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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Erika Maria Jeronymo Gomes Jéssica de Souza Santos Mônica Aparecida Rodrigues O “FICAR” COMO VÍNCULO PARA OS ADOLESCENTES E SUAS INTERVENIÊNCIAS NAS INTERAÇÕES SOCIAIS LINS - SP 2016

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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Erika Maria Jeronymo Gomes

Jéssica de Souza Santos

Mônica Aparecida Rodrigues

O “FICAR” COMO VÍNCULO PARA OS

ADOLESCENTES E SUAS INTERVENIÊNCIAS

NAS INTERAÇÕES SOCIAIS

LINS - SP

2016

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ERIKA MARIA JERONYMO GOMES

JÉSSICA DE SOUZA SANTOS

MÔNICA APARECIDA RODRIGUES

O “FICAR” COMO VÍNCULO PARA OS ADOLESCENTES E SUAS

INTERVENIÊNCIAS NAS INTERAÇÕES SOCIAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia, sob a orientação do Professor Mestre Rodrigo Feliciano Caputo e orientação técnica da Professora Mestra Jovira Maria Sarraceni.

LINS - SP

2016

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Gomes, Erika Maria Jeronymo; Santos, Jéssica de Souza; Rodrigues, Mônica Aparecida.

O “ficar” como vínculo para os adolescentes e suas interveniências nas interações sociais / Erika Maria Jeronymo Gomes; Jéssica de Souza Santos; Mônica Aparecida Rodrigues – – Lins, 2016.

92p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2016.

Orientadores: Jovira Maria Sarraceni; Rodrigo Feliciano Caputo

1. Ficar. 2. Adolescência. 3.Laços Emocionais.4. Vínculo.I Título.

CDU 159.9

G613f

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ERIKA MARIA JERONYMO GOMES

JÉSSICA DE SOUZA SANTOS

MÔNICA APARECIDA RODRIGUES

O “FICAR” COMO VÍNCULO PARA OS ADOLESCENTES E SUAS

INTERVENIÊNCIAS NAS INTERAÇÕES SOCIAIS

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovada em: 07 de dezembro de 2016

Banca Examinadora:

Professor Orientador: Rodrigo Feliciano Caputo

Titulação: Mestre em Psicologia Social

Assinatura: ________________________________

1º Professor (a): Ana Elisa S. Barbosa de Carvalho

Titulação: Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento

Assinatura: ________________________________

2º Professor: Oscar Xavier de Aguiar

Titulação: Mestre em Psicologia Clínica

Assinatura: ________________________________

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Para minha família, mãe, pai, irmãs e minha avó Leosina (in memorian)

sem vocês eu não teria chegado até aqui. Aos meus amigos, em especial a

Juliana e a Viviane que sempre se mostraram dispostas a me ouvir e

aconselhar. E principalmente a um anjo chamado Benício, que surgiu em meu

caminho e me deu forças para continuar. Agradeço também ao meu amor

Carlos, por toda compreensão e companheirismos nesses cinco anos de

faculdade e por último mais não menos importante a minhas amigas de tcc

Mônica e Jéssica (Ogra), que foram um presente recebido da faculdade e

juntas conseguimos finalizar essa empreitada.

Erika

Á minha mãe que com seu jeito doce e afável nunca me deixou desistir ,

com quem pude desabafar em dias que a vontade de desistir foi grande. Ao

meu pai, meus irmãos que foram sempre cuidadosos comigo, minha cunhada,

meu namorado que me ajudou quando precisei meu amado sobrinho e as

minhas amigas e companheiras de trabalho, pois sem a ajuda de vocês o

trajeto seria mais difícil.

Mônica Ap. Rodrigues

Dedico o presente trabalho aos meus familiares, em especial meus pais,

avós e irmão que me ajudaram em todo o processo de formação, auxiliando,

apoiando e me incentivando a seguir em frente. Também o dedico às minhas

colegas de TCC pela compreensão e pelos momentos únicos e preciosos de

aprendizado.

Jéssica Souza

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus, a nossa família que sempre esteve

presente em nossa jornada e sem eles nada disso seria possível. Ao nosso

amigo de sala Rafael, que sempre esteve à disposição para ajudar. Ao corpo

docente do curso de psicologia do Salesiano em especial á: Ana Elisa, Paulo,

Elizethe, Gislaine, Luiz Carlos, Maurício (in memorian), Agnaldo, Oscar,

Andréia, José Ricardo, Liara e todos os outros que contribuíram para nossa

formação. Nossa eterna gratidão ao nosso orientador Rodrigo Caputo que

sempre esteve presente nos incentivando e nos guiando durante essa jornada,

nossa gratidão também à professora de metodologia Jovira Sarraceni que com

seu jeito paciencioso e competente nos deu segurança quando pensamos que

nada mais daria certo.

Erika, Jéssica e Mônica.

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo pesquisar sobre a visão dos

adolescentes acerca do “ficar”. A princípio utilizou-se pesquisas bibliográficas

para melhor compreensão da temática e posteriormente iniciou-se o trabalho

de campo com o intuito de coletar dados suficientes para entender o tipo de

vínculo presente nessa modalidade de relacionamento, e suas interveniências

no meio social. Para isso, foram feitas entrevistas individuais, com um

questionário semiestruturado, o qual permite maior flexibilidade nas perguntas

e respostas. Fez-se uso da roda de conversa antes da entrevista propriamente

dita, em um dia diferente, a fim de proporcionar um ambiente melhor para

discussões e exposições de assuntos pessoais posteriormente. Participaram

das entrevistas seis alunos com idades entre 14 e 17 anos, de ambos os

sexos, de uma escola do município de Cafelândia-SP. As entrevistas foram

analisadas por meio da Análise de Conteúdo de Bardin (1977), resultando nas

seguintes categorias: pego não nego, sublimo se puder; fora da minha casinha,

não por acaso; o que curto no outro; olhar líquido e o laço que quer se formar e

logo é desfeito. Dentre as interveniências encontradas, destacou-se a

influência da família e da religião assim como diferenças no que se refere a

questão de gênero quanto ao “ficar”, já que notou-se a diferença de olhares

para os sexos quanto a mesma prática. Concluiu-se com a pesquisa em

questão, que o que Bauman (2004) traz como ideia de amor líquido de fato

acontece entre os entrevistados, ou seja, afrouxa-se os laços para que fique

fácil de sair sem maiores danos, percebeu-se também a angústia

proporcionada por tal modalidade, na qual há de certa forma mais liberdade e

ao mesmo tempo menos segurança como Freud (2011) diz em seu livro “Mal

estar na civilização”.

Palavras chaves: Adolescência. Ficar. Laços Emocionais. Vínculo.

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ABSTRACT

The objective of this study was to investigate the adolescents' view of

"staying". At first, bibliographical research was used to better understand the

theme and later the field work was started with the intention of collecting

enough data to understand the type of relationship present in this mode of

relationship and its interventions in the social environment. For this, individual

interviews were conducted, with a semi-structured questionnaire, which allows

greater flexibility in questions and answers. The talk wheel was used before the

interview itself, on a different day, to provide a better environment for

discussions and expositions of personal matters later. Six students aged

between 14 and 17, of both sexes, participated in the interviews of a school in

the municipality of Cafelândia-SP. The interviews were analyzed through

Bardin's Content Analysis (1977), resulting in the following categories: I do not

deny, I sublime if I can; Out of my house, not by chance; What short in the

other; Liquid look and the tie that wants to form and soon is undone. Among the

interventions found, the influence of family and religion as well as gender

differences in "staying" was highlighted, since the difference in gender views

regarding the same practice was noted. It was concluded with the research in

question that what Bauman (2004) brings as an idea of net love actually

happens among the interviewees, that is, loosens the bonds so that it is easy to

leave without major damages, it was also noticed the anguish Provided by such

modality, in which there is in some way more freedom and at the same time

less security as Freud (2011) says in his book "Malaise in civilization."

Keywords: Adolescence. Stay With. Emotional Ties. Personal Bond.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

OMS – Organização Mundial de Saúde

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12

CAPÍTULO I - A ADOLESCÊNCIA, SUA HISTÓRIA, CONCEITO E

CARACTERÍSTICAS ........................................................................................ 14

1 A ADOLESCÊNCIA ATRAVÉS DOS SÉCULOS: CONSIDERAÇÕES

SOBRE A ADOLESCÊNCIA DA IDADE ANTIGA, MÉDIA, MODERNA E PÓS-

MODERNA. ...................................................................................................... 14

2 O CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS: UMA

CONCEPÇÃO BIOPSICOSSOCIAL ................................................................ 18

2.1 Puberdade ............................................................................................. 19

2.2 Interferências Sociais ............................................................................. 20

CAPÍTULO II - AMOR LÍQUIDO E O “FICAR” ................................................ 22

1 MODERNIDADE LÍQUIDA E AS RELAÇÕES HUMANAS ....................... 22

2 AMOR: CONCEITO E HISTÓRIA ........................................................... 26

2.2 O amor na atualidade .............................................................................. 28

3 O “FICAR” .............................................................................................. 29

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ..................................................................... 32

1 PESQUISA E METODOLOGIA ................................................................. 32

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................... 32

3 PARTICIPANTES DA PESQUISA E COLETA DE DADOS ................... 34

4 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................. 35

4.1 Análise de Conteúdo ............................................................................... 35

CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................... 38

1 PEGO NÃO NEGO, SUBLIMO SE PUDER............................................ 38

1.1 O prazer é todo meu ............................................................................... 40

2 FORA DA MINHA CASINHA, NÃO POR ACASO ................................. 42

2.1 Periguetes e Garanhões: discrepâncias entre gênero ............................ 43

2.1.1 Igreja e Família ....................................................................................... 44

3 O QUE CURTO NO OUTRO ...................................................................... 45

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3.1 O que os olhos veem o coração não sente ............................................. 45

4 OLHAR LÍQUIDO ................................................................................... 46

5 O LAÇO QUE QUER SE FORMAR E LOGO É DESFEITO................... 47

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..................................................................... 50

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 51

APÊNDICES ..................................................................................................... 58

ANEXO ............................................................................................................. 64

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INTRODUÇÃO

Trazer uma pesquisa na qual se trata de uma forma de relacionamento

muito comum entre jovens e adolescentes, remete-nos a uma área pouco

explorada e que necessita de estudos que colaborem para o entendimento

integral do adolescente e suas relações. A partir dai surgiu a curiosidade para

pesquisar sobre o tema.

O presente trabalho tem como objetivo explorar essa forma de

relacionamento, para melhor entender as interveniências sociais que o “ficar”

desencadeia, bem como outras questões que rodeiam a temática.

A teoria do sociólogo polonês Zigmmunt Bauman, na qual retrata o

mundo atual como líquido e sem segurança foi usado para nortear o estudo,

bem como os conceitos descritos por Freud. Bauman nos remete a uma

modernidade líquida onde a insegurança, o consumismo e a falta de ideologias

reinam. Sendo assim, foi possível identificar alguns aspectos nas entrevistas,

que estão dentro dessa realidade. (BAUMAN, 2001).

Bem como a modernidade liquida, o amor líquido foi utilizado como

suporte para a presente pesquisa. O amor líquido, conceito também construído

por Bauman, trata da fragilidade dos vínculos humanos, na pós-modernidade.

