O DIREITO À LITERATURA: um bem incompressível na visão …being, based on Antonio Cândido's...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - CCJ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS DCJ/SR CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO O DIREITO À LITERATURA: um bem incompressível na visão de Antônio Cândido Sanderli José da Silva SANTA RITA 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - CCJ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS – DCJ/SR

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

O DIREITO À LITERATURA: um bem incompressível na visão

de Antônio Cândido

Sanderli José da Silva

SANTA RITA

2018

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SANDERLI JOSÉ DA SILVA

O DIREITO À LITERATURA: um bem incompressível na visão

de Antônio Cândido

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Direito do

Centro de Ciências Jurídicas da

Universidade Federal da Paraíba, como

requisito para a obtenção do título de

Bacharel em Ciências Jurídicas.

Orientador(a): Prof. Dr. Sven Peterke

SANTA RITA

2018

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SANDERLI JOSÉ DA SILVA

O DIREITO À LITERATURA: um bem incompressível na visão

de Antônio Cândido

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Direito do

Centro de Ciências Jurídicas da

Universidade Federal da Paraíba, como

requisito para a obtenção do título de

Bacharel em Ciências Jurídicas.

Orientador(a): Prof. Dr. Sven Peterke

Banca Examinadora Aprovada em____/________/______

____________________________________________________________

Professor Dr. Sven Peterke

(Orientador)

______________________________________________________________________

Professor Dr. Ronaldo Alencar dos Santos

(Examinador)

______________________________________________________________________

Professora Ma. Ana Carolina Monteiro Lins de Albuquerque e Souto

(Examinador)

SANTA RITA

2018

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Dedico este trabalho a Deus, à minha esposa Luciene Soares e aos

meus filhos, Piero Soares, Lorena Alysson e Sanderli Segundo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha querida esposa Luciene Soares e aos filhos amados, Piero Soares,

Lorena Alysson e Sanderli Segundo.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Sven Peterke, pela confiança, pelas salutares

orientações para o embasamento do trabalho.

Agradeço aos caros examinadores, Prof. Dr. Ronaldo Alencar dos Santos e Prof.ª Ma.

Ana Carolina Monteiro Lins de Albuquerque e Souto, pela composição da banca e pelas

oportunidades de melhorias apresentadas.

Agradeço ao Chefe do Departamento, ao Coordenador do Curso e aos Professores do

Curso de Direito, DCJ Santa Rita.

Agradeço à minha cunhada Solange Soares, pelas constantes cobranças para a elaboração

deste trabalho.

Agradeço aos colegas de curso.

E um agradecimento especial a Deus, Pai de Jesus Cristo, princípio e fim de todas as

coisas.

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A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate,

fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os

problemas.

Antônio Cândido

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RESUMO

O presente trabalho aborda a literatura como bem incompressível do ser humano, com

base na reflexão de Antônio Cândido sobre o direito à literatura. O estudo se desenvolve

através de um levantamento teórico-bibliográfico sobre o tema, tendo como referencial a

Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Convenção Americana de Direitos

Humanos e a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Focou-se em

observar o caráter humanizador e transformador da arte e da literatura, que através das

manifestações culturais promovem o aguçamento da consciência crítica. Buscou-se

mostrar a importância da Literatura de Cordel como propagadora das verdades a que as

massas precisam ter acesso para engrandecimento destas e do projeto de acesso à arte e à

literatura desenvolvido pelo Centro Cultural Ariano Suassuna, do Tribunal de Contas do

Estado. Tratou-se ainda de pesquisar e analisar as atividades do Plano Estadual do Livro,

Leitura, Literatura e Bibliotecas da Paraíba, seus princípios norteadores e objetivos para

a elevação do índice de leitura na Paraíba.

Palavras-chave: Direito à literatura. Direitos Humanos. Bem incompressível.

Manifestações culturais. Literatura de Cordel.

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ABSTRACT

The present work approaches the literature like a incompressible wealth of the human

being, based on Antonio Cândido's reflection about the right to literature. The study is

developed through a theoretical-bibliographic survey on the subject, having as reference

the Universal Declaration of Human Rights, the American Convention on Human Rights

and the Constitution of the Federative Republic of Brazil of 1988. It focused on observing

the humanizing and transforming character of the art and the literature, which through

cultural manifestations promote the sharpening of critical consciousness. The aim was to

show the importance of Cordel's Literature as a propagator of the truths to which the

masses need to have access for their aggrandizement and of the project of access to art

and literature developed by the Ariano Suassuna Cultural Center of the State Court’s of

Accounts. It was also a question of researching and analyzing of the activities of the State

Book Plan, Reading, Literature and Libraries of the Paraíba, its guiding principles and

objectives for raising the reading rate in Paraíba.

Keywords: Right to literature. Human rights. Wealth incompressible. Cultural

manifestations. Literature of cordel.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

2 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NOS DIREITO HUMANOS ................ 13

2.1 A LITERATURA É UM DIREITO HUMANO? .................................................. 16

3 O CARÁTER HUMANIZADOR E TRANSFORMADOR DA ARTE E DA

LITERATURA ............................................................................................................. 24

3.1 O TOMBAMENTO DO CORDEL COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL ......... 29

3.2 O PROJETO DE ACESSO À ARTE DO CENTRO CULTURAL ARIANO

SUASSUNA, DO TCE, E OUTRAS AÇÕES ............................................................ 36

4 AS AÇÕES DO PLANO ESTADUAL DO LIVRO, LEITURA, LITERATURA E

BIBLIOTECA DA PARAÍBA, PARA A PROMOÇÃO DESSE DIREITO ........... 44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 52

APÊNDICE A ............................................................................................................... 56

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1 INTRODUÇÃO

O crítico literário Antônio Cândido traz à tona uma discussão pujante para o meio

acadêmico: a literatura como um bem incompressível do ser humano. No seu

entendimento, “são bens incompressíveis não apenas os que asseguram a sobrevivência

física em níveis decentes, mas os que garantem a integridade espiritual” (CÂNDIDO,

2011, p. 174) e estariam nessa categoria a arte e a literatura.

O presente estudo justifica-se do ponto de vista social, pois objetiva compreender

o caráter fundamental da literatura na vida das pessoas, quais os efeitos que a literatura

pode ocasionar no ser humano, como instrumento de integração, o que deve fazer os que

acreditam nos direitos humanos para transformar teoria em realidade e quais são os

critérios para considerar os bens incompressíveis, do ponto de vista individual e do ponto

de vista social.

É pertinente do ponto de vista científico, porque quando Antônio Cândido aponta

as desigualdades sociais, as diferenças, e a injustiça na distribuição do direito, suscita um

campo de debates.

Neste estudo buscou-se compreender a questão da fruição segundo as classes, as

situações que privam as possibilidades do homem do povo no acesso à arte e à literatura.

Cândido interpreta que para o homem do povo “[...] ficam a literatura de massa, o

folclore, a sabedoria espontânea, a canção popular, o provérbio” (CÂNDIDO, 2011, p.

186). E, embora, considere manifestações importantes e nobres, assegura que “[...] é grave

considerá-las como suficientes para a grande maioria que, devido à pobreza e à

ignorância, é impedida de chegar às obras eruditas” (CANDIDO, 2011, p. 186). De forma

que, em rasa análise, poder-se-ia pensar que o crítico reputa a literatura popular em um

grau menor, porém o cerne da sua crítica se prende aos males provocados pela

desigualdade social, dentre eles o obstáculo do acesso às obras eruditas, inclusive aponta

caminhos para que a literatura erudita deixe de ser privilégio de poucos.

Ainda que não haja um aprofundamento na investigação da Literatura de Cordel,

o que seria necessário um estudo minucioso para levantar a sua importância, num

momento em que o Cordel foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional – IPHAN, pretende-se fazer a ponte entre o popular e o erudito, em decorrência

do acentuado trabalho desenvolvido pela Academia de Cordel do Vale do Paraíba em

parceria com o Centro Cultural Ariano Suassuna, braço cultural do Tribunal de Contas

do Estado da Paraíba, pois quando o homem do povo é alijado do direito à literatura

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erudita, é a Literatura de Cordel que preenche esse espaço de humanização na sua vida.

Por outro lado, se se adotar uma noção restrita demais de literatura, excluindo a literatura

de cordel da liberdade de expressão e pensamento, não se estaria praticando uma espécie

de censura?

A pesquisa em questão tem como fulcro a obra de Antônio Cândido, “Vários

escritos”, notadamente o capítulo “O direito à literatura”, em que o pensador utiliza a

literatura como um direito humano, para levantar outras discussões a respeito da

desigualdade, da concentração de rendas, do preconceito social. Cândido (2011, p. 180)

diz que: “[...] frui-la é um direito das pessoas de qualquer sociedade, desde o índio que

canta as suas proezas de caça ou evoca dançando a lua cheia, até o mais requintado erudito

que procura captar com sábias redes os sentidos flutuantes de um poema hermético”. E é

a sua visão integrada da história, a condição de crítico literário, de intelectual que marcou

a forma de investigar e analisar os fenômenos culturais, que incentiva esta pesquisa, como

tem incentivado gerações de pesquisadores.

Berriel (2017, online) entende que “[...] interessam para a compreensão de uma

obra literária ou artística as circunstâncias históricas de sua composição. Assim, as obras

e seus gêneros dependem de um quadro geral, societário; não são produzidas a esmo.”

Como primoroso observador, Cândido (2011, p. 175) esclarecia que “Os valores que a

sociedade preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes nas diversas

manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática.”

