O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA : A CONEXÃO … NELLY DOS SANTOS PEREIRA.pdf · universidade...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA :
A CONEXÃO ENTRE O IDIOMA E A REALIDADE DOS ALUNOS
POR
JULIA NELLY DOS SANTOS PEREIRA
ORIENTADORA:
PROFESSORA DIVA NEREIDA M.M. MARANHÃO
RIO DE JANEIRO
AGOSTO/2002
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA :
A CONEXÃO ENTRE O IDIOMA E A REALIDADE DOS ALUNOS
POR
JULIA NELLY DOS SANTOS PEREIRA
Trabalho monográfico apresentado como
Requisito parcial para a obtenção do Grau de
Especialista em Docência do Ensino de
Primeiro e Segundo Graus.
RIO DE JANEIRO
AGOSTO/2002
Agradeço a meus pais, Eva e Hermenegildo,
que através de seus exemplos éticos e morais
me conduziram até a busca de respostas existenciais-humanistas.
A meus irmãos, Luanda e Herme, pelo
afeto fraternal que banha nossas existências.
Aos meus sobrinhos, Malkai e Dandara,
que sempre trazem alegria aos meus dias.
Ao meu namorado, Candô, que aguçou
o meu sentido crítico me instigando a fazer melhor.
Dedico este trabalho a todos aqueles
que estão envolvidos nos ideais de uma
educação mais justa e de qualidade.
“Democracia?
É dar, a todos, o mesmo ponto de partida.
Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um.”
Mário Quintana
“Educação não é privilégio.”
Anísio Teixeira
“A minha pátria é a língua portuguesa.”
Fernando Pessoa
“Um pensamento é como uma nuvem descarregando uma chuva de
palavras.”
Vygotsky
Sumário
Página
Lista de abreviaturas e símbolos ______________________________6
Resumo_________________________________________________ 7
Introdução_______________________________________________ 8
1. A relação entre professor e aluno
1.1. O efeito pigmalião ___________________________________ 9
1.2. As teorias educacionais_________________________________10
2. A língua portuguesa
2.1. Língua e fala_______________________________________12
2.2. As diferentes concepções da linguagem__________________13
2.3. A língua enquanto instrumento de dominação e poder_______14
3. Material didático
3.1. A elaboração do material______________________________15
3.2. O perfil dos alunos___________________________________17
4. Avaliação_____________________________________________18
Conclusão_______________________________________________19
Referências Bibliográficas__________________________________20
Anexos_________________________________________________21
Lista de abreviaturas e símbolos
SME – Secretaria Municipal de Educação
NGB – Gramática Normativa Brasileira
Resumo
O ensino de língua portuguesa tem que estabelecer uma conexão
real entre o idioma e a realidade dos alunos para que estes não se
sintam impotentes diante da língua não criem conceitos de menos valia
acerca de si mesmos.
Cabe ensinar o aluno a trabalhar dentro da variação lingüística da
forma mais adequada para cada contexto. E a questão é como mudar,
como mexer com os alunos. A crença ideológica presente neste
trabalho se inicia pela mudança do próprio professor que deve mudar a
si mesmo, mexer com suas emoções, por que através desta descoberta
pessoal pode ousar novas situações para seus alunos.
A escola surge como espaço de atuação de forças que contribuem
(ou não) com as transformações sociais e o livro didático é um dos
instrumentos que deve ser reavaliado porque pode agir de forma
perversa através da simplificação absurda do conhecimento, do
falseamento da realidade, do escamoteamento das disputas e dos
conflitos sociais.
Logo, cabe não só apontar mas também em tentar estabelecer novas
estratégias de trabalho que associadas a uma metodologia tentem
sanar estes problemas: e isto se dará através da construção de um
material didático para o ensino de língua portuguesa no curso de
enfermagem. Dessa maneira, fica evidente que o nosso intuito é de que
possamos vivenciar a língua não apenas dissecando-a em análises
sintáticas, semânticas e morfológicas mas apropriando-se desses
conceitos para exprimir-se.