Evita-se a espera pela satisfação dos desejos. Como tudo no mundo

tecnológico (que possibilita o encurtamento das distancias e as satisfações

imediatas dos desejos), fazendo com que, as pessoas inseridas nesse

contexto, passem a “[...] evitar que um parceiro exija mais benefícios do que o

encontro episódico permite”. (BAUMAN, 2004, p. 72).

Por meio das respostas dos adolescentes entrevistados, procurou-se

compreender o que significa essa forma de se relacionar para os mesmos,

quais as interveniências encontradas por meio do “ficar” e que tipo de vínculo

encontra-se nessa modalidade.

Os dados foram coletados através de entrevistas baseadas em um

questionário semiestruturado que permitem maior flexibilidade na elaboração

das perguntas, as quais foram devidamente analisadas por meio da Análise de

Conteúdo de Bardin, pois assim, seria possível realizar uma análise qualitativa

mais efetiva.

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As entrevistas individuais foram realizadas depois de um contato no qual

se fez uma roda de conversa, a fim de criar determinado vínculo com os

adolescentes que previamente assinaram todos os termos necessários. Foram

seis entrevistados, com idades entre 14 e 17 anos.

No primeiro capítulo, discorreu-se sobre a adolescência através dos

tempos, bem como na pós-modernidade, e o conceito de adolescência de

acordo com uma visão biopsicossocial.

O segundo capítulo tratou do amor líquido e o “ficar”, bem como sobre a

modernidade líquida e as relações humanas, sobre o amor em sua totalidade,

dentro da psicologia e na atualidade.

No terceiro tratou-se da metodologia. Escreveu-se sobre todos os

passos utilizados na realização da pesquisa, a coleta e a Analise.

Por fim, no quarto capítulo, fez-se a análise, utilizando as entrevistas

transcritas de forma fiel e pesquisas bibliográficas com o intuito de fazer uma

articulação entre os resultados obtidos em campo e a teoria anterior e

posteriormente pesquisada.

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CAPÍTULO I

A ADOLESCÊNCIA, SUA HISTÓRIA, CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

1 A ADOLESCÊNCIA ATRAVÉS DOS SÉCULOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADOLESCÊNCIA DA IDADE ANTIGA, MÉDIA, MODERNA E PÓS-MODERNA.

Na Grécia antiga, os adolescentes são vistos pelo viés de sua agitação e

impulsividade.

“... os jovens eram submetidos a um verdadeiro adestramento, cujo fim seria inculcar-lhes as virtudes cívicas e militares. Aos 16 anos, podiam falar nas assembleias. A maioridade civil era atingida aos 18 anos, ocasião em que eram inscritos nos registros públicos da cidade” (GROSSMAN, 1998, apud FERREIRA, FARIA, SILVARES, 2010, p.122).

Durante a idade média, segundo o autor francês Ariès (1978), não havia

distinção entre criança e adulto. A infância estava ligada a dependência, os

indivíduos que já não necessitavam de cuidados constantes da mãe e resistiam

a alta taxa de mortalidade, eram ingressados no mundo do adulto, participando

das atividades, crenças e valores que tal mundo propunha e que

posteriormente iriam ser concretizados. Como se pode ver em obras da época,

as crianças eram tratadas como adultos em miniatura.

A fase que, atualmente, denomina-se adolescência, ao que parece, era

pouco reconhecida até o século XVIII: Tinham essa fase como um período

jovial de força, no qual não se conhecia o conceito de adolescência e tudo que

nela se emprega atualmente. “Até o século XVIII, a adolescência foi confundida

com a infância” (ARIÈS, 1978, p. 10). Isso acontecia, pois não havia

consciência do inicio da adolescência pela puberdade.

De acordo com o autor supracitado a adolescência passa a ser instituída

como fase do desenvolvimento, só durante o século XVIII, época do iluminismo

e de toda sua racionalização, onde a educação começou a ser tratada como

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algo mais significativo na construção do indivíduo, até então, não havia sequer

distinção entre idades nas escolas.

Já no século XIX, os papéis começaram a ser redefinidos. A infância era

tratada como uma fase privilegiada do desenvolvimento, os adolescentes

homens tinham a fase marcada pela primeira comunhão, e pelo bacharelado

ou serviço militar, por sua vez, as mulheres além da primeira comunhão

focavam-se no casamento e maternidade.

Durante o século XX, viu-se a necessidade de estudar esta etapa da

vida do indivíduo:

O primeiro adolescente moderno típico foi o Siegfried de Wagner: a música Siegfried pela primeira vez exprimiu a mistura de pureza (provisória), de força física, de naturismo, de espontaneidade e de alegria de viver que faria o adolescente o herói do nosso século XX, século da adolescência. Esse fenômeno, surgindo na Alemanha wagneriana, penetraria mais tarde na França, em torno dos anos 1900. “A juventude”, que então era a adolescência, iria tornar-se um tema literário, e uma preocupação dos moralistas e dos políticos. Começou-se a desejar saber seriamente o que pensava a juventude, e surgiram pesquisas sobre ela, como as de Massis ou de Henriot. A juventude apareceu como depositária de valores novos, capazes de reavivar uma sociedade velha e esclerosada. (ARIÈS, 1978, p.14).

A adolescência por si já é normalmente um período complicado, de

suma importância, que carrega consigo mudanças psíquicas, físicas e sociais

grandes. Além disso, o adolescente do século XXI tem de lidar também com a

chamada “pós-modernidade” ou “modernidade liquida”, termo esse o qual o

sociólogo polonês Zygmunt Bauman irá aplicar a época em que se vive

atualmente:

O que todas as características dos fluídos mostram, em linguagem simples, é que os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantém sua forma com facilidade. Os fluídos, por assim dizer, não fixam o espaço nem prendem o tempo. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou o tornam irrelevante), os fluídos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a muda-la; assim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca ocupar, espaço que, os sólidos suprimem o tempo; para os líquidos, ao contrário, o tempo é o que importa. Ao descrever os sólidos, podemos ignorar inteiramente o tempo;

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ao descrever os fluídos, deixar o tempo de fora seria um grave erro. Descrições de líquidos são fotos instantâneas, que precisam ser datadas. (BAUMAN, 2001, p. 8)

A pós-modernidade como indica Bauman (2001),consiste-se no período

que sucede a modernidade, como o próprio nome já diz, e que traz em si um

período marcado pela instantaneidade e não durabilidade. Há depois da queda

dos “ismos” (capitalismo, socialismo, anarquismo), incertezas grandiosas.

Existe uma liberdade grande em “quem ser” hoje em dia. Antigamente,

quando um indivíduo nascia, tinha ali praticamente sua identidade definida. Se

fosse filho de um médico, médico seria. Isso não acontece hoje em dia,

salvando os casos em que são obrigados a seguir determinada carreira, os

adolescentes podem ser o que quiserem, tem liberdade para escolher uma

carreira, ideologia, religião ou não religião.

Como Freud (2011) diz em seu clássico “O mal estar na civilização”, não

se pode ter liberdade e segurança em quantidades satisfatórias

reciprocamente. Nos séculos passados, havia segurança em maior quantidade,

porém, gozavam de pouca liberdade, obviamente, o individuo pós-moderno

usufrui de liberdade, em contrapartida, abre mão de mais segurança.

A globalização nos trouxe a praticidade de nos comunicar com o mundo

todo em questão de segundos, enviar documentos, fotos, nos locomover com

muita facilidade, ou seja, tudo acontece de forma rápida e muitas vezes

instantânea. A instantaneidade do mundo pós-moderno vai desde uma simples

refeição preparada em três minutos, até relacionamentos interpessoais.

Atualmente, o velho é tratado como ultrapassado como Bauman (2001)

sugere em seu livro sobre a modernidade líquida. Em um mundo onde tudo se

dá muito rápido, as pessoas inseridas na sociedade de consumo, precisam

buscar por novidades o tempo todo, sentem-se na necessidade de sempre ter

as melhores e mais tecnológicas invenções, a fim de se satisfazerem

rapidamente, evitando assim frustrações. Indivíduos que não conseguem

acompanhar tal sociedade extremamente consumista e amedrontada pelo

fantasma da frustração, são vistos como ultrapassados.

As identidades antigas vêm se desfazendo, dando assim, lugar para

outras mais atuais. Levando em consideração que “sujeito” para Stuart Hall é

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usado para se referir ao desenvolvimento da identidade cultural, o mesmo traz

três entendimentos a respeito da identidade: sujeito do iluminismo, cujas

características giram em torno da racionalidade e do seu “Eu” centrado na

identidade de uma pessoa; sujeito sociológico, que não tem autonomia ou

autossuficiência, sua identidade era então construída por pessoas próximas e

de importância para o indivíduo (identidade formada entre Eu e a sociedade); e

sujeito pós-moderno:

Pós-moderno: as identidades, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as necessidades objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação tornou-se mais provisório, variável e problemático. O sujeito pós-moderno não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. O sujeito assume identidades em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um Eu coerente. À medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar, ao menos temporariamente. (HALL, 1991, apud PALADINO, 2005, p. 28).

Tendo em vista sua experiência na psicologia clínica, Paladino (2005),

afirma que o adolescente do mundo atual, mostra-se sem visão de futuro,

indiferente quanto às questões que lhe cerca e desmotivado quando se trata de

construir sua individualidade na sua vida como um todo. Ao mesmo tempo em

que o mundo capitalista e pós-moderno exalta a juventude, a falta de

oportunidades de empregos serve como gerador de perspectivas pobres.

Diferentemente dos jovens de outras épocas, mais especificamente nas

décadas de 60 e 70, que tinham uma postura questionadora, que se contra

posicionavam as regras sociais impostas, os jovens de hoje pouco se

posicionam ou colocam em dúvida questões relacionadas à sociedade ou até

mesmo ao seu ambiente familiar.

A globalização trouxe consigo informações demasiadas e contatos

exagerados com dados e estímulos dos quais não há segurança alguma de

que tais coisas serão absorvidas e entendidas pelos jovens em questão. A

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velocidade exacerbada em que tudo isso acontece, também cria barreiras para

o entendimento crítico e é geradora de insegurança.

A respeito da independência e liberdade gozada pelos adolescentes de

hoje, bem como a igualdade de direito, que são fundamentos da democracia

Paladino (2005) afirma:

A liberdade da decisão e igualdade de direitos, propostos básicos da democracia, têm na prática de hoje em dia matrizes de abandono e desamparo. A múltipla escolha e a comunicação imediata e rápida trazem uma fantasia de independência que parece pouco amadurecida. Esta não é uma questão dos adolescentes, mas refere-se à dinâmica deste momento. O impacto nos jovens talvez seja mais visível. Permanece na fantasia de todos, porém, a imagem idealizada de um adolescente com poder de ação e decisão que explicite anseios de toda uma sociedade. Os encargos seriam muitos, já que hoje os desafios são maiores: conquistar a autonomia pessoal e financeira, especialmente na classe média, depende de uma formação profissional consistente e persistente. Os ideais dos adolescentes parecem repletos de incertezas (PALADINO, 2005, p. 150).

2 O CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS:

UMA CONCEPÇÃO BIOPSICOSSOCIAL

Adolescência vem do latim adulescens ou adolescens – particípio

passado do verbo adolescere, que significa crescer, assim o conceito de

adolescência é um período particular da vida do ser humano, marcado pela

transição da infância para a vida adulta, conforme apontado acima, vindo a ser

recente na história da humanidade. (MOTTA, 2010).

