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O Encontro Julho de 2012 A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita Bhagavan Sri Ramana Maharshi Orientação A Prática Paradoxalmente, somos “ilus- tres desconhecidos” para nós mesmos. Temos um ego-perso- nalidade do qual nos orgulha- mos e com o qual muitas vezes nos surpreendemos – tais suas reações! “Sou assim mesmo”; “Não consigo mudar”, são fra- ses ouvidas com frequência. Mas, em verdade, como mudar o que não conhecemos? Se alguém nos chama vaidosos, orgulhosos ou egoístas, nos surpreendemos, pois não conseguimos reconhe- cer, em nossa personalidade – ego, tais atributos. Jamais a in- terrogamos, para que ela se nos mostre tal qual é! Daí a importância da práti- ca. Não é o mundo que tem que mudar – nem os “outros”. O que é importante e necessá- rio é que mudemos nós, que aprendamos a ver o mundo e os “outros” sob a ótica do Ser, e que alcancemos, finalmente, a realização. Entretanto, é preciso perseverar. É importante não de- sanimar: Quem sou eu? Quem sou eu? Quem sou eu? Até que o lótus do coração se abra em plenitude, mostrando-nos nossa herança divina! Do jornal de janeiro de 1998, comemo- rativo do 25º aniversário de A Luz no Caminho. No dia 30 de junho, segundo o calendário hindu se comemora o dia da vaca Lakshmi. O mais apreciado de todos os devotos animais de Sri Bhagavan foi a vaca Lakshmi. Ela foi trazida para o ashram ainda novilha, em companhia de sua mãe, em 1926, por Arunachala Pillai e presenteada a Sri Bhagavan. Este relutou em aceitar a dávida, pois não havia na ocasião acomodações para vacas no ashram. No entanto, Arunachala Pillai negou-se a levar de volta os animais e um devoto ofereceu-se para cuidar deles, de modo que puderam ficar. Este supriu-lhes as necessidades durante três meses e a seguir as vacas foram deixadas na cidade com alguém que en- tendia do assunto. Depois de um ano os animais foram trazidos ao ashram, quando o seu cuidador veio fazer uma visita e ter darsham de Sri Bhagavan. A novilha parece ter sido irresistivelmente atraída e gravado o caminho para o ashram, pois no dia seguinte voltou so- zinha e dali em diante passou a vir todas as manhãs, regressando à cidade apenas à noite. Mais tar- de, quando veio morar no ashram, continuou a procurar Sri Bhagavan, dirigindo-se diretamente para ele sem tomar conhecimento de qual- quer outra pessoa, e Sri Bhagavan sempre tinha algumas bananas ou outras guloseimas para ela. Durante Ramana e os animais Editorial muito tempo ela compareceu dia- riamente no saguão à hora do al- moço e o acompanhou até a sala de refeições, e tão pontualmente que se ele acaso estivesse ocupado com alguma coisa e se demorasse, olhava para o relógio quando a via entrar e constatava que era hora. Em anos posteriores houve nu- merosas vacas e muitos touros no ashram, mas nenhum provocou vín- culos tão fortes nem evocou tanta Graça. Os descendentes de Lakshmi continuam lá. A 17 de junho de 1948, Laksh- mi caiu doente e na manhã de 18 de junho parecia estar próximo o seu fim. Às 10h, Sri Bhagavan foi ter com ela. Ele sentou-se ao lado dela e colocou-lhe a cabeça no colo, olhou-a nos olhos e des- cansou a mão na sua cabeça. Às 11h30 ela deixou o seu corpo, de forma muito tranquila. Foi enterra- da no ashram com todos os ritos funerários, ao lado dos túmulos de um veado, um corvo e um cão que Sri Bhagavan também fizera enter- rar ali. Uma pedra quadrada foi co- locada sobre o seu túmulo. Sobre a lápide havia um epitáfio escrito por Sri Bhagavan declarando que ela conseguira mukti (liberação). Fonte: Livro “Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento”, de Arthur Osborne. Por Marcos Garcia

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O EncontroJulho de 2012A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita

Bhagavan Sri Ramana Maharshi

Orientação

A PráticaParadoxalmente, somos “ilus-

tres desconhecidos” para nós mesmos. Temos um ego-perso-nalidade do qual nos orgulha-mos e com o qual muitas vezes nos surpreendemos – tais suas reações! “Sou assim mesmo”; “Não consigo mudar”, são fra-ses ouvidas com frequência. Mas, em verdade, como mudar o que não conhecemos? Se alguém nos chama vaidosos, orgulhosos ou egoístas, nos surpreendemos, pois não conseguimos reconhe-cer, em nossa personalidade – ego, tais atributos. Jamais a in-terrogamos, para que ela se nos mostre tal qual é!

