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ISSN 2176-1396
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE LICENCIATURA EM
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: UM PROJETO EDUCACIONAL SOBRE
DROGAS
Letícia Alves da Cruz1 - UCDB
Suelen Regina Patriarcha-Graciolli2 - UFMS / UCDB
Eixo–Ensino e Práticas nas Licenciaturas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O estágio supervisionado é um processo no qual se permite ao futuro docente desenvolver uma
visão crítica a partir das observações realizadas em sala de aula e da sua atuação didática. Essa
criticidade permite, por sua vez, desconstruir a visão simplista do ensino, um dos problemas
atuais na educação brasileira. Além disso, o estágio supervisionado deve compreender a escola
nos aspectos que regem sua organização e estrutura, itens que influenciam o planejamento de
aula. Sendo assim, a prática desenvolvida durante o estágio supervisionado deve estar
correlacionada com as teorias discutidas na graduação. Nesse contexto, durante a formação
docente, por meio das discussões teóricas, o futuro docente deve obter um momento de reflexão
crítica sobre as metodologias dos sistemas, se não ocorrer esse processo durante sua formação,
principalmente no estágio supervisionado, o futuro docente se limita à reprodução de técnicas
de ensino vivenciadas enquanto aluno da educação básica, sendo incapaz de reconhecer outras
possibilidades. Nessa perspectiva, o objetivo do presente relato é descrever o estágio de
regência de uma turma do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, realizado no ano 2016
em duas escolas públicas em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, mediante um projeto
educacional com o tema “Drogas”, ressaltando os pontos principais da observação da sala de
aula, planejamento e execução. Durante o período de estágio foi possível observar na prática a
importância das reflexões teóricas relacionadas à educação, ao processo de ensino e
aprendizagem, ao planejamento, a prática docente, aos aspectos que envolvem a docência, e a
formação do professor. O estágio docente no formato de projeto didático contribuiu ainda para
aproximação da escola e a universidade, de modo a efetivar as parcerias necessárias entre as
instituições de ensino.
Palavras-chave: Estágio de Regência. Prática pedagógica. Formação Docente.
1Acadêmica de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo
Grande/MS. E-mail: [email protected]. 2Bióloga, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS). Docente da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail:
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Introdução
O estágio supervisionado é um processo no qual se permite ao futuro docente
desenvolver uma visão crítica a partir das observações realizadas em sala de aula e da sua
atuação didática. Essa criticidade permite, por sua vez, desconstruir a visão simplista do ensino,
um dos problemas atuais na educação brasileira. Além disso, o estágio supervisionado deve
compreender a escola nos aspectos que regem sua organização e estrutura, itens que influenciam
o planejamento de aula. Sendo assim, a prática desenvolvida durante o estágio supervisionado
deve estar correlacionada com as teorias discutidas na graduação. Nesse contexto, durante a
formação docente, por meio das discussões teóricas, o futuro docente deve obter um momento
de reflexão crítica sobre as metodologias dos sistemas, se não ocorrer esse processo durante sua
formação, principalmente, no estágio supervisionado, o futuro docente se limita na reprodução
de técnicas de ensino vivenciadas enquanto aluno da educação básica, sendo incapaz de
reconhecer outras possibilidades.
O estágio curricular é um processo que consiste de experiências práticas que aproximam
o futuro docente à realidade da sua profissão. De acordo com Scalabrin e Molinari (2013), o
estágio é o processo que permite a integração da teoria trabalhada na universidade com a
realidade escolar. Nesse contexto, para Carvalho e Gil-Pérez (2011), o estágio deve ser
entendido como um eixo articulador entre teoria e prática. Pimenta e Lima (2006) salientam
que o exercício de qualquer profissão exige a prática, no entanto, a prática isolada da teoria e
do pensamento crítico resulta em falhas na formação docente. Deste modo, se o estágio for
reduzido apenas à observação dos professores em aula e a imitação dos mesmos, reproduz um
sistema conservador e descontextualizado com a realidade. Um processo semelhante ocorre
quando o futuro docente acredita que as técnicas e habilidades são as resoluções de todos os
problemas confrontados e fica então reduzido ao “prático” acreditando não necessitar de
domínio dos conhecimentos científicos e pedagógicos.
