O ensino-aprendizagem de música na Banda da Escola ... · incentivando a estudar, a seguir naquilo...
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música
Licenciatura em Música
O ensino-aprendizagem de música na Banda da Escola Agrícola de Jundiaí: o docente em formação
Allyson Pablo Melo Ferreira
Natal/RN 2015
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Escola de Música Licenciatura em Música
O ensino-aprendizagem de música na Banda da Escola Agrícola de Jundiaí: o docente em formação
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito parcial para obtenção do título de licenciado em Música.
Allyson Pablo Melo Ferreira
Orientador: Prof. Dr. Jean Joubert Freitas Mendes
Natal/RN 2015
O ensino-aprendizagem de música na Banda da Escola Agrícola de Jundiaí: o docente em formação.
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito parcial para obtenção do título de licenciado em Música.
Orientador: Prof. Dr. Jean Joubert Freitas Mendes.
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________________ Prof. Dr. Jean Joubert Freitas Mendes Orientador
________________________________________ Prof. Dr. Ranilson Bezerra de Farias Examinador
________________________________________ Prof. Msc. Catarina Aracelle Porto do Nascimento Examinadora
Natal, 22 de Maio de 2015.
A todos os meus alunos da Banda da Escola Agrícola de Jundiaí que me fizeram acreditar na minha formação como professor de música.
Vocês tornaram um sonho realidade!
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a meu Deus, aquele que é autor e consumador da
minha fé. Sem sua infinita misericórdia e bondade eu sequer estaria aqui. Seu amor
me mostra, a cada dia, o caminho que devo seguir e Ele não me deixa desistir,
mesmo com todas as dificuldades que enfrento diariamente.
A meus pais, aqueles que me criaram desde os primeiros passos e sempre
estiveram comigo, independentemente da situação, me dando força, me dando
todos os conselhos necessários para a vida, acreditando em mim, sempre me
incentivando a estudar, a seguir naquilo que eu gostava de fazer e por terem me
dado todo o apoio na minha escolha em me tornar um docente na área de música.
Se não fosse a educação que vocês me deram, eu não seria a pessoa que sou hoje,
não estaria realizando este trabalho, não teria conquistado o que já conquistei e não
continuaria buscando o que almejo como pessoa e como profissional.
A toda minha família que age como um suporte e é presente de Deus em
minha vida. Vocês que me acompanharam desde pequeno também, acreditaram em
mim quando decidi optar pela carreira de professor, me deram apoio e me
aconselharam muito sobre a profissão em que eu estaria me dispondo a praticar,
uma vez que, muitos são professores e, certamente, serviram como um espelho na
qual eu pudesse tomar gosto pela docência.
Aos meus amigos que sempre viram que eu tinha uma boa aptidão para a
música e que me deram força para seguir em frente na minha escolha. O apoio de
vocês foi fundamental também, uma vez que, quando nos propomos a estudar algo,
as primeiras pessoas nas quais compartilhamos o nosso aprendizado são os nossos
pais e os nossos amigos.
Ao meu amigo e líder espiritual Israel Domingos, uma pessoa maravilhosa
com quem eu tive e tenho o privilégio de contar (principalmente na fase final de
produção) diariamente. Obrigado por toda força e ajuda e por me mostrar como eu
poderia mudar minha organização com relação aos estudos. Seus conselhos foram
muito importantes e me ajudaram muito.
A minha grande amiga, companheira de classe, a quem dedico,
especialmente, um pouco dessas linhas para agradecer. Anna Cristina, obrigado por
sempre estar do meu lado, não só porque era minha colega de turma. Tive a honra
de estudar durante todo o curso com você e aprender muito do que sei hoje. Suas
experiências me ajudaram a crescer e a firmar a escolha pela docência em música
durante o curso. Você é uma profissional excelente, alguém que ama o que faz e
que consegue transmitir isso, contagiando a todos aqueles que estão ao seu redor.
Eu também fui e continuo sendo um aprendiz seu.
Aos meus amigos da faculdade que tiveram uma participação fundamental
na construção da minha carreira docente e que, através de conversas, troca de
experiências, conseguiram me auxiliar e me incentivar muito durante o período de
curso, sempre com algo a oferecer. O aprendizado e as experiências que tive com
vocês enriqueceram ainda mais o ato de minha prática docente.
Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e a todos os
meus professores de faculdade, seja em alguma das disciplinas que cursei, ou pelos
corredores da Escola de Música, que sempre se dispuseram a me ensinar algo, a
me dar algum conselho, a me ajudar na prática da profissão. Com certeza eu
aprendi e continuo aprendendo muito com todos vocês, pois se tornaram um
espelho para mim e me orgulho de ter sido aluno de cada um.
Agradeço à professora Viviane Medeiros pela oportunidade de ser
colaborador do projeto da Banda da Escola Agrícola de Jundiaí. Obrigado por me
dar essa rica oportunidade de fazer parte (hoje como bolsista-colaborador) desse
grupo na qual participei ativamente como membro durante cinco anos consecutivos,
tendo a oportunidade de compartilhar sobre música com todos.
Agradeço aos meus alunos da Banda da Escola Agrícola de Jundiaí que são
totalmente responsáveis pelo meu crescimento como professor porque foram (e
continuam sendo) a minha mais rica experiência docente. Agradeço a colaboração,
a dedicação, o empenho, a paciência, o amor pela música, o desejo de sempre
melhorar e de realizar um belo trabalho a cada ano que se passa. Para mim é uma
honra poder ensinar tudo aquilo que aprendi com a minha vivência musical tanto na
universidade quanto como membro da banda desde 2007 até 2011.
Por fim, agradeço a todos que estiveram me apoiando durante toda a minha
vida e caminhada acadêmica. Meus professores, desde os anos iniciais, ensino
fundamental e ensino médio, na qual eu me lembro individualmente. Sei que sozinho
eu não teria conseguido nada, por isso que reconheço a importância de cada um de
vocês desde o início.
Muito obrigado!
RESUMO
A prática musical com as bandas tem demonstrado ser um grande agente socializador para seus participantes como aponta Campos (2008, p. 107) ao dizer que “vínculos são formados a partir da relação que os participantes estabelecem uns com os outros e com a música – vínculos baseados na amizade, no reconhecimento, na disciplina e no prazer proporcionado pela prática musical”. O objetivo principal deste trabalho de monografia é apresentar a prática docente de um aluno do Curso de Licenciatura em Música da UFRN que trabalha com a Banda da Escola Agrícola de Jundiaí. Os objetivos específicos são refletir sobre a aprendizagem musical do grupo; conhecer o que leva os integrantes a quererem participar da banda; as motivações da prática; os objetivos que a banda possui dentro da escola e discutir se o espaço e a atividade influenciam na formação profissional e educacional dos alunos, além de revelar o real desejo pelo aprendizado musical. Para isso, evidenciam-se os trabalhos de Rosin (2003), Campos (2008), Cislaghi (2011) e Silva (2012) que expõem e discutem, além da história e função social de bandas e fanfarras, o aprendizado musical dos alunos através de estudos de caso e entrevistas com os participantes dessas atividades, refletindo o que essa prática significa na profissionalização quanto à música e na concepção do conhecimento musical trabalhado pelos grupos. Os resultados alcançados giram em torno do fato de que a prática musical permanece ativa na escola e que tem concedido uma grande interação social além de um aprendizado musical significativo para os participantes. Palavras-chave: Banda; Prática musical; Ensino; Alunos; Docente.
ABSTRACT
The musical practice with the bands has proven to be a great socializing agent for its participants as pointed out by Campos (2008, p. 107) to say that "links are formed from the relationship that participants establish with each other and with the music - ties based on friendship, recognition, discipline and pleasure provided by musical practice". The main objective of this thesis work is to present the teaching practice of a student of Bachelor of Music UFRN working with the Band Agricultural School of Jundiaí. The specific objectives are given in reflecting on learning music group; meet leading members wanting to join the band; the practice motivations; the objectives that the band has within the school and discuss the space and the activity influence the professional and educational background of the students, and reveal the real desire for musical learning. For this, show them works of Rosin (2003), Campos (2008), Cislaghi (2011) and Silva (2012) that expose and discuss, beyond history and social function bands and fanfares, the musical student learning through case studies and interviews with participants of these activities, reflecting what this means in practice professionalism as the music and the design of musical knowledge by working groups. The achievements revolve around the fact that musical practice remains active in school and that has given a great social interaction as well as a significant musical learning for participants. Keywords: Band; Music Pratice; Education; Students; Instructor.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Foto com o Maestro (centro) e o bolsista de percussão (direita) ...... 24
Figura 02 – Banda no desfile cívico de Lagoa Salgada 2013 .............................. 40
Figura 03 – Banda no desfile cívico de Macaíba 2014 ......................................... 40
Figura 04 – Banda antes da apresentação na CIENTEC 2014 ............................ 41
Figura 05 – Banda em apresentação no palco na CIENTEC 2014 ...................... 41
LISTA DE ABREVIAÇÕES
ABEM Associação Brasileira de Educação Musical
CAJ Colégio Agrícola de Jundiaí
CVT Centro Vocacional Tecnológico
CIENTEC Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura da UFRN
CONSEPE Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
CONSUNI Conselho Universitário
EAJ Escola Agrícola de Jundiaí
EMUFRN Escola de Música da UFRN
FAMA Fanfarra Municipal de Atibaia
NAC Núcleo de Arte e Cultura da UFRN
PROEX Pró-reitoria de Extensão da UFRN
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
NPOR Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva
PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
SEMAGRÁRIA Semana de Ciências Agrárias
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 14
1.1 O ensino de música para adolescentes e jovens ....................................... 15
1.2 O aprendizado musical através da prática de bandas ............................... 16
2. A ESCOLA AGRÍCOLA DE JUNDIAÍ ............................................................... 19
2.1 Uma breve história da instituição ............................................................... 19
2.2 Sobre a estrutura física e a disposição de alunos e cursos ....................... 20
3. RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE NA BANDA DA EAJ ......................... 22
3.1 Sobre a banda ............................................................................................ 22
3.2 Equipe de trabalho ..................................................................................... 23
3.3 Participantes .............................................................................................. 25
3.3.1Perfil dos participantes ......................................................................... 27
3.3.2 Experiências e vivências dos alunos participantes ............................. 27
3.4 Instrumentação .......................................................................................... 28
3.5 Objetivos da banda .................................................................................... 29
3.6 Metodologia de trabalho ............................................................................. 31
3.6.1 Prática de ensaios .............................................................................. 31
3.6.2 Aulas de teoria musical ....................................................................... 34
3.6.3 Repertório da banda ........................................................................... 34
3.7 Dificuldades enfrentadas ............................................................................ 36
3.8 Conquistas e resultados alcançados .......................................................... 38
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 42
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 45
11
INTRODUÇÃO
A história das bandas de música remonta ao período do Brasil Colônia, com
formações organizadas pelas irmandades religiosas e pelos senhores de engenho.
