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Figura 1: Hospital Dom Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém Fonte: CENTRO DE MEMÓRIA DA AMAZÔNIA. Disponível em: <http://www.ufpa.br/cma/iconografias.html>. Acesso em: 1º mar. 2010. O hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa em Belém-PA e a transferência de modelos artísticos entre mares SALVADOR MIRANDA, Cybelle 1 ; GODINHO, Emanuella Piani 2 . Resumo: O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém, datado de 1877, foi projetado em linhas neoclássicas pelo Arquiteto português Frederico José Branco, o qual participou na edificação do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Sabe-se que a criação das Beneficências no século XIX foi de particular importância para o desenvolvimento da sociedade brasileira, produto do intenso fluxo migratório português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará. Estes migrantes trouxeram consigo ideais estéticos que, mesclados as influências locais, também retornaram a Portugal, como é visível no caso do Hospital da Beneficente do Rio de Janeiro, que serviu de modelo ao Hospital de Fafe, afirmando a transferência de padrões do Brasil a Portugal, reforçando os laços circulares de idéias entre os dois oceanos. Esta pesquisa integra o “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e acervos” na cidade de Belém, Pará. 1. Transferência de modelos artísticos Brasil-Portugal: o Hospital da Beneficente Portuguesa de Belém Com base na pesquisa que coordenamos em Belém desde 2009, parte do Projeto nacional gerenciado pela Fundação Oswaldo Cruz (RJ) denominado “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e acervos”, destacamos a edificação da segunda metade do século XIX, que abriga o Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém. Projetado pelo Arquiteto português Frederico José Branco, do qual se tem pouquíssima 1 Doutora em Antropologia. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Programa de Pós- graduação em Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal do Pará. 2 Discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo/UFPA. Bolsista de Iniciação Científica PROPESP/FAPESPA.

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O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém, datado de 1877, foi projetado em linhas neoclássicas pelo Arquiteto português Frederico José Branco, o qual participou na edificação do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Sabe-se que a criação das Beneficências no século XIX foi de particular importância para o desenvolvimento da sociedade brasileira, produto do intenso fluxo migratório português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará. Estes migrantes trouxeram consigo ideais estéticos que, mesclados as influências locais, também retornaram a Portugal, como é visível no caso do Hospital da Beneficente do Rio de Janeiro, que serviu de modelo ao Hospital de Fafe, afirmando a transferência de padrões do Brasil a Portugal, reforçando os laços circulares de idéias entre os dois oceanos. Esta pesquisa integra o “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e acervos” na cidade de Belém, Pará.

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Figura 1: Hospital Dom Luiz I da Beneficente

Portuguesa de Belém

Fonte: CENTRO DE MEMÓRIA DA AMAZÔNIA.

Disponível em:

<http://www.ufpa.br/cma/iconografias.html>. Acesso

em: 1º mar. 2010.

O hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa em Belém-PA e a transferência de

modelos artísticos entre mares

SALVADOR MIRANDA, Cybelle1; GODINHO, Emanuella Piani

2.

Resumo: O Hospital D. Luiz I da Beneficente Portuguesa de Belém, datado de 1877, foi

projetado em linhas neoclássicas pelo Arquiteto português Frederico José Branco, o

qual participou na edificação do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

Sabe-se que a criação das Beneficências no século XIX foi de particular importância

para o desenvolvimento da sociedade brasileira, produto do intenso fluxo migratório

português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará. Estes migrantes

trouxeram consigo ideais estéticos que, mesclados as influências locais, também

retornaram a Portugal, como é visível no caso do Hospital da Beneficente do Rio de

Janeiro, que serviu de modelo ao Hospital de Fafe, afirmando a transferência de padrões

do Brasil a Portugal, reforçando os laços circulares de idéias entre os dois oceanos. Esta

pesquisa integra o “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e

acervos” na cidade de Belém, Pará.

1. Transferência de modelos artísticos Brasil-Portugal: o Hospital da Beneficente

Portuguesa de Belém

Com base na pesquisa que coordenamos em Belém desde 2009, parte do Projeto

nacional gerenciado pela Fundação

Oswaldo Cruz (RJ) denominado

“Inventário Nacional do Patrimônio

da Saúde: bens edificados e

acervos”, destacamos a edificação

da segunda metade do século XIX,

que abriga o Hospital D. Luiz I da

Beneficente Portuguesa de Belém.

