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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHOCENTRO DE CINCIAS HUMANAS

    CURSO DE MSICA LICENCIATURA

    TAYANE DA CRUZ TRAJANO

    O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS:

    O processo de ensino-aprendizagem da Escola de Msica do Bom Menino

    So Lus2012

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    TAYANE DA CRUZ TRAJANO

    O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS:

    O processo de ensino-aprendizagem da Escola de Msica do Bom Menino

    Monografia apresentada ao Cursode Msica Licenciatura daUniversidade Federal do Maranhocomo requisito para obteno dograu de licenciada.

    Orientadora: Prof. Dr. VernicaPascucci

    So Lus2012

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    Trajano, Tayane da Cruz

    O Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: o estudo sobre o processode ensino-aprendizagem da escola de msica do Bom Menino/ Tayane daCruz Trajano.

    So Lus, 2012.

    64 f.

    Impresso por computador (Fotocpia).Orientadora: Vernica PascucciMonografia (Graduao)Universidade Federal do Maranho, Curso deMsica Licenciatura, 2012.

    1.MsicaEnsino-aprendizagem 2. Banda de msica - Bom Menino I.Titulo. CDU 78 : 372.8

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    TAYANE DA CRUZ TRAJANO

    O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS:

    O processo de ensino-aprendizagem da Escola de Msica do Bom Menino

    Monografia apresentada ao Cursode Licenciatura em Msica da

    Universidade Federal do Maranhocomo requisito para obteno dograu de licenciada.

    Orientadora: Prof. Dr. VernicaPascucci

    Aprovada em 09/01/2012

    BANCA EXAMINADORA

    __________________________________________________________________

    Prof. Dr. Vernica Pascucci (Orientadora)Universidade Federal do Maranho

    Departamento de Artes_________________________________________________________________

    Prof. Me. Gustavo BenettiUniversidade Federal do Maranho

    Departamento de Artes

    ___________________________________________________________________

    Prof. Me. Guilherme vila

    Universidade Federal do MaranhoDepartamento de Artes

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    Ao meu pai, Tenrio Trajano, aminha me Ivani lde Trajano e aomeu professor Tomaz de AquinoLeite (in memrian), que sempre

    tiveram a msica como inspiraopara a vida o que me influenciougrandemente.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus pela fora, sade e determinao que sempre me concede para

    alcanar meus objetivos.

    A minha famlia, que sempre me apoiou sem olhar as circunstncias, em especial a

    minhas irms Tenilde Trajano e Jssica Valquria, pelas alegrias.

    Aos meus amigos e companheiros de todas s horas que no mediram esforos

    para que este trabalho fosse concludo, em especial ao meu namorado e amigo

    Johnata Almeida.

    A professora Vernica Pascucci pela orientao, pacincia e amizade.

    A Escola de Msica do Bom Menino, pelo aconchego, em especial aos funcionrios

    pela dedicao.

    A Diretora da Escola, Conceio de Maria Martins Pereira, pela disponibilidade.

    Aos alunos e professores da Escola, que me receberam muito bem e forneceram

    preciosas informaes para esta pesquisa.

    Aos meus queridos alunos, que um dia tornaram minha vida significante.

    A todos aqueles que procuraram somar comigo de alguma forma.

    A Universidade Federal do Maranho, por todo o tempo de aprendizagem e

    conhecimento que adquiri.

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    Num sistema social ideal, todos tma obrigao de partilhar a sua arteaprend-la livremente; todo msicoverdadeiro, artista e compositor,dedicar uma hora diria ao ensinoda msica em benefcio dacomunidade s ento o problemaestar solucionado.

    mile Jacques Dalcroze

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    RESUMO

    O presente trabalho faz uma abordagem sobre o Ensino Coletivo de InstrumentosMusicais enquanto ferramenta metodolgica, possibilitando desta forma o acesso msica e promovendo iniciativas que democratizam o ensino musical. Designa-se deigual modo apresentar as bandas de msica como importantes interventoras noprocesso de aprendizagem e profissionalizao dos msicos assim como osaspectos que viabilizam esta interveno e influenciam os envolvidos no processo.Busca-se mostrar o processo do ensino e aprendizagem na Escola de Msica doBom Menino objetivando uma melhor compreenso do Ensino Coletivo deInstrumentos Musicais bem como os resultados alcanados pela aplicao destametodologia.

    Palavras-chave; Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais; Escola de Msica doBom Menino; Ensino; Aprendizagem.

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    ABSTRACT

    This work presents an approach on the Teaching of Musical Instruments Collectiveas a methodological tool, thus enabling access to music and promoting initiatives todemocratize the teaching of music.Designed equally to introduce bands of music liketo interfere important in the learning process and professionalization of musicians aswell as the aspects this intervention to influence in the process. The aim is to showthe process of teaching and learning in the Escola de Msica do Bom Menino aiminga better understanding of the Education Collective Musical Instruments and theresults achieved by the application of this methodology.

    Keywords; Teaching Collective Musical Instruments; Escola de Msica do BomMenino; Teaching; Learning.

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    LISTA DE ILUSTRAO

    Pg

    Figura 1 Ptio interno do prdio do Convento das Mercs 33

    Figura 2 Fachada da Escola de Msica do Bom Menino 38

    Figura 3 Perodo de teoria e prtica 41

    Figura 4 Apresentao da Banda de Msica do Bom Menino 43

    Figura 5 Desfile em comemorao Semana da Ptria 45

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    SUMRIO

    Pg.

    1 INTRODUO.............................................................................................. 10

    2 O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS .......................... 12

    2.1 O Ensino coletivo: um pouco de histria................................................. 17

    2.2 A Chegada do ensino coletivo ao Brasil .................................................. 20

    2.3 O Ensino coletivo no Estado do Maranho.............................................. 23

    2.4 O Ensino coletivo de instrumentos musicais como agente de

    transformao social.................................................................................. 24

    3 O ENSINO COLETIVO NA BANDA DE MSICA........................................ 283.1 A Importncia do processo de ensino e aprendizagem musical na

    Banda de Msica......................................................................................... 29

    3.2 O Mtodo Da Capo...................................................................................... 31

    4 BREVE HIST RICO DA ESCOLA DE M SICA DO BOM MENINO.......... 34

    4.1 Convento das Mercs................................................................................. 34

    4.2 Escola de Msica do Bom Menino............................................................ 36

    5 O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS APLICADOPELA ESCOLA DE MSICA DO BOM MENINO........................................ 39

    5.1 A Trajetria do aluno na instituio.......................................................... 39

    5.2 Teste de aptido ......................................................................................... 39

    5.3 Teoria bsica (1 Perodo).......................................................................... 40

    5.4 Teoria e prtica (2 Perodo) - o primeiro contato com o

    instrumento.................................................................................................. 41

    5.5 Prtica e apresentao ao pblico (3 perodo) - incorporao naBanda de Msica ........................................................................................ 43

    5.6 A Importncia da Banda de Msica do Bom Menino: Um

    relato............................................................................................................ 45

    CONCLUSO ------------------------------------------------------------------------------ 48

    REFERNCIAS ---------------------------------------------------------------------------- 50

    ANEXOS ------------------------------------------------------------------------------------- 53

    APNDICE----------------------------------------------------------------------------------- 63

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    1 INTRODUO

    Aprender coletivamente, em especial para as crianas, torna qualquer

    atividade a ser ensinada bem mais interessante e divertida, pois permite a interao

    entre elas. A trajetria se inicia quando os sons emitidos pelos alunos j inseridos na

    banda de msica encantam os ouvidos dos mais novos alunos. Quando se sopra

    engraado um instrumento musical motivo de muitos risos, mas quando se tem

    uma segunda tentativa motivo de engrandecimento entre os colegas, e um novo

    obstculo vencido. assim que cada aluno se sente ao comear sua trajetria na

    Escola de Msica do Bom Menino.Observando ao longo do tempo a eficincia do ensino coletivo de

    instrumentos musicais, bem como os caminhos percorridos no aprendizado da

    autora e ao longo da vida profissional como musicista a que pertence, decidiu que

    seria necessrio iniciar uma pesquisa sobre este tema no Estado do Maranho.

    Como pesquisadora e produto da prtica coletiva no decorrer desses anos,

    vivenciaram-se situaes positivas em sala de aula surpreendentes, as quais se

    tornaram ao longo da carreira acadmica, verdadeiras descobertas profissionais.O interesse neste tema surge da necessidade de mostrar os resultados

    do processo de ensino-aprendizagem na Escola de Msica do Bom Menino, visando

    uma melhor compreenso do Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais, bem como

    sua eficincia metodolgica.

    Ressalta-se que o ensino coletivo possibilita ao aprendiz ganho de tempo

    e confiabilidade, como tambm, aprender a tocar com o grupo e para o grupo desde

    o incio do seu aprendizado. A motivao, outro elemento importante, nasce dainterao social gerada pelo grupo, o que torna o processo significativo para todos

    os envolvidos (ILARI, 2011 p. 202). Esta pesquisa assume o papel de esclarecer

    alguns elementos metodolgicos que levam o ensino coletivo a bons resultados.

    Neste contexto o foco do tema proposto est no processo de ensino e

    aprendizagem da Escola de Msica do Bom Menino que traz em sua metodologia o

    ensino coletivo de instrumentos musicais, visando finalmente, a insero do aluno-

    msico na Banda de Msica da Escola.

    Para entender este processo buscou-se esclarecer o que uma bandae

    quais so as suas peculiaridades para em seguida, entender o processo de

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    aprendizagem na Banda de Msica, partindo do pressuposto de que a educao

    desses grupos vai alm das salas de aula e dos ensaios, possibilitando influncias

    positivas nos indivduos no mbito musical, familiar, social e cultural (VECCHIA,

    2008, p. 14). Constatou-se a necessidade de buscar fundamentao em alguns

    trabalhos bastante significativos atravs de experincias de sucesso, utilizando o

    ensino coletivo de instrumentos musicais. Trabalhos como: Cruvinel (2005), Barbosa

    (2006), Moreira (2009) e, Vecchia (2008) dentre outros livros e peridicos.

    Diante disto, no captulo dois apresentaremos uma viso geral e

    sistemtica sobre o ensino coletivo de instrumentos musicais, o que significa ensinar

    coletivamente um instrumento, suas influncias bem como sua ligao direta com a

    educao. Abordaremos um breve histrico sobre o ensino coletivo de instrumentosmusicais, a influncia dos fatos histricos e paralelos com a histria da msica

    brasileira no perodo em que a educao musical comeava a se solidificar no pas,

    aspectos sociais e metodolgicos que nos levam a acreditar que o ensino coletivo de

    instrumentos musicais ao logo dos tempos, tornou-se eficaz no seu emprego,

    objetivando dessa forma atingir o maior nmero possvel de interessados ao iniciar

    sua aprendizagem.

