O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de...

38
Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda Turi Formado pela Pontifícia Universidade Católica, com mestrado e doutorado pela USP, Celso Mitsushi Massumoto é médico hematologista e oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, do Hospital Nove de Julho e do Hospital Sírio Libanês (onde se responsabiliza pelo programa de transplante de medula óssea). Diretor da Casa Hope e da Oncocenter, Celso Massumoto é membro do comitê científico da associação brasileira de linfoma e leucemia, e dedica-se à criopreservação de células-tronco periféricas da medula óssea e de cordão umbilical. Possui experiência universitária nos EUA, recebeu o título de cidadão paulistano em novembro de 2014 e é autor de diversos livros, como por exemplo, "Criando pontes para a cura". Alunos: O que são células-tronco? Celso Mitsushi Massumoto: Células-tronco são células que nós temos no organismo e elas têm que ter hífen (risos). Bom, as células-tronco são capazes de gerar outra célula igual a ela, por isso são assim chamadas e no nosso organismo existem várias responsáveis por formar o corpo humano. As embrionárias, por exemplo, quando um óvulo se une com um O Doutor Celso Mitsushi Massumoto durante a entrevista aos alunos do Colégio São Luís Lucas Taborda/CSL

Transcript of O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de...

Page 1: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Pontes para a cura

O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda Turi

Formado pela Pontifícia Universidade Católica, com mestrado e doutorado pela USP, Celso

Mitsushi Massumoto é médico hematologista e oncologista do Hospital Alemão Oswaldo

Cruz, do Hospital Nove de Julho e do Hospital Sírio Libanês (onde se responsabiliza pelo

programa de transplante de medula óssea). Diretor da Casa Hope e da Oncocenter, Celso

Massumoto é membro do comitê científico da associação brasileira de linfoma e leucemia,

e dedica-se à criopreservação de células-tronco periféricas da medula óssea e de cordão

umbilical. Possui experiência universitária nos EUA, recebeu o título de cidadão paulistano

em novembro de 2014 e é autor de diversos livros, como por exemplo, "Criando pontes para

a cura".

Alunos: O que são células-tronco?

Celso Mitsushi Massumoto: Células-tronco são células que nós temos no organismo e elas

têm que ter hífen (risos). Bom, as células-tronco são capazes de gerar outra célula igual a

ela, por isso são assim chamadas e no nosso organismo existem várias responsáveis por

formar o corpo humano. As embrionárias, por exemplo, quando um óvulo se une com um

O Doutor Celso Mitsushi Massumoto durante a entrevista aos alunos do Colégio São Luís

Lucas Taborda/CSL

Page 2: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

espermatozoide, também possuímos células mais comprometidas chamadas totipotentes e

as multipotentes, as quais geram outras semelhantes, possibilitando nossa existência, pois

sem sua renovação provavelmente morreríamos.

A: Em quais locais se encontram as células-tronco e quais os tipos de tecidos e órgãos que podem ser produzidos ou reparados com o uso dessas células?

C: Encontramos em todo o organismo e elas dão origem aos tecidos do corpo, como, por exemplo, o neural, coração, intestino.

A: Para se obtê-las, existe algum procedimento médico necessário?

C: Sim, na prática usamos células-tronco principalmente na medula óssea, que está presente em todos os ossos e são elas que mais utilizamos pela facilidade do uso, já que também circulam pelo sangue. Podemos obtê-las também através de pulsões, assim como por um processo de coleta de sangue. Outra possibilidade é a coleta de células-tronco derivadas da gordura, porém em proporção bem pequena.

A: Existe algum procedimento para modificar essa célula-tronco e induzi-la a gerar outra célula igual?

C: Sim, hoje é o que chamamos de plasticidade, ou seja, moldamos a célula ao nosso interesse. A partir disso, ocorre o que chamamos de medicina regenerativa, que é a capacidade de gerar tecidos e órgãos provenientes de uma célula, gerando um órgão específico, como, por exemplo, um coração em caso de problema cardíaco. Já fizemos em alguns indivíduos com problemas coronarianos (problemas na artéria coronária). Houve regeneração das células, e começaram a fabricação de células cardíacas.

A: Além do uso na medicina regenerativa, é possível ajudar uma pessoa com alguma doença, como o câncer, através do uso da célula-tronco?

C: Sim, desde a década de 1960 é realizado o transplante de medula óssea, de uma pessoa normal para outra com câncer, permitindo a cura, uma vez que os linfócitos do doador vão

“Pessoas com determinação e positividade têm mais chance de terminar o tratamento do

que as deprimidas e ansiosas.”

Page 3: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

combater as células cancerígenas. Também é possível curar a doença através da quimioterapia.

A: Quando um paciente vai receber essas células, o que ocorre caso haja rejeição?

C: Hoje é muito difícil ocorrer isso porque existem diversos testes biológicos capazes de apontar se vai haver rejeição ou não. O que pode ter é uma reação da medula óssea com o hospedeiro. Para isso, usamos drogas que acalmam a medula, podendo controlar.

A: Vemos em livros vários tipos de câncer, como câncer de mama, de sangue (por exemplo, a leucemia). Então podemos ter câncer em qualquer parte do corpo?

C: Sim, teoricamente, podemos ter câncer em qualquer localidade. Na verdade depende da origem do tecido, que chamamos de células indetoriais ou da mucosa. Por exemplo, podemos ter tumor no músculo, porque foram células-tronco derivadas do músculo.

A: Sabendo que o câncer se origina das células-tronco, existe algum meio de prevenir a doença?

C: Hoje tem várias maneiras, uma delas é exatamente modificar essa célula-tronco para que ela deixe de ser cancerosa. Mas, como é capaz de gerar outra igual a ela, ainda corre risco de ela se multiplicar. Então o futuro do tratamento do câncer é tentar medicamentos imunobiológicos, o que seria um grande avanço.

A: Fatores como o estresse, por exemplo, podem aumentar a possibilidade da ocorrência de câncer?

C: Não aumenta, mas altera muito os resultados do tratamento. O indivíduo estressado por si só não gera câncer. O que pode causar a doença é além do estresse, hábito de fumar, poluição, consumo de bebidas alcoólicas, pré-disposição familiar. Porém durante o tratamento, o estresse emocional pode alterar os resultados, diminuindo a possibilidade de cura. Pessoas com determinação e positividade têm mais chance de terminar o tratamento do que as deprimidas e ansiosas. Além disso, a família é muito importante, e pacientes que vivem sozinhos costumam ter um tratamento mais irregular.

A: Além da quimioterapia, existem outros processos para o tratamento do câncer. Quais seriam?

Page 4: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

C: Existem quatro formas de tratamento do câncer. A primeira é cirurgia (arranca-se o tumor). A segunda é a quimioterapia (usam-se drogas químicas potentes, que não matam somente o tumor, mas também as células boas, causando, por exemplo, queda de cabelo e náuseas). A radioterapia (banho de luz que acelera os elétrons, que penetram no tumor alterando seu DNA, levando à morte o tumor). Finalmente a imunoterapia (mexemos com a imunologia do paciente para matar o câncer, através do uso de anticorpos monoclonais, que matam o câncer).

A: O uso de células-tronco é um tanto como polêmico. Com relação à legislação, quais são as permissões e restrições ao seu uso?

C: O uso de células-tronco como no transplante de medula óssea é regulamentado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Existem células derivadas da medula óssea em coração e neurônios que precisam da autorização e podem ser utilizadas. Mas o que ainda não é possível utilizar são as células-tronco embrionárias. Elas vêm do embrião, congeladas em bancos, e não são permitidas para tratamento, só para pesquisa se houver aprovação da ANVISA (já acontece na Alemanha e nos EUA). No Japão já ocorreu clonagem dessas células embrionárias, que futuramente podem ser utilizadas.

A: Com relação à obtenção dessas células-tronco embrionárias, qual seria o estágio preferencial para a obtenção dessas células?

