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O Erro e a tarefa avaliativa em Matemática: uma abordagem qualitativa
Autor:Marco Aurélio Kistemann Jr. Orientador: André Bessadas Penna-Firme
Linha de Pesquisa: Formação de Professores de Matemática
O Erro na escola, sobretudo na escola pública, tem recebido um tratamento
sentencioso, na maioria das vezes, constituindo-se como ítem coadjuvante do cotidiano
escolar no contexto pedagógico, havendo uma ausência de discussão, pelos agentes escolares:
alunos, professores e supervisores. Estes agentes não têm se apresentado para discutir qual o
papel e qual a função do erro na construção do conhecimento na sala de aula.
Os erros observados não têm sido problematizados de forma que possam servir ou
propiciar uma discussão, um diálogo em torno da produção do conhecimento matemático.
Segundo BERTONI (2000, p. 12), “a não concretização desse diálogo na sua plenitude
empobrece a utilização didática do erro, prejudicando significativamente, o desempenho dos
alunos”.
A classificação e certificação dos alunos através de testes padronizados possibilitam ao
professor construir a “geografia do aprendizado“ de seus alunos, entretanto, mascara
valiosos acidentes geográficos, os erros, que auxiliariam professor e aluno a delimitarem quais
as melhores formas de assimilar , acomodar , equilibrar e regular os conteúdos apresentados
na escola.
Para muitos professores, o conhecimento extra-escolar que o aluno possui, muitas vezes
em abundância, suas tentativas, seus construtos alicerçados em momentos onde o Erro se
torna imprescindível para a superação de obstáculos epistemológicos (BACHELARD, 2000)
que se instalam, não se adequa aos anseios proliferados na escola. Suprime-se qualquer ente
pedagógico que possa desinstabilizar o andamento desse processo burocrático, entre as quais,
o Erro apresentado pelo aluno.
A massificação do saber matemático tem relegado o Erro a último plano, tornando-o
execrável e estereotipando-o como sintoma da incompetência do alunos na disciplina de
Matemática. Poucas vezes, um professor tem se preocupado em averiguar se o Erro cometido
por seus alunos são equívocos de informação, deficiente interpretação do vocabulário dos
enunciados ou mesmo falhas acontecidas em cálculos.
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Os poucos que se adequam, ainda que artificialmente, às imposições, à transmissão de
conteúdos, à rigidez do tempo escolar, ao sistema avaliativo certificativo e frontal, tem se
constituído, segundo BERTONI (2000), em figuras robotizadas, sem nenhum senso crítico e
ansiosas, pois enfrentam princípios que acreditam na busca da manutenção do êxito.
Um estudo do Erro na disciplina de Matemática, através de condutas docentes
investigativas pode revelar que o Erro é tão valioso instrumento de construção de conceitos
quanto o acerto, pois o primeiro constitui-se como o hiato que falta para colocar abaixo as
praticadas hierarquias de excelência (PERRENOUD, 2000) pelas escolas. Denuncia, ainda, o
pouco conhecimento e o despreparo dos professores em lidar com o Erro, não utilizando-o
como ente rico para o norteamento de sua conduta pedagógica, assim como regulador da
aprendizagem do aluno.
Para CARRAHER et alli (1988), a aprendizagem matemática praticada na sala de aula
é uma atividade humana porque o que interessa nessa situação é a aprendizagem do aluno.
Assim no percurso de aprendizagem discente, o professor deve estar atento para interagir
junto a cada aluno e suas idiossincrasias, ao longo do processo de construção do
conhecimento matemático, detectando onde os obstáculos cognitivos se farão presentes e
originarão os erros, sejam eles, conceituais ou sistemáticos.
PIAGET (1975) em suas pesquisas contribuiu para que a lógica e a matemática
viessem a ser tratadas como formas de organização da atividade intelectual humana. Seus
estudos incentivam os pesquisadores interessados na análise do raciocínio a tentarem
esmiuçar os caminhos e percalços da construção dos conhecimentos lógico-matemáticos
implícitos na resolução de problemas das mais variadas maneiras. Na construção desses
conhecimentos erros ocorrem e podem servir para reavaliar a eficácia e pertinência da prática
e da metodologia empregadas pelo professor.
Esse trabalho, de uma forma ainda introdutória, buscou salientar a necessidade
constante do professor em questionar o sistema avaliativo do qual faz parte, seus métodos,
seus instrumentos avaliativos, bem como questionar até quando continuaremos a repetir
situações avaliativas que ignoram ou pouca atenção dão às tentativas que não resultaram em
acerto imediato por parte de cada aluno.
