o Dízimo Não é Uma Invenção Da Teologia Da Prosperidade

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1/7 Por Solano Portela* Como sabem, entendemos no VE que o dízimo é uma porcentagem exigida ao povo judeu que não se transfere como mandamento para a igreja. Cremos que é um bom padrão para guiar aquilo que o Novo Testamento enfatiza: contribuições voluntárias. Porém, é importante entendermos que dar ou não o dízimo, defender ou não os 10%, não é o pilar sobre o qual se sustenta a fé cristã e que o erro fundamental da teologia da prosperidade é a barganha com Deus através do dízimo (e não o dízimo em si). Assim, cremos que as palavras de Paulo em Romanos 14.4-6 podem se aplicar a esta situação também: “Quem és tu que julgas o servo alheio? […] Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente.” Isso significa, que alguns de vocês devem parar de condenar de herege todo pastor que fala sobre o dízimo ou de ludibriado todo dizimista. E outros, devem parar de julgar como infiel o que oferta generosamente, mas não entende que o dízimo é um mandamento para os dias de hoje. Ambos o fazem para o Senhor e lhe dão graças. Dito isto, há irmãos amados em Cristo, como o presbítero Solano Portela, que entendem a validade do dízimo para manter a proporcionalidade no que é dado. Leia abaixo: Introdução Mordomo e Mordomia. Mordomo? Quando ouvimos esta palavra, vem à mente uma figura antiquada; uma pessoa de idade vestida com um fraque, servindo refeições em um castelo; ou, muitas vezes, o culpado dos crimes

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O DÍZIMO já foi um tema pacificado no meio evangélico. Todavia, hoje, devido à Teologia da Prosperidade, esta temática volta à baila.

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    Por Solano Portela*

    Como sabem, entendemos no VE que o dzimo uma porcentagem

    exigida ao povo judeu que no se transfere como mandamento para

    a igreja. Cremos que um bom padro para guiar aquilo que o

    Novo Testamento enfatiza: contribuies voluntrias. Porm,

    importante entendermos que dar ou no o dzimo, defender ou no

    os 10%, no o pilar sobre o qual se sustenta a f crist e que o

    erro fundamental da teologia da prosperidade a barganha com

    Deus atravs do dzimo (e no o dzimo em si).

    Assim, cremos que as palavras de Paulo em Romanos 14.4-6

    podem se aplicar a esta situao tambm: Quem s tu que julgas o

    servo alheio? [] Cada um tenha opinio bem definida em sua

    prpria mente. Isso significa, que alguns de vocs devem parar de

    condenar de herege todo pastor que fala sobre o dzimo ou de

    ludibriado todo dizimista. E outros, devem parar de julgar como infiel

    o que oferta generosamente, mas no entende que o dzimo um

    mandamento para os dias de hoje. Ambos o fazem para o Senhor e

    lhe do graas.

    Dito isto, h irmos amados em Cristo, como o presbtero Solano

    Portela, que entendem a validade do dzimo para manter a

    proporcionalidade no que dado. Leia abaixo:

    Introduo Mordomo e Mordomia.

    Mordomo? Quando ouvimos esta palavra, vem mente uma figura

    antiquada; uma pessoa de idade vestida com um fraque, servindo

    refeies em um castelo; ou, muitas vezes, o culpado dos crimes

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    cometidos em histrias policiais. A palavra mordomo, entretanto,

    significa simplesmente administrador. Na Bblia, no livro de Gnesis

    (39.4), lemos que Jos recebeu a confiana do alto oficial da corte

    de Fara, de modo que o fez mordomo da sua casa, e entregou na

    sua mo tudo o que tinha. Temos outros exemplos, tambm na

    Bblia, entre esses o do Eunuco, o alto oficial etope, (Atos 8.27), a

    quem Filipe pregou o evangelho. Ele chamado de mordomo

    principal da rainha da Etipia. Veja a extenso de suas

    responsabilidades no prprio verso: ele era superintendente de

    todos os seus tesouros. Ser mordomo, portanto, algo muito

    importante. A palavra, no original grego, significa literalmente

    aquele que coloca a lei na casa, ou o que administra a casa de

    acordo com a lei.