A teoria deve estar em conjunto com a prática propiciando visão crítica ao futuro
docente sobre as observações feitas e sua atuação didática. A criticidade, por sua vez, permite
o rompimento da visão simplista de ensino tradicionalista. Carvalho (2013a) explica que
diferente das outras profissões, o professor se encontra em seu campo de trabalho durante toda
a sua vida escolar, criando perfis profissionais em relação ao papel do professor e suas
interações com os alunos, difíceis de serem removidas. Nessa perspectiva, um dos objetivos do
estágio é permitir que os futuros docentes vivenciem na prática, os aportes teóricos discutidos
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na universidade de modo a refletir e construir sobre sua própria prática. O futuro docente pode
escolher e separar aquilo que considera adequado nas observações e acrescentar novos modos,
adaptando-os a realidade escolar conforme os saberes construídos na teoria acadêmica e
realizando sua aplicação durante a regência (PIMENTA; LIMA, 2006; CARVALHO, 2013a).
Neste sentido, o objetivo do presente relato é descrever o estágio de regência de uma
turma do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, da Universidade Católica Dom Bosco
(UCDB), no ano de 2016, mediante um projeto educacional, ressaltando os pontos principais
do planejamento e execução que devem estar presentes na construção de conhecimento, no
processo educativo e na formação docente.
Apontamentos sobre Estágio Docente do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
A união entre teoria e prática, rompimento da visão simplista do processo ensino e
aprendizagem e desenvolvimento de um olhar crítico sob a atuação didática se torna possível
por meio do estágio supervisionado. A resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE)
nº2 de 1 de julho de 2015 (BRASIL, 2015) institui a duração e a carga horária dos cursos de
licenciatura de formação de professores da Educação Básica em nível superior e dispõe “400
(quatrocentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado, na área de formação e atuação na
educação básica”.
O cumprimento da carga horária estabelecida pelo CNE no curso de licenciatura em
Ciências Biológicas da UCDB em 2016 seguiu os seguintes critérios: I – 160 (cento e sessenta)
horas de estágio de observação (observação e problematização do ensino fundamental e médio);
II – 100 (cem) horas para elaboração de materiais didáticos pedagógicos (preparação para
estágio de regência); III – 20 (vinte) horas de diagnose dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP)
das escolas; IV – 20 (vinte) horas pela elaboração de resenha crítica a partir de um documentário
sobre a docência; V – 100 (cem) horas de regência em educação formal (ensino fundamental e
médio).
O processo de observação das salas nas quais a regência se concretizou foi um item
importante para a construção dos planos de aula, pois, cada sala possui características
específicas, as quais interferem na construção da metodologia de trabalho. Outro item
importante para o desenvolvimento do planejamento é a análise do PPP, este documento de
acordo com Veiga (2008), contém as diretrizes gerais para a elaboração de todos os outros
documentos da escola. Nesse sentido, o docente analisa por meio do PPP a realidade escolar
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quanto aos alunos presentes, comunidade, teorias de ensino, dificuldades, entre outras questões
particulares da escola, o que influencia no planejamento docente.
A construção do material didático foi fundamental na formação pedagógica, visto que
ao elaborarem materiais didáticos, os acadêmicos puderam refletir sobre a atuação profissional,
suas necessidades formativas e no planejamento da sua prática.
Do mesmo modo, elaborar uma resenha crítica, a partir de um documentário brasileiro
sobre os conflitos e desafios da docência e da educação do Brasil, fez com que os acadêmicos
ampliassem seus olhares para a realidade educacional brasileira e pensassem em possibilidades
de mudanças, visto que foram promovidos debates em sala de aula, a partir dos questionamentos
da professora responsável pelo estágio docente.