Projetado pelo Arquiteto português Frederico José Branco, do qual se tem pouquíssima

1 Doutora em Antropologia. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Programa de Pós-

graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Pará. 2 Discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo/UFPA. Bolsista de Iniciação Científica

PROPESP/FAPESPA.

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Figura 2: Capela Nossa Srª da Conceição

Foto: Carla Albuquerque, 2010

informação, uma das quais aponta sua participação na edificação do Gabinete Português

de Leitura, no Rio de Janeiro3, a edificação aparece em iconografia do artista italiano

Leon Righini, com um corpo central em dois pavimentos, arrematado por frontão

curvilíneo, com corpos laterais

simétricos em pavimento térreo.

Após reformulação no século XX,

houve acréscimo de pavimento

superior nos dois corpos laterais,

bem como a adição de um corpo

destinado a Maternidade D. Luiz I,

acompanhando as linhas clássicas

da edificação original. O hospital segue o modelo pavilhonar, com blocos voltados para

um jardim interno.

Em seus interiores, a edificação apresenta grandes salões, quartos amplos,

mantendo ainda a função hospitalar, bem como possui capela consagrada a Nossa Srª da

Conceição, com linhas arquitetônicas ecléticas, vitrais coloridos decorados com

elementos concheados e altar–mor em abside.

Sabe-se que a criação de Misericórdias durante o período colonial e das

Beneficências no século XIX foram de particular importância para o desenvolvimento

da sociedade brasileira, sendo que as Beneficências estão relacionadas com o intenso

fluxo migratório português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará

(COLÓQUIO Entre mares, 2009). Estes migrantes trouxeram consigo ideais estéticos

3 Arquiteto português residente no Rio de Janeiro, conhecido também como Frederico José Bianco.

Construtor do Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro. Ver COELHO, Gustavo Neiva. O

Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://casaabalcoada.blogspot.com/2009/11/o-real-gabinete-portugues-de-leitura-do.html>. Acesso em

18 mar. 2010.

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que, mesclados as influências locais, também retornaram a Portugal, como é visível no

caso do Hospital da Beneficente Portuguesa do Rio de Janeiro, que serviu de modelo ao

Hospital de Fafe, em Portugal (SOUSA, 2007). Durante os oitocentos, Sousa defende a

tese da transferência de padrões do Brasil Império a Portugal, reforçando os laços

circulares de idéias entre os dois oceanos.

2. Considerações sobre as Beneficências no Brasil e no Pará

A assistência aos desamparados em Portugal tem origem na Idade Média, com a

reconquista da nacionalidade, cujas obras de caridade concretizavam ideais teológicos,

morais e sociais da Igreja Católica. “Hospitais, albergues, gafarias e confrarias foram-se

multiplicando no Portugal medieval seguindo os favores de patronos, ordens religiosas e

devoções cultuais cristológicas, marianas e uma longa lista de santos e santas.”

(CHAVES, 2008. p. 26) Segundo Abílio Garcia (apud CHAVES, 2008. p. 26) as obras

de caridade segmentavam-se em três categorias: albergarias ou albergues, gafarias ou

lazaretos para leprosos, mercearias para pobres. Durante o Império colonial português, o

estabelecimento das Misericórdias em todo o seu território colonial tornou-se uma das

bases de sustentação da administração metropolitana.

No Brasil, os primeiros hospitais tiveram por objetivo dar assistência aos

marinheiros e viajantes. Contudo, tais instituições não contavam com auxílio financeiro

do Estado, durante o período colonial, dependendo plenamente da caridade privada.

Durante o Império, passaram a contam com benefícios como a isenção de impostos, e o

privilégio da organização de loterias. Devido a necessidade dos migrantes lusos, foram

criadas as Sociedades Portuguesas de Beneficência, a partir da segunda metade do

século XIX:

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Como instituição privada dependente do pagamento de mensalidades e

de doações espontâneas advindas dos associados, as Sociedades

Portuguesas de Beneficência diferiam das Santas Casas de

Misericórdia, cujo atendimento hospitalar foi direcionado para a

população em geral e as despesas indiretamente subvencionadas pelo

poder político do Império (CHAVES, 2008. p. 41).