Nesse sentido, esta pesquisa constituiu-se num estudo exploratório gerador de
hipóteses, de novos questionamentos e de dúvidas que possam surgir enriquecendo a
discussão e a reflexão sobre a prática docente, as metodologias avaliativas e a aprendizagem
discente.
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Importância do estudo – Objetivos e Questões
Dentre os compromissos colocados pela sociedade contemporânea à escola, um dos
mais relevantes é o de garantir a apropriação dos conhecimentos básicos por toda a população,
a fim de que estes, através de situações apropriadamente inclusivas, consolidem a sua
condição de cidadão.
Para BAROODY (1994), a matemática informal é um elemento fundamental para o
professor conhecer a qualidade do Erro do aluno. Segundo BAROODY (apud, BERTONI,
2000, p. 59), “o conhecimento informal desempenha papel fundamental na aprendizagem
significativa da matemática formal” o conhecimento informal é, portanto, fundamental para o
domínio das técnicas básicas e para enfrentar com êxito a matemática mais avançada.
Há uma forte tendência nas escolas, em geral, de validar algumas práticas, em
detrimento de outras, por exemplo, priorizando a prática da aritmética escrita, ainda que
pesquisas demonstrem que a aritmética oral é a forma mais utilizada no cotidiano dos alunos.
Para NUNES (1997), a quantidade de erros cometidos na aritmética oral é menor do que na
aritmética escrita, pois a criança utiliza mais os raciocínios lógico-matemáticos por meio de
sua linguagem oral. Dessa forma, os erros seriam mais persistentes numa prática escrita,
tornando-se cumulativos no caso dos alunos que não dominarem o código escrito.
Tivemos, desse modo, como objetivos principais desse trabalho: investigar como a
avaliação praticada no ensino de Matemática, nas suas mais variadas formas, tem auxiliado o
professor a regular a aprendizagem através dos erros cometidos pelos alunos, como também
investigar qual o efetivo papel do Erro na construção do conhecimento matemático.
Com o propósito de nortear nosso trabalho, tínhamos duas questões a responder:
“Qual o papel e qual a função do Erro do aluno nas avaliações de Matemática ?” no nível
fundamental . A importância de se conhecer o Erro do aluno e em que pontos ele não consegue
superar um dado obstáculo cognitivo (PERRENOUD, 1995) reside no fato de que ao lidar
com os erros do grupo-classe, o professor têm a sua disposição dados precisos para
intervenções mais individualizadas, além de reconhecer as idiossincrasias discentes . Para
BERTONI (2000), o mais importante é o professor adotar uma atitude reflexiva diante do Erro
do aluno, procurando, não apenas, compreender o Erro no interior de um contexto, mas
também compreender o sujeito que erra.
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Referencial Teórico- Metodologia de Pesquisa
O presente trabalho caracteriza-se por um Estudo Exploratório, de cunho qualitativo,
estruturado a partir de um quadro teórico conceitual: Philippe Perrenoud (Avaliação), Jean
Piaget (Erro), Neuza Bertoni (Educação Matemática) e os Parâmetros Curriculares
Nacionais (Formação do Professor). O objetivo geral é conhecer como as tarefas avaliativas
de Matemática, nas suas mais variadas formas, auxiliam o professor a regular a aprendizagem
através dos erros cometidos e de que forma esses erros constituem-se como agentes na
construção (ou não) do conhecimento matemático, na perspectiva docente.
A utilização do método científico numa pesquisa de cunho qualitativo propiciou ao
pesquisador pensar criticamente, compreendendo a exigência de que o conhecimento deve ser,
regularmente, submetido por parte de cada pesquisador a uma reflexão, a fim de que possam
ocorrer conexões necessárias entre as idéias, revelando as condições que definem a verdade
dos enunciados pré-estabelecidos nos questionamentos.
Inicialmente, foram definidas trinta questões, a partir das quais procedemos uma
gradativa seleção daquelas que mais nos pareceram apropriadas ao presente estudo.
Posteriormente, reduziu-se as trinta questões a um número de doze questões que foram,
efetivamente utilizadas no questionário utilizado no trabalho de campo.
Procedemos à distribuição de 20 questionários a professores de Matemática atuando
no ensino fundamental em Escolas Públicas das redes municipal e estadual, bem como em
Escolas Particulares do município de Juiz de Fora (MG) no período de abril/2004 a
maio/2004.
