O Impacto Do IFRS Sobre Os Custos de Auditoria No Brasil

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1 O Impacto do IFRS sobre os Custos de Auditoria no Brasil Autoria: Fernanda Santos de Oliveira, José Maria Dias Filho, Sonia Maria da Silva Gomes RESUMO Esta pesquisa avalia o impacto da adoção do International Financial Reporting Standards IFRS sobre os custos de auditoria no período de 2005 a 2012 em 19 empresas brasileiras com ações listadas na NYSE. O IFRS foi classificado como variável dummy. Os resultados indicam redução de 24% nos custos de auditoria após o IFRS. Esta pesquisa fornece subsídios para os países iminentes a adotar o novo padrão avaliarem a inclusão destes custos no orçamento para implantação do IFRS. Para os países que já aderiram, pode contribuir para analisar comparativamente o nível dos custos de auditoria de seu país com o Brasil. Palavras-chave: Honorários de auditoria, custos de implantação do IFRS, custos de auditoria, audit fees.

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RESUMOEsta pesquisa avalia o impacto da adoção do International Financial Reporting Standards – IFRS sobre os custos de auditoria no período de 2005 a 2012 em 19 empresas brasileiras com ações listadas na NYSE. O IFRS foi classificado como variável dummy. Os resultados indicam redução de 24% nos custos de auditoria após o IFRS. Esta pesquisa fornece subsídios para os países iminentes a adotar o novo padrão avaliarem a inclusão destes custos no orçamento para implantação do IFRS. Para os países que já aderiram, pode contribuir para analisar comparativamente o nível dos custos de auditoria de seu país com o Brasil.Palavras-chave: Honorários de auditoria, custos de implantação do IFRS, custos de auditoria, audit fees.

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O Impacto do IFRS sobre os Custos de Auditoria no Brasil

Autoria: Fernanda Santos de Oliveira, José Maria Dias Filho, Sonia Maria da Silva Gomes

RESUMO

Esta pesquisa avalia o impacto da adoção do International Financial Reporting Standards – IFRS sobre os custos de auditoria no período de 2005 a 2012 em 19 empresas brasileiras com ações listadas na NYSE. O IFRS foi classificado como variável dummy. Os resultados indicam redução de 24% nos custos de auditoria após o IFRS. Esta pesquisa fornece subsídios para os países iminentes a adotar o novo padrão avaliarem a inclusão destes custos no orçamento para implantação do IFRS. Para os países que já aderiram, pode contribuir para analisar comparativamente o nível dos custos de auditoria de seu país com o Brasil.

Palavras-chave: Honorários de auditoria, custos de implantação do IFRS, custos de auditoria, audit fees.

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1 - INTRODUÇÃO

A adoção das normas internacionais é uma realidade presente em 128 países, conforme diagnóstico do International Accounting Standards Board – IASB (órgão responsável pela emissão de IFRS). Segundo Ikuno, Niyama, Santana e Botelho (2012), as pesquisas estão abordando pelo menos oito aspectos acerca do processo de convergência ao IFRS: diferenças internacionais e implicações no financial reporting, classificação, impacto da adoção das IAS/IFRS, estudo de países, processo de adoção das IFRS, situação atual, pesquisa na área internacional e mensuração da convergência.

Este último aspecto, a mensuração da convergência, ainda segundo Ikuno et al. (2012) é caracterizada por medir os esforços para se alcançar a convergência das normas nacionais às normas internacionais e por comparar os sucessos alcançados. Dentre os esforços existentes para mensurar a adoção do IFRS, estão os custos com auditoria. Tais custos são foco desta pesquisa, que, por sua vez, inspirou-se fortemente no trabalho realizado por De George da Universidade de Michigan, Ferguson e Spear, estes últimos pertencentes à Universidade de Melbourne, sendo que o mesmo foi publicado em 2013.

Os custos com honorários de auditoria, considerados como um dos componentes da mensuração da convergência ao IFRS, segundo Hail, Leuz e Wysocky (2010), são arcados pelas empresas e podem ter sofrido uma variação com o advento do IFRS visto que estas normas motivaram novas demandas de serviço. Tais custos remuneram o serviço de auditoria a qual serve para mensurar a adequação, a qualidade e a confiabilidade dos registros das demonstrações financeiras obedecendo a normas apropriadas de procedimento (FRANCO E MARRA, 2001).