Assim, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, procurando explicar o problema

através da análise da literatura já publicada em forma de livros, revistas, publicações

avulsas e imprensa escrita, envolvendo o tema em análise; documental, através de

projetos, leis, normas, resoluções, pesquisas on-line, dentre outros que tratam sobre o

tema; e inda aporquenálise de casos práticos, podendo-se confrontar a teoria com o dado

empírico, validando-a ou não, e trazendo à tona a consistência ou inconsistência dos

argumentos utilizados.

Para atingir o objetivo proposto, que é o de pesquisar e analisar a literatura como

direito humano, indispensável à liberdade, primeiro buscou-se identificar a importância

da literatura nos direitos humanos, embasando-se na Declaração Universal dos Direitos

do Homem, de 1948, na Convenção Americana de Direitos Humanos e na Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988, aproveitando-se ainda para fazer uma leitura

entre o pensamento de Cândido e o do filósofo Milton Santos.

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No segundo capítulo focou-se em observar o caráter humanizador e transformador

da arte e da literatura, em que se trata a performance da Academia de Cordel do Vale do

Paraíba, do registro do Cordel pelo IPHAN, do fato das manifestações culturais

promoverem o aguçamento da consciência crítica, da Literatura de Cordel como

propagadora das verdades a que as massas precisam ter acesso para engrandecimento

destas e do projeto de acesso à arte e à literatura, desenvolvido pelo Centro Cultural

Ariano Suassuna, do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba.

No terceiro capítulo tratou-se de pesquisar e analisar as ações do Governo do

Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Cultura, com as atividades do Plano

Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas – PELLLB/PB, seus princípios

norteadores, objetivos, que seria abordar o livro, a leitura, literatura e biblioteca como

uma política pública de Estado de forma a contemplar toda cadeia produtiva, criativa e

mediadora do livro, para democratizar o acesso à leitura, elevando-se os seus índices no

Estado da Paraíba.

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2 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NOS DIREITO HUMANOS

Os direitos fundamentais do ser humano são reconhecidos e positivados na esfera

do Direito Constitucional, enquanto que os Direitos Humanos são direitos reconhecidos

e positivados na esfera do Direito Internacional.

Em se tratando do direito ao acesso à literatura, o Artigo 13 – Liberdade de

pensamento e de expressão, da Convenção Americana de Direitos Humanos (1969,

online), estabelece no item 1:

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito

compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda

natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em

forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (2016, p. 18), Título II –

Dos direitos e garantias fundamentais, Capitulo II – Dos Direitos sociais, em seu Artigo 6º,

institui que, “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade

e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”. Já a

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948, online), em seu Artigo XXVII,

estabelece que:

Todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da

comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus

benefícios. Todo homem tem direito à proteção dos interesses morais e

materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da

qual seja autor.

O artigo em questão consolida o acesso aos direitos culturais e protege os direitos

do autor, nos aspectos materiais, frutos da comercialização, e morais, ligados à autoria da

obra.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (2016, p. 126), em seu

Artigo 215, determina que, “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos

culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a

difusão das manifestações culturais.” Os direitos culturais e o acesso às fontes de cultura

são, assim, bens incompressíveis garantidos pela Constituição Federal.

O Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais afirma que:

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No preâmbulo da Declaração, são conhecidos a dignidade inerente e os direitos

inalienáveis de todos os membros da sociedade como condição para liberdade,

justiça e paz no mundo. Em seus trinta artigos, são listados direitos políticos e

liberdades civis (arts. 1–22), bem como direitos econômicos, sociais e culturais

(arts. 23–27). À primeira categoria pertencem, entre outros, o direito à vida e

à integridade física, a proibição da tortura, da escravatura e de discriminação

(racial), o direito de propriedade, o direito à liberdade de pensamento,

consciência e religião, o direito à liberdade de opinião e de expressão e à

liberdade de reunião. A segunda categoria inclui, entre outros, o direito à

segurança social, o direito ao trabalho, o direito à livre escolha da profissão e

o direito à educação (HEINTZE, 2010, p. 28).

Sabe-se que os Direitos Humanos são direitos fundamentais que o homem possui

pela sua própria natureza de ser humano, cuja fundamentação teve solução com a

aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, pela Assembleia

Geral das Nações Unidas, entretanto é patente que há uma crise moderna dos fundamentos

dos Direitos Humanos, de forma que o problema maior é mais de proteção do que de

justificação, trata-se de um problema mais político do que filosófico, mas a filosofia do

direito é uma das principais vertentes para essa fundamentação, enquanto se atenta para

os direitos positivados. Heidegger (2008, p. 232) apud Mascaro (2011, p. 12) afirma que:

[...] filosofar é transcender, significando um reiterado perguntar-se sobre o ser

do ente. O filosofar pergunta sobre aquilo que já compreendemos (pré-

compreendemos). Assim, abandonar a investigação pelo fundamento dos

direitos humanos seria deixar-se tomar pelas insinuações da mais tenaz

opositora da filosofia: a suposta auto-evidência das coisas. A investigação

filosófica, ao contrário da científica, busca entender o ente em sua totalidade,

busca o ser do ente.

Fala que provoca uma septilha:

Sobre os Direitos Humanos

Filosofia do Direito

Um dos principais caminhos

Por Heidegger aceito

Que se pode realizar

Transcender, investigar

O ser do ente... perfeito

Milton Santos, geógrafo e filósofo brasileiro, assegura que:

Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel

verdadeiramente despótico da informação. Conforme já vimos, as novas

condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta,

dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua

realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação

são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus

objetivos particulares (SANTOS, 2008, p. 19).

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Ainda em se falando da crise moderna, o crítico literário Antônio Cândido parece

apontar, de forma simples, o cerne da questão, que seria reconhecer que o próximo tem a

mesma necessidade que nós temos, entretanto as pessoas frequentemente são vítimas de

uma obnubilação, ou seja, passivas de deslumbramentos e ofuscações, de forma que não

negam que o próximo tenha direito a certos bens fundamentais, como casa, comida,

instrução, saúde, como se fossem privilégio de minorias, como são no Brasil. E questiona:

Mas será que pensam que o seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoievski

ou ouvir os quartetos de Beethoven? Apesar das boas intenções no outro setor,

talvez isto não lhes passe pela cabeça. E não por mal, mas somente porque

quando arrolam os seus direitos não estendem todos eles ao semelhante. Ora,

o esforço para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que

reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos humanos (CÂNDIDO,

2011, p. 172).

Santos (2008), também chamado de “o filósofo da geografia”, evoca os últimos

anos do século XX, como cenário de grandes mudanças para a unificação do mundo, em

virtude das novas condições técnicas, que seriam as bases sólidas para uma ação humana

mundializada. E que esta, entretanto, impõe-se à maior parte da humanidade como uma

globalização perversa. Chama de “encantamento do mundo” a informação ‘onipresente’,

que estaria a serviço do capital e não do homem:

Estamos diante de um novo “encantamento do mundo”, no qual do discurso e

a retórica são o princípio e o fim. Esse imperativo e essa onipresença da

informação são insidiosos, já que a informação atual tem dois rostos, um pelo

qual ela busca instruir, e um outro, pelo qual ela busca convencer. Este é o

trabalho da publicidade. Se a informação tem, hoje, essas duas caras, a cara do

convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade se

transformou em algo que antecipa a produção. Brigando pela sobrevivência e

hegemonia, em função da competitividade, as empresas não podem existir sem

publicidade, que se tornou o nervo do comércio (SANTOS, 2008, p. 20).

Mas voltando-se à questão da literatura como bem incompressível, que se não

pode negar a ninguém, Cândido (2011, p. 173) recupera o ponto de vista do sociólogo

francês, o padre dominicano Louis-Joseph Lebret, fundador do movimento Economia e

Humanismo, com quem conviveu, e que atuou no Brasil durante 20 anos, de 1940 a 1960,

“Penso na sua distinção entre "bens compressíveis" e "bens incompressíveis", que está

ligada a meu ver com o problema dos direitos humanos, pois a maneira de conceber a

estes depende daquilo que classificamos como bens incompressíveis [...]”

Oliveira (2011, online) afirma que a vida de Lebret, enquanto teólogo de ação e

pensador social, esteve diretamente entrelaçada em dois movimentos criados e

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estruturados para dinamizar uma cultura mais fraternal: a revista “Économie et

Humanisme” e o “Movimento dos Economistas Cristãos1”:

Ambos os movimentos, a partir do início dos anos 1940, fizeram com que

Lebret concebesse uma economia (ciência e atividade) em função do ser

humano, orientando-a para a satisfação das necessidades e das aspirações de

cada um comprometidos com um sistema econômico capaz de priorizar as

pessoas, e não o mercado e suas mercadorias. Com esses “movimentos”,

pautados no método “ver, julgar e agir”, Lebret viabilizou projetos de

desenvolvimento e valorização das relações humanas sob as bases da tradição

cristã (OLIVEIRA, 2011, online).

Mas se há de perguntar qual a relação entre a “globalização perversa”, apontada

por Milton Santos e a literatura vista por Antônio Cândido como bem incompressível?

Oliveira (2011, online), acima, ressalta que a aspiração de Lebret seria “[...] um sistema

econômico capaz de priorizar as pessoas, e não o mercado e suas mercadorias.” Milton

Santos, na sua obra aponta uma outra globalização, cujo foco seria a valorização das

pessoas. Assim, o próprio Cândido responde:

Certos bens são obviamente incompressíveis, como o alimento, a casa, a roupa.

