o Dízimo Não é Uma Invenção Da Teologia Da Prosperidade
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Por Solano Portela*
Como sabem, entendemos no VE que o dzimo uma porcentagem
exigida ao povo judeu que no se transfere como mandamento para
a igreja. Cremos que um bom padro para guiar aquilo que o
Novo Testamento enfatiza: contribuies voluntrias. Porm,
importante entendermos que dar ou no o dzimo, defender ou no
os 10%, no o pilar sobre o qual se sustenta a f crist e que o
erro fundamental da teologia da prosperidade a barganha com
Deus atravs do dzimo (e no o dzimo em si).
Assim, cremos que as palavras de Paulo em Romanos 14.4-6
podem se aplicar a esta situao tambm: Quem s tu que julgas o
servo alheio? [] Cada um tenha opinio bem definida em sua
prpria mente. Isso significa, que alguns de vocs devem parar de
condenar de herege todo pastor que fala sobre o dzimo ou de
ludibriado todo dizimista. E outros, devem parar de julgar como infiel
o que oferta generosamente, mas no entende que o dzimo um
mandamento para os dias de hoje. Ambos o fazem para o Senhor e
lhe do graas.
Dito isto, h irmos amados em Cristo, como o presbtero Solano
Portela, que entendem a validade do dzimo para manter a
proporcionalidade no que dado. Leia abaixo:
Introduo Mordomo e Mordomia.
Mordomo? Quando ouvimos esta palavra, vem mente uma figura
antiquada; uma pessoa de idade vestida com um fraque, servindo
refeies em um castelo; ou, muitas vezes, o culpado dos crimes
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cometidos em histrias policiais. A palavra mordomo, entretanto,
significa simplesmente administrador. Na Bblia, no livro de Gnesis
(39.4), lemos que Jos recebeu a confiana do alto oficial da corte
de Fara, de modo que o fez mordomo da sua casa, e entregou na
sua mo tudo o que tinha. Temos outros exemplos, tambm na
Bblia, entre esses o do Eunuco, o alto oficial etope, (Atos 8.27), a
quem Filipe pregou o evangelho. Ele chamado de mordomo
principal da rainha da Etipia. Veja a extenso de suas
responsabilidades no prprio verso: ele era superintendente de
todos os seus tesouros. Ser mordomo, portanto, algo muito
importante. A palavra, no original grego, significa literalmente
aquele que coloca a lei na casa, ou o que administra a casa de
acordo com a lei.
Mordomia o exerccio dessa capacidade de administrao. Essa
palavra ouvida com freqncia em igrejas, normalmente referindo-
se s obrigaes sobre contribuies. O seu sentido, entretanto,
muito mais amplo. Da mesma forma como Potifar colocou nas mos
de Jos a administrao de todos os seus bens, Deus, ao criar o
homem, colocou em suas mos toda a criao para ser
administrada. Isso pode ser constatado. Voc pode constatar isso,
lendo Gnesis 1.28 Ento Deus os abenoou e lhes disse:
Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre
os peixes do mar, sobre as aves do cu e sobre todos os animais
que se arrastam sobre a terra. Nesse sentido, somos mordomos de
Deus sobre o tempo, que recebemos dele; sobre os bens que ele
nos d e sobre tudo mais que ele nos concede, em nossa vida.
Inserido, portanto, na definio de mordomia est o conceito de
responsabilidade. Somos responsveis pela utilizao correta de
tudo que provm de Deus e isso se inicia com o reconhecimento de
sua pessoa e de que temos que glorific-lo no todo de nossa vida (1
Corntios 10.31). Somos bons mordomos se demonstramos
responsabilidade no uso de nosso tempo, de nosso dinheiro e at
nas escolhas de nossas amizades.
Esse o estudo de mordomia, nesse sentido abrangente.
Queremos focalizar nossa ateno apenas no reconhecimento de
que somos mordomos; de que tudo o que temos pertence ao
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Senhor; e de como temos o privilgio de indicar o reconhecimento
da bondade e misericrdia, atravs de nossas contribuies.
Gostaramos, portanto, de focalizar o aspecto tradicional do tema
mordomia o das contribuies, mas com uma abordagem um
pouco diferente da tradicional.
As bases da contribuio decimal (Gnesis 14.18-20)
Registros antigos, na Palavra de Deus, que antecedem a Lei
Cerimonial e Judicial do Povo Judeu, mostram que dar dez por
cento das posses, ou seja, o dzimo, era uma prtica religiosa
abraada pelas pessoas tementes a Deus, como forma de adorao
e reconhecimento de que nossos bens procedem da boa vontade
de Deus. Nesse sentido, Abrao, quando deu o dzimo ao sacerdote
do Deus altssimo Melquizedeque (Gnesis 14.18-20), estava
exatamente dando extenso sua compreenso de mordomia,
demonstrando reconhecimento a Deus pelas bnos recebidas
nesta vida. Assim, simbolicamente, testemunhava que tudo era de
Deus.
