O GRUPO ESCOLAR LAURO SODRÉ EM FACE DA POLÍTICA...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR INSTITUTO DE CINCIAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
RENATO PINHEIRO DA COSTA
O GRUPO ESCOLAR LAURO SODR EM FACE DA POLTICA DE EXPANSO DO SISTEMA ESCOLAR NO ESTADO DO PAR: INSTITUCIONALIZAO, ORGANIZAO CURRICULAR E TRABALHO DOCENTE (1968-2008).
Belm/Par 2011
RENATO PINHEIRO DA COSTA
O GRUPO ESCOLAR LAURO SODR EM FACE DA POLTICA DE EXPANSO DO SISTEMA ESCOLAR NO ESTADO DO PAR: INSTITUCIONALIZAO, ORGANIZAO CURRICULAR E TRABALHO DOCENTE (1968-2008).
Dissertao apresentada na Linha de Pesquisa Currculo e Formao de Professores do Programa de Ps-Graduao em Educao do Instituto de Cincias em Educao da Universidade Federal do Par como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Educao, produzida sob a orientao do Prof. Dr. Paulo Srgio de Almeida Corra.
Belm/Par 2011
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)
Biblioteca Prof Elcy Rodrigues Lacerda/ Instituto de Cincias da Educao /UFPA, Belm-PA
Costa, Renato Pinheiro da. O Grupo Escolar Lauro Sodr em face da poltica de expanso do sistema escolar no Estado do Par: institucionalizao, organizao curricular e trabalho docente (1968-2008); orientador, Prof. Dr. Paulo Srgio de Almeida Corra. 2011. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal do Par, Instituto de Cincias da Educao, Programa de Ps-Graduao em Educao, Belm, 2011. 1. Grupo Escolar Lauro Sodr (Moju PA) Currculos. 2. Ensino primrio Par. 3. Professores Formao Moju (PA). 4. Educao Histria. 5. Educao Aspectos sociais Moju (PA). I. Ttulo.
CDD - 21. ed.: 370.111098115
AGRADECIMENTOS
Agradeo principalmente a Deus, por me conceder a graa de avanar nos estudos, no
profissionalismo, na famlia, nas amizades, por possibilitar que muitas coisas boas acontecessem de
forma providencial e no momento oportuno em minha vida.
Agradeo Universidade Federal do Par, que em seu processo de expanso agregou em
sua estrutura o mestrado na rea de educao, possibilitando que muitos estudantes permaneam na
Amaznia sendo inicializados no contexto da pesquisa.
Agradeo ao Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Par,
por estar se fixando como estrutura formadora de pesquisadores e docentes na regio.
Agradeo ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPQ, por
atravs do programa de bolsa de incentivo pesquisa me possibilitou estar mais disponvel para me
empenhar com afinco ao propsito da pesquisa.
Agradeo tambm a todos os professores do Programa de Ps-Graduao em Educao, por
contriburem com o processo de minha formao durante o perodo do mestrado acadmico.
Especialmente agradeo ao meu orientador Professor Dr. Paulo Srgio de Almeida Corra,
por ser presente nos momentos de dvidas da pesquisa, contribuindo diretamente com a produo
deste trabalho e aconselhando nos momentos de dificuldades acadmicas.
Dedico tambm, meu agradecimento aos amigos da turma de mestrado 2009, vocs so
muito importantes para mim. Por cada um de vocs, tenho especial apreo e admirao pela dedicao
e esforo na busca do conhecimento.
Agradeo aos colaboradores deste trabalho, em especial aos professores que passaram e
ainda esto atuando na Escola Lauro Sodr, por terem disponibilizado valiosas informaes para a
construo desta dissertao.
Por fim, agradeo a todos que contriburam com esta etapa de minha formao: esposa,
irmo, me, cunhados e amigos, que sempre auxiliaram de um jeito especial para que eu tivesse
espao e tempo para me dedicar ao labor dos estudos e pesquisa.
A todos, meu sincero muito obrigado, me esforcei muito para que este trabalho acontecesse,
mas sem a ajuda de vocs ele no teria sido possvel, por isso, tenho um dbito eterno com todos e
espero que esta possa compensar em parte a ajuda que me deram.
Obrigado!
RESUMO
Na presente investigao objetivei compreender a importncia das instituies educativas materializadas nos Grupos Escolares criados poca do Brasil Republicano e suas incidncias na unidade federativa do Par, analisando a influncia de sua implantao para a organizao da sociedade e a formao do cidado a partir da fundao do Grupo Escolar Lauro Sodr entre o perodo histrico de 1968 a 2008. Adotou-se como mtodo de pesquisa a anlise de documentos, tendo como referencial terico a pesquisa fundamentada em fontes documentais, iconogrficas e bibliogrficas, traando a linha histrica da institucionalizao do ensino primrio desenvolvido nos Grupos Escolares com sua disseminao e implantao nos municpios, interagindo e modificando as estruturas social, econmica e cultural das cidades, o que levou ao trabalho de reconstruo dos aspectos que envolveram a formao e o trabalho dos docentes pertencentes a tal contexto, a estrutura do currculo e metodologias utilizadas no processo de consolidao da formao institucional primria. Norteado pelas questes problema: Qual a importncia das instituies escolares na organizao da sociedade e na formao escolar do cidado brasileiro?; Como se efetivou a insero dos Grupos Escolares no sistema de ensino do Par e que implicaes trouxeram estrutura social dessa unidade federada segundo os Discursos Governamentais?; Qual a importncia geopoltica e educacional do Grupo Escolar Lauro Sodr institudo no Municpio de Moju?; Quais eram as prescries para o exerccio do trabalho docente e como se efetivaram as prticas curriculares desses sujeitos nessa instituio? Pois, os Grupos Escolares so identificados primeiro como projeto republicano utilizado para fixar entre a populao brasileira os ideais de sua filosofia e ideologias e em outra fase da histria como meio de preparar a mo-de-obra para alavancar o progresso do pas, destarte essas instituies de ensino tornaram-se espaos de realizaes, conflitos e tenses de modo a desvelar as diversas situaes que estavam envolvidas em seu contexto. PALAVRAS-CHAVES: Educao; Formao de Professores; Currculo; Instituio de Ensino; Grupos Escolares; Estado
ABSTRACT
In the present investigation aimed to understand the importance of educational institutions in the materialized elementary schools created in the era of Republican Brazil and its impact on the federal unit of Par, analyzing the influence of his deployment to the organization of society and the formation of the citizen from the founding of the Group School Lauro Sodr between the historical period from 1968 to 2008. Adopted as a research method to document analysis, having as theoretical research based on documentary sources, iconographic and bibliographic, tracing the historic line of institutionalization of primary education developed in the elementary schools with its dissemination and implementation in the municipalities, interacting and modifying the social structures, economic and cultural cities, which led to the reconstruction work of the aspects surrounding the formation and work of teachers belonging to such a context, the curriculum structure and methodologies used in the process of institutional consolidation of primary education. Guided by questions problem: What is the importance of educational institutions in the organization of society and schooling of the Brazilian citizen?; How to materialize the integration of elementary schools in the education system of Para and what implications they brought the social structure of the second unit federated Governmental speeches?; How important geopolitical and educational primary school established in Lauro Sodr County Moju?; What were the requirements for the exercise of teaching and how they conducted the curriculum practices of these individuals at this institution? For the elementary schools are identified as the first republican project used to secure the Brazilian population between the ideals of their philosophy and ideology and in another phase of history as a means to prepare the manpower to leverage the country's progress, in this manner these education institutions have become spaces of achievements, conflicts and tensions in order to uncover the various situations that were involved in its context. KEYWORDS: Education, Teacher Training, Curriculum, Educational Institution, School Groups, State
LISTA DE ILUSTRAES Figura 1GRUPO ESCOLAR VIDAL E NEGREIROS ............................................................... 35
Figura 2MICROFILMAGEM DA CRIAO DO MINISTRIO DA EDUCAO E SADE PBLICA ... 36
Figura 3PLANTA BAIXA EXEMPLO DE GRUPO ESCOLAR .................................................... 38
Figura 4MICRO FILMAGEM CRIAO DO LICEU PARAENSE ................................................ 48
Figura 5Liceu Paraense ................................................................................................... 49
Figura 6Palcio Antnio Lemos ......................................................................................... 54
Figura 7INSTITUTO EDUCACIONAL PARAENSE IEP ......................................................... 59
Figura 8MICRO FILMAGEM DE FREQUENCIA DE ALUNOS NOS GRUPOS ESCOLARES ............ 62
Figura 9MAPA INDICANDO OS MUNICPIOS COM GRUPOS ESCOLARES ............................... 65
Figura 10TABELA COM NOME DOS GRUPOS ESCOALRES .................................................. 70
Figura 11GRFICO DA ARRECADAO DO ESTADO 1900-1935 ........................................... 72
Figura 12 MAPA INDICANDO OS MUNICPIOS COM GRUPOS ESCOLARES ............................ 74
Figura 13 MAPA DO MUNICPIO DE MOJU ......................................................................... 84
Figura 14 RECONSTITUIO DO GRUPO ESCOLAR DE MOJU ............................................. 86
Figura 15 PLANTA BAIXA DO GRUPO ESCOLAR DE MOJU ................................................... 87
Figura 16 MICROFILMAGEM GRUPOS ESCOLARES DO INTERIOR ........................................ 90
Figura 17 RELAO DA CONSTRUO DOS GRUPOS ESCOLRES - 1968 .............................. 92
Figura 18 PRDIO POSTO MEDICO E FRUM DE MOJU ...................................................... 93
Figura 19 FICHA DE MATRICULA DE ALUNOS 1971 - 1973 ................................................... 97
Figura 20 CERTIFICADO DE CONCLUSO DE CRUSO PRIMRIO ......................................... 98
Figura 21 DESFILES DO DIA 7 DE SETEMBRO EM MOJU ................................................... 105
Figura 22 PIRMIDE DA EDUCAO ............................................................................... 106
Figura 23 RELAO DE GESTORES GRUPO ESCOLAR LAURO SODR MOJU ..................... 111
Figura 24 GRFICO DO TEMPO DAS GESTES DO GRUPO ESCOLAR ................................ 112
Figura 25 QUADRO DE GESTORES E PROFESSORES SELECIONADOS PARA ENTREVISTA .. 116
Figura 26GRAU E LOCAL DA FORMAO DOS GESTORES ............................................... 117
Figura 27CONDIO DA FORMAO QUANTO A INSTITUIO .......................................... 117
Figura 28 GRAU E LOCAL DE FORMAO DOS EDUCADORES .......................................... 120
Figura 29 CONDIO DA FORMAO QUANTO A INSTITUIO ......................................... 120
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: Prdio da Prefeitura Municipal de Moju ............................................................... 165