    No captulo trs abordaremos o ensino coletivo na banda de msica, bemcomo suas caractersticas no processo de ensino e aprendizagem musical.

    Posteriormente no captulo quatro faremos um histrico do Convento das Mercs e

    logo em seguida da Escola de Msica do Bom Menino at os dias de hoje. E, por

    fim, no captulo cinco, trabalharemos detalhadamente o ensino coletivo instrumental

    dentro da Escola de Msica do Bom Menino, seguido da concluso do trabalho.

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    2 O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS

    Existem vrios programas e projetos que trabalham com ensino coletivo

    de instrumentos musicais, seja tanto para a formao de pequenas bandas, quanto

    para grupos de msica de cmara, orquestras, dentre outros.

    A socializao que a msica exerce dentro do contexto coletivo, induz a

    acreditar que as aulas em grupo venham transformar uma simples sala de aula em

    um ambiente agradvel para o desenvolvimento dos alunos, na medida em que

    possibilitam um intercmbio sociocultural. Desta forma, as aulas assim programadas,

    se tornam prazerosas e cheias de aspectos enriquecedores para todos (ILARI apudMACMILLAN, 2011, p. 202).

    Sabe-se tambm, que grande parte dos msicos profissionais, em algum

    momento de sua trajetria como alunos de msica, j participaram de bandas,

    recebendo desta forma influncias na sua formao musical individual. Isto

    demonstra a importncia do fazer musical em conjunto para com a formao do

    msico.

    Tocar em grupo como processo de ensino e aprendizagem sempresuscitou questionamentos no que diz respeito a sua eficincia, em especial aprender

    a tocar um instrumento coletivamente. Vrios professores dividem suas opinies

    quando a questo a aplicao da metodologia mais eficaz para dar aulas de

    msica. Sendo assim faz-se necessrio uma comparao entre o ensino individual e

    o ensino coletivo para melhor compreenso.

    Diferentemente da metodologia1 de ensino conservatorial2, no ensino

    coletivo instrumental d-se importncia interao social dos indivduosparticipantes, resultando em uma troca direta de conhecimentos entre professores e

    alunos e alunos entre si. Outros aspectos devem ser considerados quando se est

    em grupo como, por exemplo, cooperao, motivao, elementos essenciais dentro

    1O termo metodologia ser empregado nesta pesquisa como sendo conjunto de mtodos, regras e

    postulados utilizados em determinadas disciplinas e sua aplicao (Dicionrio Aurlio, 2001, p.460).

    2Mtodo de ensino em msica que compreende a cultura musical erudita europia do sculo XVIII e

    meados do XIX, quando os sistemas musicais mtrico e tonal alcanaram o apogeu. Esse modelo dnfase, sobretudo performance,distinguindo-a do ensino terico, mantendo, assim a velha divisoentre prtica e teoria na formao do msico, datada da Idade Mdia(VIEIRA, 2004).

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    do contexto, os quais juntos assomam para o ambiente ldico, que resultado da

    interao entre eles.

    O ensino de conservatrio ou individual utilizado ainda hoje como

    metodologia de ensino de instrumentos. Essa metodologia valoriza o que o

    instrumentista tem de melhor a dar nas aulas, sobretudo, o dom para se estudar

    msica, bem como, toda desenvoltura tcnica. Essa habilidade tcnica pr-

    requisito que alguns profissionais da rea da msica julgam essencial para quem

    deseja ingressar nos estudos musicais. O teste seletivo e a ideia de ensinar apenas

    a alunos talentososd lugar a uma classificao que tem outros parmetros, tais

    como interesses e horrios comuns, idade, repertrio (TOURINHO, 2008, p. 2).

    No entanto, cabe a pergunta: baseado em quais preceitos podemosafirmar que um indivduo pode ou no estudar msica? Seria realmente necessria a

    utilizao de conceitos clssicos sobre possuir dom ou talento musical? Acredita-

    se que ao levar em considerao que ter dom possuir aptides natas sendo essas

    o passaporte para ingresso a um conservatrio de msica, bloquearia

    automaticamente muitas pessoas dispostas a estudar msica. Ilari (2011) cita como

    referncia aspectos do mtodo Suzuki3:

    A essncia da Educao do Talento a formao integral do ser humano,seguindo uma viso de certo modo distinta daquela que ainda predomina naeducao musical instrumental no ocidente, isto , uma viso de ensinobaseada no modelo conservatorial, orientada para formao deinstrumentistas virtuosos, como no perodo romntico da histria damsica, e ainda fortemente calcada na idia do talento inato. (ILARI, 2011,P. 188) (grifo nosso)

    Educao do Talento um termo usado para designar a propostaeducacional de Suzuki. Diante disto, a citao acima nos remete a ideia de que

    possuir um dom ou talento natural tem a ver coma viso tradicional da valorizao

    tecnicista, isto , a virtuose 4apenas para os escolhidos, ideia que remete s aulas

    3Mtodo criado por Shinichi Suzuki, professor de violino e educador musical japons. Baseado nacompreenso do processo de aprendizagem nas crianas pequenas. Acreditava que qualquer crianaera capaz de desenvolver um elevado padro de capacidade adaptando-se a estmulos externos(Dicionrio Grove de Msica, 1994, p.919).

    4Msico de habilidade tcnica excepcional. A aplicao mais antiga dessa palavra msica podiadesignar um terico o compositor muito hbil, assim como um intrprete (Dicionrio Grove de Msica,1994, p.1002).

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    individuais da Idade Mdia, desconsiderando o sentimento musical, a sensibilidade e

    a potencialidade daqueles que querem aprender msica.

    Em contrapartida, vemos no ensino coletivo uma oportunidade de

    aprendizado individual eficiente, no qual se destaca seu aspecto social na medida

    em que, possibilita o acesso a esse tipo de ensino a todo e qualquer cidado

    interessado na arte musical.

    H inmeros motivos para destacarmos que o ensino coletivo tem grande

    relevncia educacional. Vale mencionar quando Barbosa (1996, p.41) se refere

    importncia da metodologia:

    O ensino coletivo gera certo entusiasmo no aluno por faz-lo sentir-se partede um grupo, facilita o aprendizado dos alunos menos talentosos, causauma competio saudvel entre os alunos em busca de sua posiomusical no grupo, desenvolve as habilidades de se tocar em conjunto desdeo incio do aprendizado, e proporciona um contato exemplar com asdiferentes texturas e formas musicais.

    Observando tal pensamento, entendemos que um ambiente propcio a um

    bom aprendizado musical envolve muitos elementos pertencentes ao mtodo de

    ensino coletivo, como por exemplo, a aquisio de confiana, ganho de tempo,discusses entre os participantes, sobre como os resultados esto sendo

    apresentados; adaptao para tocar em grupo, bem como tocar para o grupo. A

    motivao e a interao social so elementos importantes nas aulas coletivas e

    responsveis pelo desenvolvimento e o aprendizado musical (SCHAFER, 1991,

    279).

    Diante da nova realidade do cenrio educacional, os educadores musicais

    devem buscar nova postura e conscincia, tornando-se crticos e reflexivos,oportunizando ao educando a expresso e realizao de anseios musicais,

    valorizando o contexto social em que esto inseridos, deixando de lado antigas e

    inalterveis concepes. O professor no ocupa mais o espao de nica fonte de

    conhecimento, perpetuando o modelo de aula individual, e sim exerce o papel de

    facilitador do processo, a partir de aulas coletivas.

    Como metodologia para atender a demanda de aulas em massa, o ensino

    coletivo instrumental possibilita esta renovao educacional, ao passo que

    proporciona ludicidade, despertando assim o prazer de se estar aprendendo a tocar

    um instrumento. Quando o ldico e o prazer de aprender fazem parte da aula, pode-

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    se deduzir que se est em face de um educador que considera seus alunos como

    parte de um processo de aprendizagem intrnseco, o que no significa

    necessariamente que esses alunos se tornaro futuros msicos profissionais.

    Desta forma, destacam-se alguns aspectos observados durante a

    pesquisa considerados relevantes ao ensino coletivo de instrumentos musicais, os

    quais eclodem ao longo da experincia como criana aprendiz de msica e,

    maduram quando o saber musical se torna epistmico.

    H um Ganho de confiana em si prprio em consequncia da convivncia

    com o pblico, mesmo que reduzido, desde o incio do aprendizado- muito

    comum testemunhar msicos que mesmo depois de uma longa trajetria

    profissional, ainda sentem vergonha ou medo de estar ou tocar em pblico.Quando se exposto a essa convivncia com o pblico desde cedo, este

    obstculo de insegurana pode ser superado. De acordo com Swanwick

    (apudOLIVA, 1997, p.13),A aprendizagem musical acontece atravs de um

    engajamento multifacetado: solfejando, escutando os outros, apresentando-

    se, integrando ensaios e apresentaes em pblico, bem como a

    improvisao.

    Os alunos que recebem aulas em grupo podem sair com vantagem sobreos alunos que tm aulas individuais nos estudos de notao musical, histria

    da msica e teoria musical - Matrias tericas ou que exijam dedicao e

    absoro de contedo, em geral no so recebidos com esmero pelos

    alunos. Aulas coletivas proporcionam enriquecimento e ampliao dessas

    matrias, visto que, a interao grupal se utiliza do ldico que por sua vez,

    bem direcionado pelo professor, torna-se uma poderosa fora, auxiliando um

    aprendizado seguro e estimulante (CRUVINEL, 2005, p.78). Aprendem por imitao - O ser humano naturalmente motivado a observar

    os outros indivduos a sua volta, isto remete ao ato de competir que nos

    ensinado desde o incio, natural da espcie. Essa imitao e competio em

    geral so mais evidentes em indivduos de mesma faixa-etria ou mesmo

    grupo social. A aprendizagem em msica envolve imitao e comparao

    com outras pessoas(Swanwick apud OLIVA, 1997, p. 13).