Neste contexto tem-se o seguinte problema de pesquisa:

Qual o impacto do processo de convergência ao IFRS sobre os custos de auditoria no Brasil no período de 2005 a 2012?

O principal objetivo desta pesquisa, portanto, é avaliar o impacto do processo de convergência ao IFRS sobre os custos com honorários de auditoria no Brasil no período de 2005 a 2012. Adicionalmente, são propostos os seguintes objetivos específicos: (i) verificar se os custos com serviços de auditoria podem ser associados com um dos custos necessários à implantação do IFRS no Brasil e (ii) identificar que fatores podem influenciar no preço cobrado pelas empresas de auditoria.

2 – JUSTIFICATIVA

A adoção do IFRS mudou substancialmente a forma e o conteúdo das demonstrações financeiras assim como a regulação da contabilidade, conforme afirmam De George, Ferguson e Spear (2013) gerando principalmente custos de compliance para alteração destas publicações. O exame dos custos de auditoria representam um ponto objetivo, observável e mensurável para análise da incorporação destas significativas mudanças.

A análise do comportamento dos custos com auditoria após adoção completa do IFRS está em destaque pela atual e constante discussão em torno dos custos e benefícios da

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conversão às normas internacionais (HAIL et al. 2010). Em termos práticos os resultados desta pesquisa podem contribuir para que os países que estão na iminência de adotar as novas regras avaliem se devem incluir ou não no orçamento para implantação do IFRS os custos com auditoria. Para os países que já aderiram pode permitir uma análise comparativa sobre o nível de gastos despendidos com este processo versus os benefícios obtidos.

Cabe destacar, ainda, outros pontos fundamentais que estimularam o desenvolvimento desta pesquisa: (i) a escassez de trabalhos com esta temática no Brasil. Autores como Hallak e Silva (2012), Bortolon, Neto e Santos (2012) tratam de custos de auditoria no Brasil, mas não fazem o comparativo antes e após o IFRS, que é a proposta desta pesquisa; (ii) a baixa frequência em periódicos brasileiros da temática auditoria conforme estudo de Lima, Diniz e Silva (2013), que verificaram que no período de 2006 a 2010 o tema auditoria externa e interna esteve presente em menos de 4,5% nos periódicos analisados; (iii) permitir a comparação do caso brasileiro com o da Austrália, cujo estudo similar foi realizado por De George et al. (2013).

3 - REVISÃO DA LITERATURA

Os estudos sobre o impacto da regulamentação do International Financial Reporting Standards - IFRS sobre os honorários de auditoria ainda são escassos no campo científico brasileiro como demonstram Lima et al. (2013). A seguir serão apresentadas a Teoria da Agência, a visão de alguns autores que ajudam a entender o custo do trabalho do auditor como um dos custos da adoção do IFRS, segundo Hail et al. (2010), e os resultados dos principais trabalhos realizados na área.

3.1 TEORIA DA AGÊNCIA

A Teoria da Agência contribui para entender a importância do serviço de auditoria. Considerando-se que o novo padrão exigido pelo IFRS imprime alto grau de conhecimento e experiência, requisitam-se especialistas no assunto (HAIL et al. 2010). Tais especialistas seriam os auditores cujo trabalho é custeado pelas empresas. Estes custos, além se assegurar qualidade de informações financeiras, tornaram-se uma forma de reduzir problemas, segundo Saito e Silveira (2008), decorrentes da Teoria da Agência como o conflito de interesses e a assimetria informacional.

Quando em 1937, Ronald Coase lançou seu artigo The Nature of Firm mais uma Teoria no campo da economia estava ascendendo. Era o que hoje se conhece por Teoria da Firma que consiste na visão da firma, conforme Lopes (2004), como “uma unidade autônoma que busca maximizar o capital empreendido”. Além disso, a criação e a responsabilidade sob a firma pertencem ao seu único proprietário.

De acordo com este cenário não havia problemas de assimetria informacional nem conflito de interesses uma vez que o dono, o “capitão da empresa”, também era o principal executivo (MARTINS, SANTOS E DIAS FILHO, 2004). Nem fazia sentido custos de auditoria para assegurar a integridade das informações. Entretanto, Jensen e Meckling, em

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1976, escrevem trabalho pioneiro sobre a Teoria da Agência. Esta Teoria descreve a divisão do principal em duas figuras distintas: principal (proprietário) e agente (gerentes).