Introdução
A língua portuguesa enquanto idioma materno é o meio através do
qual nos é possível enquanto falantes nativos, atingir o processo
comunicativo.
Muitos alunos se queixam de durante toda vida acadêmica terem em
língua portuguesa o mesmo conteúdo programático com pouquíssima
variação. E, mesmo assim sendo, no momento em que lhes é pedido
que confeccionem um texto estes se sentem perdidos. Fica claro então
que a gramática é ensinada fora do texto.
A questão é a dificuldade de sistematizar aquilo que conhecemos. O
princípio de uma gramática aplicada tem sido um dos principais pilares
das propostas renovadoras do ensino de língua, ainda que pouco se
tenha modificado na representação de língua, o que impede que tal
prática se torne efetiva.
Este trabalho associa teoria e prática tendo como população alvo os
alunos do curso técnico de enfermagem e por trabalhar com estes
enquanto sujeitos dentro de uma relação de eqüidade (professor-aluno)
não há um objeto da pesquisa. Pretendemos que os alunos quando
cientes da real necessidade de se estudar gramática possam formular
questionamentos e refletir acerca da língua de forma a problematizar o
idioma.
Assim sendo tomaremos como base alguns teóricos da educação de
forma a representar a idéia de que qualquer falante já tem a gramática
introjetada. E também discutiremos a idéia de preconceito lingüístico e
dos modismos que nem sempre se adequam a nossa realidade. Enfim,
através da elaboração de um material didático pertinente a realidade
dos alunos e coerente com o que é de fato regulamentado pela NGB
(Gramática Normativa Brasileira) dialogaremos com o nosso aluno de
forma a reconstruir teorias e rever nossa prática.
1. A relação entre professor e aluno
1.1. O efeito pigmalião
Na antiga Grécia, Pigmalião esculpe a estátua de Galatéa, e a vê
tão perfeita que termina por apaixonar-se por ela. Na década de 60,
dois pesquisadores americanos, Jacobson e Rosenthal, analisaram o
efeito pigmalião, isto é, o de profecias que os professores fazem e
acabam por se realizar, pelas condições que eles próprios criam.
E no momento de transpor o mito grego para a sala de aula o
que se verifica é que é difícil escapar de uma expectativa negativa.
Existe no imaginário social, o mito que associa o sucesso escolar os
alunos bem nutridos e bem atendidos, material e psicologicamente por
suas famílias.
Desta forma, o ensino ainda se encontra marcado pelo
preconceito e pela discriminação que cerca a maioria dos alunos de
baixa renda, e que acaba por penalizá-los de antemão, quando seus
professores os classificam como inferiores em seus modos de
raciocinar, sentir e agir. Esses preconceitos ferem profundamente a
auto-estima dos alunos.
1.2. As teorias educacionais
A relação travada entre professor e aluno vai estar diretamente
relacionada com a escolha metodológica do professor já que é através da
sua formação que ele irá revelar o seu olhar diante deste aluno. Este deve
rever sua posição de mantenedor de estruturas culturais de dominação e
subserviência. A atitude é o essencial já que marcará este lugar em que o
professor se encontra e irá mostrar de forma autêntica através de sua
prática o que ele é.
Há muitas questões teóricas envolvidas que seguem desde uma
modificação da nomenclatura professor/ aluno (relação de poder onde se
pressupõe que alguém ensina e outro alguém aprende) para facilitador da
aprendizagem/aprendiz (relação de eqüidade onde o instrutor fornece
informações funcionando também como recurso vivo para que o aprendiz
siga no caminho da descoberta).
Este trabalho está vinculado a este novo paradigma que culmina com
a descoberta das Múltiplas Inteligências. É preciso que se confie na
capacidade que cada um tem de ensinar a si mesmo utilizando suas
próprias estratégias e métodos.