    Mordomia o exerccio dessa capacidade de administrao. Essa

    palavra ouvida com freqncia em igrejas, normalmente referindo-

    se s obrigaes sobre contribuies. O seu sentido, entretanto,

    muito mais amplo. Da mesma forma como Potifar colocou nas mos

    de Jos a administrao de todos os seus bens, Deus, ao criar o

    homem, colocou em suas mos toda a criao para ser

    administrada. Isso pode ser constatado. Voc pode constatar isso,

    lendo Gnesis 1.28 Ento Deus os abenoou e lhes disse:

    Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre

    os peixes do mar, sobre as aves do cu e sobre todos os animais

    que se arrastam sobre a terra. Nesse sentido, somos mordomos de

    Deus sobre o tempo, que recebemos dele; sobre os bens que ele

    nos d e sobre tudo mais que ele nos concede, em nossa vida.

    Inserido, portanto, na definio de mordomia est o conceito de

    responsabilidade. Somos responsveis pela utilizao correta de

    tudo que provm de Deus e isso se inicia com o reconhecimento de

    sua pessoa e de que temos que glorific-lo no todo de nossa vida (1

    Corntios 10.31). Somos bons mordomos se demonstramos

    responsabilidade no uso de nosso tempo, de nosso dinheiro e at

    nas escolhas de nossas amizades.

    Esse o estudo de mordomia, nesse sentido abrangente.

    Queremos focalizar nossa ateno apenas no reconhecimento de

    que somos mordomos; de que tudo o que temos pertence ao

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    Senhor; e de como temos o privilgio de indicar o reconhecimento

    da bondade e misericrdia, atravs de nossas contribuies.

    Gostaramos, portanto, de focalizar o aspecto tradicional do tema

    mordomia o das contribuies, mas com uma abordagem um

    pouco diferente da tradicional.

    As bases da contribuio decimal (Gnesis 14.18-20)

    Registros antigos, na Palavra de Deus, que antecedem a Lei

    Cerimonial e Judicial do Povo Judeu, mostram que dar dez por

    cento das posses, ou seja, o dzimo, era uma prtica religiosa

    abraada pelas pessoas tementes a Deus, como forma de adorao

    e reconhecimento de que nossos bens procedem da boa vontade

    de Deus. Nesse sentido, Abrao, quando deu o dzimo ao sacerdote

    do Deus altssimo Melquizedeque (Gnesis 14.18-20), estava

    exatamente dando extenso sua compreenso de mordomia,

    demonstrando reconhecimento a Deus pelas bnos recebidas

    nesta vida. Assim, simbolicamente, testemunhava que tudo era de

    Deus.

    Essa foi tambm a compreenso de Jac (Gn 28.20-22) quando faz

    um voto a Deus. Ali, lemos: Fez tambm Jac um voto, dizendo:

    Se Deus for comigo e me guardar neste caminho que vou seguindo,

    e me der po para comer e vestes para vestir, de modo que eu volte

    em paz casa de meu pai, e se o Senhor for o meu Deus, ento

    esta pedra que tenho posto como coluna ser casa de Deus; e de

    tudo quanto me deres, certamente te darei o dzimo. Dentre os

    muitos textos encontrados na Bblia sobre contribuies e, mais

    especificamente sobre o dzimo, este entrelaa o conceito de

    bnos materiais advindas de Deus, com o reconhecimento da

    oferta proporcional como adorao e expresso da nossa

    mordomia. Jac estava em uma jornada, comissionado por seu pai,

    Isaque, para encontrar uma esposa (28.1,2). Aps haver sonhado

    (28.10-15) com a presena de Deus, no qual ele lhe promete

    proteo, acompanhamento e a formao de uma descendncia,

    Jac se atemoriza (28.16) e ergue um memorial a Deus (28.18-19).

