionais, eles o fazem de forma a dar sentido à realidade, a apropriá-la e interpretá-la (JOVCHELOVITCH, 2000).
O processo de construção identitária se dá pela intenção em que cada
pessoa, grupo ou entidade possui, para representar e se afirmar dentro da
sociedade. Estas intenções geralmente são motivadas pelas necessidades de
atender aos apelos sociais ou alguma fragilidade humana. Estas representações se
caracterizam pela livre atuação, pois, divulgam, educam e informam questões
relacionadas à educação, a defesa dos direitos civis, de cidadania e, nos variados
desdobramentos da vida social, gerando em si, uma difusão individual e coletiva na
sociedade. Reconhecidas e legitimadas por desempenhar uma intensa atividade no
processo de inclusão, integralização, defesa e valorização dos seres humanos.
Por esse caminho, foi proposto o aprofundamento sobre a realidade social
comunitária, no sentido de apreender o impacto das ações do PDC, os significados,
a partir da voz avaliativa dos moradores.
Educação social, mobilização, participação e organização social: ensaios para o desenvolvimento comunitário
Considerando a educação como um dos valores mais significativos no
processo de desenvolvimento da vida humana, principalmente, quando se refere aos
direitos de cidadania e inclusão social de pessoas e populações economicamente
desfavorecidas. Deve-se levar em conta o caso de comunidades desprovidas de
escola pública local e de outras benfeitorias, que geralmente comprometem o
atendimento as necessidades socioeducacionais emergentes de seus moradores. Na
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Comunidade Jardim Libanópolis esta realidade também está presente, a ausência de
escola pública denuncia uma das realidades visíveis e, presentes na vida dos
moradores. A baixa escolaridade e o analfabetismo contradiz a seguridade dos
direitos sociais, gerando na população uma lacuna com profundas perdas no campo
da educação.
Como alternativa de sobrevivência a comunidade buscou formas de
enfrentamento e resistência às necessidades pessoais e coletivas, ou seja, os
moradores uniram-se.
A partir dos vínculos afetivos e da convivência comunitária, fortalecidos, pelas
ações do PDC, pessoas, famílias e grupos foram motivados e chamados a assumir
funções colaborativas no processo de organização e produção social. Trata-se de
uma ação participativa, que permitiu aos moradores uma continua e permanente
reflexão, mobilização e produção. Processo motivado pelas relações de trocas, de
vivências, experiências e práticas educativas, como forma de enfrentamento das
necessidades e reivindicações manifestadas ao poder público, pela falta de escola
pública, de unidade de saúde, segurança, e outras prioridades. Com estas
peculiaridades “as comunidades são únicas, pois a dimensão geográfica e
administrativa, a interação com a base de interesses e necessidades e, o tipo de
organização, caracterizam formas específicas de cada comunidade” (GÓMEZ;
FREITAS e CALLEJAS, 2007 p.129).
O programa, além de priorizar o atendimento as necessidades sociais da
comunidade, focou também, ações simultâneas que levou ao desenvolvimento da
estrutura física local. Por entender que as relações estabelecidas entre o sujeito e o
espaço físico de convivência estão intimamente estreitadas. Já que, o território é
visto como um espaço real de existência, um local onde se tece a cultura de um
povo, de uma população, além do mais, torna fonte de recursos para o sustento dos
seus moradores.
O território que abriga uma comunidade significa ser ela a referência de
moradia, que se estabelece o cultivo da identidade social individual e coletiva dos
moradores. Dentro dela se constrói as práticas culturais, os valores, a comunicação e
o desenvolvimento de atividades que permitem tal caracterização. Um intrínseco
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congraçamento de significados, que geram laços de solidariedade e sentimento de
pertencimento, tornando-a uma unidade geográfica e sociocultural. Portanto, estas
relações, “(...) não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas, o
resultado do esforço de toda uma comunidade” (LARAIA, 2009 p. 45).
As relações visíveis e ocultas geradas no interior das comunidades tendem,
a se refletir em determinados momentos, em processos de mobilização, participação
e organização social. Tornando indivíduos e instituições unidades dinâmicas
coadjuvantes no protagonismo dos interesses sociais e comunitários.