Segundo Iudícibus, Martins e Carvalho (2005) a Teoria da Agência evoca duas consequências básicas oriundas da relação principal x agente: dicotomia de interesses e assimetria informacional. A primeira se revela porque enquanto os principais visam maximizar sua riqueza e focam no longo prazo, os agentes visam maximizar sua utilidade pessoal e focam no curto prazo. Ou seja, há um conflito de interesses porque os atores deste cenário têm motivações distintas. Zylberstajn (1995) chama isto de “postura oportunística”.

Já a assimetria informacional surge porque antes, quando o sócio e o administrador eram a mesma pessoa, toda a informação disponível era dominada e gerida por ela. Agora, com personagens distintos, segundo Hendriksen e Van Breda (1999) apresentam, nem todos os estados são conhecidos por ambas as partes, e assim, certas consequências não são por elas consideradas. Ou seja, surge a necessidade da auditoria para neutralizar esta assimetria e mitigar os riscos decorrentes dos possíveis conflitos de interesse. Os custos deste aparato, naturalmente, recaem sobre a empresa.

Segundo Lopes (2004), a Teoria dos Contratos ampliou o contexto da firma, antes restrita ao sócio e ao administrador, para um contexto amplo onde a firma é representada por um conjunto de contratos. Logo, a necessidade de informação equivalente e auditada torna-se ampla a todas as partes que possuem relação contratual com a firma. Sejam elas acionistas majoritários, acionistas minoritários, clientes, fornecedores, credores, empregados, sócios, auditores entre outros.

Com a notória ampliação do leque de interessados por informações de natureza contábil, surgiu também a necessidade de aprimorar os mecanismos de Governança Corporativa e, consequentemente, a própria auditoria. Destarte, uma das exigências da Governança Corporativa é a presença da auditoria nas empresas (NICHOLS E SMITH, 1983). Isto ajuda a entender porque a auditoria vem ganhando maior relevância no atual ambiente de negócios e, por extensão, o crescente interesse pelo comportamento dos custos da auditoria.

Aliás, como era de esperar, após à introdução do IFRS, o trabalho do auditor ganhou maior destaque conforme Hail et al. (2010) e o interesse pelos respectivos custos, também. A Teoria da Agência, portanto, oferece bases para se compreender porque os custos com auditoria vem despertando, cada vez mais, o interesse de estudiosos e do mercado em sentido mais amplo.

3.2 AUDITORIA

A auditoria tem o propósito de balizar a relação entre principal e agente no sentido de atenuar a assimetria informacional e o conflito de interesses entre eles, evitando inúmeros problemas com o da fraude. Arruda, Madruga e Junior (2008) indicam a auditoria como um dos mecanismos de transparência da Governança Corporativa e como uma garantia externa e objetiva sobre a maneira pela qual os demonstrativos financeiros foram preparados e apresentados.

Os custos com honorários de auditoria - responsabilidade da firma auditada –, conforme Nichols e Smith (1983) contribuem para assegurar que as informações contábeis

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disponibilizadas ao público estão corretas e limitar a possibilidade de o controlador manipular resultados. Desta forma, as firmas de auditoria devem ter credibilidade junto ao mercado para que a opinião divulgada tenha substância, segurança e fundamento suficientes para influenciar a sociedade.

É possível conhecer os valores cobrados pelos auditores brasileiros a partir da obrigatoriedade imposta pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, através da instrução n.º 480 (2009). Conforme tal instrução, as empresas brasileiras auditadas devem divulgar os honorários relativos a serviços de auditoria e os relativos a quaisquer outros serviços prestados a partir de 2009. Antes deste período os custos só eram apresentados por divulgação voluntária, principalmente para quem divulgava no padrão do IFRS voluntariamente no Brasil.

De George et al. (2013) analisaram que entre os custos de adequação às novas regras do IFRS estão os custos de auditoria. As firmas de auditoria, em especial as Big Four (grupo das quatro maiores empresas de auditoria do mundo) saíram à frente neste processo. Estes profissionais foram os primeiros do mercado a se especializarem nas alterações e no processo de implantação. Em seguida, a procura e a necessidade dos serviços de auditoria aumentaram justamente para atender os clientes que se viam obrigados a divulgarem demonstrações financeiras convergidas ao IFRS, mas sem o devido know-how para isto.

