O Fantástico Na Literatura Contemporânea

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    O FANTSTICO NALITERATURA

    CONTEMPORNEADra. Shirley Carreira

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    O QUE O FANTSTICO?

    A literatura fantstica nasceu no sculo XVIII caracterizada por uma hesitao entre o real eo imaginrio.

    Toma corpo no sculo XIX quando surgem obrascomo Frankenstein, de Mary Shelley, e Omdico e o monstro, de Stevenson, ambasconsideradas como precursoras da ficocientfica.

    Uma outra vertente aborda o sobrenatural e derivada da literatura gtica do sculo XVIII.

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    A TRAJETRIA DA LITERATURAFANTSTICA

    no final do sculo XVIII e incio do XIX, o gneroexigia a presena do sobrenatural, estandopresentes monstros e fantasmas;

    no sculo XIX, passou a explorar o psicolgico,inserindo nas narrativas a loucura, alucinaes,pesadelos para mostrar a angstia no interior dosujeito;

    no sculo XX, o fantstico passou a criarincoerncia entre elementos do cotidiano

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    DEFINIO

    De acordo com Todorov (2004), a essncia dessegnero consiste na irrupo, em nosso mundo, de umacontecimento que no pode ser explicado pelas leisracionais. nesse momento que surge a ambiguidade,a incerteza diante de um fato aparentementesobrenatural. O sentimento de dvida causado noleitor permite a apario do fantstico.Primeiro, preciso que o texto obrigue o leitor a considerar omundo das personagens como um mundo de criaturas vivas

    e a hesitar entre uma explicao natural e uma explicao

    sobrenatural dos acontecimentos evocados. A seguir, ahesitao pode ser igualmente experimentada por uma

    personagem (...). Enfim, importante que o leitor adote umacerta atitude para com o texto: ele recusar tanto ainterpretao alegrica quanto a interpretao potica(TODOROV, 2004, p. 39).

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    EXEMPLO DO FANTSTICO

    O corvo, de Edgar Allan PoeEm certo dia, hora, hora

    Da meia-noite que apavora,Eu caindo de sono e exausto de fadiga,Ao p de muita lauda antiga,De uma velha doutrina, agora morta,Ia pensando, quando ouvi portaDo meu quarto um soar devagarinhoE disse estas palavras tais:" algum que me bate porta de mansinho;

    H de ser isso e nada mais."

    Diante da ave feia e escura,Naquela rgida postura,Com o gesto severo - o triste pensamentoSorriu-me ali por um momento,

    E eu disse: " tu que das noturnas plagasVens, embora a cabea nua tragas,Sem topete, no s ave medrosa,Dize os teus nomes senhoriais:Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"E o Corvo disse: "Nunca mais."

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    A METAMORFOSE, DE KAFKA

    Gregor Samsa, se v"obrigado a se tornar um caixeiro-

    viajante ,que deixou de ter vida prpria para suportarfinanceiramente todas as despesas de casa. Numa manh, ao acordar para o trabalho, Gregor v que setransformou num inseto horrvel com um "dorso duro einmeras patas".

    Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais perante a

    sua metamorfose. Apenas a irm se digna a levar-lhe aalimentao, mas mesmo assim a repulsa e o medo tambmcomeam a se manifestar.

    Outra metamorfose ocorre no seio familiar: a famlia voltaa trabalhar para o seu sustento.

    Gregor descobre que seu nico valor era o de mantenedor

    da famlia. Em nenhum momento da obra Gregor se d contarealmente que se transformou num inseto, pois pensa e agecomo um humano.

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    INCIDENTE EM ANTARES, DE RICOVERSSIMO

    No ano de 1963, as duas famlias que tm o poder poltico emAntares se unem contra o proletariado.Em 11 de dezembro, h uma a greve geral em Antares e amorte inesperada de sete pessoas, incluindo a matriarca dos

    Campolargo, Quitria.Durante o cortejo de Dona Quitria, os Campolargo soimpedidos de sepult-la, pois os coveiros, em greve, cercam ocemitrio, impedindo o enterro, e desta forma, aumentam apresso sobre os patres. Os mortos, no sepultados,adquirem "vida" e passam a vasculhar a vida dos parentes e

    amigos, revelando, ento, a podrido moral da sociedade.Como as personagens so cadveres, esto livres das pressessociais e podem criticar vontade a sociedade.