A comunicação para a mobilização social exige criatividade, esforços e
deslocamentos entre os moradores e os envolvidos. A oralidade é a principal
ferramenta de comunicação e trocas, sem abrir mão da forma escrita, apesar da
baixa escolaridade e/ou dificuldades com a leitura e escrita, não são, nem devem ser
entendidas como barreiras para o diálogo. Para Freire (1970), “(...) é necessário
conhecer as condições estruturais que dialeticamente constituem o pensar e a
linguagem do povo, pois o pensar e a linguagem de ambos (educador e povo) se
realizam em uma dada realidade”. Portanto, a função inicial da comunicação,
enquanto expressão e compreensão dos signos entre os pares se dão pela relação
comunicativa. Que pode estar estreitamente combinada com o pensamento, espécie
de função básica que faculta permitir a interação social.
Pertencer a uma comunidade é uma das motivações para a convivência
social mais restrita, desde as relações de família, laços afetivos, de amizade, de
partilha, até os interesses e objetivos mais elaborados.
A organização da comunidade é entendida como um processo que abrange
não somente os elementos representativos entre os seus pares, mas também tem
haver, com as relações de autoridade, divisão do trabalho, comunicação e outros
elementos. Principalmente pelos significados que envolvem fatores essenciais
pertinentes a ação comum na coletividade.
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Encaminhamentos metodológicos
A abordagem qualitativa da pesquisa no contexto da comunidade Jardim
Libanópolis, se deu em função dos objetivos. Investigação que permitiu a partir da
definição dos objetivos a analise do impacto das ações do Programa de
Desenvolvimento de Comunidade e Cidadania – PDC, considerando a voz dos
participantes. Com este desafio, foi possível dialogar com a realidade comunitaria
buscando desvelar a percepção e as expectativas dos moradores – de como os
entrevistados sentiram, perceberam e se beneficiram com as ações desenvolvidas
pelo programa. Sem deixar de potencializar suas expectativas de futuro, em relação
as novas praticas voltadas para a qualidade de vida pessoal, familiar e comunitaria.
O processo de descoberta da realidade via indagações é aludido por
MINAYO (1992, p. 23-35), quando a autora enfatiza o caráter “intrinsecamente
inacabado e permanente” da investigação. Entendendo-a como uma atividade
inesgotável de aproximações sucessivas da realidade. Para Goldenberg (2000 p. 13)
“(...) nenhuma pesquisa é totalmente controlável, com início, meio e fim previsíveis”.
O pesquisador está sempre em estado de tensão porque sabe que seu
conhecimento é parcial e limitado – o “possível” o “perceptível”, o “decifrável”. O
percurso metodológico é quem conduz a pasquisa passo a passo - a coleta de dados
é um desses passos. A autora entende por metodologia como sendo “(...) o caminho
e o instrumental próprios de abordagem da realidade” (MINAYO (1992, p. 22). Para
tanto,
(...) os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais. Contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 1999 p. 80).
A partir desse recorte, foi preciso emergir na realidade, apropriar-se dos
aspectos relevantes presentes na realidade, a fim de evidenciar com maior clareza
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as questões importantes no direcionamento da pesquisa, no sentido de proporcionar
uma visão mais ampla acerca do objeto (GIL, 1999).
Explorar uma realidade significa encontrar um caminho viável que oriente o
pesquisador na investigação. Que permita maiores informações sobre o objeto de
estudo, para que seja possível a delimitação do tema, a fixação dos objetivos e a
formulação das hipóteses, (ANDRADE, 2002).
Para o autor, a pesquisa descritiva preocupa-se em observar os fatos,
registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, sendo que e o pesquisador
não interfere neles, apenas o pesquisador informa sobre as situações ou
comportamentos identificados na população estudada (ANDRADE, 2002). A
população e a amostra também devem ser delimitadas, assim como os objetivos, os
termos, as variáveis, as hipóteses e as questões de pesquisa (TRIVIÑOS, 1987).
Para compor a amostra desta pesquisa, foram entrevistadas 26 pessoas,
entre elas, 10 participantes do sexo masculino e 16 do sexo feminino, ambos com
faixas etárias iguais. Pessoas com idade entre 18 a 28 anos, 29 a 39, 40 a 50, 51 a
60 e acima de 60 anos de idade.