ANEXO 2: Prdio da Escola Municipalizada Lauro Sodr ....................................................... 165
ANEXO 3 Pintura do retrato do Governador Lauro Sodr ....................................................... 166
ANEXO 4: Livro de Registro de Matrcula de Alunos 1........................................................... 166
ANEXO 5: Livro de Registro de Matrcula de Alunos 2........................................................... 167
ANEXO 6: Dados IDEB da Escola Lauro Sodr 2005 a 2009 .................................................. 167
ANEXO 7: Estatuto do Magistrio Pblico do Estado do Par 1986 .......................................... 168
ANEXO 8: Ficha Individual de Servidor .............................................................................. 169
ANEXO 9: Grupo Escolar Padre Sales .............................................................................. 170
ANEXO 10: Grupo Escolar Donatila Lopes ......................................................................... 170
ANEXO 11: Grupo Escolar Almirante Guilhobel ................................................................... 170
ANEXO 12: Hino cantado no ptio do Grupo Escolar Lauro Sodr ........................................... 171
ANEXO 13Portaria de contratao de servidor .................................................................... 172
ANEXO 14: Ficha Individual de Aluno ............................................................................... 173
ANEXO 15: Ficha de Matricula de Aluno 1.......................................................................... 174
ANEXO 16: Ficha de Matricula de Aluno 2.......................................................................... 174
ANEXO 17: Histrico da Escola Lauro Sodr. 1 ................................................................... 175
ANEXO 18: Histrico da Escola Lauro Sodr 2 .................................................................... 176
SUMRIO
INTRODUO......................................................................................................................................... 7
CAPITULO 1: AS INSTITUIES DE ENSINO NO CONTEXTO DA HISTORIOGRAFIA DA
EDUCAO BRASILEIRA ....................................................................................................................17
1.1. As fontes no estudo dos grupos escolares: o que deflagram as fontes sobre os Grupos
Escolares ...........................................................................................................................................18
1.2. A produo de fontes fundamentadas na histria do ensino primrio. .......................................20
1.3. Trabalho docente na contemporaneidade dos grupos escolares ................................................30
1.4. O desenvolvimento do currculo atravs do sistema educacional primrio .................................32
CAPITULO 2: REFORMAS EDUCATIVAS E SUAS IMPLICAES NA ORGANIZAO DO
SISTEMA DE ENSINO DO PAR SOB A GIDE DOS GRUPOS ESCOLARES .................................46
2. 1. As bases da institucionalizao do ensino no Par ...................................................................47
2.2. As Instituies de ensino no Par Republicano ..........................................................................55
CAPTULO 3: GNESE E CONSOLIDAO DO GRUPO ESCOLAR LAURO SODR NO SISTEMA
DE EDUCAO DO MUNICPIO DE MOJU-PA ....................................................................................80
3.1. Estudos, narrativas e abordagens da Histria do Municpio de Moju .........................................81
3.2. A institucionalizao do ensino em Moju e o Grupo Escolar Lauro Sodr integrado ao sistema
educacional........................................................................................................................................84
3.3. A histria atravs das fontes: os arquivos documentais auxiliares da pesquisa .........................89
3.4. A pesquisa atravs das fontes arquivadas .................................................................................94
3.5. A sistematizao do ensino mediante as legislaes educacionais e suas implicaes para o
ensino em Moju .................................................................................................................................99
CAPTULO 4: EFETIVAO DAS POLTICAS CURRICULARES DESENVOLVIDAS PELO
GRUPO ESCOLAR LAURO SODR E SEUS DESDOBRAMENTOS SOBRE OS PROCESSOS
FORMATIVOS ......................................................................................................................................114
4.1. Perfil dos gestores e professores entrevistados .......................................................................117
4.2. Quanto aos aspectos administrativo-pedaggicos do grupo escolar ........................................121
4.2.1. A organizao e funcionamento institucional ....................................................................121
4.2.2. Preocupao institucional em relao ao preparo do professor para o exerccio de suas
prticas educativas. ....................................................................................................................122
4.2.3. Regulamentao oficial que orientava o trabalho docente e os processos educativos ....124
4. 2.4. A organizao da proposta curricular destinada formao educativa ...........................126
4.2.5. Aspectos concernentes infra-estrutura didtico-pedaggica para auxiliar o
desenvolvimento do trabalho educativo docente. .......................................................................128
4.2.6. Dos recursos didticos utilizados pelos professores a fim de desenvolver os processos de
ensino-aprendizagem junto aos alunos ......................................................................................130
4.2.7. O grupo escolar e seus benefcios educao municipal ................................................132
4.2.8 Algumas dificuldades enfrentadas durante a permanncia na instituio escolar .............133
4.2.9. A avaliao da atuao educacional no grupo escolar .....................................................136
4.3. Trabalho docente e gesto no interior do grupo escolar: percalos e desafios ........................138
CONCLUSO .......................................................................................................................................144
REFERENCIAL BIBLIOGRFICO .......................................................................................................148
ANEXOS ...............................................................................................................................................164
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INTRODUO
O desejo de compreenso do desenvolvimento da questo educacional na Regio Guajarina do
Estado do Par, motivou-me a investigar sobre suas origens, pois, sendo ex-aluno secundarista do curso de
Magistrio, graduado em Pedagogia e ps-graduado em Histria e Filosofia da Educao, tenho interesse em
conhecer acontecimentos e fatos histricos relacionados matria educacional.
Por ser natural de Abaetetuba, oriundo de famlia ribeirinha da rea de ilhas, e por constituir muitas
amizades e relacionamentos nos municpios das proximidades, tenho paixo pelas manifestaes culturais,
polticas, religiosas da regio. Neste sentido, sendo os Grupos Escolares uma construo republicana
disseminada sobre o sistema de ensino brasileiro e paraense, o interesse de conhecer qual sua contribuio
ao processo de institucionalizao do ensino abriu as portas para o desenvolvimento da pesquisa nesse
mbito.
A presente pesquisa sobre os Grupos Escolares, com nfase na investigao a respeito da
institucionalizao do ensino no Municpio de Moju no Estado do Par, a partir da concretizao do projeto
educacional republicano com a criao do Grupo Escolar nessa municipalidade, mais tarde denominado
Grupo Escolar Lauro Sodr, foi desenvolvida no Programa de Ps-Graduao da Universidade Federal do
Par, no Mestrado em Educao na Linha de Pesquisa Currculo e Formao de Professores.
Este trabalho pretende entender como o fenmeno educacional se desenvolveu na Regio
Guajarina1, pois h muitas especulaes a respeito desta regio, com relao ao seu presente e s
perspectivas de desenvolvimento para o futuro, com crtica da conjuntura econmica, poltica, cultura, social e
educacional dos municpios que a compe, pois existe um equivocado preceito segundo o qual tudo o que
est acontecendo com relao a estas questes na atualidade tem haver somente como o modo de produo
se comporta ou como a ideologia vigente modela a estrutura da sociedade.
Ao conjecturarem com a realidade, os analistas de planto se esquecem de fazer a ligao dos
fatos com o contexto histrico, por isso, s conseguem ter uma viso curta de como as categorias e os
setores do sistema social esto se comportando, sem considerar os aspectos historiogrficos dos eventos
sociais.
Para entendermos como so construdos os currculos na educao, qual o modelo operacional que
rege seu sistema, quais as perspectivas para a formao de professores, por que as arquiteturas dos prdios
escolares convergem para a diviso e no para a democratizao, entre outras questes mais concernentes
estrutura educacional do pas, preciso olhar a gnese de sua constituio. Assim, perscrutando o incio
1 A regio Guajarina compreende os Municpios de Abaetetuba, Barcarena, Moju, Tailndia, Tome-Acu, Acar, Igarap-Mir, Concrdia do Par e Bujaru,
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histrico do sistema de ensino e como ele veio se desenvolvendo ser possvel chegar a concluses acerca
de sua atualidade.
A pesquisa sobre Grupos Escolares, tema corrente do estudo da Histria da Educao, que tambm
investiga a histria das instituies escolares, trouxe muitas expectativas, contudo, a pesquisa necessitaria de
um local especfico para acontecer. Neste caso, em uma atividade de investigao para a disciplina Histria
da Educao, durante a Especializao em Histria e Filosofia da Educao, a partir de conversa com uma
professora aposentada do Municpio de Moju, a mesma comentava que Moju havia tido professoras
normalistas que haviam atuado no ensino do municpio.
Curioso para conhecer melhor a forma como o processo educacional havia sido implementado no
Municpio, buscas acerca da histria educacional do lugar foram realizadas, o que denotou que em Moju
havia sido implantado um Grupo Escolar em determinado perodo da histria do Estado do Par, e a forma
como o ensino era desenvolvido em seu interior envolvia muito mais que as lies do ensino primrio, mas
dizia respeito organizao social do Municpio, a forma como os docentes se preparavam para exercer o
magistrio, a que correspondia o tipo de formao disseminada pelo currculo da poca, ou seja, o
levantamento prvio evidenciava uma diversidade de subsdios para investigao
A pesquisa a respeito da temtica ao longo do curso de Mestrado em Educao foi tomando forma
media em que durante as disciplinas o projeto de pesquisa foi recebendo contribuies e crticas dos
docentes e colegas de classe, mas a participao nas sesses de orientao ocorridas quinzenalmente,
foram determinantes para a fixao dos objetivos, justificativas e problema de pesquisa.