Daí a importância da práti-ca. Não é o mundo que tem que mudar – nem os “outros”. O que é importante e necessá-rio é que mudemos nós, que aprendamos a ver o mundo e os “outros” sob a ótica do Ser, e que alcancemos, finalmente, a realização. Entretanto, é preciso perseverar. É importante não de-sanimar: Quem sou eu? Quem sou eu? Quem sou eu? Até que o lótus do coração se abra em plenitude, mostrando-nos nossa herança divina!

Do jornal de janeiro de 1998, comemo-rativo do 25º aniversário de A Luz no Caminho.

No dia 30 de junho, segundo o calendário hindu se comemora o dia da vaca Lakshmi.

O mais apreciado de todos os devotos animais de Sri Bhagavan foi a vaca Lakshmi. Ela foi trazida para o ashram ainda novilha, em companhia de sua mãe, em 1926, por Arunachala Pillai e presenteada a Sri Bhagavan. Este relutou em aceitar a dávida, pois não havia na ocasião acomodações para vacas no ashram. No entanto, Arunachala Pillai negou-se a levar de volta os animais e um devoto ofereceu-se para cuidar deles, de modo que puderam ficar. Este supriu-lhes as necessidades durante três meses e a seguir as vacas foram deixadas na cidade com alguém que en-tendia do assunto. Depois de um ano os animais foram trazidos ao ashram, quando o seu cuidador veio fazer uma visita e ter darsham de Sri Bhagavan. A novilha parece ter sido irresistivelmente atraída e gravado o caminho para o ashram, pois no dia seguinte voltou so-zinha e dali em diante passou a vir todas as manhãs, regressando à cidade apenas à noite. Mais tar-de, quando veio morar no ashram, continuou a procurar Sri Bhagavan, dirigindo-se diretamente para ele sem tomar conhecimento de qual-quer outra pessoa, e Sri Bhagavan sempre tinha algumas bananas ou outras guloseimas para ela. Durante

Ramana e os animaisEditorial

muito tempo ela compareceu dia-riamente no saguão à hora do al-moço e o acompanhou até a sala de refeições, e tão pontualmente que se ele acaso estivesse ocupado com alguma coisa e se demorasse, olhava para o relógio quando a via entrar e constatava que era hora.

Em anos posteriores houve nu-merosas vacas e muitos touros no ashram, mas nenhum provocou vín-culos tão fortes nem evocou tanta Graça. Os descendentes de Lakshmi continuam lá.

A 17 de junho de 1948, Laksh-mi caiu doente e na manhã de 18 de junho parecia estar próximo o seu fim. Às 10h, Sri Bhagavan foi ter com ela. Ele sentou-se ao lado dela e colocou-lhe a cabeça no colo, olhou-a nos olhos e des-cansou a mão na sua cabeça. Às 11h30 ela deixou o seu corpo, de forma muito tranquila. Foi enterra-da no ashram com todos os ritos funerários, ao lado dos túmulos de um veado, um corvo e um cão que Sri Bhagavan também fizera enter-rar ali. Uma pedra quadrada foi co-locada sobre o seu túmulo. Sobre a lápide havia um epitáfio escrito por Sri Bhagavan declarando que ela conseguira mukti (liberação).

Fonte: Livro “Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento”, de Arthur Osborne.

Por Marcos Garcia

O Encontro julho, 2012

02

A yoga do Bhagavag Gita

Círculo de Estudos

O Bhagavad Gita é a mais apre-ciada das escrituras da Índia, a es-critura das escrituras o “Cântico do Espírito”.

Os versículos do Gita encontram-se no sexto dos 18 livros do grande poema épico da Índia, o Mahabha-rata. Esse épico narra a história dos descendentes de Bharata, os Panda-vas e os Kurus, primos cuja disputa do reino foi a causa da cataclísmica batalha que ocorreu no campo de Kurukshetra. O Bhagavad Gita narra o diálogo sagrado entre o Senhor Krishna e seu principal discípulo, o príncipe Pandava Arjuna, na véspera dessa batalha.

