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O Homem Transicional Para além do neurótico & borderline

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O HomemTransicional

Para além do neurótico & borderline

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z ZagodoniEditora

O HomemTransicional

Para além do neurótico & borderline

NahmaN armoNy

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AgradecimentosCopyright © 2013 by Nahman Armony

Todos os direitos desta edição reservados à Zagodoni Editora Ltda. Nenhu ma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida, seja qual for o meio,

sem a permissão prévia da Editora.

Diagramação:Givaldo Fernandes

Capa:Uli M. Fernandes

Revisão:Michelle R. Freitas

Editor:Adriano Zago

CIP-Brasil. Catalogação-na-FonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

A763h Armony, Nahman. O homem transicional : para além do neurótico & borderline / Nahman Armony. - São Paulo : Zagodoni, 2013. 240 p. : 23 cm

Inclui bibliografia

ISBN 978-85-64250-50-5

1. Psicanálise 2. Psicologia. 3. Borderline. I. Título.

12-9419. CDD: 150.195 CDU: 159.964.2

[2013]Zagodoni Editora Ltda.Rua Brigadeiro Jordão, 84804210-000 – São Paulo – SPTel.: (11) 2334-6327contato@zagodonieditora.com.brwww.zagodonieditora.com.br

Para Odette, amada querida, grande incentivadora, in-terlocutora arguta, companheira de todas as horas que com sua paixão abriu-me um novo mundo ao qual este livro pertence.

Agradeço o apoio que recebi ao longo destes anos de inúmeras pessoas. Não poderei nomeá-las todas, mas as que estarão cita-das as evocam: José Outeiral, Davy Bogomoletz, Ana Lila Lejar-

raga, Maria Izabel de Paula Ribeiro, Adriana Armony, Júlio de Mello Fi-lho, Zezé Borges, Isabela Novello, Sonia Caldas Serra, Carmen da Poian, Henrique Honigsztejn e todos os outros não citados. Também a Carlos Plastino que gentilmente acedeu escrever a orelha do livro.

Em especial quero agradecer a André Martins que com sua generosi-dade, compreensão e ação influiu significativamente na concretização desta obra.

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Sumário

Prefácio. André Martins ..........................................................................................9Apresentação ..........................................................................................................15

Parte I. PsicaNálise, sociedade e subjetividade

Novos temPos

Capítulo 1 – O inefável ..........................................................................................19Capítulo 2 – Van Gogh: cem anos de presença ...................................................26Capítulo 3 – Transformações das relações amorosas na passagem do milênio .........................................................................................36Capítulo 4 – De Édipo a Narciso ..........................................................................41

borderliNe e subjetividade

Capítulo 5 – Borderline e espaço potencial winnicottiano ................................51Capítulo 6 – Borderline, identificação e subjetividade pós-moderna .............67Capítulo 7 – A agressividade e o outro na tendência antissocial e no borderline .....................................................................................75

da moderNidade à hiPermoderNidade

Capítulo 8 – Bem-estar e mal-estar do homem moderno e pós-moderno ......81

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Prefácio Capítulo 9 – Confrontando Winnicott com os azares da hipermodernidade .........................................................................95Capítulo 10 – A integração da pessoa: saúde na hipermodernidade ...........117

PsicaNálise e ética

Capítulo 11 – Poderiam Freud e Winnicott nos ajudar a compreender as transformações morais e éticas de nossos tempos? ..........132Capítulo 12 – Um olhar ético atual, produtor de antigos e contemporâneos processos de subjetivação ............................141Capítulo 13 – Do universal/particular ao local/global: o superego sob nova óptica ............................................................................154Capítulo 14 – Ética e subjetividade nos borderlines próximos da normalidade ................................................................................169

Parte II. atualizaNdo a clíNica

Capítulo 15 – Percursos da clínica .....................................................................177Capítulo 16 – Quem tem medo do salto mortal? Sobre amparo e desamparo ....................................................................................188Capítulo 17 – Poder e transgressão na relação analítica .................................195Capítulo 18 – Disponibilidade para a identificação como expressão integradora de interpretação e ato ............................................200 Coautoria de Rejane S. ArmonyCapítulo 19 – A interação holística analista-analisando ..................................208Capítulo 20 – O ser winnicottiano e a clínica da pós-modernidade ..............214Capítulo 21 – O trauma nosso de cada dia ........................................................219

uma síNtese Provisória

Capítulo 22 – Do borderline brando ao homem transicional .........................226

Nahman Armony enfatiza neste seu terceiro livro, O Homem Transicio-nal. Para além do neurótico & borderline, de maneira ainda mais explí-cita que nos anteriores, as relações existentes entre uma época e as

subjetividades que nela se constroem. E mais, o quanto cada teoria reflete sua própria época, e as subjetividades dessa época. Não há propriamente um de-terminismo nisso, mas apenas uma marcante e evidente influência da época e da cultura sobre as subjetividades, o que por sua vez influencia o modo como uma teoria se constrói, isto é, aquilo que cada autor consegue ver e sobre o que pode teorizar.