A Sociedade Portuguesa de Beneficência tinha como metas, além da assistência

hospitalar, havia o intuito de observar normas de comportamentos, promovendo

atividades educacionais e sociais, destacando-se a devoção simbólica a monarquia

portuguesa. Isso se torna claro uma vez que, como prerrogativa para estabelecer-se, a

Instituição deveria obter o apadrinhamento de um monarca português, expresso por

meio de Decreto-Lei, como o Decreto de 14 de maio de 1862, assinado pelo rei D. Luiz

I:

Pelo Decreto de 14 de Maio de 1862: a Sociedade Portuguesa de

Beneficência do Rio de Janeiro, dela se declarou El- Rei seu protetor,

Alvará de 4 de Agosto de 1862, a Sociedade Portuguesa de

Beneficência do Pará, El- Rei declarou-se seu protetor, Alvará de 8 de

Janeiro de 1863, Sociedade Portuguesa Dezesseis de Setembro da

Bahia, El-Rei declarou-se seu protetor, Alvará de 27 de Maio de 1863.

(Indice Remissivo da Legislação Novíssima de Portugal. Anos de

1833 até 1868. Lisboa:Typographia Universal, 1870. p. 186. Arquivo

Ultramarino de Lisboa. Lisboa: Portugal.)

A Colônia Portuguesa no Pará fundou a Sociedade Beneficente em 8 de

outubro de 1854, que tinha por objetivo essencial reunir e socorrer seus sócios

(VIANNA, 1974. p. 23). Em 15 de março de 1857, a associação passa a ser chamada de

Sociedade Portuguesa Beneficente, cujos requisitos para associar-se exigiam fosse

“cidadão português no gozo de seus direitos, tivesse bom procedimento, residisse no

Pará ou Amazonas, e ganhasse em emprego lícito a sua subsistência.” (VIANNA, 1974.

p. 38)

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Em 15 de novembro de 1863 a Sociedade compra um prédio no Largo das

Mercês, 28 na esquina com a Rua 15 de novembro que abrigaria a sua sede. Com a

morte de Medeiros Branco, em 1867, os sócios decidiram por em prática o projeto do

hospital com a compra de um prédio localizado na Praça da República próximo ao Café

Chic e vizinho ao antigo Hotel da Paz, local onde hoje localiza-se a sede do Banco da

Amazônia (BASA). O imóvel apresentava condições higiênicas suficientes e aceitáveis

para o funcionamento da Casa de Saúde. Em 31 de outubro, dia do aniversário de Dom

Luiz I, inaugura-se a Enfermaria e a Pedra Fundamental do Hospital que seria

construído no terreno ao lado. A Casa de Saúde ficou conhecida como Asilo Português

da Infância Desvalida e tinha como objetivo “assegurar aos filhos de seus sócios

falecidos em pobreza, os meios de subsistência, educação e instrução até a puberdade, e

a proporciona-lhes uma profissão honesta”. (VIANNA, 1974. p. 58)

Nos anos seguintes, o Asilo se mostrava insuficiente para as necessidades dos

associados da Beneficente. Em 1871, em face da epidemia de febre amarela em Belém,

o Cônsul português no Pará propõe a criação da Comissão Portuguesa de Socorro aos

Indigentes Atacados de Febre Amarela. Para minimizar o problema com os doentes, a

Sociedade instala, provisoriamente, uma enfermaria de dois pavimentos localizada na

Rua Santo Antônio conhecida como Casa de Saúde da Real Sociedade Portuguesa

Beneficente que tinha a frente dos serviços o médico José da Gama Malcher.

Em 23 de maio de 1873, o presidente do hospital, à época, Antônio Antunes

Sobrinho, apresenta a proposta de compra de um dos dois lotes situados na Estrada Dois

de Dezembro (atual Avenida Generalíssimo Deodoro) que não possuíam qualquer tipo

de benfeitoria, sendo a área pouco habitada, com um imenso matagal ventilado. O

negócio tinha por objetivo a construção de um hospital que atendesse às necessidades

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dos associados, e em cujo terreno fosse passível de ampliação futura e não contasse com

nenhuma edificação a ser demolida. A Diretoria decidiu pela aquisição do terreno

compreendido entre as ruas João Balbi e Boaventura da Silva, cujas traseiras ficavam

para a Travessa Dom Romualdo de Seixas, pertencente ao Sr. Roberto Hesketh no valor

de 10.000$000 à vista e 5.000$000 a ser pago em oito meses.