As bandas das irmandades eram compostas por músicos que tocavam em troca do
aprendizado de leitura e escrita, além do aprendizado musical especificamente. Já
as bandas que eram organizadas pelos senhores de engenho, se compunham de
músicos-escravos que tocavam em troca de sustento (CAMPOS, 2008, p. 105).
Em contrapartida com as palavras de Campos (2008), Cislaghi (2011)
acrescenta-nos sobre as bandas de música quando diz que:
As bandas de música encontram-se em diversos contextos e relacionadas às manifestações e eventos sociais populares de naturezas diversas, estando bastante presentes nas comunidades e influenciando a vida das pessoas. Além disso, constituem um espaço importante de ensino e aprendizagem musical, envolvendo muitas perspectivas de ensino (CISLAGHI, 2011, p. 64).
A partir dessas afirmações, demonstramos o interesse em conhecer mais
afundo os aspectos históricos que essa prática de bandas traz para o meio musical,
além de todas as formas educacionais, principalmente no que se refere ao ensino de
música que ela pode proporcionar aos seus integrantes e aos demais participantes.
Foi justamente por isso que resolvemos realizar este trabalho de monografia
que apresenta a prática docente de um aluno do curso de licenciatura em música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e que trabalha com a prática de
banda na Escola Agrícola de Jundiaí, sendo esta uma das atividades artísticas e
musicais desenvolvidas à época na instituição. O objetivo principal é de relatar a
experiência do discente como professor e colaborador do projeto Coro e Banda da
Escola Agrícola de Jundiaí – Encantando pela música. Como objetivos específicos,
buscaremos refletir sobre a aprendizagem musical do grupo; conhecer o que leva os
integrantes a quererem participar da banda; as motivações da prática; os objetivos
que a banda possui dentro da escola e discutir se o espaço e a atividade influenciam
na formação profissional e educacional dos alunos, além de revelar o real desejo
pelo aprendizado musical.
Um dos meios encontrados para realização do trabalho foi a pesquisa
bibliográfica sobre os contextos de bandas marciais e fanfarras, buscando conhecer
mais sobre essa prática em outras instituições, tendo em vista que as bandas
escolares têm desempenhado um papel importante na tradição e história dos
12
municípios em que se encontram, apresentando-se em desfiles cívicos, festas
religiosas, eventos públicos, privados, dentre outros. Outro fator que contribuiu para
esta construção foi a observação inicial dos aspectos metodológicos da banda, onde
o discente (que já fez parte do grupo como integrante durante cinco anos
consecutivos no período de 2007 à 2011), pôde constatar os principais caminhos
que o levaram a refletir sobre a prática (antes de virar bolsista-professor), refletir
sobre sua atuação como aluno-músico e como isso lhe ajudou (e ainda tem ajudado,
pois continua atuando) para agir como docente à frente do grupo dando
continuidade a essa atividade musical que é desempenhada na escola.
A prática musical com as bandas tem demonstrado ser um grande agente
socializador para seus participantes como aponta Campos (2008, p. 107) ao dizer
que “vínculos são formados a partir da relação que os participantes estabelecem uns
com os outros e com a música – vínculos baseados na amizade, no reconhecimento,
na disciplina e no prazer proporcionado pela prática musical”. O que pode ser
reconhecido no caso da Escola Agrícola de Jundiaí, onde esta atividade é
desenvolvida.
No primeiro capítulo temos a fundamentação teórica necessária para a
construção deste trabalho. A pesquisa bibliográfica foi uma das principais
contribuições para que pudéssemos adentrar ainda mais nesse âmbito educacional
e cultural que as bandas marciais trazem para o contexto escolar. Pesquisas e
estudos de caso que foram necessários para conhecer a prática de outras bandas e
a experiência de outros docentes que culminam na formação da concepção
pedagógica que a prática de banda concerne ao ensino de música e a um ensino-
aprendizagem que é significativo para os alunos.
O segundo capítulo traz uma breve história da Escola Agrícola de Jundiaí
além de uma exposição de todo seu contexto, tanto em questões físicas como
metodológicas, disposição de cursos, de alunato, entre outros. Conhecer o contexto
na qual é desenvolvido todo o trabalho faz-se necessário, uma vez para entendemos
melhor as possíveis dificuldades enfrentadas e os objetivos que foram alcançados
com a descrição do trabalho que se tem realizado na escola.
O terceiro capítulo trata especificamente sobre a experiência docente com a
Banda da Escola Agrícola de Jundiaí. Nele são apontados todos os aspectos da
prática musical na escola, desde a caracterização da instrumentação que o grupo
possui, passando pelas características e o perfil dos alunos participantes, a equipe
13
que desenvolve o trabalho com a banda (por se tratar de um projeto de extensão da
UFRN conta com bastante apoio), os principais objetivos que a prática possui dentro
da escola, a metodologia que é utilizada para o desenvolvimento do ensino de
música através da banda, as dificuldades encontradas no decorrer do trabalho anual
e os objetivos que foram (e são) alcançados com todo o processo desenvolvido.
No quarto e último capítulo faremos as considerações finais do trabalho,
trazendo à tona a reflexão sobre a prática de banda na escola, o caráter que ela tem
alcançado e a intenção sobre a qual o trabalho é realizado nesse meio escolar. Além
disso, refletiremos sobre a importância que esse processo de ensino-aprendizagem
tem para a educação musical e como os docentes em música podem fazer uso
dessa prática nas escolas de educação básica na qual possam vir a encontrar,
através deste relato de experiência docente.
14
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A trajetória da música envolvendo o círculo social explica a grande
importância de se utilizá-la como componente curricular obrigatório. A música, em
suas muitas características, é considerada uma cultura universal e, suas linguagens,
conteúdos usados em determinado país é o mesmo para todos os outros. Por isso,
deve-se ter em mente que a música está retornando como disciplina, uma vez que
nos tempos antigos já existia, mesmo sem tanto respaldo (SOUSA, 2013).
Para isso, a lei 11.769 de 18 de agosto de 2008 foi criada com o objetivo de
dar obrigatoriedade ao ensino de música na educação básica como componente
curricular obrigatório (mas não exclusivo), sendo sem sombra de dúvidas uma
enorme conquista para a educação musical em todo país, fazendo jus a uma batalha
de muitos anos almejando tal reconhecimento.
Para a professora e pesquisadora Magali Kléber1, a lei favorece o sentido de
que se deve considerar a diversidade cultural, não fechando o ensino de música em
conteúdos pré-estabelecidos, mas atribuindo os devidos valores das culturas locais
de cada região, abrindo cada vez mais espaço para discussões sobre o que se pode
fazer para melhorar a educação brasileira, uma vez que a escola ainda é
considerada o único espaço garantido constitucionalmente para toda a população.
Conclui dizendo que as práticas musicais se mostram como um fator potencialmente
favorável para a transformação social de todos os indivíduos e grupos que integram
e, a partir do momento em que se pode contar com o processo pedagógico-musical
incluído aos valores musicais de cada um, pode-se haver uma ampliação sobre o
consentimento de “ser músico” ou participar de algum grupo musical.
Tratando-se diretamente sobre a música no âmbito educacional após a lei,
um grande conflito que têm ocorrido atualmente é que, na maioria das vezes, a
música é vista como uma forma de lazer e entretenimento, sendo utilizada apenas
para ajudar em outras áreas do conhecimento, tornando-se não reconhecida por
muitos como componente curricular destinado ao abastecimento do conhecimento
musical em si. Nas palavras de Cruvinel (2003) o ensino de música nas escolas na
contemporaneidade concede aos alunos uma educação musical transformadora,
uma vez que esses poderão viver novas experiências tanto individualmente como
1 A professora Dra. Magali Kléber comenta sobre a Lei 11.769/08 que dá obrigatoriedade ao ensino
de música como componente curricular obrigatório no Boletim Arte na Escola n. 57, podendo ser acessado através do endereço: <http://abemeducacaomusical.com.br/artsg2.asp?id=20>.
15
coletivamente (CRUVINEL 2003 apud SOUSA, 2013). Notamos que partir dessas
experiências os alunos poderão vivenciar situações e dinâmicas, trabalhando
também a interação e a socialização com os outros colegas, contribuindo para uma
formação musical mais lúcida.
Tais discussões são fundamentais neste trabalho, uma vez que a Escola
Agrícola de Jundiaí (EAJ), sendo a escola onde foi desenvolvida a prática docente
de música através da banda da própria instituição, não possui em seu currículo o
ensino obrigatório de música. A banda é uma das atividades artístico-culturais
desenvolvidas na escola por meio de um projeto de extensão aprovado em edital
disponível pela Pró-Reitoria de Extensão da UFRN (PROEX) que entrou em vigor
desde o ano de 2013 e foi renovado nos anos de 2014 e 2015.
1.1. O ensino de música para adolescentes e jovens
Os jovens vivem diariamente muitas experiências, muitas vivências, sejam
elas no âmbito educacional ou fora dele. Relacionando-se a isso, a música também
está inserida no meio dessas vivências, pois pode ser encontrada em todo lugar. É
provável que este fato esteja sendo um dos motivos pelo qual os indivíduos em
questão não têm valorizado tanto o ensino de música na escola, vendo a música
apenas como uma diversão e/ou algo que não pode inteirar um currículo como as
demais disciplinas.