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n·

8.069/90, o período da adolescência vai dos 12 aos 18 anos de idade, já a

Organização Mundial a Saúde (OMS) classifica como sendo dos 10 aos 19

anos de idade. (FERREIRA, 2005).

Percebe-se que há uma divergência entre autores diante do conceito de

adolescência. Para o senso comum é marcada como sendo uma fase

caracterizada pelas crises, rebeldias e aborrecimentos. É comum ouvir o termo

“aborrecente”, caracterizando assim, o adolescente como um indivíduo difícil de

lidar.

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Para Freud (1996), durante a infância se dá a fase pré-genital, onde a

criança possui uma auto-erotização e sua libido é direcionada para o próprio

corpo.Já na fase genital, compreendida entre os 11 e 12 anos de idade,

acontece da organização sexual completa e o desejo sexual genitalizado

acontece, o adolescente então começa a buscar um objeto sexual fora de seu

corpo.

2.1 Puberdade

A máxima entre muitos autores é de que adolescência não se da de

maneira isolada, ela é como nomeia Levisky uma “revolução biopsicosocial”

(1995, p. 27).

A adolescência se dá durante o desenvolvimento do individuo. O

processo é marcado pela transição do estado de criança para o estado de

adulto. Características como: expressividade, comportamentos e traços

psicológicos, irão se manifestar de acordo com a cultura e o meio social em

que o adolescente está inserido. (LEVISKY, 1995).

As mudanças biológicas no corpo do adolescente se dão através da

puberdade, esse fenômeno ocorre de maneira universal. No menino ocorre o

aumento dos testículos, aparecem os pelos pubianos e o aumento e

engrossamento dos pelos corporais, aumento peniano e o ganho de massa

muscular. Na menina ocorre o crescimento dos seios, crescimento dos pelos

pubianos, alargamento dos quadris e a primeira menstruação.

Segundo Osório (1989), a puberdade é finalizada por volta dos dezoito

anos juntamente com o crescimento físico, o amadurecimento dos órgãos

reprodutores e o fim do crescimento esquelético.

Porém deve-se ter cuidado para que não se confunda puberdade com

adolescência, uma vez que a puberdade é um processo que se dá dentro da

adolescência, mas depende exclusivamente de fatores biológicos e a

adolescência tem natureza sócio-cultural. (OSÓRIO, 1989).

Segundo Aberastury e Knobel (1981), o adolescente atravessa três

lutos: luto pela identidade perdida; luto pelos pais da infância e luto pelo corpo

infantil. A puberdade é a responsável pelo último luto.

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A perda que o adolescente deve aceitar ao fazer o luto pelo corpo é dupla: a de seu corpo de criança, quando caracteres sexuais secundários colocam-no ante a evidência de seu novo status e o aparecimento da menstruação na menina e do sêmen no menino, que lhes impõem o testemunho da determinação sexual e do papel que terão que assumir, não só na união com o parceiro, mas também na procriação. (ABERASTURY e KNOBEL, 1981, p. 14).

Definido seu papel na procriação, as mudanças psicológicas vem à tona,

tem de acontecer à abnegação pela sua condição infantil e pelo trato infantil, já

que tal tratamento neste momento se torna motivo de zombaria. A maturidade

psicológica traz consigo um amadurecimento nos campos afetivos e

intelectuais, que segundo Aberastury e Knobel (1981) são essenciais para que

o jovem adentre neste mundo adulto, tão temido e desejado pelo mesmo.

Aberastury e Knobel (1981) afirma que o fenômeno da adolescência

deve ser considerado “especifico dentro de toda história do desenvolvimento do

ser humano” (p. 24). O autor traz o conceito de “síndrome normal da

adolescência” e para definir esse conceito leva em conta que normalidade varia

de acordo com o meio social, político e cultural que esse adolescente está

inserido e traz a fala de Anna Freud:

(...) é muito difícil assinalar o limite entre o normal e o patológico na adolescência, e considera que, na realidade, toda a comoção deste período da vida deve ser considerado como normal, assinalando também que seria anormal a presença de um equilíbrio estável durante o processo do adolescente. (FREUD, 1958, apud ABERASTURY e KNOBEL, 1981, p.27).

Sendo assim as principais características do desenvolvimento

psicológico da adolescência seriam: busca de identidade, busca essa que

consome grande parte da energia do adolescente; formação de grupos; crises

religiosas; carência de fantasiar e intelectualizar; evolução sexual; oscilação

constante de humor; manifestação de conduta contraditória; afastamento dos

pais; deslocalização temporal e uma tomada de atitude social reivindicatória.

(ABERASTURY e KNOBEL, 1981).

2.2 Interferências Sociais

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Como já salientado acima, a puberdade é parte da adolescência e tem

fundo biológico, porém a adolescência propriamente dita é “fundamentalmente

psicossocial” (LEVISKY, 1995, p. 29).

Osório (1989) diz que a família tem função socializadora, e será ela a

fazer o intermédio entre o adolescente e a sociedade, mas como colocado por

Aberastury e Knobel (1981) essa intermediação geralmente é de difícil lida,

pois a adolescência é um processo delicado também para os pais, que tem de

lidar com à “genitalidade e à livre manifestação da personalidade que surge

dela” (p.14), têm de elaborar o luto pelo filho criança, desenvolver uma relação

de adulto com o filho que cresceu e vê no filho crescido, um reflexo de sua

velhice, de seus fracassos ou sucessos.

Aberastury e Knobel (1981) evidenciam assim o impacto que o meio

social tem sobre o adolescente: “O problema mostra assim o outro lado,

escondido até hoje debaixo do disfarce da adolescência difícil: é o de uma

sociedade difícil...” (p. 16).

Segundo Levisky (1995), a sociedade sempre deu o significado social

para a aquisição da capacidade reprodutora. Na sociedade atual o caminho

para a aquisição da condição adulta é difícil, uma vez, que o jovem deve

assumir seu destino, tarefa essa muito penosa se observarmos o cenário

“sociopolítico-econômico que as sociedades contemporâneas estão

atravessando” (p. 27).

O meio social com suas culturas e tradições, estabelecem muitas

condições para que o adolescente chegue ao estágio de adulto, prolongando

cada vez mais essa fase do desenvolvimento. O jovem tem que confrontar os

aspectos sociais, políticos, filosóficos, religiosos, econômicos e profissionais,

além do processo afetivo.

A sociedade contemporânea se caracteriza pela carência de rituais que

marquem essa transição. Mas “independente do contexto sociocultural, a

adolescência sempre será um período de crise e desequilíbrio” (LEVISKY,

1995, p. 31).

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CAPÍTULO II

AMOR LÍQUIDO E O “FICAR”

1 MODERNIDADE LÍQUIDA E AS RELAÇÕES HUMANAS

Como fora dito no capítulo anterior, vive-se em uma modernidade

líquida, termo adotado pelo sociólogo Bauman (2001), e que veio depois do

conceito de pós-modernidade anteriormente utilizado pelo mesmo. Tal mundo

líquido vivido atualmente têm reflexos em diversos campos, inclusive no que se

refere às relações humanas, também sofrendo influências da liquidez moderna

juntamente com a cultura, ética, ideologias, etc.

Em um mundo no qual consumir é o que se deve fazer para se manter

dentro da sociedade de consumo, e que bens materiais são usados também

como válvula de escape e para suprir a necessidade de um vazio existencial

cada vez maior, Fromm relata:

Em resumo, consumir é uma forma de ter, e talvez a mais importante da atual sociedade abastada industrial. Consumir apresenta qualidades ambíguas: alivia ansiedades, porque o que se tem não pode ser tirado; mas exige que se consuma cada vez mais, pois o consumo anterior logo perde a sua característica de satisfazer. Os consumidores modernos podem identificar-se pela fórmula: Eu sou = o que tenho e o que consumo (FROMM, 1987, p. 45).

O modo “ter” que o autor se refere, empobrece as relações sociais

expressivamente, já que, faz com que valores sejam definidos a partir do que

uma pessoa possui em bens de consumo ou as tratando como os próprios

bens de consumo. “A pessoa não se preocupa com sua vida e felicidade, mas

em tornar-se vendável” (FROMM, 1983, p. 72), atribuindo assim, às pessoas,

preço.

Quando se trata do ambiente profissional, o “ter”, ao contrário do “ser”

(que requer o entendimento de cada um como singular), empobrece as

relações por conta da competitividade, falta de habilidades em conjunto e

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deslealdade, fazendo com que os inseridos no ambiente de trabalho dotado de

tais características, sejam expostos a isso.

A modernidade líquida traz consigo o desejo por liberdade que já vem

sendo conquistada aos poucos, porém afirma Bauman (2001) que a liberdade

sem precedentes que nossa sociedade oferece a seus membros chegou, como

há tempo nos advertia Leo Strauss, e com ela também uma impotência sem

precedentes. Sentir a tal liberdade quer dizer não sentir o gosto da dificuldade,

empecilho ou qualquer outra coisa na qual impossibilite ou dificulte a

movimentação desejada, bem como não imaginar muito além dos nossos

desejos, sendo que nem um dos dois supere nossa qualidade de ação.

O ser pós-moderno é incapaz de parar, ou seja, vamos nos movendo,

afim de buscar a satisfação que de certa forma é impossível de alcançar, já que

a consumação dessa satisfação está sempre no futuro, pois, a partir do

momento em que alcanço o que almejo, automaticamente perde-se a atração

em tal coisa, quando não, antes mesmo de alcança-la.

Além disso, a fragmentação fez com que o que era visto de forma

coletiva, se tornasse responsabilidade individual. Grandes líderes não se

encontram mais em exercício para que possam além de aliviar o peso da

responsabilidade, dizer-lhes o que fazer. Bauman (2001) traz que, atualmente,

observa-se os problemas e resoluções alheias para que possam servir de

exemplos para os próprios problemas já que “... como os deles, devem ser

enfrentados individualmente e só podem ser enfrentados individualmente [...] e

que a vida é cheia de riscos que devem ser enfrentados solitariamente”. (p.42).

A individualização não é uma escolha e sim algo que aconteceu sem

deliberação. Segundo Bauman (2001), é impossível escapar desse processo

de individualização, processo esse que tanto hoje em dia quanto nos tempos

sólidos, não se escolhe, ou seja, é uma fatalidade. Querer escapar da

individualização é tão ilusório quanto à autossuficiência e autocontenção que

os cidadãos pensam ter. Os acontecimentos são os mesmos, porém, a forma

com que lidam são individuais.

A liberdade acaba sendo mais frustrante do que se imaginava, por conta

da impotência experimentada:

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Há um desagradável ar de impotência no temperado caldo da liberdade preparado no caldeirão da individualização; essa impotência é sentida como ainda mais odiosa, frustrante e perturbadora em vista do aumento de poder que se esperava que a liberdade trouxesse. (BAUMAN, 2001, p. 48).

O indivíduo é diferente do cidadão, este último alegra-se e busca

satisfação a partir do bem estar em comum e com a cidade em que vive, já o

indivíduo busca satisfação pessoal.

Se o indivíduo é o pior inimigo do cidadão, e se a individualização anuncia problemas para a cidadania e para política fundada na cidadania, é porque os cuidados e preocupações dos indivíduos enquanto indivíduos enchem o espaço público até o topo (BAUMAN, 2001, p. 51).