    O tempo de aula que o professor utiliza lecionando para um grupo maisbem aproveitado se comprado ao fato de lecionar individualmente -Lecionar

    para um grupo em determinados minutos, comparado ao perodo que seria

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    gasto para lecionar individualmente aos componentes deste grupo, com

    certeza seria a melhor opo para ganho de tempo. Em contrapartida, no

    se pode deixar de lado as limitaes do grupo e as individuais, cabendo ao

    professor escolha de como conduzir a aula e observar as dificuldades dos

    alunos. (...) recomenda-se que o professor tente atend-lo individualmente,

    ou mesmo com um aluno mais adiantado fazendo papel de monitor

    (CRUVINEL, 2005, p. 76).

    A aula grupal proporciona ao aluno estmulo para o desenvolvimento de

    habilidades de crtica, audio interiorizada e interpretao - Quando se est

    motivado a ouvir por um real desejo, esse desejo conduz o indivduo a

    ateno necessria para o que podemos chamar de inteno de escutar,excitando assim a escuta sensvel que segundo Willems 5, no se d em

    sons isolados, mas pressupe sua organizao em forma de msica

    (FONTERRADA, 2008, p. 144).

    Com a diversificao de instrumentos (ensino coletivo heterogneo), os

    alunos so expostos a uma maior literatura musical - Dentro da

    sistematizao do ensino coletivo existe o ensino coletivo homogneo e

    heterogneo6

    . Segundo (NASCIMENTO, 2006, p. 96), essas aulas soefetuadas de maneira multidisciplinar, alm de tocar um instrumento os

    alunos so expostos a contedos como Teoria musical, Percepo, Histria

    da msica e Improvisao, bem como o repertrio.

    O aluno prepara bem mais suas tarefas e se preocupa com suas

    execues, em desafio aos demais colegas (autoimagem positiva) -

    notrio que um aluno inserido no contexto coletivo, sente-se participante no

    que tange o compartilhamento das dificuldades entre os envolvidos, evitandoassim desestmulos. O aluno sente-se altamente envolvido no processo e

    valorizado. O aluno se sente participante de uma orquestra, ou coral, e ao

    conseguir executar uma pea, sua motivao aumenta (CRUVINEL, 2005,

    p.78).

    5 Edgar Willems (1890-1978), nascido na Blgica e radicado na Sua, foi aluno de mile-JaquesDalcroze e Lydia Malan (FONTERRADA, 2008).

    6Ensino coletivo homogneo ocorre quando o mesmo instrumento lecionado em grupo. J o ensinocoletivo heterogneo ocorre quando vrios instrumentos diferentes so trabalhados em um mesmogrupo (CRUVINEL, 2005).

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    sistematizao desta metodologia se iniciou na Europa, sendo migrada logo em

    seguida para os Estados Unidos.

    Felix Mendelssonhn 8inaugurou o conservatrio de Leipzig 9na Alemanha

    em 1843, escola que propagou um novo jeito de dar aulas, coletivamente. Nos

    Estados Unidos, na dcada de 60, ensinar msica era a mania de todos. Grandes

    conservatrios foram abertos em nome desse interesse na educao musical, dentre

    eles: The Boston Conservatory e The new England School. Os conservatrios

    cresciam na proporo em que se aumentava o nmero de adeptos s aulas

    coletivas. A msica popularizava-se e as grandes turns realizadas pelos msicos

    europeus que formavam bandas e orquestras enfatizavam a msica popular e a

    dana (CRUVINEL, 2005 p. 67).Em contrapartida, muitos professores e administradores da rea musical

    tiveram objeo ao ensino coletivo, um dos motivos pelos quais no final do sculo

    XIX, esse tipo de ensino perdeu fora. Outro motivo que levou a metodologia ao

    declnio foi o surgimento de cursos superiores para especializao de msicos

    atravs do ensino individual.

    Paralelamente ao declnio do ensino coletivo, ocorreu o aparecimento do

    The Maidstone Movement, movimento liderado pela empresa britnica Murdock andCompany of London, especializada em venda de instrumentos musicais. Esta

    empresa foi responsvel por instituir o programa de ensino coletivo de violino All

    Saints Nacional Schools, nas escolas formais objetivando despertar nos alunos o

    interesse de se estudar msica, especificamente instrumentos que permitissem a

    participao em orquestras. Para que a ideia fosse frente, fazia-se necessrio por

    um lado, que os alunos comprassem os instrumentos e os materiais didticos da

    empresa e por outro lado, que a empresa fornecesse os professores para lecionarcoletivamente.

    8 Foi um compositor, pianista e maestro alemo do incio do perodo romntico. Algumas das suas mais

    conhecidas obras so asuteSonho de uma Noite de Vero(que inclui a famosamarcha nupcial), doisconcertosparapiano,o concerto paraviolino,e osoratrios So Pauloe Elijahentre outros (Dicionrio Grove de Msica,1994, p. 593).

    9Escola de msica alem, fundada em 1843 por Mendelssohn, seu primeiro diretor (Dicionrio Grove de Msica,

    1994, p. 215).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Compositorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pianistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Maestrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Su%C3%ADtehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sonho_de_uma_Noite_de_Ver%C3%A3o_(Mendelssohn)http://pt.wikipedia.org/wiki/Sonho_de_uma_Noite_de_Ver%C3%A3o_(Mendelssohn)http://pt.wikipedia.org/wiki/Sonho_de_uma_Noite_de_Ver%C3%A3o_(Mendelssohn)http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_nupcialhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Concertohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pianohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Violinohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Orat%C3%B3riohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Orat%C3%B3riohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Violinohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pianohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Concertohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_nupcialhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sonho_de_uma_Noite_de_Ver%C3%A3o_(Mendelssohn)http://pt.wikipedia.org/wiki/Su%C3%ADtehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Maestrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pianistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Compositor
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    Considera-se que esta articulao foi responsvel por difundir o ensino

    instrumental coletivo. O projeto popularizou-se tanto que logo de incio 400.000

    alunos das 5.000 escolas britnicas eram estudantes de violino em 1908.

    Nos Estados Unidos, em 1911, o ingls Albert Mitchell implanta o ensino

    coletivo de instrumentos musicais nas escolas pblicas norte-americanas

    (CRUVINEL, 2005, p.69). Nas trs primeiras dcadas em que a pedagogia coletiva

    foi aplicada nas escolas formais dos Estados Unidos, foram articulados os primeiros

    concursos nacionais de bandas de msica, tendo em vista o grande nmero j

    existente de bandas escolares. O primeiro concurso foi organizado pela Music

    Industries Chamber of Commerce no ano de 1923 e a partir de 1926 a National

    School Band Association ficou responsvel pela realizao dos prximos eventos.Barbosa (1994, p. 43) relata em dados de sua pesquisa que em 1923,

    1.400 estudantes participaram das competies nacionais norte-americanas, aps

    vinte anos da realizao dos eventos, 1.949 escolas participaram dos concursos

    nacionais. O autor tambm ressalta que esse crescimento de bandas nas escolas

    ocorreu durante imensas crises econmicas no pas, dentre elas, a devastadora

    crise econmica da dcada de 1930 e os reflexos da Segunda Guerra Mundial.

    Outro fator relevante era que a vontade de se inserir msica instrumental naeducao no partia s dos estudantes, mas de muitos msicos que estavam

    desempregados em consequncia das dificuldades advindas da crise econmica

    nesse perodo.

    Atualmente a msica instrumental parte integrante dos currculos das

    escolas americanas e a maioria delas utiliza a metodologia coletiva de ensino

    musical.

    Ressalta-se que a metodologia coletiva enfrenta ao longo da histria etambm nos dias de hoje, oposies e crticas. Mesmo assim, desperta novos

    adeptos, expande-se e h anos vem sendo ministrada em vrios pases. Para

    alguns autores, estudar msica coletivamente possibilita a criao e o

    desenvolvimento de orquestras nas escolas pblicas, incentivando assim o ensino

    do instrumento com o intuito e participao nas orquestras.

    Dessa forma, destaca-se que o aprendizado do instrumento era apenas

    individual e focado na musicalizao. Nesta perspectiva, o ensino coletivo traz

    muitas satisfaes, bem como alguns fracassos, porm, os profissionais que utilizam

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    esta forma de ensino no buscam mais a comprovao da eficincia, mas os

    melhores meios de sistematizao e a produo de novos materiais didticos.

    2.2 A Chegada do ensino coletivo ao Brasil

    Considera-se que no Brasil o ensino coletivo pode ter sido iniciado no

    perodo colonial, quando os escravos aprenderam msica e a tocar um instrumento.

    Assim formaram-se as primeiras bandas musicais, que posteriormente dariam

    origem as bandas de msica oficiais conhecidas por abrilhantarem as grandes festasregionais. Logo apareceram as fanfarras, grupos inspirados em bandas de msica,

    porm, limitado a um menor nmero de instrumentos. (CRUVINEL, 2005, p. 70).

    As famosas rodas de choro, surgidas em meados de 1870 e o samba por

    volta de 1917, tinham em comum, que a msica desses grupos era aprendida

    apenas com a prtica, no se tinha sistematizao de aula ou de ensino, a intuio e

    a curiosidade criada pela interao social direcionavam as aulas.

    Em 1932 foi iniciada a primeira experincia de sistematizao do ensinocoletivo em msica (msica vocal) com a criao do Canto Orfenico na era Vargas.

    Este projeto foi criado pelo compositor e msico Heitor Villa-Lobos, que, a convite de

    Getlio Vargas, volta ao Brasil em 1930, aps estudar na Europa e receber fortes

    influncias dos chamados Mtodos Ativos, sobretudo, do mtodo do compositor

    hngaro Kodaly. Villa-Lobos assume o cargo poltico de diretor da Superintendncia

    de Educao Musical e Artstica (SEMA), convite tambm feito pelo ento interventor

    federal Joo Alberto. Villa-Lobos acreditava que a valorizao da msica brasileira esuas razes s poderiam acontecer quando os jovens tivessem uma formao bsica

    musical efetiva, e que o canto coletivo era o meio mais vivel para se alcanar este

    objetivo.

    Para efetivar seu projeto e agilizar os resultados Villa-Lobos organizou

    grandes encontros, onde os alunos cantavam at quatro vozes. A coroao do

    mtodo aconteceu em 1940, no Rio de Janeiro, quando 40 mil estudantes reuniram-

    se para a maior concentrao orfenica do pas. As publicaes resultantes deste

    projeto esto registradas no Guia prtico (12 volumes com canes para canto e

    piano e coro e grupo instrumental), Canto Orfenico e Solfejos (2 volumes cada).

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    Tambm foi criado um conservatrio Nacional de Canto Orfenico em 1942

    (CRUVINEL, 2005, p. 70).