Esse aspecto entra diretamente em divergência com a lei que obrigatoriza o
ensino de música, já citada anteriormente e nós como futuros educadores musicais
e futuros atuantes nesses espaços de ensino devemos começar a articular nossos
saberes e buscar apresentar a esse público o real sentido do ensino de música,
independentemente da prática que seja desenvolvida no contexto escolar. Uma das
primeiras maneiras de se fazer isso é buscar atuar na escola considerando o aluno
como o objeto principal de estudo e que ele seja visto com sua vivência, sua
bagagem. Portanto faz-se jus ao pensamento de Libâneo (1994) quando ele
considera o aluno como o sujeito da aprendizagem escolar explicando que quando o
mesmo se encontra em situações propícias realizadas pelo professor, acaba
estimulando seu interesse por buscar conhecimento e experiências. Tais
experiências podem ser vivenciadas por trabalhos em grupos, atividades
cooperativas, estudos individuais, projetos de pesquisa, experimentos, entre outros
(LIBÂNEO, 1994, p. 65-66).
16
Mesmo com essas considerações, o ensino de música possui algumas
dificuldades para ser realizado, principalmente quando se tratam de adolescentes e
jovens que fazem parte do ensino fundamental II e do ensino médio. As escolas não
possuem a estrutura física necessária para a realização das aulas, a quantidade de
alunos é extremamente alta e, às vezes, não chega a comportar os mesmos de
maneira consideravelmente adequada. Não só com as aulas de música, mas
qualquer outra prática específica como o ensino de instrumento (bem ocorrente em
projetos que estão sendo inseridos nas escolas, como, por exemplo, o Mais
Educação) ou prática de canto coral também sofrem com as mesmas dificuldades.
As práticas escolares musicais desenvolvidas devem seguir com o
pensamento de que o jovem pode dar sentido à música como conteúdo,
despertando o desejo dele no aprendizado e no desenvolvimento de seu
conhecimento musical, abrindo espaço para aplica-lo também na escola. Com isso,
os trabalhos de bandas e fanfarras têm sido muito significativos no meio escolar,
podendo ser analisadas como “derivações do ensino de música na escola”
integrando o aluno no ambiente escolar e também contribuindo para a imagem
institucional onde este discente atua diretamente (CAMPOS, 2008, p. 103).
1.2 O aprendizado musical através da prática de bandas
Nas palavras de Silva (2010) a banda de música contempla um universo de
tradição artístico cultural com uma grande importância para a comunidade, tanto no
aspecto de entretenimento quanto no aspecto educacional (SILVA, 2010, p. 23).
Além disso, essa prática apresenta diferentes funções sociais juntamente com os
aspectos musicais. Essa função social pode ser vista nas escolas por englobarem
muitas experiências e vivências diferentes encontradas nos alunos participantes,
como cita Campos (2008) ao dizer que:
É importante considerar não apenas os aspectos ligados à prática musical, mas aos conhecimentos resultantes das relações de socialização, inclusive aqueles produzidos na escola – lugar onde as relações sociais e as práticas musicais se configuram de forma particular (CAMPOS, 2008, p. 107).
Além dessa função social, o que pretendemos analisar também é o aspecto
pedagógico que essas corporações propiciam aos seus participantes, principalmente
no que se refere ao conhecimento musical trabalhado e adquirido por eles. Para
isso, evidenciam-se os trabalhos de Rosin (2003), Campos (2008), Cislaghi (2011) e
Silva (2012) que expõem e discutem, além da história e função social das bandas na
17
qual desenvolveram suas pesquisas, o aprendizado musical dos alunos através de
estudos de caso e entrevistas com esses participantes de bandas marciais e
fanfarras, refletindo sobre o que essa prática significa na profissionalização quanto à
música e na concepção do conhecimento musical trabalhado pelos grupos. Além de
todo o aprendizado musical que se faz presente, podemos ver que a categoria de
bandas marciais e fanfarras possuem uma “forte relação com os campeonatos,
inspirada no militarismo e em bandas estudantis do cenário norte-americano, em
que a música, a dança e a marcialidade se unem em uma só corporação em busca
de uma performance satisfatória” (SILVA, 2012, p. 17).
Campos (2008) em sua pesquisa constata como conclusões acerca do
aprendizado musical das bandas e fanfarras uma pouca exploração de
conhecimentos dos elementos musicais, da criatividade e da percepção auditiva.
Isso porque a urgência no domínio do repertório específico acaba resultando em
uma falta de ensino musical, ocasionando em um envolvimento quase exclusivo com
as apresentações públicas (CAMPOS, 2008, p.110). A partir desses resultados
vemos, mais uma vez, a relevância em conhecermos quais são as metodologias que
os contextos de bandas têm optado por utilizar no desenvolvimento do seu trabalho,
se consideram a educação musical como parte importante da prática e se a mesma
tem contribuído para a formação musical dos participantes.
Além das pesquisas que evidenciam as bandas de forma específica, outras
contribuições teóricas fazem parte deste trabalho, como as de Bellochio (2003) e
Morato (2009) que refletem sobre a formação docente do aluno do curso de música
nos seus diferentes contextos de atuação, buscando construir os sentidos sobre
essa formação como músico profissional e também do professor de música que
atuará na escola básica e em outros espaços educacionais. Tais compreensões e
reflexões são necessárias, uma vez que o docente em atuação ainda estuda na
graduação de licenciatura em música e precisa utilizar-se de saberes teóricos e
práticos para o desenvolvimento do seu trabalho com a banda da instituição em que
é bolsista-professor. Isso se dá através dos relatos apresentados por Morato (2009)
realizados a partir de entrevistas com diferentes estudantes da graduação em
música que já atuam como docentes e constroem essa relação de estudar e
trabalhar na área de música, nos diferentes espaços educacionais.
Compreender as diferentes pesquisas apresentadas nos ajuda a fomentar
uma relação mais significativa do ensino de música para com as bandas, mesmo
18
que, em muitos contextos escolares não se presencie tal prática, em outros a
relação dos alunos com a música realizada através da atividade é eminente. Faz-se
necessário uma relação com a atividade desenvolvida na banda da Escola Agrícola
de Jundiaí, uma vez que o grupo, não necessariamente, se encaixa no mesmo
modelo pedagógico-musical que as bandas analisadas, mas que ainda sim, possui
uma metodologia de trabalho que é presente na área da educação musical
tornando-se significativa para os que participam.
19
2. A ESCOLA AGRÍCOLA DE JUNDIAÍ
Neste capítulo, discorreremos brevemente sobre a Escola Agrícola de
Jundiaí, descrevendo sua estrutura física, quantidade de alunos e disposição dos
cursos para que possamos entender melhor sobre o campo de trabalho na qual foi
(e ainda é) desenvolvida essa experiência. É importante fazer saber que participei
como integrante da Banda quando cursava o ensino médio na instituição e agora
atuo como bolsista/regente e responsável pela prática musical, após o meu ingresso
no Curso de Licenciatura em Música da UFRN.
Iremos ver que a escola possui, em sua história, uma rica quantidade de
mudanças que se deram de acordo com o tempo que passara, transformando-a em
uma instituição de grande porte, sendo uma Unidade Acadêmica Especializada da
UFRN conhecida como campus de Macaíba, tendo ofertas de vários cursos técnicos
de graduação, especializações e mestrados na área das ciências agrárias.
2.1 Uma breve história da instituição
A Escola Agrícola de Jundiaí foi criada pela lei nº 202 de dezembro de 1949,
como “Escola Prática de Agricultura”, localizando-se na antiga Fazenda Jundiaí, com
distância de 3km do Município de Macaíba e a 25km de Natal, capital do estado do
Rio Grande do Norte2.
Alguns anos depois, em virtude do decreto nº 61.162, de 16 de agosto de
1967, foi incorporada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
passando, posteriormente, sua denominação para Colégio Agrícola de Jundiaí
(CAJ). Com a resolução nº 006/2002 – CONSUNI (Conselho Universitário), de 16 de
agosto de 2002, que provou modificações e alterações no Regimento Geral da
UFRN, a unidade recebe a denominação (que permanece até hoje) de Escola
Agrícola de Jundiaí.
Em dezembro de 2007, através da resolução nº 11/2007 – CONSUNI, a
Escola Agrícola de Jundiaí passa da condição de Órgão Suplementar para Unidade
Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias, sendo integrada à estrutura
acadêmica e administrativa da UFRN. Conta com os cursos técnicos de Informática,
Agroindústria, Agropecuária, Agricultura e Aquicultura e também com a modalidade
subsequente (para os alunos que já concluíram o ensino médio), tendo como opções
2 Todos os dados sobre a história da Escola Agrícola de Jundiaí aqui referenciada podem ser
encontrados no endereço: < http://www.eaj.ufrn.br/site/>.
20
os mesmos cursos citados. Os cursos de graduação são: Zootecnia, Engenharia
Florestal, Agronomia e o de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas;
e pós-graduação em: Produção Animal e Ciências Florestais. Além disso, a Escola
também é um polo do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(PRONATEC), ampliando e oportunizando o estudo para diversos moradores da
comunidade e da cidade de Macaíba, além de outros municípios vizinhos.
Um detalhe muito interessante sobre a instituição é que a Escola Agrícola de
Jundiaí é a única escola do município que conta com todas essas modalidades de
ensino, programas de graduação e pós-graduação, além do PRONATEC no mesmo
espaço educacional.
2.2 Sobre a estrutura física e a disposição de alunos e cursos
A estrutura física da Escola Agrícola de Jundiaí é enorme, considerando-se
um verdadeiro complexo educacional, dispondo de vários prédios, salas de aulas,
laboratórios, áreas de lazer, quadra de esportes, restaurante universitário (ou
refeitório), alojamentos para alunos internos, dentre muitos espaços.
Sua área física construída está além de 30.000 m², instituindo-se de espaço
para criação de animais, produção de produtos apícolas e para as atividades
práticas dos cursos como: pomar, horta, aviário, centro de manejamento de suínos,
centro de manejamento de bovinos, galpão de pesquisa para suinocultura,
abatedouro de animais, estação de piscicultura, cotonicultura, caprinocultura,
apiário, demonstrando que realmente é uma instituição preparada para a prática das
ciências agrárias em uma totalidade.
O prédio da diretoria dispõe de alguns anexos como: coordenação de cursos
do PRONATEC e coordenação das atividades de extensão da escola. Há também
um prédio destinado para as coordenações dos cursos de: Agropecuária,
Agroindústria, Coordenação de extensão desses cursos, copa e sala de professores
em um só local. O ensino médio também dispõe de seu próprio prédio, dispondo de
sala dos professores, sala onde ocorrem as aulas dos alunos, auditório e o refeitório
que fica inserido como um anexo no prédio. O setor de informática também dispõe
do seu local com copa, salas de aula e laboratórios para atividades práticas.