Outros são compressíveis, como os cosméticos, os enfeites, as roupas

supérfluas. Mas a fronteira entre ambos é muitas vezes difícil de fixar, mesmo

quando pensamos nos que são considerados indispensáveis. O primeiro litro

de arroz de uma saca é menos importante do que o último, e sabemos que com

base em coisas como esta se elaborou em Economia Política a teoria da

"utilidade marginal” segundo a qual o valor de uma coisa depende em grande

parte da necessidade relativa que temos dela. 0 fato é que cada época e cada

cultura fixam os critérios de incompressibilidade, que estão ligados à divisão

da sociedade em classes, pois inclusive a educação pode ser instrumento para

convencer as pessoas de que o que é indispensável para uma camada social não

o é para outra. Na classe média brasileira, os da minha idade ainda lembram o

tempo em que se dizia que os empregados não tinham necessidade de

sobremesa nem de folga aos domingos, porque não estando acostumados a

isso, não sentiam falta [...] (CÂNDIDO, 2011, p. 173)

2.1 A LITERATURA É UM DIREITO HUMANO?

A literatura é indispensável para a formação do ser humano, tanto no plano da alta

cultura, quanto na esfera da cultura popular. A necessidade de fabulação é presente no

indivíduo e o acesso a esse incompressível bem obedece ao princípio da igualdade e da

não discriminação. Ela tem o papel de humanizar, porque faz o homem vivenciar

1 Louis-Joseph Lebret criou dois projetos de engajamento social: Economia e Humanismo e Movimento

dos Economistas Cristãos, cuja ideia básica era se elaborar um modelo econômico capaz de pôr a atividade

econômica a serviço das pessoas e dos povos.

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diferentes realidades e situações. É uma necessidade universal que deve ser satisfeita,

pois, dando forma aos sentimentos e à visão do mundo, tem a capacidade de organizar o

caos que há dentro do homem (CÂNDIDO, 2011).

O Plano de Ação: programa mundial para educação em direitos humanos, terceira

fase, United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization - UNESCO

(2015, p. 8), preceitua:

Conforme esses instrumentos, que contêm elementos para a definição da

educação em direitos humanos aprovados pela comunidade internacional, a

essa educação pode ser definida como quaisquer esforços de aprendizagem,

educação, treinamento ou informação com vistas a construir uma cultura

universal de direitos humanos, incluindo:

(a) fortalecer o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais;

(b) desenvolver de forma plena da personalidade e da dignidade humanas;

(c) promover a compreensão, a tolerância, o respeito pela diversidade, a

igualdade de gênero e a amizade entre todas as nações, povos indígenas e

minorias;

(d) capacitar todas as pessoas para participar em uma sociedade livre e

democrática, regulada pelo Estado de Direito;

(e) construir e manter a paz;

(f) promover a justiça social e o desenvolvimento sustentável centrados nas

pessoas.

Restringiu-se esta investigação ao fato da literatura como bem incompressível, ou

seja, como um direito fundamental do ser humano, não se entrando, portanto, no mérito

do Direito da Literatura, do Direito como Literatura e do Direito na Literatura, entretanto

apresenta-se breve citação de Godoy (2002), Bambirra (2012) e Gurgel (2013) apud

Moreira e Nogueira (2014, p. 32), a esse respeito:

O primeiro, sendo um campo mais restrito, diz respeito aos direitos de um autor

ou de uma obra quanto a sua utilização. Está relacionado com a liberdade de

expressão e direitos autorais do autor sobre sua obra (GURGEL, 2013). De

acordo com Bambirra (2012), “[…] há a proteção jurídica da atividade literária,

que envolve todos os aspectos das relações jurídicas do exercício literário – da

garantia à liberdade de expressão aos direitos autorais.” O segundo, conforme

esclarece Godoy (2002), é o uso de estratégias literárias nos próprios textos

jurídicos. Ocupa-se do estudo dos recursos de linguística, retórica e estilo,

utilizados tanto na norma quanto no discurso jurídico, para transmitir seus

conteúdos valorativos, tornando-se, mesmo, mais uma potencial forma de

leitura (GURGEL, 2013). Seria outra forma de leitura do Direito. Godoy

(2002) também explica o terceiro, afirmando que tende à representação da

atuação de juristas e instituições jurídicas em textos literários. Identifica o

jurídico dentro do literário, por meio das narrativas, metáforas e situações

hipotéticas trazidas pelo universo da literatura e discutem-se os conteúdos,

institutos e preceitos jurídicos, de forma ampla e interdisciplinar (GURGEL,

2013). Isso quer dizer que diz respeito às formas sob as quais o direito é

representado na literatura. Ou seja, livros que tenham como tema ou pano de

fundo, algo relacionado com o direito.

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É o olhar plural de Antônio Cândido, cujo senso crítico vai além da literatura, que

motiva a investigação deste trabalho. Como se sabe, Antônio Cândido lecionou Literatura

Brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis e na Universidade de

Paris. Na USP foi professor de Teoria Literária e Literatura Comparada. Foi ainda

professor visitante de Literatura Brasileira Comparada na Universidade de Yale, nos

Estados Unidos. Obteve, em 1945, o título de livre-docente com a tese Introdução ao

método crítico de Silvio Romero. Em 1954, obteve o grau de doutor em Ciências Sociais,

com a tese Parceiros do Rio Bonito.

Essas habilidades foram, naturalmente, refinando os seus olhares. Soma-se a isso

a atividade de crítico literário, que o leva à condição de pesquisador, observador da

sociedade, um estudante do comportamento humano. No entendimento de Castro (2016,

online):

O crítico literário é, portanto, um filósofo da arte verbal. E mas

especificamente no caso de Cândido, que era formado em Sociologia e

mantinha uma relação estrita e apaixonada com a Antropologia, serviu para

influenciar milhares de mentes, gerando comportamentos, remoldando o país.

Fato comprovado, tendo em vista que o crítico, que era também professor, teve

como um de seus alunos Fernando Henrique Cardoso, que depois foi eleito

Presidente do Brasil.

Luiz Marins, antropólogo e palestrante brasileiro, costuma motivar as pessoas a

trocarem o plano do choro pelo plano da ação:

É importante lembrar que uma pessoa responsável é que responde pelas coisas.

Não dá desculpas. Não se exime de fazer o que tem de ser feito para que um

objetivo seja atingido. E como é responsável, faz tudo dentro dos limites da

ética.

Pessoas responsáveis têm perseverança. Não desistem. Elas ultrapassam seus

limites. Não choram. Passam do plano do choro ao plano da ação e modificam

a realidade (MARINS, 2012, online)

Observa-se que pensadores como Antônio Cândido e Milton Santos apresentam,

dissecam os problemas que afligem o homem, como a negação do direito à literatura,

como o caráter perverso da globalização, mas também demonstram caminhos para a

iniciativa de se sair do discurso para a prática.

Quando Santos (2008, p. 19) descreve o caráter perverso da globalização, em que

“[...] a informação é oferecida à humanidade e a emergência do dinheiro em estado puro

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como motor da vida econômica e social”, e apresenta as “[...] duas violências centrais,

alicerces do sistema ideológico que justifica as ações hegemônicas e leva ao império das

fabulações, a percepções fragmentadas e ao discurso único do mundo”, como a base dos

novos totalitarismos ou globalitarismos, no seu entendimento, mas também configura

“Uma outra globalização”, demonstrando que a globalização atual não é irreversível e

que há “um novo mundo possível”. Quanto ao professor Antônio Cândido, Castro (2016,

online) afirma que não bastaria compreender o país através da literatura, cuja

compreensão gera responsabilidade, de forma que o professor se envolveu nos aspectos

da política, apontando o que estava em desacordo, denunciando a discrepância de um país

ainda com alto índice de analfabetismo, envolvendo-se num ativismo antifascismo, tendo

sido um dos fundadores da União Democrática Socialista, posterior Partido Socialista

Brasileiro. Em outras palavras, o professor Cândido denunciava através da sua obra e das

suas ações, conforme informa Leandro Sarmatz:

Mas Antonio Candido não ficou só no discurso. Durante a ditadura (1964-

1985), atuou como defensor de causas humanitárias, denunciando como a

repressão policial estava roendo as entranhas do Brasil e desagregando a nossa

sociedade. Para ele, as arbitrariedades da perseguição política contaminaram

em grande parte a atuação das polícias, que se habituaram à tortura para

arrancar confissões até do ladrão de galinha mais pé-de-chinelo. Ficou famoso

também seu depoimento em pleno governo de Ernesto Geisel, quando afirmou

que era importante discutir o socialismo, palavrinha então desaparecida da

arena política e que, nos ouvidos verde-oliva dos donos do pedaço, era coisa

pior que xingar a mãe (SARMATZ, 2004, online)

O desejo da transformação da sociedade ardia no peito de Cândido e ele

assegurava que quem acreditasse nos direitos humanos buscaria transformar a teoria em

realidade, esforçando-se para fazer coincidir uma com a outra, não obstante o aspecto

sinistro do nosso tempo, em que há a possibilidade da solução de problemas, mas não há

o empenho para tanto. Acreditava, contudo, que, apesar da situação atroz em que

vivemos, haveria perspectivas animadoras (CÂNDIDO, 2011).