    J no mbito de ensino coletivo instrumental surgem projetos, muitas

    vezes de cunho social, a partir da dcada de 1960, quando no interior paulista o

    professor Jos Coelho de Almeida realiza seus primeiros experimentos com banda

    de msica, em resposta ao convite feito pelo chefe de setor da Fbrica de

    Tecelagem e Fiao de So Martinho. Essa banda de msica seria para os filhos

    dos operrios que trabalhavam naquela fbrica e intitulada Corporao Musical So

    Jorge.

    Segundo Almeida (2004, p. 15) a banda tinha a seguinte formao: 1

    requinta, 6 clarinetas, 1 saxofone alto, 1 saxofone tenor, 1 saxofone bartono, 1fagote, duas trompas duplas, 3 trompetes, 4 sax-horns alto, 4 trombones, 2

    bombardino, 1 sousafone, 1 bombo, 1 surdo, 1 caixa, 1 par pratos. Sendo diretor e

    professor do conservatrio de msica de Tatu Dr. Carlos de Campos e adepto ao

    ensino coletivo, o professor Jos Coelho logo criou um programa para iniciao

    musical com aprendizado coletivo em instrumentos de corda para a escola, tendo

    tambm como professores o violonista Pedro Cameron e o trompista Jos Antnio

    Pereira.Podemos citar ainda o trabalho de dois profissionais que na dcada de 70

    fizeram histria no ensino coletivo com cordas, Alberto Jaff e Daisy de Lucca que

    trabalhavam a servio do SESI (Servio Social da Indstria) de Fortaleza. Em 1978

    receberam o convite da Funarte (Fundao Nacional de Arte) para inserirem o

    ensino coletivo de cordas por todo Brasil. Sendo pioneiros do ensino de cordas no

    pas, contriburam para formao da maioria dos profissionais de corda hoje

    existentes.Com relao a instrumentos de banda de msica podemos citar dois

    projetos que se destacaram entre 1989-1992 cujos resultados mostraram pontos

    positivos. So eles, a Banda Municipal de Nova Odessa e a Banda Municipal de

    Sumar ambos em So Paulo, realizados por Mrcio Beltrami. Os projetos

    envolviam aulas coletivas e individuais como tambm aulas coletivas de teoria

    musical. E para elucidar melhor este aspecto vale ressaltar Barbosa (1996, p. 44)

    quando relata dados de sua pesquisa sobre o projeto de Nova Odessa:

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    Por vrios anos seguidos tinha havido, usando-se uma metodologia deensino tradicional dessa regio, uma media de 85% de desistncia por partedos alunos, e uma media de dois anos de instruo para preparar um alunopara se tornar membro da banda. Com a metodologia coletiva utilizada noprojeto de 1989 a media de desistncia caiu para 22%, e a media de um

    ano e meio para habilitar um aluno para ingressar na banda.

    Diante desses dados, nota-se que em um ano e meio aplicando a

    metodologia coletiva produziram-se mais alunos para o ingresso na banda do que

    quando se aplicava a metodologia tradicional.

    Atualmente existem no Brasil inmeros projetos sociais que utilizam o

    aprendizado coletivo de instrumentos como base de ensino, objetivando algo que

    perpassa tocar um instrumento ou aprender teoria musical: esses projetos trabalhamarduamente para o desenvolvimento da personalidade, a recuperao da autoestima

    e a fortificao da cidadania.

    No estado de So Paulo, mais especificamente na cidade de Tatu, foi

    criado o famoso Projeto Guri conhecido nacionalmente e internacionalmente. Este

    projeto considerado o maior programa sociocultural brasileiro, coordenado pela

    Associao Amigos do Projeto Guri (AAPG) possuindo mais de 54 mil alunos no s

    em Tatu, mas por todo o Estado de So Paulo. Sua meta promover com qualidadee dedicao a educao musical atravs da prtica coletiva e suscitar a incluso

    sociocultural, tendo em vista o desenvolvimento humano de geraes em formao,

    todos fazendo parte de uma equipe que enfrenta os mesmos desafios.

    O projeto trabalha com crianas e adolescentes na faixa etria de 6 a 18

    anos e atualmente administrado por organizaes sociais ligadas Secretaria de

    Estado da Cultura. Subdivide-se em 366 plos distribudos em 310 municpios pelo

    interior e litoral de So Paulo. A Associao Amigos do Projeto Guri (AAPG) parceira de prefeituras municipais e instituies do terceiro setor, cuja meta principal

    fazer com que o projeto se amplie consideravelmente durante os anos10.

    Ainda na grande So Paulo, pode-se citar o significativo trabalho

    realizado no Conservatrio Dramtico e Musical Dr. Carlos de Campos tambm na

    cidade de Tatu. Iniciado na dcada de 1980, pelo professor Jos Coelho de

    Almeida, considerado um trabalho pioneiro de ensino coletivo com cordas.

    Atualmente o conservatrio continua trabalhando com aulas coletivas, porm,

    10Disponvel em: Acesso em: 23 de dezembro de 2011.

    http://www.projetoguri.com.br/http://www.projetoguri.com.br/
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    baseando-se no mtodo Suzuki. A instituio enfatiza a prtica de conjunto atravs

    dos grupos formados por alunos. So eles: Orquestra de cordas, Grupo de

    percusso, Conjunto de metais, Octeto de flautas, Banda Jovem, Madrigal, Bandas

    sinfnicas, Big Bands entre outros (CRUVINEL, 2005, p. 73).

    Dentre os j citados destacam-se o Conservatrio Musical Tom Jobim em

    Itapecerica de Serra-SP no qual incita seus jovens ao aprendizado coletivo de

    instrumentos. Na Bahia os educadores musicais Alda de Oliveira (piano), Diana

    Santiago (piano), Cristina Tourinho (violo) e Joel Barbosa (Sopros) da Escola de

    Msica da Universidade Federal da Bahia, trabalham intensamente em prol de um

    ensino musical coletivo de qualidade h muitos anos, sendo estes, autores de

    grandes trabalhos cientficos da rea, contribuindo diretamente para a pesquisa no

    pas com grande rentabilidade (CRUVINEL, 2005, p. 73).

    Em Goinia, os trabalhos de ensino coletivo so vistos na Universidade

    Federal de Gois (UFG), bem como na Escola de Msica e Artes Cnicas (EMAC).

    2.3 O Ensino coletivo no Estado do Maranho

    No Maranho a metodologia coletiva ainda est em processo de

    consolidao, contudo, atravs dos dados coletados em algumas instituies de

    ensino de msica, bem como a visita a projetos sociais durante o processo de

    pesquisa, constatou-se que os profissionais da rea da educao musical

    maranhense, quase em sua totalidade, preferem ensinar coletivamente. Entretanto

    necessrio ressaltar que os dados aqui coletados referem-se apenas a extenso dagrande ilha englobando a capital e o municpio de So Jos de Ribamar.

    Na Escola de Msica do Estado do Maranho - EMEM so oferecidos

    cursos de nvel bsico e mdio-tcnico em diversos instrumentos, dentre eles:

    sopros, percusso e cordas. Ao longo de sua histria exerceu contribuio direta na

    formao profissional da maioria dos msicos do Estado do Maranho. A escola

    iniciou sua trajetria em 1974 com aulas individuais, no mbito de instrumentos

    musicais, mas nos ltimos anos muitos de seus professores optam por dar aulas

    coletivas.

    Outro exemplo o Projeto Sol Nascente, fruto de uma iniciativa da

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    Assemblia Legislativa do Estado do Maranho, criado em 2005, tendo em sua

    proposta o elemento scio cultural, voltado para crianas e adolescentes com a faixa

    etria de 8 a 17 anos, oriundas de famlias de baixa renda dos bairros de So Lus.

    Objetiva contribuir para a formao de crianas e adolescentes, promovendo a

    incluso social e o desenvolvimento de habilidades artsticas e sociais, atravs de

    uma ao educativa e criativa com oficinas que despertem as capacidades e

    habilidades artsticas, bem como valores morais e sociais. O projeto oferece as

    seguintes oficinas na rea de msica: Canto Coral; Instrumentos de Sopro

    (Saxofone alto e tenor, Clarinete e Requinta) e Violino. Nas outras reas: Dana;

    Voleibol; Futebol; Xadrez e Dama.

    Nas oficinas de msica, os professores utilizam o ensino coletivo tanto

    para o canto como para as aulas de instrumentos de sopro e violino.

    No municpio de So Jos de Ribamar a Escola de Msica Maestro

    Nonato inaugurada em 2008, tambm trabalha com ensino coletivo, foi criada pela

    prefeitura daquele municpio com objetivo de qualificar futuros msicos da regio. A

    escola oferece cursos dos seguintes instrumentos: Violo, Teclado, Contrabaixo,

    Canto, Bateria e Percusso.

    Como resultado de um intenso trabalho, foi criado pelo professorAlessandro Freitas a Orquestra de Violes da Escola de Msica do Maestro Nonato.

    Alm dos j citados, existem outros projetos em andamento na cidade,

    bem como diversas escolas de msica em todo o Estado, trabalhos que ainda esto

    em processo de fortalecimento ou que no foram divulgados. O importante

    enfatizar que o interesse dos profissionais em aderirem ao ensino coletivo se deve

    ao aumento da demanda de pessoas interessadas em estudar msica no Estado.

    2.4 O Ensino Coletivo de instrumentos musicais como agente de

    transformao social

    comum ouvir-se a expresso a msica transformou a minha vida.

    Muitos pesquisadores buscam comprovar que a msica possui um vis

    transformador e que a sua prtica pode influenciar significativamente na mudana de

    comportamento do indivduo.

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    A relao msica e sociedade vm desde os primrdios, sendo muito

    mais antiga do que normalmente se conhece. Para entender a funo social da

    msica faz-se necessrio, olhar retrospectivamente e em linhas gerais essa relao.

