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CENTRO UNIVERSITARIO DE BELO HORIZONTE (UNI-BH)
HELENA ALMEIDA
O FEMINISMO NA AMÉRICA LATINA:
INFLUÊNCIA NA ASCENSÃO DA MULHER AO PODER POLÍTICO
Belo Horizonte 2010
HELENA ALMEIDA
O FEMINISMO NA AMÉRICA LATINA:
INFLUÊNCIA NA ASCENSÃO DA MULHER AO PODER POLÍTICO
Artigo apresentado ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de
bacharel em Relações Internacionais.
Área de concentração: Relações Internacionais
Orientadora: Professora Alexandra Nascimento
Belo Horizonte 2010
Dedico este trabalho primeiramente aos meus pais, pelo incentivo,
dedicação, apoio e amor incondicional. Em segundo lugar dedico a todos
os professores que fizeram parte dessa jornada de quatro anos, a quem eu
devo todo o conhecimento e inspiração que adquiri nos últimos tempos.
Agradeço primeiramente a Deus, pois sem ele nada seria possível. A
minha orientadora, Alexandra Nascimento, não só pelo privilégio de
compartilhar seus conhecimentos e pelas sugestões durante a minha
qualificação, mas também pela inspiração que me foi passada a continuar
os estudos sobre a América Latina. Aos meus pais, por me
proporcionarem uma educação de qualidade. Minha avó pela atenção e
carinho de todas as horas. E aos meus colegas do UNI-BH, com os quais
compartilhei os melhores momentos nos últimos anos.
1
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal fazer um estudo histórico do movimento feminista e
sua influência na ascensão da mulher ao poder político na América Latina.
Este artigo será um estudo de caso, que tomará como objetos de análise as transformações sociais
e políticas que ocasionaram a chegada a instâncias do poder máximo do país, a Presidência da
República, de Cristina Kirchner e Michelle Bachelet, buscando estabelecer uma comparação
entre as duas trajetórias políticas. O argumento desdobra-se em uma hipótese: a ascensão de
Cristina Kirchner e Michelle Bachelet ao poder político mais alto de seus países se deu graças à
influência do movimento feminista.
ABSTRACT
The main goal proposed by this article is to make a major historical study of the feminist
movement and its influence in the rise of women to political power in Latin America.
This case is a study, which will build objects of analysis, on the social and political changes
which led to the arrival at the instances of maximum power in their country, the Presidency of the
Republic of Argentina and Chile, Cristina Kirchner and Michelle Bachelet, seeking to establish a
comparison between these two political trajectories. The argument unfolds in a hypothesis: the
feminist movement made possible the rise of Cristina Kirchner and Michelle Bachelet to their
countries political power.
2
Os Movimentos Feministas e Suas Contribuições nas Sociedades
Analisando o histórico do movimento feminista, assim como as transformações políticas e sociais
ocorridas na Argentina e no Chile com relação à mulher, poderemos ver se os movimentos
feministas em ambos os países contribuíram ou não para a influência na ascensão da mulher ao
poder político na América Latina. O movimento feminista começam a surgir no século XVII com
a manifestação dos intelectuais, dando origem ao feminismo e a Teoria Feminista, e até hoje
influência e inspira centenas de mulheres.
Argentina e Chile são dois países latino-americanos que nos últimos anos vêm presenciando em
seu território a força e a ascensão da mulher no poder político da America Latina. Dois países
diferentes, com governantes de históricos diferentes que se interligam na ascensão da mulher,
mostrando que, a cada dia, as mulheres vêm ganhando destaque e prestígio, exercendo cada vez
mais cargos de alto escalão.
A feminista Heleieth Saffioti, em depoimento para o livro “A Revolução das Mulheres”, lembra o
significado dos movimentos feministas:
Os movimentos feministas só são o que são hoje porque foram o que foram no passado. Hoje nós podemos questionar as bases do pensamento ocidental porque houve um grupo de mulheres que queimou sutiãs em praças públicas. O sutiã simbolizava uma prisão, uma camisa- de - força, a organização social que enquadra a mulher de uma maneira e o homem de outra. A simbologia é essa: vamos queimar a camisa-de-força da organização social que aprisiona a mulher (SAFFIOTI, 2007: página 22).
Estudar a mulher e suas questões como tema de pesquisas e estudos ganhou certa relevância
somente na década de 1970, quando universidades norte-americanas e alguns países da Europa,
resolveram aumentar o número de programas e centros de investigação acerca do tema. A década
de 1960 foi marcada por um grande alvoroço político-ideológico que o mundo vivia. No mundo
ocidental, a cultura tradicional era rebatida pelo começo do mundo jovem representado pelos
Beatles, Woodstock, Black Power, e o movimento hippie. As mulheres americanas descobriram a
3
pílula, manifestavam-se contra a Guerra do Vietnã e falavam em Women's Lib, libertação das
mulheres. Na América Latina a Revolução Cubana1 era um modelo para os revolucionários do
mundo e suas mulheres erguiam metralhadoras, nas guerrilhas, lado a lado com os homens. Já na
década de 1970, com a crise do petróleo e os Estados Unidos vivendo um momento de recessão,
os movimento sociais começaram a ganhar destaque com as movimentações da classe
trabalhadora insatisfeita com a situação. Inseridas nos movimentos sociais, as feministas
começaram a ganhar destaque.
Em 1975 foi celebrado pela ONU o “Ano Internacional da Mulher” 2, que chamou a atenção para
as discriminações que ainda existiam contra as mulheres e contribuiu para alertar os governos de
uma necessidade tamanha de tomar medidas concretas para assegurar uma participação efetiva da
mulher no processo de desenvolvimento do Estado. (TABACK, 1983).
Um grande destaque em prol dessas mudanças significativas na posição da mulher provém do
movimento feminista que lutou e luta até hoje em prol da mulher. Esses questionamentos muitas
vezes trouxeram a tona problemas desconsiderados pelas sociedades.
O Movimento Feminista e a Mulher na Política
De acordo com Maggie Humm3 e Rebecca Walker4, duas historiadoras do feminismo, o mesmo
surgiu a partir dos movimentos feministas ocorridos na história que podemos dividir em três
"ondas". A primeira teria ocorrido no século XIX e início do século XX, focando principalmente
1 A Revolução Cubana foi um movimento armado, inicialmente, que levou à derrubada do ditador Fulgencio Batista de Cuba em 1 de janeiro de 1959 pelo Movimento 26 de Julho liderada por Fidel Castro. http://www.culturabrasil.org/revolucaocubana.htm. Acessado em 18 de Novembro de 2009. 2 Desde 1957, por decisão da Assembleia Geral da ONU, a UNESCO implementa, dentre os países que aderem às campanhas, que hoje chegam a 193 dentre eles paises latinos americano como a Argentina o Chile e o Brasil, o chamado Ano Internacional. Em1975 foi escolhido o ano da mulher. http://www.unesco.org/new/en/unesco/ . Acessado em 21 de Abril de 2010. 3 Professora, escritora e líder de pesquisa na School of Humanities and Social Sciences na Universidade de East London. http://www.uel.ac.uk/hss/staff/maggie-humm/index.htm. Acessado em 23 de Outubro de 2009. 4 Americana e escritora feminista. http://www.rebeccawalker.com/. Acessado em 23 de Outubro de 2009.
4
em obter direitos legais, poder político e no sufrágio feminino5. A segunda veio nas décadas de
1960 e 1970, encorajando as mulheres a entender os aspectos de suas vidas pessoais, e
preocupada em grande escala com a questão da igualdade, focando no fim da descriminação da
mulher na sociedade, na educação e no trabalho. Por fim, a terceira teria sido da década de 1990
até a atualidade, e veio como uma resposta positiva, preenchendo de forma mais forte as
propostas da segunda “onda” 6.
Acompanhando grandes revoluções, como a Revolução Francesa7, o feminismo ganha um
destaque reivindicatório, ganhando força de expressão, ao se unir a partidos políticos. Os partidos
de esquerda que surgiram com a expansão do capitalismo precisavam de mais colaboradores, que
foram encontrados nas mulheres, que por si obtiveram nos partidos políticos o espaço que
precisavam para suas reivindicações.Os movimentos feministas passaram então a ficar
fortemente ligados aos movimentos políticos. As feministas defendiam que os direitos
conquistados pelas revoluções deveriam estender-se a ambos os sexos, por serem os direitos
naturais8. A participação das mulheres na Revolução Francesa foi um grande acontecimento
político que teve como uma de suas demandas a igualdade jurídica. Apesar das mulheres não
saírem da revolução com a cidadania política que almejavam, algumas vitórias importantes foram
conquistadas, como a instauração do casamento civil e a legislação do divórcio
(GILLIGAN,1968).