Como ele não viveu para ver o atual cenário brasileiro, acreditava que:

É verdade que a barbárie continua até crescendo, mas não se vê mais o seu

elogio, como se todos soubessem que ela é algo a ser ocultado e não

proclamado. Sob este aspecto, os tribunais de Nuremberg foram um sinal dos

tempos novos, mostrando que já não é admissível a um general vitorioso

mandar fazer inscrições dizendo que construiu uma pirâmide com as cabeças

dos inimigos mortos, ou que mandou cobrir as muralhas de Nínive com as suas

peles escorchadas. Fazem-se coisas parecidas e até piores, mas elas não

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constituem motivo de celebração. Para emitir uma nota positiva no fundo do

horror, acho que isso é um sinal favorável, pois se o mal é praticado, mas não

proclamado, quer dizer que o homem não o acha mais tão natural (CÂNDIDO,

2011, p. 171).

Observando-se o comportamento dos políticos e dos empresários, ostentado por

Cândido, na época em que escreveu “Vários escritos”, percebe-se o estágio temerário

atual em que chegou o Brasil:

Do mesmo modo, os Políticos e empresários de hoje não se declaram

conservadores, como antes, quando a expressão classes conservadoras era um

galardão. Todos são invariavelmente de centro e até de centro-esquerda,

inclusive os francamente reacionários. E nem poderiam dizer outra coisa, num

tempo em que a televisão mostra a cada instante, em imagens cujo intuito é

mero sensacionalismo, mas cujo efeito pode ser poderoso para despertar as

consciências, crianças nordestinas raquíticas, populações inteiras sem casa,

posseiros massacrados, desempregados morando na rua (CÂNDIDO, 2011, p.

172).

Efetuando-se uma rápida análise nos noticiários, identifica-se a preocupação com

possíveis ameaças aos Direitos Humanos no Brasil. O caso Marielle, por exemplo, foi

considerado alarmante pela Organização das Nações Unidas – ONU:

Um grupo de relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou

comunicado conjunto nesta segunda-feira (26) em que classificam como

“profundamente alarmante” a execução da vereadora Marielle Franco (Psol),

assassinada junto com seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março, no

centro do Rio de Janeiro. Para os especialistas, o crime tem caráter político e é

uma forma de intimidar os defensores dos direitos humanos no Brasil. Nesse

sentido, segundo o grupo de trabalho, as autoridades brasileiras devem revisar

o modelo de segurança pública do país de maneira a aperfeiçoar o combate ao

crime organizado (GÓIS, 2018, online).

Perscrutando-se o atual panorama brasileiro, acredita-se ainda mais na

importância da literatura como um direito humano, como forma de combater um

comportamento desastroso da população brasileira, que é a pretermissão da investigação

e a utilização das famigeradas fake news, notícias falsas, que podem interferir

negativamente em setores da sociedade, como política, saúde e segurança.

As Nações Unidas no Brasil (2018, online) afirmam que:

Em mensagem para o Dia Mundial do Livro, lembrado nesta segunda-feira

(23), a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, defendeu que a data é

uma celebração das liberdades humanas “mais essenciais”, como as liberdades

de expressão e de publicação. Dirigente disse que os livros “permitem o

compartilhamento de ideias e conhecimento através das fronteiras e fortalecem

o entendimento mútuo e o diálogo”.

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[...] Para Audrey, “os livros estão na interseção de algumas das liberdades

humanas mais essenciais, primeiramente a liberdade de expressão e a liberdade

de publicar”.

“Essas liberdades são frágeis. Diante de muitos desafios, do questionamento

aos direitos autorais e à diversidade cultural até as ameaças físicas que, em

vários países, atingem autores, jornalistas e editores, essas liberdades também

são negadas, ainda hoje, quando escolas são atacadas e quando manuscritos e

livros são destruídos”, alertou a dirigente.

A chefe da agência da ONU acrescentou que é um dever de todos proteger

esses direitos e promover a leitura e a escrita, com o objetivo de combater o

analfabetismo e a pobreza, fortalecer os fundamentos da paz e proteger as

profissões e os profissionais relacionados à área editorial.

Cândido é otimista e desnuda o problema, mas formula alvíssaras através do

crescimento individual e coletivo do homem, alegando que tudo isso poderia ser visto

como manifestação infusa da consciência cada vez mais generalizada de que a

desigualdade é insuportável, que através dos recursos técnicos e organizacionais a

desigualdade poderia ser atenuada, que se poderia falar de um desenvolvimento no

sentimento do próximo e em não havendo uma ação em consonância, aí estaria o

problema dos que lutam pelo direitos humanos (CÂNDIDO, 2011).

E Cândido voltar a insistir na empatia social, referindo-se ao problema dos que

lutam para que isso aconteça:

Por quê? Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer

que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável

para o próximo. Esta me parece a essência do problema, inclusive no plano

estritamente individual, pois é necessário um grande esforço de educação e

auto-educação a fim de reconhecermos sinceramente este postulado. Na

verdade, a tendência mais funda é achar que os nossos direitos são mais

urgentes que os do próximo (CÂNDIDO, 2011, p. 172).

Heintze (2010, p. 43), no Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais,

esclarece que “Os direitos humanos formam uma unidade em nível universal e estão

direcionados a criar um padrão universal. A Declaração Universal dos Direitos Humanos

documenta essa unidade. Todavia, a codificação ramifica essa unidade.” No mesmo

documento pontifica as três gerações dos direitos humanos na literatura:

[...] fala-se acerca das três gerações dos direitos humanos na literatura. A

primeira geração são os clássicos direitos humanos, os liberais direitos de

defesa e os democráticos direitos de participação. Eles são enfatizados

principalmente pelos países ocidentais e englobam direitos subjetivos que são

legalmente exigíveis pelo Estado. A segunda geração, favorecida pelos países

socialistas, são os direitos econômicos, sociais e culturais. Eles são possíveis

por meio de uma ação do Estado, que garante o direito ao trabalho, à

alimentação, à moradia, à educação etc. A terceira geração, trazida pelo

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terceiro mundo, são os direitos solidários ou coletivos dos povos, como, por

exemplo, o direito à autodeterminação dos povos. Todo o debate acadêmico

sobre as três gerações foi uma expressão da confrontação ideológica nos

tempos de oposição ocidente–oriente e não deixou realmente marcas na

codificação. (HEINTZE, 2010, p. 43)

No entendimento de Feitosa (2017), a literatura reflete a realidade social de um

povo em um determinado espaço de tempo, através do pensamento, valores, conceitos,

costumes e ideais, de forma que é possível ler, dialogar com o mundo através da literatura,

facilitando a compreensão do comportamento e dos conflitos do homem.

Lima (2012, p. 271), considera que no Brasil a efetivação do direito à literatura,

não obstante previsão legal, não há um relevo dessa importância:

A legitimidade do direito à literatura apoiou-se na Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, que expressa em seus artigos o direito universal

à educação e seus diversos meios de se operar, entre eles a literatura; na Lei nº

9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação; e na Lei nº 8.069/90 Estatuto

da Criança e do Adolescente. E no Law and Literature Movement, movimento

iniciado em 1970 nos Estados Unidos que conseguiu despertar na cultura

jurídica desse país e na Europa uma conexão entre a literatura e o direito. A

menção desse movimento no estudo justifica-se para ratificar que nos países

desenvolvidos preocupação de efetivar o direito à literatura já adquiriu

proporções significativas, enquanto o Brasil, embora tendo previsão legal,

ainda não despertou para tal importância. (LIMA, 2012, p. 271).

Segundo Sarlet (2012) apud Dantas (2014, p. 28),

A ideia dos direitos fundamentais torna-se percebida por uma dupla dimensão,

sejam elas a dimensão subjetiva e a dimensão objetiva. No primeiro caso, as

pretensões constitucionais mostram-se como garantias aos indivíduos e

protegem a liberdade, a autonomia e a segurança do ser humano perante o

Estado e os demais membros da sociedade. No segundo caso, os direitos

fundamentais exercem sua função como fundamento do ordenamento político-

jurídico do Estado, e se propõem a desferir uma ordem direcionada ao Ente

Público, no sentido de que a ele cabe a perene obrigação de materialização e

efetivação desses anseios essenciais da sociedade (SARLET, 2012).

Antônio Cândido interpretava o Brasil através da literatura e como observador da

relação íntima entre literatura e sociedade, entendeu que a arte e a literatura só poderiam

ser consideradas como bens incompressíveis diante de uma organização justa da

sociedade:

Mas a fruição da arte e da literatura estaria mesmo nesta categoria? Como

noutros casos, a resposta só pode ser dada se pudermos responder a uma

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questão prévia, isto é, elas só poderão ser consideradas bens incompressíveis

segundo uma organização justa da sociedade se corresponderem a

necessidades profundas do ser humano, a necessidades que não podem deixar

de ser satisfeitas sob pena de desorganização pessoal, ou pelo menos de

frustração mutiladora. A nossa questão básica, portanto, é saber se a literatura

é uma necessidade deste tipo. Só então estaremos em condições de concluir a

respeito. (CÂNDIDO, 2011, p. 174).

Sobre Lima Barreto, escritor brasileiro que trouxe para a literatura a questão da

discriminação racial, um literato militante que deu voz à raça negra, um defensor dos

oprimidos da cor da pele, Cândido afirma:

Para Lima Barreto a literatura devia ter alguns requisitos indispensáveis. Antes

de mais nada, ser sincera, isto é, transmitir diretamente o sentimento e as ideias

do escritor, da maneira mais clara e simples possível. Devia também dar

destaque aos problemas humanos em geral e aos sociais em particular,

focalizando os que são fermento de drama, desajustamento, incompreensão.