Desvendar o Gita é descobrir que, em verdade, a batalha de Ku-

rukshetra representa aquela travada por cada ser humano no caminho de volta ao Pai, é descobrir que o campo onde ocorre o combate é a mente e o corpo de cada um. A batalha pelo que é certo se trava entre as virtudes da inteligência dis-cernidora, representada pelos Pan-davas, e as atividades sem controle da mente cega, representada pelos Kurus.

Nos versos finais do Gita o Se-nhor Krishna afirma: “Absorve em Mim a tua mente; torna-te Meu de-voto; Abdica de todas as coisas em Meu favor; reverencia-Me. Porque és querido para Mim, em verdade Eu te prometo: tu Me alcançarás” (Vs. 65).

Próxima palestra

Tema: a definir

Palestrante: Shanti

Data: 28 de julho, às 19h

Por LêdaFraga

Que as palavras do Senhor acal-mem nossos corações e animem nosso espírito a empunhar o arco da verdade e jamais desistir do “combate”.

O Círculo de Estudos se baseou na obra “Introdução à Ciência India-na Universal da Realização Divina - A Bhagavad Gita”, de Paramahansa Yogananda.

O Guru Purnima, que no calendário hindu é ce-lebrado no dia de lua cheia do mês de Ashadh (julho), é dedicado à memória do nascimento do sábio Vyasa, quem compilou os Vedas. Vyasa é con-siderado o primeiro guru hindu e, por isso, neste dia, se homenageiam todos os gurus. Este ano, o Guru Purnima foi celebrado no dia 3 de julho e os devotos de Bhagavan no Brasil fizeram uma puja (ritual de adoração) em homenagem ao Sábio de Arunachala, durante a reunião de terça-feira de A Luz no Cami-nho - Associação Espiritualista.

A lua cheia do GuruPor Daniela Meireles

Agenda

sriramanamaharshi.org

O Encontrojulho, 2012

03Filosofia

Eu sou o Espírito

Às vezes acontece de o busca-dor no caminho espiritual, ou até mesmo aquele que não começou a buscá-lo conscientemente, ter um vislumbre de realização durante o qual, por uma breve eternidade, ele experimenta a convicção abso-luta da realidade de seu Eu divino, imutável e universal. Tal experiên-cia veio para o Maharshi em me-ados de julho de 1896, quando ele era um garoto de 17 anos. Ele mesmo a descreveu.

Foi mais ou menos seis se-manas antes de deixar Madurai permanentemente que a grande mudança ocorreu na minha vida. Aconteceu inesperadamente. Eu estava sentado sozinho em uma sala do primeiro andar da casa do meu tio. Eu raramente adoecia, e naquele dia minha saúde estava normal, mas repentinamente eu fui tomado por um violento medo de morrer. Nada no meu estado de saúde explicava isso, e eu não ten-tei justificar esse medo, nem pro-curei suas causas. Eu apenas senti ‘vou morrer’ e comecei a pensar o que fazer a respeito disso. Não pensei em consultar um médico, meus parentes ou meus amigos; eu senti que precisava resolver o problema por mim mesmo, ali mesmo.

O choque do medo da morte fez minha mente voltar-se para o

interior, e eu dis-se a mim mes-mo, sem na ver-dade moldar em palavras: ‘agora a morte chegou; o que isso sig-nifica? O que está morrendo? O corpo morre.’ Então deitei imedia-tamente e comecei a dramatizar a ocorrência da morte. Eu deitei com os meus membros esticados e duros como se estivesse ocor-rendo o rigor mortis, e imitei um cadáver para tornar a inquirição mais realista. Prendi a respiração e mantive os lábios firmemente fe-chados a fim de não deixar esca-par nenhum som, de maneira que nem mesmo a palavra ‘eu’ e nem qualquer outra palavra pudesse ser pronunciada. ‘Então’, disse a mim mesmo, ‘este corpo está morto. Ele vai ser carregado duro até a pira funerária e lá será reduzido a cin-zas. Mas com a morte deste corpo eu morro? Este corpo é o Eu? Ele está silencioso e inerte, mas eu sinto a força total de minha existência, e até mesmo a voz do ‘Eu’ dentro de mim, separados do corpo. Então, eu sou o espírito que transcende o corpo. O cor-po morre, mas o espírito que o transcende não pode ser tocado pela morte. Isso significa que eu sou o Espírito Imortal’. Isso tudo não foi um pensamento obscuro; foi uma verdade viva que brilhou através de mim e que percebi di-

retamente, quase sem o processo do pensamento. ‘Eu’ era algo mui-to real, a única coisa real no meu estado presente, e todas as ativi-dades conscientes ligadas ao meu corpo estavam centradas naquele ‘Eu’. A partir daquele momento o ‘Eu’ ou ‘Si’ focou a atenção em si mesmo por meio de uma podero-sa fascinação. O medo da morte desapareceu de vez e a absorção no Eu Real continuou desde então.