Para coleta de dados foi construído um formulário com questões abertas e
fechadas. Sua aplicação foi realizada em uma das salas de reunião, reservada no
Centro Social, que fica no interior da comunidade. A entrevista que foi previamente
agendada, com definição do local, dia e horário, em comum acordo com os
participantes.
O Instrumento de Coleta de Dados - ICD foi entregue e preenchido pelos
próprios entrevistados. No ato da entrevista, se realizou a leitura do formulário com
explicação de cada questão. Neste momento, os participantes foram orientados a
acompanhar a leitura e ao mesmo tempo preencher os campos, registrando suas
respostas e fazendo suas descrições de forma livre e individual.
No entanto, aqueles que não sabiam ler nem escrever, foram orientados
antecipadamente a comparecer na entrevista com um membro do grupo familiar,
com os objetivos de auxiliá-lo no registro das informações para coleta de dados.
Desta forma pode-se assegurar a aplicação do formulário preservando a veracidade
e registro das informações.
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Principalmente por considerar duas condições importantes na realização da
pesquisa, uma estava ligada a preservação da liberdade dos participantes, visto que
os mesmos haviam decidido participar da pesquisa de forma espontânea, e a outra,
estava relacionada ao acesso dos entrevistados ao ICD, quando o próprio
pesquisado toma para si à responsabilidade de refletir e registrar informações de
interesse pessoal, familiar e comunitário vivenciados no Programa e na comunidade.
Os dados relativos à avaliação do Impacto do PDC na ótica dos participantes
foram, organizados em categorias de análise como forma de orientar a base
discursiva e analítica do trabalho. E sob este foco se destacaram as ações voltadas
para a qualidade de vida pessoal, familiar e comunitária dos entrevistados.
Com esse encaminhamento foi possível chegar à reflexão qualitativa dos
dados, momento que se revelaram faces visíveis e ocultas da vida social dos
moradores. As mensagens e informações coletadas conferiram que a “(...)
metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda a
classe de documentos e textos (...) ajudou a reinterpretar as mensagens e a atingir
uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura
comum” (MORAES, 1998 p. 09).
Pelo caráter eminentemente investigativo que a pesquisa de campo permitiu,
foi possível conduzir um momento único na comunidade, momento este em que
despertou nos entrevistados o interesse e a necessidade de avaliar o PDC na sua
extensão e totalidade. No sentido de expor suas expectativas, ideias, sugestões e
opiniões sobre as ações realizadas e, sobretudo manifestar seus anseios sobre
qualidade de vida comunitária. Estas subjetividades têm haver com a dinâmica das
relações interpessoais entre os sujeitos e as práticas, relações estas que foram
influenciadas hibridamente pelas necessidades vividas dentro da comunidade, as
quais afetaram o bem-estar social.
E com esta pesquisa pode-se apreender as interfaces subjetivas da
realidade e o significado do que é qualidade de vida para os moradores no contexto
pessoal, familiar e comunitário no Libanópolis.
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Avaliação do Impacto do PDC na voz da comunidade
A importância da avaliação do Programa foi ter considerado o que estava
implícito enquanto julgamento de valor, a partir do qual, decisões foram tomadas e
destinos traçados de forma mais segura. Para tanto, a pesquisa tomou seu lugar, no
sentido de estudar e analisar a forma como este processo foi conduzido, de modo a
compreender sua dinâmica e a eficácia das ações e resultados, na vida da
comunidade Jardim Libanópolis e dos seus moradores.
A avaliação dos sujeitos sobre as ações do PDC na comunidade pressupôs
uma revisão dos objetivos do programa, podendo até significar mudanças de
estratégias, de construção de novos modelos de ação comunitária, de representação
e significados do seu percurso. E com este propósito se analisou a voz escrita de
pessoas com idade categorizadas nas faixas etárias de 18 até mais de 60 anos,
envolvidas em diferentes projetos e ações comunitárias.
Desta forma, os dados que avaliaram as ações do PDC no contexto geral, na
opinião dos entrevistados, 70% dos homens disseram que foram boas e 30% ótimas.
Em relação às mulheres, 62,5% consideram boas e 37,2% ótimas.