O Estágio de Observação docente
De acordo com Carvalho (2013a), o estágio de observação deve apresentar ao futuro
docente condições que possibilitem uma reflexão crítica para problematizar as situações
decorrentes na escola. Ainda segundo a mesma autora, o futuro docente analisará cada aspecto
da sala de aula, buscando integrar com a teoria discutida na universidade. Essa detecção é
importante para a mudança de aspecto conceitual do futuro professor, permitindo que as
problematizações das ações docentes sejam significativas e permitam o rompimento da visão
de ensino tradicionalista.
Além disso, o futuro docente deve compreender que a observação não deve ser realizada
somente durante o estágio em virtude da complexidade do processo educacional. Nesse
contexto, Borba (2011) explica que, ao elaborar um plano de aula, o educador deve levar em
consideração o perfil de cada sala: Se eles são mais ou menos ativos; se há educandos com
alguma necessidade especial; quais as necessidades reais daqueles estudantes.
Além disso, o estágio de observação é um processo que permite compreender a escola
nos aspectos que regem sua organização e estrutura. Carvalho (2013a) aponta que o futuro
docente deve compreender toda a complexidade do seu futuro local de trabalho, já que ele,
enquanto aluno, não conhecia. Isso implica na análise crítica de documentos importantes para
a organização escolar e que norteiam as ações escolares. Além disso, a estrutura física também
deve ser observada conforme ressalta Almeida (2011) quando aponta que um bom
planejamento do educador implica no conhecimento de espaços da instituição e os recursos
físicos que podem ser ocupados na ação pedagógica.
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O estágio de observação pode ser mais proveitoso ainda quando é realizado em
diferentes locais, pois assim, há possibilidades de analisar criticamente professores com
didáticas diferentes e em realidades diferentes. Além disso, permite observar a complexidade e
diferenças que existem nas gestões escolares, visto que elas interferem na ação pedagógica
docente. Nessa perspectiva, o estágio docente foi realizado em duas escolas públicas estaduais,
uma na região oeste, denominada de Escola Mandala, outra na região norte, denominada de
Escola Terena, (os nomes das escolas são fictícios, mantendo-se o sigilo das identidades das
escolas) ambas em Campo Grande no Mato Grosso do Sul (MS).
Estágio de Regência: um projeto educacional
De acordo com Carvalho (2013a), há várias formas de estágios de regência que vão
desde a participação ativa de um professor regente em conjunto com o futuro docente até a
regência autônoma. Entretanto, qualquer uma das formas de estágios de regência deve atingir
um objetivo em comum: promover condições ao futuro docente para que ele possa discutir
sobre sua atuação didática.
O estágio em formato de projeto educacional foi o escolhido pela turma de Ciências
Biológicas da UCDB em 2016. Hernández e Ventura (1998), apontam que o projeto permite a
conexão entre teoria e prática e permite participação mais ativa, significativa e instigante dos
educandos, valorizando as interações e mediações entre professor-aluno e aluno-aluno. O
projeto educacional também permite que o futuro docente desenvolva metodologias que
busquem a construção do processo de ensino e aprendizagem, algumas vezes rompendo com a
visão tradicionalista do ensino. Além disso, essa forma de estágio promove também condições
para que o futuro docente avalie sua própria prática, sendo um dos pontos mais importantes no
estágio de regência apontado por Carvalho (2013a). O projeto educacional ainda contribui com
o estreitamento das relações e trabalho desenvolvidos em ambas as instituições de ensino,
possibilitando um diálogo.
De acordo com Hernández e Ventura (1998), a escolha do tema é o ponto de partida do
projeto, portanto, deverá ser relevante e contextualizada com a realidade e interesse dos alunos.
O tema do projeto educacional do estágio de regência aqui descrito foram as “Drogas”,
escolhido a partir das observações realizadas nas escolas e por consulta aos gestores
educacionais das escolas envolvidas quanto às necessidades locais. Além disso, de acordo com
o relatório brasileiro sobre drogas (DUARTE, STEMPLIUK; BARROSO, 2009), MS está entre
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os estados com maior índice de internações decorrentes do uso de drogas, sendo também o
quarto estado com decorrências de crimes envolvendo o uso de drogas ilegais. Na região centro-
oeste, MS lidera as apreensões de maconha. De acordo com pesquisa realizada pelo governo do
estado e prefeitura municipal de Campo Grande, um dos maiores problemas que acomete a
cidade está no uso de drogas cada vez mais precoce pelos adolescentes (GOVERNO DO
ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, 2015).