C: Quando um espermatozoide se junta com um óvulo, normalmente 96 horas depois é formado o blastocisto, e é nessa fase que se costuma usar as células.

Page 5: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Crise econômica

Seu efeito em diferentes áreas

Serão entrevistados dois profissionais que falarão sobre a crise econômica no Brasil

e seus efeitos nas suas profissões. Um deles, Rachel de Carvalho, trabalha como

enfermeira e sua profissão não sofreu grandes alterações com a crise. Já o outro, Elder de

Faria Braga, é advogado e a crise afetou muito sua área de atuação e a conduta do seu

próprio negócio.

Rachel de Carvalho, 48 anos, é enfermeira especialista, mestre e doutora em

Enfermagem pela USP, trabalha no Hospital Israelita Albert Einstein há 24 anos. Atua no

Centro Cirúrgico do Hospital e é professora da graduação e pós-graduação (especialização

e mestrado) da Faculdade do Einstein. Sendo assim, sua profissão não foi efetivamente

afetada pela crise econômica, pois saúde é um assunto de emergência e que sempre tem de

ser checada e monitorada.

Elder Braga, 54 anos, casado, pai de uma filha. Formou-se no ensino médio

no Colégio São Luís, cursou POLI, mas se formou em direito na PUC. É advogado

empresarial, proprietário e sócio majoritário do escritório de advocacia Braga e Gonzalez

Advogados, no Itaim Bibi.

Rachel de Carvalho, enfermeira do Hospital Israelita Albert Einstein, e Elder Braga,

sócio majoritário do escritório Braga e Gonzalez Advogados.

1- A crise econômica te trouxe inseguranças financeiras? Se sim, quais?

Page 6: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Rachel de Carvalho: Não chegou a trazer uma insegurança financeira propriamente dita,

mas, com o aumento dos preços de itens básicos, existe a constante preocupação em

relação à segurança da economia do país.

Elder de Faria Braga: Sim, diminuiu o número de clientes do escritório, ficou mais

difícil de cobrar honorários altos, então o faturamento fixo acabou reduzindo muito. “Em

compensação, houve um aumento no faturamento variável, então, no final das contas, não

deu uma variação tão grande no total”. Mas, mesmo assim, ficamos preocupados, pois o

faturamento fixo é o que garante o pagamento das despesas do mês. Às vezes você fica o

mês inteiro sem receber ninguém e então aparece uma pessoa muito desesperada por causa

da crise e você pode cobrar mais. Mas a situação é bem instável e de uma insegurança

muito grande.

“Em compensação, houve um aumento no faturamento variável, então, no final das

contas, não deu uma variação tão grande no total”.

2- Você se viu obrigado(a) a cortar gastos secundários por isso?

RC: Sim. Gastos como viagens, jantar fora, compras em shoppings, aquisição de itens

supérfluos e custos com faxineira tiveram que ser reduzidos e repensados.

EF: Fui obrigado, sim. A gente apertou o cinto no escritório, diminuiu vários gastos,

modificou vários comportamentos do escritório.

3- Algo foi mudado na instituição onde você trabalha para que a crise fosse

enfrentada e até mesmo superada?

RC: Claro que sim! Infelizmente, houve redução do quadro de funcionários em muitas

áreas do hospital, o que não ocorreu na área de ensino, pois ela está em grande

crescimento, especialmente tratando-se de cursos de pós-graduação.

EF: Bom, o que mudou foi a segurança dos recebimentos mensais. O cliente fixo deixou

de ser aquele que paga pela prevenção e passou a contratar o advogado quando o problema

já aconteceu. E, quando o problema acontece, fica mais caro. Então, mudou o trabalho,

pois, por ter se tornado de emergência, envolve muito mais estresse, todo mundo fica

muito mais tenso e sem paciência.

Page 7: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

4- Como você acha que a crise atingiu outras áreas de trabalho e o país como um

todo?

RC: O índice de desemprego está muito alto no país e, dessa forma, os profissionais que

estão no mercado de trabalho se sentem sobrecarregados. “Além disso, o poder de compra

do brasileiro diminuiu devido à alta dos preços tanto de itens básicos quanto de itens de

segunda necessidade”.

EF: Para algumas áreas foi terrível. O faturamento de vários clientes caiu muito, além

disso, o governo tomou uma série de medidas completamente irracionais quando a

arrecadação começou a cair, por exemplo, a indústria de eletrônicos no Brasil havia

crescido muito quando fizeram a chamada "MP do bem", que reduziu imposto para a

produção de celulares, tablets e notebooks baratos. O governo, pra tentar aumentar a

arrecadação, aumentou esses valores, deixando de ser interessante fabricar no Brasil.

Alguns clientes meus que produziam componentes eletrônicos pra essas empresas tiveram

que demitir mais da metade de seus funcionários.

5- Você daria alguma dica para aqueles que estão enfrentando com dificuldade este

período, ou seja, alguma medida ou saída para crise?

RC: Eu aconselho as pessoas a se prepararem adequadamente para o mercado de trabalho,

por meio de bons cursos de graduação e pós-graduação, aprender outro idioma e estar em

constante atualização. Atualmente, não basta estar entre os comuns, tem de ter um

diferencial. E para aqueles que estão enfrentando dificuldades econômicas, a saída é cortar

radicalmente os gastos secundários e não se deixar levar pelo consumismo.

EF: Para as empresas? Elas são muito dependentes do governo e de sua estrutura. Nós

tivemos um governo que teve um comportamento nas finanças completamente

irresponsável, que gastava muito mais do que arrecadava, que aumentou muito os custos

da máquina do governo, e com isso acabou paralisando a economia e gerando uma

insegurança muito grande. As pessoas só fazem investimentos quando têm alguma

segurança do retorno do dinheiro. Como não havia essa segurança, as pessoas pararam de

investir. O caminho para as empresas no momento é cortar gastos. E o caminho para o

Page 8: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

governo é devolver a confiança, mostrando que ele é novamente capaz de ter um

orçamento equilibrado, de não gastar mais do que arrecada, tendo que fazer cortes

horrorosos no começo, mas que resultarão em uma expectativa de melhoria muito maior,

fazendo com que os investimentos voltem. O dinheiro existe, só está guardado, pois

ninguém quer investir para perder.

Grupo: Anna Carvalho, Betina Franco, Bruna Parca, Davi Freire, Marina Braga.

Page 9: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Humanística: aquilo que há de melhor no ser humano

Renilda Pereira, teóloga e filósofa, é uma das profissionais que compõem a Humanística, projeto que passou a vigorar pioneiramente este ano no Colégio São Luís. Visando sempre enxergar o ser humano como um todo para conseguir tirar dele o melhor, a equipe organiza eventos diversos para alunos, pais e funcionários. Entrevistador: Primeiramente, o que é a Humanística? Renilda: É um projeto que iniciamos aqui no Colégio e que visa tirar aquilo que é melhor do ser humano para ele tornar-se ainda melhor. É muito ligado ao humano. Aqui lidamos com as quatro áreas: cultural, socioemocional, espiritual e socioafetiva, áreas que acreditamos englobar o ser humano. Queremos trabalhar o melhor desses aspectos, por isso falamos sobre tirar o melhor de si e transformar isso em fazer a si mesmo e ao outro melhor. E: Qual é o seu papel na Humanística? R: Eu sou uma agente educacional ligada à área da espiritualidade. Claro que as áreas estão separadas por nomes, mas nós nos ajudamos, sempre atuamos um pouco em tudo, é bem interligado. É isso que forma a Humanística: um trabalho em conjunto. Eu trabalho mais especificamente com a catequese, a crisma e os momentos de espiritualidade e celebrações, tanto para os funcionários como para alunos e pais. E: Com quantas pessoas você trabalha dentro do time da Humanística? R: Só na parte espiritual são quatro profissionais, mas também tem a ajuda dos profissionais das outras dimensões. E: Como você definiria mais detalhadamente esse olhar da Humanística? R: É justamente estar quebrando essas barreiras que nós caracterizamos tanto. Quem é esse ser humano, né? Então, quem é o professor, quem é o aluno, quem é o funcionário que está aqui dentro. Por trás do nome, quem é a pessoa que está ali, do que ela necessita para ser feliz? Então é preciso trabalhar dons, descobrir os potenciais das pessoas. E: Quais estão sendo as manifestações das pessoas sobre o projeto? R: O que temos recebido dos alunos tem sido muito bom, percebemos isso tanto em sua fala como na atitude, na postura. Eles estão percebendo o foco