Isto, porque no seu modo de entender ela tem a missão de contribuir para

libertar o homem e melhorar a sua convivência. (CÂNDIDO, 1989, P. 39)

Assim, a pesquisa tem demonstrado que a literatura é um bem irreprimível, que se

não pode negar ao homem.

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3 O CARÁTER HUMANIZADOR E TRANSFORMADOR DA ARTE E DA

LITERATURA

O modernista Mário de Andrade esteve no Nordeste de novembro de 1928 a

fevereiro de 1929. O seu contato com o sertão, com os diversos tipos humanos, com as

manifestações culturais, como folguedos, danças, músicas e a própria religiosidade do

povo, impregnada de superstições, causaram nele um grande impacto, fazendo-o adquirir

uma visão de nacionalidade abrangente.

Andrade, que também chefiou o Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo,

de 1935 a 1938, segundo Cândido (2011), promoveu uma organização da cultura com

vista ao público mais amplo, remodelando a Biblioteca Nacional, instalando parques

infantis, bibliotecas ambulantes, discotecas públicas e concertos que alcançavam os

bairros populares, porque ele entendia que as criações populares eram fontes das eruditas

e que a arte vinha do povo.

“Ao mesmo tempo, Mário de Andrade incrementou a pesquisa folclórica e

etnográfica, valorizando as culturas populares, no pressuposto de que todos os níveis são

dignos e que a ocorrência deles é função da dinâmica das sociedades” (CÂNDIDO, 2011,

p. 188).

E por se falar em valorização da culturas populares, poetas de três Estados do

Nordeste: Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, reuniram-se no dia 24 de janeiro

de 2015, na cidade de Itabaiana – PB, para fundarem a Academia de Cordel do Vale do

Paraíba - ACVPB, em homenagem ao sesquicentenário do nascimento do poeta Leandro

Gomes de Barros, paraibano de Pombal, considerado o “Pai do Cordel Brasileiro”, no

entendimento de Luciano (2014, online):

Leandro Gomes de Barros é, sem qualquer sombra de dúvida, o pai do cordel

brasileiro. Não só por ter sido pioneiro nas publicações ou ter inventado a

profissão de autor-editor-revendedor de folhetos. Também, e talvez seja o

indício mais forte, por ter experimentado todas as formas, estilos e

modalidades poéticas. Experimentou para depurar. Degustou quadras,

sextilhas, septilhas, décimas, martelos e outras estrofações. Foi do cordel ao

soneto, cançonetas, odes, paródias. Provou das pelejas, contos universais,

novelas ibéricas. Enveredou pelos temas sociais, cantou a cidade do Recife,

glosou com outros amigos poetas. Crítico contumaz, observador político, não

teve medo de errar, nem de quebrar o pé de algum verso. Rebuscou sua escrita

e fundou o seu “marco brasileiro”. Ninguém o superou. Pelo contrário,

qualquer referência à poesia cordelística obrigatoriamente deverá citar o filho

de Pombal.

Segundo Mozart (2015, online):

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Poetas cordelistas da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco fundaram a

Academia de Cordel do Vale do Paraíba, sendo realizada a posse dos

acadêmicos e da primeira diretoria neste sábado, 24 de janeiro, na Casa de

Recepções Maison Finesse, em Itabaiana, com as presenças do Secretário de

Cultura da Paraíba, Lau Siqueira, Presidente da Academia de Letras da

Paraíba, Damião Ramos Cavalcanti, Secretário de Cultura de Itabaiana,

Luciano Marinho, Presidente da Academia Feminina Paraibana de Literatura

e Arte, Bernardina Freire, pesquisadores da cultura popular, a exemplo da

professora Ana Almeida, de Sapé, e da poeta cordelista Sonia Gervásio, de

Caruaru, entre outros admiradores dessa arte popular.

A entidade elegeu por aclamação com primeiro presidente o cordelista Sander

Lee, secretariado por Fábio Mozart e tendo na tesouraria o poeta Antonio

Costta. A assessoria de imprensa ficou a cargo do jornalista Dalmo Oliveira e

Valdemir Almeida assumiu como Relações Públicas.

O Paraíba Criativa2 (2018, online), Programa de Extensão do curso de graduação

em Turismo, do Centro de Comunicação e Artes (CCTA), da Universidade Federal da

Paraíba (UFPB), informa que:

Entre os objetivos da ACVPB está o resgate do folheto de cordel, o

estabelecimento do cordel nas escolas, as oficinas de cordel, para a

disseminação da arte secular, com foco na estrutura de rimas, oração e

metrificação, apoio aos novos cordelistas na editoração e disseminação das

suas obras, a regularidade de Saraus, com recitais de poetas cordelistas,

participação e fomento de feiras de Cordel, parceria com as instituições

culturais, para a mobilização de eventos culturais.

No discurso de boas-vindas o poeta Lee (2015, online) saudou o escritores:

Hoje Itabaiana abre

Instalando a Academia

Esse Sesquicentenário

Do Mestre da poesia

LEANDRO GOMES DE BARROS

Cuja obra em mil jarros

Floresceu com euforia

O Cordel é a energia

Que juntou neste evento

Poetas e Repentistas

Deixando o povo atento

Alunos e professores

Escritores, pensadores

Exposição do talento

Nosso agradecimento

Ao Secretário de Estado

Da Cultura Lau Siqueira

Poeta abalizado

Presidente Damião

2 Website do Paraíba Criativa: http://www.paraibacriativa.com.br

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Ramos Cavalcanti, o irmão

Que é por nós mui amado

E por nos ter ajudado

Através da Fundação

Casa de José Américo

Nesta disseminação

Da Cultura do Cordel

Que aumentará o fardel

Da linguagem do Sertão

Também nesta ocasião

Queremos agradecer

À imortal Bernardina

Freire, Flor de Mussambê,

Que preside a Academia

Feminina e alumia

O horizonte do saber

Não podemos esquecer

Da nossa pesquisadora

Querida Beth Baltar

Grande incentivadora

Desta arte altaneira

Que cresceu dentro da feira

Mas agora é adutora

Obrigado, escritora

Nossa Rosane Coutinho

Dra. Cida Amorim

Receba nosso carinho

O Clodemir Cientista

Que nunca perde de vista

O Cordelista e o pinho

O Luciano Marinho

No reino da poesia

Do vale do Paraíba

Sente grande alegria

E de honra é presidente

Este esteta decente

Desta nossa Academia

Oh, minha gente, sorria

Que está sendo filmado

Sander Lee, Fábio Mozart,

Antonio Costta ao lado

Valbam Lopes, Bob Motta

É fonte que não se esgota

Nosso Cordel denodado

Tem juízo abastado

Pádua Gomes, Rui Vieira,

Lorena e Sander Brown

Josafá de Orós na eira

O Walter Mário da Luz

Carlos Aires que induz

O Cordel a vida inteira

Por aqui não tem canseira

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Com Eduardo Viana

O vate de Zabelê

Como é superbacana

Descobrir o João Bernardo

Este primoroso bardo

Da terra de Itabaiana

A sabedoria humana

Do vate Beto Lucena

O cantor Orlando Otávio

Também no Cordel acena

Biu Salvino e o grande Heleno

São os galos do terreno

Que a viola desempena (m)

Luciene concatena

O que aprendeu do pai

O vate Agenor Otávio

Cantando a terra vai

Poeta Evânio Teixeira

Vai completando a fileira

Do Cordel que não retrai

O bom Deus é nosso Pai

Deu o Cordel criativo

Ao aboio do vaqueiro

Ao Poeta Esperantivo

Ao Enxuto Embaixador

Dalmo Comunicador

Do Cordel Educativo

E é por isso que vivo

Do Cordel embriagado

Se vou liderar dois anos

Eu digo muito obrigado

Minhas senhoras, senhores,

Apologistas, cultores,

Obrigado, povo amado!

Sander Lee

Como foi dito pelo Programa de Extensão do Curso de Graduação em Turismo,

além do resgate do cordel, do estabelecimento do cordel nas escolas e das oficinas, para

a aprendizagem e/ou aprimoramento da forma literária, como a metrificação, oração e

estruturação de rimas, a ACVPB empreende parcerias com as instituições culturais para

a realização de saraus. Em Joao Pessoa, por exemplo, a Academia mantém uma parceria

com o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, para, através do Centro Cultural Ariano

Suassuna, realizar o Sarau Poemas e Cantos da Cidade, toda última quinta-feira do mês.

Segundo Marinho (2018, p. 252):

Os saraus poéticos têm se caracterizado como espaços sociais que dão voz

àqueles que geralmente são excluídos da sociedade. São espaços que além de

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voz, proporcionam o primeiro contato de muitos com o universo da literatura.

A maior parte desses saraus traz discussões sociais, debatem o cotidiano, a

realidade do país e são, portanto, espaços formadores de leitores, autores e

cidadãos críticos que pensam o que vivem. Nesses ambientes, a literatura que

por muitos é sacralizada, perde esse viés e torna-se bem comum, direito de

todos [...].

Marinho (2018, p. 251) traz à baila o poder da literatura como instrumento de

reflexão: “A literatura possui um caráter humanizador, o texto que dialoga com o leitor,

que interroga e faz refletir, no mais das vezes, tem a capacidade de despertar a

sensibilidade, fazer refletir e criar conexões com a realidade.”

No Sarau Poemas e Cantos da Cidade chegou-se a mesclar um recital de cordel

com a música clássica da Filarmônica de Barra de São Miguel, sincronizando-se o erudito

com o popular.

Cândido (2011, p. 174) diz o seguinte:

Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de

toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em

todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as

formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações.