Essa foi tambm a compreenso de Jac (Gn 28.20-22) quando faz
um voto a Deus. Ali, lemos: Fez tambm Jac um voto, dizendo:
Se Deus for comigo e me guardar neste caminho que vou seguindo,
e me der po para comer e vestes para vestir, de modo que eu volte
em paz casa de meu pai, e se o Senhor for o meu Deus, ento
esta pedra que tenho posto como coluna ser casa de Deus; e de
tudo quanto me deres, certamente te darei o dzimo. Dentre os
muitos textos encontrados na Bblia sobre contribuies e, mais
especificamente sobre o dzimo, este entrelaa o conceito de
bnos materiais advindas de Deus, com o reconhecimento da
oferta proporcional como adorao e expresso da nossa
mordomia. Jac estava em uma jornada, comissionado por seu pai,
Isaque, para encontrar uma esposa (28.1,2). Aps haver sonhado
(28.10-15) com a presena de Deus, no qual ele lhe promete
proteo, acompanhamento e a formao de uma descendncia,
Jac se atemoriza (28.16) e ergue um memorial a Deus (28.18-19).
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A seguir, Jac faz o seu voto. Deus j havia reafirmado: eis que
estou contigo (28.15), Jac indica (28.20,21) que, mediante as
ddivas divinas da:
presena (for comigo),
proteo (me guardar),
po (me der po),
proviso (roupa que me vista) e
paz (que eu volte em paz) ele o adoraria
declarativamente (o Senhor ser o meu Deus),
demonstrativamente (pedra, que erigi por coluna, ser a casa de
Deus) e
dizimalmente (certamente eu te darei o dzimo).
Com isso, Jac, antes da Lei Cerimonial e Judicial de Israel, dava
continuidade prtica j demonstrada por Abrao, de que, em
reconhecimento segurana, que vem de Deus; ao alimento, que
vem de Deus; s vestimentas, que vm de Deus e paz, que vem
de Deus, o dzimo ser dado. Esses registros antecedem a ddiva
das leis especficas aos Hebreus, no Antigo Testamento. A prtica,
portanto, no parece estar limitada aos aspectos formais da Nao
de Israel. Estava presente na humanidade, como um todo.
Assim, nem a Lei Cerimonial, nem a Judicial, da teocracia de Israel,
so a base para a prtica do dzimo, pois as determinaes dessas
leis foram cumpridas em Cristo. A defesa do dzimo utilizando
prescries especficas da Lei Mosaica carece de uma base
exegtica mais slida. A base antecede as leis de Israel, entretanto,
o estudo dessas leis mostra, pelo menos, um grande e importante
aspecto: a seriedade com a qual Deus apresentava e tratava essa
questo do dzimo. No somente ele entrelaou, na Lei de Israel, a
prtica que a antecedia, mas castigos caram sobre a nao
exatamente pela quebra dessa determinaes. Esquec-las era a
mesma coisa que roubar a Deus (Ml. 3.7-10).
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No Novo Testamento tambm encontramos princpios que nos
levam a deduzir a continuidade da contribuio decimal. Vamos
analisar pelo menos dois desses.
Contribuir Planejadamente (2 Corntios 9.7)
O primeiro princpio neo-testamentrio, que a Bblia ensina que
deve-se contribuir planejadamente. Escrevendo aos corntios, Paulo
diz: Cada um contribua segundo props no seu corao; no com
tristeza, nem por constrangimento (Atualizada: necessidade);
porque Deus ama ao que d com alegria.
Freqentemente este trecho estudado apenas em seu
entendimento superficial, e sendo interpretado de que ele fala
simplesmente da voluntariedade da contribuio. Mas o fato, que
ele ensina que a contribuio deve ser alvo de prvia meditao e
entendimento. Isso indica, com muito mais fora, que ela deve ser
uma contribuio planejada, no aleatria, no dependente da
emoo do momento (todos esses elementos so vlidos, mas no
so os nicos e principais determinantes).
Deus ensina que o mover do corao no significa a abdicao de
responsabilidades. O alerta para que no possvel que portas
abertas, colocadas frente, sejam esquecidas. No que diz respeito
contribuio, muitos ficam esperando o mover do esprito. Tudo
isso soa muito piedoso e espiritual, mas propor no corao, significa
que deve-se considerar com seriedade que a contribuio deve ser
planejada. O prprio verso 5, neste captulo, refora esse
entendimento, indicando que a contribuio deveria ser preparada
de antemo, ou seja deveria haver planejamento.