Quanto à avaliação das mudanças que os participantes sentiram e
perceberam, após a implantação do PDC, em relação à melhoria da qualidade de
vida pessoal, familiar e comunitária, segundo eles, as mesmas geraram expressiva
relevância na melhoria na vida social. Tais relevâncias se expressaram na forma
escrita e livremente, por meio de opiniões pessoais dos entrevistados, quase
sempre, carregadas de valores e significados. Momento significativo que foi possível
conduzir os mesmos a um grau elevado de concentração, no sentido de
corresponder fielmente às questões da pesquisa, sem deixar de levar em conta a
fidedignidade das mensagens criticas e avaliativas sobre as atividades.
O impacto que as ações do PDC tiveram para a melhoria da qualidade de
vida dos participantes foi analisado em três níveis de reflexão: no primeiro nível se
analisou as mudanças sentidas e percebidas no campo pessoal, no segundo nível a
condição familiar e no terceiro nível a qualidade de vida comunitária.
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Do lado de dentro: vida pessoal
Na primeira categoria de analise foram referenciados os dados que
contribuíram para a qualidade de vida pessoal de 26 pessoas entrevistadas,
considerando a opinião dos homens e das mulheres. Nesse sentido, as ações do
PDC foram avaliadas como sendo positivas e as mesmas geraram mudanças e bem-
estar na qualidade de vida pessoal. Tais afirmativas foram constatadas quando os
mesmos declararam que: me “aposentei e melhorei de vida”. Ao interpretar as ações
do PDC no patamar das individualidades, constatou- se que as ações pontuais e as
práticas educativas, interventivas, exerceram influências diretas na vida pessoal de
cada um dos entrevistados. Com este olhar, analisou-se que o morador ao participar
do programa, se envolveu também com a maioria dos projetos e ações que
disseminavam processos de mobilização e organização da vida pessoal e social.
As atividades que fortaleciam e potencializavam as qualidades pessoais
individuais dos sujeitos, ao mesmo tempo também, provocaram mudanças de
comportamento com assimilação de novos hábitos e novas atitudes. Transformações
que segundo os participantes “melhorou as amizades pessoais, fez amigos”,
melhorou a autoestima, a convivência e o senso de solidariedade entre os pares.
A maioria dos moradores da Comunidade Libanópolis procurava o PDC para
buscar atendimento, orientações e encaminhamentos sociais no intuito de minimizar
os conflitos agravados pelas necessidades de sobrevivência. Necessidades que
eram geradas pela ausência de políticas e assistência do poder público local,
realidades, que acabavam elevando a população à margem da exclusão social.
Frente a estas demandas o PDC procurou atender a comunidade agindo de forma
direta no acompanhamento individual dos moradores e que, a partir destes
encaminhamentos, constatou-se após as orientações técnicas, o participante
“conseguiu os documentos pessoais, ajudou bastante” para que o mesmo pudesse
assumir sua identidade e exercer seus direitos de cidadania.
A partir das ações desenvolvidas ao longo do programa, os pesquisados
puderam avaliar as principais atividades que contribuíram para a melhoria da
qualidade de vida pessoal, realizadas no interior da comunidade. Nesta categoria,
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apareceram as “obras e condições digna de sobrevivência” como benfeitorias
promotoras de bem-estar pessoal para a maioria deles. Afirmaram que as ações
“eram boas, fez amizade, participava das palestras” entre outras atividades, que
contribuíram para o crescimento pessoal enquanto sujeitos protagonistas de suas
próprias histórias.
Estas atividades tinham a função de potencializar as estruturas emocionais,
artísticas, musicais e educativas dos participantes por meio das oficinas. Além de
cumprir um papel terapêutico de autoestima e autoconhecimento, representava
também, um valor integrativo. Permitindo ai, o fortalecimento das relações de
amizade e de convivência social entre os pares, buscando ao mesmo tempo resgatar
os valores pessoais individuais que muitas vezes estavam esquecidos no
inconsciente dos participantes. Reavivar estas lembranças e resgatar suas historias,
traziam de volta memórias e sentimentos positivos que sempre contribuíam para a
satisfação e alegria pessoal. Como parte deste leque, se incluía também, o
fortalecimento dos bons hábitos, o senso de solidariedade e união, valores que
permitiram aos entrevistados afirmarem ter “perseverança” na pratica do viver bem,
que “aprendi a conviver melhor com as pessoas de fora” tornado-as pessoas mais
livres, e seguras de si mesmas.