Page 10: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

e gostando. Os feedbacks têm sido muito positivos. Neste ano, que já está mais no final, podemos falar que obtivemos bons resultados. E: O Colégio São Luís é o único que possui esse projeto? R: Na Rede Jesuíta, está sendo inaugurado aqui. Mas a Humanística está muito em comunhão com o PEC, que é o Projeto Educativo Comum da Rede. Isso está sendo implantado em todas as outras escolas. Como Humanística mesmo, o Colégio São Luís é pioneiro, mas o PEC está envolvendo todos os outros colégios, e esse é muito similar. E: Quais são os projetos futuros da Humanística? R: É um pouco difícil dizer ainda, pois estamos analisando. Dar continuidade a muitas coisas que estamos fazendo, sempre com o olhar novo. Mas também estamos em uma fase de planejamento, com revisões e avaliações do ano. Então ainda não dá para dizer com firmeza quais são os projetos, só que estamos sempre expandindo. E: Esse é um projeto que você recomendaria para outros colégios? R: Eu recomendo, sim, porque acho que não tem como nós olharmos para o ser humano de forma factual, e a Humanística tem o objetivo de olhar para o ser humano como um todo. A forma de aprendizado, por exemplo, é muito ampla, não se dá apenas dentro de quatro paredes. É necessário que as escolas tenham isso. Seria uma maravilha se a educação tivesse essa visão do ser humano. E: Você acredita que projetos como esse são um exemplo da necessidade de mudança no sistema educacional do Brasil? R: Sim. Em primeiro lugar, o sistema atual fica muito a desejar. A educação, de forma geral, não pode se restringir a uma transmissão, vamos dizer, despejar conteúdos em cima do aluno para ele fazer uma prova teórica, tirar nota e passar, ser aprovado. A educação não pode ser isso. Ela vai muito além da sala de aula, do caderno, do quadro de giz. Então, enquanto não se pensar uma educação que por completo ultrapasse a sala de aula, olhe para o ser humano como um todo, será muito difícil que esse sistema seja satisfatório. A Humanística é um exemplo de projeto que visa a essa mudança. Ana Beatriz Magri, Nº4 Ana Flávia Peterlini, Nº5 Cassiano Garcia, Nº 8 Catherine Salesse, Nº9

Page 11: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Dominique Fagundes, Nº13

Page 12: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Revista Racionalistas-Quando você começou a se interessar pela área da educação? Sempre foi um desejo ou uma "opção em aberto" ser professor e compartilhar seu conhecimento? Tuna- A educação que me escolheu. Me tornei professor porque gostava muito de teatro e o teatro é uma arte coletiva. Precisava estar perto das pessoas para aprender e praticar. As aulas são uma excelente maneira de estar perto do conhecimento, aprendendo e praticando com quem gosta. Comecei como professor de teatro em escolas profissionalizantes para atores e hoje só em escolas com amadores do ensino médio - para mim o mais apaixonante - pois iniciar e aprofundar no meio teatral é inspirador. R- Quando você começou a atuar efetivamente nessa área? O que te motivou? T- Comecei em 1999, na época com 24 anos, no Teatro Escola Macunaíma. O coordenador da escola me convidou para dar aulas, pois tinha recebido um prêmio pela direção de uma peça e precisavam de alguém para ensinar interpretação. Lembro que, no primeiro dia de aula, pensaram que eu era mais um aluno do curso. Nessa turma as idades variavam entre 18 e 72 anos. Foi uma experiência formadora, aprendi ensinando. E não parei mais. R- Na sua opinião, qual a importância de matérias como artes na vida dos jovens? T- Fundamental. O teatro, por exemplo, é a base para uma sociedade que quer ter o diálogo

A ARTE QUE ENSINA A VIVER O Professor de teatro Tuna demonstra sua paixão pela arte, explicando sua importância na educação e na formação humana Clarissa Xavier, André Maia, Tarsila Pilloto, Sofia Garcia e Andreia Tiemi

“Ao interpretar e conhecer diferentes tipos humanos, nos humanizamos e aprendemos a conviver em harmonia e respeitar a diversidade” como base. Essa arte tem como princípio as falas, ações e os conflitos, um laboratório para o comportamento humano. Ao interpretar e conhecer diferentes tipos humanos, nos humanizamos e aprendemos a conviver em harmonia e respeitar a diversidade. Com relação aos conteúdos, o teatro é um local onde

todo o conhecimento está condensado, lá temos filosofia, sociologia, química, física, matemática, biologia e o que mais você pensar. É uma potente ferramenta de ensino e de vida. R- De acordo com o novo projeto de Lei sobre o Ensino Médio, que tem 120 dias a partir de 22 de setembro para ser aprovado pela Câmara, matérias como artes e filosofia não serão mais obrigatórias. Como você vê, o que acha dessa medida? T- Qualquer coisa que limite o conhecimento humano não tem o meu apoio. Acho que os currículos devem ser ampliados e não limitados. Se não tivermos contato com determinados saberes na escola, não temos como perceber se aquilo nos interessa e nos é relevante. Os alunos deveriam ter contato cada vez mais cedo com oportunidades mais estruturantes e com possibilidades de fazer escolhas desde pequenos. R- Quais os problemas que você já enfrentou enquanto estudante no sistema educacional? T- Meus principais problemas vieram no ensino superior. Foi muito difícil encontrar um curso que pudesse satisfazer a diversidade de interesses que eu tinha. Acho que o sistema de ensino superior brasileiro é frustrante por não possibilitar o desenvolvimento de habilidades únicas e enxergar o ser humano como um futuro profissional "pré-moldado". A ideia é que não sou eu quem se forma, mas a faculdade que me molda para que eu seja o

A paixão pela arte e pelo teatro levou Tuna ao caminho da educação.

Page 13: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

profissional que o mercado quer. Com isso, agrada ao sistema e não amplia a potência dos indivíduos que o formam.

Page 14: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

A Verdadeira Visão da Professora Uma viagem dentro das escolas públicas que ninguém nunca imaginou A entrevista aborda o tema do ensino público por meio de um relato sobre uma escola municipal de

São Paulo. A realidade é retratada pela professora Marcia Bellandi, que tem vinte anos de magistério e contribui com o ensino público lecionando ciências da

natureza. BS: Como as influências de casa podem atingir o aprendizado das crianças? MB: Eu trabalho em uma escola da periferia na Brasilândia, onde há muita violência, mas cuja diretoria é extremamente da área humanitária, entende a vivência desses alunos e elabora um trabalho muito legal. Percebemos que as crianças vêm de um ambiente muito turbulento e, "quando chegam à escola, ganham um ar de liberdade, enxergam um ambiente de convivência social e não um espaço de construção de conhecimento". E para as crianças perceberem que esse espaço aborda outras questões, demanda um processo de