A primeira inteno da pesquisa era investigar a histria do Grupo Escolar de Moju a partir dos
arquivos da instituio, pois estes documentos se constituem fontes histricas essenciais pesquisa,
contudo, no decorrer das sesses de orientao ficou estipulado o trabalho com a seguinte temtica: O
GRUPO ESCOLAR LAURO SODR EM FACE DA POLTICA DE EXPANSO DO SISTEMA ESCOLAR NO
ESTADO DO PAR: INSTITUCIONALIZAO, ORGANIZAO CURRICULAR E TRABALHO DOCENTE
(1968-2008). E com o auxilio de bolsa de incentivo pesquisa concedia pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - CNPQ, o trabalho de investigao pode ser melhor desenvolvido.
A partir das consideraes feitas pelo orientador, o Projeto de Pesquisa tomou forma consistente
objetivando de modo geral:
Compreender a importncia das instituies educativas materializadas nos Grupos Escolares criados
poca do Brasil Republicano e suas incidncias na unidade federativa do Par, analisando a
influncia de sua implantao para a organizao da sociedade e a formao do cidado na esfera
municipal de Moju a partir da fundao do Grupo Escolar Lauro Sodr.
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Como objetivo especfico visou:
Refletir a respeito da organizao e da importncia das instituies de ensino no Brasil e no Par
identificando sua relevncia para a organizao da sociedade e formao do cidado;
Identificar a importncia geopoltica da criao do Grupo Escolar Lauro Sodr para o municpio de
Moju;
Analisar as repercusses das reformas educacionais no trabalho docente e no processo ensino-
aprendizagem desenvolvido no espao do Grupo Escolar Lauro Sodr;
Refletir sobre a organizao curricular do Grupo Escolar Lauro Sodr em face da poltica
governamental de expanso do sistema de ensino no Par
A determinao da orientao de focar a pesquisa nos Grupos Escolares como instituies de
ensino ligadas estrutura governamental do Estado com forte influencia nas cidades onde foram
implantados, ajudou a direcionar o projeto de pesquisa, a estabelecer o perodo temporal, as fontes a
perscrutar a metodologia de investigao privilegiada e a determinar os rumos do estudo.
Destarte, como problema de pesquisa houve a formulao das seguintes indagaes:
Qual a importncia das instituies escolares na organizao da sociedade e na formao escolar do
cidado brasileiro?
Como se efetivou a insero dos Grupos Escolares no sistema de ensino do Par e que implicaes
trouxeram estrutura social dessa unidade federada segundo os Discursos Governamentais?
Qual a importncia geopoltica e educacional do Grupo Escolar Lauro Sodr institudo no Municpio
de Moju?
Quais eram as prescries para o exerccio do trabalho docente e como se efetivaram as prticas
curriculares desses sujeitos nessa instituio?
As questes pertinentes pesquisa convergiram para a produo de um sumrio que
paulatinamente alimentava reflexes sobre as indagaes suscitadas, de modo a determinar os fundamentos
da pesquisa atravs do projeto institucional do programa de mestrado.
No primeiro semestre de 2009, durante o perodo letivo das disciplinas do curso de mestrado, aps
a sesso de orientao que determinou o percurso da pesquisa para o aprofundamento de estudos mediante
o estudo das fontes, iniciei a investigao a fim de reunir o acervo bibliogrfico, documentos e iconografias
relacionadas ao tema da organizao do ensino no Brasil.
No segundo semestre de 2009, prossegui no trabalho, investigando a respeito da efetivao do
projeto dos grupos escolares nos Estados Federativos, com nfase no Estado do Par. Posteriormente, na
primeira metade do ano de 2010, ocupei os estudos acadmicos da dissertao com o resgate da histria da
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educao no municpio de Moju a partir da institucionalizao do ensino primrio com a criao das escolas
isoladas e em seguida substitudas pelo Grupo Escolar dessa esfera municipal.
As pesquisas realizadas entre o ano de 2009 e primeiro semestre de 2010 convergiram para a
produo dos trs primeiros captulos da dissertao encaminhados para a realizao da sesso pblica do
Exame de Qualificao ocorrida no segundo semestre de 2010, que orientou desenvolvimento do quarto
captulo, constitudo de entrevistas fundamentadas nas memrias obtidas com as narrativas de ex-diretores e
ex-docentes que estudaram e trabalharam no Grupo Escolar Lauro Sodr.
Os trs primeiros captulos construdos a partir das fontes histricas como documentos oficiais,
decretos, bibliografias e iconografias, retratam o conjunto de subsdios encontrados em domnios eletrnicos,
tais como: sites de publicaes do Grupo de Estudos e Pesquisa Histria, Sociedade e Educao no Brasil
HISTEDBR, a Fundao Andrew W. Mellon fundadora do Center for Research Libraries (CRL), Coordenao
de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - CAPES, INEP (descritor), Programa de Ps Graduao -
PPGED/UFPa, Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao - ANPED, Universidade
Estadual de Campinhas - UNICAMP, Instituto Brasileiro de Geografia Espacial IBGE, CD-ROMS com
publicaes de eventos, Atas de Reunies, setor de obras raras da Biblioteca do Centro Cultural Tancredo
Neves CENTUR, Arquivo Pblico do Estado do Par, Biblioteca da Universidade Federal do Par UFPa,
Biblioteca da Assemblia Legislativa do Estado do Par, Museu do Estado do Par. No entanto, estes
subsdios nem sempre estiveram mo, e exigiram buscas e visitas presenciais ou virtuais aos locais citados.
Com relao s buscas virtuais, o rendimento da investigao foi bastante promissor pela rapidez
de acesso aos acervos, pois, os sites de busca e de compartilhamento de arquivo como Google, Books-
Google, Altavista, 4shared, Scielo, Slideshare, e outros, sempre dispunham de muitas publicaes, no
entanto, o investigador que est navegando na rede precisa saber o que buscar, pois a astucia em filtrar,
refinar e escolher as palavras para o cesso virtual, imprescindvel para o trabalho.
Todo aparato tecnolgico utilizado na pesquisa, nos leva a refletir sobre a necessidade de cada vez
mais os dados, as pesquisas e publicaes estarem disponveis na rede virtual a fim de facilitar o trabalho do
pesquisador, que muitas vezes tem residncia e domiclio longe dos grandes centros urbanos onde
geralmente esto institutos que cuidam da conservao e arquivamento de materiais histricos, mas que no
seu recinto de trabalho pode capturar muitas informaes pertinentes ao seu ofcio.
A disponibilidade de dados atravs da internet alm de facilitar na agilidade da busca, pode colocar
disposio da pesquisa, uma grande quantia de materiais e objetos passveis de acessos de qualquer lugar
onde esteja disponvel a conexo da rede sem ou com fio.
Outro fator importante com relao utilizao da internet como ferramenta para a pesquisa, a
forma como tal dispositivo eletrnico colaborou no processo de orientao, pois quando surgiam dvidas com
relao aos aspectos da produo, constantemente foi recorrido ao orientador por meio virtual a fim de buscar
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esclarecimentos, ainda que orientador e orientando estivessem situados em locais diferentes e em atividades
distintas, a ferramenta do microsoft system network MSN, possibilitou a realizao de sesses de
orientaes a distancia, com a possibilidade de envio e recebimento de arquivos em tempo real, atividade que
atravs do telefone celular poderia se tornar dispendiosa financeiramente e sem tanta eficincia. Neste
sentido, para a elaborao dos captulos da dissertao o meio virtual teve relevante papel no processo
formativo e de produo do conhecimento cientfico.
No que diz respeito pesquisa propriamente de campo, no s na cidade de Moju, mas em outros
lugares como bibliotecas, museus, arquivos pblicos, foi possvel notar que existem muitos lugares que lutam
para preservar a memria, como o caso do Centro Cultural Tancredo Neves CENTUR e o Arquivo Pblico
do Estado do Par, que possuem variadas bibliografias, raras por sinal, contendo acervos documentais
diversos sobre a histria paraense, o que se constituiu documento essencial na pesquisa, pois dentre os
vestgios histricos do Estado do Par, poucos esto disponveis em rede virtual da internet, locais como os
citados se tornam manancial de referencia para a investigao.
Contudo, ao chegar ao nvel de catalogao de fontes para a realizao do levantamento da criao
do Grupo Escolar de Moju a pesquisa no fluiu com tanta rapidez e segurana, pois, a falta de dados foi um
grande empecilho para o trabalho exploratrio, a saber, um lugar que desde 1750 existe como vila e desde
1870 foi elevado ao nvel de Municpio, no possui arquivo pblico ou um local de referncia para a pesquisa
histrica, o que revelou-se como obstculo inicial ao andamento do trabalho de investigao pretendido.
No h em Moju documentos oficiais histricos guardados na Prefeitura, que o rgo civil mais
antigo da cidade, e em nenhuma outra Secretaria ou Departamento ligado Administrao Pblica, os
ofcios, decretos, legislaes, estatutos, atas, portarias, registro de pessoal etc., at dcadas recentes, no
existem mais, o que representa perdas considerveis para a administrao e populao de modo geral, e
apagamentos da memria irreparveis na histria dessa sociedade.
Informaes coletadas de funcionrios que h bastante tempo trabalharam ou ainda exercem
funo no prdio da Prefeitura, revelam que no incio dos anos 1990 todos os papeis tidos como lixo, ou
arquivo morto foram entulhados debaixo da escada no piso trreo da Prefeitura, com o tempo, esse material
comeou a incomodar os funcionrios que o colocaram na rea externa do prdio, ao relento, e tempos
depois queimaram. Desta forma, os possveis dados a respeito da educao municipal contidos no prdio
administrativo do municpio foram incinerados.
Como forma de certificao da pesquisa, foi realizada tambm, busca no Cartrio do nico Ofcio
do Municpio. Mas, segundo o tabelio, por se tratar de assunto educacional de perodo remoto, a questo
no era tratada pelo Cartrio local, mas diretamente entre Prefeitura e Estado, neste caso, Secretaria
Estadual de Educao.
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Outro local pblico inspecionado para obteno de dados foi a Cmara de Vereadores do Municpio,
pois a Casa Legislativa foi instituda juntamente com elevao de Vila categoria de Municpio e por nela
serem tratados assuntos referentes vida poltica, social, cultural de Moju, conclu que este poderia ser um
santurio para o arquivamento de dados histricos, mas a assertiva foi negativa, pois em tempos passados a
Cmara Municipal funcionava no mesmo prdio da Prefeitura, e por motivo de vrias mudanas de prdios
alguns documentos oficiais foram perdidos.