Portanto, justificou-se assim a necessidade de trabalhos pedagógicos que dimensionem
aos educandos as consequências do uso de drogas em termos biológicos e fisiológicos.
Estágio de regência: Projeto Educacional “Drogas” no Ensino Médio e Fundamental nas
Escolas Mandala e Terena
A realização do projeto educacional na Escola Terena no ensino médio ocorreu em um
auditório, na própria escola, e na escola Mandala, em sala de aula. Iniciamos a regência com a
apresentação dos acadêmicos, e em seguida, dos educandos. A apresentação é fator importante
na interação entre futuros docentes e educandos, pois permite também desenvolver de início
um ambiente educativo que busca a participação ativa dos educandos.
Em seguida, iniciamos dinâmica com o material didático “Caixa das Concepções” que
foi desenvolvida pelos acadêmicos durante o planejamento da regência. Consiste em uma caixa
de papelão colorida com abertura em um dos lados, onde foram colocados protótipos simulando
algumas drogas (Lança-perfume, álcool, refrigerante, gordura, chocolate, cigarro, narguilé,
crack, cocaína e drogas injetáveis). A participação era voluntária, o educando selecionava ao
acaso um protótipo da caixa e explicava tudo que sabia sobre a droga específica. Em alguns
casos, os alunos diziam desconhecer o assunto, quando isso ocorria, eram apresentados novos
questionamentos a ele. A intenção das perguntas era instigar a participação desse aluno e como
resultado, na próxima tentativa, eles apresentavam seus saberes com mais naturalidade. De
acordo com Freire (1987), o educador precisa entender que o aluno não é uma “tábua rasa” em
sala de aula, alguma concepção, ideia ou opinião ele possui, e é tarefa do professor explorar
essas concepções prévias.
De acordo com Oliveira (2005), o educando é a parte atuante e alvo de interesse no
processo ensino e aprendizagem, portanto, deve ser considerada sua visão acerca do mundo.
Para a mesma autora, as concepções de mundo do aluno são construídas desde seu nascimento
e não desaparecem na sala de aula, local onde os conceitos científicos são inseridos
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continuadamente no processo de ensino e aprendizagem. Deste modo, as concepções prévias
apresentadas pelos educandos devem ser consideradas para a introdução de um novo assunto
(OLIVEIRA, 2005; ALMEIDA, 2011). Nessa perspectiva, o material didático é um recurso que
permite caracterizar as concepções dos educandos.
De acordo com Krasilchik (2011), as falas e o comportamento do professor influenciam
diretamente no clima da aula e na participação dos alunos. Moraes e Varela (2007) explicam
que, o homem é um ser social que necessita ser aceito em um grupo e desempenha um
determinado papel sendo construído a partir da sua autoestima. A interação dos acadêmicos
com os educandos por meio da “Caixa da Percepção” apresentou resultados positivos, visto que
os alunos passaram a participar mais da aula, desenvolvendo confiança e liberdade de perguntar
e expor suas ideias.
A partir das concepções prévias apresentadas pelos educandos, inicia-se uma aula
interativo-explicativa com base nas discussões já ocorridas e abordando os conteúdos
programados sobre as drogas e seus efeitos.
Almeida (2011) aponta que, à medida que um novo assunto é introduzido na aula, o
docente deve observar os rostos e comportamentos dos educandos, buscando indícios de
possíveis dúvidas. Nessa perspectiva, ao iniciar-se a abordagem do sistema nervoso, alguns
estudantes demonstraram desentendimento, desse modo, utilizou-se de outras estratégias
metodológicas a fim de contextualizar o conteúdo, com uso de pequenos vídeos, imagens e
pequenas representações teatrais. A contextualização auxilia no processo ensino e
aprendizagem, pois permite que o aluno perceba a sua complexidade (ALMEIDA, 2011). Todas
as estratégias metodológicas utilizadas, em conjunto, auxiliaram na compreensão do conteúdo
pelos educandos.