Page 15: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

construção na educação, que é lento e trabalhado no dia a dia. Conheço crianças que são filhos de bandidos que trabalham com tráfico, roubo e violência, mas são estudiosas e amorosas, ou seja, não há sentença a respeito de que ‘filho de bandido’ será um bandido. O tráfico é complicado, pois temos "pouquíssimo policiamento e controle". Temos medo de sermos ameaçados pelos traficantes, pois eles, de certa forma, comandam o próprio trabalho da escola e não podemos desprezá-los. O que acontece é que nós, professores, nos tornamos o espelho e a referência para eles. Porém, quando passam a viver em outros ambientes, por exemplo, o Ensino Médio na escola estadual ou até mesmo nas ruas, entram em contato com a criminalidade. Mesmo a droga não sendo componente integrante visível em nossa escola, quando flagramos a venda, a diretoria dá a transferência para que o indivíduo acabe com suas intenções de destruir vidas vendendo esses produtos. Os traficantes, sabendo dos malefícios que a droga pode trazer, não deixam que seus filhos a consumam. O que faz, por estatísticas comprovadas, que o maior índice de usuários de drogas seja das escolas particulares, e não das públicas. "quando chegam à escola, ganham um ar de liberdade, enxergam um ambiente de convivência

Page 16: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

social e não um espaço de construção de conhecimento" BS: Marcia, pelo fato de você estar dando aula há um bom tempo no mesmo local, na Brasilândia, conhece seus alunos e seus pais. Se aproximando da realidade difícil de cada um, você volta para casa e tem esperança de um dia mudar essa estrutura? Sabemos que podemos apontar um problema sem dar uma solução, mas você pensa em possibilidades? E quais são as perspectivas de futuro que os alunos que você acompanha têm? MB: As pessoas não acreditam no poder de mudança da educação, mas isso é essencial para o professor da rede pública. Se não fosse assim, não teríamos esperanças nem para ir trabalhar. Eu me dedico ao máximo aos meus alunos, pois o que mais precisam é do nosso afeto como educadores. A questão cognitiva, de pensamento e até mesmo de "aprendizado está diretamente ligada à questão da afetividade". E então é um jeito de, hoje, me sentir mais tranquila em fazer a minha parte, tendo um imenso carinho pelas crianças, que são o futuro do nosso país. Mesmo sabendo que metade deles verbaliza para mim que optará pelo crime, sei que a outra parte tem a esperança de se formar e ingressar em uma boa universidade, visando ao sucesso na carreira profissional. Essa esperança por parte deles, porém, me deixa triste, porque assisto de perto às condições que esses alunos, mesmo sonhando e se esforçando,

Page 17: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

têm para concorrer com alunos bem instruídos e acolhidos da rede particular de ensino. BS: Em relação à saúde, qual auxílio os alunos possuem? MB: Não têm nada. Até uma vez foi discutido como essas crianças sobrevivem, pois a sobrevivência é muito triste e frágil. Vemos de perto que "muitos têm como base a alimentação na escola", e me preocupa pensar o que essas crianças estão comendo nos finais de semanas e nas férias, pois a fome é real e não está tão distante de nós. Na escola municipal, temos acompanhamento de nutricionistas que escolhem e equilibram as suas alimentações. Mas, ao mesmo tempo, há uma inexistência de suporte psicológico, apesar de sabermos que o aprendizado está ligado a questões psicológicas. Há alunos que sofrem de problemas como dislexia, discautelia, disortografia, transtornos que bloqueiam parte do aprendizado. O que contemplaria o acompanhamento desses alunos seria uma psicopedagoga, que não há. Então, o indivíduo vai empurrando a defasagem e chega no final ainda com ela. Não são coisas fáceis de serem supridas. BS: Na escola em que trabalha, há um suporte ou campanhas que envolvam a formação do aluno?

Page 18: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

MB: Existe, por exemplo, a Sala de Apoio e Acompanhamento da Inclusão, onde há um suporte para alunos e professores que realizam trabalhos de equilíbrio e desenvolvimento a crianças com necessidades especiais. Esse trabalho é feito por professores especialistas da área de educação especial, assim como há professores que trabalham nas salas de reforço para aqueles que possuem dificuldades de aprendizagem. No entanto, essas salas são superlotadas e os professores não conseguem fazer milagres.

Alunos: Carol Kim, Bruno Gabriel, Gabriela Ventura, Maria Luisa Minas, Pedro Daltro

Page 19: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

ENTREVISTA: Guarda Compartilhada

O divórcio vem se mostrando como um dos temas mais pertinentes da atual sociedade brasileira. Atrelado a ele estão todos os procedimentos do Direito de Família e suas repercussões. Um desses processos vem sendo muito debatido por especialistas da área: a possibilidade da guarda compartilhada entre os pais em uma situação de separação. Confira uma entrevista com a juíza de família Daniela Morsello, especialista nesse aspecto do direito familiar.

“Se a guarda compartilhada for o melhor para o filho, mesmo que haja discordância por uma das partes, ela deve ser imposta”

Entrevistador: Doutora, quais são os principais problemas enfrentados pela senhora no seu trabalho e quais são os setores da vara de família que mais a preocupam?

Daniela Morsello: As varas de família cuidam de questões muito interessantes. O que mais preocupa um juiz dessa vara são questões referentes a pessoas e seres humanos e, mais do que isso, questões que interferem na vida das pessoas, que dizem respeito ao fim de um casamento, à guarda dos filhos depois da separação, à pensão alimentícia e a tudo que há de mais importante na vida pessoal de qualquer ser humano.

E: Sabendo que a senhora é uma especialista no tema de guarda compartilhada, que é referente a outro tema muito pertinente na atual sociedade, o divórcio, o que a senhora

Page 20: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

tem a dizer sobre a definição de guarda compartilhada, que não é conhecida por toda a sociedade atualmente?

D: A guarda compartilhada é uma modalidade de guarda que o legislador do nosso país quis introduzir na legislação para que os filhos pudessem sentir menos os reflexos da separação, criando a possibilidade aos pais, mesmo separados, de cuidarem dos filhos em conjunto, decidindo sobre a vida das crianças também em conjunto, e dividindo a responsabilidade da criação dos filhos. O filho fica sob custódia física de um dos genitores e, no modelo anterior, o outro só possuía a possibilidade de visitas. Já no modelo da guarda compartilhada ele possui a possibilidade de uma ampla convivência com o filho, e não só isso, podendo também participar das principais decisões de sua vida juntamente com a guardiã que, no mais das vezes, seria a genitora. Então ela é uma forma de participação ativa do pai que não reside com o filho no cotidiano e na vida dele. Isso divide a educação do filho para ambos, mesmo estando separados. Essa possibilidade não era possível no modelo anterior, de guarda unilateral, pois, segundo ela, o genitor guardião possuía quase um poder ilimitado sobre ele, participando majoritariamente das decisões e da educação, enquanto o outro só possuía a função de fiscalizar a guarda sem uma participação de fato efetiva.

E: Sabe-se que a guarda compartilhada foi um grande avanço na parte jurídica e legislativa do Brasil. A senhora pensa que tal ação é deveras um avanço? E, normalmente, pelos pais, há concordância a respeito da guarda compartilhada?

D: A pergunta é ótima. Embora a guarda compartilhada tenha sido introduzida em nosso país, há muitos pedidos, formulados geralmente pelos pais, genitores homens, postulando esse tipo de guarda. Mas, infelizmente, em muitos processos, nós nos deparamos com uma resistência, principalmente por parte das mulheres, em conceder esse tipo de guarda, achando que com isso perderiam algum tipo de poder ou que poderia haver algum reflexo com relação à alimentação dos filhos. Na verdade, nada disso acontece. Então surgiu, justamente ligada à sua pergunta, a grande dúvida que no início foi enfrentada pelos juízes: com um dos pais querendo a guarda compartilhada e o outro a guarda unilateral, se seria mesmo assim possível para os juízes procederem com a adoção da guarda compartilhada. E o que tem sido entendido pelos juízes, pelos tribunais e pelos julgamentos, acompanhados do que chamamos de jurisprudência é que sim. Se a guarda compartilhada for a melhor opção para o filho, mesmo que haja discordância por uma das partes, ela deve ser imposta. Desde que haja, claro, um mínimo de condições de respeito e diálogo entre os pais. Mas a mera discordância por uma das partes, se não for bem fundamentada e justificada, não impede a concessão na prática dessa modalidade de guarda.