A busca pela elevação da qualidade da informação contábil é uma característica antiga das auditorias. Por isso, é compreensível a habilidade delas na orientação no processo de convergência. A proficiência dos auditores das Big Four (Pricewaterhousecoopers, EY, Deloitte e KPMG) é uma característica corroborada por Hope, Thomas e Vyas (2013) os quais constataram que empresas do setor privado auditadas por Big Fours tenderiam a apresentar maior qualidade da informação contábil em comparação às empresas do setor público. A amostra que contribuiu para este resultado teve a participação de 302.264 demonstrativos contábeis coletados de 2001 a 2009. Os referidos autores constataram que a presença da auditoria seria uma das justificativas para a maior qualidade.

Em sua pesquisa com empresas australianas, De George et al. (2013) verificaram que os custos com honorários de auditoria cresceram em 23% no período de transição à adoção ao IFRS em empresas australianas. Neste período, a adoção era facultativa até as empresas estarem totalmente prontas à obrigatoriedade de divulgação. Kim, Liu e Zheng (2012) desenvolveram um modelo para estipular uma “taxa de auditoria” e entre suas análises, avaliaram as empresas dos países da União Europeia cuja adoção mandatória foi em 2005. Concluíram que quanto maior a complexidade da empresa, maior a taxa de auditoria. Por outro lado, a melhoria da qualidade das demonstrações contábeis convergidas a referida taxa diminui.

Alguns autores como Diehl (2010) acreditam que o preço do serviço de auditoria assim como impostos e outras taxas cobradas pelo auditor, como por exemplo as consultorias, expandiram após a inserção da nova legislação. A valorização nos preços de tais serviços em conjunto com a expansão das horas vendidas são alguns dos fatores que contribuem para compreender a elevação dos custos de auditoria após o IFRS. Entretanto, Diehl (2010) também argumenta que o aumento da relevância com a divulgação do valor justo e maior poder de comparabilidade são benefícios oriundos do IFRS.

No Brasil, ainda não foram realizadas pesquisas comparando os custos de auditoria antes e após o IFRS. Contudo, há estudos sobre os custos de auditoria conforme a pesquisa de

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Bortolon et al. (2012). Estes autores avaliaram a relação entre custos de auditoria e governança corporativa com 131 empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa no primeiro semestre de 2010. Os achados mostram que existe uma relação antagônica entre os dois: quanto maior os níveis de governança, menor os custos de auditoria. Este fenômeno pode ser explicado pelo fato de que melhores práticas de governança reduzem os riscos da auditoria, permitindo a cobrança de taxas menores ou menor quantidade de horas no projeto.

Outro estudo brasileiro na área foi o de Hallak e Silva (2012) que exploraram quais os determinantes das despesas com serviços de auditoria e consultoria prestados pelo auditor independente no Brasil. Utilizaram para isso uma amostra de 219 empresas de capital aberto no ano de 2009. Verificaram que as despesas com auditoria são influenciadas positivamente pelo tamanho da empresa auditada, qualidade da governança e pelo fato da firma ser uma Big Four. Sob outra ótica, para os serviços de consultoria o tamanho da empresa e a firma ser Big Four é que são aspectos determinantes.

4 - METODOLOGIA

Os dados foram coletados por meio da consulta à New York Stock Exchange - NYSE e ao Economática. Foram extraídas da primeira as empresas brasileiras listadas na bolsa de Nova Iorque que divulgaram os custos com auditoria para todos os anos do escopo (2005-2012). Da segunda base foram capturadas as variáveis independentes que influenciam no orçamento da auditoria para as empresas selecionadas. A análise estatística foi realizada por meio dos softwares GRETL 1.7.1 e SPSS.

A população inicial continha 33 empresas brasileiras, porém, devido às limitações com relação à ausência de dados para alguns anos, empresas repetidas (holding sem os dados) e a presença de empresas financeiras foram excluídas 14 empresas. Assim, a amostra final abrangeu 19 empresas brasileiras de capital aberto listadas na NYSE. Optou-se por trabalhar com demonstrações consolidadas. Conforme Tabela 1, pode-se observar o perfil da amostra:

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Alimentos e Bebidas 2

Comércio 1

Construção 1

Energia Elétrica 3

Mineração 1

Outros 1

Papel e Celulose 1

Petróleo e Gás 1

Química 1

Siderur & Metalur 2

Telecomunicações 3

Transporte Serviços 1

Veículos e peças 1

TOTAL 19

SETORQUANTIDADE DE

EMPRESAS

Perfil da amostra

Tabela 1:

O período do escopo desta pesquisa, 2005-2012, foi definido para verificar o comportamento dos custos de auditoria antes e após o IFRS e com base na NYSE. Há três fatores que justificam este cenário: (i) A adoção do IFRS no Brasil tornou-se obrigatória a partir de 2010, observando-se que os anos de 2008 e 2009 foram anos de transição, durante os quais a adoção era facultativa. (ii) A divulgação dos custos de auditoria tornou-se compulsória pela CVM a partir de 2009 por meio do “relatório de referência”, por isso esta informação não está disponibilizada para anos anteriores a 2009 no Brasil. (iii) As empresas brasileiras de capital aberto listadas na NYSE, já eram obrigadas a divulgar os honorários dos auditores mesmo antes de 2009, por meio do form 20-F.

Logo, considerando-se que 2008 e 2009 foram anos de transição à adoção ao IFRS e que o período 2010 a 2012 representa os três anos mais recentes de obrigatoriedade com todos os dados disponíveis para coleta, selecionou-se mais três anos anteriores ao período de transição, no caso, 2005 a 2007. Assim, O período de 2005 a 2007 representa o período (ex ante o evento) sem o IFRS, contrariamente, 2008-2012 compreende o espaço temporal da adoção do IFRS no Brasil (ex post o evento).

Os custos com honorários de auditoria no período de 2005 a 2012 foram coletados a partir do formulário “20-F” exigido e divulgado no site da NYSE. Segundo o form 20-F, disponibilizado pela SEC (Securities and Exchange Comission), os honorários de auditoria devem ser divulgados para os dois últimos anos fiscais no item 16C. Principal Accountant Fees and Services de acordo com a seguinte classificação:

Audit fees – Referem-se à auditoria das demonstrações financeiras anuais ou serviços referentes à exigências regulatórias e estatutárias da empresa.

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Audit-related fees – São serviços razoavelmente relacionados à realização da auditoria ou revisão das demonstrações financeiras e não relatados no item anterior. Deve haver a descrição da natureza deste item.

Tax fees – Referem-se a serviços pertinentes ao cumprimento das obrigações fiscais, consultoria fiscal e planejamento tributário.

All other fees – Referem-se a todos os outros serviços que não listados nos itens acima. Deve-se descrever a natureza que compõe estes gastos.

Esta classificação não está muito restrita e limitada (também não há exemplos) o que pode dar margem à classificações inconsistentes e diversas. Desta forma, optou-se por testar as hipóteses de trabalho somente com relação aos Audited Fees cuja informação é divulgada por todas as empresas em todos os períodos.

Além disso, está presente a variável Dummy representada pelo IFRS para o período de 2008-2012, quando esta prática foi adotada no Brasil. Segundo, Gujarati e Damodar (2003) a variável Dummy é aquela que assume o valor 0 ou 1 para indicar a ausência ou a presença de algum efeito categórico que pode ser esperado para mudar o resultado. Logo, justifica-se o IFRS como variável Dummy para mensurar se a introdução do novo padrão contábil provocou ou não maiores esforços da empresa em termos de custos com auditoria para realização da convergência ao mesmo.

A Tabela 2 exemplifica a caracterização do teste estatístico:

2005-2007 2008-2012

Nota. Fonte: Dados da pesquisa

* Deflacionadas pelo total de ativos

Tabela 2:

Caracterização do teste estatístico

Audit fees

Total do ativo

Total do contas a receber*Receita líquida*

Total do ativo fixo*

H0

Sem IFRS

H1

Com IFRS

VARIÁVEIS

DEPENDENTES

VARIÁVEIS INDEPENDENTES VARIÁVEL DUMMY

Com relação às variáveis independentes extraídas do Economática, as mesmas foram definidas com base nos estudos de De George et al. (2013): total de ativos, total do contas a receber, receita líquida e do ativo fixo (imobilizado e intangível). No estudo original houve outras variáveis as quais foram excluídas como por exemplo, se a empresa era auditada por Big Four, que no caso não se aplica porque todas as empresas da seleção são auditadas por Big Fours.