Em seguida, foi proposta questão para avaliar o acompanhamento lógico dos alunos
durante a aula expositiva. A questão foi planejada para contribuir com a reflexão e o raciocínio
do aluno, e não à memorização conforme orientações de Carvalho (2013b). Um exemplo foi o
que ocorreu na abordagem do LSD com a seguinte pergunta: “Quais as consequências
apresentadas sete anos depois a um indivíduo que fez o uso da LSD?”. Nesse tipo de questão,
o aluno teve que raciocinar sobre os conceitos ensinados sobre entropia do sistema nervoso,
tempo de vida da droga no organismo, efeitos da LSD e criar hipóteses para chegar a uma
conclusão, portanto sua resposta depende da construção dos conceitos ocorridos durante o
desenvolvimento da aula interativa e não a partir de uma simples memorização.
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Muitos alunos considerados por alguns docentes como “bagunceiros”, participaram
ativamente das atividades propostas pelos estagiários. Nesse contexto, Albrecht e Kruger
(2013) apontam que a falta de interesse do aluno pode estar vinculada com a metodologia do
professor. Os autores defendem que uma aula diferenciada e voltada para o cotidiano é muito
mais motivadora do que uma aula embasada no tradicionalismo, sendo, portanto, papel do
professor buscar inovações e recursos diferentes para uma aula construtivista.
Outro fator importante e vivenciado pelos estagiários foi a flexibilidade do plano de
aula, ou seja, durante a realização das aulas explicativas, utilizou-se de metodologias que não
estavam apresentadas anteriormente no plano de aula. Isso demonstrou que cada sala possui de
fato uma realidade diferente mesmo pertencendo à mesma escola. Além disso, o planejamento
de aula de uma escola para a outra variou muito, isso porque durante a realização do estágio na
Escola Terena, pode-se perceber que as metodologias propostas não eram coerentes com o
tempo, portanto, para a sua realização, foi necessário retomar criticamente a durabilidade de
cada atividade e modificar o plano de aula.
Santos e Santos (2007) explicam que muitas vezes o plano de ensino se resume no
preenchimento de alguns formulários pré-determinados, ou seja, o planejamento possui um
caráter de “camisa de força” no qual, o docente acredita que todos os passos devem ser seguidos
rigorosamente quanto às etapas das metodologias e o tempo destinado. Entretanto, o
planejamento além de conter a programação das ações docentes, constitui também um momento
de reflexão e de autoavaliação. Para que o plano de aula seja um instrumento efetivo de
orientação pedagógica ele deve apresentar ordem sequencial, objetividade, coerência e
principalmente flexibilidade, visto que o processo de ensino é dinâmico e sofre modificações
com as condições reais em que se encontra.
Além do conteúdo conceitual, o processo de ensino e aprendizagem deve ser
direcionado para as dimensões procedimentais (experimentos, atividades) e atitudinais.
Portanto, na abordagem sobre drogas foi realizado um experimento que consistia na simulação
dos efeitos do cigarro no pulmão. De acordo com Carvalho (2013b), a demonstração-
experimental deve ser realizada em conjunto com todos os educandos, mas a conclusão dos
efeitos e consequências deverão ser construídas pelos alunos. Para isso, após a realização do
experimento, contextualizou-se o processo investigativo aplicando-se um questionário, no qual
os alunos obtiveram liberdade para discutir sobre o problema e criar suas hipóteses. Os alunos
deveriam recordar as características do cigarro, assimilar com o experimento e apresentar as
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justificativas para a resolução do problema apresentado. Para Carvalho (2013b), essa é uma
estratégia de grande valor no processo de aprendizagem, visto que puderam discutir, refletir e
ampliar seus conhecimentos tendo em vista que é uma atividade que exige fundamentos
reflexivos e críticos.