A aprendizagem também sofre uma mudança paradigmática e ao
invés de se findar após um determinado tempo de estudo, acredita-se que
ela deve ser um processo que se prolonga ao longo da vida. E, hoje, a partir
da visão de Paulo Freire sobre o analfabetismo já se discute inclusive o que
é saber ler e se chega a conclusões alarmantes de que é necessário que
mais caminhos educacionais sejam iluminados pela tocha do professor para
que as pessoas possam lidar com a diversidade e com a rapidez com que
muitas tecnologias tem chegado à obsolescência. Não iremos erradicar o
analfabetismo apenas garantindo o acesso e o contato com as letras há que
se ir além, buscar fornecer ao aprendiz instrumentos e recursos coerentes
para que este possa utiliza-los nas mais diferentes formas.
E a atualidade nos propõe ainda o analfabetismo tecnológico que
seria a pessoa não saber lidar com as novas tecnologias e estar sujeito a
outra forma de exclusão. Dessa maneira, é essencial redimensionar e
dialogar com este mundo tecnológico em que os nossos alunos já nascem
de alguma forma inseridos. E como fruto de uma geração tecnológica
dominam linguagens que muitas vezes nos são desconhecidas enquanto
professor e dialogar passa a ser novamente a melhor maneira de lidar com
a organização deste conhecimento.
A inteligência passa a ser vista como um processo onde o
conhecimento nasce da dúvida e se alimenta da incerteza. E por isso, não
há uma verdade absoluta nem tão pouco a verdade é o somatório das
verdades individuais de forma consensual o que existe são verdades
parciais e relativas. Isto nos leva a crer que o mais importante é a estratégia
para se chegar a algum resultado, é o argumento.
Rogers vai falar da aprendizagem auto-iniciada que envolve a
pessoa inteira do aprendiz sendo a mais duradoura e penetrante. É vital
aprender a aprender isto é aprender fazendo. Os estudantes tornam-se
pesquisadores auto-dirigidos, independentes, criativos, autoconfiantes com
autocrítica e capazes de fazerem uma auto-avaliação justa e competente.
2. A língua portuguesa
2.1. Língua e fala
A língua portuguesa é o quinto idioma mais falado no mundo e
valorizarmos este fato é redimensionarmos a relação de poder que permeia
um idioma e o torna mais forte e singular. A quantidade de alunos
estrangeiros que têm se interessado pelo idioma também cresce já que
seríamos um grande mercado consumidor. Além disso, o Brasil, em
particular, surge como fonte de investimento externo por ter aberto as
portas para um processo de privatização que quase nos escraviza.
Quanto mais conscientes deste fator perverso, mais fica evidente a
necessidade de se conhecer o idioma que falamos e superarmos quaisquer
dificuldades para sairmos na frente e não sermos apenas uma mão de obra
barata. Como diria Harvey : “aquele que tem a língua mais afiada tem o
poder.”
A língua é um patrimônio cultural dos que a falam, apresentando-se
como um código de comunicação cujo conjunto de sinais formado por
palavras. E a fala seria a utilização que cada membro da sociedade faz da
língua. As diferenças que marginaliza algumas pessoas e elege outras
como pertencente a um outro grupo social acontece em nível de fala.
É preciso que se alerte o nosso aluno não para que ele perca a fala
que caracteriza o meio social ao qual pertence, mas para que saiba qual o
momento mais adequado de utilizar a sua fala e a fala do outro. O
importante para o meu aluno é a adequação é saber com que roupa é mais
adequado ir para o baile e depois do baile, sem os enfeites, ele continua
sendo ele mesmo. Isso seria a carnavalização proposta por Walter
Benjamin que nos propõe uma apropriação do discurso do dominante para
que se reverta a situação de abuso de poder na qual ainda estamos
inseridos.
