O Futuro
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O Futuro
Jason e Sophie precisam enfrentar o inevitável: ao adotarem Paw Paw, um gato, suas
vidas mudarão. Não somente sua rotina como casal, mas também o modo como veem a
si mesmos muda e, no caso de “O Futuro”, filme dirigido pela multiartista Miranda July,
até mesmo a relação com o tempo, o espaço e a natureza também se modificam. Explico
melhor: Jason e Sophie decidem adotar um gato como um passo a mais no
relacionamento entre eles e, como o gato chegará em trinta dias na casa deles, eles
começam a se dar conta da responsabilidade que o mesmo lhes exigirá e pretendem
“aproveitar o tempo que lhes resta” para serem “eles mesmos” antes de serem estes
“outros” que viverão a vida deles pelo restante de seus dias.
Desta forma, Sophie, que trabalha como professora de dança para crianças, decide que
ela mesma criará coreografias que serão gravadas em vídeo e postadas imediatamente
no Youtube, enquanto Jason começa uma batalha voluntária para conscientizar as
pessoas sobre preservação ambiental. Se parece um mote de uma comédia romântica
excêntrica, pode se afastar, pois se trata de um trabalho que envolve experimentos
narrativos distantes dos romances açucarados hollywoodianos. As mudanças que os
personagens enfrentam tem toda cara de indie norte-americano, mas com uma
excentricidade que torna o trabalho de July pouco palatável até mesmo para públicos
acostumados à experiências do gênero.
Se as experiências do casal iniciam de forma despretensiosa, aos poucos, uma sensação
de “tudo é possível” começa a tomar conta quando (SPOILER ALERT) um dos
personagens consegue parar o tempo (!) antes de uma certa revelação sobre o outro
personagem, travar um diálogo com a Lua (isso mesmo, com o satélite do planeta
Terra!!) e, em certo momento, até mover as ondas do mar (!!!). Apesar dos elementos
fantásticos / sci-fi aparecerem sem aviso na narrativa – e talvez justamente por isso -, a
experiência de assistir a “O Futuro” seja necessária mais de uma vez para compreender
os simbolismos trazidos por July ao seu público para não ser tomada de forma leviana.
Pois me pareceria simplista acreditar que o modelo aristotélico permeado de momentos
“pista-recompensa” de Syd Field e outros escritores de manuais de roteiro dê conta das
experiências e surpresas que July deseja proporcionar ao espectador: torná-lo cúmplice
de um universo narrativo particular em que tudo que os personagens não poderiam fazer
no mundo concreto de uma hora para outra começam a acontecer sem aviso de entrada
nem de saída. Talvez um dos poucos poréns que teria nesta primeira visita ao universo
de July seria sobre as “intervenções” do gato Paw Paw entre as cenas, que, além de
acrescentarem muito pouco ao que estamos interessados em assistir, quebram o ritmo da
narrativa de forma excessiva e desnecessária.
Em suma, nesta crítica, considero “O Futuro” uma experiência narrativa que estende a
mão para o espectador a fim de convidá-lo a conhecer outros modos de contar histórias,
mas que também precisa de sua paciência e ousadia para que consiga mergulhar de
forma completa nas possibilidades (e principalmente, limitações) que sua autora propõe.
Nota: 3 estrelas.