E: Muito bem. Muito obrigado pela sua participação, doutora. Boa noite.

D: Boa noite. Foi um prazer falar com o senhor.

GRUPO: ÁLVARO (03), FERNANDO (15), GABRIEL (16), GUILHERME (19), OTTAVIO (33). TURMA 3.

Page 21: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda
Page 22: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

“Não podemos desistir de quem somos”

A comunidade LGBT na sociedade brasileira atual.

Artur Santoro é ex-aluno do colégio São Luís e, atualmente, cursa Ciências Sociais

na Universidade de São Paulo (USP). É representante da comunidade LGBT,

principalmente com sua página no Facebook, na qual aborda temas como racismo e

comunidade LGBT.

“Nunca vamos desistir, até porque nós não podemos desistir de quem somos”

Laura: Você acha que é possível que um dia as pessoas não precisem mais “sair do

armário”?

Artur: Se um dia for possível, eu acho que vou estar morto. É o nosso ideal

utópico, o nosso objetivo: que ninguém mais precise sair do armário. É o que queremos

dentro da militância, mas, dentro do real e do possível, eu acho que é pouco provável. É

complicado, porque, por exemplo, se você fizesse uma entrevista com uma pessoa que

fora escravizada, em 1600, durante a colonização do Brasil, e perguntasse "será que um

dia os negros não serão mais escravizados?", ela teria a mesma reação que eu. Hoje o

mundo que a gente conhece, e que a gente entende, tem uma norma heterossexual, uma

norma cisgênero. E é muito forte isso. A gente até perde a esperança às vezes, mas é nosso

objetivo. Não quero ser muito comunista, mas acho que, enquanto a gente viver nesse

Page 23: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

mundo capitalista, que ensina os homens a serem homens, que se estrutura numa

heterossexualidade compulsória, a gente não vai conseguir romper com essa ideia.

Precisamos de medidas socioeducativas, como ensinar gênero nas escolas, para que as

pessoas aprendam a pelo menos respeitar, conviver com o diferente; ou até para que

possam saber que, se elas sentem atração pelo mesmo gênero ou querem usar roupas ditas

para o sexo oposto, tudo bem.

“Precisamos de medidas socioeducativas, como ensinar gênero nas escolas”

L: Como um participante da comunidade LGBT e militante, qual você

considera ser a função dessa comunidade para a sociedade?

A: A comunidade LGBT surge porque a gente precisa resistir. Nós vivemos em uma

norma heterossexual e cisgênero muito forte e com uma opressão da LGBTfobia muito

presente, que se espelha em todas as instituições da sociedade: no ambiente escolar,

político, de trabalho, família, em tudo. O movimento surge como uma ideia de resistência,

e ele nunca vai conseguir ser individual, sempre vai ser coletivo. Embora cada um tenha

suas lutas específicas, a gente está em um mesmo contexto de luta contra o preconceito. A

função da comunidade LGBT na sociedade é de quebrar com os padrões que estamos

acostumados a ver, quebrar com essa ideia de homem que só usa calça, que não pode usar

saia e vestido, essa ideia muito sedimentada na cabeça das pessoas. A gente ouve as

pessoas falarem “Gay não precisa ficar andando de mãos dadas na rua”, mas a gente

precisa sim, porque não vai ser se escondendo que a gente vai fazer os outros entenderem

que a gente existe e resiste.

Quando nos escondemos é como se não existíssemos. E nós precisamos também nos

posicionar dentro dessas esferas de poder. A gente precisa pensar nas vias institucionais

também, onde tem muita gente que acha que está tudo bem em ser homofóbico. A

comunidade LGBT e as pessoas que nos apoiam estão aí para isso.

Mas também não adianta chegar na política, por exemplo, e copiar os ideais hegemônicos,

como o Fernando Holiday (MBL), que foi eleito vereador, é negro e gay, mas reproduz

racismo e homofobia o tempo inteiro. A gente precisa de alguém no governo que lute

contra esses preconceitos e quebre com esse padrão que existe no poder.

Page 24: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

“Não vai ser se escondendo que a gente vai fazer os outros entenderem que a gente existe

e resiste”

L: Quando você anda nas ruas, já aconteceram situações desagradáveis só por

você ser quem é? Você sente esse preconceito da sociedade no dia a dia? Como você

lida com isso?

A: Por acaso hoje eu estou de vestido. É impressionante. Na faculdade é muito mais

tranquilo, de vez em quando rola um olhar ou outro, mas é uma comunidade, um espaço

que já está mais acostumado, porque as pessoas que estudam lá têm a cabeça mais aberta,

é aquele estereótipo do estudante da FFLCH. Mas, por exemplo, vindo para cá eu peguei

“busão”, peguei metrô, e aconteceram uns olhares. São coisas pequenas que dizem muito.

Você acaba realmente vendo que seu jeito interfere de algum modo na vida das pessoas.

Mas é uma coisa tão constante na minha vida, que, se eu me importasse com todos que

olham rindo ou olham feio pra mim, eu não sairia mais de casa. Sinceramente, hoje em

dia, eu não me importo, porém, no começo, quando eu estava me descobrindo gay, eu

ficava meio triste. Mas eu sempre fui uma pessoa que não é afetada com essas coisas.

Claro que tem aqueles dias em que você já está mal, então você ouve um comentário e ele

te atinge mais forte. No dia a dia eu não me importo, porque não serão essas ações que

mudarão quem eu sou.

L: Como foi quando você se abriu com sua família e amigos? De onde saiu a

coragem? Teve alguma coisa que te incentivou?

A: Eu sempre fui a criança “viado”. Eu sempre falo que não tive de sair do armário,

porque as pessoas já presumiam que eu fosse gay antes mesmo de eu me descobrir. Meus

pais e minha família são muito tranquilos com isso, só se for ver as pessoas mais distantes

que é mais complicado. Por exemplo, meus tios me deletaram do Facebook, mas eu não

me importo muito. Mas minha família, que são meus irmãos e meus pais, teve algumas

dificuldades no começo, é claro, porque era uma coisa nova pra eles, mas sempre foi

muito tranquilo. Na verdade eu nunca tive que me abrir pra minha mãe, só teve uma vez

ela me perguntou se eu era gay, eu falei que sim, e ela só falou aquelas coisas de mãe,

Page 25: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

sobre sexo com amor e camisinha, etc, e a gente continuou a falar sobre o assunto de

antes. Pareceu assunto de elevador. Eu tenho três irmãos e todos são héteros. Como eles

nunca tiveram que chegar pra minha mãe e falar “mãe, sou hetero”, então eu nunca achei

que tivesse a necessidade de chegar para eles e criar um clima para contar que sou gay. E

também dentro do colégio, eu nunca tentei esconder isso. Quando eu me descobri gay, no

9º ano, muitas outras pessoas da minha idade estavam se descobrindo bissexuais, lésbicas

ou gays, então isso se tornou muito mais fácil para mim. Para os meus amigos eu até

contei, mas acho que muitos deles já imaginavam. Não teve aquele choque, nem nada, eu

não perdi nenhuma amizade por isso.

L: A maneira como você se veste, a cor do seu cabelo, enfim, o jeito que você é,

têm algum significado ou alguma relação com sua militância, com sua luta?

A: Acho que sim, na medida em que, por exemplo, eu rompo com o aceitável,

digamos. Tem homossexuais que as pessoas até aceitam, mas eles não podem ser

afeminados, têm que parecer héteros, têm que “esconder” a homossexualidade. Eu rompo,

porém não acho que é algo revolucionário. É algo que causa incômodo nas pessoas,

porque eu estou “causando”, as pessoas estão olhando torto e vendo que eu existo. Estou

criando um choque nas pessoas e, para cada choque que eu crio, tem uma reação diferente,

como um olhar feio. Não sei se estou mudando o mundo, mas sei que estou incomodando,

estou mostrando que eu existo e acho que já é um passo. Não é uma grande mudança,

porque ainda tem muita coisa. Ao mesmo tempo em que eu me visto de tal modo e

sinalizo minha homossexualidade, eu posso sair daqui e apanhar na rua. Mesmo eu

rompendo sempre vai ter uma resposta à altura ou até mais. E eu acho que mostrar quem

somos é importante na questão política. Minha militância, meu ativismo é mostrar que nós

estamos aqui, e não nos escondendo. A gente não pode ter medo, não é hora de se

esconder, não é hora de “ficar no armário”. É hora de não só sair do armário, mas sair e

quebrar as portas para não dar para a gente entrar de novo, jogar uma bomba na porta do

armário. Só sair do armário quer dizer que a porta vai abrir, mas também poderá fechar.