Pelas informaes coletadas obtive o esclarecimento de que quando alguns cidados deixavam o
cargo de vereador carregavam consigo documentos importantes da Casa Parlamentar por motivo no
revelado, o que impossibilitou a Cmara Municipal de ter um arquivo preservado. No entanto, ainda restaram
as atas das reunies de vereadores dos ltimos 30 anos, que narram alguns fatos da vida do municpio, e
nestes livros coletei alguns registros de fatos a respeito do contexto educacional municipal.
Por fim, como ltimo local a ser visitado, a pesquisa chegou at a instituio de ensino Escola
Municipal de Ensino Fundamental Lauro Sodr, ex-Grupo Escolar Lauro Sodr. Nesse espao educativo foi
realizado o exame dos arquivos escolares existentes na instituio, tais como: atas de reunies,
apontamentos de professores, registros escolares, boletins de alunos, ficha de matriculas, todos relacionados
memria da instituio.
Todavia, para uma instituio centenria os arquivos existentes se tornam incipientes, pois apenas
os dados dos ltimos 30 anos foram possveis de acesso. Os arquivos do antigo Grupo Escolar no existem
na instituio, uma vez que tambm o prdio onde antes funcionava foi demolido, restando apenas a
lembrana dos ex-funcionrios e ex-alunos para reviver parte da histria educacional de Moju.
Em busca de material para a pesquisa, tambm foi necessrio visitar algumas famlias tradicionais
do Municpio, as quais tiveram parentes que estudaram ou trabalharam no Grupo Escolar, estratgia
oportuna, pois, os relatos coletados auxiliaram no resgate de alguns elementos importantes para a pesquisa,
como por exemplo, por no haver nenhuma foto do Grupo Escolar Lauro Sodr, atravs da descrio foi
possvel reconstituir a imagem do prdio em um programa de computador utilizado na construo civil que
exibe em 3D a planta do imvel desenhado.
Como possvel notar, a pesquisa a respeito do Grupo Escolar Lauro Sodr em face da poltica de
expanso do sistema escolar do Par, percorreu variados lugares atrs de fontes, a fim de elucidar o
fenmeno educacional no perodo de 100 anos de histria.
Configurada como pesquisa de longa durao, seu mtodo est pautado na anlise de documento,
uma vez que fiz o levantamento e a anlise das informaes contidas nas legislaes referentes educao,
na pesquisa dos arquivos escolares e em autores que versam a respeito da constituio do sistema de
ensino. Para tanto, analisei fontes primrias (pesquisa documental), fontes secundrias (pesquisa
13
bibliogrfica), iconografias, consultas em meios eletrnicos virtuais, visitas exploratrias ao local da pesquisa
e instituies pblicas e utilizao de entrevistas.
Assim, foram muitas as fontes consultadas, mas para analisar todo material coletado, utilizei
instrumentos que favoreceram a compreenso dos fatos e acontecimentos ocorridos no bojo do contexto
pesquisado, da porque o vis da historiografia foi recorrente nesse trabalho por haver necessidade do
cruzamento de informaes entre aspectos histricos, polticos, sociolgicos, geogrficos e pedaggicos das
reas concernentes produo da investigao.
De posse da produo escrita, a partir do material j pesquisado, o trabalho dissertativo foi
submetido Banca de Qualificao que recomendou a reorientao da pesquisa a partir do primeiro captulo,
mostrando como os grupos escolares foram espaos ricos por abrigarem a diversidade do trabalho docente, a
cultura curricular, por estarem envolvidos com a transformao das cidades e como estes estabelecimentos
de ensino eram articulados no Estado do Par e seus municpios. Por fim, os argidores pediram destaque no
apanhado das fontes orais, como nfase para a produo do quarto captulo da dissertao.
Provido dos pareceres da banca de qualificao e acordado com o orientador, prossegui no labor
intelectual, realizando as mudanas no trabalho e selecionando sujeitos que estiveram ligados ao Grupo
Escolar Lauro Sodr.
De incio, ficou pactuado no processo de orientao a criao de uma lista de ex-diretores e ex-
professores que atuaram no Grupo Escolar entre os anos 1968 a 2008, o que resultou num rol de 14 diretores
e 25 professores, quantia elevada para a aplicao de entrevista. Neste sentido, optou-se pela escolha de
itens que ajudassem a selecionar as pessoas que seriam entrevistadas. Desse modo, os critrios escolhidos
para os gestores (ter estudado no Grupo Escolar); para os professores (ter estudado no Grupo Escolar e
estar aposentado da funo de docente), o que ajudou a constituir um quadro de entrevista com 3 ex-
diretores e cinco ex-professores.
O tipo de entrevista adotada foi a semi-estruturada por abrir espao ao dilogo espontneo entre o
entrevistador e o entrevistado a respeito do objeto de pesquisa, seguindo um roteiro pr-estabelecido como
indicam BONI e QUARESMA (2005).
As fontes coletadas ao longo da investigao suscitaram questes interessantes para a discusso
da importncia dos Grupos Escolares no processo de institucionalizao do ensino, pois, em seus espaos
estavam presentes os traos marcantes das condies do currculo, da formao e do trabalho docente.
A pesquisa se consolidou na produo de quatro partes que abordam, o fenmeno educativo
expresso na instituio e consolidao dos grupos escolares no Brasil, no Par e em Moju, conforme passo a
descrever abaixo.
No PRIMEIRO CAPTULO que tem como tema: As instituies de ensino no contexto da
historiografia da educao brasileira, irei refletir a respeito da organizao e da importncia das
14
instituies de ensino no Brasil identificando sua relevncia para a organizao da sociedade e formao do
cidado. Neste percurso analisarei atravs do levantamento de fontes bibliogrficas, teses, dissertaes e
artigos sobre a poltica republicana para o ensino primrio a partir da criao dos Grupos Escolares e sua
insero nos municpios.
Nesse contexto, a pesquisa situada na histria das instituies de ensino primrio, vistria a forma
de organizao desses espaos apresentando elementos inerentes a seu cotidiano como as condies ideais
para a realizao do trabalho docente, a estrutura curricular para o ensino das sries iniciais, a influencia que
os grupos escolares exerciam sobre a sociedade e a organizao urbana das cidades e muitas outras
questes mais abordadas pelos estudos das fontes histricas.
O SEGUNDO CAPTULO cujo tema : Reformas educativas e suas implicaes na
organizao do sistema de ensino do Par sob a gide dos Grupos Escolares., abordarei a reflexo
sobre a organizao e a importncia das instituies de ensino no Brasil e no Par, identificando a relevncia
devotada aos Grupos Escolares para a organizao da sociedade e formao do cidado.
Para a construo deste captulo foram vasculhados documentos, mensagens de governo,
decretos, artigos, livros, dissertaes e iconografias, a partir da busca em bibliotecas setor de obras raras da
Biblioteca do Centro Cultural Tancredo Neves CENTUR, Arquivo pblico do Estado do Par, sites de
instituies de ensino superior, programas de ps-graduao como o PPGED da UFPa, Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo-PUC, Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, entre outras
instituies que conservam e publicam estudos na rea da histria das instituies escolares.
O TERCEIRO CAPTULO que tem como tema: Gnese e consolidao do Grupo Escolar Lauro
Sodr no sistema de educao do Municpio de Moju-Pa., o estudo busca identificar a geopoltica da
criao do Grupo Escolar Lauro Sodr para o municpio de Moju, analisando sua insero no contexto
scio/cultural e educativo do municpio.
Deste modo, ao acessar os dados da histria da instituio de ensino questes como trabalho e
formao de professores, organizao administrativa do espao escolar, desenvolvimento do sistema de
ensino, e outros temas mais sero analisados, estabelecendo sua ligao com a estrutura educacional do
Grupo Escolar.
O QUARTO CAPTULO que trata da temtica Efetivao das polticas curriculares
desenvolvidas pelo Grupo Escolar Lauro Sodr e seus desdobramentos sobre os processos
formativos objetiva analisar as repercusses das reformas educacionais no trabalho e no processo ensino-
aprendizagem desenvolvidos no espao do Grupo Escolar Lauro Sodr, bem como refletir sobre a
organizao da mesma instituio educativa em face da poltica governamental de expanso do sistema de
ensino no Par.
15
A fim de elucidar o objetivado neste captulo, a pesquisa foi desenvolvida baseada nas fontes orais,
pautada em depoimentos de ex-gestores e ex-professores do Grupo Escolar Lauro Sodr, a fim de expor
fatos constituintes da histria da instituio de ensino que os documentos oficiais no conseguem mostrar.
Os Grupos Escolares enquanto construo republicana para o desenvolvimento do ensino primrio
atingiu seu apogeu e chegou ao seu ocaso. Nesse movimento temporal de nascituro e desenvolvimento o
Grupo Escolar assimilou ideais, lutas de classes, construes, problemas e realizaes.
Pelo apanhado das fontes histricas relatado que dentro da instituio de ensino primrio
ocorreram tenses, constituies e organizaes na execuo do currculo, no implemento do trabalho
docente, na administrao educacional etc. Por isso, tratar nesse trabalho dissertativo da institucionalizao
do ensino no municpio de Moju a partir da criao e organizao do Grupo Escolar Lauro Sodr de muita
importncia para o Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Par.
No Programa de Ps-Graduao estou vinculado linha de Currculo e Formao de Professores,
assim tratar da histria do Grupo Escolar Lauro Sodr de Moju articulado com a histria dos Grupos
Escolares implantados em todo territrio nacional, trar elementos que possibilitaro mostrar como poca
dos Grupos Escolares acontecia a formao de professores, os princpios que geravam o currculo para o
ensino primrio, a evoluo do sistema de ensino do sculo XX para o sculo XXI e as polticas ligadas ao
Grupo Escolar.
Para a investigao sobre os Grupos Escolares foi necessrio haver a apropriao de literatura
referente ao assunto, nesse sentido, a participao na agenda cientfica do Ncleo de Estudos e Pesquisa em
Currculo NEPEC compondo artigos e assistindo apresentao dos trabalhos dos integrantes do ncleo,
foi importante para me apropriar melhor do objeto de estudo.