    Tm-se indcios da presena dela nas primeiras civilizaes ou mesmo

    nas primeiras estruturaes sociais da histria da humanidade. Mas, com a Grcia

    Antiga que ela adquire importncia na formao geral dos indivduos. De acordo

    com Fonterrada (2008, p. 26), desde o incio da organizao social e poltica grega

    acreditava-se que a msica influa no humor e no esprito dos cidados, e por isso,

    no podia ser deixada exclusivamente por conta dos artistas executantes. Os gregos

    acreditavam que a msica agia diretamente no controle do esprito do homem e

    utilizaram-na como ferramenta de educao dos cidados.A importncia dada msica na Grcia ia alm do fato de simplesmente

    tocar ou ouvir um instrumento, ela possua um valor poltico muito forte. Ser devoto

    msica, tambm significava ser asctico aos deuses, bem como as leis

    estabelecidas, partindo do pressuposto de que a sociedade grega, dona dos mitos e

    das alegorias aos deuses, regia seu povo atravs desses artifcios. Os cantos e as

    atividades em educao musical eram estendidos a todos os indivduos e davam

    nfase ao senso de ordem, socializao, dignidade e tomada de decises. Umjovem ateniense educado musicalmente, por exemplo, trazia consigo valores bem

    maiores do que a tcnica musical, ele atingia o puro desenvolvimento tico e estava

    apto a integrar a sociedade (FONTERRADA, 2008, p. 27). Assim sendo, pode-se

    dizer que os pensadores gregos visualizavam a importncia social na msica.

    Quando a arte migrou para a Europa os povos do Oriente j haviam

    descoberto a msica associando-a a dana nas cerimnias e rituais religiosos. Os

    Gregos por sua vez, construram doutrinas baseadas nos antigos mitos em que amsica se apresentava muitas vezes como encantamento, para esses povos, esta

    possua um carter e um poder sobrenatural. Acreditava-se que os deuses e os

    semideuses haviam sido mentores dessa arte, entre eles, Apolo e Orfeu. Dessa

    forma Fonterrada (2008, p. 28) observa que Plato, acreditava que a msica podia

    curar transformar o esprito e purificar o corpo. Quando a msica influenciava o

    carter do indivduo trazia plena harmonia e paz alma, por isso devia-se preserv-

    la. Dada sua importncia, o ensino de msica seria tarefa do Estado. Para Plato, a

    msica ocupava o lugar de liderana em relao s outras artes, trazendo a

    concepo de que possvel se estabelecer estreitas relaes entre os movimentos

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    da alma e as progresses musicais, enfatizando assim o propsito da msica no

    ser apenas lazer, mas, algo mais profundo.

    importante enfatizar que muitos desses filsofos e pensadores mesmo

    na antiguidade, marcaram com suas ideologias os grandes movimentos e cmbios

    sociais e comprovaram a influncia da arte e da msica na sociedade.

    No novo cenrio educacional contemporneo a msica se torna alvo de

    questionamentos referidos, especialmente, as suas reais funes. Schafer (1991, p.

    279) afirma quea aula de msica sempre uma sociedade em microcosmo, a cada

    tipo de organizao social deve equilibrar as outras. Em relao a um sistema

    poltico, o autor tambm compara uma aula de coro ao comunismo. O canto coral

    o mais perfeito exemplo de comunismo jamais conquistado pelo homem.Neste caso o autor faz aluso ao fato de um conjunto de vozes

    heterogneas que esto realmente juntas, de modo que nenhuma voz se

    sobreponha ao conjunto. Levando em conta que a aula de msica sempre ser

    demonstrao das relaes sociais, pode-se buscar uma educao musical mais

    crtica, contextualizada, e currculos dinmicos que tenham espao para a

    verdadeira expresso artstica.

    As expresses artsticas autnticas so encontradas nas experinciasmusicais do cotidiano dos alunos, das quais, predispe-se um trabalho scio

    pedaggico real, onde a formao da conscincia crtica e dos valores, podem vir a

    ser efetivados.

    Em instituies ou projetos que trabalham com a metodologia coletiva,

    ouvem-se relatos de experincias vividas pelos participantes envolvidos no

    processo, descries que contribuem para comprovar que ensinar msica

    coletivamente, possibilita um ambiente favorvel ao desenvolvimento e aprendizadode todos. Assim sendo, acredita-se que o mtodo de ensino coletivo de suma

    importncia tanto para a formao musical em si, quanto para o desenvolvimento de

    habilidades sociais.

    O professor Joel Barbosa11relata em suas palestras pelo Brasil, sobre a

    insero de Rodas de conversas em sua aula, essa metodologia utilizada por ele,

    11Joel Barbosa: Mestre e Doutor em Artes Musicais pela University of Wahington, em Seattle, EUA.Com base em sua tese sobre metodologia de ensino coletivo de instrumentos de banda, escreveu oprimeiro mtodo de banda brasileiro Da Capo. Atualmente professor titular de clarineta da Escolade Msica da Universidade Federal da BahiaUFBA e do Programa de Ps-Graduao onde orienta

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    visa o fortalecimento do processo de ensino-aprendizagem no coletivo com bandas

    de msica. Tal proposta um elemento pertencente ao pensamento Freiriano12.

    A pedagogia de Freire sempre identificada em muitas prticas

    educacionais e sem dvida o ensino coletivo faz uso dessa pedagogia no que tange

    ao pressuposto de que a educao musical pode ser transformadora. Segundo

    Barbosa (2006, p. 100), Freire enfatiza que a aprendizagem se d no coletivo e que

    ningum educa ningum, como tambm ningum se educa sozinho, os homens se

    educam em comunho, ou seja, no coletivo.

    No incio ou durante as aulas ministradas pelo professor Joel Barbosa,

    este, rene os alunos em uma conversa. Quando a turma nova o assunto sobre

    famlia, preferncias musicais, influncias e etc. Quando o professor j tem algumtempo de convivncia com seus alunos o assunto sobre como ocorreu semana

    de estudos ou o fim de semana, quais dificuldades esto encontrando nas tarefas de

    casa e como anda a relao do aluno com o instrumento que est aprendendo.

    Quando os educandos tm conscincia do processo em que estoengajados e conhecem mais profundamente a si mesmos, ao professor eaos colegas podem contribuir significativamente na metodologia do curso.Conhecendo as origens e histria dos educandos, assim como suasatividades musicais anteriores e atuais na famlia e em suas comunidades,o educador pode construir os passos metodolgicos e definir o contedopedaggico com eles mais eficazmente (BARBOSA, 2006, p.100 e 101).

    A referida experincia remete a concepo de uma educao musical

    significativa e transformadora, contribuindo para a assero de que o ensino coletivo

    instrumental poder enriquecer os aspectos sociais da vida do educando,

    colaborando na sua formao como ser humanizado. Partindo disto que se faz

    necessrio a utilizao do ensino coletivo nos espaos no formais de educao,

    isto , em projetos sociais que buscam na msica; a incluso social.

    Para Barbosa (2006, p.101) um grupo onde os indivduos estejam

    inseridos e que seus relacionamentos sejam construdos de objetivos em comum,

    unindo-os, bem como as atividades realizadas, isto pode estar auxiliando na

    construo do conhecimento.

    trabalhos de mestrado e doutorado nas reas de clarineta e ensino coletivo. (Barbosa apud

    NASCIMENTO, 2006).

    12Pensamento do educador Paulo Freire.

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    3 O ENSINO COLETIVO NA BANDA DE MSICA

    Em geral comum intitularmos de banda qualquer grupo que rena

    alguns instrumentos, mas o que uma banda de msica? necessrio esclarecer o

    termo para melhor compreenso. Silva (2009) cita como referncia a classificao

    feita por Botelho:

    Bandas Militares, Bandas pertencentes a uma instituio e BandasSociedades Musicais. As Bandas Militares seriam aquelas pertencentes ainstituies militares, por tanto profissionais. As Bandas pertencentes a uma

    instituio seriam aquelas mantidas por Igrejas, colgios, fbricas, etc.,podendo ser amadoras ou semiprofissionais (seus participantes recebemalgum tipo de pagamento). Por fim, o tipo que tratamos no presentetrabalho, as Bandas Sociedades Musicais(grifo nosso) seriam, como ditoanteriormente, aquela banda mantida por uma instituio, uma SociedadeMusical, que teria como nico ou principal objetivo atividades relacionadasdireta ou indiretamente manuteno desta banda (Botelho apud SILVA,2009, p. 155).

    O autor supra citado, classifica como Banda, Sociedades Musicaiso que

    entendemos como uma banda de msica mantida por uma instituio ouassociao. A diferenciao das bandas de msica e de quais instrumentos a

    compem torna o assunto relativo. Alguns autores consideram impossvel limitar ou

    caracterizar a banda de msica pelo tipo de instrumento que a compe. Isto se deve

    ao fato das bandas de msica brasileiras, por exemplo, serem flexveis quanto ao

    nmero de msicos ou mesmo de instrumentos, por vezes, acabam sendo

    classificadas como bandas marciais, bandas sinfnicas ou mesmo bandas musicais

    (tipo que se considera nesta pesquisa), tendo sempre o mesmo objetivo.

    Um aspecto relevante que ir definir uma banda ser o mbito social em

    que ela est inserida, sendo que, depender exclusivamente do contexto para a

    obteno dos recursos, a deciso, quanto ao nmero de instrumentos bem como a

    quantidade de pessoas que iro comp-la.

    notrio ressaltar, que a maioria dos msicos componentes de grandes

    orquestras sinfnicas, bandas militares e grupos musicais populares, tiveram ligao

    direta com o elemento banda de msica em sua iniciao musical. Os instrumentos

    que estes profissionais escolheram, em quase sua totalidade, so instrumentos de

    sopro e percusso, isto se deve a popular configurao de banda de msica que

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    se conhece. Esta influncia no se aplica apenas a estes instrumentistas, mas a

    muitos profissionais de outras reas da msica como; regentes, cantores,

    compositores e outros que tiveram contato com a banda de msica em algum

    momento de suas vidas.

    3.1 A Importncia do processo de ensino e aprendizagem musical na Banda de

    Msica

    patente que nas bandas de msica a interao social torna-seconstante no processo de aprendizagem, influenciando diretamente nas relaes

    estabelecidas pelos participantes. Costa e Figueiredo (2010, p. 36) comentam sobre

    estas relaes, enfatizando:

    Contudo, importante lembrar que estas relaes no sugerem somenteum clima harmonioso entre os participantes. Embora os mesmos tenhamcaractersticas em comum, os motivos, perspectivas e objetivos departiciparem desta atividade podem ser extremamente diversos. Este fatorleva a considerar o dualismo diversidade versus particularidade existenteem uma comunidade de prtica. Ao mesmo tempo em que os membrosdaquela comunidade partilham de caractersticas comuns, e realizam umamesma tarefa ou tm metas compartilhadas, seus dilemas e aspiraesfazem com que cada membro tenha um lugar nico e uma nica identidadedentro do grupo.