O prédio da biblioteca fica próximo ao setor de informática, que também se
torna próximo do setor de aulas dos cursos de Agropecuária. O curso de
Agroindústria possui um laboratório para análise e desenvolvimento de atividades
21
com leite, além de duas salas de aula, onde ocorrem os ensinamentos teóricos das
disciplinas do curso. Há também um prédio destinado ao curso de Aquicultura que
fica bem próximo de onde foi construído o novo restaurante universitário. Ambos os
prédios são instalações que foram construídas recentemente.
A secretaria da escola é responsável por todos os documentos relacionados
aos alunos que estudam na instituição, desde o ensino médio até os cursos técnicos
integrados e subsequentes, além de ficar próximo ao prédio do ensino médio,
possuindo um espaço considerável em relação às demais construções da escola. O
prédio onde ocorrem os cursos de graduação e pós-graduação é totalmente novo,
dispõe de várias salas de aula e laboratórios. Existe outro prédio que também é
novo chamado de CVT (Centro Vocacional Tecnológico), onde ocorrem as aulas da
graduação em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de sistemas, além de
comportar os laboratórios de Química, Física e Biologia.
A instituição comporta uma enorme quantidade de alunos, divididos em
diversas faixas etárias devido à variedade de cursos e atividades que a escola
dispõe, sem contar com os cursos do PRONATEC que acontecem no turno da noite
e agregam muitos discentes devido aos vários cursos oferecidos pelo programa.
Muitos dos alunos que estudam na escola são de outras cidades vizinhas e
comunidades, integrando-se ao internato devido à distância de suas localidades.
A Escola Agrícola de Jundiaí pode ser considerada uma instituição repleta
de variedades culturais, justamente por causa dos alunos e cursos que recebe. Tem
se tornado, a cada dia, uma unidade importante dentro da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. Prova disso é que a escola tem optado por desenvolver
diversas atividades no meio agrário, como a Semana das Ciências Agrárias
(SEMAGRÁRIA), que é um importante evento que envolve toda a comunidade da
UFRN oportunizando ainda mais o contato com a área, agregando valores com a
socialização dos cursos e o desenvolvimento profissional de todos os alunos que
realizam as modalidades técnicas integradas e subsequentes, além da graduação e
pós-graduação.
22
3. RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE NA BANDA DA EAJ
A prática docente com a Banda da Escola Agrícola de Jundiaí tem revelado
muitas situações de ensino aprendizagem, principalmente no que se refere ao
conteúdo de música, sendo a banda uma das atividades de cunho musical presentes
na escola.
O desejo em participar do grupo parte dos alunos à medida que a prática os
oferece algo em troca seja o aprendizado musical adquirido, seja a oportunidade de
tocar um instrumento e participar de uma atividade musical na própria escola. Outra
motivação pode ser as apresentações que a banda realiza durante as viagens para
tocar em outras cidades e o reconhecimento e prestígio que o grupo tem adquirido
ao longo dos anos por onde passa. É tanto que o desejo de muitos se dá justamente
porque já viram a banda se apresentar na sua cidade e acharam que desfilar
tocando era muito bonito.
Neste relato, apresento a minha prática como docente deste grupo,
buscando refletir a minha experiência como bolsista-professor de música que têm
sido adquirida e enriquecida em todos os anos que já venho trabalhando com eles
(desde 2013). Apresentarei os principais pontos, os objetivos do trabalho com a
banda e as dificuldades enfrentadas com a prática musical buscando sempre optar
pelas melhores alternativas para se realizar um trabalho musical digno e uma
formação docente significativa nesse meio de ensino-aprendizagem de música.
3.1 Sobre a Banda
A banda da Escola Agrícola de Jundiaí retornou as atividades no ano de
2007 através de um professor de matemática da instituição que possuía experiência
com bandas militares. Esse docente chamado Evilásio Paiva resolveu retomar a
prática para apresentar-se no desfile cívico que ocorre anualmente no mês de
setembro na cidade de Macaíba. Ele conduziu a prática com o grupo até o final de
2009. Evilásio faleceu no início do ano de 2010 e a partir daí a banda passou a ser
conduzida por alunos e ex-alunos da escola, sendo esses participantes que eram
muito ativos da Banda da EAJ e auxiliavam o professor com a prática.
Não sendo possível existir uma atividade sem a participação de um servidor
da UFRN como responsável pelo grupo, foi submetida uma proposta de atividade de
extensão ao edital NAC/PROEX 001/2013, sendo a mesma aprovada e concedida
23
três bolsas para alunos, que logo, através da parceria com docentes da EMUFRN,
foram indicados, a exceção minha, que já era bolsista na EAJ e conhecia os
professores que coordenavam o Projeto e por isto fui indicado.
As atividades desenvolvidas no projeto se remetem à banda e a atividade de
canto coral, onde esta segunda também acontece desde o ano de 2013 sob a
responsabilidade de bolsista do mesmo projeto, orientado também por professores
da EMUFRN e da coordenadora do projeto.
3.2 Equipe de trabalho
O projeto foi escrito pela professora Viviane da Silva Medeiros que é
professora da EAJ. Além dela, conta com o apoio de professores da EMUFRN e
professores da própria escola, inclusive tendo como coordenador adjunto o
professor Eronilson Vieira da Silva que durante o ano de 2014 foi meu orientador de
bolsa e demais colaboradores responsáveis pela prática da banda na escola
referentes a apresentações, viagens e também com algumas partes de apoio
burocrático do projeto.
Inicialmente, a aprovação do projeto em 20133 remeteu três bolsas que
foram destinadas a alunos da graduação em música da EMUFRN. Fui convidado a
participar do projeto pela professora coordenadora no momento em que eu
desenvolvia um trabalho de apoio técnico no período 2011-2012 na EAJ. Através de
conversas comigo, ela descobriu que eu cursava a Licenciatura em Música.
Inicialmente, ela comentou sobre a escrita do projeto e me convidou a participar
como voluntário, ajudando no que fosse necessário. Só que, depois de aprovado, o
projeto recebeu três bolsas e eu fui contemplado com uma delas.
A outra bolsa era para o regente do coral e a terceira, para um aluno que
viesse a ajudar no trabalho direto com a banda, onde essa foi dada a um discente do
curso Bacharelado em trompete. Além das bolsas, a banda contou com um
colaborador externo à instituição que possuía muita experiência e vivência com
bandas militares, tendo feito parte dessas corporações na época em que servia às
3 O projeto iniciou suas atividades em 2013, sendo aprovado através do edital NAC/PROEX 001/2012
com o título “Banda Marcial da Escola Agrícola de Jundiaí – Atividade artística para todos”. No ano seguinte (2014), renovou a aprovação pelo edital NAC/PROEX 001/2013 com o título “Coro e Banda Marcial da Escola Agrícola de Jundiaí - Encantando pela música”. Agora em 2015, o projeto novamente está vigorando através de aprovação do edital NAC/PROEX 001/2014 com o título “Coro e Banda da Escola Agrícola de Jundiaí – Encantando pela música”. Faz-se necessário atentar para essas informações, com o propósito de entendemos que anualmente o projeto vai sendo renovado dando continuidade ao trabalho.
24
forças armadas. Este foi convidado a ser o maestro da banda da EAJ, atuando junto
comigo e o outro bolsista. O que aconteceu é que, o aluno de trompete acabou
deixando o projeto antes mesmo das apresentações de setembro do referido ano
por questões pessoas e inviabilidade de estar presente nos ensaios. O maestro Sr.
Antônio Lauriano Neto atuou durante todo o ano de 2013 e até junho de 2014,
deixando o projeto por questões particulares. Sua atuação com a banda nos deixou
uma imensa contribuição e para mim, particularmente, que obtive muito aprendizado
com esse senhor que sempre demonstrou muito interesse em compartilhar suas
experiências.
Figura 01: Foto com o Maestro (centro) e o bolsista de percussão (direita).
Fonte Viviane Medeiros.
No ano de 2014, em reunião antes da aprovação do projeto para o ano, um
novo bolsista foi contratado, este sendo discente do curso técnico de percussão e
também da graduação em licenciatura em música (ver figura 01). Este também foi
indicado por professora da EMUFRN devido ter um caráter mais voltado para o
objetivo da banda, pois os instrumentos são quase todos de percussão. A ideia era a
busca por aprimorar e trabalhar a técnica dos instrumentos, já que este discente
estava totalmente ligado ao contexto percussivo, tendo ainda mais disposição
técnica e conhecimentos acerca dos instrumentos utilizados na banda. Infelizmente,
no final do ano de 2014, este bolsista também saiu do projeto por não poder mais
comparecer aos ensaios devido a vínculos empregatícios que o mesmo possuía e
por alegar que não ia mais conseguir comparecer devido à carga horária destinada
25
por ambos os cursos em que ele é discente, tanto o técnico, quanto a licenciatura
para o referido ano.
Com a aprovação do projeto 2015, a professora coordenadora foi
contemplada com mais uma possibilidade de bolsa, totalizando-se agora em quatro.
Ela pediu na descrição do projeto e foi autorizado pelo NAC/PROEX. Sendo assim, a
nova equipe de trabalho para este ano possui novidades: entrou um novo bolsista
para atuar com a banda e outro para auxiliar o regente do coral junto com o que já
estava antigamente. Esse bolsista da banda é membro do grupo desde o ano de
2008, bastante ativo na EAJ e foi contemplado por ser um aluno atuante e
interessado, que sempre contribuiu com a prática da banda na escola, sendo ele,
inclusive, um dos responsáveis por conduzir o grupo durante o ano de 2012, após o
falecimento do professor Evilásio. Na aprovação do projeto em 2013, esse bolsista
foi meu aluno tocando com o grupo desde que o projeto está em atividade. Hoje,
está me ajudando na regência e nos aspectos técnicos e organizacionais da banda.
Este ano de 2015 atuei como regente, sem auxílio de um regente
profissional, mas continuo pelo projeto sendo ligado aos professores da EMUFRN
com quem posso contar quando necessário. Além das atividades com instrumentos,
venho ministrando aulas de teoria musical e conto com outro colega bolsista atuando
como meu auxiliar voltado para a prática instrumental percussiva. Quanto aos
demais coordenadores, membros apoiadores do projeto, como os professores da
EMUFRN e os da EAJ, sofreram modificações desde o projeto inicial em 2013, pois
em 2014 novos professores da EMUFRN também entraram para o projeto, inclusive
trazendo oficinas musicais durante o ano de 2014.