Sendo assim, durante a realização tanto do experimento quanto da investigação, pode-
se perceber o envolvimento dos alunos. Eles estavam separados em grupos e havia interação
entre eles, visto que discutiam suas hipóteses e relacionavam com os conceitos que haviam
construídos durante a aula. Poucas foram às vezes que pediram orientação durante a realização
da atividade, demonstrando liberdade de pensamento.
Durante a observação realizada entre os grupos durante a realização da atividade
investigativa, foi possível visualizar a aceitação das opiniões opostas entre os educandos de um
mesmo grupo, evidenciando o respeito ao próximo, além da busca da resolução dos problemas.
Nesse contexto, Zômpero e Laburú (2011) ressaltam que as atividades investigativas além de
possibilitar o aprimoramento do raciocínio, aumentam também a cooperação entre os alunos,
sendo, portanto, uma metodologia que considera os aspectos atitudinais do processo de ensino
e aprendizagem. No mesmo contexto, Carvalho (2013b) aponta que discussões a partir das
conclusões de cada grupo são relevantes no processo de desenvolvimento da argumentação.
Muitos alunos durante os apontamentos das conclusões desenvolveram argumentação mais
científica se comparada com a linguagem cotidiana que apresentaram no início da aula. Todos
os alunos de cada grupo, uns mais outros menos, contribuíram nas apresentações finais, eles se
expressavam por meios gestos espontâneos, demonstrando habilidades nas dimensões
conceituais e atitudinais.
Já o projeto educacional no ensino fundamental em ambas as escolas iniciou com o
mesmo propósito do ensino médio: valorizar as concepções do educando mediante a elaboração
do material didático; buscar interação entre futuros docentes e educandos; e a evolução
crescente da participação dos alunos durante a aula.
A aula expositiva desenvolvida no ensino fundamental obedeceu aos critérios apontados
por Almeida (2011) que recomenda, nesse nível de ensino, fazer uma contextualização com
outras linguagens (vídeos, pinturas ou músicas), diferentes daquela que é utilizada
constantemente, assim, a contextualização foi intensificada nos recursos visuaisenriquecendo a
prática pedagógica.
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O diferencial do planejamento do ensino fundamental foram as atividades
sociointeracionistas. Carvalho (2013b) destaca que os educandos possuem condições de
desenvolver potencialmente seus conhecimentos e habilidades mediante a discussão e interação
com os colegas. Nesse contexto, a realização de dinâmicas envolvendo a competição em grupos
foi proposta como sistematização de ensino e desenvolvimento dos aspectos atitudinais. Uma
parte das atividades foi na quadra e despertou a curiosidade e entusiasmo do aluno sem
desconsiderar os aspectos pedagógicos do processo de ensino e aprendizagem.
Considerações Finais
O estágio supervisionado é um processo no qual se permite ao futuro docente
desenvolver na prática as metodologias e teorias discutidas durante sua formação docente.
Outro aspecto importante do estágio é o planejamento das aulas por meio do qual o futuro
docente desenvolve a habilidade de organização do processo ensino e aprendizagem, e, além
disso, pode ponderar sobre as ações pedagógicas que resultarão ou não na construção de
conhecimentos. Logo, a elaboração do planejamento exige reflexão crítica sobre as
metodologias de ensino e aprendizagem muitas vezes discutidas na universidade. A prática de
desenvolver o planejamento e a aplicação em sala de aula permite ao futuro docente reflexão
quanto às peculiaridades desse processo principalmente quanto a sua flexibilidade.
A prática pedagógica também se demonstrou única aos acadêmicos. Aquilo que antes
era contextualizado no campo teórico na universidade pode ser vivenciado por cada um e em
diferentes realidades socioculturais, contribuindo com sua formação docente.
Além disto, o desenvolvimento do estágio docente na forma de projeto auxiliou o
cumprimento da carga horária descrita na resolução vigente e ainda permitiu maior
aproximação da universidade com a escola, bem como dos docentes responsáveis por ambas as
instituições de ensino, permitindo a troca de conhecimento.
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