No século XIX, com todo o boom operário devido a Revolução Industrial, o número de mulheres
empregadas aumentou de forma significativa, o que não diminuiu a diferença salarial entre os
sexos. A justificativa usada era que as mulheres teriam quem as sustentasse. Nesse devido
momento a situação da mulher então se mescla nas relações de exploração na sociedade de
5 Movimento social, político e econômico de reforma, com o objetivo de estender o sufrágio (o direito de votar) às mulheres. http://www.mundoeducacao.com.br/politica/sufragio-feminino.htm . Acessado em 18 de Abril 2010.
6 Disponível em http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Feminism. Acessado 18 de novembro 2009.
7Acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" http://www.culturabrasil.pro.br/revolucaofrancesa.htm . Acessado em 23 de Outubro de 2009.
5
classes. Com isso, o movimento feminista ganha força como um aliado do movimento operário.
Esse movimento ganha então uma alavancada em 1848 na Convenção dos Direitos da Mulher9
em Nova York, EUA. As conquistas da Revolução Francesa, que tinha como lema Igualdade,
Fraternidade e Liberdade foram adotadas pelas feministas porque elas acreditavam que os direitos
sociais e políticos adquiridos a partir dessa Revolução deveriam se aplicar a elas também
(MICHEL, 1982).
O movimento feminista, em seu início, teve como sua meta conquistar a igualdade de direitos
entre homens e mulheres e garantir a participação da mulher na sociedade de forma equivalente.
Pode-se dizer que o movimento feminista foi e ainda é um movimento político e intelectual que
vem desfazer a idéia de que há uma diferença entre os gêneros. As mulheres acreditavam que
elas, por si só, deveriam lutar pela conquista de suas independências (MICHEL, 1982).
Durante as décadas de 1930 e 1940, as reivindicações do movimento haviam sido formalmente
conquistadas na maior parte dos países ocidentais, principalmente na Europa, como o direito ao
voto, escolarização e acesso ao mercado de trabalho. A conquista no mercado de trabalho ganhou
força principalmente devido as duas Grandes Guerras, com um número significativo dos homens
envolvidos com a guerra às mulheres ocuparam os postos de trabalho que ficaram vagos,
mostrando que poderiam cuidar das casas e dos filhos e ao mesmo tempo exercer as funções dos
homens. Mas mesmo com um ótimo desempenho e todos os esforços feitos pelas mulheres para
cobrir essa brecha deixada pelos homens, as mulheres não receberam o reconhecimento que
mereciam. “Com o fim de ambas as guerras surgiram campanhas para desvalorizar o trabalho
feminino, mostrando que os avanços conseguidos estavam ainda restritos ao âmbito legislativo”
(WALKER, 1992, p.39).
Já na década de 1960, o movimento, apoiado por publicações, passa a defender que a hierarquia
entre os sexos não é uma fatalidade biológica e sim uma construção social. No ano de 1964, a
conhecida frase do movimento feminista "Women's Liberation" ("Liberação das Mulheres") foi
9 Primeiro encontro sobre direitos das mulheres em Seneca Falls, NY- EUA. No século 19, no contexto da Revolução Industrial, o número de mulheres empregadas aumentou significativamente. Foi a partir desse momento, também, que as ideologias socialistas se consolidaram, de modo que o feminismo se fortificou como um aliado do movimento operário.
6
empregada pela primeira vez nos Estados Unidos e impressa somente dois anos depois. Em 1968,
o termo Women’s Liberation Front (Frente de Liberação das Mulheres) apareceu na revista
Rampart10, e passou a ser referência a todo o movimento feminista. Além disso, protestos
feministas, o concurso Miss America11 e a tão famosa queima de sutiãs também ficaram
associados ao movimento, embora a dimensão das queimas de sutiãs seja motivo de controvérsias
(MITCHEL, 1966).
A famosa Queima dos Sutiãs12, ou Bra-Burning como foi conhecida internacionalmente, ao
contrário do que muitos acreditam, nunca aconteceu de verdade. Mas a atitude foi incendiária, e
se lastrou por todo o mundo. A tão esperada escolha da americana mais bonita dos Estados
Unidos era tida como uma visão arbitrária da beleza feminina e opressiva às mulheres, por causa
de sua exploração comercial. As feministas acreditavam que o concurso estereotipava a beleza, e
que existiam várias outras formas de beleza à parte da suposta ganhadora do concurso. Elas,
então, em um ato nem um pouco esperado, colocaram no chão do espaço vários utensílios
femininos. “sutiãs, sapatos de salto alto, cílios postiços, sprays de laquê, maquiagens, revistas,
espartilhos, cintas e outros instrumentos de tortura representaram a indignação feminina”
(DUFFET, 1968, p. 4).
No momento do protesto, alguém sugeriu que tocassem fogo em seus utensílios, mas não
aconteceu porque não houve permissão do lugar para isso. Também ninguém tirou seu sutiã,
como todos acreditam. Essas lendas urbanas surgiram porque, ao dar ampla cobertura para o
evento, a mídia o associou a outros movimentos, – como o da liberação sexual; dos jovens que
queimaram seus cartões de segurança social em oposição à Guerra do Vietnã - e passou a chamá-
lo de “bra-burning”, (queima de sutiãs), encorajados por ativistas como Robin Morgan (ex-
10 Revista americana, política e literária, que foi publicada de 1962 a 1975 (MITCHEL, 1966). 11 Concurso de beleza, onde participantes dos 50 estados americanos compete por um premio em dinheiro e o prestigio de ter o titulo Miss America por um ano. 12 Evento de protesto com mais de 400 ativistas do Women’s Liberation Movement (WLM) contra a realização do concurso de Miss America em 7 de setembro de 1968, em Atlantic City, no Atlantic City Convention Hall, logo após a Convenção Nacional dos Democratas”(DUFFET, 1968, p. 4).
7
estrela-mirim da rádio e TV, ativista, escritora, poeta e editora do “Sisterhood is Powerful e Ms.
Magazine”.13
Com toda a popularidade e movimentação com relação ao acontecido, a manchete do New York
Post saiu com o título “BraBurners and Miss America” (Queimadoras de Sutiãs e Miss América),
que logo ficou associado às feministas. Desde então, o senso comum ligou para sempre
feministas e “queima de sutiãs”. Germaine Greer, uma jornalista e escritora australiana, declarou
nos anos 1960 “que o sutiã é uma invenção ridícula”, declaração que repercutiu em muitas
mulheres que questionavam o papel do sutiã como objeto anti-sexista da liberação feminina.
Depois disso, de fato aconteceram queimas de sutiãs em vários cantos do mundo: centenas de
mulheres acreditaram que esse era o lema do protesto. Apesar da queima não ter acontecido de
fato no momento do protesto, sua suposta ocorrência serviu para dar inspiração às mulheres e de
fato passou a ocorrer. Hoje, sempre que se pensa em movimento feminista, pensa-se
imediatamente na figura de uma mulher queimando o sutiã.
O movimento feminista não só visa garantir a participação da mulher na sociedade de forma
equivalente à do homem, como também conquistar a igualdade em todos os direitos. O
movimento aborda vários temas como o trabalho, a violência, a sexualidade, e os estereótipos da
mulher de forma única e revolucionária. “Uma vez que a opressão da mulher é a forma
primordial e mais global de dominação, o movimento feminista trazia em si todo o potencial
revolucionário das outras lutas" (GARAUDY, 1982, p. 68).
Um tema de essencial atenção se trata de uma questão central, que vem a determinar as demais,
que é a participação da mulher na política. Essa participação lhe cabe o papel decisório, na
definição das políticas sociais e públicas. A participação da mulher na vida política nacional de
seus países vem crescendo e se destacando cada vez mais. O número de mulheres candidatas em
partidos são consideravelmente grandes e o número de mulheres eleitas também aumentou.
O movimento feminista também deu origem ao feminismo e às teorias feministas das Relações
Internacionais. Uma forma simples de definir o feminismo é dizer que se trata do estudo do
movimento das mulheres como matéria de conhecimento. “Feminism means the study of and the
13 Disponível em http://hysterocracya.blogspot.com/2007/02/queima-dos-sutis.html. Acesso 26 de novembro 2009.
8
movement for women not as objects but as subjects of knowledge” (GRIFFITHS, 2002, p. 124)
Feminismo e as Relações Internacionais
Até a década de 1980, o feminismo não apresentava muita relevância nas Relações
Internacionais. Nas últimas décadas, o feminismo adquiriu destaques nos estudos das Relações
Internacionais. As críticas iniciais do feminismo ao estudo das Relações Internacionais veio
inicialmente desafiar as bases fundamentais da disciplina e apontar as formas com que as
mulheres eram excluídas das análises dos Estados, da política econômica internacional e da
segurança internacional. Hoje, já podemos distinguir entre pelo menos dois tipos diferentes de
feminismo nos estudos das Relações Internacionais (GRIFFITHS, 2002).