2.2. As diferentes concepções da linguagem
A linguagem humana tem sido concebida no curso da história de maneiras
bastante diversas e que foram sintetizadas por Ingedore Villaça Koch em três
momentos principais:
a) como representação (espelho) do mundo e do pensamento;
b) como instrumento (ferramenta) de comunicação;
c) como forma(lugar de ação ou interação.
A mais antiga dessas concepções é, sem dúvida, a primeira, embora
continue tendo seus defensores na atualidade. Segundo ela, o homem representa
para si o mundo através da linguagem e, assim sendo, a função é representar
(refletir) seu pensamento e seu conhecimento de mundo.
A segunda concepção considera a língua como um código através do qual
um emissor comunica a um receptor determinadas mensagens. A principal função
da linguagem é, neste caso, a transmissão de informações.
A terceira concepção, finalmente é aquela que encara a linguagem como
atividade, como forma de ação, ação interindividual finalisticamente orientada;
como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática
dos mais diversos tipos de atos que vão exigir dos semelhantes reações e/ou
comportamentos, levando ao estabelecimento de vínculos e compromissos
anteriormente inexistentes.
2.3. A língua enquanto instrumento de dominação e poder
A cidadania não se constitui num vínculo natural, mas antes novo
status propiciado aos indivíduos quando a coletividade, reconhecendo seu
poder instituinte, toma consciência de que lhe cabe deliberar sobre as leis
que irão reger os destinos comuns.
Na modernidade, a cidadania é uma relação entre o Estado
representado por aqueles que o governam, e o cidadão, que se torna
habitante de um território: essa relação define os direitos e os deveres que
devem ser reciprocamente respeitados.
Os empecilhos à cidadania estavam no estado de ignorância e
miserabilidade em que, em razão do próprio modelo de formação
econômica, se encontrava mergulhado o povo. A prática da cidadania,
reduzida para alguns mera integração econômica, sempre correspondeu a
direitos jurídicos e sociais bem restritos: a contrapartida para o indivíduo
que, como afirmava Platão, “sabe reconhecer seu lugar”e colabora com seu
trabalho para a edificação do progresso é o direito de eleger seus
representantes, e de gozar futuramente de certos benefícios privados que
só o progresso pode propiciar.
Não há, pois, uma, mas várias “cidadanias”, ou vários graus de
pertencimento, que correspondem a diferentes possibilidades de acesso ao
poder e ao “patrimônio comum” construído pelo desenvolvimento. Ser
cidadão é, diria Hannah Arendt, abdicar da força em nome do diálogo.
A linguagem verbal e a língua não são simplesmente instrumentos
que servem à comunicação humana, mas instrumentos de poder que, ao
mesmo tempo em que transmitem informação, evidenciam a posição do
sujeito na estrutura social, isso é, o valor desigual dos discursos nessa
estrutura.
Existem dois elementos que dizem respeito à codificação: o primeiro
que é a constituição de uma norma codificada e o segundo que é o reforço
da norma o qual é controlado pelo sistema educacional e por meio de
agentes como a mídia, as instituições religiosas e o sistema cultural. O
professor de língua portuguesa atua nos dois segmentos e por isso se torna
tão poderoso no imaginário social dos alunos que o temem por ser ele
capaz de diferençar certo e errado ou de até mesmo não censurar o “erro”
por esse ser visto como um elemento caracterizador de tal escritor ou de tal
personagem.
E cada vez mais oprimido dentro de seu próprio idioma o aluno se
questiona se consegue, se seria capaz de e tímido, envergonhado daquilo
que lhe convenceram de que ele não sabe, ele se cala. E do seu silêncio, a
exclusão se torna um processo que na sociedade contemporânea pode ser
visto como uma realidade incontornável.
3. Material Didático
3.1. A elaboração do Material
A elaboração do material didático para o ensino de língua portuguesa
dentro do curso de enfermagem toma como base o ensino através de uma
perspectiva crítica produtiva do ensino comunicativo como seu elemento
catalisador para caracterizar as múltiplas variantes presente neste tipo de
ensino.