Para qualificar os dados foi realizada a atualização dos valores, através do índice IPCA do IBGE disponibilizado pelo Banco Central, trazendo todos os dados a partir de 2005 para a data base de 2012 com o intuito de atenuar efeitos inflacionários e permitir a comparabilidade dos números. Adicionalmente, as variáveis independentes total da receita líquida, total do contas a receber (CP+LP) e total do ativo fixo foram deflacionadas pelo total de ativo a fim de balizar os dados. E para as demais variáveis foi calculado o logaritmo natural.

Por fim, optou-se por trabalhar com a diferença marginal, ou seja, do ano mais novo para o ano mais velho foi calculada a variação de cada dado e assim obter o comportamento

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em termos de diferença de um ano para outro. A análise de regressão linear multivariada das variáveis dependentes foi realizada com base no modelo discriminado na Tabela 3:

Yk = 0 + 1X1i + 2X2i + X3i+ X4i

Onde:

Y1

X1

X2

X3

X4

Nota. Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 3:

Logarítmo natural do total do ativo

Total do contas a receber com relação ao ativo total

Total da receita líquida com relação ao ativo total

Total do ativo fixo com relação ao ativo total

Descrição das variáveis

VARIÁVEIS DEPENDENTES

Logarítmo natural do Audit fees

VARIÁVEIS INDEPENDENTES

5 - ANÁLISE DOS RESULTADOS

O modelo de regressão múltipla foi gerado por meio de dados em painel e teste dos mínimos quadrados agrupados (pooled) em primeiras diferenças (diferenças marginais) usando 133 observações, incluídas 19 unidades de corte transversal com comprimento da série temporal igual a 7 períodos.

Com relação à Tabela 4 adiante, o modelo como um todo é válido tendo em vista que o teste apresentou um p-valor inferior 5% com nível de confiança de 95%. O r-quadrado ajustado, mais adequado ao modelo de regressão múltipla, evidenciou um nível baixo de poder de explicação do modelo, 19,5%. Além disso, os coeficientes X3 e X4, que representam respectivamente o total da receita líquida deflacionada pelo total de ativo e o total do ativo fixo (imobilizado mais intangível) também deflacionado pelo ativo total, não tem poder de explicação para o modelo adotado, pois cada um dos seus p-valor não são estatisticamente significativos, com um nível de confiança de 95%.

Tanto a receita líquida quanto o total de ativos foram variáveis independentes também abordadas na regressão realizada por De George et al. (2013) com dados da Austrália. Ambas variáveis tiveram p-valor adequando no estudo destes pesquisadores, podendo associá-las aos custos de auditoria, entretanto no caso brasileiro somente o total de ativos foi significativo.

Com relação à variável dummy IFRS, esta pode ser caracterizada como significativa. Assim, após o advento do IFRS no Brasil os custos de auditoria foram influenciados negativamente em 24%, ou seja, apresentaram uma redução. À luz da Teoria da Agência que defende a auditoria como uma das ferramentas para redução dos conflitos de agência, este resultado corrobora que o nível dos custos de auditoria é influenciado pelo novo padrão IFRS. Ou seja, sugere que a auditoria está associada a uma legislação e portanto sua credibilidade está presente.

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Este comportamento corrobora com os achados de Bortolon et al. (2012) os quais identificaram que nas empresas onde há Governança Corporativa as taxas dos serviços de auditoria diminuíram. Segundo os autores, o ambiente de Governança Corporativa implica em maiores níveis de controles o que contribui para diminuir os riscos de auditoria, e consequentemente, a demanda e os custos do trabalho dos auditores.

COEFICIENTEERRO

PADRÃORAZÃO-T P-VALOR

const 0,175 0,059 2,980 0,003 **

X1 0,843 0,196 4,310 0,000 **

X2 0,934 0,441 2,118 0,036 *

X3 0,490 1,635 0,300 0,765

X4 (0,937) 0,666 (1,407) 0,162

IFRS (0,248) 0,084 (2,953) 0,004 **

0,136 0,510

27,692 0,467

0,195 0,163

6,142 0,000

(84,367) 180,734

198,076 187,781

(0,306) 2,105

Nota. Fonte: Dados da pesquisa

* Nível de confiança 95%

** Nível de confiança 99%

rô Durbin-Watson

F(21, 92) P-valor(F)

Log da verossimilhança Critério de Akaike

Critério de Schwarz Critério Hannan-Quinn

Tabela 4:

R-quadrado R-quadrado ajustado

Variável dependente Audit Fees

Média var. dependente D.P. var. dependente

Soma resíd. Quadrados E.P. da regressão

Adicionalmente, foram realizados testes para validar a regressão com relação aos seguintes pressupostos: (i) Colinearidade: o teste Durbin-Watson que representa a existência de colinearidade entre as variáveis gerou valor de 2,11 o que confirma que o modelo não apresenta problemas com relação à colinearidade. (ii) Heterocedasticidade (iii) normalidade do modelo e (iv) adequação do modelo (teste Reset). Em todos os casos, o modelo atendeu satisfatoriamente, pois não apresentou problemas de heteroscedasticidade, apresentou distribuição normal e escolha adequada do teste dos mínimos quadrados.