Os tempos mudam. Absurdo seria se as subjetividades não mudassem com eles. Mais talvez do que outros saberes, não há como a Psicanálise – a prática clínica e a teoria psicanalítica – ficar indiferente a essa mudança do tempo. Afinal, a subjetividade de uma época, suas potencialidades e os pro-blemas que ela suscita, aparece de forma notável no observatório privilegiado que é o consultório. A clínica torna-se, assim, uma janela pela qual olhamos a cultura e a sociedade, que se nos revelam em grande parte tal como os livros de sociologia bem as descrevem.

Esta percepção fina da realidade presente se nos aproxima da sociologia contemporânea, por vezes nos distancia dos livros fundadores da Psicanálise, justamente naqueles pontos em que a teoria psicanalítica se revela tributária da subjetividade da época de sua criação, por mais que a psicanálise tenha, frequentemente, o mau hábito de tomar a subjetividade presente como uma natureza humana não datada, como um puro universal. O que coloca o psica-nalista sob o risco de criar dogmas onde o que há são teorizações baseadas em descrições que eram verdadeiras na época em que foram escritas, mas que tal-

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vez não sejam mais tanto assim nos dias de hoje. Seguindo este fio condutor, podemos nos perguntar que influência o homem do tempo de Freud exerceu sobre as descobertas e teorizações do pai da psicanálise. Armony nos mostra o quanto essa influência foi, aqui e ali, enorme. E nos mostra sobretudo o quan-to a psicanálise tem a se repensar – a pensar psicanaliticamente o homem de hoje, nos tempos de hoje, esses tempos pós e hipermodernos, tão bem descri-tos pela sociologia contemporânea, e tão distantes do homem que servira de modelo para Freud ou para Lacan. O paciente de nossa clínica hoje é outro, os tempos mudaram. Nahman Armony realiza um belo e bem-sucedido exer-cício de repensar a teoria e a clínica psicanalíticas, atualizando-as no mundo que é o nosso e o de nossos pacientes.

Freud escreveu no início do século XX, e se considerava um representante do século XIX. Escreveu antes dos anos 1960 e de sua revolução nos costumes, sua explosão descontrolada de arte, música, prazer, amor, liberdade sexual, valorização de experiências sensórias, que marcaram não só aquela época, como mudaram os rumos da história. Bem anterior aos anos 60, o homem da clínica de Freud era muito mais reprimido, neurótico, moral e moralista. Lacan escreveu em plenos anos 60, é verdade, porém se contrapondo àqueles movimentos que viriam a revolucionar a subjetividade humana. “O que vocês desejam como revolucionários é um mestre”, disse aos estudantes em pleno movimento estudantil desencadeado em maio de 1968 em seu pais1. O homem da clínica de Lacan teria, segundo sua teoria, a perversão como alternativa transgressora à neurose do simbólico, sua versão para a moral civilizada freu-diana.

Nahman Armony inicia seus textos simplesmente com uma evidência: o mundo, é o que relatam os sociólogos, mudou, em relação ao mundo do século XIX. Não vivemos mais numa cultura do sacrifício individual em nome do progresso social e científico. A moral e os bons costumes atingiram o apo-geu de sua loucura no século XX: guerras, torturas, exploração, pesquisas com seres humanos não só no nazismo mas também por respeitáveis laboratórios farmacêuticos estadunidenses e europeus, catástrofes atômicas e ecológicas, esgotamento dos recursos naturais do planeta. Estes fatos, acompanhados da física quântica e de uma nova epistemologia, tiveram como consequência a crise da razão, da ciência e da verdade; fazendo ruir os sonhos de uma ideolo-gia científica triunfante em seu projeto de domínio civilizatório sobre a natu-reza, preparando o terreno para a revolução sexual feminista, para a mudança dos costumes, do casamento, da família, e novas formas de parentalidade. Muita, mas muita coisa mudou. Sob olhos conservadores ou nostálgicos, a moral ruiu, não há mais valores, não há mais princípios morais, vivemos tem-pos de decadência e niilismo. Sob olhares finos como os de Armony, decerto

1 “Ce à quoi vous aspirez comme révolutionnaires c’est un maître”, diz Lacan aos estudantes da Uni-versité de Paris VIII - Vincennes, em junho de 1969, na ocasião de sua palestra intitulada “Analyticon”, posteriormente publicada como anexo ao Seminário XVII, L’envers de la psychanalyse (1969-1970).

estamos em plena crise da queda do edifício da moral, essa construção erigida ao preço de tanta repressão, sofrimento, submissão a nomes do pai, mas, ao mesmo tempo, enfim podemos viver num mundo que exige menos defesas psíquicas; mais aberto, mais livre, mais em contato com as fontes primárias vitais em nós mesmos.