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    O PIROTCNICO ZACARIAS, DEMURILO RUBIO

    Zacarias atropelado e os jovens que se deparam com o morto ficam semsaber o que fazer com o corpo: uns acham que deve ser levado aonecrotrio, outros, ao cemitrio, e, por fim, decidem jog-lo de umprecipcio. Nesse instante, o morto reclama:Alto l! Tambm queroser ouvido.

    uns acham que estou vivo o morto tinha apenas algumasemelhana comigo. Outros mais supersticiosos, acreditam (...) quequem andam chamando Zacarias no passa de alma penada.

    Em verdade morri, o que vem de encontro verso dos que creemna minha morte. Por outro lado, tambm no estou morto, poisfao tudo o que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do queanteriormente.

    para tornar a situao mais confusa , sentiam a impossibilidadede dar rumo a um defunto que no perdera nenhum dospredicados geralmente atribudos aos vivos.

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    O OUTRO P DA SEREIA, DE MIACOUTO

    Obra que visa a demonstrar a dialtica do homemafricano, que se debate entre o passado e o presente.

    Romance em dois planos diferentes. Fantstico no passado-um padre sofre uma mutao deraa:

    At 4 de janeiro, data do embarque em Goa, ele era branco,filho e neto de portugueses. No dia 5 de janeiro, comeara aficar negro. Depois de apagar um pequeno incndio em seucamarote, contemplou as suas mos obscurecendo. Mas agora

    era a pele inteira que lhe escurecia, os seus cabelos seencrespavam. No lhe restava dvida: ele se convertia numnegro. __ Estou transitando de raa, D. Gonalo. E o pior queestou gostando mais dessa travessia do que de toda a restanteviagem

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    Fantstico no presente:

    Mwadia casada com Zero, um homem silencioso

    que tinha comeado a esquecer-se.Zero, ao banhar-se, tinge a gua de sangue.

    Ao enterrar perto do rio uma estrela que cara

    perto de sua casa, Zero descobre uma imagem da

    virgem e os pertences de Padre Gonalo da Silveiraque em 1560 trouxera a imagem para Moambique.

    Mwadia incumbida de levar a santa a Vila Longe.

    Zero afirma que no pode voltar l.Em Vila Longe, acontecimentos inslitos ocorrem.

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    Na casa da me de Mwadia, h a "parede dos ausentes"; no

    corredor, onde todos os defuntos da famlia estavam reunidos,

    em um tipo de memorial mrbido. Estranhamente, na casa de

    uma famlia "que nunca chora", um balde posto junto parede,para recolher as lgrimas dos mortos.

    Os mortos de Vila Longe faleciam "como era devido naquele

    lugar: sem nunca chegar a morrer

    Assim como o Padre Antunes no passado, os olhos de Jesustino,

    gos, padrasto de Mwadia, comeam a clarear e, ante o espanto

    da enteada, ele afirma estar mudando de raa.

    Constana, me de Mwadia, aps a morte do primeiro marido,

    decidiu ficar instantaneamente velha, com a fora de seu desejo,

    comearam a surgir-lhe rugas e cabelos brancos. Na cidade, h pessoas cujo reflexo nunca aparece em espelhos.

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    Mestre Arcanjo, o barbeiro, aconselha Mwadia a ir

    embora, perguntando-lhe se nunca ouvira falar de terrasque foram erradicadas, que deixaram de constar. Mwadia descobre que o padrasto matara o seu maridoretorna a Antigamente, levando o retrato de Zero que ame lhe dera para que o pendurasse na parede dos

    ausentes. Como aceitar que Vila Longe j no tinha gente,que a maioria morreu e os restantes se foram?Como aceitar que a guerra, a doena, a fome tudose havia ravado com garras de abutre sobre a

    pequena povoao? Vila Longe cansara-se de sermapa. Restavam-lhe as linhas tnues da memria,com demasiadas campas e nenhuns viventes.

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    A retornar, ela encontra o marido morto.Ao olhar para o cu, simbolicamente, pendura o

    retrato do marido na parede dos ausentes que hdentro de sua prpria alma, em resignada aceitao, edirige-se para o rio.

    A construir um mundo ficcional em que, como afirmao barbeiro de Vila Longe, apenas a Histria morre eos mortos no se vo, Mia Couto reafirma que s oconfronto com esse passado que, por vezes, somos

    incitados a esquecer, permitir que venhamos,finalmente, vir a descobrir quem somos.

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