Há muito mais indivíduos do que cidadãos, ou seja, a satisfação vem da

realização pessoal e não tem muito a ver com o bem em comum. Assim, as

relações sociais foram se modificando, dando-lhes uma face pós-moderna.

Hoje em dia, é possível que se tenha dois mil amigos no “facebook”, porém,

que não conheça nenhum. Compartilham-se intimidades com pessoas que

sequer construíram algo sólido para o compartilhamento de tais fatos íntimos.

Compartilhar intimidades, como Richard Sennett insiste, tende a ser o método preferido, e talvez o único que resta de “construção da comunidade”. Essa técnica de construção só pode criar “comunidades” tão frágeis e transitórias como emoções esparsas e fugidias, saltando erraticamente de um objetivo a outro na busca sempre inconclusiva de um porto seguro: comunidades de temores, ansiedades e ódios compartilhados (SENNETT, 1998, apud BAUMAN, 2001, p. 51)

A facilidade de se desconectar do indivíduo a partir do momento em que

o mesmo já não me tenha serventia ou que já não esteja agradando, é

tamanha que, desfaz-se uma amizade em um clique. Cenário muito diferente

do encontrado em tempos que não gozavam de tamanha tecnologia.

Bauman (2001) relata que no momento atual, não se conserta mais as

coisas, mas sim, as trocam. É mais cômodo jogar um objeto quebrado fora e

substituí-lo por uma peça nova. Isso demanda menos tempo e trabalho. Porém,

pouco se pensa a respeito da diferença entre laços humanos e objetos

quebrados. As relações se constroem, não vem prontas e não são tão

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facilmente substituídas a medida que não têm mais serventia. Os laços e

relações acabam sendo tratados e avaliados como coisas a serem

consumidas.

As relações familiares são instáveis bem como a maioria das relações

pós-modernas, os casamentos são feitos e desfeitos e as famílias atuais,

normalmente são compostas por pedaços de outras famílias que se

desfizeram. “... casa-se e descasa-se o tempo todo. A família hoje é quase

sempre feita de cacos de famílias anteriores, impondo desafios de convívio

entre lares recompostos” (CORSO e CORSO, 2011, p. 373).

A família atual é unida por casais que buscam “relações íntimas e

satisfação sexual” e acima de tudo a realização pessoal. A família pós-moderna

não tem tempo a perder e cada indivíduo inserido na tal família tem a

necessidade de usar o tempo que tem em busca de realização pessoal e é

tratado como prioridade máxima.

Na medida em que essa família mostra suas limitações para cumprir tais objetivos, ela vai sendo desfeita e refeita inúmeras vezes ao sabor desses ideais. Novas frustrações só significam renovadas esperanças, de tal modo que cada núcleo familiar funciona como depositário de expectativas e desilusões constantes. Esse sistema se retroalimenta, pois, para os envolvidos em seus dramas, embora esses rompimentos sejam sempre sofridos, vale a sinalização que seus pais lhes dão: a busca pela realização pessoal não deve ser impedida, ela é um valor maior do que os laços familiares. Como se vê, entre o ideal e a realidade há uma mais que aparente contradição. (ROUDINESCO, 2009, apud CORSO e CORSO, 2011, p. 374).

As relações familiares, bem como qualquer outro tipo de relação social,

contam com a influência do mundo virtual e tecnológico. Segundo Bauman isso

torna as conexões humanas mais frequentes e intensas, porém, ao mesmo

tempo fúteis e menos duradouras. Atribui-se a isso a menor quantidade de

trabalho que é preciso para a manutenção dessas relações, já que, estar

conectado é mais fácil e menos trabalhoso e não se faz necessário o

engajamento. Por outro lado, isso torna a qualidade dos vínculos duvidosa. “A

casa torna-se um centro de lazer multiuso em que os membros da família

podem viver, por assim dizer, separadamente lado a lado”. (BAUMAN, 2004, p.

84).

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2 AMOR: CONCEITO E HISTÓRIA

A palavra amor deriva do latim amoré e segundo o dicionário Aurélio

(FERREIRA, 1999) é uma emoção ou sentimento que leva uma pessoa a

desejar o bem a outra pessoa ou coisa. O amor já foi estudado em vários

campos como na filosofia, psicologia, religião, literatura e ciências humanas.

Segundo Fromm (1956), a perspectiva, interpretação e o conceito de amor

variam de acordo com a cultura, época e costumes.

Dentro da filosofia um dos primeiros tratados sobre o amor é trazido por

Platão em sua obra: O banquete. Não tratando do amor sexual, mas de algo

associado ao bem, a beleza e a sabedoria. (PRETTO, MAHEIRIE, TONELI,

2009).

Os gregos se utilizaram de alguns mitos para explicar o amor, tais como:

Afrodite e Eros. O amor para os gregos, raramente culminava em casamento, e

estava mais ligado ao apetite sexual (BRAZ, 2005).

Já dentro da literatura e das artes surge o movimento nomeado

Romantismo, que se contrapõe ao racionalismo que o antecede. O

Romantismo tem uma visão voltada para o próprio individuo, onde o mesmo

retrata dramas pessoais, ideias utópicas e amores platônicos ou impossíveis.

(BOTELHO, 2005).

O amor e o casamento surgiram com a burguesia e não eram temas

nada romantizados, sua função era manter o patrimônio familiar, era um

contrato entre duas famílias e a reprodução fazia parte do combinado, isso foi

da antiguidade a idade média. O amor enquanto escolha e o sexo enquanto

prazer eram vivenciados fora do casamento de maneira adúltera. (ARAUJO,

2002).

Segundo Áries (1987) mudanças significativas em relação ao amor, só

surgiram mesmo com a modernidade, onde o amor individual passa a ser

valorizado e o casamento a ser estabelecido por amor, paixão e erotização.

Esses novos ideais passam a gerar certa expectativa nos cônjuges de que o

matrimônio seria feliz e romântico, o que nem sempre acontece.

A partir do que traz Sartre é possível fazer uma análise de que o amor

romântico com raiz cristã culmina em uma relação sádica, pois deve-se

renunciar a subjetividade, tal qual a unificação de dois eus, o que antológica e

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psicologicamente é impossível.(SARTRE apud PRETTO, MAHEIRIE, TONELI,

2009).

2.1 O amor de acordo com a psicanálise

Para a psicanálise o amor não elimina a falta, pois ela faz parte do

aparelho psíquico, nem torna a vida do homem mais agradável. Segundo Freud

(1930), a vida do homem não é tão agradável por três motivos: as exigências

sociais, o corpo que padece e os conflitos que resultam das interações

humanas (amor).

Sem dúvida, o amor, a religião e os ideais de revolução social para transformar o mundo fazem parte das grandes ilusões humanas: fraternidade, eternidade, felicidade e liberdade. Conclui-se, então, que o fracasso dessas ilusões não faz com que o homem abdique de buscar toda a verdade ou de cometer atrocidades contra seu semelhante em Nome-do-Amor (FERREIRA, 2004. p. 11).

Para Freud (1996), o amor direcionado a um objeto externo, acontece

após a consolidação do ideal de ego do indivíduo. Sendo assim, a escolha de

um objeto de amor externo só é possível quando o indivíduo teve a sua energia

libidinal direcionada a si mesmo.

Diante disso, Freud (1996) elabora o narcisismo como parte importante

das construções amorosas. Ou seja, se um indivíduo se parece comigo,

amando-o estou amando-me e se ele possuir atributos que eu não tenho, mas

desejo posso amar nele o ideal de mim.

O estar apaixonado consiste num fluir da libido do ego em direção ao objeto. Tem o poder de remover as repressões e de reinstalar as perversões. Exalta o objeto sexual transformando-o num ideal sexual. Visto que, com o tipo objetal (ou tipo de ligação), o estar apaixonado ocorre em virtude da realização das condições infantis para amar, podemos dizer que qualquer coisa que satisfaça essa condição é idealizada (FREUD, 1914a/1996, p. 107).

Conclui-se então que o amor, mesmo que objetal, sempre descenderá

dos itens citados acima: um amor inicialmente egoico e um amor próprio

narcísico. E quando esse amor se volta para um objeto, o mesmo será

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idealizado e dependerá do infantil de cada sujeito.

2.2 O amor na atualidade

O termo empregado para representar o amor atual, segundo Bauman

(2004), é o termo “Amor Líquido”, o autor trata da fluidez e incertezas dos

relacionamentos atuais, ele compara o amor a morte “não se pode aprender a

amar, tal como não se pode aprender a morrer” (p. 17).

Ainda segundo o autor houve uma “desvalorização” do amor e o termo

expandiu-se a ponto de ser sinônimo de uma noite de sexo o: “fazer amor”.

Pode-se supor (mas será uma suposição fundamentada) que em nossa época cresce rapidamente o número de pessoas que tendem a chamar de amor mais de uma de suas experiências de vida, que não garantiriam que o amor que atualmente vivenciam é o último e que têm a expectativa de viver outras experiências como essa no futuro (BAUMAN, 2004, p.19)

O que se aprenderia com isso seria a habilidade de “terminar

rapidamente e começar do início” (p.20). Habilidades estas presentes em uma

configuração de relacionamento bem presente no século XXI e que será

tratada de maneira mais aprofundada adiante, quando será discutido o “ficar”.

Bauman (2001) trouxe outra temática à “modernidade líquida”, já tratada

anteriormente e segundo essa teoria a cultura em que vivemos é: consumista,

imediatista, o prazer breve é valorizado e efeitos que não requerem muito

trabalho são buscados constantemente. Existe a falsa promessa de aprender a

arte de amar, e assim edificar a “experiência amorosa”, como se a mesma

fosse uma mercadoria. (BAUMAN, 2004).

“Quando a qualidade o decepciona, você procura a salvação na

quantidade. Quando a duração não está disponível, é a rapidez da mudança

que pode redimi-lo” (BAUMAN, 2004, p.78). Essa lógica é aplicada as pessoas

e seus relacionamentos, o cuidado deve ser dirigido a si mesmo, deve-se

precisar menos dos outros e não atender prontamente suas reivindicações por

afeto e atenção e sempre deve ser colocado na balança seus ganhos e perdas

em envolver-se e não esperar que “os compromissos assumidos durem para

sempre” (p.79).

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Envolver-se com alguém está sempre ligado a riscos, por isso as

amarras devem se manter frouxas. E as fichas do amor nunca devem ser

apostadas em um único número. (BAUMAN ,2004).

3 O “FICAR”

Com o passar do tempo os relacionamentos vem se transformando, se

antes um beijo em público era algo ofensivo, hoje é comum beijar várias

pessoas numa mesma noite. Se antes era necessário o consentimento dos

pais para namorar, hoje os adolescentes têm relacionamentos breves, sem

compromisso algum. Para saírem de casa os casais de namorados tinham que

levar os irmãos mais novos juntos, hoje é comum um dormir na casa do outro.

O namoro era uma preparação para o casamento que seria algo

duradouro, atualmente não é bem assim que vem acontecendo, pois os

relacionamentos têm um início e um fim com muita fugacidade.

Nos tempos atuais ouve-se muito falar em “ficar”. O que vem a ser o

“ficar”? Como se dá os relacionamentos dessa geração?