A primeira “onda” dos estudos feministas de 1980 é chamado de empiricismo feminista: os
estudiosos das relações internacionais vieram a reclamar a voz oculta das mulheres e expor a
multiplicidade dos papéis que as mulheres assumem junto as forças econômicas globais e
interação entre os Estados. A participação e o envolvimento das mulheres na sociedade facilitam
muitas atividades para os Estados como, por exemplo, a influência das mulheres na dominação
dos Estados menores pelos Estados maiores economicamente. “Women’s participation and
involvement facilitates tourism, colonialism, and economic powerful states’ dominations of week
states” (GRIFFITHS, 2002, p.124).
Para manter a política econômica internacional dependemos de uma relação política e militar
estável entre os Estados. A criação de comunidades diplomáticas e militares estáveis tem sido
responsabilidade das mulheres mesmo que indiretamente, por trás da figura de um líder militar ou
diplomático do sexo masculino. “The creation of stable diplomatic and military communities has
often been the responsibility of women (as wives, girl-friends and prostitutes)” (GRIFFITHS,
2002).
Essa teoria feminista expõe o papel das mulheres e demonstra sua importância em uma ampla
variedade de áreas. Alguns podem pensar que o papel da mulher não é tão significativo nos
negócios da economia internacional, mas em muitos casos seu papel pode representar grande
9
importância para a economia de um país. Um exemplo é o caso das Filipinas:
In case one might thing that the role of women is marginal to the real business of the international economy, it should be noted that Philippine women working abroad as domestic servants is annually contribute more to the Philippine economy than the national sugar and mining industries(GRIFFITHS,2002,p.125)
Um segundo foco das pesquisas feministas busca desconstruir o paradigma dos debates de
gêneros desde 1919. Esse segundo foco muitas vezes é definido como um feminismo de ponto
fixo. Os estudiosos desse feminismo argumentam para a criação de um conhecimento baseado
nas condições materiais das experiências das mulheres, o que nos deu uma figura mais completa
do mundo, já que aqueles que são oprimidos e descriminados geralmente têm uma visão e uma
compreensão maior das fontes de sua opressão do que os próprios opressores. A teoria também
vem alertar como o estudo convencional das relações internacionais é, por si só, taxado por um
gênero (GRIFFITHS, 2002).
Apesar da ascensão do feminismo no campo, ainda existe um não balanço entre acadêmicos
homens e mulheres, nas Relações Internacionais, e muitas feministas atacam as maneiras com
que as experiências masculinas são projetadas como se representassem um ponto fixo universal.
Segundo as feministas as tradições dos pensamentos realistas e liberais representam a
masculinidade. “The major Western intellectual traditions of realist and liberal thought have
drawn from culturally defined notions of masculinity, emphasizing the value of economy,
independence and power” (GRIFFITHS, 2002, p.125).
O feminismo é um corpo de estudo complicado e freqüentemente contraditório das relações
internacionais do final do século XX. Num sentido amplo, feminismo é um termo guarda-chuva.
A teoria engloba uma grande variedade de críticas com o objetivo de examinar o papel do gênero
nas relações internacionais. Podemos encontrar também algumas outras áreas do feminismo
como o feminismo liberal, feminismo, feminismo radical, feminismo marxista, pós-marxista ou
feminismo socialista, feminismo pós-moderno entre outros, o que demonstra o comprometimento
das feministas pela ética baseada na igualdade entre homens e mulheres: seus trabalhos são às
vezes acusados de idealismo, sendo criticados por ignorar os homens na tentativa de promover a
emancipação das mulheres (GRIFFITHS, 2002).
10
A teoria feminista nas Relações Internacionais é mais conhecida como um movimento do que
como uma teoria. Existem feministas realistas, marxistas e construtivistas. Esse movimento
feminista deseja a igualdade de gênero por meio de mudanças no discurso socialmente construído
uma vez que o gênero mulher não está inserido na diplomacia.
Muitas teorias de Relações Internacionais se dizem neutras à questão de gênero. Levando em
consideração esses conceitos em torno do gênero feminino, é importante notar o número de
mulheres que compõe o meio acadêmico de Relações Internacionais. Existe um monopólio de
conhecimento predominantemente masculino e ocidental (SMITH; BOOTH; ZALEWSKI, 1996).
Por isso, várias autoras propuseram a desconstrução desses discursos de forma a condicionar o
gênero no estudo e prática das relações internacionais. Jean Elshtain, em oposição ao realismo e à
“masculinidade militar”, propôs a inclusão das mulheres neste âmbito. A autora demonstra em
seu livro “Women and War”, a existência de mulheres soldados na guerra e a habilidade da
mulher nas táticas de guerra por terem uma visão mais detalhada e não tão ampla da aplicação
destas táticas. A mulher por desempenhar um papel ativo no âmbito doméstico é mais organizada
e tem espírito de liderança forte. O importante aqui, não é a comparação com os homens, mas sim
o fato de que as mulheres também possuem habilidades úteis na guerra (SMITH; BOOTH;
ZALEWSKI, 1996).
Já Cynthia Enloe (1996) discute o papel da mulher na economia. Ela revela em seu livro
“Bananas, bases and Beaches”, o papel crucial das mulheres na política internacional
contemporânea. Para Enloe, a estrutura feminina em todas suas esferas (familiar, beleza,
casamento) vem, na realidade, da política global. A mulher desempenha um papel fundamental
na economia e tem um papel importante no surgimento e reconhecimento do setor informal de
trabalho. Enloe cita que a questão da autodeterminação da mulher é um ponto crucial para o
funcionamento do sistema mundial, que segundo ela “é muito mais frágil e aberto a mudanças”
do que pensamos.
11
O trabalho da feminista Na Tickne (1996) se concentra mais na elaboração de uma política de
identidade feminina. Ela busca a desconstrução do discurso simbólico e uma nova visão para o
gênero feminino. Tickner critica fortemente a corrente teórica principal nas Relações
Internacionais , em especial o realista Robert Keohane, por sua falha em reconhecer o potencial
da teoria feminista (SMITH; BOOTH; ZALEWSKI, 1996).
Cada vez mais então as feministas lutam para incluir uma agenda mais ampla de perguntas sobre
os gêneros na prática e nas teorias das relações internacionais, levando cada vez mais a ascensão
das mulheres tanto politicamente como socialmente em seus Estados.
A Mulher e o Feminismo na Argentina
A Argentina tem como “tradição” a influência feminina em sua sociedade e vida política. Desde
muitos anos vem cultivando uma cultura de forte influência feminina e lançando fortes nomes,
reconhecidos no cenário internacional
O movimento feminista na Argentina foi e ainda é um movimento feito de contínuos esforços
realizados por indivíduos e pequenos grupos de mulheres para melhorar de alguma forma a vida
das mulheres argentinas. Embora os esforços individuais possam ter parecido pequenos,
independentes, e muitas vezes até mesmo sem muitos frutos, quando se estuda esses
acontecimentos e os colocamos todos juntos, pode-se constatar que muito foi realizado pelas
mulheres na Argentina.
Tradicionalmente, a posição jurídica da mulher na Argentina foi baseada na lei espanhola, que
por sua vez, baseou-se no direito romano, no qual as mulheres eram consideradas propriedades
dos homens na família, as mulheres solteiras, sob a autoridade de seus pais e as mulheres casadas
sob a autoridade de seus maridos. No entanto, no final do século XVIII e começo do século XIX
essas atitudes começaram a mudar devido a influências de culturas estrangeiras, em especial a
francesa, que faziam os costumes espanhóis parecerem antiquados e fora de moda. As idéias que
12
vinham de fora eram futuristas e modernas se comparadas com o modo de vida argentino.
Seguindo então a tendência dos salões franceses, argentinas, Em sua maioria de classe média
começaram a organizar eventos culturais onde homens e mulheres poderiam interagir de maneira
informal, em discussões intelectuais sobre música e poesia (CARLSON, 1988).
Durante a luta argentina por sua independência da Espanha, muitas mulheres se viram obrigadas
a assumir os negócios da família para que os homens pudessem lutar. Muitas mulheres
mantiveram sozinhas suas famílias durante esse período, mas com o fim da guerra a sociedade
pressionou-as para voltarem aos seus papéis de somente dona do lar. "Societal pressure obviously
required that they slip back into normal female roles” (CARLSON, 1988, p.38).