Do outro lado: vida familiar
No segundo nível de reflexão da pesquisa se analisou os dados referentes
às ações do PDC, relacionadas à qualidade de vida familiar interpretada na voz dos
entrevistados.
A importância das ações do programa na ótica dos participantes tomou
dimensões, que foram além dos interesses da vida pessoal, abrangendo também, as
questões de ordem familiar. Nas mensagens e declarações analisadas na pesquisa,
nelas, ficaram evidenciadas de que o entrevistado “recebeu ajuda e apoio” do PDC
no campo das necessidades familiares. Razão pela qual consideraram estas ações
como sendo “muito positivo, bom tratamento com os filhos”. Estes aspectos forma
importantes por que contribuíram para a melhoria da qualidade de vida dentro do lar.
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Incluindo, todavia, o fortalecimento das relações afetivas, “boas” convivência entre os
membros do grupo familiar e “sempre ajudando” as pessoas suprirem suas
necessidades.
As ações que significaram valores pessoais e familiares para os
entrevistados tiveram maior relevância na sua avaliação. Para eles as ações do
PDC contribuíram de forma positiva para o equilíbrio da convivência, respeito,
unidade e qualidade de vida familiar. Por meio destas, disseram ter recebido
orientações, “apoio moral, senso de justiça prevalecendo, lazer, participação e
convivência social”, entendidas como exercícios que promoveram qualidade de vida,
contribuíram para tornar o lar um ambiente mais harmonioso e “bom para todos”.
Na voz dos entrevistados a vida familiar sempre ultrapassou o espaço
doméstico e, criou-se além dele, outras e novas relações de amizade e convivência
com vizinhança. E neste ambiente dinâmico que é o familiar, os pesquisados
declararam, hoje: “Eu consigo conviver com as outras famílias” e outras pessoas
além do ciclo familiar. Percepção que conferiu um grau de evolução, condições que
permitiu um crescimento pessoal, que vai além da qualidade da vida familiar. Não
somente por ter considerado as ações que geraram bem-estar, com as benfeitorias
do PDC que foi “bom para todos, transporte”, habitação, escola, saúde, lazer entre
outras, mas principalmente, pelas transformações que permitiram mudança de
comportamento individual.
A ideia de qualidade de vida tem haver com o bem-estar social individual e
coletivo numa dimensão de totalidade, dimensões estas que ultrapassam os campos
da realidade, sugerem interações combinadas entre o que é considerado campos da
vida pessoal, do meio familiar e da convivência comunitária.
Do lado de fora: vida comunitária
A síntese analítica do terceiro nível dimensiona informações, sugestões,
opiniões e expectativas que os entrevistados emitiram sobre as ações do PDC, com
relação à qualidade de vida na comunidade. Estes conteúdos foram apreendidos e
interpretados como indicadores avaliativos do programa. Com a análise dos dados
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constatou-se que após a implantação do PDC, segundo os entrevistados “a
comunidade passou a ter atendimento” e “melhorou a qualidade de vida” da
população. Dentre essas ações se incluiu o “atendimento com relação à saúde,
melhoria no transporte” escolar, na voz dos moradores aconteceram “só coisas boas,
+ segurança”, “houve mudanças importantes para a comunidade, melhorias,
construção” de moradias, construção do Centro Social, sendo este um espaço
considerado importante de abrigo do PDC e de acolhimento à comunidade.
Na ótica dos participantes, as benfeitorias e ações mediadas pelo PDC
contribuíram de forma positiva para assistência e melhoria da qualidade de vida da
comunidade. Embora a população tenha avaliado de forma critica com mensuração
de nota de zero a dez, o grau de satisfação dos serviços prestados pelo poder
público, incluindo nesta a infraestrutura. Com este posicionamento se destacaram as
principais ações que tiveram maior e menor grau de satisfação.
De acordo com a avaliação dos entrevistados as ações de Saneamento
Básico teve maior grau de satisfação com media de 7,6. Na sequência apareceram
as ações de Cultura, Arte e Lazer, com média 7,3 e por ultimo o item, Segurança
Pública com 7,2.