Vista deste modo a literatura aparece claramente como manifestação universal

de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que

possa viver sem ela. Isto é, sem a possibilidade de entrar em contacto com

alguma espécie de fabulação. Assim como todos sonham todas as noites,

ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos

de entrega ao universo fabulado.

A literatura no sentido amplo, para Cândido, é impreterível, uma necessidade

universal que precisa ser satisfeita:

O sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo,

independentemente da nossa vontade. E durante a vigília a criação ficcional ou

poética, que é a mola da literatura em todos os seus níveis e modalidades, está

presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito, como anedota, causo,

história em quadrinhos, noticiário policial, canção popular, moda de viola,

samba carnavalesco. Ela se manifesta desde o devaneio amoroso ou econômico

no ônibus até a atenção fixada na novela de televisão ou na leitura seguida de

um romance. Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar

no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo a

que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa

ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito (CÂNDIDO, 2011, p. 174-

175).

Diante da regularidade da realização de eventos com o Cordel, e da frequência do

público, percebe-se que a Literatura de Cordel vem cumprindo também o papel de

satisfazer essa necessidade universal de cultura.

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3.1 O TOMBAMENTO DO CORDEL COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL

A Academia de Cordel do Vale do Paraíba – ACVPB participou em João Pessoa,

no dia 02 de outubro de 2015, da reunião com o Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional - IPHAN, para discutir o Registro do Cordel e do Repente como

Patrimônio Cultura Imaterial Brasileiro, no Museu de São Francisco.

Os marcos legais discutidos pelos organizadores da reunião, conforme a figura 1,

foram:

O Artigo 216 da Constituição Federal do Brasil de 1988: Ampliação do

conceito de patrimônio cultural brasileiro. Este passa a ser constituído pelos

bens de natureza material e imaterial, portadores de referência à identidade, à

ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira;

O Decreto 3.551/2000: Institui o Registro de Bens de Natureza Imaterial que

constituem o Patrimônio Cultural Brasileiro e cria o Programa Nacional do

Patrimônio Imaterial – PNPI;

Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial/UNESCO – 2003.

Figura 1: Reunião do IPHAN, em João Pessoa, para discutir o registro do Cordel

Fonte: Página do Facebook de Sander Lee

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A solicitação da Literatura de Cordel foi apresentada pela Academia Brasileira de

Literatura de Cordel – ABLC, em 2010. O Repente foi incluído ao mesmo processo no

ano de 2013. A pertinência da solicitação da Literatura de Cordel e Repente foi avaliada

pelo IPHAN e pela Câmara Técnica Setorial em sua 17ª reunião, considerando-se o

pedido pertinente. Assim, o IPHAN promoveu reuniões nos Estados brasileiros para

discutir o tombamento. Na Paraíba, a condução esteve sob a responsabilidade da

professora Rosilene Aves de Melo, da Universidade Federal de Campina Grande, com o

apoio da professora Beliza Áurea de Arruda Mello, da Universidade Federal da Paraíba,

e do antropólogo Emanuel Oliveira Braga, do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

da Paraíba, conforme figura 2.

Figura 2: Reunião do IPHAN, em João Pessoa, para discutir o registro do Cordel

Fonte: Página do Facebook de Sander Lee

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN reconheceu no

dia 19 de setembro de 2018 a Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural Imaterial

Brasileiro:

O gênero literário, que também é ofício e meio de sobrevivência para inúmeros

cidadãos brasileiros, a Literatura de Cordel, foi reconhecido pelo Conselho

Consultivo como Patrimônio Cultural Brasileiro. A decisão foi tomada nesta

quarta-feira, 19 de setembro, por unanimidade pelo colegiado que está reunido

no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. A reunião também contou com a

presença do Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, da presidente do Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa e do

presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira

(IPHAN, 2018, online).

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Percebeu-se durante a pesquisa que há uma reinvindicação para “conduzir os

estudos sobre o Cordel norteando-os por sua filiação ao todo poético brasileiro”,

pensamento do poeta Aderaldo Luciano exposto na apresentação de Albuquerque et al

(2016). A propósito, o livro “Na memória da tradição: fontes de informação em literatura

de cordel”, Albuquerque et al (2016), é fruto da pesquisa financiada pelo Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, que fundamenta-se na

identificação de 150 poetas populares. Na apresentação da obra consta que:

Não convém para a história da literatura de cordel aqueles que se arvoram de

“pesquisadores” e não se dão ao trabalho de se aprofundarem na técnica poética

do gênero. Prestam um desserviço os que não conseguem burilar, refinar a

pesquisa, como um bom escultor faria. Luciano chega a dizer que “os

estudiosos do cordel foram incapazes de oferecer-lhe sua verdadeira dimensão

literária”. Há pesquisas em que se troca a autoria dos folhetos e Luciano aponta

a coleção da Editora Hedra, Biblioteca do Cordel, como uma obra que comete

equívocos de autoria.

Por isso é que louvamos “Na memória da tradição”, obra que os pesquisadores

da UFPB trazem às nossas mãos. Eles são conscientes da grande

responsabilidade e, através da Ciência da Informação, presenteiam a

comunidade poética e os seus apologistas. (ALBUQUERQUE et al, 2016, P.

14)

Lombardi (1993, p. 354) apud Porfiro (1999, p. 13) afirma que:

Torna-se hoje, indispensável que as manifestações culturais busquem e,

verdadeiramente, encontrem meios que promovam o aguçamento das

consciências críticas ante a realidade da vida e do mundo, o que fortalecerá na

busca das transformações necessárias. Desta maneira, cabe afirmar que o

atraso cultural a que têm sido relegadas as massas proletárias, jamais lhes

favorecerá o conhecimento e a adequação do pensamento à realidade, uma vez

que sua realidade ignorante leva-as a crê tão somente no irreal, no fictício-

ideológico, e sua irracionalidade é explicada pela falta de desenvolvimento da

consciência crítica; desenvolvê-la não é o que querem as classes dominantes.

Aí só resta, então, pensar e agir na “busca do interesse comum que gera a ideia

de resistência, de união, o que é criação do próprio capitalismo e que leva à

constituição da classe para si”, através do crescimento intelectual, para a

tomada de consciência.

Em 27 de abril de 2012, Lee (2012, online), declamou o cordel “Caso Sétimo

Garibaldi” em um Seminário de Direitos Humanos, coordenado pelo Prof. Dr. Sven

Peterke, na UFPB:

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CASO SÉTIMO GARIBALDI

Poema declamado em 27/04/2012, por ocasião do Seminário de Direitos

Humanos, da UFPB, com o Prof. Dr. Sven Peterke.

Vinte e sete de novembro

Noventa e oito o ano

Bandidos encapuzados

Usando astúcia e engano

Invadiram a Fazenda

São Francisco, e em contenda,

Desenvolveram vil plano

Dizendo-se policiais

Usaram de violência

Contra o acampamento

Na cidade de Querência

Do Norte, do MST.

Tristeza, digo a você

Crueldade e inclemência

Os pobres trabalhadores

Corriam pra todo lado

O Sétimo Garibaldi

Na coxa foi baleado

Ficou sem atendimento

De forma que o ferimento

Levou-o a óbito, coitado!

Foi preso Ailton Lobato

Da fazenda o gerente

Mas Morival, fazendeiro

Só por ter a costa quente

Escapou sem sofrer dano

Aumentando o desengano

Dessa sofredora gente

Cria álibi, cria prova,

Para enganar a justiça

Morival aproveitando

Da indolência, preguiça,

Do nosso judiciário

Apostou no ideário

Do descaso e da cobiça

A Elisabeth Khater

Indeferiu a prisão

E com um simples despacho

Sem a fundamentação

Liberou o pistoleiro

Mas prender o desordeiro

Seria a sua missão

Quase cinco anos depois

Cansados de esperar

Da justiça do Brasil

Sem nada solucionar

Enviaram petição

Contra a “investigação”

À CIDH , OEA

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Movimento MST

Da Terra a Pastoral

Advogados Populares

E a Justiça Global

Mais a Terra de Direitos

Formalizaram seus pleitos

Numa ação sensacional

12/05/2004

A despeito dos indícios

Do crime e da autoria

Pede o Ministério Público

O arquivo, quem diria

Do inquérito policial

E Khater faz este mal

Sem tecer menor porfia

Os direitos às garantias

O Estado violou

A CIDH OEA

Prontamente declarou

O Artigo 8.1

E o 25.1

Da Convenção, apontou!