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    A seguir, Jac faz o seu voto. Deus j havia reafirmado: eis que

    estou contigo (28.15), Jac indica (28.20,21) que, mediante as

    ddivas divinas da:

    presena (for comigo),

    proteo (me guardar),

    po (me der po),

    proviso (roupa que me vista) e

    paz (que eu volte em paz) ele o adoraria

    declarativamente (o Senhor ser o meu Deus),

    demonstrativamente (pedra, que erigi por coluna, ser a casa de

    Deus) e

    dizimalmente (certamente eu te darei o dzimo).

    Com isso, Jac, antes da Lei Cerimonial e Judicial de Israel, dava

    continuidade prtica j demonstrada por Abrao, de que, em

    reconhecimento segurana, que vem de Deus; ao alimento, que

    vem de Deus; s vestimentas, que vm de Deus e paz, que vem

    de Deus, o dzimo ser dado. Esses registros antecedem a ddiva

    das leis especficas aos Hebreus, no Antigo Testamento. A prtica,

    portanto, no parece estar limitada aos aspectos formais da Nao

    de Israel. Estava presente na humanidade, como um todo.

    Assim, nem a Lei Cerimonial, nem a Judicial, da teocracia de Israel,

    so a base para a prtica do dzimo, pois as determinaes dessas

    leis foram cumpridas em Cristo. A defesa do dzimo utilizando

    prescries especficas da Lei Mosaica carece de uma base

    exegtica mais slida. A base antecede as leis de Israel, entretanto,

    o estudo dessas leis mostra, pelo menos, um grande e importante

    aspecto: a seriedade com a qual Deus apresentava e tratava essa

    questo do dzimo. No somente ele entrelaou, na Lei de Israel, a

    prtica que a antecedia, mas castigos caram sobre a nao

    exatamente pela quebra dessa determinaes. Esquec-las era a

    mesma coisa que roubar a Deus (Ml. 3.7-10).

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    No Novo Testamento tambm encontramos princpios que nos

    levam a deduzir a continuidade da contribuio decimal. Vamos

    analisar pelo menos dois desses.

    Contribuir Planejadamente (2 Corntios 9.7)

    O primeiro princpio neo-testamentrio, que a Bblia ensina que

    deve-se contribuir planejadamente. Escrevendo aos corntios, Paulo

    diz: Cada um contribua segundo props no seu corao; no com

    tristeza, nem por constrangimento (Atualizada: necessidade);

    porque Deus ama ao que d com alegria.

    Freqentemente este trecho estudado apenas em seu

    entendimento superficial, e sendo interpretado de que ele fala

    simplesmente da voluntariedade da contribuio. Mas o fato, que

    ele ensina que a contribuio deve ser alvo de prvia meditao e

    entendimento. Isso indica, com muito mais fora, que ela deve ser

    uma contribuio planejada, no aleatria, no dependente da

    emoo do momento (todos esses elementos so vlidos, mas no

    so os nicos e principais determinantes).

    Deus ensina que o mover do corao no significa a abdicao de

    responsabilidades. O alerta para que no possvel que portas

    abertas, colocadas frente, sejam esquecidas. No que diz respeito

    contribuio, muitos ficam esperando o mover do esprito. Tudo

    isso soa muito piedoso e espiritual, mas propor no corao, significa

    que deve-se considerar com seriedade que a contribuio deve ser

    planejada. O prprio verso 5, neste captulo, refora esse

    entendimento, indicando que a contribuio deveria ser preparada

    de antemo, ou seja deveria haver planejamento.

    Como ser esse planejamento? Individualizado? Dependente da

    cabea de cada um? Talvez seja possvel se achar excelentes

    formas de planejar. Mas ser que ser encontrada melhor forma do

    que a estabelecida na Bblia: que a ddiva do dzimo, o

    reconhecimento simblico de que tudo o que temos pertence a

    Deus?