Em 31 de outubro de 1874 lança-se mão da Pedra Fundamental do Hospital e

contrata-se o arquiteto Frederico José Branco, idealizador do projeto.

O artista compreendeu bem o que desejava e revelou de modo

inconcusso a sua competência traçando um projeto geral de um

grandioso edifício, devendo ser uma parte executada para servir às

exigências de então e outra quando mais tarde o desenvolvimento

interno do serviço hospitalar requeresse uma locação maior.

(VIANNA, 1974. p. 71)

Atendendo às exigências de higiene e saúde da época, a proposta compreendia

edifício amplo, com boa insolação e luminosidade, sendo bastante ventilado e arejado,

condições essenciais para evitar as possíveis insalubridades produzidas pelas águas e

pela umidade abundantes em Belém. Para a construção do prédio foram aceitos todos os

tipos de recursos, a saber: bilheteria dos teatros, bazares, donativos em dinheiro e em

materiais de construção e mão-de-obra escrava cedida pelos senhores de escravo. Em 29

de abril de 1877, inaugurou-se o Hospital Dom Luiz I destinado aos portugueses

residentes em Belém.

Em outubro de 1904, em função das comemorações dos 50 anos de existência

da Sociedade Beneficente, a entidade definiu-se pela compra de um terreno de esquina

da Estrada da Boaventura da Silva com a Avenida Generalíssimo Deodoro, pela lateral

do hospital, que serviria para a construção do hidroterápico, o qual foi inaugurado em

20 de abril de 1906. O Hidroterápico foi uma das instituições mais prestigiadas do

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complexo Beneficente Portuguesa pelos tratamentos de recuperação que prestava,

especialmente quando os tratamentos dessa natureza tinham muito crédito. Foi sempre

um serviço dirigido por médicos de bastante prestígio e nos anos 70 do século passado,

“ir ao hidroterápico” era sinônimo de cuidados de saúde que influenciavam na

conservação da beleza, seria “mal comparando” o correspondente aos institutos de

estética dos nossos dias.

Em 5 de maio de 1910, a Beneficente constrói a nova sala de operações e

investe na compra de material cirúrgico para que pudesse prestar serviços de alta

complexidade. Paralela à reforma do centro cirúrgico empreende-se a ampliação do

pavimento superior no corpo central do hospital, que se destinaria ao tratamento de

senhoras, concluída em 1911. Em 7 de julho de 1958, tem início a construção da nova

Maternidade, com fachada voltada para a Rua Boaventura da Silva, fazendo a união dos

dois blocos existentes. A execução ficou a cargo do sócio Sr. Antônio da Rocha Braga e

sua conclusão se deu em 1961.

Em que pese as reformas, atualmente os andares térreo e superior são

destinados aos quartos individuais e serviços cirúrgicos e nos porões habitáveis

encontram-se enfermarias, consultórios e serviços de apoio diagnóstico.

3. O classicismo Imperial como fonte do Classicismo à brasileira

Por três séculos teremos Portugal como a origem de toda e qualquer referência

arquitetônica brasileira até o período imperial, quando haverá uma inversão do fluxo de

influências. Apenas três décadas após sua independência, veremos a produção de uma

arquitetura inovadora no Brasil, que chamará a atenção de sua ex-metrópole ao ponto de

tomar para si tal estilo, que virá a ser denominado de Classicismo à Brasileira por

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Alberto Sousa no livro “A variante portuguesa do classicismo imperial brasileiro”.