As feministas argentinas lutavam principalmente por uma igualdade educacional e nas
oportunidades de trabalho: a preocupação aumentava em relação às condições precárias que as
mulheres de classe baixa trabalhavam. Houve uma divisão de idéias entre as mulheres que se
dedicavam a causas filantrópicas, e que eram consideradas mais tradicionais e conservadoras, e as
mulheres de classes mais altas que estavam interessadas em ganhar direitos políticos e
econômicos para sua classe.
Em 1801, o governo colonial fundou o primeiro jornal diário em Buenos Aires, “Telegrafo
Mercanble” que continha artigos de apoio à educação para as mulheres e criticava a natureza
religiosa da educação recebida pelas mulheres vinda da Igreja. Alguns escritores enfatizavam a
necessidade das mulheres adquirirem habilidades que lhes dariam maior independência
econômica e as tornariam cidadãs responsáveis, concedendo-lhes mais privilégios e
responsabilidades dentro da sociedade (CARLSON, 1988, p. 34-5).
Domingo Sarmiento14 desempenhou um papel fundamental na promoção da educação para as
mulheres na Argentina. Sarmiento acreditava que as meninas deveriam ser educadas não apenas
14 Político, educador e escritor argentino, primeiro presidente da República (1868-1874). Na guerra civil argentina, em final dos anos de 1820, combateu ao lado dos liberais, e quando Rosas estabeleceu sua ditadura em 1835, foi exiliado para o Chile. Após a queda de Rosas em 1852, Sarmiento regressou ao seu país. Foi eleito presidente e após seu mandato reformou o sistema escolar argentino, universalizando a instrução pública. http://www.olivro.com/images/sarmiento.htm Acessado em 28 de Abril de 2010.
13
para serem melhores mães, mas para serem capazes de contribuir para a sociedade por estarem
envolvidas na política local, o que ele acreditava ser uma extensão natural da casa. Ele ainda
acreditava que, eventualmente, depois de serem educadas e ganharem experiência na política
local, as mulheres também deveriam se tornar ativas na política nacional. Em 1856, quando se
tornou Ministro Nacional da Educação, Sarniento nomeou uma mulher para a posição de
supervisora da Secretaria de Educação, da província de Buenos Aires. "In Argentina, middle class
women did not work, let alone take positions of authority over men" (CARLSON, 1988, p. 37).
A Argentina foi pioneira na América Latina em lutar pelos direitos das mulheres: o movimento
das mulheres argentinas começou no final do século XIX, seguindo o exemplo de movimentos
similares nos Estados Unidos e na Europa. Nesses movimentos as mulheres começaram, pela
primeira vez, a organizar-se para a melhoria de suas vidas e, finalmente, para a melhoria da
sociedade. Começando em 1860 o governo argentino incentivou a imigração de forma agressiva.
Naquela época quarenta e cinco por cento da população de Buenos Aires era composta por
imigrantes, já em 1890, noventa por cento eram imigrantes. Este fluxo maciço de imigrantes
incluía muitos profissionais qualificados, alguns dos quais eram liberais ou socialistas exilados
políticos de seus países, com idéias progressistas como o apoio à educação. Essa imigração
ajudou a derrubar o sistema de classes rígido, bem como a proporcionar um clima social e
intelectual favorável aos direitos das mulheres e questões feministas. "In Argentina feminism was
largely an immigrant movement, and one closely allied to the Socialist party, although there were
some non Socialist feminists" (CARLSON, 1988 p.66-8).
A abertura de universidades e escolas preparatórias para meninas, com início em 1905, e as
oportunidades para as mulheres a frequentarem a Universidade, de acordo com Carlson (1988);
"marcaram o início real do movimento feminista na Argentina." Todas as mulheres de vinte e
cinco anos que completaram cursos na Universidade entre 1905 e 1910 exerciam a profissão,
apoiavam fortemente o avanço social e econômico para as mulheres. Entre 1910 a meados de
1950 o sistema educacional da Argentina foi considerado o melhor da América Latina, e foi
percebido como sendo "moralmente e financeiramente comprometidos com a educação das
mulheres".
Devido a todo esse avanço social e econômico que a Argentina passa de 1910 até a metade da
14
década de 90, principalmente o avanço na aérea da educação, proporcionou as mulheres a ficarem
mais cientes de seus direitos e deveres na sociedade, e talvez por isso que o surgimento de uma
forte figura feminina na Argentina conhecida mundialmente, Eva Perón, mais conhecida pelos
argentinos como Evita, pareceu tão atrativa para a classe feminina trabalhadora (CARLSON,
1988).
Evita teve suas raízes na classe baixa, e a massa argentina sentia como se ela entendesse e se
preocupasse mais com sua situação do que qualquer outra pessoa. As primeiras feministas
argentinas eram mulheres estudadas que pertenciam a classes mais altas, pareciam se importar
primeiramente com seus interesses pessoais, e as mulheres das classes mais baixas não viam
como se identificar com seus esforços. Apesar de terem o mesmo interesse pela igualdade dos
sexos, a diferença de classes sociais as fazia também ter outros tipos de interesses.
Pelo fato de não ter nascido na classe alta, Eva foi muitas vezes menosprezada pelas mulheres da
oligarquia, principalmente as que faziam parte das altas sociedades beneficentes argentina. Mas
mesmo assim Evita conseguiu conquistar não só a massa feminina, como todo um povo, e sua
influência é considerada decisiva na vida política argentina. “Evita's effect on the condition of
women in Argentina and on their political life was decisive. A mass of women who care little
about women's rights and were indifferent to the concerns of middle class feminists had entered
politics because of Evita” (NAVARO,1980,p.109).
Eva foi esposa de um dos presidentes mais marcantes na historia da Argentina, sempre ao lado de
seu marido, Perón,15 começou a se mostrar como uma nova mulher, uma mulher totalmente
inserida na área da política e passou a se dedicar às causas do povo argentino: “Perón é um
homem de dupla personalidade, e eu preciso me adequar a isso também: Eu sou Eva Perón, a
15 Militar e político argentino, foi um dos políticos mais importantes da América Latina, Juan Domingo Perón Foi presidente de seu país de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974, promovendo grandes mudanças no país. Seus governos foram marcados por medidas de grandes transformações, com a estatização das ferrovias, empresas de telefonia, do petróleo e companhias de eletricidade. Além disso, ocorreu um grande crescimento da indústria do país, com a regulação das importações, e os trabalhadores ganharam direitos a aposentadoria, férias remuneradas, cobertura de acidentes de trabalho e seguro médico. As mulheres também passaram a ter direito a voto e foi permitida a reeleição eleitoral. Com relação à política externa, adotou uma postura antiamericana e anti-britânica, trilhando o caminho que chamou de 'terceira posição', entre o comunismo e o capitalismo (SCIELO, 2010).
15
esposa do Presidente, e tenho um papel simples, mas eu também sou Evita, a esposa de um líder
do povo, e nele eu deposito toda a minha fé, aminha esperança e o meu amor (EVITA PERON,
2009).
Eva começou sua relação com o povo argentino resolvendo disputas de trabalho, ajudando os
trabalhadores a conseguir melhores pagamentos, mas principalmente tentando escutar essas
pessoas e seus desejos. Eva teve intensa participação política, e mesmo depois de sua morte é
lembrada pelo povo argentino e internacionalmente. Eva sentia se como uma ponte, que
aproximava Perón das pessoas: “Minha missão aqui é transmitir a Perón as preocupações e
problemas do povo da Argentina” (NAVARO, 1996 p. 83).
Com o passar dos anos, ela se tornou mais que isso, suas atividades e funções ficaram mais
intensas, e ela passou a lutar pelos direitos da mulher, tornando- se uma pioneira na luta em prol
das mulheres na Argentina. No dia 21 de agosto de 1947, o Congresso aprovou o projeto que deu
a mulher o direito do voto. Foi uma longa campanha na qual Evita lutou diariamente. Evita ia
diariamente a Câmara dos Deputados se encontrar com os senadores do Partido Peronista16, lutar
por esse objetivo. E em junho de 1947, convidada pelo governo da Espanha, Evita inicia um tour
pelo mundo, que incluiu o Brasil, reivindicando os direitos dos trabalhadores e promovendo a
força e o prestígio da mulher ao mesmo tempo em que exercia o papel de feminista tentando
gerar uma igualdade de gêneros.
Sendo condecorada na Espanha e recebida pelo Papa Paulo XII na Itália, Evita teve a
oportunidade de conhecer países como à Nova Zelândia pioneira no direito da mulher ao voto, e
voltou com mais força para lutar pelo mesmo direito para as argentinas. Em 1947 veio à vitória
com a lei 13010. Antes de deixar Madrid, Evita disse as mulheres espanholas “Esse século não
será marcado por guerras mundiais, nem por descobertas atômicas, esse século será marcado pela
vitória do feminismo”. (EVA PERON, 2009).