3.3 Participantes
Os participantes da banda são alunos do ensino médio integrado com o
curso técnico, alunos de graduação, alunos dos cursos técnicos subsequentes e
também moradores da cidade de Macaíba. As faixas etárias variam entre 14 e 25
anos e todos possuem vivências diferentes e alguns até já possuem conhecimentos
básicos em música. Além deles, o projeto também é aberto para professores e
funcionários da EAJ, buscando comportar o maior número de participantes possível,
sem distinção de idades.
Em 2013 tivemos a inscrição de 120 alunos desejosos em participar do
projeto, divididos entre a banda e o coral, mas em sua maioria, querendo ir para a
26
banda. Com o início das atividades, muitos desses alunos começaram a evadir-se
do projeto e encerramos o ano com 50 participantes. Já em 2014, a procura pela
banda foi bem menor devido a não divulgação nas salas (como fizemos em 2013) e
a quantidade total foi de 55 participantes. Hoje, em 2015, inscreveram-se 75 alunos
para participar, mas com o início das atividades, novamente houve a desistência de
alguns e contamos com a permanência de 45 participantes ativos na banda.
Em 2007, os cursos de graduação ainda não aconteciam na escola e a os
cursos técnicos que existiam eram apenas o de informática e o de agropecuária.
Portanto os participantes da banda se davam somente por alunos do ensino médio
integrado com o técnico e os cursos técnicos subsequentes ao ensino médio. Os
professores da instituição mais envolvidos com a prática da banda eram Evilásio, um
dos professores de português que o auxiliava no que era preciso e uma professora
de educação física que ficava responsável pelas balizas4.
Acontece que com o decorrer dos anos, a banda foi comportando algumas
pessoas da comunidade que desejavam participar e que não precisavam se
enquadrar a nenhuma “regra”, como ser aluno da instituição, ter vínculo com a
UFRN, como a gente tem no projeto de hoje. Bastava apenas que esse participante
fosse assíduo, interessado, participasse dos ensaios e desenvolvesse a prática
instrumental nivelada com o grupo. Essa é outra característica que, a meu ver,
acaba sendo exclusiva para aqueles que já possuem alguma vivência ou já
participaram de alguma banda ou prática correspondente. Ou seja, algum aluno que
deseja participar, mas que não tem nenhum conhecimento prévio sobre banda ou
nunca tocou na vida, acaba sendo excluído do grupo por não conseguir acompanhar
os demais que já eram “experientes”. A oportunidade era dada igualitariamente, só
que, no decorrer dos ensaios, os monitores acabavam chegando para o aluno que
não estava conseguindo acompanhar e o alertavam que ele não estava
desenvolvendo os toques ou a marcha junto com o restante do grupo,
consequentemente fazendo com que esse aluno desistisse de participar da banda
por constrangimento ou até mesmo sendo convidado a se retirar. Como futuro
educador musical, hoje eu consigo compreender o quão errado era essa atitude de
excluir o aluno por causa do seu pouco desenvolvimento durante os ensaios, não
4 As balizas são componentes do grupo que executam movimentos acrobáticos (similares à ginástica
rítmica desportiva), que portam bastão e/ou outros aparelhos como bolas, arcos, fitas, entre outros (ROSIN, 2005, p. 9). As balizas desfilam a frente da banda realizando, também, algumas coreografias que embelezam o desfile e somam com o grupo, fazendo parte do chamado corpo coreográfico.
27
investindo em um processo de aprendizagem que fosse voltado para o objetivo de
realmente ensiná-lo e fazer com que ele pudesse aprender a tocar e que o grau de
desenvolvimento que ele adquirisse, dependeria muito do que ele praticara, pelo seu
esforço e o quanto se interessaria também. Além disso, algo que faltava era o
interesse em se preocupar com a socialização dos membros da banda, uma vez que
os instrumentistas mais antigos poderiam contribuir com esses alunos novos através
das experiências que já possuíam.
3.3.1 Perfil dos participantes
Com as várias faixas etárias diferentes, os alunos mostram-se muito
desejosos em participar da prática musical. Muitos deles são bem novos, porque
como a escola é de ensino médio, então os alunos novatos que ingressam no
primeiro ano são os que mais se mostram interessados. A permanência deles é
durante os três anos do ensino médio e muitos continuam com o decorrer dos anos,
mas mesmo assim, ingressam muitos alunos novatos.
Os novatos ouvem muito falar da banda assim que entram na escola. Um
dos alunos desse ano nos contou que fez a prova para ingressar na EAJ com o
objetivo de participar da banda, além do estudo na instituição. Para nós, esse fato é
muito interessante porque entendemos que a prática desperta o desejo do
aprendizado musical dos alunos e principalmente o desejo com esse contato
musical, demonstrando também a importância que se têm uma atividade como essa
dentro da escola.
Atualmente, a banda não conta com nenhum professor ou funcionário como
participante. Os alunos mais velhos são os que estudam a graduação e os que
fazem o curso subsequente na escola, posterior ao ensino médio. Desses, não são
muitos que se interessam, mas paralelamente, existem alguns deles que estão
desde o ano de 2008 e continuam na escola até por terem algum vínculo ou fazerem
algum curso e continuam tocando na banda.
3.3.2 Experiências e vivências dos alunos participantes
Muitos dos ingressantes possuem pouco ou nenhum tipo de vivência na área
de música relacionada à prática de banda. O desejo deles de participarem é
justamente pelo fato de quererem aprender, ter a oportunidade de entrar no grupo
porque veem tudo o que acontece com relação aos desfiles, apresentações,
28
fardamento além de tocarem um instrumento de percussão e, sem dúvida, esses
aspectos chama-os muito atenção. Mesmo tendo os que nunca sequer tocaram um
instrumento ou não sabem nem os nomes, existem também aqueles que já possuem
experiência, já participaram de bandas, grupos musicais nas escolas que estudaram
antes de ingressar na EAJ. Alguns deles tocam em banda há 10 anos, por exemplo,
como um dos alunos que temos esse ano. Ou seja, esse possui uma vivência muito
grande e pode nos auxiliar com seus conhecimentos e também pode obter
aprendizagem de outra forma de banda, pois cada um possui uma identidade própria
e a que desejamos desenvolver esse ano já se enquadra em uma metodologia
diferente das que vinham sendo desenvolvidas nos anos anteriores.
Na escola há alunos que tocam instrumentos de sopro, possuem seu próprio
instrumento e, inclusive, participam de grupos musicais como bandas de forró,
orquestras filarmônicas na cidade em que residem. Esses possuem um
conhecimento básico em música, notação musical e, sabendo que eles estudam na
EAJ, decidimos, esse ano, convidá-los a fazer parte do grupo da banda com o
desejo integrar sopro e percussão. Esse sempre foi um dos objetivos de todos que já
participamos, mas infelizmente a única oportunidade que tivemos de obter sopros na
banda foi em 2012, que havia alunos instrumentistas que escolheram um repertório
que se adequava aos toques que eram executados pela percussão e se
apresentaram nos desfiles cívicos. Usaram as cornetas que a banda dispõe, além de
trombone e trompete que foram emprestados pela Escola de Música da UFRN.
3.4 Instrumentação
A banda possui, em sua disposição instrumental, uma grande totalidade de
instrumentos de percussão sendo estes divididos entre taróis, caixas, bumbos,
surdos, treme-terras, pratos, liras e algumas cornetas sem pisto que hoje estão sem
uso devido à falta de pessoas que saibam tocá-las. Esses instrumentos são
específicos de uma fanfarra, que é uma categoria de banda e podem possuir
instrumentos de metal simples (cornetas) e os instrumentos de percussão (que são
considerados o ponto mais forte da fanfarra). Sendo assim, até hoje, a banda da
EAJ dispõe dos mesmos naipes de instrumentos, desvinculando apenas as liras por
estarem desafinadas e as cornetas, como já foi falado.
Os instrumentos ficam guardados em uma sala-anexo da sala de educação
física, onde ocorrem as atividades da disciplina na escola. Essa sala-anexo não é
29
adequada para esse estoque dos instrumentos por ser pequena, necessitando que
alguns deles fiquem uns em cima dos outros por causa do tamanho (como os treme-
terras, por exemplo), mas por não ter um local específico e adequado, é o único
lugar onde esses instrumentos podem ser guardados. Um dos problemas é que as
peles podem acabar rasgando se não houver cuidado até mesmo quando se está
andando pela sala para pegá-los na hora do ensaio e também por ficarem em cima
uns dos outros, justamente por causa do pouco espaço que a sala dispõe. Os
materiais necessários para execução desses instrumentos que são os talabartes e
baquetas também ficam nessa sala, dentro de uma caixa de papelão, tudo junto. Na
época em que a prática da banda ainda não era projeto, era da mesma forma, os
instrumentos ficavam na mesma sala, mas a única diferença era que os talabartes e
baquetas ficavam com os alunos participantes que eram mais experientes. Isso era
ruim porque acabava excluindo aqueles que desejavam participar, mas não
possuíam os materiais e tinham que esperar a hora do ensaio e do revezamento de
instrumentos para poder usá-los e tocá-los. Eu mesmo, na época em que era
participante do grupo, tinha os talabartes e baquetas cedidos pela escola guardados
comigo e levava para os ensaios, emprestando para os demais alunos e depois
recebendo novamente. Esse material sempre ficava comigo e eu tinha prioridade em
tocar primeiro nos ensaios, justamente por ser considerado um dos alunos que
demonstravam mais aptidão para a execução dos toques que eram ensinados e
ensaiados pelos monitores do professor regente.
Atualmente, nossa organização e controle quanto aos materiais acabou
mudando e eles hoje são comprados pelo projeto e emprestados aos alunos. A ideia
de devolverem esse material sempre que terminasse o ensaio foi nossa, uma vez
que notamos a necessidade de priorizar aos alunos novatos, oportunizando o ato de
eles chegarem para o ensaio e usarem os instrumentos, justamente porque os
talabartes e baquetas já estariam junto deles.