Em relação a Segurança Pública, analisou-se que os homens entrevistados
na faixa etária de 18 a 28 anos, atribuíram para estas ações nota zero. A relação
entre a faixa etária e a insatisfação com a segurança publica no interior da
comunidade, tem haver com os conflitos sociais, vulnerabilidade e violência
vivenciada por esta população etária. Uma vez que os jovens encontram-se mais
expostos aos riscos e conflitos sociais.
Ainda sobre a avaliação, se destacaram o item Transporte Coletivo, neste, os
entrevistados apontaram como sendo o de menor grau de satisfação, foi avaliado
com média geral de 5,5. Verificou-se que neste item os homens indicaram maior grau
de insatisfação que as mulheres, a média deles foi de 4,8 e a delas de 6,3. Esta
diferenciação se atribuiu ao fato de que os homens utilizaram o sistema de transporte
coletivo com maior frequência que as mulheres, uma vez que os mesmos saiam para
trabalhar fora da comunidade para provimento do sustento e as mulheres
permaneciam cuidando do lar. Percebe-se esta distinção, principalmente, entre os
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homens com faixa etária de 18 e 28 anos, estes, avaliaram com nota 0,25, ao
contrário dos idosos que atribuíram nota 10 para o mesmo item. E as mulheres com
faixa entre 40 a 50, também atribuíram nota 10. A partir desta avaliação pode-se
analisar que o transporte coletivo na comunidade representou diferentes graus de
satisfação para os entrevistados. Por um lado à satisfação da população idosa, que
anteriormente ao PDC não contava com este sistema - o transporte coletivo no
interior da comunidade e, por outro lado, a insatisfação da população mais jovem
trabalhadora e usuária desses serviços, que ainda sofrem precarização e
insuficiência no atendimento as suas necessidades de mobilidade urbana.
Quanto ao grau de satisfação em relação às ações voltadas a Agricultura e
Abastecimento na comunidade, verificou-se que a média geral aferida pelos
entrevistados foi de 5,7, apesar das diferenças de medias entre homens e mulheres.
Para elas, as ações deste item teve satisfação considerada baixa com media 4,9, e
para os homens foi considerada razoável com media 6,5. A diferença de notas na
avaliação desta ação teve relação com o grau de participação entre os sujeitos. As
mulheres, todavia, participaram com maior frequência dos programas de Horta
Comunitária e Horta Familiar, que os homens. Condição que permitiu as mesmas
emitirem valores e significados diferenciados em relação aos homens. Pois, a
maioria delas eram produtoras e provedoras do sustento familiar e participavam
ativamente das atividades produtivas, permitindo assim, elementos para uma
avaliação consubstanciada.
Com referencia as ações de Cultura, Arte e Lazer, verificou-se uma diferença
entre a avaliação dos homens e a das mulheres. Eles atribuíram media 8,6 e elas
6,1. Não se pode deixar de considerar que os homens das faixas etárias entre 18-28,
29-39 e os acima de 60 anos aferiram media 10. A média 10 também foi à nota
mensurada pelas mulheres com idade entre 40-50 e acima de 60 anos. Atribui-se
que os entrevistados nestas faixas etárias participaram com mais frequências das
atividades culturais, artísticas e de lazer, como campeonatos de futebol, capoeira,
teatro e dança.
Para responder a esta avaliação, se questionou aos entrevistados o que
significava qualidade de vida comunitária e quais eram suas expectativas em relação
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ao PDC? Esta questão levou os participantes a avaliarem as ações do programa,
não somente indicando suas notas de zero a dez, mas também, emitindo seus
pareceres, opiniões, sugestões e criticas sobre o conjunto da obra.
E por esse prisma, disseram que as ações do PDC geraram mais “emprego e
saúde” em beneficio da vida comunitária e, sobretudo assistência básica e “ajuda na
alimentação” saudável dos moradores.
Assegurar as condições mínimas de sobrevivência da população de
Libanópolis, seguramente fez-se necessário mediar e ativar uma rede de ações
interligadas que envolveram decisões políticas e técnicas, entre o poder público, o
PDC e a comunidade.