    O dzimo representa a essncia da contribuio planejada e

    sistemtica. Conseqentemente, ser que no deveramos propor

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    no nosso corao dar o dzimo? Vem como isso muda a

    compreenso que tantos tm do verso? Alguns dizem: o dzimo

    constrange; com obrigao no pode haver alegria na

    contribuio. Mas o ensinamento justamente o contrrio:

    proponha no seu corao, sistematize sua contribuio e a ddiva

    fluir de voc sistematicamente, sem constrangimentos, com

    alegria. No procure inventar: contribua na forma ensinada pelo

    prprio Deus.

    Contribuir Proporcionalmente (1 Corntios 16.2-3)

    Um segundo princpio neo-testamentrio, que Deus espera que a

    contribuio seja proporcional aos ganhos, ou seja, deve-se

    contribuir proporcionalmente. O trecho bblico, tambm de uma

    carta de Paulo, relacionado acima, diz: No primeiro dia da semana

    cada um de vs ponha de parte o que puder, conforme tiver

    prosperado, guardando-o, para que se no faam coletas quando

    eu chegar.

    O ensinamento , mais uma vez muito claro. bvio que Paulo

    espera uma contribuio sistemtica, pois ele diz que ela deveria

    ser realizada aos domingos (no primeiro dia da semana), que

    quando os cristos se reuniam. O trecho muito rico em instruo,

    demonstrando at a propriedade de reunio e culto aos domingos,

    contra at alguns setores do neo-pentecostalismo contemporneo,

    que insistem que deve-se continuar guardando o sbado, o stimo

    dia da semana.

    Mas o ponto que chama a nossa ateno, o fato de que Paulo

    ensina que a contribuio deve ser conforme Deus permitir que se

    prospere, ou seja, conforme os ganhos de cada um. Essa a

    grande forma eqitativa apontada por Deus: as contribuies devem

    ser proporcionais, ou seja um percentual dos ganhos. Assim, todos

    contribuem igualmente, no em valor, mas em percentual.

    Verificamos que possvel se inventar um percentual qualquer.

    Talvez isso fosse possvel se nunca tivssemos tido acesso ao

    restante da Bblia, mas o percentual que o prprio Deus confirmou e

    registrou: dez por cento dos ganhos individuais, por demais

    conhecido! Isso parece satisfatrio e bvio. No preciso se sair

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    procurando por outro meio e forma de contribuio. Se isso for feito,

    pode-se at dizer, eu contribuo sistematicamente com o percentual

    que eu escolhi, mas nunca ser possvel dizer que isso feito em

    paridade e justia com as outras pessoas. Quem vai garantir que o

    percentual do outro igual ao meu? Essa aleatoriedade destruiria o

    prprio ensinamento da proporcionalidade que Deus ensina atravs

    de Paulo. A grande pergunta que tem que ser respondida essa:

    Se Deus j estabeleceu, no passado, uma forma de

    porporcionalidade, por que no seguir a forma, o planejamento e a

    proporo determinada por Deus?

    Concluso e Aplicao

    As contribuies dizimais refletem apenas o reconhecimento de que

    tudo provm de Deus. Em paralelo, preciso se estar alerta a dois

    pontos:

    1. O exerccio correto da mordomia muito mais abrangente do que

    simplesmente contribuir. Envolve a responsabilidade total sobre

    todos os recursos que so recebidos como bnos de Deus nas

    nossas vidas.

    2. A contribuio no ponto de barganha com Deus. Por mais

    sistemtica, proporcional e planejada que ela deva ser, permanece

    uma plataforma de adorao. Ela no tem eficcia para expiar

    pecados, nem para angariar favores de Deus. Deus condena

    aqueles que se esmeram no contribuir, mas se apresentam

    adorao em pecado (Ams 4.4 multiplicai as transgresses; e

    cada manh trazei os vossos sacrifcios, e de trs em trs dias os

    vossos dzimos).

    * Solano Portela Presbtero e membro da Igreja Presbiteriana de

    Santo Amaro, So Paulo, graduado em Cincias Exatas (B.A em

    Artes 1971), fez o mestrado (Th. M) em Teologia Sistemtica no

    Bblical Tehological Seminary (EUA, 1974).