A comunicação é concebida aqui como forma de interação social
propositada onde se dão demonstrações de apresentação pessoal
combinadas ou não com casos de (re)construção de conhecimento e troca
de informações. Nesse sentido, comunicar-se é atividade que apresenta
alto grau de imprevisibilidade e criatividade (nos sentidos gerativo e
imaginativo) tanto na forma quanto nos sentidos construídos no discurso.
“O ponto central do ensino não consiste na aprendizagem de muitas
coisas, mas no autoconhecimento e no auto domínio que conduzem à
pelana relaização do ser.”- GUSDORF. Insight: Psicoterapia – agosto de
1996 – pág. 19 educação.
O material confeccionado é rico em textos para que através deles o
aluno possa construir um sentido que o leve a iniciar um processo de
argumentação. Um dos usos mais freqüentes e poderosos da linguagem:
dizer uma coisa para significar outra: a função de ocultar. Então, o
dicionário surge para o leitor experiente e maduro como último recurso a ser
utilizado já que dentro do próprio texto há pistas sobre o significado daquela
palavra.
Desta forma, em anexo, segue uma apostila repleta de exercícios
estruturalistas e reflexivos que irão organizar o pensamento do aluno para
que ele perceba a variedade de questões que envolvem o processo
comunicativo e comece a perceber como estas influenciam a sua vida e a
vida do paciente.
3.2. O perfil dos alunos e da escola
Os alunos do curso de enfermagem do Colégio Jorge Leite tem um
perfil que os singulariza em alguns aspectos : a maioria mora longe da escola e
leva um tempo muito grande para se deslocar até a mesma; buscam o curso
por acreditarem que é uma garantia de um novo emprego; mesmo quando
jovens a maioria já tem filhos ou dependentes. Como a maior parte dos
brasileiros pertencem a uma classe social que a renda salarial familiar fica
entre 2 a 3 salários mínimos.
“...quando elaboramos uma situação-problema, é
fundamental saber para quem ela está sendo proposta, saber quem é a
pessoa, o que pensamos dela, o que queremos para ela, o que estamos
preparando-lhe, o que lhe desejamos, o que queremos dizer-lhe.”
PERRENOUD, Phiippe e THURLER, Mônica Gather. As competências para
ensinar no século XXI.
A escola se apresenta como um grande negócio todavia o
envolvimento político impede o progresso da mesma que a todo momento tem
problema de pagamento de professor e funcionário bem como desvio de verba.
Essa realidade perversa tem afastado excelentes profissionais da casa e
desfavorecido assim a clientela que sofre com as mudanças de pessoal que
ocorrem a todo instante.
A clientela , infelizmente, precisa ainda aprender a argumentar e não
a utilizar a força para resolver seus problemas. Isso faz com que qualquer
discussão por nota ou por material não recebido gere brigas corporais e
desrespeitosas entre o corpo administrativo e os alunos. E estes alunos não se
cansam de repetir que o que vale a pena são os professores e o material que
utilizamos. Embora , ouvir estes elogios nos acalente ficamos entre a “cruz”e a
“caldeirinha” e indefesos contra os ataques de uma coordenação
descoordenada. Enfim, acredito ser bastante complicado trabalhar em
condições precárias e sem material de apoio para aulas que precisam por força
da profissão de um suporte prático. De qualquer maneira, isso nos leva a
refletir que algumas escolas do interior do país, menos visíveis para não,
devam estar em pior condição e isso nos apavora.
4. Avaliação
A avaliação continuada é um processo que reflete as ações
individuais e sociais podendo, de fato, acompanhar o processo
evolutivo de formação do aprendiz em todos os seus momentos. E por
ser assim garante a evolução do ser em sua singularidade e o faz
responsável pelo seu próprio processo de autonomia e busca do
conhecimento.