Ainda a participao em eventos da rea de estudo da histria da educao e currculo entre os
anos 2009 e 2010, como a IX Jornada do Grupo de Estudos e Pesquisa Histria, Sociedade e Educao no
Brasil HISTEDBR; IX Seminrio Nacional de Polticas educacionais e Currculo, realizado pelo Programa de
Ps-Graduao em Educao da UFPA, auxiliaram tambm na construo do cabedal de contedo
selecionado para a pesquisa.
Outra contribuio para me atualizar a cerca da temtica foi a leitura de autores que pesquisam a
histria da educao e a histria das instituies escolares e nesse apanhado abordam o assunto dos Grupos
Escolares. Destarte, pesquisadores como: de Tereza Fachad Levy Cardoso, tratando da construo das
escolas pblicas no Rio de Janeiro; DALLABRIDA (2003) sobre o Grupo Escolar Arquidiocesano So Jos
em Florianpolis durante e primeira repblica; DELANEZE (2006) que pesquisa sobre as reformas
educacionais de Benjamim Constant e Francisco Campus no contexto nacional, FERREIRA-SANTOS (1993)
discorrendo sobre Educao Brasileira na Primeira Repblica, entre outros autores que se debruaram sob o
estudo do ensino desenvolvido no sculo XX e implicaes de suas estruturas no sistema social brasileiro.
16
O envolvimento no grupo de pesquisa, a busca por fontes, as leituras das bibliografias e a
participao nos eventos acadmicos trouxeram muitos subsdios que somados ao processo de orientao e
o empenho pessoal na elucidao do objeto de estudo tornaram possveis a produo deste trabalho que se
torna mais um elemento para auxiliar nos estudos sobre o fenmeno educacional no processo histrico.
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CAPITULO 1
AS INSTITUIES DE ENSINO NO CONTEXTO DA HISTORIOGRAFIA DA EDUCAO BRASILEIRA
Neste capitulo formulei como finalidade principal refletir a respeito da organizao e da importncia
das instituies de ensino primrias no Brasil durante o perodo do governo republicando, identificando sua
relevncia para a organizao da sociedade e formao do cidado. Abrindo caminho para a compreenso
sobre as circunstncias dos acontecimentos que envolvem a implantao do Grupo Escolar Lauro Sodr em
Moju e para o desenvolvimento do currculo, do trabalho e formao de professores no seu interior.
Analisei a poltica educacional republicana para o ensino primrio configurada na criao dos
Grupos Escolares e suas repercusses nos municpios, atravs do levantamento bibliogrfico dos estudos de
artigos, teses, dissertaes e livros publicados com essa temtica.
Deste modo, o estudo incidiu na anlise de fontes histricas que demonstram a contribuio desses
estabelecimentos de ensino no processo formativo da populao e na criao de conscincia nacionalista de
cidado brasileiro, a fim de entender as estratgias por meio das quais os Grupos Escolares foram utilizados
como meio de veicular as ideias dos governos, os organismos utilizados para tais maquinaes sejam elas
organizaes governamentais e no governamentais ligadas a possveis princpios ideolgicos presentes
atravs de grupos que cogitavam um projeto desenvolvimentista para o pas.
Para termos viso global do processo de institucionalizao do ensino primrio no governo
republicano a partir da criao dos Grupos Escolares, alguns elementos do perodo imperial sero expostos,
pois, entendo que o processo educacional brasileiro veio aparentemente se desenvolvendo de modo
seqencial, sem rupturas abruptas, ou seja, tendo suas bases fixadas no passado. Entretanto, o estudo da
historiografia mostre que as transies no cenrio histrico ocorram engendrando conflitos, o que sugere a
compreenso que, embora, o governo continue com a nomenclatura primria e ginasial para a modalidade de
ensino que administrava, sua finalidade e forma de ser desenvolvido era diferente do regime imperial.
Prosseguindo nos estudos a respeito da elucidao no que tange s instituies de ensino,
abordarei o sculo XX com maior domnio, pois as fontes de pesquisa esto mais bem preservadas e em
maior quantidade, podendo ser acessadas facilmente por meio eletrnico da internet, ferramenta primordial
para esta produo e publicaes bibliogrficas. Desse modo, foi possvel lanar mo de muitos subsdios
que favoreceram a anlise para o estudo do tema em questo.
Para entender melhor os princpios da organizao educacional do pas a partir do sculo XIX,
lancei-me no desafio de elucidar a seguinte dvida: Qual a importncia das instituies escolares na
organizao da sociedade e na formao escolar do cidado brasileiro?
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Perscrutando a literatura existente foi possvel evidenciar que a forma como as instituies de
ensino foram implantadas no Brasil atendiam a uma demanda burocrtica do governo, ou seja, suas
edificaes eram demandadas por uma hierarquia ordenada como sugere o princpio da burocracia. Assim,
este captulo se configura pela proposta de buscar a raiz histria das instituies de ensino, em especfico
dos Grupos Escolares no Brasil, tentando compreender seu valor e importncia no trajeto desenvolvimentista
da nao.
Neste sentido me pautarei na metodologia de anlise de contedos, pois, a compreenso do
processo educacional brasileiro um estudo que envolve muitos fatores de ordem curricular, organizacional,
pedaggica. No entanto, antes de ir aos fundamentos de sua estrutura necessrio conhecer o processo de
formao das instituies de ensino, que tem um longo percurso de orquestrao e seus fundamentos, que
chegam a se confundir com a escolarizao, so as bases dessa organizao maior que a educao, da a
importncia de primeiro analisar esses dados para, ento, construir explicaes a seu respeito.
1.1. As fontes no estudo dos grupos escolares: o que deflagram as fontes sobre os Grupos Escolares
A pesquisa de fontes para o estudo da histria da educao se mostra um elemento de grande
importncia, pois a incorporao deste mtodo de investigao traz muitos benefcios, entre eles, a
possibilidade de o pesquisador poder selecionar adequadamente os referenciais que tratam do assunto que
pretende abordar. Outra vantagem poder cruzar as informaes das produes existentes para, assim,
tornar notria a exclusividade de sua pesquisa na rea.
Sendo um dos passos primordiais para a concretizao da pesquisa, a seleo de fontes amplia a
viso de horizonte do pesquisador, pois como constata Queiroz e Corra (2009, P. 106)
O uso das fontes bibliogrficas no trabalho de investigao cientifica colocam o pesquisador em contato com as caracterizaes do objeto, servindo como ponto de partida para a identificao de suas caracterizaes, delimitao e aprofundamento das bases conceituais, indispensveis no processo investigativo.
Assim, a fonte aproxima o pesquisador do objeto, tornando-o ntimo do assunto estudado.
Para o exame da histria das instituies escolares, em especfico da histria dos Grupos Escolares
em mbito nacional, a coleta de informaes com base nas fontes histricas, sejam elas bibliogrficas,
documentais, iconogrficas, possibilitou a amplitude na anlise e cruzamentos dos dados coletados,
O uso de fontes um elemento que para Lombardi e Nascimento (2004, p. 7) [] compreendem
todos os registros, dos mais variados tipos, que podemos encontrar e que, de algum modo, possam
apresentar-nos indcios que nos permitam compreender a histria das instituies escolares.
19
Nessa perspectiva, os subsdios de estudo dos Grupos Escolares expem em geral elementos
historiogrficos, arquitetnicos, simblicos, subjetivos, polticos, curricular, cultural, formativo, de luta de
classe, e muitos outros mais, que revelam que tais instituies de ensino estiveram presentes na histria da
sociedade, tornando-se espaos de poder e tenso poltica.
Segundo Vidal (2006):
A histria dos grupos escolares emerge nos anos 90 como fruto do movimento de renovao dos estudos em histria da educao e na confluncia de duas temticas ou eixos de investigao para os quais se voltaram os historiadores: a histria das instituies educativas e o interesse pela cultura escolar.
O resgate da histria dos Grupos Escolares um estudo que conduz o pesquisador ao passado da
educao primria permitindo que ele tenha contato com os dados inerentes a esse nvel de ensino, de modo
a compreender a conexo existente entre o passado e o presente da educao.
Por meio desses estudos possvel entender que a relativa importncia dos Grupos Escolares,
disseminados em todo o territrio brasileiro, demonstra que seu projeto foi construdo mediante a finalidade
de atender ao ensino primrio, mas como observado pelos autores que pesquisam a histria da educao,
seu alcance foi alm.
Silva e Teive (2009) em Grupos Escolares: Criao mais feliz da Repblica? Mapeamento da
produo em Santa Catarina, expondo o apanhado de produes que tratam da temtica em seu Estado,
demonstram que os autores em geral abordam duas formas mais freqentes para retratar os Grupos
Escolares: Importncia arquitetnica e visibilidade pblica; e A importncia de modelos O bandeirismo
paulista.
No mapeamento das autoras, os 45 livros e peridicos utilizados na pesquisa mostram que os
Grupos Escolares eram instituies que tinham a significncia de prestigio, com critrios para edificao
adequada ao modelo educacional paulista e que guardavam caractersticas monumentais segundo padro da
poca.
A reconstituio da histria dos Grupos Escolares, por meio das fontes, possibilita ao autor montar
um cenrio que lhe d viso ampla da historiografia da instituio. Silva (2006), ao valer-se das atas, fotos e
bibliografias para reconstituir a historiografia do Grupo Escolar Antnio Padilha atravs de seus arquivos em
So Paulo, verificou quais foram os momentos da sociedade paulista em que o Grupo Escolar esteve
presente e qual a significncia dele para o movimento cultural da cidade.
O enfoque historiogrfico do estudo atravs das fontes, que possibilita o dilogo com outros campos
do conhecimento, como a sociologia e a antropologia, despertam novas abordagens na pesquisa referente ao
campo da histria da educao voltada para as instituies escolares, que no caso dos Grupos Escolares,
teve uma abrangncia e valor para a constituio da sociedade brasileira.