Assim, esta linguagem arquitetônica implantada no Brasil durante o século XIX

será chamada de Classicismo Imperial Brasileiro (SOUSA, 2007), e será o estilo

arquitetônico mais reconhecido entre as obras estudadas nesta pesquisa. Destaca-se por

seus elementos estilísticos marcantes, em que os mais característicos serão:

primeiramente o uso das platibandas, sendo estas cheias ou vazadas, apesar de que, no

Classicismo Imperial Brasileiro

será mais comum o uso de

platibandas cheias, enquanto que o

Classicismo à Brasileira

apresentará mais fachadas com

platibandas vazadas e com

balaústres. Esta será a característica

que define o estilo, visto que a

presença deste traço e de vãos encimados por vergas semicirculares serão determinantes

para julgar este estilo como classicismo imperial brasileiro, por mais que em algumas

obras vejamos variações quanto a este último elemento, tais como: vãos com verga

semicircular, concentrados num pavimento, e vãos com outros formatos de verga,

colocados no outro, formando assim um grupo a parte que possuem características

singulares dentro do estilo.

Irá se destacar nas obras públicas, as quais serão de grande relevância para este

estudo. O primeiro exemplar do classicismo imperial brasileiro foi o prédio da

Academia Militar do Rio de Janeiro, projetado pelo engenheiro francês P. J. Pezérat na

segunda metade dos anos de 1820. Destaca-se em razão de sua fusão de tradições

Figura 3 :Hospital da Misericórdia em Fafe, exemplar da

variante portuguesa, foi construido nos padrões da

edificação do Rio de Janeiro

Fonte: SOUSA, 2007. p. 77

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arquitetônicas luso-brasileiras, formando assim uma frontaria moderna e classicista,

tendo como características principais o coroamento da elevação com uma platibanda

cheia, a marcação de um corpo central encimado por um frontão triangular e dividido

por pilastras; e o uso exclusivo, em tal corpo, de vãos com verga semicircular.

O Hospital da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro será outro exemplar

deste estilo, tendo em vista que apresenta muitas das características que marcam o

Classicismo Imperial Brasileiro. Por outro lado, representa um modelo a ser seguido

pelos hospitais da Beneficente Portuguesa no Brasil, como o Hospital Dom Luiz I da

Beneficente Portuguesa de Belém.

O mais antigo componente do acervo do Classicismo à brasileira será o Hospital

da Misericórdia de Fafe, que fora inaugurado bastante incompleto em 1863, e tinha por

intenção ser uma réplica do Hospital

da Beneficência Portuguesa do Rio de

Janeiro, que foi iniciado em 1853 e

concluído em 1858 (Fig. 3). Ou seja, o

início do classicismo à brasileira na

arquitetura pública em Portugal, ainda

será bastante dependente do seu

modelo de origem - o classicismo

imperial brasileiro -, ao contrário dos

exemplos das estações ferroviárias que já datam de 1875, em que haverá mais liberdade

na combinação de soluções, no caso do Hospital da Beneficência ainda estão muito

presos em copiar um modelo anterior. Porém, apesar de se manterem muitas

semelhanças entre um edifício e outro como na volumetria e na elevação frontal,

Figura 4: Hospital da Beneficência Portuguesa no Rio

de Janeiro

Fonte: SOUSA, 2007. p. 77

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Figura 5: Fachada principal do Hospital D. Luiz I

Foto: Carla Albuquerque, 2009

diferenças entre ambos foram inevitáveis. As principais distinções encontram-se na

platibanda, na fenestração do primeiro andar e na faixa de separação dos pavimentos,

conforme analisa Alberto Sousa:

Quase todas as mudanças feitas neste na hora de reproduzi-lo

contribuíram para tornar a frontaria fafense menos elegante que a

carioca. A platibanda cheia roubou boa parte da força visual do

frontão arqueado. As janelas de verga reta no andar romperam a

homogeneidade da fenestração, uma das razões principais da beleza

do alçado do hospital carioca. E a decisão de separar os pavimentos

com uma estreita cimalha, uma persistência estética do estilo chão,

privou a elevação da larga faixa horizontal escura que no último

edifício foi proporcionada por um entablamento completo e mostrou-

se tão benéfica à composição. (SOUSA, 2007. p. 76-77).

Parte-se, então, para a análise estilística do Hospital D Luiz I, em Belém.

4. Caracterização arquitetônica e estilística do Hospital D. Luiz I

O Imóvel tem sua fachada

principal voltada a Avenida

Generalíssimo Deodoro, 868, no bairro

de Nazaré, cujo entorno é

predominantemente residencial e de

alto valor imobiliário especulativo.