Os dados também foram submetidos a outros modelos como o painel equilibrado, estimação com efeito fixo e estimação robusta. Contudo, o MCO agrupado ainda sim foi o mais relevante.

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6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito desta pesquisa foi verificar o impacto do IFRS sobre os custos com auditoria no Brasil no período de 2005-2012. Para atingir tal objetivo, realizou-se um estudo dos custos brasileiros com auditoria ex ante (2005-2007) e ex post o IFRS (2008-2012). Desta forma, este estudo inédito pode colaborar para avaliar se os custos de auditoria podem ser atrelados aos custos necessários para convergência ao padrão internacional no Brasil (HAIL et al. 2010).

A partir de uma amostra de 19 empresas, apurou-se 133 casos para o período abordado. Os achados permitem inferir que o IFRS é um fator determinante para os custos de auditoria de forma negativa em 24%. Ou seja, as variações dos custos com auditoria depois do IFRS diminuíram em 24% a partir de 2008 no Brasil. Logo, pode-se destacar esta pesquisa por contribuir aos países que já adotaram o IFRS comparar o impacto dele nos custos com honorários de auditoria.

Por exemplo, na Austrália segundo De George et al. (2013) houve um aumento de 23% dos custos de auditoria após o IFRS, observando-se o contrário no Brasil. Já, para as empresas dos países que estão na iminência de adotar os IFRS pode servir de alerta no sentido de considerar que os custos de auditoria podem aumentar ou diminuir após a convergência ao novo padrão.

Outra contribuição foi verificar que o total de ativos assim como o total do contas a receber líquido são variáveis independentes que podem ser associadas com os custos de auditoria. Ou seja, elas são variáveis importantes para se avaliar os custos com honorários de auditoria no Brasil.

Bortolon et al. (2012) afirmam ainda que esta relação negativa pode ser uma característica brasileira visto que internacionalmente, observa-se comportamento contrário, onde quanto mais organizadas são as empresas maior a complexidade e assim maiores serão os custos de auditoria.

Ainda segundo Bortolon et al. (2012), no caso brasileiro, a obrigatoriedade do IFRS exigiu mecanismos de maior segurança na apuração das informações contábeis, assim pressupõe-se que quanto maior o nível de controles eficazes, menor o escopo e consequentemente menores serão a quantidade de horas envolvidas e o valor das taxas dos trabalhos de auditoria.

Além de apresentar os resultados da realidade brasileira assim como De George et al. (2013) propuseram estudo semelhante na Austrália, esta pesquisa se torna original por ter trabalhado apenas com empresas que são auditadas por Big Fours. De George et al. (2013), estudaram todos os tipos de empresas, contudo tratou a auditoria por uma Big 4 como variável dummy indicativa de “maior qualidade” na auditoria quando presente.

Contudo, é importante frisar algumas limitações da pesquisa como por exemplo a própria classificação dos custos totais de auditoria realizadas pelas empresas de modo aleatório, a ausência da avaliação da influência dos custos de consultoria e o baixo de número de empresas analisadas podem não caracterizar a realidade da questão. Adicionalmente, a baixa quantidade de variáveis explicativas pode estar contribuindo para o baixo poder explicativo do modelo como um todo.

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Como sugestão para pesquisas futuras, pode-se estender a análise para outros países que já aderiram às práticas do IFRS e fazer uma avaliação comparativa entre os mesmos. Adicionalmente, caberia também estudos que apurem não só os custos monetários, mas a quantidade de horas envolvidas na execução das auditorias ou consultorias, apurar se serviços de consultoria influenciam nos custos de auditoria, identificar qual item do balanço ou qual IFRS exigiu maiores esforços para adaptação e por fim, identificar outros custos financeiros e não financeiros oriundos da convergência.

7 - REFERÊNCIAS

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