A luta pelo direito das mulheres na Argentina começou com a virada do século: as organizações
feministas da época eram formadas principalmente de classes média e alta, mulheres que
possuíam estudo e que começaram em suas próprias casas a luta para não se limitar aos papéis
16 O Partido Justicialista (PJ), também conhecido como Partido Peronista, é o maior partido político argentino. Foi fundado pelo general Juan Domingo Perón, cujo sobrenome batizou este movimento político: o Peronismo
16
que tradicionalmente lhes eram designados pela sociedade: tornarem-se esposas e mães. No
entanto, sem muitos recursos e projeção, as organizações feministas na Argentina eram
consideradas moderadas, comparada com outros países como os Estados Unidos17. Para mudar
essa situação e os direitos das mulheres serem levados a luz, foi criada a Divisão do Trabalho,
graças ao empenho e esforço de Eva Perón junto a seu marido que se declarou oficialmente
apoiador das causas das mulheres.
Eva Perón travou sua batalha em prol das mulheres e rumo a sua carreira política inspirada e
influenciada pelos movimentos feministas da época.
Os regimes repressivos que aterrorizaram e intimidaram a sociedade argentina e que causaram
um colapso na economia e utilizou de propaganda para reforçar o papel tradicional das mulheres,
acabou criando uma atmosfera na qual exigir os direitos das mulheres parecia ser subversor
demais e até mesmo irrelevante em face dos problemas “maiores” que o país vinha sofrendo.
(CARLSON, 1988)
Em 1977, quatorze mulheres se reuniram e marcharam para a “Plaza de Mayo”, em Buenos Aires
apesar da proibição de reuniões públicas ordenada pela junta militar no poder, À procura de
informações sobre seus filhos desaparecidos durante a ditadura. O governo inicialmente não
levou "Las Madres" a sério, dizendo que não querem aceitar que seus filhos tinham saído
voluntariamente do país por conta própria. Os militares não estavam cientes de a natureza política
dos protestos das Mães e, portanto, não suprimiram a principio o grupo: o regime permitiu que
um grupo aparentemente não político ganhasse força política incontestável.
Uma vez que a junta percebeu a gravidade do seu erro de cálculo, a determinação das mulheres
era forte o suficiente para que a repressão não conseguisse destruir o movimento. Na verdade, o
custo da repressão poderia ter sido maior do que o custo de permitir que as mulheres
17 Os Estados Unidos se notabilizaram por vigorosos movimentos feministas, de alta projeção surgida já em princípios do século XIX. Os Estados Unidos fundaram em 1837, uma universidade feminina e foram palco de várias convenções feminista. As feministas norte americanas contavam também com a luta contra a escravidão. O abolicionismo foi um dos temas centrais do desenvolvimento e consolidação do movimento feminista americano. Disponível em http://www.renascebrasil.com.br/f_feminismo2.htm. Acesso em 20 de novembro de 2009.
17
continuassem protestando, devido ao conhecimento do movimento pela comunidade
internacional. Las Madres de Plaza de Mayo foram na verdade, o único grupo que desafiou as
fronteiras políticas impostas por um governo que proibiu todas as atividades políticas e partidos
políticos. Las Madres desempenharam um papel crucial na "ressurreição da sociedade civil na
Argentina que foi essencial para a democracia política ressurgir" (CARLSON, 1988 p. 41.2).
A primeira geração de feministas educadas fez uma contribuição real para a criação de uma
medida de independência na educação das mulheres, e para o estabelecimento da Argentina no
seio da comunidade internacional de feministas. Em geral, como indicado no início, as mulheres
argentinas têm lutado perseverantemente e ganhado pequenas batalhas ao longo do caminho, mas
que na somatória, criou uma história impressionante sob um esforço que valeu a pena (Ibid. p.
192 e A. Witte, p. 66)
Hoje, Cristina Elizabete Fernandez de Kirchner, Presidente da Argentina aos 56 anos, tendo
como background histórico de seu país a luta das mulheres, mostra mais uma vez que as
mulheres são um marco forte na historia da Argentina. Sempre liderando as pesquisas mostrou
para seu país força e o potencial das mulheres.
Kirchner não é a primeira primeira-dama da Argentina a se tornar presidente. Isabel Perón,
terceira mulher de Juan Perón, atuou como presidente de 1974-76, após a morte do marido. Ele
foi o fundador do partido peronista também conhecido como Partido Justicialista que Cristina
Kirchner, representa. Antes de assumir a presidência da Argentina Cristina já era bem conhecida
politicamente entre os argentinos, não só por ter sido casada com um ex-presidente do país, mas
principalmente pela ampla carreira política que teve. Desde os tempos de estudante na
Universidade Nacional de La Plata, Cristina se identificou com movimentos que lutavam pelos
Direitos Humanos. Seu primeiro cargo político foi em 1989, como Deputada da província de
Santa Cruz e seu ultimo cargo político antes de assumir a presidência da Argentina foi como
Senadora Nacional de Santa Cruz, entre 2001 a 2005 (CRISTINA, 2009).
Filha de uma funcionária do Ministério da Economia da província de Buenos Aires e delegada
sindical peronista, a influência da mãe, uma mulher de caráter dominante e envolvida em
trabalhos gremiais, moldaram as primeiras simpatias justicialistas de Cristina. Esta orientação
política com acentos progressistas intensificaram-se depois de entrar na Faculdade de Direito e
18
Ciências Sociais (CASA ROSADA, 2009).
Na faculdade se juntou com seu atual marido e ex-colega, Nestor Carlos Kirchner Ostoic, um
esquerdista peronista, não extremista, como ela, era crítico das Forças Armadas Revolucionárias,
grupos de países adeptos da luta armada peronista e guerrilha urbana nos anos tumultuados que
antecederam o colapso da frágil democracia argentina (CIDOB, 2010).
Cristina, seguindo os passos de seu marido que já se encontrava na carreira política, em 1985 foi
agraciada como defensora do Congresso do escritório provincial e, posteriormente, ganhou um
lugar no serviço público a pedido do governo provincial de Santa Cruz, controlado por seu
partido. Para ela foi o começo de uma carreira notável na política legislativa que discursou em
paralelo com a carreira do marido, em sua primeira legislatura provincial, Cristina presidiu a
Comissão dos Assuntos Constitucionais como uma crítica representante peronista. Cristina acaba
então tornando se mais conhecida que seu marido Nestor, que já havia adquirido uma reputação
nacional como senador (CIDOB, 2010).
Em 1995 já com uma cadeira no congresso representando o partido Justicialista e como
Presidente da Comissão dos Assuntos Constitucionais do Senado, Nestor Kirchner jogou a sua
primeira cartada para seu futuro mandato como presidente, em um momento em que a Argentina
mergulhou na pior crise econômica, social e política da historia. Com o país traumatizado pela
crise angustiante, que teve como saldo milhões de vítimas Nestor Kirchner foi formalizar a sua
ambição de ser apresentado à Presidência da República nas eleições gerais de abril de 2003
(CIDOB, 2010).
Com Nestor já na presidência Cristina, que, em função de seu trabalho como parlamentar
destacou-se em algumas habilidades políticas, como relacionar se com a mídia, apesar de omitir
contato direto com a perspectiva da imprensa e que foi, certamente, muito atraente de ser
transformada em primeira-dama da nação. Aparentemente, o casamento Fernández Kirchner, era
uma empresa que operava no fértil terreno político e civil (CIDOB, 2010).
Com a estréia de seu marido como presidente em um mandato de quatro anos, a 25 de maio de
2003, Cristina se tornou a primeira-dama de uma Argentina desmoralizada e falida. A Argentina
se deparou com uma primeira-dama tão politizada quanto o companheiro presidente. Estavam os
19
precedentes que eram universalmente conhecidos, os das esposas de Perón, a lendária Evita, que
morreu em 1952, por quem Cristina tem uma grande admiração, e María Estela, que em 1973 foi
eleita Vice-Presidente da República e no ano seguinte se tornou a primeira presidenta republicana
da América e do mundo (CIDOB, 2010).
No momento, Cristina não perdeu a oportunidade de entrar na onda de popularidade que o
presidente seu marido levantou em suas primeiras atuações, como a reorganização profunda das
cúpulas militares e policiais, que se encontravam afundada na corrupção. Remodelou o Supremo
Tribunal Federal, inaugurou uma nova política favorável ao fim da impunidade das violações dos
direitos humanos cometidas durante a ditadura, e dialogou com organizações sociais até então
ignoradas (CIDOB, 2010).