    Segundo a fundamentao dos autores, comunidade de prtica um

    grupo de indivduos que comungam do mesmo interesse ou motivo em comum que

    os levam a fazer ou aprender algo em sociedade.Os componentes de uma banda de msica esto ali ensaiando e

    empenhando-se com um mesmo ideal, assumindo um compromisso mtuo de

    tornarem aquele trabalho gratificante e com resultados. Porm, dentro deste grupo

    com alguns objetivos em comum, surgem os ideais individuais bem como suas

    aspiraes, como por exemplo, um aluno que decide tocar seu instrumento

    profissionalmente, ou outro que decide consolidar a carreira, como professor de

    msica.

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    Uma vez que os anseios e aspiraes individuais desses componentes,

    mesmo estando no coletivo, so mencionados, justifica-se o fato de como o

    processo de aprendizagem musical atravs do elemento banda de msica, pode

    levar msicos amadores a tornarem-se amantes da profisso.

    Outro aspecto importante e que influenciar diretamente no processo de

    aprendizagem musical o planejamento das atividades. A importncia de planejar

    uma aula intrnseca ao ato docente sendo de extrema importncia ter

    intuitivamente possveis reaes dos alunos ao propor uma atividade.

    A partir do momento em que o educador musical toma conscincia de que

    as aulas de msicas podem ser dadas de forma dinmica, exerce o controle sobre o

    planejamento da prtica a ser realizada. Sejam quais forem os mtodos a seremutilizados, necessitam em sua efetivao de atividades que despertem a

    sensibilidade e prazer esttico, e assim, a aula dinamizada, possibilita a interao

    coletiva, dando conotao de sentido para a produo com o alunado. De acordo

    com o relato de Mattos (2006 p. 212):

    Estabelecido o modelo de relao professor-aluno, senti uma espcie deperda de controle do processo de planejamento das aulas, visto que os

    assuntos que brotavam que determinavam os contedos a trabalhar ecomo. Entretanto, o aparente caos provocado pelo novo paradigma, traziauma ordem insuspeitada dentro de si.

    O planejamento antecipado reduz os improvisos momentneos que de

    alguma forma podem surtir efeitos negativos, ou seja, no planejar adequadamente

    uma aula pode trazer respostas desconhecidas. Isto pode ocorrer quando trata-se

    do ensino coletivo com instrumentos de banda, pois mesmo nesta metodologia o

    professor precisa planejar e alcanar os objetivos traados apriori.

    No mbito de ensino coletivo de instrumentos musicais, comum que a

    dinmica da aula gire em torno de mtodos e apostilas com lies enumeradas que

    se tornam obstculos atemorizadores para os alunos, isto influenciar diretamente

    no processo de ensino e aprendizagem. O fato de se estar ensinando um

    instrumento musical, no e nunca ser motivo para que o educador se prenda a

    antigos paradigmas. Mtodos que trabalhem o coletivo j so utilizados nos Estados

    Unidos, por exemplo, desde 1920 (VECCHIA, 2008, p. 30).

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    Neste sentido, acredita-se que seja necessrio acompanhar novas ideias

    e buscar novos caminhos para o planejamento, ao se trabalhar com a banda de

    msica (VIEIRA JNIOR, 2011, p. 402). Desta necessidade de novas formas

    pedaggicas de como dar aulas de msica coletivamente surgiu o mtodo Da Capo

    que ser abordado mais profundamente no item a seguir.

    Um passo importante na rea de ensino coletivo e que contribui

    diretamente para o surgimento de novas ideias a realizao do ENECIM -

    Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais. Com quatro

    edies realizadas nos respectivos anos: 2004, 2006, 2008 e 2010, vm

    contribuindo para troca de experincias de profissionais da rea, bem como

    difundindo a metodologia por todo pas, este evento realizado a cada dois anos.

    3.2 O Mtodo Da Capo

    O Mtodo Da Capo, criado pelo professor Joel Barbosa, especificamente

    para o ensino de msica com bandas, que tem como objetivo trabalhar ashabilidades tcnicas de cada instrumento que compe a banda; leitura musical e o

    processo de tocar em grupo. Ambos os aspectos so trabalhados num repertrio

    formado por msicas folclricas brasileiras, visando proximidade do aluno com sua

    realidade cultural.

    O mtodo uma adaptao para a realidade do Brasil. A proposta

    baseada nos modelos do ensino coletivo das bandas norte-americanas.

    O referido Mtodo Da Capo foi divulgado inicialmente na tese dedoutorado do autor Professor Joel Barbosa em 1994, intitulada An Adaptation of

    American Instruction Methods to Brazilian Music Education: Using Brazilian

    Melodies. Aps a divulgao do resultado das suas pesquisas e com o sucesso

    atingido, o mtodo foi publicado em 2004 como Da Capo: Mtodo elementar para

    ensino coletivo ou individual de instrumentos de Banda(MOREIRA, 2009, p. 129).

    Com a publicao o autor adaptou o mtodo para o ensino coletivo, como

    para o ensino individual, visando oportunizar todo o pblico de alunos-msicos de

    instrumentos de banda, sendo, porm seu objetivo; propagar a proposta de se

    ensinar coletivamente.

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    Diante da imensa procura e grande divulgao o autor sentiu a

    necessidade do aprimoramento e continuidade da ideia, e em 2010 foi lanado o Da

    Capo Criatividade: Mtodo Elementar para o Ensino Individual e/ou coletivo de

    Instrumentos de Banda. Esta segunda edio do mtodo adicionaem seu contedo

    a criatividade com atividades de improvisao, composio e arranjo, bem como a

    percepo e compreenso musical das formas.

    Elenca-se ento, um diferencial que este mtodo possui ao possibilitar ao

    aprendiz, ter contato com o instrumento escolhido desde o primeiro dia de aula, o

    que lhe causa motivao e curiosidade. Outro aspecto relevante a possibilidade de

    utilizao do mtodo para formao de duos, trios, ou at quartetos, tendo em vista

    que sua produo dar-se para que os instrumentos executem juntos (MOREIRA,2009, p. 30).

    O interesse em mencionar este mtodo diz respeito contribuio que ele

    traz aos profissionais de msica que trabalham com bandas. Sendo o primeiro

    mtodo criado no Brasil, para dar aulas coletivas s bandas de msica ou para

    formao das mesmas. Acredita-se que o Da Capo iniciou uma nova trajetria no

    mbito de renovao da educao musical no pas para o ensino coletivo, onde

    atravs dele, e muitos outros nomes que j existem, como a obra do Maestro FredDantas, ser possvel vivenciar esta renovao educacional, no presente e tambm

    aposteriori.

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    Figura 1 - Ptio interno do prdio do Convento das MercsFonte: Arquivo da Escola, 2002.

    4 BREVE HISTRICO DA ESCOLA DE MSICA DO BOM MENINO

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    4.1 Convento das Mercs

    A cidade de So Lus, no Estado do Maranho, possui palmeiras

    marcantes ao caminho do visitante ao longo da costa, onde a mar presente mostra

    a singularidade da regio, e em cujo interior a msica embala a imaginao de seus

    habitantes. Cidade histrica fundada por franceses que aqui chegaram com uma

    expedio liderada pelos fidalgos, Daniel de La Touche, senhor de La Ravardire e

    Franis de Roselly, senhor de Roselly, no dia 5 de setembro de 1612. E em 8 de

    setembro de 1612 realizaram a primeira missa solene consolidando a fundao da

    cidade (NASCIMENTO, 2001, p. 41).Em 1614 um grupo de portugueses, comandados por Jernimo de

    Albuquerque, chegaram a esta cidade com a misso de invadir e tomar posse da

    mesma. Nesta batalha intitulada de Guaxenduba13, obtiveram vitria expulsando os

    franceses. Aos portugueses coube a misso de colonizar a cidade.

    O territrio maranhense estava tornando-se alvo de grande cobia

    europia. Assim, em 1641, os holandeses entram em cena invadindo as terras e

    ficando nelas por trs anos, at a sua expulso pelos portugueses.Os nativos que aqui viviam chamavam esta ilha carinhosamente de

    Upaon-au, palavra de origem tupi, idioma descendente dos ndios tupinambs, que

    significa ilha grande, sendo a cidade um imenso arquiplago, j os visitantes

    franceses a intitularam de Saint Louis em homenagem ao rei da Frana Lus XIII

    (NASCIMENTO, 2001, p. 25).

    Importante destacar que atravs dessas colonizaes, So Lus hoje

    possui uma imensa bagagem cultural, e isto se reflete nas manifestaes folclricascomo o bumba-meu-boi e o tambor de crioula, danas tpicas da regio, resultado da

    miscigenao desses povos colonizadores.

    Alguns personagens que aqui estiveram engrandecendo tanto a poltica,

    como a cultura levaram So Lus a tornar-se a mais lusitana das cidades brasileiras.

    Os sinais de tantas colonizaes so visveis ainda hoje, sobretudo quando se faz

    um passeio pelo famoso centro histrico da cidade.

    13 Batalha ocorrida no municpio de Icatu-MA entre franceses e portugueses pela posse do Maranho, mais

    precisamente no stio de Guaxenduba, hoje praia de Santa Maria.

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    Em 1987 foram criados alguns projetos de restaurao do centro

    histrico da cidade por iniciativa do governo estadual. Como exemplo entre esses

    projetos o mais relevante foi o intitulado Projeto Reviver15, acontecendo assim

    grandes mudanas no centro histrico desta cidade. No mesmo perodo surge o

    Projeto Memrias dos Presidentes da Repblicaarticulado pelo ento Presidente da

    Repblica Jos Sarney, que diante da disponibilidade do prdio do convento sediou

    nele a intitulada Fundao da Memria Republicana16.

    Mesmo tendo conscincia da enorme bagagem cultural que o centro

    histrico de So Lus possui, nem sempre estas belezas histricas foram descritas.

    A partir da dcada de 70 j era visvel o abandono cultural e urbanstico do centro da

    cidade e o Bairro do Desterro17 encontrava-se em pssimas condies sociais(LIMA, 2006, p.86-87).

    O antigo prdio que sediava um convento de mercedrios abrigou a

    Fundao da Memria Republicana que posteriormente fundaria a Associao dos

    Amigos do Bom Menino do Convento das Mercs com o objetivo de ajudar a

    comunidade do Desterro.