Depois de onze anos

A sentença anuncia

A Corte Interamericana

Como a vanguarda queria

Condenando o Estado

Por haver desrespeitado

A judicial garantia

A OEA considerou

O nosso país culpado

Por não responsab’lizar

Quem havia assassinado

O trabalhador rural

Judiciário parcial

Por ter o direito negado

Governo Lerner, Paraná -1994-2002

Durante o Governo Lerner

Esse caso aconteceu

E grande perseguição

AO MST se deu

Ruralistas se uniram

Autoridades agiram

E a violência ocorreu

Dezesseis trabalhadores

Morreram no Paraná

Mais de quinhentas prisões

Arbitrárias, se deu lá

Ameaças e tortura

Lesões, dores, amargura

Na terra desse paxá

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É Direito Internacional

Que toda violação

Que tenha causado dano

Haja a reparação

Artigo sessenta e três

A Corte, digo a vocês

Fez essa aplicação

Somente em 2010

Deu-se a reparação

E através do Decreto (7.307, de 22/09/2010)

Ocorreu a promoção

Para sentir o Brasil

Que resolver no fuzil

É cruel violação

Iracema recebeu (US$ 52.142,86)

É de Darsônia a fração (US$ 21.142,86)

O valor de Vanderlei (US$ 21.142,86)

De Fernando, seu irmão (US$ 21.142,86)

Para Itamar rendeu (US$ 21.142,86)

O Itacir percebeu (US$ 21.142,86)

E Alexandre, o quinhão (US$ 21.142,86)

Não traz o Sétimo de volta

Mas mostra para o Estado

Que violando os Direitos

Humanos, é condenado,

E alerta a população

Para que preste atenção

No direito consagrado

Sander Lee

Porfiro aponta a literatura de cordel como importante veículo de informação junto

às massas, não obstante a Academia não lhe conferir o estatuto de obra de arte:

[...] a Literatura de Cordel, enquanto propagadora das verdades a que as massas

precisam ter acesso para o engrandecimento destas, vê cassado pela Academia

seu estatuto de obra de arte, como se tal estatuto fosse exigido pelos

apreciadores da poesia popular, habitantes do rés do chão da nossa história. Se

o discurso burguês prepondera porque domina através da linguagem falseada,

é inibidor da coesão social e chega aos seringais amazônicos por via do rádio-

de-pilha, eivado de metáforas ocultadoras da ideologia do capital, cabe ao

Cordel, instrumento crítico-educativo das gentes simples, revelar ao seu

público os significados reais de tais signos. (PORFIRO, 1999, p. 14).

O Governo do Estado da Paraíba, em 2003, adquiriu o acervo pessoal do

pesquisador e professor Átila Almeida e doou à UEPB. Para a guarda, conservação e

manutenção da coleção a Universidade Estadual da Paraíba instituiu a Biblioteca de Obras

Raras Átila Almeida, hoje com um acervo de 18.271 cordéis, considerado a maior coleção

do gênero:

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O acervo de cordéis da Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida é considerado

como a maior coleção do gênero. Composto por títulos raros, datados a partir

de 1907, nosso acervo conta com autores da nova geração de cordelistas e

veteranos, a exemplo de Leandro Gomes de Barros e José Camelo de Melo

Resende. A coleção, atualmente, detém 18.271 cordéis disponíveis (UEPB,

2018, online)

Considerando-se outros acervos, pode-se apontar o de Literatura Popular em

Versos da Fundação Casa de Rui Barbosa, que disponibiliza mais de 9.000 folhetos de

cordel, desses 2.340 foram digitalizados.

O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - CNFCP disponibiliza uma

Cordelteca com 7.176 folhetos de cordel.

O site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel possui uma ampla coleção

de folhetos digitalizados e oferece informações a respeito da história do cordel e biografia

de grandes cordelistas.

A Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa, também possui um bom

acervo de Cordel, aberto à visitação na Praia de Cabo Branco.

O tombamento do Cordel como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo

IPHAN, demonstra que o Cordel está vivo e pujante. A Academia se tem juntado aos

escritores nesse propósito da memória. A professora Rosilene Melo, da UFCG, percorreu

o Brasil, reunindo-se com os escritores, através do IPHAN, para discutir o registro do

Cordel e do Repente.

Identificou-se que na Paraíba os pesquisadores da UFPB, Maria Elizabeth Baltar

C. de Albuquerque, Bernardina Maria J. Freire de Oliveira, Izabel França de Lima,

Eveline Filgueiras Gonçalves, Fabiana da Silva França e Sale Mário Gaudêncio,

participaram de uma pesquisa para a preservação da memória do Cordel, cujo trabalho

resultou no livro “Na memória da tradição: fontes de informação em literatura de cordel”,

editado pela EDUEPB e pela Editora da UFPB, em 2016.

Figura 3: Brasão da Academia de Cordel do Vale do Paraíba

Fonte: Acervo do artista plástico Marcelo Soares

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3.2 O PROJETO DE ACESSO À ARTE DO CENTRO CULTURAL ARIANO

SUASSUNA, DO TCE, E OUTRAS AÇÕES

João Pessoa possui um teatro com capacidade para 2.294 lugares, com 11.763 m2,

que é o Teatro Pedra do Reino, no Centro de Convenções. Entretanto, cobrou-se R$

180,00 de uma entrada inteira para o show do cantor Alceu Valença com a Orquestra

Sinfônica de Ouro Preto. Já o show do cantor Chico Buarque, que aconteceu no dia 18 de

setembro de 2018, nesse teatro, custou R$ 340,00 a inteira. Ora, reconhece-se o valor

desses artistas brasileiros, mas o homem modesto, o assalariado, é certamente alijado

desse tipo de entretenimento cultural.

O Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB), através do seu braço

cultural, que é o Centro Cultural Ariano Suassuna, tem utilizado o Auditório Celso

Furtado, sala com capacidade para 420 pessoas, para levar arte e literatura à sociedade

paraibana.

No dia 03 de agosto de 2018, o site do Governo Municipal noticiava, através da

sua assessoria de comunicação:

A Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa (OSMJP) realiza, neste

sábado (4), às 18h, no Auditório Celso Furtado do Centro Cultural Ariano

Suassuna, o VI Concerto Oficial da Temporada 2018, com obras do austríaco

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e do russo Piotr Ilytch Tchaikovsky

(1840-1893). A entrada é gratuita.

O concerto do mês de agosto terá a participação especial do violinista

canadense Guillaume Tardif e regência do maestro Laércio Diniz, regente

titular da OSMJP. A apresentação é uma parceria da Fundação Cultural de João

Pessoa (Funjope) com o Tribunal de Contas (TCE-PB), por meio do Centro

Cultural.

No programa da noite, duas das obras mais importantes e conhecidas do

repertorio erudito, a “Sinfonia 40”, de Mozart, e o “Concerto para violino e

orquestra”, de Tchaikovsky, peças que, segundo o maestro Laércio Diniz,

“entraram para o gosto do público tanto pela beleza como pela profundidade

que elas nos trazem”. (MORAES, 2018, online)

Quando da inauguração do espaço de cultura do TCE-PB, em 19 de dezembro de

2014, a assessoria de comunicação informou que:

O Centro Cultural, que o Tribunal de Contas da Paraíba entrega aos paraibanos

nesta sexta-feira, dia 19, em ato solene agendado para as 16h00, edifica-se com

a robustez de uma identidade: Ariano Suassuna. A imperiosa missão que

assume é igualmente vigorosa. “Arte, cultura, conhecimento. São os elos que

reforçam a ligação da Corte de Contas com a promoção e os interesses da

cidadania”, salienta o conselheiro Fábio Nogueira, presidente do TCE-PB, e

construtor da obra. (MORAES, 2014, online)

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O Centro Cultural Ariano Suassuna – Tribunal de Contas do Estado da Paraíba e

a Academia de Cordel do Vale do Paraíba – ACVPB, promoveram o Sarau Poemas e

Cantos da Cidade, com entrada franca, conforme Figura 4. Sobre o evento o jornalista

Kubitschek Pinheiro, do Portal Correio da Paraíba, publicou no dia 26 de setembro de

2018:

Nesta quinta-feira, às 18h30, na programação do ‘Sarau Poemas e Cantos da

Cidade’, os magistrados Leandro dos Santos e Onaldo Rocha de Queiroga vão

lançar novas obras da cultura popular, no Centro Cultural Ariano Suassuna

(CCAS). O evento é promovido pelo Tribunal de Contas da Paraíba (TCE-PB)

e pela Academia de Cordel do Vale do Paraíba, com entrada gratuita.

...Para o magistrado, o forró está há muito inserido na cultura popular de nosso

Estado. “O forró traduz uma essência do nosso povo. O forró é popular. É do

povo humilde. O forró se torna importante por refletir essa expressão natural

da nossa gente”, disse.

O juiz Onaldo Queiroga vai lançar ‘Por amor ao forró’, segunda edição da

biografia do artista Pinto do Acordeon, que acompanha um DVD, com selo da

Editora Latus da Universidade Estadual da Paraíba. “Sim, não deixa de ser uma

biografia, apesar de, também, possibilitar ao leitor uma viagem a um olhar

crítico sobre uma boa parte da obra musical de Pinto, com crônicas, que

mostram o convívio dele com Luiz Gonzaga e outros, esclarecendo como

ocorrera a criação de algumas canções. O livro, ainda, trás depoimentos de

diversos artistas, tais como Fagner, Xico Bezerra, Dominguinhos, Chico César

e Valtinho do Acordeon.”.

...Ainda na programação do Sarau, o poeta El Gorrion lançará dois romances

‘O soldado e a morte’, ‘A protegida de Maria’ e uma coletânea ‘Cordel

Coletivo’ de 36 poetas. Outras obras serão lançadas pelos poetas Ed Porto, com

‘Larandara’, e Thiago Monteiro que, ao lado de Lú Fernandes, apresentará a

performance ‘Cada gota de chuva tem mudado/ o cenário da seca no Sertão’.

Também será aberta a exposição ‘Cores do Brejo. Guarabira, uma cidade

Naif’, com os artistas Adriano Dias, José Guilherme, José Wellington, Joilson

Pontes, Marby Silva, Madriano Basílio, Matheus Matias e Tovo Cabral. A

Mostra tem a chancela da Secretaria de Cultura de Guarabira, que trará os

artistas para o vernissage de estreia. (PINHEIRO, 2018, online)

Observou-se que durante os eventos há a sessão de autógrafos. Diante da

diversidade dos suportes das obras (livros, folhetos, cds, dvds, folhas avulsas, endereços

eletrônicos), dificilmente alguém deixa de adquirir algo, porque os valores variam de R$

30,00 a R$ 3,00. Alguns poetas disponibilizam as suas obras na internet, outros distribuem

folhetos gratuitamente, na intenção da manutenção da secular cultura da Literatura de

Cordel.