Combinando uma presença visível na agenda oficial do marido, a quem acompanhou em diversas
viagens ao exterior, e seu próprio calendário de eventos, Cristina se tornou uma “primeira cidadã"
quase que onipresente. Ela procurou ser o centro das atenções, controlando todos os detalhes de
suas aparições públicas, com relação ao cuidado pessoal de sua aparência física. Tanto cuidado,
logo levantou a suspeita de que a primeira dama nutria ambições políticas de maior projeto
(CIDOB, 2010).
Além das relações estabelecidas no âmbito das atividades internacionais gerada por seu marido
com presidentes sul-americanos amigos, todos esquerdistas ou de centro-esquerda, como nosso
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez, e Ricardo Lagos, sua primeira experiência
neste campo foi o destaque de seu discurso na Cúpula dos governos progressistas, em Julho de
2003, em Londres, onde apresentou a visão latino-americana do problema da pobreza e pôde
debater com o primeiro-ministro britânico Tony Blair e o Chanceler alemão Gerhard Schröder
(CIDOB, 2010).
Em 2005, Cristina reforçou a sua política, com a reeleição como senadora, e provavelmente foi
quando amadureceu a idéia de se candidatar à Presidência da República em 2007, o esforço de
um futuro incomum, mesmo para um país acostumado com a presença de mulheres de destaque
na política Nacional. A hipótese de Cristina Kirchner como Presidente parecia viável para seu
marido desfrutar de alguns altos níveis de popularidade que reconheceu as suas realizações na
troca e cancelamento da dívida maciça após 37 meses de inadimplência, as taxas de recuperação
20
do crescimento econômico, a luta contra o desemprego e pobreza, sem se preocupar com a
oposição não peronista, dispersa e carente de líderes forte (CIDOB, 2010).
Para fazer tal movimento, até o momento somente suspeito, Cristina estabeleceu um precedente
na história das repúblicas do mundo, porque até agora, todas as mulheres presidentes que haviam
chegado ao cargo com ou sem um mandato popular, não tinham precursores da família, ou, se
tinham eram viúvas ou órfãs dos antigos titulares. O projeto exigiu Nestor Kirchner renunciar
voluntariamente a reeleição e colocar tudo de si para a candidatura de Christina, o que levantou
dúvidas sobre a ética de um movimento que poderia ser interpretado como bi presidência
conjugal (CIDOB, 2010).
No momento, Cristina saiu mais fortalecida das lutas de poder que teve que enfrentar em seu
partido Judicialista contra Duhalde18, para arrebatar o controle partidário. O movimento político
específico do presidente e sua esposa, chamado de kirchnerismo, obteve uma vitória decisiva nas
eleições legislativas parciais do dia 23 de outubro de 2005. Cristina vence Duhalde com 46% dos
votos e 26 pontos de diferença. No dia 10 de dezembro de 2005 Cristina abriu o seu primeiro
mandato como senadora de Buenos Aires, se tornando sem dúvida, a mais poderosa e influente
membro do Senado (CIDOB, 2010).
Dois anos de intensas especulações, marcadas por algumas pesquisas de opinião que concediam a
primeira-dama amplas condições para ganhar a eleição presidencial, chegou ao fim em julho de
2007, quando faltavam menos de quatro meses para as eleições e a senadora multiplicava suas
idas e vindas internacionais, desde fevereiro, ele esteve em Paris, Quito, Cidade do México,
Caracas e Madri, onde se encontrou com Dominique de Villepin, Ségolène Royal, Nicolas
Sarkozy, Rafael Correa, Felipe Calderon, Chávez, Zapatero e os reis da Espanha. Mais tarde, em
setembro, iria visitar em Berlim a chanceler alemã, Angela Merkel (CIDOB, 2010, p. 23).
O primeiro de julho, depois de semanas de comentários quase que explícitos sobre as
18 Eduardo Alberto Duhalde Maldonad é um advogado argentino, membro do Partido Justicialista.Ocupou a vice-presidência da Argentina durante o primeiro mandato de Carlos Saúl Menem, renunciando ao posto para assumir o governo da Província de Buenos Aires. http://www.casarosada.gov.ar/
21
possibilidades de Nestor Kirchner às urnas, o chefe de gabinete, Alberto Fernández, confirmou
que o presidente descartou sua reeleição e em vez disso, apresentaria a sua esposa como
candidata. No dia seguinte, Nestor Kirchner em pessoa, oficializou a candidatura de sua esposa, a
quem elogiou por sua capacidade transformadora, e de superação e ainda acrescentou que ela
seria a pessoa que mudaria Argentina. “Cristina es la persona que vas profundizar el cambio para
que Argentina se consolide" (IBID, p. 23).
Cristina, aos 54 anos, lançou formalmente a sua candidatura em 19 de Julho, em um ato de
aclamação triunfal que aconteceu no Teatro Argentino, em sua cidade natal, e contou com a
presença de Nestor Kirchner, o gabinete inteiro, líderes sindicais, artistas, avós e mães da Plaza
de Mayo, que estavam prontas para apóia mais uma mulher na carreira política argentina e
centenas de políticos de todo o país (CIDOB, 2010).
Em seu emocionado discurso de lançamento, em meio a aplausos da platéia, sem o menor
vestígio da velha estética peronista, Cristina reafirmou sua candidatura sob as "três construções"
em que foi baseado o governo de Nestor Kirchner e que também seria a base para seu: a
“reconstrução do Estado Constitucional Democrático”, visando acabar com a corrupção das
empresas e dos militares, “inclusão social” e “construção cultural” para recuperar auto-estima
perdida, o que exigiria investimentos públicos pesados em educação e inovação tecnológica. A
candidata encerrou seu discurso com uma mensagem de agradecimento ao presidente dizendo
que o que ele fez ao a lançar como presidente não era algo comum de se fazer para alguém que
tinha 70% de parecer positivo (IBID, p. 28).
“Permítame decirle que a esa autoestima que usted les devolvió a los argentinos
también acaba de darle un gesto personal político sin precedentes. No es común en
los tiempos que corren, ni en Argentina ni en el mundo, que alguien con más del
70 por ciento de opinión positiva, con más del 50 por ciento de intención de voto,
y con las posibilidades de seguir, decida no hacerlo, no es común, no es común”
(CIDOB, 2010, p.30-31).
Foi o início de uma corrida eleitoral de três meses em que Cristina tinha todo o aparato
governamental em seu favor. Começou a dar entrevistas aos meios de comunicação, incluindo
estrangeiros. Em uma dessas entrevistas, Cristina manifestou o seu profundo respeito e admiração
22
por Eva Perón, para ela um personagem sublime (ao contrário de Isabelita, a outra esposa de
Perón), mas Cristina só se identifica com a Eva que se transformava quando segurava de punhos
fechados um microfone para se referir a multidão. Assim como Eva Perón, Cristina tem o dom da
oratória. Mas Cristina esta longe de ser s Evita milagrosa, fada do peronismo (CIDOB, 2010).
Em 28 de outubro de 2007 o kirchnerismo ganhou as eleições presidenciais da Argentina, e
Cristina Kirchner foi eleita a nova Presidente do País. Antes de ser Presidente do país assim
como Evita, Cristina foi considerada como uma das mais carismáticas e respeitadas primeira-
dama do mundo. Eleita em 28 de outubro de 2007, Cristina se tornou a 55ª presidente da
Argentina, e a primeira mulher eleita pelo voto, no país. Com sua presidência voltou a destacar
figuras femininas na historia, não só de seu país como do mundo (IBID).
A Mulher e o Feminismo no Chile
O Chile é um país que atualmente vem se destacando com a ascensão de uma mulher ao cargo
mais alto do poder político. Michelle Bachelet foi a ultima Presidente do Chile desde Maio de
2006, com seu mandato final em 2010. Atualmente o novo Presidente do país é o empresário
Sebastián Piñera, do partido de oposição Coalición por el Cambio” (“Coalizão para a Mudança”),
que foi eleito o novo presidente do Chile no segundo turno das eleições, de Janeiro de 2010
(BBC.CO. UK, 2010).
Verónica Michelle Bachelet Jeria, nasceu em Santiago, no dia 29 de setembro de 1951. Além de
política chilena é formada em medicina. A ex presidente da República do Chile, é também
presidente da União de Nações Sul-Americanas19.Bachelet foi membro do Partido Socialista do
Chile, e ocupou o lugar de ministra da Saúde no governo de Ricardo Lagos, entre 2000 e 2002, e
posteriormente o cargo de Ministra da Defesa, tendo sido a primeira mulher a exercer este cargo
na América Latina (LA NACIÓN, 2009).
19 Zona de livre comércio continental que unirá as duas organizações de livre comércio sul-americanas, Mercosule Comunidade Andina de Nações, além do Chile, Guiana e Suriname, nos moldes da União Européia.