Enquanto, como cita Nahman, Freud considerava que o artista não aceita certas exigências da realidade, isto é, da realidade neurótica “civilizada”, o homem atual tampouco aceita abrir mão de suas emoções, de sua criatividade e de seu prazer. Isso não é ruim, e não é mais uma prerrogativa somente dos artistas em sentido estrito. Não está mais à margem, e não precisa mais se restringir à transgressão. Pode, ao contrário, permear a cultura e a sociedade, a vida coletiva, a realidade partilhada. Hoje, todos nós – diferentemente do tempo de Freud –, artistas de nossa própria vida que podemos ser, podemos buscar partilhar nossa criatividade e levarmos uma vida civil viável e bem-sucedida enriquecendo a cultura, e o que nos é comum, com nossas contri-buições.

Armony parece nos dizer que não há hoje por que lamentarmos o declínio da razão, da moral, das certezas. Ao contrário, que contra os ditames morais é possível agora de fato uma ética da existência – e uma ética da psicanálise, ao acolher as emoções de nossos pacientes na direção de uma despatologização da vida, e de uma desideologização dos modos de vida. Pois a experiência afetiva individual singular pode ser valorizada, sem que a coletividade tenha a temer por isso.

Ao mesmo tempo em que nos chama a atenção para a influência do tem-po na teoria, Armony nos mostra paradoxalmente que tal fato não significa um determinismo. Afinal, é somente com Winnicott, contemporâneo de Lacan – assim como Spinoza foi contemporâneo de Descartes, Epicuro de Platão, e Nietzsche do cientificismo, e estiveram muito à frente de seu tempo – que a psicanálise se abre sem alarde às emoções e ao viver com criatividade e com sensibilidade, não mais como algo transgressor ou disruptivo, como uma recusa da realidade partilhada, como algo perigoso, próximo da psicose, ou como sublimação de pulsões sexuais ou destrutivas, mas, ao contrário, como algo fundamental à saúde psíquica de todos nós. É de Winnicott que Armony se fará acompanhar em suas brilhantes análises do mundo contemporâneo, traçando em meio à Sociologia uma Psicanálise atual, arejada, que positiva a criatividade e as emoções, o que até então, inclusive em Psicanálise, era estig-matizado e delegado a um plano moral inferior.

Armony não se ocupa propriamente em criticar Freud ou a Psicanálise em suas teses mais ortodoxas, mas apenas em mostrar onde, em que pontos e aspectos precisos, a psicanálise refletiu a subjetividade da época de Freud; em que pontos essa subjetividade mudou e, por conseguinte, de que maneira a Psicanálise deve mudar seus conceitos para acompanhar as mudanças na subjetividade, a fim de se tornar potente para pensar o mundo e o homem contemporâneos. E o quanto ela encontra em um dos maiores nomes de sua

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história, em Winnicott, apoio para isso. É nesta mudança do objeto da clínica, e do próprio modo de olhar – isto é, da própria concepção epistemológica do que seja conhecer – que Winnicott se impõe, se torna incontornável, útil, per-tinente. Winnicott, e com ele Armony, atualiza e renova a Psicanálise, modi-ficando seus paradigmas, levando-a a ser capaz de acompanhar as mudanças ocorridas na sociedade e no mundo ao longo do século XX e neste início de século XXI.

Armony começa, portanto, com a evidência de que o mundo mudou, e a subjetividade, como não poderia deixar de ser, também. Mas essa constatação torna-se uma posição – involuntariamente política – e uma proposta. Posição, pois há teóricos – o próprio Bauman talvez, para citar um nome célebre – que optam por um discurso saudosista, de lamento, de ênfase na superficialidade dos tempos atuais. Enquanto que Armony opta por ver o que há de positivo no novo paradigma, nos novos costumes e na nova subjetividade. E não o faz por otimismo propriamente, muito menos por ingenuidade, mas por fineza de análise: sabe discernir na contemporaneidade diversos aspectos e caracte-rísticas comuns. Claro, vivemos também um momento de individualismo, de culto às aparências, de superficialidade, de padrões preestabelecidos. Armony está muito atento às armadilhas da pós-modernidade. E é neste sentido que, a partir do diagnóstico de pacientes, cria as categorias ou tipos do borderline brando e pesado, refletindo um mundo pós-neurótico e não psicótico, abran-gendo um leque de singularidades que vai de uma maior saúde a casos de maior dificuldade de lidar com os próprios afetos. Mantendo acesa a luz de seu livro anterior que introduz a categoria de borderline brando (“normal”), ou a do “homem transicional”, acrescentando que todos temos aspectos neu-roides e aspectos psicoides, Armony retira a normalidade da neurose civiliza-da, o que nos permite viver, cada qual a seu modo e a seu grau, a realidade das emoções primitivas e secundárias. E, por isso, essa posição assumida é intrin-secamente política: porque toma o partido de uma política da vida – da liber-dade existencial, da libertação das amarras da neurose que parecia convencer pelo medo do surto psicótico e do descontrole emocional, em nome do pro-cesso civilizatório ou da suposta inevitabilidade estrutural do simbólico. Essa política é involuntária, pois nada de mais distante do pensamento de Armony que o proselitismo. O partido aqui tomado o é de forma imanente, intrínseca; o é somente para nossos olhos de leitor. Nada mais intrinsecamente político do que ter a coragem de constatar o que é evidente: que nós mudamos, que os tempos mudaram, e que a psicanálise pode e deve mudar também.