Segundo Justo (2005), o que caracteriza o “ficar” é: beijos, abraços,

carinhos e ocasionalmente sexo, o que chama a atenção desses jovens e

adolescentes é que não vai implicar em um compromisso futuro, existe uma

falta de regras e ausência de fidelidade. É normal entre os adolescentes essa

prática do “ficar”, “estou ficando” ou “fiquei com”, é algo marcado por

momentos, algo ocasional, algumas vezes durando minutos, horas ou até

mesmo uma noite após uma festa.

Os adultos vem aderindo essa forma de relacionamento, que surgiu na

década de 80 e que visa a necessidade ou satisfação de um desejo imediato e

que na maioria das vezes não favorece uma aproximação e nem a criação de

um vínculo duradouro. (JUSTO, 2005). Ainda que muitos adultos já tenham

aderido tal modo de relacionar-se, para outros continua sendo algo que causa

estranheza. Alguns adultos não compreendem o que é o “ficar”, como se dá

esse tipo de relação que, filhos e netos vem praticando. (NOGUEIRA, 2015).

Quando se inicia essa prática alguns adolescentes querem algo mais

que o “ficar”, podendo vir a ser um namoro, pois antes de assumir tal

compromisso tornou-se comum que se “fique”, pois, assim estarão conhecendo

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o outro se haverá ou não uma certa afinidade com o parceiro para então

ingressarem em uma relação mais séria. Acredita-se que atualmente as

pessoas passem por tal processo de forma natural, ao contrário dos

relacionamentos passados, no qual os pais escolhiam os namorados para os

filhos e os mesmos deviam respeitar tal decisão. Sendo o “ficar” uma forma de

relacionamento completo, onde os casais têm um primeiro contato (o encontro),

no qual acontecem beijos, abraços e ocasionalmente sexo. Por fim uma

continuidade ou não dessa relação, o que denominamos uma busca por

prazeres instantâneos se não necessariamente um sentimento envolvido. Por

fim, pode-se dizer que tal modalidade visa satisfazer prazeres momentâneos,

sem necessidade de algum sentimento envolvido, já que podem continuar ou

não com essa relação. (NOGUEIRA, 2015).

Os relacionamentos no período pós-moderno são feitos e desfeitos com

muita facilidade, estamos em uma era virtual e a tecnologia vem tomando seu

espaço até mesmo nos relacionamentos, pois atualmente vem sendo comum

ouvir falar em relacionamentos virtuais onde as pessoas mantém um “namoro”

por um computador ou até mesmo pelo celular com trocas de mensagens de

texto, áudio ou até mesmo com chamadas de vídeo. Atualmente, as pessoas

passam um período muito grande conectadas e assim mantém seus

relacionamentos, elas preferem conversar com quem nem conhecem,

desabafam em redes sociais e com o relacionamento não é diferente. É mais

fácil terminar um relacionamento virtual do que um real. As formas de se

relacionar também vêm sendo marcadas pelo consumismo ou também por uma

busca de satisfação cada vez maior. (BAUMAN, 2004).

Os jovens tem um desejo de conciliar a experiência de uma relação mais

séria, baseando-se no amor romântico com a liberdade da vida de solteiro.

Entre os jovens há pouco investimento em seus relacionamentos, porém há

certa esperança em encontrar uma pessoa para se firmar um compromisso

mais sério que correspondera à suas expectativas, que proporcione felicidade e

prazer. (NOGUEIRA, 2015).

É exatamente isso que faz o amor: destaca um outro de “todo mundo”, e por meio desses atos remodela “um” outro transformando-o num “alguém bem definido”, dotado de uma boca que se pode ouvir e com quem é

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possível conversar de modo a que alguma coisa seja capaz de acontecer. (BAUMAN, 2004, p.36).

Percebe-se então, que existe uma indecisão entre os adolescentes, pois

ao mesmo tempo em que buscam um relacionamento rápido e passageiro,

nutrem certa esperança em que as “ficadas”, possam futuramente se tornar um

namoro, pois a ideia de amor romântico ainda é muito idealizada.

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CAPÍTULO III

METODOLOGIA

1 PESQUISA E METODOLOGIA

A presente pesquisa tem como objetivo a discussão e compreensão do

“ficar” na adolescência e suas interveniências sociais. Através de relatos dos

adolescentes entrevistados, buscou-se compreender a seguinte problemática

“De que forma os adolescentes representam e vivenciam o “ficar” e as

interveniências dessa forma de se relacionar nas interações sociais do grupo

pesquisado”?

A escolha do tema se deu pela carência de material científico a respeito

do “ficar”, que se configura como sendo uma forma nova de se relacionar, e o

público alvo foram os adolescentes, pois na compreensão dos pesquisadores o

“ficar” é mais evidenciado na fase da adolescência.

O trabalho tem como objetivo analisar o “ficar” na adolescência no

período da contemporaneidade, pois os adolescentes além de terem que lidar

com as mudanças relacionadas a esse período do desenvolvimento, que é

particularmente difícil para a grande maioria, se deparam também com a

realidade e consequências do mundo pós-moderno.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória, utilizando-se de

pesquisa de campo para coleta dos dados e para análise dos dados fazendo

uso da técnica de análise de conteúdo. (BARDIN, 1977).

Optou-se por uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa,

pois como traz Gil (2008), a mesma costuma ser utilizada quando o tema

escolhido ainda foi pouco discutido e é desafiador propor uma hipótese sobre o

mesmo, a pesquisa exploratória ainda tem como objetivo “desenvolver,

esclarecer e modificar conceito e ideias”. (p.27).

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A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 1994, p.21)

A pesquisa exploratória pode envolver levantamentos bibliográficos,

entrevistas com indivíduos que tiveram experiências com o tema pesquisado e

serve de início para uma pesquisa mais aprofundada futuramente.

O processo de investigação se dividiu em três momentos: fase

exploratória, trabalho de campo e análise dos dados. Os quais serão descritos

abaixo.

1 - Fase exploratória: Nesta etapa, realizou-se a pesquisa bibliográfica,

onde se percebeu a pouca produção científica voltada para o tema, bem como

escolhemos os procedimentos utilizados para a realização do trabalho em

campo.

Para realizar a pesquisa bibliográfica é importante que o pesquisador

faça um levantamento de temas já utilizados por pesquisadores e também que

explore conceitos já publicados, é uma pesquisa que se efetua procurando

adquirir um conhecimento ou tentando resolver problemas a partir de

informações vindo de materiais, seja ele: gráfico, informatizado e sonoro.

(BARROS; LEHFELD, 2000).

2 - Trabalho de campo: Consiste na fase empírica do processo de

investigação, no qual os procedimentos pensados na fase exploratória

puderam ser realizados. Na pesquisa de campo o investigador analisa o objeto

de pesquisa em seu habitat, e pode perceber de forma mais precisa como o

fenômeno se dá, a partir de técnicas como a observação, entrevistas,

questionários e coleta de depoimentos. (BARROS; LEHFELD, 2000).

O trabalho de campo se dividiu em três etapas, sendo que os dois

primeiros encontros com todos os participantes e o último encontro de maneira

individual.

I. Encontro: Apresentação da pesquisa, e distribuição dos termos

de assentimento e consentimento.

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II. Encontro: Roda de conversa com tema livre, a fim de fortalecer o

vínculo entre pesquisados e pesquisadores.

III. Encontro: Aplicação da entrevista definitiva.

De acordo com os autores Afonso e Abade (2008) as rodas de conversa

são bastante usadas em métodos participativos e visam construir um ambiente

no qual os envolvidos falem e reflitam acerca de um tema ou questão, durante

a roda de conversa, pode-se usar como método para melhor interação caso

seja necessário dinâmicas de grupo. Importante levar em consideração que a

última palavra é do grupo. Sendo assim, a roda de conversa foi adotada como

meio para integração e interação do grupo, bem como para dar início ao

vínculo entre as entrevistadoras e os entrevistados.

Essa forma de coleta de dados foi escolhida, pois, a entrevista é uma

forma de obter dados com diálogos flexíveis e com interação social entre

entrevistadores e entrevistados. Quando se trata de pesquisas na área social,

Gil (2008), afirma também que além de ser um dos métodos de coleta de

dados mais usados, a entrevista faz com que haja respostas maiores e mais

ricas, assim como é possível notar como o entrevistado se comporta.

Além de que, a abordagem utilizada foi a qualitativa, a qual se encaixa

perfeitamente com a entrevista, pois a mesma não tem o objetivo de enumerar

os dados coletados, mas sim elucida-los através de um contato direto com os

entrevistados e tenta compreender o fenômeno, através da visão dos

participantes do estudo. (GODOY, 1995).

A modalidade de entrevista escolhida foi a semiestruturada (anexo 1),

pois como frisa Triviños (1987), a principal característica da entrevista

semiestruturada, seriam os questionamentos básicos, que se apoiam em

teorias e hipóteses baseadas no tema da pesquisa. Ainda segundo o autor a

entrevista semiestruturada “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos

sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]”

(TRIVIÑOS, 1987, p. 152).

3 - Análise dos dados: de início, os dados foram tratados devidamente,

com o intuito de analisa-los e interpreta-los posteriormente a fim de

compreender o objeto estudado.

3 PARTICIPANTES DA PESQUISA E COLETA DE DADOS

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A população pertencente à pesquisa englobou seis pessoas, com idades

compreendidas entre quatorze e dezessete anos, de ambos os sexos. Todos

estudantes do ensino médio, matriculados em uma escola pública da cidade

de Cafelândia-SP.

Quanto aos critérios de inclusão foram considerados os seguintes aspectos:

adolescentes dentro da faixa etária estipulada, matriculados na instituição de

ensino acima citada e que mantinham vínculo com uma das pesquisadoras que

já realizava estágio nesta instituição. Isso porque baseado em Bosi (2003),

percebe-se que a temática investigada consiste em algo da intimidade dos

adolescentes, portanto, é de fundamental importância um vínculo significativo

para que as questões investigadas sejam reveladas pelos depoentes, sem que

vergonha, constrangimento ou outras questões interfiram na coleta.

Para recrutar a amostra, uma das pesquisadoras fez o convite

pessoalmente aos adolescentes entrevistados, no período em que realizou o

estágio na instituição de ensino dos mesmos.

O nome dos participantes não foi revelado, a fim de manter em sigilo sua

identidade e evitar qualquer forma de constrangimento. Foram substituídos por

nomes de deuses da mitologia grega e romana.

Sendo que cada pesquisador entrevistou dois adolescentes, de ambos

os sexos. As entrevistas foram gravadas em aparelho celular e depois

transcritas, para então serem analisadas.

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Análise de Conteúdo

A análise dos dados foi realizada de acordo com o método desenvolvido

por Laurence Bardin (1977), descrito em seu livro “Análise de Conteúdo”. O

método em questão consiste-se em: pré-análise, exploração do material e

tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Com os objetivos e hipóteses já formados, realizou-se o tratamento dos

dados. Na pré-análise há necessidade de escolher os documentos que serão

trabalhados. No caso, os documentos foram as transcrições feitas a partir das

entrevistas gravadas pelas pesquisadoras.

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Feito isso, leu-se exaustivamente as entrevistas em questão. Esse

processo se chama, (por conta da comparação com um dos conceitos da

psicanálise) leitura flutuante. Ao realizar esse passo, a leitura se tornou mais

clara, sendo possível assim, visualizar melhor os pontos ali colocados.