    4.2 Escola de Msica do Bom Menino

    Diante da realidade de abandono cultural e a falta de perspectiva para os

    moradores da comunidade, iniciou-se a articulao de um projeto social idealizado

    pela diretoria executiva do Convento das Mercs na pessoa do Sr. Aluzio Lobo,

    objetivando que crianas e adolescentes daquele bairro recebessem a possibilidadede uma educao diferenciada, utilizando a msica como ferramenta, a fim de

    amenizar a marginalidade e a falta de perspectiva dos moradores, bem como o

    resgate de manifestaes culturais.

    15 Programa de preservao e revitalizao do antigo centro histrico de So Lus, tombado comopatrimnio histrico cultural criado em 1980.

    16A Fundao uma entidadecultural sediada emSo Lus doMaranho,no corao do bairro do

    Desterro, utilizada como memorial de peas do arquivo nacional.17

    Bairro do municpio de So Lus - MA.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Culturalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_(Maranh%C3%A3o)http://pt.wikipedia.org/wiki/Maranh%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Maranh%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_(Maranh%C3%A3o)http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultural
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    No dia 19 de agosto de 1993, inicia-se este grande projeto social dentro

    da sociedade ludovicense, tendo como foco desenvolver atividades musicais

    voltadas para crianas e adolescentes com a faixa etria de 9 a 14 anos. Ao chegar

    s proximidades da escola possvel ouvir sons de instrumentos musicais, cuja arte

    perceptvel atravs da msica presente em seu interior, a qual se expande a

    comunidade do Desterro que cerceia o lcus memorial, trazida pelos meninos do

    convento, como chamam os admiradores e vizinhos da escola, sendo esta

    instituio pertencente Associao dos Amigos do Bom Menino do Convento das

    Mercs.

    A histria desta jovem escola reserva uma faceta curiosa, aps seis

    meses de aulas na escolinha e muito trabalho, a primeira turma foi apresentada,fruto de um desafio do Sr. Aluzio Lobo aos professores da entidade, dentre eles,

    Prof. Tomaz de Aquino Leite, Prof. Ribamar, Prof. Lus Carlos, Prof. Antnio Carlos e

    Prof. Diniz. Lanada sociedade ludovicense j em estrutura de banda de msica

    com quarenta e trs componentes que o tempo seria responsvel em consagrar.

    Consecutivamente o projeto se estenderia por toda cidade e no apenas pelo bairro

    do Desterro e como reconhecimento de seu trabalho a escola acumulou inmeros

    convites para apresentaes e tambm premiaes.Em 1997 a escola recebe um nibus estilo jardineira para o transporte da

    banda com segurana, um presente de grande importncia para os alunos e

    funcionrios.

    Inicialmente as aulas eram realizadas em uma das salas do prdio do

    Convento das Mercs cedidas provisoriamente, mas logo depois, em 26 de

    setembro de 1997 a escola ganha seu prdio prprio situado ao lado do prdio do

    convento, na Rua 28 de julho nmero 483, onde instala-se esse lcus especialmenteprojetado para a musicalidade, cujas paredes conservam a mesma cor de terra dos

    muros do convento das Mercs.

    Hoje com 17 anos de existncia a escola vem alcanando resultados

    satisfatrios, dentre essas atividades, os desfiles oficiais em comemorao a

    semana da ptria. Junto aos militares e ao pblico estudantil, h as participaes

    memorveis em movimentos culturais e artsticos, como o 11 Campeonato Nacional

    de Bandas de Msicas realizado em novembro de 2003 no estado do Rio de

    Janeiro, V Campeonato Maranhense de Bandas e Fanfarras realizado em setembro

    de 2003, IV Tocata de Bandas e Fanfarras do Maranho em setembro de 2003,

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    onde recebeu o trofu Guar, como tambm uma grandiosa recepo feita rainha

    da Sucia, quando a mesma esteve no Brasil, ocorrida em outubro de 2001 em So

    Paulo, entre muitas recepes a grandes autoridades nacionais e internacionais.

    Figura 2Fachada da Escola de Msica do Bom MeninoFonte: Trajano, 2010.

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    5.3 Teoria bsica (1 perodo)

    Depois dessa fase inicial realizada, os alunos aprovados nos testes de

    aptido comeam o ano letivo com as aulas tericas. nesta fase que nasce a

    escolinha, nome dado ao grupo de alunos que no pertencem banda oficial da

    escola e que esto em fase de aprendizado para tornarem-se alunos da banda ou

    componentes da banda.

    Nessas aulas tericas so ministrados contedos bsicos de teoria

    musical, sendo esta a base curricular do curso. Esta fase de ensinos tericos

    musicais tem durao de quatro meses e as aulas so ministradas s teras equintas feiras nos turnos matutinos e vespertinos. Os objetivos a serem alcanados

    neste perodo giram em torno do processo de assimilao dos contedos previstos

    no plano curricular. Dentre esses contedos esto:

    Caracterstica da Msica e do Som;

    Notas, Pausas, Clave de Sol e de F (4 linha);

    Valores Positivos e Negativos (Figuras musicais);

    Ponto de Aumento e de Diminuio; Ligadura de Expresso e de Prolongamento;

    Claves de D e de F (3 linha);

    Alteraes;

    Tons e Semitons;

    Intervalos Simples, Justo, Maiores, Menores, Aumentados e

    Diminutos;

    Ritmo Bsico (Pozzoli -Guia Terico e Prtico: 1, 2 e 3 sries);

    Solfejo Bsico (Lacerda, Osvaldo Teoria Elementar da Msica:

    Exerccios de 1 ao 21).

    Terminada esta fase os alunos realizam um teste escrito (provo), com a

    aprovao, estes seguem para o segundo perodo do curso.

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    por diante. O modelo de grupos homogneos surgiu da necessidade do menor

    nmero possvel no grupo, sendo o mais adequado para o melhor aproveitamento

    das aulas e assimilao tcnica dos alunos.

    Esta etapa prtica tem durao de oito meses e os alunos so

    incorporados na Banda Popular, nome designado dentro da instituio aos

    aprendizes, caracterizando assim, que no so pertencentes ainda da banda de

    msica oficial da escola.

    As aulas continuam sendo realizadas nos dias de teras e quintas, cada

    turma com um professor ou instrutor. A escola denomina professor aos profissionais

    mais experientes e fundadores do projeto. A denominao de instrutor refere-se aos

    ex-alunos que atravs de processo seletivo feito pela instituio, trabalhamexercendo esta funo.

    Durante este perodo de ensino terico e prtico os alunos se dedicam a

    estudarem a estrutura do instrumento, embocadura e outras peculiaridades. Os

    professores instruem a turma coletivamente, mesmo sendo por diversas vezes uma

    turma numerosa e em momentos com dificuldades. A cada dia o aprendizado torna-

    se novo e cheio de surpresas, todos motivados pela fora de estarem ali aprendendo

    msica. Mesmo no coletivo possvel que o professor observe o alunoindividualmente nos seguintes aspectos: desenvoltura, postura, emisso de som e

    outros. Os contedos tericos previstos para esse perodo so:

    Intervalos Compostos;

    Inverso de Intervalos;

    Enarmonia;

    Graus da Escala;

    Compasso: Simples e Composto; Unidade de Tempo e de Compasso;

    Escalas Maiores;

    Escalas Menores (Primitiva, Harmnica e Meldica);

    Escalas Cromticas;

    Ritmo Bsico (Pozzoli -Guia Terico e Prtico: 4, 5 e 6 sries);

    Solfejo Bsico (Lacerda, Osvaldo Teoria Elementar da Msica:

    Exerccios de 22 a 42).

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    Concluda esta fase os alunos so submetidos a dois testes, um terico,

    (provo) e o outro teste prtico (com o instrumento).

    Figura 4Apresentao da Banda de Msica do Bom MeninoFonte: Trajano, 2011.

    5.5 Prtica e apresentaes ao pblico (3 perodo) - Incorporao na Banda de

    Msica

    Concludas as instrues prticas e tericas os alunos precisam chegar a

    uma nova etapa, serem componentes da Banda de msica do Bom Menino do

    Convento das Mercs, mas, para que isto acontea necessria realizao de um

    teste terico e outro prtico, j mencionado e de conhecimento do aluno, onde ser

    avaliado todo conhecimento musical adquirido at o momento.

    As provas so individuais, os alunos executam lies e msicas

    trabalhadas durante o perodo de aprendizado prtico. Tambm realizada a prova

    terica para anlise de como se encontram nos estudos tericos.

    Depois de aprovados os alunos se incorporam a Banda Elite, nome

    designado dentro da instituio banda oficial da escola, ou seja, que realiza

    apresentaes para comunidade e outros pblicos. Atravs de uma solenidade onde

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    so convidados amigos e parentes, os estudantes recebem uma espcie de

    graduao por se esforarem at o presente momento, consolidando assim a

    incorporao na banda.

    Nesta nova fase, as aulas ou ensaios como so chamadas, so

    transferidos para os dias de segunda, quarta e sexta tambm nos turnos matutino e

    vespertino. Mesmo estando na Banda Elite e tendo que adicionarem aos estudos

    repertrios musicais (anexo II e III) para suas apresentaes, os alunos continuam a

    estudar e aperfeioar os contedos tericos, participando de avaliaes peridicas.

    Os contedos tericos deste perodo so:

    Enarmonia (Parcial e Total);

    Tempo Forte e Tempo Fraco;

    Sncope e Anacruse;

    Tons Vizinhos;

    Escala Cromtica (Atual e Clssica);

    Quilteras e Matrizes;

    Abreviatura e Ornamento;

    Srie Harmnica;

    Andamento;

    Escala Geral;

    Transposio;

    Ritmo Bsico (Pozzoli - Guia Terico e Prtico: 7, 8, 9 e 10

    sries);

    Solfejo Bsico (Lacerda, Osvaldo Teoria Elementar da Msica:

    exerccios de 43 a 67).

    Cada etapa concluda motivo de comemorao para a escola, alunos e

    familiares, e para simbolizar a premiao, na comemorao de fim de ano

    entregue aos aprendizes os certificados de concluso das etapas que compem o

    curso.

    Atualmente a escola possui 322 alunos, sendo pertencentes Banda Elite

    77 (matutino) e 77 (vespertino) e Banda Popular78 (matutino) e 90 (vespertino).

    Neste ano sero abertas matrculas para 400 novos alunos, totalizando assim 722

    alunos matriculados em 2012. A escola oferece todos os dias caf da manh,almoo e janta aos alunos.