Como ser esse planejamento? Individualizado? Dependente da
cabea de cada um? Talvez seja possvel se achar excelentes
formas de planejar. Mas ser que ser encontrada melhor forma do
que a estabelecida na Bblia: que a ddiva do dzimo, o
reconhecimento simblico de que tudo o que temos pertence a
Deus?
O dzimo representa a essncia da contribuio planejada e
sistemtica. Conseqentemente, ser que no deveramos propor
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no nosso corao dar o dzimo? Vem como isso muda a
compreenso que tantos tm do verso? Alguns dizem: o dzimo
constrange; com obrigao no pode haver alegria na
contribuio. Mas o ensinamento justamente o contrrio:
proponha no seu corao, sistematize sua contribuio e a ddiva
fluir de voc sistematicamente, sem constrangimentos, com
alegria. No procure inventar: contribua na forma ensinada pelo
prprio Deus.
Contribuir Proporcionalmente (1 Corntios 16.2-3)
Um segundo princpio neo-testamentrio, que Deus espera que a
contribuio seja proporcional aos ganhos, ou seja, deve-se
contribuir proporcionalmente. O trecho bblico, tambm de uma
carta de Paulo, relacionado acima, diz: No primeiro dia da semana
cada um de vs ponha de parte o que puder, conforme tiver
prosperado, guardando-o, para que se no faam coletas quando
eu chegar.
O ensinamento , mais uma vez muito claro. bvio que Paulo
espera uma contribuio sistemtica, pois ele diz que ela deveria
ser realizada aos domingos (no primeiro dia da semana), que
quando os cristos se reuniam. O trecho muito rico em instruo,
demonstrando at a propriedade de reunio e culto aos domingos,
contra at alguns setores do neo-pentecostalismo contemporneo,
que insistem que deve-se continuar guardando o sbado, o stimo
dia da semana.
Mas o ponto que chama a nossa ateno, o fato de que Paulo
ensina que a contribuio deve ser conforme Deus permitir que se
prospere, ou seja, conforme os ganhos de cada um. Essa a
grande forma eqitativa apontada por Deus: as contribuies devem
ser proporcionais, ou seja um percentual dos ganhos. Assim, todos
contribuem igualmente, no em valor, mas em percentual.
Verificamos que possvel se inventar um percentual qualquer.
Talvez isso fosse possvel se nunca tivssemos tido acesso ao
restante da Bblia, mas o percentual que o prprio Deus confirmou e
registrou: dez por cento dos ganhos individuais, por demais
conhecido! Isso parece satisfatrio e bvio. No preciso se sair
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procurando por outro meio e forma de contribuio. Se isso for feito,
pode-se at dizer, eu contribuo sistematicamente com o percentual
que eu escolhi, mas nunca ser possvel dizer que isso feito em
paridade e justia com as outras pessoas. Quem vai garantir que o
percentual do outro igual ao meu? Essa aleatoriedade destruiria o
prprio ensinamento da proporcionalidade que Deus ensina atravs
de Paulo. A grande pergunta que tem que ser respondida essa:
Se Deus j estabeleceu, no passado, uma forma de
porporcionalidade, por que no seguir a forma, o planejamento e a
proporo determinada por Deus?
Concluso e Aplicao
As contribuies dizimais refletem apenas o reconhecimento de que
tudo provm de Deus. Em paralelo, preciso se estar alerta a dois
pontos:
1. O exerccio correto da mordomia muito mais abrangente do que
simplesmente contribuir. Envolve a responsabilidade total sobre
todos os recursos que so recebidos como bnos de Deus nas
nossas vidas.
2. A contribuio no ponto de barganha com Deus. Por mais
sistemtica, proporcional e planejada que ela deva ser, permanece
uma plataforma de adorao. Ela no tem eficcia para expiar
pecados, nem para angariar favores de Deus. Deus condena
aqueles que se esmeram no contribuir, mas se apresentam
adorao em pecado (Ams 4.4 multiplicai as transgresses; e
cada manh trazei os vossos sacrifcios, e de trs em trs dias os
vossos dzimos).
* Solano Portela Presbtero e membro da Igreja Presbiteriana de
Santo Amaro, So Paulo, graduado em Cincias Exatas (B.A em
Artes 1971), fez o mestrado (Th. M) em Teologia Sistemtica no
Bblical Tehological Seminary (EUA, 1974).