No questionário, cada entrevistado respondia a 12 questões abertas sobre os temas a
seguir: métodos e recursos avaliativos utilizados aproveitamento das questões erradas nas
avaliações de Matemática, e a linha pedagógica de base seguida pelo professor.
Para a organização dos dados colhidos em nossa pesquisa de cunho qualitativo, optou-
se pelo Método de Análise de Conteúdo de BARDIN (1998).
A Análise de Conteúdo, segundo BARDIN (1977), é um conjunto de técnicas de
análise de comunicação que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens.
Para análise dos dados obtidos na pesquisa de campo elegemos 5 categorias que
emergiram da Pré-Análise e da Exploração do Material, quais sejam:
5
Avaliação :
No questionário distribuído aos professores, a categoria AVALIAÇÃO buscava
descobrir qual a função da avaliação, na ótica docente, e como usa as tarefas avaliativas para
regular a sua prática em sala de aula. Nessa categoria, AVALIAÇÃO, inicia-se a investigação
do papel e da função do ERRO a partir do instrumento avaliativo utilizado pelo professor na
disciplina de Matemática.
Quadro 1
CATEGORIA PERCEPÇÃOINCIDÊNCIA DE
RESPOSTAS
Avaliação
• Avaliação Formativa Contínua / Diagnóstica
Reguladora9
• Avaliação Certificativa (Normativa) 6• Avaliação Verificadora de Aprendizagem 10• Outros 5
Fonte: Professores do Ensino Fundamental (Rede Municipal / Estadual / Particular) em Juiz de Fora – MG. 2004
Uma vez analisados os resultados, foi constatada a incidência de respostas, na
categoria Avaliação, dada pelos professores pesquisados de que: *a avaliação praticada teria
como função principal o diagnóstico da aprendizagem e das dificuldades dos alunos,
perfazendo-se assim como contínua, sendo, desse modo, privilegiadora do processo de ensino-
aprendizagem (9 incidências).
Avaliação
9
610
5
Avaliação FormativaContínua / DiagnósticaReguladoraAvaliação Certificativa(Normativa)
Avaliação Verificadora deAprendizagem
Outros
6
Entretanto, observou-se em maior freqüência de incidência que a avaliação teria como
função a verificação da aprendizagem, buscando confirmar através das tarefas avaliativas a
ocorrência ou não da aprendizagem.
Obstáculos Cognitivos
A categoria Obstáculos Cognitivos emergiu do discurso dos professores, na medida em
que, muitas são as dificuldades (obstáculos) que ocorrem com os alunos quando estes se
deparam com um novo conteúdo matemático. No encontro com novos conceitos matemáticos
os obstáculos providenciam a ocorrência dos erros, bem como da variedade de ações
discentes buscando ultrapassar esses obstáculos.
Quadro 2
CATEGORIA PERCEPÇÃOINCIDÊNCIA DE
RESPOSTAS
Obstáculos
Cognitivos
• Fragmentação dos Conteúdos 6• Descontextualização dos Conteúdos
(Cotidiano)4
• Pré-Requisitos 12• Linguagem Matemática 7• Outros 4
Fonte: Professores do Ensino Fundamental (Rede Municipal / Estadual / Particular) em Juiz de Fora – MG. 2004
Obstáculos Cognitivos
6
4
12
7
4
Fragmentação dosConteúdosDescontextualização dosConteúdos (Cotidiano)Pré-Requisitos
Linguagem Matemática
Outros
7
A análise da categoria Obstáculos Cognitivos, propiciou-nos constatar uma
considerável concentração de respostas na percepção Pré-Requisitos, isto é, os conhecimentos
e conceitos matemáticos que possibilitam a aquisição de novos conteúdos da Matemática,
constituindo-se como a base necessária para que o aluno possa dar continuidade na construção
de seus esquemas cognitivos. Segundo muitos professores, a falta de base, na figura dos Pré-
Requisitos representaria um real obstáculo cognitivo, sendo, desse modo, um item adicionador
do aparecimento dos erros discentes.
Instrumentos de Avaliação
A categoria Instrumentos de Avaliação busca apresentar as formas que o professor
utiliza para avaliar a aprendizagem de seus alunos e o que o levou a usar certos expedientes
avaliativos.Tão importante quanto utilizar a Avaliação para regular os processos de
assimilação, acomodação e equilibração dos conteúdos matemáticos, está também a escolha
de instrumento(s) avaliativo(s) que possibilite(m) ao professor investigar as condutas corretas
e errôneas de seus alunos.