Agora acontecerão vários retrocessos com o Temer e o Doria, por exemplo. O Doria tem

um plano de acabar com o centro de cidadania LGBT, mas nós vamos para a rua e vamos

lutar. Nunca vamos desistir, até porque nós não podemos desistir de quem somos.

Page 26: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

L: Você utiliza a internet como uma forma de se manifestar?

A: Eu comecei a escrever como forma de desabafo. Eu sempre gostei muito de

escrever. A partir daí eu fui me interessando mais pelos assuntos, pesquisando mais,

estudando mais, e vi que as pessoas estavam gostando do que eu escrevia. Enfim, comecei

a escrever e agora tenho o hábito de sempre postar coisas que eu acho erradas, coisas para

desconstruirmos, mudarmos e tudo mais. De vez em quando eu acho que a internet tem

seus limites, mas a gente acaba subestimando o seu alcance. Por exemplo, às vezes

encontro pessoas na rua que falam: “Ah, já li tal texto seu, não sei o que, e tudo mais.”

Você realmente vê que faz diferença na vida das pessoas, e eu acho que isso é muito

positivo, e que a gente tem que usar a internet como um espaço de fazer nossa voz ser

ouvida, já que as grandes mídias não nos dão voz. Eu acho que a internet é boa nesse

sentido, de espalhar ideias.

(Entrevistador: Laura Loreto, Foto: Bárbara Lazzarin, Edição e transcrição: Catarina

Baldin, Vídeo: Ana Carolina Andrade e Camille Sant’Anna)

Page 27: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Livros de vestibular

“O evento do CCSP que dá aos jovens a oportunidade de estudar mais a fundo os

principais livros de vestibular”

Entrevistamos Deise, uma das organizadoras das palestras sobre livros de vestibular que

acontecem no Centro Cultural São Paulo, para saber um pouco mais sobre o evento, seus

resultados, seu público e sua organização.

Por Julia Nalles, Bianca Vizzotto, Juliana Camargo, Maria Clara Gibele e Carolina Jalowski.

GRUPO: Você acredita que esse evento ajuda efetivamente os jovens a passarem no

vestibular ou a fazê-lo com mais facilidade?

DEISE: O objetivo do evento é aproximar os jovens e o público em geral da literatura. Fazer

isso a partir de palestras que tratassem dos livros solicitados pelo maior vestibular do país

foi uma maneira de efetivar essa aproximação. Diante disso, acho que os jovens que

participam dessa programação podem enfrentar o vestibular mais preparados naquilo que

concerne às questões de literatura, mas sempre lembrando que português/literatura é apenas

uma parte do que é pedido em uma prova. Passar no vestibular exige conhecimentos que

vão muito além do que nossa proposta oferece.

G: Além do vestibular, você acha que esse evento ajuda a construir pessoas melhores

e mais criticas?

DEISE: A literatura ajuda as pessoas a construírem um senso crítico diante das questões da

vida, de um modo geral. O que grandes autores nos propõem em suas obras são reflexões

Page 28: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

que nos fazem pensar nossa posição enquanto indivíduos e nosso papel no mundo, na nossa

sociedade, na nossa comunidade, ao mesmo tempo em que nos aprofundamos em questões

do sujeito que está às voltas com seus embates psíquicos internos, seus conflitos de

sentimentos, suas maneiras de se relacionar com o outro. Se aprofundamos nosso contato

com a literatura, ampliamos nossas possibilidades de identificação com um amplo universo

ficcional trazido pelos personagens, cenários e contextos desse mundo tão rico. Pensar o

sofrimento de um personagem como Fabiano e de toda a sua família (Vidas secas), que não

tem "pouso" neste mundo e está sempre "errando" em busca de um lugar em que possam

viver por alguns meses, nos faz deparar com uma questão tão atual como a da imigração,

que sempre existiu, mas vem tomando uma proporção gigantesca, com as pessoas tendo que

sair de sua terra natal, onde construíram sua identidade e sua vida, para tentar sobreviver em

algum lugar que minimamente as possa acolher. Penso que só alguém que estiver muito

insensível ao mundo em que vive pode ter contato com o universo literário e não ser

"transformado" por ele.

“Perceber o interesse das pessoas, ver a intensidade da participação delas na programação

e mesmo a gratidão que algumas delas fazem questão de demonstrar é algo que (...) nos

faz sentir uma alegria imensa”

G: Qual é a parte mais complicada em organizar um evento como esse?

D: Por tratar-se de um a programação muito ampla (dura 9 semanas), o mais difícil é

conseguir conciliar a agenda de nossos convidados, que são os palestrantes. Montar essa

grade e fazê-lo de um modo que preserve também os nossos objetivos de deixar as

"novidades" da programação (livros novos na lista) para a segunda metade do evento é um

grande e trabalhoso desafio. As questões internas de definir espaço, orçamento,

planejamento de divulgação são trabalhosas, mas já estão muito inseridas em nossa prática

cotidiana.

Page 29: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

G: Qual a parte mais satisfatória em realizar esse projeto?

D: Perceber o interesse das pessoas, ver a intensidade da participação delas na programação

e mesmo a gratidão que algumas delas fazem questão de demonstrar é algo que, a despeito

de todas as dificuldades que envolvem nosso cotidiano de trabalho, nos faz sentir uma

alegria imensa.

G: O que você viu nesses eventos que mais te chamou a atenção?

D: A disponibilidade dos jovens que levantam cedo no sábado, contrariando todos os

estereótipos que poderíamos ter, a intensa participação de alunos de cursinho que, por já

disporem de possibilidades similares em suas escolas poderiam não aderir a essa proposta,

mas que têm participado "em peso" e a satisfação dos professores que dão aula de graduação

e pós (mestrado, doutorado e pós-doutorado) na USP e que adoram participar desse projeto,

ficando muito estimulados pela quantidade de público e do interesse que eles demonstram.

Acho que essas são as coisas que mais têm me sensibilizado ao longo desses 3 anos.

G: Quais são as principais alterações de um ano para outro?

D: Concebi essa programação para ter, no mínimo, esse formato. As alterações que

eventualmente podem ocorrer estão relacionadas às mudanças na lista de livros indicados

para o vestibular e, consequentemente, no professor convidado, uma vez que o escolho para

falar dos livros cujo autor ou escola literária está mais próximo de seus objetos de pesquisa.

Há sempre o desejo de ampliar essa proposta, como fizemos no ano passado com o

Brevíssimo Panorama da Literatura Brasileira, um conjunto de 5 palestras que precederam

a programação dos livros do vestibular e tinham o objetivo de permitir um conhecimento

maior acerca da história da literatura brasileira. Foi um acréscimo possível de realizar no

ano passado, mas que nem sempre conseguimos ou conseguiremos viabilizar.

G: Como são escolhidos os palestrantes?

D: Escolhi trabalhar com os professores da USP, pois sempre estão muito "antenados" nos

assuntos pertinentes ao universo literário do vestibular da FUVEST. Dentro desse amplo

universo de professores da instituição, procurei escolhê-los de acordo com a vinculação de

Page 30: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

sua pesquisa com os autores e ou períodos que correspondem às obras indicadas. Dessa

forma, criamos um "time" de professores que se comprometeram muito com a nossa

proposta e que são, em grande medida, responsáveis por todo o sucesso do projeto.