20
As pesquisas a respeito dos Grupos Escolares em Santa Catarina renderam a possibilidade de
autores como Silva e Teive mapearem as formas de como estas instituies de ensino surgiram no cenrio
catarinense, ou, como Dallabrida (2003), que ao reconstituir a histria do Grupo Escolar Arquidiocesano So
Jos demonstrou que o sistema de ensino brasileiro no incio do sculo XX j contava com uma organizao
que possibilitava a viabilizao do ensino atravs de instituies no escolares. Nesse sentido, o autor
destaca a articulao existente entre os polticos defensores da Repblica e a Arquidiocese de Florianpolis
que obteve a concesso para administrar um Grupo Escolar cuja misso estava em atender alunos das
classes populares.
A revoluo do novo enfoque do estudo dos Grupos Escolares, possibilitado pelo apanhado das
fontes histricas, fez com que, o cotidiano escolar aparecesse na produo de Reis (2008). Este autor, a
partir da abordagem da Nova Histria apresentou o Grupo Escolar Costa Alvarenga da cidade de Oeiras no
Estado do Piau, com quadro de funcionrios, nmero de matrculas de alunos, materiais escolares e a
criao de uma sociedade para amparar os alunos pobres que no tinham condies de adquirir materiais
escolares.
Essa descrio do itinerrio histrico do uso de utenslios e organizao do espao escolar
possibilitou ao autor inferir com as fontes e assim concluir que, o Grupo Escolar Costa Alvarenga foi
importante no processo de consolidao na cidade de Oeiras.
1.2. A produo de fontes fundamentadas na histria do ensino primrio.
Stavracas (2008) objetivando evidenciar as prticas de ensino decorrentes das concepes e
ideias fomentadas por aes polticas e sociais de uma poca, discute as caractersticas do ensino primrio
no final do sculo XIX incio do sculo XX, demonstrando que os Grupos Escolares alteraram, por sua
estrutura, a relao tempo, espao e relao entre as pessoas, media que adotavam o calendrio escolar
com carga horria determinada como referncia para a organizao educacional, tornando fragmentado o
saber e mudando a forma de trabalho docente, contribuindo para a construo da cultura urbana com seleo
de classes.
Nessa mesma perspectiva, Paiva (2006) ao reconstruir a histria da escola primria no Rio Grande
do Norte observa o processo de institucionalizao da escola primria no municpio de Macau (RN), com sua
gradativa transformao de escola isolada em escola reunida e Grupo Escoar com suas respectivas
organizaes com os modelos e prticas pedaggicas que permeavam a cultura escolar. Demonstra ainda
que a partir da criao das Escolas de Primeiras Letras em 1835 j havia um mtodo de ensino a ser seguido,
21
o lancasteriano, e uma organizao de ensino desenvolvida, com a mudana na forma de governo de
monrquico para republicano tais sistemas foram reestruturados.
Diante do exposto pela autora, no se pode negar que havia no perodo correspondente ao sculo
XIX, sobretudo no primeiro e segundo imprio brasileiro, a viso de que a educao seria uma das portas
institucionais abertas para alavancar o processo de desenvolvimento do pas, pois eram vrios os espaos
dedicados a estabelecer orientaes para sua regulamentao: a Constituio Nacional, a promulgao da lei
de 1827 que cria as escolas normais, o Ato Adicional de 1834, o estabelecimento do cdigo de conduta para
o funcionamento dos estabelecimentos de ensino, a criao o Colgio Pedro II em 1837, que objetivava se
tornar um modelo pedaggico para o curso secundrio.
Essas aes representaram medidas criadas para as necessidades e interesses vigentes que
estabeleceram a base formal e legal visando a implementao de um sistema educacional no pas, ou seja,
durante o sculo XIX o ensino no foi inexeqvel, como comumente se imagina, equivoco que ocorre pelo
fato de no se conhecer a histria do Brasil, mas estudos detalhados do perodo imperial referentes
educao mostram que esse setor foi muito movimentado, principalmente pelo fato de seu funcionamento ser
estratgico para a propagao do sistema de ideias do Estado. Nesse sentido, no faltaram intervenes de
medidas que regulamentassem esse setor como ressalta Cardoso (2003 p. 209):
Para a segunda metade do sculo XIX, deve-se registrar que a legislao sobre educao foi prdiga quanto a regulamentos por exemplo o da Instruo Primria e Secundria da Corte, elaborada pelo Baro do Bom Retiro em 1854 e reformas como a proposta em 1859, passando pela de Paulino de Souza, Reforma Joo Alfredo, Lencio de Carvalho, Rui Barbosa, Almeida de Oliveira e Baro de Mamor. Essa onda reformista continuou durante os primeiros anos da Repblica []
Na segunda metade do sculo XIX, o Imprio brasileiro passava por diversas crises de ordem
financeira, estrutural, defesa, comercial, tenses que estavam enraizadas nos diversos setores do reino, nas
instncias do governo, Provncias e organismos pblicos, o que exigia uma governabilidade diferente para o
pas e que somente uma nova ordem poltica teria condies de estabelecer, pois a forma de governo
monrquico no atendia mais as expectativas de mudanas, as exigncias eram de inovao e modernidade
que s outro gestor poderia proporcionar como analisa Pereira (2004, p 1)
A necessidade cada vez maior de um Estado forte e legtimo nasceu, por um lado, das crescentes demandas da sociedade e, por outro, do surgimento do sistema global. O novo Estado que est emergindo precisa ser um Estado liberal, democrtico e social forte. Um Estado liberal forte garante os direitos civis que protegem a vida, a propriedade e a liberdade, e assegura que cada cidado seja tratado com respeito, independentemente de riqueza, sexo, raa ou cultura. Um Estado democrtico forte garante os direitos polticos a todos os cidados, considerando cada um como igual aos outros. Um Estado social forte garante os direitos sociais, combatendo o desemprego e a desigualdade econmica. Mas, para ser forte com relao aos trs direitos humanos clssicos, o Estado precisa ser capaz de garantir os direitos republicanos, e contar com cidados que participem ativamente dos assuntos polticos. Em outras palavras, o Estado precisa ser republicano.
22
Segundo Pereira (op. cit p. 2), idealizava-se a forma de governo republicana com os seguintes
caracteres:
O Estado republicano um Estado suficientemente forte para se proteger da captura privada, defendendo o patrimnio pblico contra a busca de rendas (rent-seeking); um Estado participativo, onde os cidados, organizados em sociedade civil, participam da definio de novas polticas e instituies e do exerccio da responsabilidade social; um Estado que depende de funcionrios governamentais que, embora motivados por interesse prprio, esto tambm comprometidos com o interesse pblico; um Estado com uma capacidade efetiva de reformar instituies e fazer cumprir a lei; um Estado dotado da legitimidade necessria para taxar os cidados a fim de financiar aes coletivas decididas democraticamente; um Estado que eficaz e eficiente no desempenho dos papis dele exigidos. Resumindo, o Estado republicano um sistema de governo que conta com cidados engajados, participando do governo juntamente com os polticos e os servidores pblicos.
As foras polticas opositoras ao imperador, descontentes com a situao do Brasil, que passava
por grandes dificuldades e crises generalizadas, contrapunham-se ao movimento de resistncia forma de
administrao do pas fosse ela a imperial ou provincial, que eram indicadas pelo Regente. Dessa forma, em
1870 foi criada a organizao poltica dos republicanos, composta na sua maioria por membros de grupos
econmicos de rendas mdias urbanas, como militares, de muitos membros da elite intelectual liberal, como
advogados, mdicos e jornalistas, de alguns setores empresariais, como os proprietrios de manufaturas e
indstrias, ou seja, a classe burguesa do pas que exigia reformas nas instituies governamentais
brasileiras.
Nesse cenrio de lutas que se desencadeou o Golpe da Repblica, instituda atravs da ao
militar que tomara o poder em 15 de novembro de 1889. Aps esse fato histrico, o pas viveu um estado de
mudanas por conta da transio da forma de governo monrquico para o republicano, que se tornava objeto
de intervenes dos partidos polticos e dos intelectuais do movimento revolucionrio, como expressa Junior
(1998, p. 218), afirmando que:
Os primeiros anos que seguem imediatamente proclamao da Repblica sero dos mais graves da histria das finanas brasileiras. A implantao do novo regime no encontrou oposio nem resistncia aberta srias. Mas a grande transformao poltica e administrativa que operou no se estabilizar e normalizar seno depois de muitos anos de lutas e agitaes. Do Imprio unitrio o Brasil passou bruscamente com a Repblica para uma federao largamente descentralizada que entregou s antigas Provncias, agora Estados, uma considervel autonomia administrativa, financeira e at poltica.
A transio de uma forma de governo para outra provocou atrasos no desenvolvimento do pas,
mas aos poucos o sistema administrativo voltava a sua normalidade assimilando novas estratgias de gesto,
o que possibilitou parcialmente a seguridade dos direitos sociais dos cidados, entre eles a educao, pois os
estabelecimentos de ensino continuaram a funcionar. Contudo, este setor devido sua importncia na
formao dos filhos da ptria, comeou a passar por mudanas, tanto que em 1890 foi criado o Ministrio da
Instruo Pblica, Correios e Telgrafos, o primeiro dedicado educao, do qual foi ministro Benjamin
Constant Botelho de Magalhes.
23
Nesse Ministrio foi estabelecido um regulamento voltado Instruo primria e secundria
viabilizando a expanso do ensino pblico e o desenvolvimento das instituies culturais com a promulgao
do Decreto n 150 que entre outras orientaes determinava o ensino leigo e livre para todos os graus e
assegurava sua gratuidade na etapa primria. Essa regulamentao, ao mesmo tempo em que popularizava
a escolarizao, atendia s exigncias de adequao do pas ao sistema norte americano e europeu com
forte influncia positivista2, caracterizado no mtodo empregado na reforma educacional que previa que
houvesse na instruo primria do 1 e 2 graus, uma aquisio lgica do pensamento, por meio da
observao direta dos objetos, visando a cultura dos sentidos, valorizando o conhecimento experimental e
utilitrio.