3.5 Objetivos da Banda
O projeto foi escrito com o objetivo de dar continuidade à prática da banda e
integrar o coral como atividade artística da escola. Segundo o relato da professora
coordenadora, as atividades com a banda não poderiam continuar sem que
houvesse um servidor responsável por ela. Notadamente com a ausência do
professor Evilásio Paiva, a banda foi comandada entre 2010 e 2012 por alunos e ex-
30
alunos participantes do grupo que decidiram dar continuidade ao trabalho que vinha
sendo realizado. Esses alunos contavam somente com o apoio da direção da escola
relacionado ao consentimento de que podiam realizar os ensaios no horário do
almoço na quadra, ficando responsáveis pela manutenção e organização dos
instrumentos, a confecção do fardamento e a preparação do grupo para o desfile
cívico em setembro na cidade de Macaíba.
Vale lembrar que os rapazes que ficavam diretamente à frente, solicitavam
as necessidades da banda ao diretor da escola, pediam auxílio para a compra de
peles, talabartes, baquetas, esteiras para os instrumentos, pediam prioridade na fila
do almoço para que os participantes pudessem chegar pontualmente no ensaio e
isso tudo lhes era concedido, mediante o diálogo entre os envolvidos (alunos,
direção e coordenação da escola), documentos como orçamentos de materiais,
memorandos para as viagens e etc. Ou seja, a escola sempre ajudou no
desenvolvimento da atividade com a banda.
Algo importante a citar é que segundo a resolução nº 53/2008 – CONSEPE,
uma das definições importantes do edital que vigora os projetos de extensão da
UFRN, como o que a banda se enquadra diz:
Art. 5º: São considerados Projetos de Extensão Universitária propostas de atuação na realidade social, de natureza acadêmica, com caráter educativo, social, artístico, cultural, científico ou tecnológico, e que cumpram os preceitos da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, desenvolvidas de forma sistematizada.
Podemos ver que a proposta na qual o projeto se encontra segue de acordo
com os preceitos necessários para ser considerado um projeto de extensão da
UFRN, uma vez que atua diretamente com a comunidade acadêmica (a própria
EAJ), através de caráter educativo e artístico (prática musical) e também social,
englobando os demais membros das comunidades vizinhas e a cidade de Macaíba
como já foi dito anteriormente.
Outro objetivo agora como projeto é justamente a preocupação com o aluno
que possui pouco ou nenhum conhecimento musical, que nunca participou de um
grupo, que nunca obteve nenhuma vivência com banda ou com nenhuma prática
musical. As inscrições são feitas para todos sem distinções de conhecimento, e
aqueles que nunca pegaram ou não sabem nem o nome do instrumento são
convidados a participar da banda e têm um olhar mais cuidadoso por parte da
equipe que está à frente para conduzir o grupo.
31
Finalizando essa demanda de objetivos, a banda deve se apresentar duas
vezes durante o ano para cumprir as solicitações do edital, sendo também prioridade
suas apresentações no âmbito da UFRN. Anualmente a banda tem participado nos
desfiles cívicos, tanto da cidade de Macaíba como dos municípios na qual é
convidada contanto que não prejudique as atividades dos alunos. O cumprimento
dessa carga horária de apresentações tanto na universidade como fora dela, deve
ser registrado, seja por meio de fotografias e/ou relatos realizados pelos
coordenadores do projeto e também pelos bolsistas atuantes.
As apresentações no desfile cívico de Macaíba e as viagens que a banda
realiza para se apresentar, por exemplo, já viraram uma tradição para a escola e
para com a prática, acontecendo desde 2007. A partir de 2013 essas viagens
sempre contam com os protocolos de segurança para que todos os participantes
estejam de acordo com as normas da instituição UFRN.
3.6 Metodologia de trabalho
A metodologia de trabalho proposta desde 2013 é através de dois dias para
ensaios e um dia destinado a aulas de teoria musical. Pensamos muito em relação a
adotar essa forma de trabalho e acabou-se decidindo isso em reunião, junto com a
equipe dos professores que apoiam o projeto da banda diretamente da EMUFRN.
Como a minha formação é voltada para o ensino de música devido a ser
licenciatura, então eu fiquei, inicialmente, responsável pelas aulas de teoria e
musicalização, como era intitulada na descrição do projeto, além de auxiliar nas
questões burocráticas relacionadas ao projeto, como protocolos de viagens
(utilizados para as viagens da banda), solicitação de materiais, orçamentos, entre
outras coisas.
3.6.1 Prática de ensaios
Os ensaios ocorrem na quadra de esportes localizada na própria escola e o
horário para a realização é de 12h às 13h, totalizando uma carga horária semanal de
três horas, contando com as aulas de teoria musical que ocorrem na sala de aula,
também na escola. Os ensaios acontecem nesse horário porque os alunos estudam
pela manhã e a tarde5, então o único horário livre para realização do projeto é no
5 Devido à modalidade de cursos integrados, os alunos têm aulas do curso técnico pela manhã e do
ensino médio à tarde, ou vice-versa. Essa disposição varia de acordo com o curso e a carga horária.
32
horário do almoço. Não pode ser no início da noite, quando terminam as aulas da
tarde, pois muitos dos participantes são semi-internos, ou seja, só ficam na escola
das 7h da manhã até às 17h da tarde e precisam ir pra casa depois de encerrado o
horário escolar.
Todas as atividades esportivas que ocorrem na escola, como treino de
futsal, treino de voleibol, são nesse horário de 12h até 13h pelo mesmo motivo
mencionado anteriormente. É tanto que precisa haver uma negociação de utilização
da quadra justamente para não haver nenhum tipo de choque entre as atividades.
Só que, mesmo com a negociação de horários, ainda acontecem choques, tornando-
se uma das causas de divisão de atividades por parte dos alunos onde eles
precisam estar escolhendo em que vão participar naquele dia.
Outro espaço que temos utilizado (e muito) para a realização dos ensaios é
ao ar livre. Existem algumas árvores pela escola, na qual estamos ensaiando sob
suas sombras. É uma boa opção porque podemos ter a noção do som dos
instrumentos fora da acústica da quadra e também pela disposição do local que é
parecido com os que enfrentamos nos desfiles que participamos. Assim podemos
ajeitar o alinhamento, as fileiras e etc. A parte ruim é que, mesmo sendo debaixo de
mangueiras, ainda há sol sobre os alunos e isso os incomoda muito, e que pode até
ser considerado um fator que causa desmotivação em alguns deles.
Considerando os ensaios que realizamos com os instrumentos nos devidos
locais, também optamos por ensinar os fundamentos básicos de ordem unida. Esse
procedimento é necessário para a banda, uma vez que, o conceito de marcialidade
está totalmente ligado à marcha que se utiliza nos deslocamentos do grupo. A
ordem unida faz parte das atividades militares, estando diretamente ligado à marcha
que é executada nos desfiles. É um sistema que deve ser realizado de forma
harmônica, indicando comandos que o grupo, tropa, banda deve executar. Dentre os
objetivos da ordem unida, disciplina, senso de grupo, autocontrole podem ser
listados e vistos em bandas de música, bandas marciais, por exemplo. Certamente,
a ordem unida deixa o grupo com características chamativas, pois os participantes
ficam dispostos todos da mesma forma, executando os mesmos movimentos e isso
é o que embeleza ainda mais aquilo que é realizado. É um trabalho muito
complicado porque envolve concentração no que está sendo feito e nos comandos
que são dados, seja pelo maestro, ou até mesmo por algum instrumentista da banda
executando algum tipo de rudimento. Utilizamos os conceitos de ordem unida para
33
alinhamento, postura do instrumentista, postura do instrumento, conceitos de
lateralidade (direita e esquerda), além de ser uma preparação para a marcha que é
executada juntamente com o toque dos instrumentos e trabalhando, com ênfase, o
andamento quando estamos em deslocamento e/ou até mesmo tocando parados.
Além disso, buscamos com a prática deixar o grupo muito mais organizado para as
apresentações.
Quando me alistei para as forças armadas, eu fiz os testes necessários para
ingressar no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR) e, durante duas
semanas que foram utilizadas para realizar a seleção dos 25 alunos que
ingressariam no curso, tivemos aulas de ordem unida. Fomos ensinados pelos
sargentos os conceitos básicos e, durante alguns dias, tínhamos um momento em
que deveríamos realizar o que eles ensinavam. Isso já era uma preparação para
aqueles alunos que, posteriormente, iriam ingressar no curso. Infelizmente, eu
acabei sendo dispensado, mas o aprendizado que tive, mesmo que em pouco
tempo, sobre ordem unida, eu uso para aplicar no trabalho com a banda e sempre
que os alunos me perguntam o porquê de estarem realizando aquilo, eu explico que
é algo utilizado nas tropas militares e que vemos em bandas marciais, de música e
etc. Além de realizar, mostro-os os comandos através de vídeos para que eles
realmente se inteirem do que fazem e possam tirar suas próprias conclusões sobre a
necessidade da prática no meio da banda.
Complementando esta didática trabalhada nos ensaios práticos, remeto-me
aos conhecimentos adquiridos nas aulas da disciplina de Regência I durante o curso
de licenciatura em música na EMUFRN. Todo o meu empenho durante a condução
dos ensaios, a troca de toques, até mesmo os comandos de ordem unida advém da
prática de regência. Sem dúvida se não fosse ela, eu poderia demonstrar
insegurança ao estar à frente do grupo e isso é algo que o regente não pode passar
para os alunos. Muito pelo contrário, quanto mais segurança se passa, mais os
alunos demonstram um desempenho satisfatório no que executam. As aulas de
regência também me ensinaram sobre a grande relevância dos gestos, do contato
visual com o grupo e, principalmente a postura que deve ser aderida ao estar
conduzindo. Este aprendizado é o que tento colocar em prática durante todos os
ensaios para que o grupo se torne cada vez mais homogêneo em sua organização e
em sua execução musical.
34
3.6.2 Aulas de teoria musical
As aulas de teoria musical ocorrem na sala de aula e eu sou responsável
pela condução dessa atividade, justamente por causa da minha função e formação.