G: Qual é o retorno que vocês têm dos que assistem às palestras?

D: É, no geral, muito positivo. As pessoas ficam agradecidas pela oportunidade de

participar, sugerem e aproveitam intensamente o que a programação tem para lhes oferecer.

Os questionários que aplicamos também nos confirmam essa leitura.

G: O fato de este ser um ano de eleição interferiu de alguma forma na divulgação do

evento?

D: Não. A novidade deste ano ficou por conta da realização da parceria com a coordenadoria

de todo o Sistema Municipal de Bibliotecas, que possibilitou uma enorme ampliação da

divulgação, fazendo-a chegar em lugares que não tínhamos atingido nos anos anteriores e

que está propiciando uma grande ampliação de público presente ao evento. Mas isso não se

deve à eleição e sim à possibilidade de setores distintos, mas afins, conversarem e

otimizarem os recursos de que dispõem em benefício da sociedade.

G: A proposta de modificar a grade do Ensino Médio pode mudar a forma como o

evento é realizado?

D: Penso que a programação pode sofrer alterações, pois as questões que envolvem

vestibulares e mesmo as questões do nosso universo de equipamento cultural são muito

dinâmicas e nos exigem constantes reparos, ajustes, adaptações. No mais, não penso que

uma mudança específica no ensino médio afete o formato da proposta, pois não foram esses

os critérios que consideramos quando da sua idealização. Mas temos de estar atentos aos

fatos que movimentam a vida de nosso público-alvo para continuarmos com uma proposta

atrativa. Isso vale para todas as nossas programações e todos os perfis de público.

Page 31: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

A Saúde do Jovem no Século XXI

Mais que uma preocupação, o cuidado com a saúde é um dever que o jovem precisa saber cumprir.

Tendo em vista os problemas de saúde que afetam a vida da maioria dos jovens da atualidade,

procuramos os médicos Rafael Lourenço Magdaleno (Oftalmologista, 56 anos, Faculdade de Medicina de

Jundiaí), Regina Barros Domingues (Patologista, 42 anos, Universidade de São Paulo), Ana Beatriz de

Freitas Castro Marques (Endocrinologista, 51 anos, Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São

Paulo) e Rogério Martins Ruiz (Cardiologista, 44 anos, Universidade Mogi das Cruzes) e perguntamos a

eles sobre as consequências que os hábitos, tendências, influências e práticas da atual geração de jovens

podem ter sobre sua qualidade de vida a curto e a longo prazo.

Entrevistador (Ent): Tendo em vista a saúde da juventude contemporânea, quais são os seus piores

hábitos e como evitá-los/combatê-los?

Regina Barros Domingues (RBD): Os piores hábitos que eu vejo são o abuso do álcool - os jovens

andam bebendo muito -, o abuso de drogas e coisas menos ruins como dormir quantidades insuficientes

de horas, alimentação não regrada e excesso do uso de tecnologias - resultando numa baixa interação etc.

Para evitar problemas, acredito que seja simplesmente ter uma vida regrada, uma boa alimentação, evitar

consumo de bebidas alcoólicas e uso de drogas e ter uma vida social - sair e encontrar as pessoas.

Ent: Em relação especificamente a hábitos alimentares, até que ponto o consumo de fastfood, por

exemplo, deixa de ser algo normal para transformar-se em um problema à saúde das gerações mais

novas?

Ana Beatriz de Freitas (ABF): Considerando que são problemas de saúde pública, obesidade,

hipertensão, diabetes e colesterol, o hábito crescente do consumo de alimentos industrializados e de

fastfood com certeza pode ser considerado o grande causador dos problemas da modernidade. Como o

próprio nome diz, a alimentação rápida, além de induzir a um maior consumo de frituras, implica,

também, ingerir os alimentos de maneira rápida, muitas vezes em pé, o que certamente prejudica a

qualidade de vida.

Ent: Nos últimos anos, a tecnologia só vem crescendo e sendo cada vem mais incorporada ao dia-a-

dia das pessoas, especialmente dos jovens. Como o seu uso pode ser um problema à saúde dos

jovens?

RBD: O uso excessivo dessas tecnologias pode vir a ser um problema, pois acontece de haver uma

imersão muito grande no mundo virtual, deixando de ter contato com o mundo externo; os jovens podem

Page 32: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

se expor demais, colocando em risco eles mesmos e a família, com informações, fotos etc. O uso de

jogos em excesso também pode tornar-se um problema, criando uma situação de vício.

Ent: Na busca por diversão, muitos jovens entram em contato com bebidas alcoólicas, por exemplo.

A partir de que frequência e intensidade esse consumo deixa de ser algo aceitável e passa a ser

preocupante? Como evitar problemas relacionados a essas atividades?

ABF: Inicialmente, o consumo de bebida alcoólica por menores, além de ser ilegal, compromete o

desenvolvimento neuropsíquico, o que certamente poderá prejudicar esses indivíduos em sua fase adulta.

Sendo a morte violenta a mais comum entre jovens, o álcool torna-se um agente facilitador para brigas e

acidentes, o que aumenta essa triste estatística. A busca por diversão que requer algo que fuja à realidade,

também observada pelo uso de drogas, pode significar uma geração desnorteada. A prevenção desse ato

inicia-se na família, que tem como papel orientar e acompanhar o jovem nessa fase tão complexa que é a

adolescência.

Ent: Mudando um pouco de foco para o atual bombardeamento pela mídia de padrões e para as

pressões parentais, de que forma esse conjunto se torna insalubre à saúde mental dos jovens?

RBD: A mídia bombardeia os jovens com ideias de consumo, para ter determinada marca e comprar

determinado produto, como se ele apenas fosse pertencer a um grupo se tivesse ou consumisse aquilo.

Acredito que o jovem tem de entender que não é o consumo que vai fazer com que ele seja aceito, mas

sim o que ele é. Existem também pressões familiares em relação a passar em uma faculdade e conseguir

emprego - ser alguém - vamos dizer, e isso causa uma situação de estresse desnecessária, prejudicial ao

jovem.

“A busca por diversão que requer

algo que fuja à realidade, também

observada pelo uso de drogas, pode

significar uma geração desnorteada.”

A doutora Ana Beatriz de Freitas Castro Marques -Endocrinologista, 51 anos, Faculdade de Ciências

Médicas Santa Casa de São Paulo.

Page 33: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Ent: Com o maior acesso a informações e medicamentos, os jovens estão cada vez mais se

automedicando e fazendo recomendações entre si baseadas em experiências próprias. Há algum

problema nisso?

Rogério Martins Ruiz (RMR): Automedicação pode configurar-se abuso. A medicação sem a

prescrição implica desconhecer os efeitos totais que as substâncias podem causar no organismo. Não

existe substância inócua. Buscar como resultado um determinado efeito sem saber o que mais se pode

causar é muito perigoso, podendo pôr em risco a qualidade de vida.

Ent: Os jovens de hoje em dia sofrem com muita pressão familiar, ou até mesmo escolar, para ter

um bom desenvolvimento acadêmico e ingressar em boas universidades o mais rápido possível,

dado o término do ensino médio. Como essa pressão, junto ao estresse pessoal, pode ser prejudicial

à saúde desses jovens?

RMR: O comprometimento causado pelo estresse envolve as esferas psicológica/emocional e física do

indivíduo. Há uma interação direta da esfera emocional com a física, proporcionada pelo aumento dos

níveis de adrenalina, de noradrenalina, dopamina e serotonina. O desequilíbrio nesses hormônios é o

grande responsável pelas alterações do que chamamos estresse. Como conseqüência, pode-se perceber

alterações na circulação sanguínea, pressão arterial, ritmo cardíaco, alterações hormonais e distúrbios do

sono.

Ent: Visando ainda a esses padrões ditados pela mídia, até que ponto uma dieta deixa de ser

saudável e se torna nociva?