Quadro 3
CATEGORIA PERCEPÇÃOINCIDÊNCIA DE
RESPOSTAS
Instrumentos
de
Avaliação
• Pesquisas (Extra-Escolares) 4• Trabalhos em Sala (Individuais / Grupos) 10• Provas Escritas (Individuais) 11• Outros 5
Fonte: Professores do Ensino Fundamental (Rede Municipal / Estadual / Particular) em Juiz de Fora – MG. 2004
Instrumentos de Avaliação
4
1011
5Pesquisas (Extra-Escolares)Trabalhos em Sala(Individuais / Grupos)Provas Escritas(Individuais)Outros
8
Na análise da categoria Instrumentos de Avaliação observou-se uma equilibrada
concentração de citações por parte dos professores investigados na utilização de provas
escritas, individuais, bem como da utilização de trabalhos (individuais / grupo) em sala de
aula.
O ERRO nas Tarefas Avaliativas:
Nesta categoria, buscou-se investigar de que forma o ERRO acontecido nas tarefas
avaliativas auxilia (ou não) o professor na regulação da aprendizagem do aluno, bem como
esses ERROS podem ser utilizados para a estruturação do planejamento docente.
Investigou-se também como o ERRO influi na postura do professor e na conduta de
suas tarefas avaliativas.
Quadro 4
CATEGORIA PERCEPÇÃOINCIDÊNCIA DE
RESPOSTAS
O ERRO
nas
Tarefas
Avaliativas
• ERRO como ente Regulador da
Aprendizagem do Aluno6
• ERRO como Deficiência Cognitiva do Aluno 3• ERRO COMO Parâmetro de Planejamento da
Prática do Professor (Ensino)9
• Outros (Erro como Socializador do
Conhecimento, como Ente Gerador da Nota
(Certificação), como Distração do Aluno)
3
9
Fonte: Professores do Ensino Fundamental (Rede Municipal / Estadual / Particular) em Juiz de Fora – MG. 2004
Na análise dos questionários na categoria “O ERRO nas Tarefas Avaliativas” podemos
constatar uma incidência, maior de respostas na categoria que diz ser o ERRO um “parâmetro
de planejamento da prática docente (ensino)” com 9 menções
Tratamento do ERRO
Nesta última categoria emergida do conteúdo investigado em nosso instrumento de
pesquisa, buscou-se descobrir se há ou não há um tratamento do erro cometido pelo aluno nas
tarefas avaliativas e, desse modo, como o professor atua diante do acontecimento das falhas e
dos obstáculos cognitivos geradores dos erros conceituais ou sistemáticos de seus alunos.
Quadro 5
CATEGORIA PERCEPÇÃOINCIDÊNCIA DE
RESPOSTAS
Tratamento
dos
Erros
• Tratamento Certificativo do ERRO (NOTA) 4• Tratamento Formativo do ERRO
(DIAGNÓSTICO)7
• Tratamento Positivista e Constatador do
ERRO10
• OUTROS (Tratamento Punitivo, ente
negativo, exclusão, item vexametório, etc).2
O ERRO nas Tarefas Avaliativas
6
39
3
ERRO como ente Regulador daAprendizagem do Aluno
ERRO como DeficiênciaCognitiva do Aluno
ERRO COMO Parâmetro dePlanejamento da Prática doProfessor (Ensino)
Outros (Erro como Socializadordo Conhecimento, como EnteGerador da Nota (Certificação),como Distração do Aluno)
Tratamento dos Erros
4
710
2
TratamentoCertificativo do ERRO(NOTA)
Tratamento Formativodo ERRO(DIAGNÓSTICO)
Tratamento Positivistae Constatador do ERRO
OUTROS (TratamentoPunitivo, ente negativo,exclusão, itemvexametório, etc).
10
Fonte: Professores do Ensino Fundamental (Rede Municipal / Estadual / Particular) em Juiz de Fora – MG. 2004
A categoria TRATAMENTO DOS ERROS revelou uma maioria de incidência de
citações no discurso docente de um Tratamento Positivista e Constatador do ERRO com 10
menções. Com um número aproximado de menções, 7, observou-se a incidência de citações
no item Tratamento Formativo (DIAGNÓSTICO).