As reformas republicanas pretendiam a modernizao do ensino aplicando-lhe metodologias
inovadoras com a expectativa de torn-la mais exeqvel e prxima dos padres exigidos, como ressaltam
Lopes e Martinez (2007, p. 66) refletindo o pensamento de Nagle:
Com o advento da Repblica, o projeto de institucionalizao das escolas normais conforma-se aos projetos polticos das oligarquias estaduais, movidos pela necessidade de uma educao primria para as camadas populares no sentido de habilitar os eleitores prtica do voto, garantindo o direito cidadania preconizada pela constituio republicana. Entretanto, tal atitude no se configura como uma ruptura em relao ao regime anterior, mas uma continuidade, como observa Nagle (2001), baseando-se no fato de que a nova constituio manteve as normas gerais de atuao do Estado em matria educacional, pois o regime federativo institudo pela Repblica reafirmou a competncia dos estados, antigas provncias, para legislarem e organizarem a instruo pblica, principalmente no mbito do ensino primrio.
Rui Barbosa, tido como um dos percussores do movimento republicano no Brasil, juntamente com
Manoel Bomfim e Bejamin Constant, cogitavam utilizar a instruo pblica como ferramenta para construir a
identidade nacional brasileira. Desse modo Silva (2008,) analisa que este foi um dos fatores essenciais para a
realizao da reforma do ensino em 1890, contemplando o ensino primrio e secundrio criando a estrutura
educacional que superaria as cadeiras isoladas, fixando o compromisso do ensino primrio com as
perspectivas de modernizao da sociedade brasileira atravs do ensino.
O intelectual republicano Rui Barbosa se sobressaiu no contexto da reestruturao do ensino
primrio no pas, pois suas batalhas parlamentares, ainda durante o imprio e investidas administrativas com
a efetivao do governo republicano na matria educacional, inspirado por modelos estrangeiros, segundo
Boto (2009), demonstra sua viso de entender a escola como agncia da moralizao e fator de
desenvolvimento de um povo.
2 O positivismo, fundado por Augusto Conte, uma doutrina que prega o principio da ordenao das coisas para seu bom funcionamento, guiando os homens certeza, neste sentido para reorganizar a sociedade o positivismo aponta a ordem como condio essencial para a existncia do progresso, fundamento basilar para a estrutura do sistema capitalista. Voltado para a educao ele se prende a doutrina educativa que total, universal e redentora. O positivismo chega ao Brasil por volta do sculo XIX, junto dos ideais republicanos.
24
A consolidao do movimento da chamada Primeira Repblica atravs da Assemblia Constituinte
aborda vrias questes da ordem nacional entre elas a educao, que na Constituio da Repblica dos
Estados Unidos do Brasil de 1891, no TITULO IV - SEO II - ARTIGO 72, INCISO 6, determina apenas
que: Ser leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos pblicos.
Verifica-se, portanto, que de acordo com Delaneze (2006) a Repblica, implantada em 1889, veio
acompanhada da crena da necessidade de remodelao da ordem social, poltica e econmica, e da
convico de que a educao seria o mais forte instrumento para a consolidao do regime republicano e a
construo do pas moderno, capaz de oferecer ao povo as condies de sua insero no regime
democrtico representativo. A autora admite que no campo educacional destacam-se as reformas dirigidas
instruo pblica pelos Estados e pela Unio. A Repblica educaria, instruiria, e formaria os homens cultos e
os cidados livres, ou seja, as reformas educativas e o aperfeioamento da instruo produziriam homens
com uma nova mentalidade para superar o atraso intelectual e cultural do pas.
Assim, a legislao educacional revela no mbito poltico e jurdico/institucional as propostas
educativas dos segmentos da elite social, enquanto parte de um processo histrico-social em que os grupos
dominantes buscam, atravs dos instrumentos disponveis, entre eles os estabelecimentos de ensino, a
legitimidade, manuteno e consolidao de uma determinada forma de poder e prestgio.
Durante a Primeira Repblica a proposta educativa oferecida aos cidados vinculava-se ao projeto
de educao e civilizao das camadas populares. Nessa perspectiva, so criadas as Escolas Normais em
oposio s escolas isoladas que funcionavam at nas casas dos professores e se associa ao projeto de
urbanizao das cidades. Esse modelo pressupunha um sistema de ensino ordenado e de carter estatal,
com um programa enciclopdico, de cultura geral, onde se aspirava o acesso obrigatrio e universalizado.
A organizao das escolas em grupos, a partir do incio do sculo XX, presumia um novo modelo de
instituio desde sua estrutura fsica at as relaes intra-escolares.
A criao dos Grupos Escolares foi um projeto inovador poca, tanto por reunir num mesmo
espao arquitetnico vrias crianas e professores sob a orientao e administrao de um professor que
assumia a funo de Diretor, quanto por permitir a organizao do ensino em sries, possibilitando ao
docente maior dedicao instruo de crianas com o mesmo nvel de aprendizado. Em razo dessa nova
sistemtica, foi possvel introduzir as classes e as sries, compatibilizando o ensino idade e ao estgio de
aprendizagem das crianas.
A tarefa primeira dessa instituio visava garantir, por meio da escolarizao, que a populao em
seu conjunto fosse homogeneizada, e, para tanto, o conhecimento das primeiras letras e das noes de
coisas era requisito essencial. Como esclarece Souza (1998, p. 30) A criao dos grupos escolares surge,
portanto no interior do projeto poltico republicano de reforma social e de difuso da educao popular [] .
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A poltica educacional de desenvolvimento do ensino primrio por meio dos Grupos Escolares fez
surgir no Brasil uma cultura educacional que influenciou diretamente a organizao dos Estados e Municpios.
Como exemplo, a pesquisa de Gova (2009) sobre o Grupo Escolar Baro do Rio Branco em Belo
Horizonte/MG, melhor explica esta questo ao enfatizar que os grupos escolares foram projetados para
realmente suprimir as escolas isoladas rompendo como o modelo educacional antigo.
Ainda em Minas Gerais, segundo Klinke (2002). O trabalho com a leitura, a partir da compreenso
de que no final do sculo XIX novos mtodos pedaggicos em nvel mundial, inspiraram princpios formativos
diferentes do mtodo tradicional, mudando a estrutura da escola, fazendo surgir os Grupos Escolares. No
Estado mineiro, a obrigatoriedade do ensino primrio determinada por Lei, motivou tambm a determinao
da organizao do currculo com um programa prprio para as aulas de leitura atravs dos livros adotados
para o auxilio dos professores no exerccio do magistrio.
Pelo que atesta a autora, os Grupos Escolares, em Minas Gerais estavam mais voltados para a
formao da leitura, pois o currculo oficial do Estado era pensado para esse propsito. No mais, Lima (2009)
demonstra que esta mesma estrutura tambm estava para a realizao de um processo de modernizao do
Estado mediante as reformas implementadas por Francisco Campos em 1927.
No municpio de Natal-RN, pelo exposto por Silva e Morais (2009), a prtica da leitura e escrita
estiveram presentes como forma de fixar no alunado o bom desempenho da funo de ler e escrever.
Segundo as autoras, o currculo escolar tomava como determinao para o desempenho do aluno o ensino
do modo de ler e de escrever, que no fundo escondiam as intenes funcionalistas do modelo de ensino.
Tais estruturas estatais tambm so localizadas no Estado de Sergipe, tendo sua histria possvel
de ser acessada atravs de documentos, legislaes, mensagem, fotos, como sugere Santos (2008), que
expe os Grupos Escolares como quartel infantil por ter suas rotinas prximas a dos quartis militares,
refletindo que o ensino primrio tinha a conotao patritica .
A dimenso de subservincia aos desgnios do Estado que o ensino toma, no est nos Grupos
Escolares, eles tambm so sujeitos, objeto de manipulao na mo invisvel do sistema, Silva (2006) ao
analisar que as caractersticas polticas, legais e administrativas materializadas na estrutura tcnico-
pedaggica estavam refletidas na estrutura dos Grupos Escolares em Santa Catarina, tambm menciona que
estas instituies de ensino integram o projeto republicano catarinense com suas finalidades poltico-
administrativas.
Para Lima e Ferreira (2008), as instituies educativas como os Grupos Escolares tinham uma
estrutura fsica e administrativa, mas tambm uma estrutura scio-cultural, dessa forma, em seu ambiente
eram produzidas culturas pelo currculo trabalhado, as prticas educacionais e os artefatos como mobilirios
que faziam parte de seu cotidiano.
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V-se que os Grupos Escolares assim como o currculo primrio estavam relativamente
subordinados ao poder administrativo servindo de instrumento para a disseminao dos ideais do Estado,
atividade que segundo a autora, ficava a cargo do professor desenvolver, atravs da formao repassada aos
educandos.
O projeto educacional primrio republicano desenvolvido nos Estados no pode ser compreendido
somente com os olhares regionais, mas entendidos a partir do conjunto que esse projeto representava, como
suscita a discusso de Araujo (2009), que ressalta os Grupos Escolares do Tringulo Mineiro e do Alto
Parnaba como exemplos do movimento republicano desencadeados mediante a avaliao sobre a
importncia de cada localidade.
Em Mato Grosso, a estrutura dos Grupos Escolares assume, de antemo, carter agregador, pois
sua identidade de escola guardada, seriada ou central, expressa em Reis (2006), condiz com a proposta de
reunir vrias crianas e professores sob a orientao de um diretor com a organizao pedaggica de um
sistema educacional equiparado ao padro de outros Estados mais desenvolvidos.
No artigo A implantao dos Grupos Escolares em Mato Grosso, que objetiva compreender a
cultura escolar que se formou no Estado, nas primeiras trs dcadas do sculo XX na produo escolar em
Minas Gerais, Gonalves (2002), tratando do conceito de cultura escolar emergente, a partir das prticas
escolares do ensino primria demonstra que os Grupos Escolares foram construes histricas e que as
prticas produtoras dos sujeitos (professor-aluno) fizeram parte das peculiaridades daqueles
estabelecimentos de ensino, pensadas como ao calculada para ser realizada.
Para o autor, a forma de organizao do espao escolar em Minas Gerais comprova que a cultura
escolar se alicerou mediante os conflitos entre os sujeitos participantes envolvidos nesse processo, muitas
vezes, controlados pelas determinaes legais dos decretos ou pela atuao dos inspetores de ensino.