Acreditando neste tipo de avaliação é que propomos que a avaliação
se faça através de mini-testes, pesquisas, jogos, desafios, a simulação
de situação-problema e auto-avaliação para que de modo cooperativo
se verifique os objetivos a serem atingidos, ou se é necessário
organizar atividades pedagógicas para que isso ocorra.
O professor deve fazer o seu papel de facilitador da aprendizagem
iluminando o caminho do conhecimento para que o aluno construa a
sua teia de inter-relações de conhecimentos e aprofunde o seu
aprendizado; se possível até reconstruindo um novo saber.
Conclusão
A gramática não é algo que se possa abandonar no ensino de qualquer língua (materna ou estrangeira) sendo o estudo e o trabalho com a variedade dos recursos lingüísticos colocados à disposição do produtor e receptor de textos para a construção do sentido. O professor deve explorar a riqueza e a variedade dos recursos lingüísticos em atividades de ensino gramatical que se relacionem diretamente com o uso desses mesmos recursos para a produção e compreensão de textos em situações de interação comunicativa. Na produção de textos, o aluno deve exercitar a capacidade de selecionar entre os recursos da língua os mais adequados à consecução de um propósito comunicativo, com tudo o que isto possa implicar tanto na produção quanto na recepção de textos. A gradação é uma necessidade de cada turma, série ou grupo. A interação comunicativa é a integração entre os diferentes aspectos do ensino/aprendizagem de língua materna: ensino de gramática, leitura (compreensão de textos), redação (produção de textos orais e escritos) e vocabulário, ao contrário da prática não textual em que eles são quase estanque, sem qualquer inter-relação. Enfim, esperamos que o nosso trabalho tenha sido bastante pragmático no que concerne a elaboração de um material didático que atenda às necessidades reais do nosso grupo escolar.E os coloque diante de um processo de aprendizagem que os identifique e os motive para realizarem cada vez com mais eficiência e eloqüência a profissão que resolveram abraçar. Ainda temos um sonho de que cada educador veja seu aluno falar das mais diversificadas formas e com um desembaraço que não diga de onde ele veio mas o impulsione para ir até onde seu sonho desejar.
Referências Bibliográficas BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Trad. Arlene Caetano.SP: Paz e Terra, 1988 (10a.ed) BRANDÃO, Zaia (org.) Democratização do ensino: meta ou mito? RJ: Francisco Alves Editora, 1979. MILHOLLAN, Frank e FORISKA, Bill E. Maneiras contrastantes de encarar a educação: Skinner X Rogers. SP: Summus Editorial, 5a. Ed. MIRANDA, Regina Lucia Faria de; SANTOS, Pensilvânia Diniz Guerra e LACERDA, Nilma Gonçalves. A língua portuguesa no coração de uma nova escola. SP: ed. ática, 1995. NASCIMENTO, Dalma. Por que eu também disse não!? Brasília: Correio Braziliense,m 19/07/1997. SNYDERS, Georges. Escola, classe e luta de classes. Trad. Maria Helena Albarran. Lisboa: Moraes editores, 1977. SOARES, Magda. Linguagem e escola:uma perspectiva social. SP: ed Ática, 1996. VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira.
Anexos
Palavras de Esclarecimento
Colocamos em anexo a aula de comunicação ministrada no curso bem como o sumário que elucida o conteúdo programático que foi estabelecido para o curso de enfermagem do Colégio Jorge Leite onde fizemos o estágio curricular obrigatório. Evitamos nos estender muito apresentando todos os assuntos por entender que o anexo deve elucidar a monografia e não justifica-la. Cabe lembrar que este material apresentou grande aceitabilidade por parte dos alunos que passaram a entender os mecanismos em que a língua funciona e se estrutura sem estabelecerem o “gramatiquismo” que os apavora e tolhe. Enfim, deixemos que o leitor tome contato com este material que de forma alguma pretende ser mais um manual ou esgotar novas possibilidades, mas que se ergue como mais um instrumento de luta contra o poder que nos impede de ser dentro de nosso próprio idioma.