23
Assim como Cristina, Michele passou por outros cargos políticos antes de se tornar Presidente do
Chile, seu primeiro cargo foi em 1998 como Assessora do Ministério de Defesa, e o ultimo como
Ministra da Defesa em 2002 (LA NACIÓN, 2009).
Michelle desde muito cedo conviveu com a vida política. Filha de um general da força aérea
argentina, Michelle presenciou a morte de seu pai, após ele ser acusado de traição a pátria durante
o golpe militar de 1973. Mesmo com a morte de seu pai Bachelet continuou seus estudos e
começou a apoiar diretamente o Partido Socialista na clandestinidade. Por este motivo foi presa
com sua mãe em 1975 e posteriormente torturada e interrogada. Depois de um ano detida,
Michelle e sua mãe foram exilar se na Austrália, onde ficou por um bom tempo antes de se mudar
para a Alemanha Oriental. Neste país, continuou seus estudos de Medicina em uma Universidade
em Berlim e se casou com o arquiteto Jorge Dávalos. Quando volta ao Chile em 1979, retomando
seus estudos na Universidade do Chile, onde se formou (LA NACIÓN, 2009).
Em 1982 se escreveu como médica no sistema público chileno para ir a algum lugar do país onde
houvesse maior necessidade de atenção medica, mas seu pedido foi negado por motivos políticos.
Sem se abalar continuou exercendo sua profissão e se qualificando cada fez mais ate que ganhou
uma bolsa de estudos do Colégio Medico do Chile para concluir quatro anos de especialização
em pediatria e saúde pública no Hospital Roberto Del Rio.
Nesta mesma época passou a dedicar se a diversas atividades políticas em prol da democracia e
começou a trabalhar voluntariamente na área medica de uma ONG chamada de PIDEE
(Protección a la infancia dañada por los estados de emergencia), dando apoio profissional aos
filhos de detentos e a vítimas do regime militar de Santiago.
Com a restauração da democracia, em 1990, o desafio para levantar o falido sistema de saúde
chileno era enorme. Bachelet então se incorpora ao Serviço da Saúde Metropolitana Ocidente
como epidemiologista e logo em seguida a Comissão Nacional Contra a AIDS. Simultaneamente
foi consultora da Organização Pan- americana da saúde, da Organização Mundial da Saúde e da
Agencia de Cooperação Técnica alemã (GTZ).
Desde 1994 Bachelet foi assessora do Ministério da Saúde em temas de Atenção Primaria e em
gestão de Serviços da Saúde, e sem deixar de lado sua tradição política e sede por justiça realizou
24
um curso sobre estratégia militar na Academia Nacional de Estudos Políticos e Estratégicos
(ANEPE), onde se destacou em primeiro lugar da turma. Por este resultado ganhou outra bolsa de
estudos dada pelo Presidente da República para realizar o curso de Defensa Continental no
Colégio Interamericano de Defensa, em Washington DC, durante 1997, junto a 35 militares e
alunos civis de todas as Américas. Essa especialização a permitiu incorporar se a seu regresso
como assessora do Ministro de Defensa (GTZ).
Nas eleições municipais de 1996 foi candidata a conselheira por Las Condes, comunidade de
Santiago. Em 1998 foi reelegida no Comitê Central e integrada a Comissão Política,
responsabilidade que exerceu até 11 de março de 2000.
Durante o começo de 1999, foi encarregada eleitoral da campanha de Ricardo Lagos na Região
Metropolitana e em sua campanha presidencial. Ao assumir o cargo de Presidente em 2000,
Lagos a designou como sua ministra da Saúde, com dois desafios especiais: por um lado, a meta
explícita de por um fim a nas filas de espera em una prazo de três meses; e por outro, preparar
uma grande reforma da Saúde no país.
Foi quando, pela primeira vez no Chile, os consultórios médicos abriram sábados e domingos
durante os meses de inverno estendeu-se o horário de atendimento ate às 20 horas. Com o
desenvolvimento do programa Vida Chile em todas as regiões do país, o programa de saúde
chileno sofreu um grande impulso e promoção apresentando o primeiro projeto de lei da
Reforma, Diretos e Deveres das Pessoas em relação à Saúde (GTZ).
Foi criada então a Comissão Nacional de Proteção dos Diretos dos Pacientes de Saúde Mental. O
plano Hospital Amável também criado por Bachelet contribuiu para dignificar a atenção as
mulheres, e abriu os hospitais para que as madres pudessem cuidar de seus filhos e permitiu
generalizar a assistência do pai ao parto
Definiu os Objetivos Sanitários no ano de 2010, que foram o suporte técnico sanitário para a
Reforma de Saúde e se desenvolveu novos programas como o tratamento da depressão, a
incorporação de novos medicamentos para o tratamento da esquizofrenia; o plano de alimentação
para o adulto idoso; e o aumento da cobertura de terapia para pacientes com HIV. Por todos esses
projetos e dedicação de Bachelet com relação à saúde dos cidadãos chilenos ela virou um marco
na historia da saúde do país (GTZ).
25
Nos primeiros dias de 2002 o então Presidente Lagos procedeu a una importante modificação de
seu gabinete e em 7 de janeiro nomeou Bachelet como ministra de Defesa Nacional,
transformando se em a primeira mulher neste cargo na historia do Chile e da América Latina.
Exerceu esse cargo até o dia 1º de outubro de 2004, quando seu lado político falou mais alto que
o da medicina e o Presidente Lagos acreditou ser conveniente a liberar para que se dedicasse de
forma completa a sua candidatura presidencial reclamada massivamente pelos cidadão chilenos.
Bachelet transformou-se então na primeira mulher na história do Chile a se tornar presidente,
provando que o Chile havia definitivamente recuperado sua democracia após 16 anos de ditadura
(LANACION. 2010).
Assim como Bachelet, a cinco anos atrás qualquer menina quando perguntada o que gostaria de
ser quando crescer responderia médica ou professora. Hoje 90% dessas meninas respondem sem
hesitação que gostariam de ser a Presidente da República. Essa é umas das marcas que Bachelet,
a primeira Presidente mulher do Chile, deixou em sua população de maioria tradicional e
conservadora. Michelle Bachelet sai da presidência chilena com 84% de aprovação, meta jamais
alcançada por nenhum outro presidente chileno.
Quando Bachelet tomou posse no dia 11 de março de 2006, centenas e milhares de mulheres
tomaram as ruas do Chile, sorrindo e confidentes usando a faixa de presidente sobre suas roupas
com o sentimento que todas elas eram ganhadoras naquele dia. Mas a elite política, econômica e
intelectual chilena encontraram grande dificuldade em aceitar a nova Presidente, e Bachelet teve
mais dificuldade para ganhar o respeito dessas elites do que da grande massa de homens e
mulheres que votaram nela (LANACION. 2010).
Promovendo a igualdade dos sexos Bachelet prometeu inserir mais as mulheres da política do
país e sofreu muitas criticas não só da mídia como da elite política e da própria população.
Muitas vezes foi chamada de “la gordi” ou a gordinha, e criticada pela sua aparência física, e
forma de governar, alem de sua inteligência mais que comprovada ser questionada e colocada em
debate suas capacidades. Muitos acreditavam que o desempenho de Bachelet na presidência
chilena seria tão fraco que o Chile jamais elegeria outra mulher para Presidente. Outros
criticavam sua intenção de ter um gabinete balanceado entre homens e mulheres, e se
perguntavam de onde viriam essas mulheres qualificadas.
26
No geral, apesar de seu mandato passar por altos e baixos, pode se considerar que foi muito
produtivo e positivo para o Chile. Bachelet se manteve fiel a sua personalidade e nunca pensou
que precisasse compensar de forma dura o fato de ser uma mulher no poder para ganhar respeito.
Provou que as mulheres podem sim governar um país e que o poder pode ser expresso por estilos
diferentes. Seu estilo diferente do de Cristina Kirchner não era o da oratória ou de uma inspiração
populista e sim do seu jeito acolhedor, próximo e simpático de lidar com as pessoas, podendo ser
o mais baixo da classe econômica ao mais alto chefe executivo (LANACION. 2010).
Há ainda muito a ser feito para melhorar a vida das mulheres no Chile e muitas questões para se
resolver: a discriminação salarial, a escassez de mulheres no topo dos conselhos corporativos e
no Parlamento, e a necessidade de maior flexibilidade laboral para enfrentar o equilíbrio entre
trabalho e o homem. Mas, simbolicamente e mentalmente, foi feito um grande salto, graças a
Bachelet, que é uma grande fonte de orgulho para as mulheres chilenas.