Esta última frase é que é a mais notável, pois em geral expe-riências como essas passam rapi-damente, apesar de deixarem na mente uma impressão de certeza que nunca mais é esquecida. Ape-nas em casos raros essa experiên-cia se revela permanente, deixando o homem a partir daí em constan-te identidade com o Eu Universal. Tal foi o caso do Maharshi.

Logo após esta mudança acon-tecer, o jovem que posteriormente seria chamado Maharshi deixou o lar como um sadhu. Ele então foi para Tiruvannamalai, cidade ao pé da montanha sagrada Arunachala, e lá permaneceu pelo resto de sua vida.

ImortalDo livro “Os Ensinamentos de Ramana Maharshi em Suas Próprias Palavras”, de Arthur Osborne.

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O Encontro julho, 2012

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Por Sérgio Mohrstedt

Colcha de retalhosNossa História

Telma e eu chegamos à asso-ciação em 1980 e não tardou para percebermos o presente que havía-mos recebido. Alguns anos após, a convite de Dona Daura, iniciei no Departamento de Corte e Costura. O trabalho era o de controlar o esto-que dos cortes de tecidos que eram recebidos em doação e transforma-vam-se em roupas para as famílias assistidas, inclusive enxovais para be-bês. O controle era lançado em um grande livro que continha pequenos retalhos de amostras, criteriosamente classificados.

Da convivência veio a oportuni-dade de conhecer as histórias e os personagens que ergueram e man-tinham o templo. A alegria e o en-tusiasmo do Grupo Jovem tinham como propulsor a abnegação daque-

les que, determinados, dedicavam-se à Grande Obra. Contagiado por tudo isso, ofereci ajuda na Tesouraria e ali permaneci durante uma década. Nessa função, a filosofia do Mestre e a estrutura administrativa da Casa tornaram-se matérias de estudo obri-gatórias. Naquele balcão, além de tesoureiro, fui “recepcionista”, “tio Sérgio” das crianças e “o moço do chapeuzinho engraçado”.

As atuações concomitantes no Departamento de Assistência Social, em grupos de trabalho e nos even-tos foram fundamentais para a res-ponsabilidade assumida na presidên-cia, anos mais tarde (2003 a 2006).

Lembro-me com alegria das con-fraternizações de fim de ano que compartilhávamos com os jovens e

das suas participações nos traba-lhos de sindicância, nas comunida-des, para avaliação das necessidades das famílias inscritas. Também das conquistas rumo à Meta Maior, ali-cerçada com a criação da Casa de Ramana.

Somos como colchas de retalhos nas mãos do Mestre que, silenciosa-mente, vai juntando os pedaços de forma harmoniosa e segura.

Quem canta seus males espantaAlice Torquato, capixaba de Vitó-

ria, chegou à Casa de Ramana em 23 de março de 2006, após um longo período internada. O local onde vivia havia sido vendido e ela não poderia voltar. O hospital, então, procurou a Casa para verificar a possibilidade de abrigá-la. “A Dona Marly e o doutor João Marcos foram me visitar e fala-ram que eu ia gostar de ficar lá. Fui visitar a Casa e gostei”, lembra.

Alice, que quando mais nova tra-balhou como garçonete em lancho-

Casa de Ramana

netes e em pensão comercial, hoje dedica seu tempo a atividades de lazer, como a arteterapia que volun-tários promovem às terças-feiras.

“Gosto de estar aqui. As com-panhias são boas; as pessoas, mui-to atenciosas. Gosto das festas, do movimento, das músicas. A casa fica cheia e isso não me incomoda”, con-ta ela, que aproveita esses momen-tos para praticar um dos seus passa-tempos favoritos: cantar.

“Gosto muito de música românti-ca: Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Elizabeth”, lista ela, cujo rosto vai aos poucos se iluminando ao falar do assunto.

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