o etnocentrismo e sua lógica

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO ANTROPOLOGIA SOCIAL PROF. ALESSANDRA RINALDI ALUNOS: BEATRIZ AUGUSTO, EVELYN MOTTA, MARIANA DE PAULA E THAMIRES COUTINHO RESENHA SOBRE O LIVRO: “ANTROPOLOGIA E COMUNICAÇÃO: PRINCÍPIOS RADICAIS” DO AUTOR JOSÉ CARLOS RODRIGUES. O livro “Antropologia e comunicação: princípios radicais” do autor José Carlos Rodrigues foi organizada durante o primeiro semestre de 1987, quando o autor esteve vinculado à Indiana University, na condição de professor-visitante do seu Departamento de Antropologia e de pesquisador-associado do seu Research Centerfor Language and Semiotic Studies. O autor é professor do curso de mestrado do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. O seu objetivo ao publicar o esse livro era mostrar para o público de alunos acadêmicos, grandes questões da antropologia tais como: Até que ponto é possível ser antropólogo? Até que ponto é possível relativizar? E são essas questões que ele irá responder ao longo do livro. O autor começa a discutir o etnocentrismo e a sua lógica. Ele afirma que o etnocentrismo é “uma maneira positiva de cada sociedade afirmar para si a própria identidade”. Um modelo básico da lógica do etnocentrismo, segundo José Carlos, é a tribo Bimin-kuskusmin da nova Guiné. Nessa tribo, há a divisão dos seus vizinhos em quatro zonas concêntricas, sendo a antropofagia um dos critérios definidores de cada zona. Do centro para a periferia essas zonas são as habitadas por “homens verdadeiros”, “homens humanos”, “criaturas humanas” e “seres humano- animais”.

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

ANTROPOLOGIA SOCIAL

PROF. ALESSANDRA RINALDI

ALUNOS: BEATRIZ AUGUSTO, EVELYN MOTTA, MARIANA DE PAULA E THAMIRES COUTINHO

RESENHA SOBRE O LIVRO: “ANTROPOLOGIA E COMUNICAÇÃO: PRINCÍPIOS RADICAIS” DO AUTOR JOSÉ CARLOS RODRIGUES.

O livro “Antropologia e comunicação: princípios radicais” do autor José Carlos

Rodrigues foi organizada durante o primeiro semestre de 1987, quando o autor esteve vinculado

à Indiana University, na condição de professor-visitante do seu Departamento de Antropologia e

de pesquisador-associado do seu Research Centerfor Language and Semiotic Studies. O autor é

professor do curso de mestrado do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. O seu objetivo

ao publicar o esse livro era mostrar para o público de alunos acadêmicos, grandes questões da

antropologia tais como: Até que ponto é possível ser antropólogo? Até que ponto é possível

relativizar? E são essas questões que ele irá responder ao longo do livro.

O autor começa a discutir o etnocentrismo e a sua lógica. Ele afirma que o

etnocentrismo é “uma maneira positiva de cada sociedade afirmar para si a própria identidade”.

Um modelo básico da lógica do etnocentrismo, segundo José Carlos, é a tribo Bimin-kuskusmin

da nova Guiné. Nessa tribo, há a divisão dos seus vizinhos em quatro zonas concêntricas, sendo

a antropofagia um dos critérios definidores de cada zona. Do centro para a periferia essas zonas

são as habitadas por “homens verdadeiros”, “homens humanos”, “criaturas humanas” e “seres

humano- animais”.

Nos “homens verdadeiros”, os órgãos sexuais eram considerados no consumo

canibalístico; segundo a ideologia dessa zona, o consumo do órgão sexual masculino reforçava

a anatomia masculina e o consumo de um órgão sexual feminino reforçava a anatomia feminina.

O corpo humano nunca era classificado como comida. Nos “homens humanos” são encontradas

práticas canibalísticas menos controladas, estes são considerados “grandes devoradores” e

consideram o corpo humano como comida. Nas “criaturas humanas”, seres humanos são comida

trivial, cozinhada em grandes fornos e misturadas com vegetais e carne de porco. Homens,

mulheres e crianças participam dos rituais canibalísticos. Enfim, os “seres humano-animais”

possuem pouquíssimos vestígios de responsabilidade social e moral e são renomados pelos atos

atrozes de canibalismo indiscriminado, de incesto e assassinato.

O autor completa então que “a lógica do etnocentrismo consiste em fundamentalmente

em isolar uma característica da própria cultura e eleva-la a condição de definidora da natureza

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humana”. No entanto, José Carlos, traz à tona a discussão do etnocentrismo invertido. Este

consiste em admirar a cultura do outro, querer seguir o seu exemplo. Esse etnocentrismo

geralmente está ligado à ideia de progresso. Tendemos a admirar aquela cultura, ou o país que é

mais evoluído do que o nosso, e temos a tendência de querer ser iguais a eles.

O termo contrário ao etnocentrismo é a relativização. Esta consiste em compreender a

significação dos comportamentos, pensamentos e sentimentos do outro, nos termos da cultura

do outro. A relativização, segundo o autor, é “o processo antropológico por excelência.”, mas

que ao mesmo tempo é etnocêntrica. Essa característica advém da necessidade de encontrar a

verdade do outro. O que o autor questiona é que a verdade é uma construção cultural e para

tanto não deve ser usada na relativização;o que é verdade para uma cultura ( a do antropólogo

que faz pesquisa, por exemplo) pode não se verdade para a outra cultura( a que o antropólogo

estuda e quer relativizar). Dessas premissas, o que o autor conclui é que o grande paradoxo da

antropologia é que esta é uma ciência etnocêntrica.

Outra discussão que José Carlos propõe aos estudantes universitários é o conceito de

cultura. Essa permite conceber como é que características universais da humanidade, como

falar, comer, reproduzir, etc., adquire cor local em cada grupo humano e devem ser

compreendidas também em função dos grupos. No entanto, o autor questiona a generalização do

termo cultura nos grupos sociais. Ele cita o exemplo dos chineses: o fato dos chineses comerem

de pauzinhos, quer dizer que todos comem assim? Não, nem todos os chineses adquiriram este

hábito. Assim como os chineses, a cultura brasileira é generalizada pelo gosto do samba e do

futebol, isso quer dizer que todos os brasileiros gostam de samba e de futebol? Não. Daí o autor

resume que a cultura não é nada mais que a abstração das diferenças entre grupos sociais e a

generalização das semelhanças dos mesmos.

A conclusão que o autor propõe, é que a ciência antropológica apesar de se dispor dos

estudos da cultura, tendendo a relativiza-la, ao mesmo tempo é uma ciência etnocêntrica, e que

sendo etnocêntrica não há como propor um estudo imparcial de todas as culturas. A única coisa

que questionará essa vertente é o trabalho de campo. Este irá mostrar que é possível olhar com

outros olhos que não seja o etnocêntrico. Esse método se dará, a partir do momento em que se

tem contato com o nativo da outra cultura. O antropólogo terá desse modo, uma visão interna,

ele passará a viver como o nativo daquela cultura e começará a entendê-la, ver com o nativo a

ver. Além disso, ele destaca que é preciso ter cuidado para não reificar o conceito de cultura,

pois ele corresponde ao um ponto de vista exterior em que se enfatiza as semelhanças.