O movimento feminista no Chile foi caracterizado por ações individuais de mulheres que diante
da discriminação da Igreja Católica, resolveram protestar seus direitos humanos violados durante
o regime militar. Mais tarde, o movimento ganhou organizações que vieram criticar a situação
existente, mas também engajar e tentar acordos com partidos políticos e o Estado. Apesar disso, o
movimento foi caracterizado como de maioria autônomo. O movimento não foi dividido por
classes sociais, já que uma grande variedade de mulheres independente de suas classes
economica-social, de suas tendências políticas interessaram se pelo movimento (DANDAVATI,
1996 p. 61).
A movimentação das mulheres chilenas na política teve inicio no começo do século 20, quando
as mulheres da classe média, conscientes de sua subordinação, passaram a acreditar que se
tivessem o direito ao voto conseguiriam eliminar a desigualdade entre os gêneros. Apesar de suas
organizações não serem muito sólidas e atuarem na autonomia conseguiram pressionar o governo
e os partidos políticos, e conseguiram o direito de voto nas eleições municipais em 1931.
Com essa vitória, as mulheres conseguiram mais força e destaque na sociedade chilena, e
começaram a criar várias estratégias para ganhar seus direitos, o que incluiu a formação de
grupos de estudos e clubes das mulheres para discutir o tema, mas principalmente criaram um
27
partido político independente formado só de mulheres. A batalha das chilenas não foi fácil, mas
em 1949 elas foram consideradas cidadãs na constituição chilena (DANVATI, 1996 p. 18).
No Chile, as chamadas feministas autônomas emergiram como uma corrente política explícita na
década de 1990, proclamando que outras feministas haviam institucionalizado e vendido o
movimento as forças do capitalismo liberal, usando o movimento como uma alavanca para
conseguirem espaço de poder nas classes altas, em vez de lutarem para fortalecer o movimento.
As divisões entre as feministas chilenas eram grandes e agudas e provocadas em grande parte
pelas diferenças em como as militantes responderam ao Estado na era pós-Pinochet. Enquanto
muitas imediatamente se alistaram em agências estatais sobre a mulher e na política formal sob a
nova coalizão governista dos partidos Democrata Cristão e Socialista, outras criticaram
intensamente aquilo que percebiam como uma jogada da oposição. Mas já no final da década de
90, as duas correntes já estavam se mesclando através da comunicação eletrônica e das revistas
do movimento com uma circulação regional significativa, como Mujer/Fempress e Cotidiano
Mujer, que publicaram vários artigos sobre os debates em torno da autonomia que no momento já
não se encontravam tão acirrados entre as feministas chilenas (FROHMANN ,1990).
Fica mais claro nos dias de hoje que os movimentos feministas do inicio do século 20
transformaram-se em uma força política: "women's movement in Chile was successful in
transforming itself into a political force while maintaining its cultural dimension due to the
differences in strategies between the políticas and the feministas” (DAVANTI, 1996 pg.108).
Atualmente estudiosos dos movimentos sociais acreditam que esses movimentos continuam a
compelir o Estado e as elites políticas a reconhecer opressões ainda existentes contra as mulheres,
e essencialmente ajudam a incrementar a democracia na sociedade: “the ruling groups to
innovate, to permit changes among elites, to admit what was previously excluded from the
decision-making arena and to expose the shadowy zones of Power” (HABERMAS, 1981 p.22).
Os objetivos específicos do movimento das mulheres no Chile puderam ser alcançados devido à
ajuda econômica e também em termos de influência de elites do poder político. As mulheres
miraram na democratização do Estado e da sociedade, mas precisava alcançar poder político para
transformar essas demandas em ação, o que foi alcançado devido ao sucesso delas nas
negociações com os partidos políticos (BERGMANN, 1992).
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A Influência do Feminismo na America Latina
Pode-se dizer que tanto a sociedade chilena, quanto a sociedade argentina tem um grande vinculo
com a mulher, mesmo que em graus e maneiras distintas uma da outra. Influenciadas por
movimentos feministas, diretamente ou não, as mulheres tanto do Chile quanto da Argentina
foram à luta e brigaram por seus vários direitos, obtendo êxito na maioria das vezes. Mesmo
ocorrendo em tempos e maneiras diferentes os dois países são semelhantes em suas lutas e
principalmente objetivos. Esse grande empenho para a ascensão da mulher em seus Estados é um
dos motivos por ter, e ter tido em seu maior cargo político, duas mulheres, Cristina Kirchner e
Michelle Bachelet.
A análise dos movimentos feministas em ambos os países e a trajetória percorrida por Cristina
Kirchner e Michelle Bachelet até chegarem ao poder máximo de seus países permite inferir a
multiplicidade dos papéis que as mulheres desempenham junto às forças econômicas globais e
interação entre os Estados.
No caso da Argentina, que é um país de tradição feminina e que já contou com mulheres
exercendo cargos de alto escalão, apesar de Cristina Kirchner, durante toda sua trajetória política
em nenhum momento se declarar feminista ou se vincular a nenhum grupo ou partido do gênero,
os movimentos ocorridos ao longo da história foram fundamentais para sua ascensão ao poder.
Não é preciso se afirmar feminista para canalizar as reivindicações do movimento: ao se declarar
admiradora de Eva Perón, que sempre esteve ligada aos movimentos feministas e que é o grande
mito feminino do país, Cristina Kirchner granjeia para si a simpatia do movimento.
O Chile não possui tradições de lutas femininas por se tratar de um país mais conservador do que
a Argentina. Apesar de também não se vincular a nenhum movimento feminista, Bachelet a todo
o momento incorporou o discurso feminista de acreditar na igualdade dos gêneros e querer inserir
a mulher na política chilena.
Bachelet conviveu com a vida política desde muito cedo por ser filha de um general da força
aérea chilena, que foi morto acusado de traição a pátria. Bachelet se inseriu na política de um país
que sofria um golpe militar, e se viu obrigada a deixá-lo.
As lutas feministas influenciaram, em grande medida, a vida dessas mulheres: não fosse pelas
reivindicações do movimento as mulheres estivessem até hoje sem nenhuma igualdade perante os
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homens.
Cabe ressaltar que, a despeito do poder feminino, Cristina Kirchner e Michelle Bachelet fizeram
parte de um projeto político que tomou conta de grande parte da América do Sul: a ascensão dos
partidos de esquerda ocorrida após a onda de governos neoliberais no período posterior às
ditaduras latino americanas. Na posse de ambas estavam presentes os presidentes Luis Inácio
Lula da Silva, do Brasil, Evo Morales, da Bolívia e Hugo Chávez, da Venezuela, num claro sinal
de apoio. Esses presidentes todos buscam alternativas para o imperialismo em seus territórios,
alguns de formas mais radicais e outros menos.
Depois de muitos anos sendo submetidos às explorações de países imperialistas, no inicio a
Europa e depois os EUA, cansadas de viver uma situação de sufoco econômico, e de muitas
vezes ter sua soberania violada por essas potencias, a sociedade latina americana começa a buscar
novidades para as urnas com esperança de mudanças do atual sistema. Uma dessas novidades é
inserir a mulher na política. Uma novidade que acabou por dar certo, tendo cada vez mais
mulheres de alto nível de inteligência ocupando cada vez mais cargos de alto escalão.
Analisando então a Teoria Feminista de Relações Internacionais e a ascensão da mulher no poder
político na America Latina devido à influência do feminismo, podemos gerar um paralelo entre
ambas as partes. Segundo (GRIFFITHS,2002), assim como o ingresso e a ascensão da mulher no
poder político a teoria feminista das relações internacionais vem crescendo cada vez mais. Assim
como as mulheres vem ganhando espaço na política de seus estados as teorias feministas vem
ganhando seu espaço nas RI, assim como a quantidade de crítica que ambas, tanto as teorias
feministas nas RI como as mulheres na política de seus países ganham por tentar exercer um
papel dominado pelo sexo masculino.
Podemos dizer que um acabou influenciando e dando mais força e destaque ao outro. As
mulheres ao ganharem destaque no poder político de seus Estados e na sociedade em geral graças
aos movimentos feministas influenciam no espaço acadêmico que as mulheres ganharam. O que
levam as teorias feministas a ganharem seu espaço respectivamente. Assim como a conquista do
poder influenciou no acadêmico, o acadêmico influenciou no poder. Quanto mais espaço e
destaque as teorias feministas ganham dentro das RI, mas destaque ganham as mulheres que
lutam para conseguir a ascensão e o poder político em seus Estados.
Acredito que em alguns anos mais, com o crescimento do curso Relações Internacionais, onde
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cada vez mais pessoas irão depara se com as teorias feministas, e nas relações internacionais
entre os países onde cada vez mais Estados incorporam mulheres em sua políticas, poderemos ter
não só uma America Latina mas um sistema internacional cada vez mais balanceado entre
homens e mulheres, diminuindo cada vez mais com a desigualdade dos gêneros.
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