Os tópicos foram então, a partir da clareza proporcionada pela leitura

flutuante, feitos de forma que abrangessem os pontos mais importantes e

proporcionalmente mais repetidos nas entrevistas em questão.

Desde a parte da pré-análise foi preciso determinar os passos de recorte

do texto em itens comparáveis de ordem semântica, de categorização (para

analisar o tema) e de codificação, que serviu para registrar os dados por

modalidade, bem como para deixar claro o motivo pelo qual se analisou e a

forma correta de analisar os dados ali contidos.

Tratar o material é codifica-lo. A codificação corresponde a uma transformação – efectuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão, susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem servir de índices [...] (BARDIN, 1977, p. 103)

Dentro da codificação, realizou-se o recorte, a classificação e

agregação, ou seja, houve a escolha das unidades e logo depois construiu-se

categorias.

Sendo assim, iniciou-se a categorização, parte importante da análise de

conteúdo e que teve como objetivo desmembrar elementos significativos de um

grupo, e em seguida reagrupá-los de forma a seguir os critérios anteriormente

estabelecidos, de base semântica. Essa etapa constrói-se embasada no

inventário e na classificação, que nada mais significam do que discriminar os

elementos e logo depois reparti-los e organizá-los. Os elementos foram

organizados de forma que não fosse feita mais de uma categoria

correspondente, as categorizações foram obtidas através do foco da pesquisa

visando também a objetividade e fidelidade nos dados.

Houve o devido cuidado no que se trata de inferências no trabalho de

tratar os dados como um todo, buscando sempre a maior clareza e

autenticidade nos relatos registrados, levando em consideração apenas

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inferências válidas (modo de fala do entrevistador ou do entrevistado, facilidade

ou não de comunicação, afinidades e sentimentos ali expressos).

Desta maneira, após todas as etapas que foram cabíveis do método de

Bardin (1977), o conteúdo foi analisado tendo como comparativo a teoria

anteriormente pesquisada, tentando compreender as categorias definidas a luz

da psicanálise.

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CAPITULO IV

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para analisar o “ficar” e suas interveniências sociais, utilizou-se da teoria

Freudiana, pois entende-se que se trata de um assunto bastante subjetivo e na

visão dos pesquisadores a teoria psicanalítica pode aprofundar melhor o tema.

Se utilizará também do pensamento do sociólogo Bauman, que trata do “amor

líquido” e da “modernidade liquida”, tais pensamentos nos ajudarão a

compreensão de como essa forma de se relacionar interfere no modo de ser e

conviver dos adolescentes.

Os dados coletados nas entrevistas foram tratados utilizando-se a

Análise de Conteúdo de Bardin (1997). Através disso, foram estabelecidas

quatro categorias (pego não nego, sublimo se puder; fora da minha casinha,

não por acaso; o que curto no outro; olhar líquido; o laço que quer se formar e

logo é desfeito) e as subcategorias originadas destas.

1 PEGO NÃO NEGO, SUBLIMO SE PUDER

Segundo Freud (1996), a pulsão é o que impulsiona o ego em direção a

satisfação de seu prazer, o ego sente-se atraído pelo objeto, e quando

consegue ir de encontro ao mesmo, consegue uma satisfação parcial e

momentânea. As pulsões são originalmente narcísicas, “passando então para

objetos, que foram incorporados ao ego ampliado, e expressando os esforços

motores do ego em direção a esses como fonte de prazer” (p. 143).

Bauman analisa um tema bastante presente na obra Freudiana, a

sublimação, esse mecanismo que é a capacidade humana de “trocar” um

instinto sexual (pulsão) por outros socialmente aceitos, e que atualmente não

faz mais tanto sentindo assim.

Parece que o elo entre a sublimação do instinto sexual e sua repressão, que Freud considerava condição indispensável de qualquer arranjo social disciplinado, foi rompido. A líquida sociedade moderna descobriu uma forma de explorar a propensão/receptividade humana a sublimar os instintos

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sexuais sem recorrer à repressão, ou pelo menos limitando-a radicalmente. Isso aconteceu graças à progressiva desregulação do processo sublimatório, agora difuso e disperso, o tempo todo mudando de direção e guiado pela sedução dos objetos de desejo sexual em oferta, e não por quaisquer pressões coercitivas. (BAUMAN, 2004, p. 77)

Na fala de alguns adolescentes entrevistados, percebe-se que entre o

sexo masculino existem menos barreiras para a satisfação de seus desejos.

Eros: “Ou também pode ser aquele ficar de festa “ah, to

interessado naquela menina, mas não quero coisa séria,

vai lá, “fica”, se gostar da pessoa vai ficando...”.

Dionísio, respondeu que quando está ficando com alguém já começa a

ficar “atiçado”, o que se entende como um desejo sexual a se realizar, e diz

também que ficava com uma pessoa por dia, demonstrando assim suas várias

opções de relacionar-se. Podemos perceber então o que Bauman (2004)

afirma no fragmento acima, de que a sublimação já não se faz tão presente,

pois os adolescentes mudam a direção de seu desejo rapidamente, quando os

mesmos não podem ser saciados.

Narciso, relata que nem sempre a intenção é sair para ficar, mas que se

acontecer do desejo aparecer, acontece a ficada.“... gostou vai atrás.”

Já entre as entrevistadas do sexo feminino, percebe-se uma maior

contenção dessa pulsão, como no relato de Afrodite que diz que se está

ficando com alguém, e esse alguém não mande mais mensagem e não a

procure mais, a mesma reprime o seu desejo de continuar ficando.

“Eu não chego na pessoa entendeu? Mesmo se eu estiver

a fim, eu não chego, eu deixo ela perceber que eu estou

olhando pra ela néh?!”

Pode-se então pensar que de maneira geral as mulheres reprimem mais

seus desejos e consequentemente utilizam mais o mecanismo de sublimação.

Isso se explica se olharmos a história de subordinação pela qual as mulheres

atravessam e suas lutas diárias para ganhar espaços em vários campos de

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atuação, porém observa-se que elas avançaram também quando se trata de

relacionamentos afetivos.

1.1 O prazer é todo meu

O amor faz parte da vida humana, tendo como base uma visão bem

romantizada, o amor é tão importante para o homem quanto o ar que mantém a

raça viva.

No final do sec. XVIII, o amor romântico ganha muita força, sendo

compreendido como algo bom e justo e que dá sentido a existência humana.

Tendo fundamentos cristãos poderíamos imagina-lo, como sendo aquele que

tudo suporta, tudo vence e tudo realiza. Pronto! Nascia o mito de que todos

temos uma “tampa para nossa panela”, que todos deveriam amar e que o

objetivo da vida dos seres-humanos seria encontrar essa tal “tampa” e ser “feliz

para sempre”. Como propõe Bauman (2004), o amor romântico anda em

desuso, e o mesmo atualmente é comparado à uma mercadoria, que quando

não agrada mais é devolvida ou substituída. E isso torna os vínculos frágeis

demais.

Como podemos perceber na fala dos entrevistados abaixo, existe a

vontade de que uma simples “ficada” se torne algo a mais, um desejo por

apertar um pouco mais os laços, fortalecer brevemente os vínculos, mas de

maneira bem discreta, como quando Eros é questionado acerca do que seria o

“ficar”:

Eros: É um modo de você... é um modo de você conhecer

a pessoa, assim sabe? Pra futuramente conhecer e virar

um namoro sério, essas coisas. [...]

É ir conhecendo a pessoa, até virar um namoro.

Já Narciso, disse que preferia “ficar”, mas em uma das perguntas,

respondeu que já namorou e o mesmo nasceu de uma “ficada”.

“[...] ai a gente ficou uma vez, ai quer algo a mais? Vamos

tentar? Uma vez que a gente ficou e a gente já gostou,

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vamos tentar algo a mais, e foi ai que a gente começou a

namorar [...]”.

Dionísio parece nem perceber quando o relacionamento começou a ir

para o caminho do namoro:

“É difícil eu ir ao cinema, então eu já logo falo pra vir na

mureta, ou se não vem aqui em casa e a gente passa a

tarde junto assim, pra começar meio que assim... como eu

vou explicar... é começar meio que assim entrar na rotina

do namorinho.”

Entre as entrevistadas do sexo feminino essa busca também foi

percebida.

Ártemis: “Vai ficando e vê se eu gosto da pessoa, primeiro

vou conhecendo pra ver se gosto ai eu posso até pensar

em um futuro a gente começar a namorar, ai se der certo

a gente namora”.

Afrodite: “[...] e tem o ficar quando você começa a gostar

da pessoa e você quer levar um relacionamento sério

futuramente, você começa a ficar com ela pra conhecer

melhor”.

“Eu acho que é legal você ter uma pessoa só, uma

pessoa que vai estar com você, do seu lado, que gosta de

você, eu acho que tudo bem você só ficar, é até legal,

mas namorar uma pessoa, que você goste

principalmente, é melhor.

Percebeu-se então a busca pelo fortalecimento desse vínculo frágil que

é o “ficar”, ao mesmo tempo em que buscam prazer através desse tipo de

relacionamento, afastam o desprazer ao não se comprometerem, ao se

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mostrarem desinteressados. Mostrando-se então o princípio do prazer e da

realidade, que se baseiam em pulsões sexuais e de conservação.

(FREUD,1996).

2 FORA DA MINHA CASINHA, NÃO POR ACASO

Encontrou-se nas entrevistas feitas, que grande parte dos entrevistados

opta por ficar com pessoas que não têm muita intimidade, por diversos motivos.

Perséfone trouxe que dá preferência para pessoas desconhecidas ao realizar

tal modalidade de relacionamento, porque assim, é possível “criar mais uma

amizade”. Narciso relatou também preferir ficar com desconhecidos. Disse que

tanto faz, mas que achava que com desconhecidos é melhor. Quanto a essa

mesma questão, Dionísio relatou que prefere ficar com desconhecidos e disse:

Eu já cheguei na minha amiga e perguntei “quer ficar

comigo?”. Ela disse que não, pois me considerava como

um irmão. Falei que estava tudo bem e eu entendia. Ai fui

em um aniversário e perguntei lá pra menina “quer ficar

comigo?” Ela respondeu “Bom, eu não te conheço muito,

mas...”. Ficamos. Acho que quando você conhece a

pessoa, pode ficar estranho depois, ela pode até para de

conversar.

Afrodite trouxe algo parecido, esclarecendo o motivo pelo qual prefere

ficar com desconhecidos. Ao que parece ficar com pessoas do mesmo circulo

social ou amigos mais próximos os remete a ideia de que irão perder o título de

“amigos”, gerando assim, determinada insegurança por conta do laço incerto

que é o ficar.

Eu acho que desconhecidos, porque se a pessoa, se o

conhecido for teu amigo, depois que fica, fica um clima

meio estranho, dependendo da pessoa também, então eu

acho que é mais fácil ficar com desconhecidos.

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As respostas vão na mesma direção de algumas ideias de Bauman. Tais

ideias trazem a questão da supervalorização do novo. Bens de consumo e

mercadorias novas são sempre melhores, bem como pessoas.

O encontro entre estranhos também é mencionado pelo autor. Ele se

refere a esse encontro como algo que não tem um passado, ou seja,

diferentemente das pessoas que cercam o adolescente, o desconhecido, não

sabe de nada sobre o mesmo e vice versa. Além do passado inexistente, o

futuro também é algo que dificilmente irá acontecer.