Arborização abundante pode ser

conferida no seu entorno,

especialmente na Avenida Generalíssimo. O estabelecimento de saúde ocupa a

totalidade do quarteirão em que se situa, com recuo frontal e lateral, em relação a

fachada anterior. A volumetria original não está preservada integramente, devido a

diversas de reformas e ampliações necessárias ao melhor atendimento hospitalar. Deste

modo, a forma arquitetônica predominante anteriormente, recortada com jardins

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internos, encontra-se desfigurada pelas sucessivas ocupações dos afastamentos laterais e

de fundos, os quais tem prejudicado significativamente a insolação, ventilação e aeração

dos espaços destinados ao tratamento médico, que remetiam a ideia de modelo

higienista.

A época de construção do pavilhão principal data de 1877, contudo a

incorporação do pavimento superior dos corpos laterais e o bloco da Maternidade

consegue manter harmonia nas formas e no padrão de composição dos vãos. A fachada

principal possui características clássicas, tais como simetria, vãos ornados com frontões

triangulares e circulares, o frontão curvo (característica que remete à edificação do

Hospital da Beneficente Portuguesa do Rio de Janeiro) que arremata o corpo central e

platibanda que percorre toda a extensão do prédio. Os vãos alternam vergas retas e

curvas, estas em arco pleno e ogival, demonstrando a assimilação de influências

ecléticas. As pilastras apresentam-se na extensão da fachada como elemento de

marcação e identificação do rigor das proporções. A cobertura original em telha de

barro composta por três águas em cada pavilhão foi totalmente substituída pela telha do

tipo fibrocimento. A edificação apresenta conservação boa, porém percebe-se descuido

com questões referentes ao lixo e à poluição do ambiente.

Através da iconografia disponível, pode-se depreender que a edificação

original possuía volumetria predominantemente horizontal, em três corpos, sendo o

corpo central em dois pavimentos, mais destacado que os demais, lembrando o Palácio

Imperial de Petrópolis (construído entre 1845-1864), disposição típica do estilo imperial

brasileiro. Acredita-se que a planta original fosse em T, e, a partir de 1910, quando é

ampliado o segundo pavimento do corpo central, adquirindo o formato em H, como se

pode ver na fotografia à página 125 do livro de Artur Vianna. Com a construção da

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Maternidade em 1958, unem-se os dois blocos, de frente e de fundos, perdendo a

edificação seu aspecto pavilhonar.

Na fachada do Hospital D. Luiz I nota-se semelhança com o Hospital da

Beneficente do Rio de Janeiro, especialmente no corpo central, destacando-se o frontão

curvilíneo, a presença de três janelas centrais situadas em volume que se projeta

levemente para a frente, vãos em arco pleno no 1º pavimento, escadaria central, cantos

arrematados por pilastras de capitel coríntio, com cornija saliente entre o 1º e 2º

pavimentos. Em Belém, as portas janelas do pavimento superior são arrematadas por

guarda-corpo entalado, e não por varandas contínuas como o exemplar carioca, bem

como as marcações horizontais e verticais do 1º pavimento no Rio de Janeiro foram

executadas em pedra, o que não ocorre em Belém. Com relação à volumetria, o

exemplar do Rio de Janeiro apresenta forma de quadrilátero, enquanto o D. Luiz I

possui forma horizontalidade, pela presença de dois corpos laterais simétricos.

REFERÊNCIAS

CHAVES, Larissa Patron. “Honremos a Pátria Senhores!”As sociedades Portuguesas de

Beneficência: caridade, poder e formação de elites na Província de São Pedro do Rio

grande. (1854-1910). Porto Alegre, 2008. 338 p. Tese (Doutorado em

História).Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-graduação em

História. 2008.

COLÓQUIO Entre Mares o Brasil dos Portugueses. Disponível em :<

http://seminarioentremares.blogspot.com/2009/09/v-seminario-internacional-

sobre.html>. Acesso em: 12 fev.2011.

SOUSA, Alberto. A variante portuguesa do classicismo imperial brasileiro. João

Pessoa: Editora Universitária – UFPB, 2007. p. 76.

VIANNA, Arthur. A História da Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente. Belém,

[s.n], 1974.