O Homem Como Um Problema

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    Lucas Ferreira da Silva - Filosofia

    O Homem como um problema: Scrates e os sofistas

    O que sofista? E, apesar de mais de duzentos anos de pesquisas especializados,no h sequer um nico ponto sobre o qual at hoje se tenha chegado a um acordo, no sepode esperar aqui nenhuma definio definitiva. A palavra est ligada palavra gregasophia, sabedoria, originalmente era como chamavam, de modo genrico, os homens deconhecimento, que disponham de experincia e conhecimento especiais sobre determinadoassunto.

    A sofstica tardia significa algo mais especfico. De acordo com Aristteles,designamos resumidamente os Sbios apresentados como fsicos ou filsofos danatureza. Seu pensamento volta-se para o cosmo como um todo, incluindo o homem; trata-

    se de uma de uma sabedoria que frenquentemente comunicada em tom de revelao.

    Diante disso, a sofistica apresenta um tipo de pensamento novo e totalmentediferente, um saber, por assim dizer, urbano, que quer dizer, dirigido esfera pblicaintelectual de uma cidade, a um pblico dedicado discusso e ao esclarecimento de umapostura ctica bsica, portanto, que duvida e pondera. Por esta razo que se tenhagenericamente caracterizado a tendncia desse pensamento como uma guinada em direoao homem.

    De acordo com o pensamento de Aristteles, os sofistas eram professores. Comouma espcie de professores itinerantes dos mais diversos assuntos, eles se apresentavam nas

    cidades, reuniam em torno de si a juventude de alto nvel e davam as aulas em troca depagamento que lhe servia para sobreviver. Isso era algo absolutamente novo a profissode professor tem a seu ponto de partida histrico. Essas aulas abrangiam os mais diferentesassuntos da rea de domnio humano. Porm, seu objetivo real, segundo as palavras quePlato coloca na boca dos sofistas, : alcanar a inteligncia em seu prprio negcio, comoo de um jovem gerenciar seus prprios negcios domsticos da melhor maneira e depoisigualmente os assuntos do Estado, ou seja, como ser o mais habilidoso, tanto para conduzircomo para discursar.

    A retrica como tcnica de discurso e, portanto, de influncia poltica tem aquigrande importncia, ou seja, correspondendo s novas exigncias das cidades-estados.

    Porm, como um orador talentoso pode apresentar um objeto sob luzes muito distintas e atmesmo, com sua habilidade, talvez torna rapidamente questionvel o modo como algo secomporta em princpio em relao ao certo e ao errado, ao bem e ao mal, ossofistas entram rapidamente na penumbra.

    O interessante que, ainda hoje a palavra tem um significado de ardiloso oumanipulador de palavras; o que se quer dizer exatamente com isso: que um homem, comtoda a sua habilidade oral e intelectual pode fazer parecer falso aquilo que verdadeiro everdadeiro aquilo que falso.

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    Plato combateu decisivamente e fez uma avaliao da sofstica como a principaladversria de sua posio filosfica. Sua posio no impediu que tanto ele quanto Scratestivessem sido caracterizados como sofistas. O interessante que aps os filsofos Francis

    Bacon, Hegel, mais de dois mil anos depois, corrigiu pela primeira vez esse juzo negativoe reconheceu em sentido profundo a sofstica como criao e disseminao de uma culturaespecificamente nova naquela poca.

    Um novo tipo de conhecimento

    A sofstica um novo tipo de conhecimento que relativiza, questiona, indaga muitodos valores e convico transmitidos pela tradio. Para compreend-la, precisomencionar o desenvolvimento de Atenas.

    Por exemplo: Aps as Guerras Mdicas (500 479 a. C) Atenas torna-se umapotncia econmica, poltica e cultural na regio da Magna Grcia. Aps a destruiocompleta de Mileto pelo povo Persa em (494 a. C) o centro econmico desloca-seprincipalmente da Jnia para Atenas e para cidades como Corinto e gina.

    Isso observvel nas moedas em imagem de coruja ateniense como unidademonetria reconhecidas por todos na zona comercial grega. Com ocupava uma liderana naliga martima Delos-tica que foi fundada em 477 a.C. e em seguida, pela transformaodesta em um Imprio Atio Atenas consolida sua hegemonia, dispondo de grade riqueza,porm, precisando empregar todas as foras para cumprir seu papel.

    Com a implantao da democracia pela reforma de Clstenes de 509 a 507 a.C.representa uma aliterao radical, pois desliga os indivduos do vnculo com o ncleofamiliar e a linhagem assenta a ordem poltica da polis sobre um Sistema de igualdadeconcebido racionalmente. Tal sistema tem em comum com a antiga ordem do ncleofamiliar apenas o nome. E com a entrada da terceira classe no arcontado, a mais altainstituio do Estado (458 a.C), a democracia em Atenas se consolida na medida em que,pela primeira vez na Histria, todos aqueles que gozam do direito de serem cidados podemparticipar da conduo dos negcios do Estado.

    Como os sofistas se apresentavam individualmente como professores de diversascincias, no se pode falar de uma escola no sentido de uma unidade doutrinria. A par dos

    mencionados citarei alguns sofistas: Protgoras foi o primeiro a afirmar que para cadacoisa existem dois pontos de vistas que se contrapem. Tendo isto em vista, dirigia,formulava perguntas aos seus ouvintes, um procedimento inventado por ele e consideradoo mais importante sofista.

    Protgoras foi o primeiro a nomear-se sofista e tambm a receber honorrios porsuas aulas. A frase O homem a medida de todas as coisas capta a inteno intelectual dapoca. Por inteiro diz o seguinte: O homem a medida de todas as coisas, daquelas queso, por que / como so; daquelas que no so, porque / como no so.

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    Pitgoras conhecido e famoso por essa mxima que tambm conhecida como:Sentena do homem medida. O interessante saber de que modo ele entendia, pois, eraalgo tremendamente polmico, devido a duas possibilidades distintas de traduo.

    Expressa-se um relativismo filosfico fundamental, tanto em relao ao mbito doconhecimento humano como em relao ao da ao. Ou seja, a verdade do conhecimentoou a validade das normas da ao so referidas sempre quele que defende uma posio outem de tomar uma deciso. E o mesmo objeto, o mesmo problema, pode ser avaliado pordiferentes indivduos de maneiras respectivamente muitos diferentes. No h uma instncia,algo como um Deus onisciente, que pudesse decidir como ltimo recurso se isso quetomamos por verdadeiro ou correto realmente verdadeiro ou correto. O homem amedida de todas as coisas.

    O ponto de partida desse relativismo provavelmente a experincia de que nospases e cidades do mundo grego e do mundo brbaro vigoravam os mais distintos

    costumes e hbitos. Aqueles que vivem de acordo com esses procedimentos julgam-seabsolutamente vlidos. Contradizem-se, porm, completamente se os comparamos como sefssemos viajantes ou estranhos. Essa contradio, sentida de modo muito mais concretonaquela poca do que hoje, deve ter sido determinante para o empenho intelectual dasofstica. A diferena dos costumes, naturalmente, era conhecida havia bastante tempo.Protgoras parece ter sido o primeiro a capt-la de modo ntido e a generaliz-la: Paracada coisa h duas concepes contraditrias. Sobre os deuses no sou capaz de saber nada,nem se so, nem se no so, nem como so, em imagem. H entre eles, muitas coisas queme impedem a indiscernibilidade e a brevidade da vida.