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    Figura 5 - Desfile em comemorao Semana da PtriaFonte: Arquivo da Escola

    5.6 A Importncia da Banda de Msica do Bom Menino: Um relato

    Sobre a importncia da Banda de Msica Bom Menino, esta permeia de

    emoes a quem vivencia ou vivenciou a experincia de participar desta escola.

    um referencial para todos que lograram o beneficio de adentrar no universo musical.Aos que outrora tiveram a oportunidade de tramitar entre as solenes apresentaes

    e confraternizaes com amigos conquistados no decorrer dos estudos, ficam

    lembranas inesquecveis do tempo de aluno (a) e participante da referida Escola. A

    oportunidade de desfrutar de um perodo memorvel em companhia de professores

    engajados e dedicados ao trabalho de educao musical deixa marcado no

    subconsciente algo inigualvel, e cujo referencial acompanha a criana, adolescente

    ou jovem por toda a vida, quando este, o marco inicial dos primeiros passos nomundo da msica.

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    A dedicao dos profissionais que ali atuam impar na trajetria dos

    alunos, pois os primeiros segredos da flauta transversal e dos sons so repassados

    com maestria, e assim aprende-se com alegria a tocar junto, no treino continuado,

    no esforo ininterrupto para alcanar um objetivo, e o mais importante, sempre

    persistir sem jamais desistir. Ter perseverana e acreditar que aprender msica ,

    em muitos aspectos, aprender a viver, desenvolver capacidades, so sentimentos

    que encantam e impulsionam a trajetria dos alunos que se dedicam para ser

    participantes da Banda do Bom Menino. O auxlio dos professores ali inseridos

    torna-se fundamental para o desempenho profissional dos futuros msicos, que

    adentram nas dependncias da escola cheios de sonhos, de aprender e serem

    profissionais de um determinado instrumento, ou de se tornarem professores demsica.

    Cabe mencionar a experincia vivenciada com os professores da Escola

    do Bom Menino, pela fora e grandeza na receptividade com os alunos, em especial,

    a experincia obtida atravs do encontro com o Professor e Maestro Tomaz de

    Aquino Leite e a Professora Khtia Salomo, suas palavras, seus exemplos, e

    compreenso, acima de tudo, amigos com os quais tive o prazer de conviver por

    tempo suficiente enquanto aluna da escola. Momentos que marcaram a minha vida,cujos ensinamentos foram essenciais para uma possvel trajetria enquanto

    musicista, os quais, ainda refletem sobre a minha pessoa, que nem a partida e nem

    os anos apagam. A inspirao para este trabalho nasceu como uma homenagem e

    um profundo agradecimento especial ao Maestro Tomaz de Aquino Leite, (in

    memoriam) e aos demais professores e a todos que contriburam para o

    aprendizado musical a qual constitu, quando criana na Escola de Msica do Bom

    Menino.A experincia de ter sido aluna da Escola e vivenciado o dia a dia das

    aulas, proporcionou a compreenso exata dos depoimentos dos alunos que

    compem o quadro estudantil da escolinha. Entrevistando a aluna Kimberlly Mayana

    de 16 anos, impressionante a forma como ela se refere instituio: A escola

    minha segunda famlia. Esta se sente envolvida totalmente com todo o aparato da

    escola, sendo sua ligao muito maior que as simples aulas de msica, o sentimento

    de acolhimento perpassa o ensinamento musical. Durante a entrevista, Kimberlly

    relata com emoo, que em algum momento de sua trajetria no teve condies

    financeiras de arcar com a compra de um par de sapatos para a apresentao. A

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    escola ento comprou um par de sapatos novos, suprindo a necessidade da aluna.

    Tais ligaes tornam possvel comprovar a forte interao social exercida pelo

    conjunto, ao preocupar-se com as necessidades bsicas dos aprendentes, indo

    alm do ensino sistmico, em face do ser mais humanizado.

    Durante o processo de pesquisa foi possvel constatar atravs das

    observaes e os relatos colhidos nas entrevistas, que os envolvidos no processo

    sentem-se diretamente influenciados e comovidos com o aprendizado musical. Outro

    exemplo o da aluna Laura, de 18 anos, que profere o seguinte depoimento: Eu era

    muito desatenta nas aulas de matemtica, nem ligava para o professor, com as

    aulas de msica associei alguns contedos da matemtica aos contedos de msica

    e fui exigindo minha participao na escola regular pra eu sair bem na escola demsica, ou quando continua relatando: Meu gosto musical mudou muito, hoje escuto

    msica clssica.

    Fica evidente que o aprendizado da msica modifica a vida dos que se

    dedicam a ela em todos os sentidos, diante disso, pergunta-se: O que poderia

    explicar o apego e a dedicao dessas crianas e adolescentes com o elemento

    Banda de Msica ou qualquer prtica prazerosa ligada a msica? O que a prtica

    musical na vida desses envolvidos pode causar, justifica o seguinte contexto.Segundo (Green apudSOUZA, 2004, p. 8) Dessa forma o que estaria no centro da

    aula de msica seriam as relaes que os alunos constroem com a msica, seja ela

    qual for.

    Portanto, ensinar ou instruir os alunos a meros estudos prticos e

    tcnicos, no constitui a importncia real do processo pedaggico musical. O

    processo se concretiza quando o professor de msica observa qual tipo de relao o

    aluno estabelece com a msica, e auxilia-o a construir a intelectualidade sobre oinstrumento almejado, para apropriao e desenvolvimento.

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    CONCLUSO

    O processo de aprendizagem de qualquer instrumento musical exige o

    contato do aluno com o instrumento, aulas, empenho do aluno no que diz respeito

    ao estudo contnuo, orientao do professor mesmo que seja no coletivo e a prtica

    musical constante, entre outros aspectos que podero levar o aprendiz a um bom

    desempenho. A prtica de dar aulas coletivas no garante aos alunos o preparo

    suficiente para que os tornem exmios instrumentistas, tendo em vista que o objetivo

    do ensino coletivo no a formao do solista e virtuose, mas sim do indivduo

    sensvel e criativo.Os profissionais mencionados durante este trabalho em sua maioria

    utilizaram ou ainda utilizam a metodologia de ensino coletivo para alunos iniciantes,

    com e sem leitura musical que tem a durao apenas nos primeiros anos do

    aprendizado musical. de extrema relevncia ressaltar que o aluno poder ou no

    tornar-se profissional quando em algum momento de sua histria teve aulas

    coletivas de instrumentos, caso este aluno torne-se instrumentista deve estar

    disposto a novos horizontes, bem como novas metodologias.Fundamentando os dados colhidos para a consecuo do trabalho, a

    priori, entrelacei a minha experincia como aluna e fruto do aprendizado da Escola

    de Msica do Bom Menino, a qual preenche e enriquece meu currculo na carreira

    profissional que abracei como musicista.

    Mesmo sendo apresentado durante este trabalho dados histricos que

    comprovem a presena do ensino coletivo de instrumento musicais no Brasil, ainda

    se faz necessrio mencionar o quanto o fato recente. Contudo, podemos concluirque a importncia dessas novas metodologias surge no momento em que h

    contribuio para a democratizao do ensino de msica no pas e para o

    desenvolvimento social e cultural dos alunos, bem como um dos caminhos mais

    viveis de promover iniciao instrumental comunidade ludovicense desprovida de

    recursos. Em relao ao social vemos como o surgimento de projetos sociais vem

    contribuindo gradativamente para o acesso de vrios alunos que por algum motivo

    no tiveram oportunidade ao ensino de msica.

    A Escola de Msica do Bom Menino durante todos esses anos de ensino

    vem colhendo frutos de seu trabalho. possvel encontrarmos ex-alunos da

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    instituio ocupando mais da metade das oportunidades existentes no mercado de

    trabalho em msica do estado e em alguns casos fora do pas. Msicos, hoje

    profissionais, que por grande tempo de suas vidas dedicaram-se escola, mas

    especificamente Banda de Msica do Bom Menino com apresentaes que

    abrilhantaram inmeros eventos por toda cidade. Dentre os cargos que os ex-alunos

    ocupam esto: Marinha, Aeronutica, Exrcito Brasileiro, Polcia Militar, Guarda

    Municipal, professores das principais escolas de msica e projetos de So Lus.

    Os aspectos aqui expostos a fim de concluirmos a eficincia metodolgica

    do ensino coletivo de instrumentos musicais so confirmados atravs das entrevistas

    realizadas com os professores da escola, a diretora, funcionrios que prestam

    servio instituio a mais de dez anos para fundamentao das discusses. Todosque compem o projeto sentem-se emocionalmente envolvidos com a escola,

    segundo os depoimentos colhidos.

    Aps tais consideraes possvel concluir que a deteno de uma boa

    metodologia no garante que o trabalho do ensino seja sempre eficaz, como uma

    receita, contudo esta boa metodologia aqui discorrida poder levar o trabalho a

    grandes resultados. A influncia do professor, sua didtica e seu conhecimento da

    aplicao nas aulas so de valor incontestvel para o sucesso de determinadametodologia.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    BARBOSA, Joel.Rodas de Conversa na Prtica do Ensino Coletivo de Bandas .In: Anais do II ENECIM Encontro Nacional de Ensino Coletivo de InstrumentoMusical. Goinia: 2006, p.97-104.

    _________. Considerando a Viabilidade de Inserir Musica Instrumental noEnsino de Primeiro Grau. In: Revista da ABEM, n. 3, p. 39 a 49, 1996.

    _________. Da Capo - Mtodo para o Ensino Coletivo e/ou individual deInstrumentos de Sopro e Percusso. 01 ed. Jundia: Editora Keyboard, 2004.

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    COSTA, Lucila Prestes de Souza Pires da. FIGUEIREDO, Srgio Luiz Ferreira de . Aaprendizagem musical na prtica coral e o conceito de comunidade de prtica.In: Anais do XIX Encontro anual da ABEM. Goinia, 2010, p. 33 a 40.

    CRUVINEL, Flavia Maria. Educao Musical e Transformao Social: umaexperincia com o ensino coletivo de cordas. Goinia: Instituto Centro Brasileiro deCultura, 2005. 256p.

    _________. O Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais na Educao Bsica:compromisso com a escola a partir de propostas significativas de Ensino

    Musical. In: Anais do III Encontro Nacional de Ensino Coletivo de InstrumentosMusicais, Braslia, 2008.

    _________. Ensino Coletivo de Instrumento Musical: uma alternativa para umaEducao Musical ativa e transformadora por um mundo melhor. In: Anais do IIEncontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais, Goinia, 2006, p.105 a 113.

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    FONTERRADA, Marisa. De Tramas e Fios:um ensaio sobre msica e educao.So Paulo: Editora da Unesp, 20