E a partir do histórico de vida comunitária, pelas necessidades e
experiências vivenciadas antes da implantação do PDC, os entrevistados puderam
avaliar o programa disponibilizando dados para analise dos conteúdos da pesquisa,
emitindo de forma livre e críticos suas notas e pareceres avaliativos. E sobre este
olhar afirmaram que as ações do programa foram positivas e contribuíram para a
qualidade de vida comunitária. Reconheceram na avaliação que a população teve
assistência à “saúde creche”, “apoio moral”, pessoas foram encaminhadas para
requerer o direito à “aposentadoria”, teve acesso a “mais ônibus” coletivos,
participaram de “atividades artísticas e lazer”, encaminhamento para “emprego e
curso” profissionalizantes, participação em “trabalho de grupo”, teve “mais
segurança” publica, entre outras atividades e benfeitorias consideradas importantes
na visão dos entrevistados.
Apesar dos esforços do PDC no atendimento a comunidade como um todo,
nos variados aspectos da realidade social local, os entrevistados, homens e
mulheres, sugeriu como possíveis novas ações do PDC, a implantação de novos
programas e projetos que promova “geração de emprego e renda”, ampliação de
“curso profissional”, a implantação de “creche escola e posto de saúde”, um “posto
policial”, “mais polícia” nas ruas, mais “transporte” escolar e coletivo, entre outras
benfeitorias que possam atender os anseios e necessidade da comunidade.
Para os entrevistados, o caminho para se chegar aos objetivos propostos
nesta reflexão avaliativa significa, sobretudo, fortalecer a comunidade no sentido de
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consolidar cada vez mais o processo de mobilização, participação e organização
como um todo. Requer que os membros sejam ativos para se “trabalhar em grupo
unificado”, onde “todos participem do PDC” e que o mesmo mantenha a autoridade
de propor “impor condições de forma educativa, trabalhar questões morais e valores
humano” no sentido de preservar a manutenção e fortalecimento da paz e ordem
social.
RESGATANDO O PRINCÍPIO DO PDC E TECENDO AS CONSIDERAÇOES
FINAIS
Os resultados alcançados e analisados nesse trabalho podem contribuir para
que se possa refletir sobre a realidade observada e sentida ao longo da prática
social. Realidade desvelada e analisada, tanto do ponto de vista teórico quanto os
desafios das práticas educativas, que se complementam dentro e fora do ambiente
familiar e comunitário. S e torna impossível alcançar processos que anuncie o
desenvolvimento humano e social, sem o conhecimento teórico-metodológico e
prático-operativo, pois, ambos se complementam na mesma direção.
O ponto de partida foi traçado como um desafio de investigar o quanto às
ações do PDC possibilitava a garantia do direito de cidadania, visto que isso só
poderia ser realizado levando-se em consideração a voz da comunidade.
Concluiu-se que é preciso reunir forças para traçar estratégias de novas
mobilizações, participações e organizações a fim de reivindicar o atendimento as
necessidades apontadas no campo pessoal, familiar e comunitária. A partir daí,
iniciar-se com o processo de discussão reflexiva, planejamento das metas e
enfrentamento da realidade demonstrada nos resultados da pesquisa.
Considerando que a comunidade já possui um nível de organização será
necessário pressionar com urgência o poder público no atendimento as demandas
indicadas na análise, apropriando-se das experiências e estratégias adquiridas para
fazer valer suas reivindicações da população.
Não há dúvida, que o caminho já foi iniciado quando se constatou que a
população já usufrui de alguns benefícios e serviços como: a disponibilidade de
ônibus coletivo, saneamento básico, abertura da rede para atendimento a população
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junto à política de saúde, assistência social, transporte escolar, coleta de lixo,
policiamento, inclusão dos moradores em programa de geração de renda e
capacitação profissional, entre outras ações mediadas pelo PDC, que devem ser
repensadas, replanejadas, discutidas até serem compreendidas e encaminhadas de
acordo com as prioridades emergentes.
As sugestões de ações e expectativas apontadas na pesquisa, que poderão
melhorar a qualidade de vida pessoal, familiar e comunitária dos entrevistados, neste
momento permanecerão em aberto para que possivelmente sejam encaminhadas
para ao poder publico suas reivindicações.
Em relação à pesquisa, o estudo iniciado teve sua contribuição e relevância
no campo da educação e das ciências sociais. Permitiu uma aproximação
substancial do objeto investigado e um profundo conhecimento da realidade social
comunitária. No entanto, faz-se necessário a continuidade desses e de novos
estudos no campo da pesquisa social.
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