ABF: A busca de padrões de beleza definidos pela mídia, muitas vezes exagerados, pode levar a dietas

desbalanceadas, o que compromete a saúde seja por carência ou abuso de algum tipo de nutriente. Mais

importante do que uma dieta (que sugere datas de início e término) é a reeducação alimentar. Hábitos

nutricionais adequados somados à atividade física são suficientes para manter o peso e a saúde.

Paralelamente, os distúrbios do comportamento alimentar, deflagrados por uma visão deturpada da

imagem corporal, tão frequente nos dias de hoje, podem ter a participação da mídia, já que ela impõe o

culto ao corpo a qualquer custo.

Ent: As cargas horárias dos colégios visam cada vez mais prolongar as aulas e nota-se que os

períodos de aula já começam relativamente cedo. Essa tendência é prejudicial?

Rafael Lourenço Magdaleno (RLM): O número total de carga horária não afeta a saúde do aluno, mas

afeta a vida dele. Por exemplo, com tantas coisas para fazer, ele deixa de ter sua vida normalizada e perde

muitas horas possíveis de lazer entre os amigos. O que realmente é um incômodo para a saúde é o horário

Page 34: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

do início das aulas, uma vez que começam exageradamente cedo e normalmente isso afeta o número de

horas de sono dos adolescentes.

Ent: Quais deveriam ser os hábitos de sono de um aluno do ensino médio?

RLM: Alunos do ensino médio deveriam ter longas noites de sono, pois assim acordariam mais dispostos

para o dia seguinte. O número ideal seria entre 8 e 10 horas. Também seria saudável uma pequena pausa

no meio da tarde para renovar as energias, talvez meia hora, uma hora no máximo, para que a noite não

fosse prejudicada.

Amanda Luiza de Freitas – no1

Heloísa Marques – no19

Raphael Pellegrino – no32

Rodrigo Yamashita – no33

Valentina Acero - no34

Page 35: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

A MEDICINA E SUA FORMAÇÃO

A VISÃO SOBRE A FORMAÇÃO ACADÊMICA MÉDICA PELOS OLHOS DE UM

OFTALMOLOGISTA

Thomaz Rodolpho Júnior, nascido em Marília, formado em Medicina, em 1989, pela

Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, com residencia médica em oftalmologia e

atualmente trabalhando em São Paulo, nos relata as dificuldades, felicidades e tristezas

dentro do Ensino Médio e dentro da própria faculdade de Medicina.

Felipe Cabello: Porque você escolheu fazer faculdade de Medicina? E com qual idade

você optou?

Thomaz Rodolpho Junior: Eu acho que comecei a tomar gosto pela faculdade com mais

ou menos 12 ou 13 anos, observando um tio da minha mãe que era médico, no interior de

Marília. Ele era um daqueles médicos da época que, apesar de ter especialidade em

ginecologia, era meio generalista; então ele cuidava de tudo, e foi o cuidado que ele tinha

com as pessoas e o seu carisma que me encantaram, e acabei decidindo fazer Medicina.

Houve alguma dificuldade encontrada antes de entrar na Medicina relacionada a

estudos e horários?

Sim, na verdade, foi há uns 30 anos que cheguei num momento em que percebi que o que

eu estava querendo fazer tinha uma concorrência grande. Eu fiz o vestibular em 1983 e já

era uma disputa enorme para entrar na faculdade, já que eu queria uma de alta qualidade.

Então eu percebi que, para conseguir entrar, eu teria de me dedicar quase que

integralmente aos estudos, e assim, a partir do final do 2º ano do ensino médio, eu já fiquei

bem mais dedicado. Foi uma luta, porque estudar é um processo doloroso, não é

brincadeira.

Page 36: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Depois de toda a dificuldade, você entrou na faculdade. Ela é realmente muito difícil

como sempre se diz?

Não, não é difícil. Se você faz o que gosta, nada é difícil. É claro que tem matérias que são

um pouco menos prazerosas, para as quais você não tem muita aptidão, mas tem matérias

que são mais interessantes, com as quais você mais se identifica. No geral, é muito mais

fácil a vida dentro da faculdade em relação à vida acadêmica fora dela, como no ensino

médio. Isso se dá, pois, na faculdade, você estuda a área que lhe apetece e, como eu disse

antes, apesar de ter umas matérias preferíveis a outras, no geral é melhor do que estudar,

no meu caso, por exemplo, física e matemática.

“ [a faculdade de medicina] não é difícil. Se você faz o que você gosta, nada é difícil. ”

Em algum momento dentro da faculdade ou mesmo depois você percebeu ou sentiu

que a escolha havia sido errada?

Não, não eu nunca tive a dúvida de saber o que eu queria. Eu me decidi aos 12 anos e

entrei com 17. Eu tive cinco anos para ficar naquela dedicação apenas pensando na

Medicina e, quando entrei, foi um sonho realizado. E mesmo depois, já frequentando a

faculdade, nunca pensei em desistir.

Thomaz Ribeiro Junior

(à esquerda), em seu

consultório, localizado

na Avenida Angélica,

1996, São Paulo.

Page 37: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Ainda falando de faculdade, um problema que assola o país são os “trotes” sofridos

pelos calouros. Você sofreu um trote? Se sim, foi violento?

Na minha época, o trote ainda era uma coisa de cortar cabelo, oferecer bebida alcoólica, te pintar. Não tinha violência não. O pessoal na minha época respeitou que eu não queria beber, e eu não bebi. Teve gente da minha turma que bebeu e passou mal, mas o pessoal respeitou bem, não teve nada de agressão ou abuso.

É do conhecimento do grupo que você é oftalmologista, mas por que você escolheu

essa área?

Então, eu sempre gostei, dentro da Medicina, das coisas que envolviam mais sutilezas e,

quando comecei a passar nas áreas clínicas, nas áreas cirúrgicas e nos plantões, comecei a

perceber que algumas especialidades eram mais tristes, áreas nas quais se trata de pessoas

muito doentes, o que não me agradava. Teve uma época na qual eu queria fazer pediatria e

depois, dentro da pediatria, fiz monitoria para cuidar de crianças recém-nascidas; porém,

percebi que havia muitos casos de óbito e comecei a me deprimir. Passei a ver as áreas de

diagnósticos e tratamentos e consegui resolver o problema: a oftalmologia era algo que

reunia delicadeza e não demandava de estar no hospital o tempo todo. Perfeito para mim.

Não apenas dentro da oftalmologia, mas em toda a Medicina existe alguma

dificuldade no mercado de trabalho?

Eu conheço médicos que não querem trabalhar na Medicina. Fizeram a faculdade e, por um motivo ou por outro, resolveram não seguir carreira, foram fazer outras atividades, mas eu não conheço médico desempregado. As dificuldades no mercado de trabalho nessa área são nulas, pelo que sei. Pela enorme, e merecida, valorização que a Medicina possui percebe-se hoje uma grande quantidade de jovens desejando tornarem-se médicos. Qual sua opinião sobre tal fenômeno? Sempre teve muita gente querendo fazer Medicina, e acho que os motivos pelos quais as pessoas querem fazer Medicina continuam sendo os mesmos: tem gente que tem aptidão, tem gente que tem vontade de salvar vida, tem gente que tem vontade de ajudar o próximo. Tem, obviamente, gente que acha que fazendo Medicina vai virar fazendeiro, vai ficar rico, e isso é uma ilusão, mas garanto que um médico nunca vai morrer de fome, sempre tendo dinheiro para a família num convívio saudável. Elaboração de perguntas: Caio Briga n°10 Entrevista: Felipe Cabello n°15 e Tomás Ribeiro n°37 Foto: Paulo Eduardo n°31 e Ricardo Eller n°35

Page 38: O estudo de células-tronco na cura contra o câncer...Pontes para a cura O estudo de células-tronco na cura contra o câncer Por Lucas Taborda, Bruna Rego, Carolina Lima e Eduarda

Revisão e digitação do texto: Bruno Mesquita n°9