Em A (re)construo da histria da escola primria no Rio Grande do Norte Paiva (2006) ao
estudar o modelo de organizao escolar na cidade de Macau (RN) atravs das narrativas dos atos
parlamentares que trataram da questo educacional e, mapeando os modelos pedaggicos que permearam a
cultura escolar, reconhece que a forma como ocorreu o processo de institucionalizao do ensino no
municpio estava envolvido com o projeto de modernizao das cidades rio-grandenses, destarte a
construo de inmeros Grupos Escolares e a organizao do currculo. O autor demonstra que o ensino
primrio tinha acentuada importncia para a instruo e formao da camada popular.
A estruturao de uma educao voltada para a formao do cidado nacional estava relacionada
estritamente escola, no incio do governo republicano. Esta exigncia era direcionada aos Grupos
Escolares, pois estes eram os locais onde o educando receberia a formao sobre a ptria, as primeiras
letras, a disciplina, os ofcios etc.
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Segundo Olivo e Filho (2008), esse ensino que era caracterizado pela ordenao lgica do espao e
tempo, estava estruturado para forjar uma nova conscincia nos alunos, a fim de torn-los preparados para o
profissionalismo, fazendo os estabelecimentos de ensino primrio servirem com a necessidade da
permanente atualizao da mo-de-obra ao mercado.
Os Grupos Escolares, enquanto estruturas sistemticas de desenvolvimento do ensino primrio,
constituam o smbolo da mudana e da interveno da forma de governo republicano, o que, segundo Alves
Filho e Urzedo (2003), tornou estes estabelecimentos de ensino vistos como a ruptura com o modelo
educacional imperial, tornando-se em Minas Gerais sinnimo de recriao do sistema escolar e da sociedade
e no Estado de Gois construes envolvidas com o objetivo de secundar o processo de desenvolvimento do
Estado integrando-o ao mercado do sudeste brasileiro.
Nos espaos fsicos dos Grupos Escolares, embora se desenvolvesse o projeto formativo voltado
para os interesses de desenvolvimento, de fortalecimento da identidade nacional, de civismo e cidadania,
mesmo com todo esse direcionamento do processo educacional, outros valores, deixados pela estrutura
patriarcal da sociedade, eram despertados, como a aptido do gnero feminino para o magistrio, como
comprova Pinheiro (2006), ao narrar a identidade das educadoras entre o final do sculo XIX e incio do
sculo XX, mostrando que a prtica docente das mulheres estava envolvida com sua relao social sendo
exemplo de respeito, moral, religiosidade e dedicao recluso no convvio da vida familiar.
Este estudo mostra que alm de serem ambientes representativos do Estado, os Grupos Escolares,
embora restritos ao conservadorismo, tambm eram espaos para a incluso, neles as mulheres comeavam
a ocupar espaos e marcar territrio em ambiente formal de instruo.
A compreenso de que a forma como o ensino primrio estava se desenvolvendo no incio do
sculo XX, aliava o saber ao Estado, mostra que o ensino estava intrinsecamente ligado ao governo
republicano de modo que Santos (2008, p. 5), evidencia que as mudanas decorrentes da presena dos
grupos escolares trouxeram transformaes profundas na organizao e na criao de sistemas escolares
estaduais sendo suas construes vistas como investimento de redeno da nao como proposta de
superao do atraso educacional.
Para Alves e Oliveria (2009, p. 6), os grupos escolares surgem como prtica e representao que
permitia aos republicanos romper com o passado, protegendo um futuro em que, na repblica, o povo
brasileiro tenha uma reconciliao com a nao.
A argumentao dos autores que versa pela explicao da lgica desenvolvimentista de
representao do ensino, est ligada proposta de difuso da educao que promoveria os valores da
sociedade republicana, preparando o pas para o futuro.
A prtica educativa reproduzida nos Grupos Escolares caminhava para a legitimao de uma
pedagogia moderna. Como forma de apresentar como tal figurao educacional era desenvolvida na
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instituio primria, Maciel e Vago (2004), enfocam a educao do corpo no processo de escolarizao em
Minas Gerais, a partir de 1906. Os autores comprovam que o processo de alfabetizao, de ginstica e de
institucionalizao do ensino no Estado, decorreram de fenmenos poltico-culturais e dessa forma se
organizavam de modo a preparar os futuros profissionais para o pas do futuro.
De acordo com os autores, os espaos escolares, no preldio do sculo XX, sempre que
apresentados, esto atrelados ideia de movimento poltico construtor de uma identidade cultural. Com isso,
fica claro que a formao dos educandos estava estabelecida para torn-los aptos a exercerem atividades
que despertassem a mente e o fsico.
Desse modo, mediante a movimentao do sistema de ensino em implantar um currculo que
promovesse a ginstica, entendida como necessria, recomendada como fundamental para o
aperfeioamento dos sentidos humanos, meio para tornar os corpos dos alunos disciplinados, com correo
ortopdica e ordenados, tinha a inteno de desenvolver o padro esttico atravs da ao fsica.
A beleza do ensino expressada pela forma como os alunos se apresentavam era notria
principalmente em momentos cvicos durante os desfiles escolares. Neste sentido, alm de promover o
aperfeioamento do corpo atravs das atividades prticas e dos exerccios fsicos, segundo Vago (2002),
havia a cobrana da higiene para fazer nascer nas crianas uma sensibilidade corporal.
Destarte, a pesquisa dissertativa de Pykosz (2007) d maior clareza forma, como essa atividade
disciplinar de higiene foi constituda como matria de suma importncia para o currculo escolar, que passa a
vigorar a partir da viso instituda no pas, na dcada de 1920, com a realizao dos Congressos e
Conferncia Nacional de Educao que conduziram o currculo para essa rea, devido o pas estar passando
por processos de controle sanitrio, por causa das muitas epidemias surgidas nesse perodo.
A construo de uma rotina escolar, a partir da nfase na disciplina Higiene, tomava a forma na
constituio de um espao de formao com contedos especficos para o aprendizado do alunado. Nesse
sentido, Poykosz e Oliveira (2009), em A higiene como templo e lugar da educao do corpo: preceitos
higinicos no currculo dos grupos escolares do Estado do Paran veem o currculo escolar primrio, no que
se referia ao discurso da moralizao, higienizao e civilizao, um modelo de formao integral da infncia.
Para as autoras a higiene no currculo serviria para incorporar novos hbitos e costumes e ao
mesmo tempo disseminar valores num pas que comeava a assumir novas formas de sociabilidade.
Pelas consideraes de Damazio (2007), que concebe o espao escolar como uma construo
cultural, que expressa e reflete para alm de sua materialidade, as prticas escolares levavam os corpos dos
sujeitos apropriao espacial dos prdios que eram organizados para o desenvolvimento do corpo. Neste
sentido, segundo a autora, a fixao da disciplina Educao Fsica com o objetivo de desenvolver virtudes
patriticas, indica a preocupao de intelectuais e legisladores brasileiros com a constituio de uma cultura
em torno de prticas corporais.
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Mediante tais evidncias, a ideia gerada que os prdios dos Grupos Escolares estavam projetados
para trabalhar as estruturas fsicas tanto dos transeuntes que faziam parte de seu itinerrio como os alunos,
professores e administradores, atravs do currculo das disciplinas, quanto da populao externa. Pois, em
cidades como Par em Minas Gerais, que embora tivesse sinais de desenvolvimento, a populao no
esperava no incio do sculo XX a edificao de um prdio, comparado a um palcio, como relata Campos
(2009) quando trata do Grupo Escolar Torquato de Almeida construdo em 1914.
A pesquisa de Vago e Maciel (op.cit.), traz a clara impresso de que o ordenamento do espao
escolar com horrios, tempo para exerccio de cada atividade, beleza fsica e governabilidade era reproduzido
nos corpos dos alunos que aprendiam a moldar seu fsico atravs da ginstica e de um currculo que os
preparava para a vida social.
A ideia de o Grupo Escolar ser uma oficina de confeco de corpos e mentes faz parte da
construo imaginria difundida entre a populao que via na escola a oportunidade de as crianas
aprenderem a se comportarem, vestirem-se bem e serem educadas. Essa impresso era repassada por
muitas vezes atravs dos desfiles e eventos cvicos em que os alunos se apresentavam enfileirados, com
roupas bem alinhadas e movimentos sincronizados como descreve Silva (2010), ao contar a histria do Grupo
Escolar Padre Anchieta da cidade de Pilar do Sul SP, com sua presena marcante na sociedade pilarense.
Na reconstruo histrica da instituio escolar da cidade de Campus Grande-PR, Padilha e
Nascimento (2009), ao optarem pela busca de fontes primrias para a anlise do estabelecimento de ensino,
revelaram que a estrutura do sistema de ensino popularizado atravs da gratuidade do ensino para toda a
populao, fosse composta de ex-escravos ou imigrantes. E que essa deliberao estava condizente com a
articulao poltica e econmica da regio.
Segundo as autoras, a forma de ocupao do territrio nacional tambm oportunizou a implantao
do ensino na regio de Campus Grande, divulgando entre os estrangeiros, a ideia de pertencer nao
brasileira, projetando desse modo, o desenvolvimento do lugar.
A implantao do Grupo Escolar de Uberaba-MG, objeto de estudo de Guimares (2007), mostra
como a poltica educacional nacional foi desenvolvida em meio s manipulaes das oligarquias, movimento
ideolgicos liberais positivistas, fixao da burguesia e a ideia de classe. E como no Estado de Minas Gerais
as reformas educacionais realizadas se aproximaram do padro nacional. Segundo a autora, essa instituio
ao ser inaugurada provocou manifestaes polticas, expectativa da populao, mobilizou a imprensa,
chegando a ser nomeada de templo do bem, como ressalta a pesquisadora, revelando a forma positiva
como os Grupos Escolares eram criados.
Nota-se, portanto, que o sistema de ensino primrio no alvorecer da implantao da Repblica
encontrou nos Grupos Escolares a plataforma para o desenvolvimento e disseminao dos projetos liberais
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positivistas dos republicanos investidos no poder, mas precisavam de meios para fixarem as ideias de sua
revoluo, como apresentam as fontes histricas que abordam a histria das instituies escolares.
1.3. Trabalho docente na contemporaneidade dos grupos escolares
Embora os levantamos histricos indiquem a supremacia do modelo de educao primria, pautada
nos Grupos Escolares sob o padro de escolas isoladas e a efetivao de um paradigma educacional, voltado
para a consolidao dos ideais republicanos, nem tudo fu