O encontro entre estranhos é um evento sem passado. Frequentemente é também um evento sem futuro (o esperado

é que não tenha futuro), uma história para “não ser continuada”, uma oportunidade única a ser consumada enquanto dure e no ato, sem adiamento e sem deixar questões inacabadas para outra ocasião. (BAUMAN, 2001, p. 122).

2.1 Periguetes e Garanhões: discrepâncias entre gênero

O meio social como já foi salientado, tem grande importância no que se

refere ao desenvolvimento do adolescente em vários aspectos. Quando se

trata da formação da personalidade, é inquestionável a interação com os

grupos. Isso foi percebido nas falas durante as entrevistas. A maioria disse que

saem com os amigos para festas, aniversários ou até mesmo um local de

encontro específico da cidade, e ai então se dá o “ficar”.

Foi possível encontrar diversas interveniências no que se refere ao

“ficar”. Quando lhes foi questionado a respeito da diferenciação de gênero no

ficar, trouxeram desde consequências de origem sexistas até a indiferença em

relação a isso.

De acordo com Afrodite, há uma diferença entre meninos e meninas. Ela

salientou em sua entrevista que o menino que fica com várias, leva consigo um

título positivo e até mesmo um status mais elevado, e a menina um título

negativo. “[...] se a menina que fica com muitos, ela já é considerada aquele

monte de coisas, pode até entrar em depressão, agora o menino não, se ele

fica com várias, ele é o pegador, o gostosão da galera”.

Observa-se o peso que a situação traz quando a mesma relata situações

que evidenciam a pressão social, derivada de valores e rótulos discrepantes.

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As consequências dos rótulos como a mesma disse, podem ir além,

desenvolvendo assim um quadro mais grave como a depressão. Tudo isso,

tem como base o estereótipo de gênero, que consiste-se em um conjunto de

“ [...] crenças acerca dos atributos pessoais adequados a homens e mulheres,

sejam estas crenças individuais ou partilhadas”. (D’AMORIM, 1997, p. 122).

Melo, Giavoni e Troccoli (2004), afirmam que de acordo com a

construção sociocultural dos significados de masculinidade e feminilidade, as

características atribuídas aos homens giram em torno da individualidade como

a independência, agressividade e racionalidade, enquanto os traços mais

expressivos nas mulheres seriam a sensibilidade, delicadeza e o amor. Assim é

possível identificar a origem das diferenças encontrada nas respostas das

entrevistas analisadas, já que, ao ficarem na mesma quantidade que os

meninos, as meninas demonstram algum sinal de independência, e tudo que se

está fora do “normal”, é considerado desviante, portanto as pessoas não

podem agir e serem da forma que bem entendem, precisam se igualar a

maioria ou serão enquadrados nesses termos, sendo assim, a opressão

encontrada nesse contexto, dá origem ao estereótipo, cristalizando-o. (ROSO e

col apud BATISTA, EUFRÁSIO, MESQUITA, 2011).

2.1.1 Igreja e Família

Eros relatou em sua entrevista, quanto a essa temática que para ele é

indiferente, mas que as pessoas em geral rotulam, principalmente quando a

menina que começa a sair com determinada pessoa, denominada pelo

entrevistado como “bambambam”, e que por esse motivo, tal menina sofreria

bullying. De acordo com ele, a família religiosa intervém na forma que o mesmo

se relaciona: “No meu ponto de vista, como tenho uma família mais religiosa,

ficar é mais mesmo pra conhecer a pessoa pra namorar, entendeu?”. Portanto

pode-se dizer que a religião e a família, algumas vezes intervém nas decisões

amorosas.

Foi possível encontrar na fala de Dionísio que, preferia ficar, mesmo que

hoje namore, pois, de acordo com o mesmo, enquanto se fica, há mais

liberdade e menos interferências da família na rotina do casal. Ele relatou que

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“[...] o pai dela começou a colocar restrições, ficou meio chato, não era a

mesma coisa de antes”.

Quando foi questionado sobre os locais nos quais ocorriam o “ficar”,

Eros demonstrou certo pudor, diferentemente de alguns outros entrevistados.

Segundo ele, na escola ao ficar com alguém, corre o risco de ser visto e

julgado por outras pessoas. “ah, ele ta com a menina, ele não tem bom senso,

ela não tem bom senso”. Isso vai de encontro com Dionísio, que relatou que

gostava de se arriscar ao ficar com alguém dentro da instituição.

3 O QUE CURTO NO OUTRO

Escolher com quem “ficar” para os adolescentes é um assunto que gera

dúvida e também acaba sendo polêmico, pois o que é atrativo para alguns

pode não ser para outros. Durante as entrevistas pode-se ver com mais clareza

tal questão, notando ainda que não é o mais importante, mas também não dá

pra não ser citada como sendo um aspecto relevante num primeiro momento,

onde os adolescentes fazem essa escolha pela atração física, o que o atrai no

outro, como por exemplo, em uma festa.

3.1 O que os olhos veem o coração não sente

Notou-se perante as entrevistas que os adolescentes nem sempre saem

com o propósito de “ficar” com alguém, podendo acontecer eventualmente

durante suas saídas. O aspecto predominante em alguns casos é a beleza

física, porém não é o suficiente, caso haja um interesse maior nessa “ficada”

vindo a tornar-se um possível namoro. Como relata Afrodite: “Se for assim, em

uma noite só, que você nem conhece a pessoa vai por beleza, não tem como

não ser [...].”.

Diante a tal questão não existe uma evidente utilidade para a beleza e

também não se nota uma necessidade cultural e clara para ela, porém não há

como ser dispensada perante a civilização. (FREUD, 2011).

Na fala de Narciso a beleza física também está presente quando relata o

que o atrai em uma menina numa festa é:

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[...] pessoa bonita, extrovertida, tem que ser muito solta,

bem alegre, não pode ser tímida ai começa a conversar

com a pessoa aí vê se é isso mesmo e acaba rolando [...]

A beleza foi citada, mas não se mostrou o único item a ser levado em

conta na escolha do objeto para os adolescentes entrevistados. Parecem

querer aprofundar seus vínculos, pois buscam características morais:

Eros: [...] você vai conhecer a pessoa, avaliar assim se é

uma pessoa inteligente. Inteligente assim, modo assim

boa de cabeça [...].

Dionísio, diz escolher pelo sorriso: “Pelo sorriso, e se a

pessoa tiver um belo sorriso e tiver como eu vou dizer...

uma boa fala. Nem tanto pela aparência, mas eu vou mais

pelo coração mesmo. Então se eu chegasse em uma

pessoa e perguntasse: “Quer ficar comigo?”. Só dela

demonstrar um sorriso e um olhar, já rola [...]

Afrodite relata que se já conhecer à pessoa, outras características se

tornam mais importantes que a beleza.

“[...] eu acho que a pessoa tem que gostar das mesmas

coisas que eu e tem que ser carinhosa. Agora se eu já

conhecer a pessoa, pode ser por afinidade.”

Há uma grande contradição quando se fala em beleza física, pois o que

para alguns é primordial que se escolha o outro pela aparência, a contra ponto

há quem diz prezar mais outros aspectos, como relata a entrevistada acima,

Perséfone. O que se nota através das entrevistas é que a dita beleza física é

primordial em casos eventuais e quando não há uma intenção de aprofundar-

se na relação.

4 OLHAR LÍQUIDO

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Percebeu-se que os adolescentes entrevistados não sabem ao certo que

tipo de vínculo descende do “ficar”, como vimos nas categorias acima o

relacionamento é pautado pela busca do prazer, em um ambiente hostil a

vínculos duradouros.

Trata-se, portanto, de um mundo que não favorece a aproximação entre as pessoas, a criação de vínculos duradouros, a associatividade e a grupalização. Nesse cenário, o adolescente se vê impelido a instituir o modo típico de relacionamento desse tempo: relações abreviadas, voltadas para a satisfação de necessidades e desejos imediatos [...] (JUSTO, 2001, p. 70).

A presente pesquisa realizou-se em uma cidade pequena, onde os

habitantes têm mais proximidade e esse fator pode ter interferido, na

maneira como os adolescentes interagem antes de uma “ficada”, pois os

mesmos, indo na contramão da onda virtual e das redes sociais, disseram

preferir o contato direto, demonstrando assim a necessidade de notoriedade

de percepção em ambas as partes. É assim que é dada a dita paquera,

antes do “ficar’’”.

Eros: “Troca de olhares. Se tiver longe uma piscada, ai

chama pra conversar entendeu?” “Hoje com a tecnologia

o povo aproveita muito pra acontecer um relacionamento

virtual assim. Eu acho diferente. Eu prefiro contato frente

a frente [...]”.

Narciso: “Troca de olhares, um gesto. Tipo você ta lá e ai

começa a olhar pra você, passar a mão no cabelo, ai você

já sabe se ela ficar secando muito, olhando muito ai quer

dizer que ela quer.”.

Dionísio: “Eu acho que tudo começa pelo olhar, o bom

mesmo é chegar logo na lata e já falar o que se sente e

tal.”.

5 O LAÇO QUE QUER SE FORMAR E LOGO É DESFEITO

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A partir da fala dos entrevistados percebemos o quanto o vínculo

proveniente do “ficar” é frágil e confuso, pois os próprios adolescentes nem

sempre sabem bem ao certo se estão namorando, se permaneceram ficando

com o objeto desejado e nem como as outras pessoas avaliam tal

relacionamento.

Dionísio diz que começa a “ficar” e logo começa a entrar em uma rotina

de namoro, mas quando questionado se essa rotina é de namorados, ele nega.

Afrodite: “[...] eu até pensei que ele ia querer namorar,

mas acabou que não deu certo sabe? Ele não queria

agora, não era o momento. E as outras pessoas

acharam que vocês estavam namorando? Não, sabiam

que a gente estava ficando, porque viam a gente junto em

uma festa uma vez, entramos e saímos juntos, e acharam

que a gente estava namorando, ficando sério, foi isso

mesmo”.

Narciso, ao ser questionado se já havia namorado a princípio responde

que não, mas posteriormente modifica sua resposta:

“Hoje eu prefiro ficar. Já namorou? Já! Então já conhecia

ela, era uma amiga ai, a gente ficou uma vez. Ai quer algo

a mais? Vamos tentar? Uma vez a gente ficou e a gente

já gostou, vamos tentar algo a mais e foi ai que a gente

começou a namorar. Quanto tempo durou? Então, esse

namoro foi um mês, mas não foi aquele namoro, deu um

mês e a gente terminou [...]”

Percebe-se então a volatilidade desse vínculo, que quer se formar e logo

se desfaz, talvez por medo, insegurança, ou seria uma característica do nosso

tempo, tal qual aponta Bauman:

Nos compromissos duradouros, a líquida razão moderna enxerga a opressão; no engajamento permanente percebe a

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dependência incapacitante. Essa razão nega direitos aos vínculos e liames, espaciais ou temporais. Eles não têm necessidade ou uso que possam ser justificados pela líquida racionalidade moderna dos consumidores. Vínculos e liames tornam “impuras” as relações humanas [...] (2004, p. 66)

O “ficar” é um tipo de relacionamento que gera muitas inseguranças aos

adolescentes, mas podemos compreendê-lo como uma forma clara de

relacionamento do mundo líquido (BAUMAN, 2004), onde as relações são

fluidas e sem amarras. O problema desse tipo de relacionamento já começa

pela nomenclatura, pois como aponta Justo (2001), a palavra ficar tem sentido

genérico de permanência de fixação a algo, mas não é esse sentido

empregado pelos adolescentes. O aparelho psíquico age a fim de proteger o

indivíduo do ambiente líquido, hostil a vínculos e que não traz segurança, para

isso lança mão de mecanismos de defesas. O adolescente está em uma fase

do desenvolvimento atípica, que por si só já é bastante complexa e combinado

a isso temos as interveniências sociais que o “ficar” acarreta, o que o torna o

público mais vulnerável quando se trata desse tipo de relacionamento.