Centro Cultural Beneficente Ensinando a Viver
C.G.C. 97335384/0001-35 / Desenvolvimento Social Autorização da Secretaria Estadual de Educação
Processo n. 03/101240/01
Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa Módulo I
Professora Julia Nelly dos Santos Pereira
Rua Nerval de Gouveia, 13 – Quintino/ Rio de Janeiro – RJ CEP.21311-110 – Tel 38801523/39796452
Apresentação
“A língua é o que é, e não o que poderia ou “deveria” ser: ela é como a fizeram os que falaram e falam.” Celso Pedro Luft As palavras de Celso Pedro Luft sintetizam nosso modo de entender a Gramática antes de ser um guia arcaico do comportamento lingüístico, ela deve ser um espelho atualizado desse comportamento. Assim, como referência para estabelecer o que é correto, utilizamos a língua efetivamente cultivada no Brasil de hoje, em suas diversas manifestações textos literários, letras de músicas, artigos jornalísticos, anúncios publicitários, histórias em quadrinhos... Daí resulta uma exposição que trilha dois caminhos paralelos porém complementares: teoria conceitualmente rigorosa, mas objetiva, textos e ilustrações que comprovam a atualidade da norma ensinada. Além disso, a exata assimilação dos tópicos gramaticais só se dá pela contextualização, pela relação que o professor em sala de aula estabelece com o aluno e o material. E por isso nos cabe refletir acerca dos versinhos atribuídos a Bárbara Heliodora :
“Meninos eu vou ditar as regras do bom viver não basta somente ler,
é preciso meditar que a lição não faz saber:
quem faz sábios é o pensar.”
A autora
Sumário
Módulo I Unidade I – A comunicação
1. A comunicação humana versus a comunicação animal 2. A comunicação verbal através das funções da linguagem de Roman Jakobson 3. Texto : Comunicação de Luís Fernando Veríssimo 4. Estudo do Texto 5. Exercícios
Unidade II – Texto e Contexto
1. Significado e significante 2. Denotação e conotação 3. Texto: A mulher do Silva de Luís Fernando Veríssimo 4. Texto: Através de Paulo Leminski 5. Estudo dos textos 6. Texto: A lagartixa de Álvares de Azevedo 7. Estudo do text 8. Texto: A linha e o linho de Gilberto Gil 9. Estudo do texto
Unidade III – Interjeição
1. Árvore da classe gramatical 2. Interjeição : sentido gramatical e semântico 3. Exercícios gramaticais 4. Texto: Anúncios Curiosos 5. Interpretação 6. Texto: Carteira de motorista 7. Interpretação 8. Texto: Fã de boxe 9. Interpretação
Unidade IV – Descrição
Unidade I – A comunicação A comunicação humana é uma relação social que se estabelece entre duas ou mais pessoas que desejam trocar informações, idéias ou compartilhar sentimentos e conhecimentos.
A comunicação humana versus a comunicação animal Comunicação humana x Comunicação animal Posturas, gestos e gritos com valor significativo concreto.
Signos mímicos, orais e vocais com amplo valor significativo.
Capacidade de gerar infinitas mensagens, combinando um número reduzido de letras ou fonemas.
Não se deixa analisar em seus componentes.
Relação interpessoal Resposta somática, estímulo-resposta.
Explora o mundo, procura conhece- lo, nomeá- lo e transmitir suas experiências.
Seu conteúdo é sempre o mesmo reação somática ou espacial.
A comunicação verbal através das funções da linguagem de Roman Jakobson
Mensagem Poética
Emissor Canal Receptor Emotiva fática Apelativa
Código Metalingüística
Ele
Referencial
Texto : Comunicação Luis Fernando Veríssimo
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um...Um... Como é mesmo o nome?