Essa constatação se constitui também paradoxalmente em uma proposta. Afinal, assumir a posição de enxergar essa evidência implica também dizer que se faz uma aposta nessa nova forma de ver, e de ser, nessa nova nor-malidade libertadora. Uma aposta ou um convite, para sermos o que sempre fomos, sem as defesas neuróticas que tanto nos autor-reprimiam em nome dos prêmios de consolação civilizatórios do bravo hobbesianismo freudiano. A constatação é, portanto, o alerta: não precisamos (ou não precisamos mais) ser

neuróticos. E nem por isso precisamos (mais) nos sentir excluídos, ou surtar-mos, ou cultivarmos uma versão grave fronteiriça. Podemos nos abrir à vida sem as amarras da moral. Isso pode ser muito bom. E muito ético. Portanto, esta constatação libertária é também indiretamente uma proposta: permita-mo-nos ser criativos, ousemos a liberdade de pensar e de sentir. Sem nenhum manifesto ou defesa de posição. São esses os ares que a deliciosa leitura desse livro atual e pertinente nos faz respirar: os ares renovados e motivadores do tempo presente.

Uma nova clínica, novas abordagens, uma nova concepção do que seja o tratamento, suas metas, e do que seja a saúde psíquica, assim como uma concepção libertadora da contemporaneidade, do homem e de seu psiquismo – são as propostas que permeiam os textos de Armony reunidos neste livro, ora explícita ora implicitamente. Se escrevesse nos países intelectualmente centrais no quadro político mundial, Nahman Armony seria certamente re-conhecido como o grande autor que é. É um privilégio podermos ser seus contemporâneos, ler seus escritos em nossa língua e usufruir um pouco de sua sabedoria.

André Martins Filósofo e psicanalista

Professor associado da UFRJ Membro do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro

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Os seres humanos vivem em um ambiente societário carregado de va-lores, preconceitos, superstições, princípios, regras de conduta, etc., tendo deles um conhecimento implícito modelador de seu compor-

tamento, sem ter, porém, o compromisso de colocá-los em palavras, embora possam fazê-lo e o façam em certos momentos. Por sua formação, o sociólogo e o antropólogo fazem emergir este conhecimento implícito tornando-o explí-cito, permitindo uma reflexão sobre os valores que orientam nosso comporta-mento do qual muitas vezes não estamos cientes, permitindo um maior dis-cernimento nas escolhas e na movimentação social. O psicanalista, por força de sua profissão, penetra na subjetividade de cada analisando; o conjunto de subjetividades conhecidas pelo analista lhe permite ter uma ideia de vários aspectos da subjetividade corrente, da subjetividade que, para além de cada individualidade, permeia a própria atmosfera da sociedade. E é então inevi-tável seu encontro tanto com o homem comum quanto com a Antropologia e a Sociologia. Estas tanto podem ser informadas pelos psicanalistas quanto podem informá-lo do que se passa na subjetividade social. É esse encontro dos artigos escritos ao longo da primeira década do século XXI, com algumas prévias do século anterior, que apresento neste livro. Espero que seja um en-contro fecundo.

Distribuí os diversos capítulos que compõem o livro em duas partes: na primeira seção trago reflexões teóricas sobre psicanálise e sociedade hiper-moderna. Termino essa seção com considerações psicanalítico-sociais sobre ética. Na segunda parte apresento considerações clínico-teóricas. Como úl-timo capítulo, apresento o que pretendo ser uma síntese provisória do meu pensamento (certamente contaminado por minha orientação filosófica e psica-

Apresentação

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Parte i PsicaNálise, sociedade

e subjetividade

nalítica e por minhas questões pessoais); repito, uma síntese parcial provisória sobre psicanálise e sociedade neste momento da história do pensamento e de seus valores implícitos. Fiz questão de manter os textos originais para que a evolução de meu pensamento pudesse ser acompanhada com todas as suas idas e vindas, com seu desenho labiríntico, com suas repetições, suas contra-dições, paradoxos e superações.