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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Os encontros com os adolescentes durante o período da pesquisa

acentuaram, e ao mesmo tempo, demonstraram o quão precisa ser explorado e

trabalhado temas ligados aos relacionamentos contemporâneos.

O fato do “ficar” ser um tipo de relacionamento contemporâneo, percebe-

se a necessidade de explorar e contribuir para ampliação científica do tema.

Talvez essa pouca exploração seja um dos motivos pelos quais esse tipo de

relação gera tanta angústia e dúvidas para os que a vivenciam.

Ao permitir que os adolescentes, através das entrevistas

semiestruturadas e da roda de conversa expusessem o tema, proporcionou

uma reflexão a respeito das próprias relações e a identificação entre os

participantes da pesquisa. Por conta disso percebeu-se que seria de grande

valia a criação de grupos nos quais explorassem e os fizessem pensar sobre

esse tema e temas derivados como sexualidade e questões relacionadas à

diferença entre gêneros, além de proporcionar um local para expor sentimentos

que têm relação com tais assuntos.

Além disso, a realização desse trabalho possibilitou que mais material

científico a respeito do tema fosse produzido, servindo de subsídio para uma

maior compreensão e consequentemente uma intervenção mais profunda,

quando se tratar de adolescentes e relacionamentos amorosos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa, no intuito de explorar o relacionamento “ficar”, no

meio social e sua representação para os adolescentes em uma escola na

cidade de Cafelândia, resultou em um tipo de relacionamento de vínculo frágil,

e que interfere diretamente no meio social em que o adolescente está inserido,

uma vez que questões de gênero ainda se fazem presente nos

relacionamentos e parceiros desconhecidos são preferíveis.

Como salienta Justo (2001), a adolescência é uma fase de descobertas,

anseios e realizações, é a fase do belo, jovial e livre e tais características são

extremamente valorizadas na sociedade atual. Mas por outro lado os

adolescentes estão em uma etapa do desenvolvimento bastante característica

e de difícil transição e junto a isso estão vivendo em um tempo líquido, sem

certezas e segurança, esses podem ser motivos pelos quais o relacionamento

“ficar”, traga-lhe mais angústias e fica mais evidente nesta fase do

desenvolvimento.

Na categoria “pego não nego, sublimo se puder”, percebe-se o anseio

dos adolescentes em realizar seus desejos, através do “ficar” e quando essa

realização não é possível lançam mão do mecanismo de sublimação, sendo

mais percebido entre as adolescentes do sexo feminino. Essa categoria gerou

uma subcategoria, intitulada de “o prazer é todo meu”, onde foi percebido o

princípio do prazer e da realidade, já que os adolescentes procuram prazer

através das “ficadas” e afastam o desprazer ao não se comprometerem.

No decorrer da categoria “fora da minha casinha, não por acaso”,

aspectos referentes a escolha do parceiro apareceram de forma a evidenciar a

busca pelo novo, já que os adolescentes em questão, relataram que preferem

“ficar” com desconhecidos ou pessoas que não tem intimidade. A subcategoria

“periguetes e garanhões” tratou da discrepância como interveniência no que se

refere ao mesmo ato. Trata-se da mesma prática, porém, com visões sociais

divergentes por conta do gênero. Também foi transcorrido sobre a igreja e a

família e criou-se uma categoria para a mesma, já que ambas as instituições

entram nas interveniências encontradas no trabalho.

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A categoria “o que curto no outro” trouxe o relato dos adolescentes sobre

o que levam em consideração na hora de fazerem suas escolhas, os aspectos

que mais os agradam e os atraem em uma pessoa. Já na subcategoria “o que

os olhos veem o coração não sente” mostra que a beleza é importante de

inicio, porém que há outros aspectos que são levados em conta, como

características morais.

Dentro da categoria intitulada “olhar líquido” notou-se que os

adolescentes, indo contra o que aponta Bauman (2004), preferem um contato

mais direto e o olhar foi bastante valorizado e citado, e o contato através de

redes sociais ficou em segundo plano.

E, finalmente, na última categoria “o laço que quer se formar e logo é

desfeito”, percebeu-se o quanto o “ficar” gera um vínculo frágil e até mesmo

difícil de ser explicado, pois os próprios adolescentes em alguns momentos não

sabem se estão namorando e se ainda continuam tendo algum tipo de relação

ou não, o que acaba por angustiá-los.

Concluiu-se então que o “ficar” é um vínculo confuso para os

adolescentes, que tem a intenção de se fortalecer, mas o ambiente e o tempo

em que vivemos ameaça esse fortalecimento, o que acaba por gerar muitas

inseguranças e angústias para os adolescentes. Percebe-se no “ficar”, a busca

pelo prazer imediato, sem laços e amarras, ou seja, em tempos de

“modernidade líquida”, na “sociedade liquida” a vivência do “amor liquido” pelos

adolescentes.

E, para os pesquisadores, revela-se a importância de novos estudos a

cerca do tema, mediante a falta de material científico a respeito do mesmo.

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APÊNDICES

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Apêndice I – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE ASSENTIMENTO

(No caso de menores entre 12 e 17 anos 11 meses e 29 dias)

Eu, ___________, portador do RG n°. __________, atualmente com ___

anos, residindo na cidade de _____________, após leitura da CARTA DE

INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA, devidamente explicada

pela equipe de pesquisadores Erika Maria Jeronymo Gomes, Jéssica de Souza

Santos e Mônica Aparecida Rodrigues, apresento meu CONSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO em participar da pesquisa proposta, e concordo com

os procedimentos a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.

Concordo também com o uso científico e didático dos dados,

preservando a minha identidade.

Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou

ciente de que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial

guardada por força do sigilo profissional e que a qualquer momento, posso

solicitar a minha exclusão da pesquisa.

Ciente do conteúdo assino o presente termo.

Local , data

.............................................................

Participante da Pesquisa

.............................................................

Pesquisador Responsável

Endereço

Telefone

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Apêndice II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO

Eu, ___________, portador do RG n°. __________, atualmente com ___

anos, residindo na cidade de _____________, após leitura da CARTA DE

INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA, devidamente explicada

pela equipe de pesquisadores Erika Maria Jeronymo Gomes, Jéssica de Souza

Santos e Mônica Aparecida Rodrigues, apresento meu CONSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO em participar da pesquisa proposta, e concordo com

os procedimentos a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.

Concordo também com o uso científico e didático dos dados,

preservando a minha identidade.

Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou

ciente de que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial

guardada por força do sigilo profissional e que a qualquer momento, posso

solicitar a minha exclusão da pesquisa.

Ciente do conteúdo assino o presente termo.

Local , data

.............................................................

Participante da Pesquisa

.............................................................

Pesquisador Responsável

Endereço

Telefone

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APÊNDICE III – MODELO DE CARTA DE INFORMAÇÃO AO

PARTICIPANTE DA PESQUISA

MODELO CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DE PESQUISA.

1. Objetivos da pesquisa: Analisar o “ficar” como modo de vinculação e as

influências deste nas interações sociais.

Objetivos específicos:

Analisar a adolescência na contemporaneidade;

Verificar como o adolescente representa o “ficar”;

Investigar que modalidade de vínculo consiste o “ficar”;

Identificar como o “ficar” interfere nas interações sociais dos

adolescentes pesquisados.

2. Procedimentos que serão realizados com os participantes:

1. Encontro: Apresentação da pesquisa, e distribuição dos termos de

assentimento e consentimento.

2. Encontro: Roda de conversa com tema livre, a fim de fortalecer o vínculo

entre pesquisados e pesquisadores.

3. Encontro: Aplicação da entrevista definitiva.

As principais perguntas que nortearão a entrevista definitiva serão as

seguintes:

O que é o relacionamento amoroso “ficar” pra você?

Você “fica” ou “ficava”? Com qual frequência?

Quando você fica com alguém e acha legal, você costuma fazer o que?

É mais fácil “ficar” com conhecidos ou desconhecidos?

Quanto tempo você “fica” ou “ficou” com a mesma pessoa?

Quando você ficou com uma pessoa, já ocorreu desse relacionamento se

transformar em namoro? Se positivo, quanto tempo durou?

Como você escolhe a pessoa com quem vai “ficar”?

Como acontece a conquista ou paquera com o “ficante”?

Você prefere “ficar” ou namorar?

O jovem adulto na atualidade prefere “ficar” ou namorar?

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Quais são os locais onde ocorrem com frequência as “ficadas”?

Fonte: NOGUEIRA, N.S, 2015, p. 73.

3. Riscos e Benefícios da pesquisa

RISCOS

O principal risco da pesquisa é o constrangimento

Para minimizá-lo serão propostos atendimentos individuais, o sigilo perante os

dados pessoais dos participantes, como nome, endereço, bem como outros

dados que possam caracterizá-los, essas informações serão explicadas de

forma verbal, e através do termo de consentimento e assentimento.

BENEFÍCIOS

A pesquisa pode trazer contribuições para compreender essa forma de

relacionar entre os adolescentes: o “ficar”, ainda pouco abordada. A partir de

sua compreensão poderemos analisar como o “ficar” interfere nas interações

sociais dos participantes.

Faça a leitura atenciosa desta carta e das instruções oferecidas pela Equipe

e/ou pesquisador e, caso concorde com os termos e condições apresentados,

uma vez que os dados obtidos serão utilizados para pesquisa e ensino

(respeitando sempre sua identidade), você ou seu representante legal deve

assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e esta Carta de

Informação ao Participante da Pesquisa, ressaltando que você tem total

liberdade para solicitar sua exclusão da pesquisa a qualquer momento, sem

ônus ou prejuízo algum. Por estarem entendidos, assinam o presente termo.

Cafelândia, 31 de agosto de 2016.

Assinatura do participante da

pesquisa

Rodrigo Feliciano Caputo

Pesquisador responsável

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APÊNDICE IV – ROTEIRO DE ENTREVISTA

SEMIESTRUTURADA

O que é o relacionamento amoroso “ficar” pra você?

Você “fica” ou “ficava”? Com qual frequência?

Quando você fica com alguém e acha legal, você costuma fazer o que?

É mais fácil “ficar” com conhecidos ou desconhecidos?

Quanto tempo você “fica” ou “ficou” com a mesma pessoa?

Quando você ficou com uma pessoa, já ocorreu desse relacionamento se

transformar em namoro? Se positivo, quanto tempo durou?

Como você escolhe a pessoa com quem vai “ficar”?

Como acontece a conquista ou paquera com o “ficante”?

Você prefere “ficar” ou namorar?

O jovem adulto na atualidade prefere “ficar” ou namorar?

Quais são os locais onde ocorrem com frequência as “ficadas”?

Fonte: NOGUEIRA, N.S, 2015, p. 73.

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ANEXO

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ANEXO I – PARECER

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