Essas aulas são obrigatórias para aqueles que fazem parte do projeto, tornando-se
um complemento para com a prática desenvolvida na banda através dos
instrumentos de percussão. Quanto à caracterização da sala na qual desenvolvo
este trabalho, trata-se de uma sala normal, pouco espaçosa, totalmente voltada para
as aulas formais de qualquer disciplina. Para uma aula de música não é indicada por
causa do espaço e dos recursos, tendo apenas o projetor multimídia à disposição,
as cadeiras, quadro e birô. Apesar de que, se for uma aula de teoria musical
totalmente técnica, utilizando apenas o quadro para escrita de conceitos e partituras
ou até mesmo mostrando slides, o espaço e os recursos são suficientes, mas para
uma aula de musicalização onde se trabalhe ritmo, corpo, movimento,
desenvolvimento auditivo, não tem espaço por causa da quantidade de alunos que
participam das aulas.
Durante os anos de 2013 e 2014 as aulas de teoria aconteceram
regularmente, parando apenas nas semanas que antecediam os desfiles para
podermos dar uma ênfase maior nos ensaios práticos. Já agora em 2015, optei por
mudar o planejamento das aulas e estou realizando-as paralelamente em alguns
ensaios, dividindo o tempo em meia hora para cada momento.
3.6.3 Repertório da banda
O repertório da banda é utilizado desde os grupos dos anos de 2007 a 2010.
Os toques foram ensinados pelo antigo regente e permaneceram até hoje, sendo
que foram acrescentados mais alguns no decorrer dos anos pelos próprios alunos
que continuaram a prática, pelo regente convidado em 2013 e pelos bolsistas do
projeto. Procurei saber da procedência de tais toques e esses alunos disseram que
pegaram de outras bandas da internet. Os toques são totalmente ensinados através
da imitação, sem nenhum tipo de leitura. O professor executa o toque de acordo
com a técnica que ele possui e os demais repetem. O mais interessante é que o
professor deve saber a parte de todos os instrumentos e ensina-os separadamente.
Esse tipo de metodologia acontece até hoje, onde inclusive eu fiz uso para ensinar
dois toques que executamos ano passado, intitulados como “Samba Reggae” e
“Olodum”. Foi assim que aprendi a executar e ensinar os toques aos alunos. Sobre
35
esses que ensinei, o aprendizado foi totalmente auditivo, ou seja, não utilizei
nenhuma partitura para ensinar os toques. Apenas ouvi outras bandas da minha
cidade executando e adaptei, melhorando algumas partes e facilitando outras para a
execução dos alunos. Foi muito bem aceito por todos, inclusive, sendo uma
novidade além daqueles toques que já vinham sendo executados desde 2007. Em
termos de quantidade, a banda utiliza-se de nove toques denominados como:
entrada; toque um; toque dois; toque três; toque quatro (Samba reggae); toque cinco
(Olodum); contratempo um; contratempo dois e contratempo três. Todos esses são
executados somente pela percussão, acompanhando-os com a marcha, que
também é algo obrigatório na banda.
Um dos aprendizados que me ajudou muito a conduzir e preparar esses
toques foram as aulas da disciplina de Organização de Bandinha Rítmica na
EMUFRN. Um dos conteúdos ensinados foi o trabalho com bandinha por imitação,
onde a professora nos ensinava que, primeiro deveríamos executar o que queríamos
e com isso pedíamos aos alunos que fizessem depois. Trabalhávamos em grupos
separados, ou seja, naipe por naipe e em certo momento juntávamos tudo. Essa era
uma das maneiras de formar um arranjo por imitação e eu vejo que possui a mesma
fundamentação que utilizamos para passar os toques para a banda.
Complementando, também tivemos as aulas com leitura de partitura, formação de
arranjos simples com os instrumentos de bandinha, a questão do trabalho em grupo,
divisão de naipes, ou seja, o aprendizado e a vivência nas aulas da licenciatura me
ajudaram e muito com a prática que desenvolvemos com a banda.
Quanto aos instrumentistas de sopro que convidamos a participar da banda,
o repertório está sendo um pouco diferenciado do que vínhamos trabalhando.
Sentamos junto com os músicos e decidimos algumas músicas que vimos outras
bandas trabalharem para executar no projeto esse ano. A percussão passa a
realizar uma integração rítmica à parte melódica dos sopros. A primeira música que
resolvemos trabalhar chama-se “Rude”, da Banda de Reggae Canadense Magic! É
uma música que tem feito sucesso como tema de uma das novelas da rede globo e
que, a princípio, os alunos gostaram de trabalhá-la. Quanto ao arranjo instrumental,
estamos fazendo uma adaptação de um arranjo encontrado na internet do
compositor John Brennan.
Uma das referências de banda que acompanhamos para realizar a escolha
do repertório e até mesmo para ajudar no desenvolvimento da nossa metodologia de
36
trabalho prático com a banda da EAJ foi a Fanfarra Municipal de Atibaia (FAMA) que
fica em São Paulo e é considerada uma das melhores bandas do Brasil, tendo
participado de um campeonato fora do país6. Sem dúvida, para mim, a FAMA é uma
excelente banda e o desenvolvimento de seu trabalho musical é parecido com a que
adotamos no projeto, pois o grupo é resultado de um projeto da prefeitura de
Estância em Atibaia. Este projeto chama-se “Educando com música e cidadania7” e
ocorre nas escolas municipais, onde, a partir dos sete anos de idade, os alunos que
integram o projeto, iniciam com noções de música e a fazer parte das fanfarras
mirins, desenvolvendo disciplina e interesse cultural. Ou seja, podemos ver que o
trabalho de musicalização e do ensino de instrumento musical inicia-se muito cedo
para as crianças, onde eles, com seu desenvolvimento, vão crescendo e, a medida
em que se destacam, passam a integrar o grupo principal que é a FAMA.
Optar por este tipo de repertório muda um pouco o caráter da banda, tirando
a ênfase somente dos instrumentos de percussão e dividindo-a junto com os sopros,
ligando isso com a definição dada por Cabral (2003), uma vez que ele diz que a
banda marcial “consiste em um grupo musical similar a bandas militares,
constituídos de instrumentos de sopro e percussão, com deslocamento de seus
componentes e evoluções” (CABRAL, 2003, p. 2).
3.7 Dificuldades enfrentadas
A prática com os instrumentos e os ensaios possuem algumas dificuldades
que podem ser relatadas. A primeira delas é que estamos passando por um
momento onde há a insuficiência de instrumentos para comportar a demanda de
alunos que desejam participar do projeto. A escola dispõe de vários instrumentos,
mas alguns deles estão impossibilitados de serem utilizados por causa de problemas
com a sua construção (ferragens, parafusos). Isso acarreta o fato de que acabamos
deixando de agregar uma maior quantidade de pessoas no grupo por não ter
instrumentos suficientes para todos. Por exemplo, no ano de 2013 que se
inscreveram os 120 alunos, onde desses 80 foram para a banda, não tinha como
comportar todos nos ensaios com instrumentos e isso, sem dúvida, foi um dos
6 A FAMA é uma banda que possui muito prestígio no cenário musical de São Paulo e representou o
Brasil em um campeonato mundial de Bandas e Fanfarras que ocorreu na Holanda em 2009. 7 O projeto Educando com Música e Cidadania ocorre desde 2002, iniciando nas escolas municipais
de Atibaia. Um pequeno resumo deste projeto pode ser encontrado no site da Prefeitura de Estância de Atibaia através do endereço: <http://atibaianovo.com.br/secretarias/cultura-e-eventos/educando-com-musica-e-cidadania/>.
37
motivos que acabou gerando a evasão de alguns alunos do projeto. A disposição de
material (talabarte e baquetas) também tem sido outra dificuldade, pois o projeto
disponibilizou o material para os alunos, mas ainda sim, o problema que houve em
2013 com alguns dos participantes que deixaram o grupo não ter devolvido esse
material, proporcionou desfalque para os demais anos.
Uma questão importante que particularmente sinto falta é da prática que os
alunos deveriam ter com os instrumentos no momento em que não estão ensaiando
com todo o grupo. O ensaio é o momento em que se deve pôr em prática o que se
tem treinado fora dele, mas por serem realizados no horário do almoço, acaba que
os alunos não têm tempo de pegar o instrumento para poderem praticar o que está
sendo ensinado pelos professores. A carga horária do projeto se dá por dois dias de
ensaio na semana e esses são os únicos momentos em que os alunos têm contato
com o instrumento. Na minha concepção, como professor, esse fator acaba
proporcionando um pouco mais dificuldade para aqueles participantes que possuem
dificuldades na aprendizagem e na técnica, uma vez que necessitariam de mais de
momentos com os instrumentos e treino individual.
A evasão de participantes é uma das dificuldades que enfrentamos desde o
início do projeto. Volto a lembrar que em 2013 contamos com 80 alunos para a
banda onde desse total, ficaram apenas 50 para as apresentações e, na medida em
que iam se passando os meses após os desfiles cívicos, ainda havia a desistência
de alunos. Esse ano, contamos com a inscrição de 70 alunos onde, até então, só
temos cerca de 40 participando regularmente. Optamos por dividi-los em dois grupos
onde um ensaiara na terça e o outro na sexta como forma de comportar o maior
número de participantes possível, devido aos instrumentos que dispomos como citei
anteriormente. Mas mesmo assim já é notório o abandono de alguns.
Tenho o relato de um aluno que desistiu porque não gostou da metodologia
aplicada na banda esse ano. De início me preocupei, mas tenho o pensamento de
que estamos tentando fazer da melhor forma possível o que não tem sido, de forma
alguma uma tarefa fácil. Acredito que outro fator para a desistência é a falta de
acreditar na própria capacidade devido ao relato de outro aluno que desistiu da
banda alegando que não estava conseguindo acompanhar o grupo. Em conversa
com ele, eu lhe disse que não pensasse dessa forma e insisti que ele ficasse porque
eu iria fazer o possível para ajuda-lo, ensinando-o particularmente, mas mesmo
assim ele não quis. Esses são fatores que, diariamente, têm me levado a refletir
38
sobre como está sendo a minha prática como docente na banda, me instigando
ainda mais a me dedicar, complementando a minha formação através dos estudos,
buscando formas de ajudar a resolver essas dificuldades da melhor e mais
satisfatória maneira possível.
3.8 Conquistas e resultados alcançados
Um dos primeiros objetivos a serem alcançados foi continuarmos com a
prática e, no primeiro ano de vigoração do projeto, ter contado com tantos
participantes desejosos a fazer parte do grupo. Isso, sem dúvida, deu um estímulo
grande para a coordenação do projeto que percebeu que a prática realmente é bem
vista por muitos alunos e que continuá-la traria ótimos frutos.