Quadro Geral - Gráficos
Gráficos Comparativos das Percepções sobre o erro a avaliação matemática
11
Obstáculos Cognitivos
6
4
12
7
4
Fragmentação dosConteúdosDescontextualização dosConteúdos (Cotidiano)Pré-Requisitos
Linguagem Matemática
Outros
Instrumentos de Avaliação
4
1011
5Pesquisas (Extra-Escolares)Trabalhos em Sala(Individuais / Grupos)Provas Escritas(Individuais)Outros
O ERRO nas Tarefas Avaliativas
6
39
3
ERRO como ente Regulador daAprendizagem do Aluno
ERRO como DeficiênciaCognitiva do Aluno
ERRO COMO Parâmetro dePlanejamento da Prática doProfessor (Ensino)
Outros (Erro como Socializadordo Conhecimento, como EnteGerador da Nota (Certificação),como Distração do Aluno)
Avaliação
9
610
5
Avaliação FormativaContínua / DiagnósticaReguladoraAvaliação Certificativa(Normativa)
Avaliação Verificadora deAprendizagem
Outros
Tratamento dos Erros
4
710
2
TratamentoCertificativo do ERRO(NOTA)
Tratamento Formativodo ERRO(DIAGNÓSTICO)
Tratamento Positivistae Constatador do ERRO
OUTROS (TratamentoPunitivo, ente negativo,exclusão, itemvexametório, etc).
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Conclusões sobre o Estudo:
A análise dos resultados, consideradas as condições em que se desenvolveu o estudo
sobre o ERRO nas tarefas avaliativas de Matemática na visão docente, parece indicar que:
1) A principal função da avaliação, no cotidiano escolar, detectada nas falas docentes é a
Verificação da Aprendizagem, servindo ao professor, prioritariamente. Esta função tem
desempenhado papel de parâmetro pedagógico para o professor comprovar aquilo que o
aluno aprendeu, bem como verificar as possibilidades para continuar a transmissão de
conteúdos propostos no programa. 2) Os Pré-Requisitos constituem-se como o mais
contundente obstáculo cognitivo (ERRO) para o avanço do aluno no processo de construção
de novos conceitos matemáticos, superando largamente o quesito Linguagem Matemática e o
quesito Fragmentação dos Conteúdos. Muitos depoimentos enfatizaram a falta de base (Pré-
Requisitos) como a principal causa do aparecimento dos erros discentes nas tarefas
avaliativas.3) As provas escritas individuais têm sido ainda o instrumento mais amplamente
utilizado nas tarefas avaliativas cujo objetivo é verificar a aprendizagem dos conceitos
matemáticos transmitidos pelo professor. Tal opção avaliativa emergiu nos depoimentos
docentes, em muitos momentos, como uma imposição regimental da escola, explicitando,
muitas vezes, a falta de autonomia docente no que concerne às suas práticas avaliativas. 4) O
ERRO nas tarefas avaliativas de Matemática tem servido como parâmetro de planejamento da
prática docente, em detrimento de uma prática que vislumbre nas falhas cometidas pelos
alunos uma oportunidade integral de regulação da aprendizagem e da conduta matemática de
cada aluno. Nos depoimentos coletados, observamos polarização das falas docentes no
aproveitamento dos ERROS para (re) planejar o ensino dos conteúdos, havendo pouca
preocupação em tornar cada Erro explicitado num item pedagógico “observável” para o aluno.
5) O TRATAMENTO DADO AO ERRO nas tarefas avaliativas de Matemática, como ocorre
há muito tempo, tem se constituído em contundentes práticas positivistas (Raciocínio Lógico)
que constatam o ERRO, sem, entretanto, investigar a origem e a natureza desse ato falho. A
postura adotada por muitos professores é a de evitar que o ERRO ocorra, revelando nos
depoimentos a idéia de ERRO como um fator negativo (Prevenção do ERRO como uma
doença, uma epidemia) que estigmatiza e retarda o êxito do aluno. 6) O ERRO cometido no
contexto das tarefas avaliativas ainda se faz muito pouco investigado pelos professores, que
na maioria dos casos analisados, reproduzem práticas assimiladas em sua formação
universitária inicial. Assim, as funções do ERRO que deveriam priorizar: o porquê de o aluno
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errar, as particularidades dos obstáculos cognitivos e a qualidade das falhas cometidas, cede
lugar a funções que segregam os alunos em aptos e inaptos para a compreensão dos objetos
matemáticos, estigmatizando-os, na medida em que privilegiam o êxito do acerto,
desmerecendo o caráter “observável” do ERRO que deve ser incentivado nas condutas
discentes
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