- Posso ajudá- lo, cavalheiro? - Pode. Eu quero um daqueles, daqueles... - Pois não? - Um... Como é mesmo o nome? - Sim? - Pomba! Um... Um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por
completo. É uma coisa simples, conhecidíssima. - Sim, senhor. - Olha, é pontuda, certo? - O quê, cavalheiro? - Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim,
faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?
- Infelizmente, cavalheiro... - Ora, você sabe do que eu estou falando. - Estou me esforçando, mas... - Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo? - Se o senhor diz, cavalheiro. - Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta.
Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que quero.
- Sim, senhor. Pontudo numa ponta. - Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem? - Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descreve- la outra
vez. Quem sabe o senhor desenha para nós? - Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou
uma negação em desenho. - Sinto muito. - Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida.
Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho alguns problemas com os números mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.
- Eu não estou pensando nada, cavalheiro. - Chame o gerente. - Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo.
Essa coisa que o senhor quer é feita do quê? - É de, sei lá. De metal.
- Muito bem. De metal. Ela se move? - Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim,
assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim. - Tem mais de uma peça? Já vem montado? - É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço. - Francamente... - Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem
vindo, outra volta e clique, encaixa. - Ah, tem clique. É elétrico. - Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar. - Já sei! - Ótimo! - O senhor quer uma antena externa de televisão. - Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo?... - Tentemos por outro lado. Para o que serve? - Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você
enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.
- Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e...
- Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança! - Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!
É que sou meio expansivo. Me vê aí um...Um... Como é mesmo o nome?
Estudo do Texto
1. Quais são as personagens que aparecem no texto? 2. O assunto do texto é um problema de comunicação.Que problema é esse? 3. O problema de comunicação focalizado no texto está centrado no vendedor, no
comprador ou no código utilizado por ambos? 4. O que leva o comprador a imaginar que o comprador quisesse um objeto muito
grande? 5. Imagine que esse fato aconteça num hospital e que o doente não saiba dizer o que
sente. Que estratégias você utilizaria para descobrir sua doença?
Exercícios
A mensagem pode ser transmitida através de diversos códigos. Determine o código, o emissor, o receptor e a mensagem.
Código : ________________________ Emissor: ________________________ Receptor: _______________________ Mensagem: ______________________________________________________ ________________________________________________________________ Código : ________________________ Emissor: ________________________ Receptor: _______________________ Mensagem: ______________________________________________________ ________________________________________________________________ Código : ________________________ Emissor: ________________________ Receptor: _______________________ Mensagem: ______________________________________________________ ________________________________________________________________
Código : ________________________ Emissor: ________________________ Receptor: _______________________ Mensagem: ______________________________________________________ ________________________________________________________________ Código : ________________________ Emissor: ________________________ Receptor: _______________________ Mensagem: ______________________________________________________ ________________________________________________________________ Código : ________________________ Emissor: ________________________ Receptor: _______________________ Mensagem: ______________________________________________________ ________________________________________________________________
Observe atentamente a seqüência dos desenhos abaixo: A) No último desenho estão presentes todos os elementos do processo de
comunicação. Identifique-os. B) Na sua opinião, por que o músico sentiu necessidade de desenhar orelhas na
parede ? Em nossa sociedade as cores têm uma representação de estados e emoções, tente através deles dar a cor que lhe é conferido como no exemplo: PAZ = BRANCO a) calma b) tristeza c) alegria d) guerra e) solidão f) esperança g) medo
Pense em um hospital e nas cores das roupas do profissional. a) Qual é a cor da roupa ? b) Você conhece pessoas que tenham ficado muito tempo hospitalizadas e têm
medo de pessoas que usam determinada cor de roupa ? c) A fobia que estas pessoas apresentam pode ter origem de um trauma que
nem sempre pode ter origem no hospital. Você já leu algo acerca disso? d) Em grupo, discuta sobre estas questões e construam uma redação grupal que
fale acerca destas questões propostas.