Outra conquista foi a implementação das aulas de música, de teoria musical,
justamente porque vemos que faz-se necessária a aprendizagem da leitura,
intepretação de uma partitura musical, somando com a prática instrumental que
desenvolvemos na banda. Além disso, também temos conseguido colocar em
prática o trabalho com os sopros, escolhendo um novo repertório e abrindo novas
oportunidades para o grupo.
Outro fator é que temos conseguido obter um grupo homogêneo e
entrosado. Existem participantes que estão desde 2013 até agora e auxiliam
diretamente na evolução da banda, dando até mais segurança para aqueles que são
novatos. Fazendo menção ao bolsista que é responsável pelo grupo juntamente
comigo, ele é um desses participantes totalmente influentes para com a prática,
tendo em vista que, por estar na banda há muito tempo, possui muita experiência e
vivência com o grupo, ajudando muito aqueles que estão chegando agora. Esse tem
sido um fator importantíssimo e muitos dos alunos se espelham nele para
aprimorarem o que aprendem. Outra coisa que tem me ajudado bastante é a
disponibilidade dele para condução dos ensaios. Muitas vezes quando eu fico
somente com os alunos de sopros, ele ministra o ensaio para a percussão agindo
como regente e aprimorando seus conhecimentos estando à frente do grupo.
Outro resultado muito importante é que a banda tem conseguido
desempenhar seu papel em representar a escola nas apresentações e nos desfiles
na qual é designada. Mesmo com a desistência de alguns membros, os que
permanecem se empenham no trabalho dando seu máximo e isso acarreta uma boa
realização do trabalho. Os coordenadores veem o esforço que é feito pelos próprios
39
alunos para com as apresentações. Montar um grupo como esse não é uma tarefa
nada fácil, mas com a dedicação dos que participam ativamente, o apoio da escola e
da coordenação do projeto, temos conseguido alcançar todos os nossos objetivos
traçados. O trabalho em grupo é a peça chave para realização de uma boa prática e
isso a gente tem visto que está acontecendo.
Contar com o apoio da EMUFRN também é uma enorme conquista para
nosso projeto. Os professores que estão à frente nos ajudam e nos apoiam no que é
necessário, seja realizando oficinas e/ou apresentações musicais. Isso, sem dúvida,
acarreta uma gama de conhecimentos e desejo aos nossos alunos e fazem com que
eles possam dar mais valor ao trabalho que desempenham e adquirir ainda mais
contato com a música, principalmente a que é trabalhada na universidade. Fruto
disto foi o Circuito Musical da EAJ que aconteceu no ano de 2014 durante o
segundo semestre. Houve apresentações musicais da Big Band Jerimum Jazz
(UFRN), Grupo de Violas, Grupperc (grupo de percussão da UFRN) e o
Trompetearte (grupo de trompetes da UFRN), finalizando o evento com a banda O
Tilt, de Recife. O circuitou proporcionou ainda mais o contato dos alunos com os
grupos da UFRN e instigou aqueles que possuem desejo em se profissionalizar na
música como instrumentistas. Os professores EMUFRN tem sido grandes aliados ao
projeto e temos tido todo o suporte que precisamos, desenvolvendo assim um
trabalho muito importante e muito significativo, principalmente para os participantes.
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Figura 02 – Banda no desfile cívico de Lagoa Salgada 2013. Fonte: Viviane Medeiros.
Figura 03 – Banda no desfile cívico de Macaíba 2014. Fonte: Viviane Medeiros.
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8
Figura 04 – Banda antes da apresentação na CIENTEC 2014. Fonte: Rafael Costa.
Figura 05 – Banda em apresentação no palco na CIENTEC 2014. Fonte: Viviane Medeiros.
42
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O relato de experiência docente com a Banda da EAJ nos fez analisar
profundamente todo o processo que é desenvolvido e refletir ainda mais sobre o
ensino de música através desta prática. Percebemos através desse trabalho que
essa atividade musical é muito utilizada no contexto escolar como uma atividade
extraclasse ou extracurricular, como é o caso do projeto na Escola Agrícola de
Jundiaí. Esta possui um caráter acadêmico e permite a emissão de certificado de
participação para os alunos, além de ser uma tradição atuante na escola.
A atuação como regente à frente do grupo musical da escola tem me
proporcionado muito aprendizado e, a cada dia, o despertar do desejo de se
trabalhar com bandas. Dessa maneira, pretendo contribuir com uma possível
formação musical dos alunos participantes e principalmente proporcionar o ensino
de música através desta prática.
Analisar as literaturas que compuseram a parte teórica deste trabalho nos
proporcionou uma inserção ainda maior nos contextos que estas corporações e suas
categorias têm alcançado, além de todas as reflexões pedagógicas que
proporcionam em suas metodologias de trabalho. Os estudos de caso e os relatos
de experiência que os autores das literaturas realizaram, apresentaram resultados
satisfatórios e significativos para este campo da educação musical, principalmente
considerando todos os aspectos sociais que definem os objetivos dos grupos. Parte
disso são os resultados que a Banda da EAJ tem alcançado como projeto social
dentro da escola, agregando todos os alunos e funcionários da instituição, além de
pessoas das comunidades vizinhas que demonstram seu interesse pela forma com
que o trabalho é desenvolvido e, consequentemente, veem a oportunidade de
estudar música e aprender a tocar um instrumento de percussão.
Complementando, outro aspecto muito importante para a construção deste
relato com características reflexivas foi a análise das bibliografias que tratam sobre
formação docente em termos gerais e a formação docente específica em música.
Por mais que não tenhamos nos aprofundado muito no assunto devido ao objetivo
principal do trabalho em relatar a prática docente com a banda, posso concluir que a
leitura sobre os aspectos adquiridos na formação docente influenciam diretamente
na prática em sala de aula e/ou outros contextos educacionais, como a banda, por
exemplo. Considerar os relatos, as pesquisas desenvolvidas sobre a formação
docente em música nos ajudou a construir uma reflexão mais ativa sobre a prática
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que já é desenvolvida mesmo antes da conclusão do curso de licenciatura e
construir sentidos entre a formação adquirida na universidade e a utilização dela na
prática, agregando-se aos resultados obtidos com a banda, tanto no aspecto musical
quanto nos aspectos metodológicos utilizados pelo professor regente.
No capítulo do relato que fala sobre a metodologia, especificamente na
prática de ensaios, percebemos que os trabalhos de ordem unida que as
corporações (inclusive a banda da EAJ) desenvolvem, torna-se um agente
transformador, socialmente falando. O trabalho tem como objetivo o respeito mútuo
entre os integrantes, o compromisso, a dedicação, a postura, a execução
instrumental e a compreensão de valores. Tudo isso está agregado ao que se faz
dentro do grupo e contribui diretamente seu para o aspecto, tanto visual, quanto
organizacional.
As aulas de teoria musical que ocorrem em paralelo com a prática
instrumental é outro exemplo de objetivos e resultados alcançados desde que
começaram a ser trabalhadas. Isso se dá principalmente pelo fato de que, se pode
constatar em Macaíba a presença de muitas bandas nas escolas municipais (e até
mesmo estaduais) que optam pelo trabalho, mas em muitos casos não possuem
docentes formados na área que possam contribuir com o crescimento do grupo.
Sendo assim, não proporcionam a oportunidade desta metodologia de aprendizado
musical que une o aspecto teórico ao prático. Sem dúvidas, isso também é devido à
falta do ensino de música como componente curricular obrigatório nas escolas do
município em questão que acabam optando por este único trabalho musical, não
buscando investir na oportunidade de se ter um ensino-aprendizagem de música
que contribua para a formação dos alunos. A banda da EAJ se diferencia
completamente dos demais grupos da cidade principalmente neste fator.
Como educador musical, o conhecimento adquirido com este trabalho é
ímpar. Posso citar inúmeras contribuições pessoais, principalmente as
proporcionadas pelas as pessoas que desenvolvem o trabalho junto comigo. Uma
delas foi o Maestro que colaborou no início do projeto. Com sua grande experiência,
ele pôde me ensinar muito sobre os aspectos trabalhados nas bandas,
principalmente porque sua formação como músico foi toda nesse contexto. Isso foi o
que despertou ainda mais o meu desejo em continuar desenvolvendo este trabalho
com o grupo.
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A minha visão com relação a ser aluno participante da banda no período
2007-2011 com a visão bolsista-professor da banda 2013-2015 mudou
completamente, não apenas no sentido da responsabilidade que me foi passada,
mas mesmo na forma de trabalhar e agregar os conhecimentos como aluno e agora
os conhecimentos como professor. O que aprendi durante o período de participante
complementa a prática que desenvolvo como docente responsável pelo grupo e
poder ensinar e contribuir com a formação musical desses que tocaram junto comigo
na época em que eu era participante é um privilégio enorme.
Além de tudo isso, ver que as bandas trabalham a música de uma maneira
muito importante no contexto escolar também acrescenta e muito à minha formação,
justamente porque ela é voltada completamente para essa realidade. Encontrar
formas de desenvolver a prática musical com a banda na escola proporciona um
enriquecimento muito grande para os alunos. Isso porque a oportunidade de se tocar
um instrumento de percussão e/ou de sopro na escola em que estuda, provoca o
interesse do aluno em participar do grupo e despertar nele o desejo pelo
aprendizado musical. Para mim, a oportunidade desse trabalho complementa e
muito a minha formação, fazendo sentido ao que aprendi na universidade e ao que
tenho colocado em prática como docente.
Para encerrar, podemos concluir que trabalhar nesse contexto de ensino é
algo muito importante, tanto para nós como bolsistas em atividade docente quanto
para os alunos. Não é a toa que a prática musical desenvolvida pelas bandas ocupa
grande parte no cenário escolar e tem sido tratada com muito empenho por quem as
realiza. Temos uma gama de bibliografias que tratam especificamente sobre os
projetos sociais desenvolvidos nas escolas como agentes formadores dos alunos.
Para a educação musical este trabalho se torna significativo na medida em que é
muito possível encontrar bandas presentes nas escolas de educação básica,
oportunizando os educadores musicais a trabalharem com este tipo de prática
musical, complementando ainda mais a formação como professor de música, além
de proporcionar uma prática que dia após dia se mostra significativa para os alunos.
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Referências
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