Relembrando Cândido (2011, p. 174), “[...] E durante a vigília a criação ficcional

ou poética, que é a mola da literatura em todos os seus níveis e modalidades, está presente

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em cada um de nós, analfabeto ou erudito [...]”, seguem aqui três décimas de poetas

populares, publicadas por Lee3 (2012, online), em que os mesmos afirmam que “Tudo é

poesia”:

Também em dia de chuva

Num horizonte nublado

No ‘risozinho’ minguado

Dos olhos de uma viúva

‘Murchinhos’ como a uva

Que hoje já virou passa

Na chaminé que fumaça

No amanhecer do dia

Em tudo tem poesia

Até no roer da traça

Luciene Soares

Porém eu vejo mais graça

É no teu olhar, Lulu

Mais do que no Pajeú

Mais que no verde da praça

Quando o teu olhar me abraça

Salpicando fantasia

Meu coração se extasia

E feito doido ribomba

Explode feito uma bomba

Numa chuva de alegria

Sander Lee

Num eco de fantasia

Eu me meto nesta festa

E desde a densa floresta

Vejo encanto e poesia

Ouço a pura melodia

Que sopra em muitos lugares

Céu azul ou verdes mares

Sem palavras traduzindo

Os versos que vão surgindo

Entre sabores e olhares!

Dete Reis

Percebeu-se durante as apresentações nos saraus que a poesia é uma constante na

vida dos poetas populares, de forma, que desde os sentimentos de amor e paixão até os

fatos triviais, tudo é transformado em linguagem poética.

3 LEE, Sander. Tudo é poesia. Recanto das letras, 2012. Disponível em:

<https://www.recantodasletras.com.br/poesias/3450471> Acesso em: 28 Out. 2018.

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Figura 4 – Convite para o Sarau Poemas e Cantos da Cidade

Fonte: Página do Facebook do Centro Cultural Ariano Suassuna, 2018

No dia 28 de setembro de 2018, o Centro Cultural Ariano Suassuna – Tribunal de

Contas do Estado da Paraíba, publicou na sua página de Facebook, ACCS (2018),

“Concerto da 5 de Agosto Big Band, com músicas latinas em grande estilo”,

disponibilizando o convite e lembrando o fato de ser “Entrada franca”, com

“Estacionamento próprio”, conforme a Figura 5:

Figura 5 – Convite para o concerto da 5 de Agosto Big Band

Fonte: Página do Facebook do Centro Cultural Ariano Suassuna

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Percebeu-se que cerca de 150 pessoas compareceram ao espetáculo da 5 de Agosto

Big Band.

Para consubstanciar este trabalho, sobre a arte e a literatura como bens

incompressíveis, fomos ao Concerto da Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa –

OSMPB, tendo como solista a soprano Giovanna Maropo, no dia 15 de setembro de 2018,

no Centro Cultural Ariano Suassuna. A entrada foi franca, dentro do projeto do TCE de

acesso à cultura, o convite disponibilizado na página do Facebook do CCAS (2018),

conforme a Figura 6.

A apresentação se deu através de uma parceria da Fundação Cultural de João

Pessoa (FUNJOPE) com o Tribunal de Contas (TCE-PB), por meio do Centro Cultural.

A organização do evento disponibilizou, na entrada do auditório, um encarte em

que se lia as peças que seriam executadas.

Do compositor pernambucano Beetholven Cunha, o maestro Laércio Diniz

executou duas peças: “E o sol surgiu como se saísse do mar!” e “Lembranças de minha

mocidade nas praias entre Pernambuco e Paraíba”. Cunha, que estava na plateia, é um

compositor que tem as suas obras interpretadas no Brasil, na Itália, Cazaquistão, Suíça,

Polônia, Alemanha, Estados Unidos. E estava ali, ao alcance do público, contribuindo

com a sua obra como fator de humanização.

Em seguida a OSMJP executou as árias ‘Rejoice Greatly’, de “O Messias”, de

Georg Friedrich Händel (1685-1759), ‘Les Oiseauxs dans la Charmille’, da ópera “Os

contos de Hoffman”, de Jacques Offenbach (1819-1880) e ‘Je Veux Vivre’, da ópera

“Romeu e Julieta”, de Charles Gounod (1818-1893), com participação de Giovanna

Maropo.

Para finalizar, a Sinfônica Municipal executou a “Sinfonia em Dó Maior, WWV

29”, de Richard Wagner (1813-1883), um dos mais importantes compositores eruditos.

Nessa sinfonia, escrita em 1932, quando Wagner tinha 19 anos, há uma forte influência

da obra de Beethoven (1770-1827).

Segundo Moraes (2018, online):

O maestro e diretor artístico da Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa

(OSMJP) e da Orquestra Filarmônica do Brasil (Fibra), Laércio Sinhorelli

Diniz estudou violino na Escola Superior de Música de Colônia (Alemanha).

No Brasil teve como mestres de regência Roberto Tibiriçá e Isaak

Karabchewsky. Gravou com a New Netherlands Orchestra, com a orquestra

Alemã “Das Freie Orchestra Berlin” e com a “Lithuanian National Symphony

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Orchestra (LNSO)”. É diretor artístico do Festival Internacional de Música

Clássica de João Pessoa.

Cândido (2011, p. 180) considera que: “A literatura desenvolve em nós a quota de

humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza,

a sociedade, o semelhante”. Assim, observou-se que eventos como esses promovidos pelo

Centro Cultural Ariano Suassuna cumprem também o papel de humanização.

Figura 6: Convite para o Concerto da Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa

Fonte: Página do Facebook do Centro Cultural Ariano Suassuna

Identificou-se que, além do Centro Cultural Ariano Suassuna, outras instituições

públicas e privadas promovem, em João Pessoa, encontros culturais. Para elencar,

pormenorizar e estudar as ações seria preciso um trabalho específico, o que não é o caso

deste, que se volta para a questão da literatura como direito incompressível. Assim,

restringiu-se àquelas que se dedicam à valorização da Literatura de Cordel, como a

Fundação Casa de José Américo, que além de deter uma Cordelteca, abre o auditório para

saraus e encontros literários; a Fundação Espaço Cultural da Paraíba - FUNESC, que

durante a evento Agosto das Letras promove feiras e oficinas de Cordel, além de manter

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o Sarau na Biblioteca, evento em que o poeta se apresenta e explica a construção da sua

poesia; o Serviço Social do Comércio – SESC, que durante o evento SESC de Letras tem

realizado oficinas de Cordel e ainda tem levado poetas para um Chá Literário, momento

em que o escritor lê os seus poemas, convida a plateia para também fazê-lo e depois,

durante um bate papo, toma-se chá com biscoitos; a Fundação Cultural de João Pessoa –

FUNJOPE, que mantém parceria com o Centro Cultural Ariano Suassuna, para as

apresentações e concertos da Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa – OSMJP e

da 5 de Agosto Big Band. A FUNJOPE também tem utilizado o espaço da Casa da

Pólvora para realizar inúmeras oficinas e exposições de artes; a Academia Paraibana de

Letras, que tem na pessoa do seu presidente, escritor Damião Ramos Cavalcante, um

entusiasta da Literatura de Cordel, inclusive tem disponibilizado o seu auditório para o

encontro de poetas populares; e a Usina Cultural Energisa João Pessoa, que disponibiliza

o Bar Cultural, gratuitamente, para eventos como saraus e lançamento de livros, e o

auditório, de forma remunerada.

Também não se tratou neste trabalho das iniciativas individuais, que são muitas,

em prol do acesso às artes e a literatura em João Pessoa. Para referenciar essas ações

pessoais, registrou-se apenas as iniciativas da atriz Zezita Matos e do poeta Sander

Brown.

Zezita Matos, através do Centro Universitário de João Pessoa UNIPÊ, tem

promovido o evento Chá com as Academias, em que junta poetas e escritores de variadas

vertentes, para a discussão do acesso à leitura e à arte, inclusive envolvendo a Academia

Paraibana de Cinema. A atriz também integra o grupo Molduras Poéticas, juntamente

com os músicos Carlyto Campos e Erandi Oliveira, com quem se apresenta declamando

poemas seus e de poetas paraibanos, em saraus e escolas públicas, gratuitamente.

Sander Brown é o criador do Sarau Lunar, ação em que consegue reunir poetas

populares e contemporâneos, conforme a Figura 7. O poeta mantém parceria com a

Editora Penalux, para apresentação dos poetas editados pela mesma, através do seu canal

Vinheta Literária, no YouTube. Ainda no YouTube Brown coordena um programa de

entrevistas chamado “Poesia Andante”, que tem como objetivo fazer o poeta conhecido

do seu público leitor. Promove palestras nas Escolas sobre a literatura paraibana e tem o

hábito de doar livros de poesias para as bibliotecas das escolas públicas.

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Entrevista4 com o poeta Nasser Queiroga. Apresentação5 do livro “O visgo das

coisas”, do poeta e professor da UFPB Expedito Ferraz Jr.

Figura 7: Arte convite do Sarau Lunar do mês de outubro, no Bar da Usina Cultural da Energisa

Fonte: Página do Facebook do poeta Sander Brown.

SARAU LUNAR, um evento gratuito, que preza pelo envolvimento da plateia, na

discussão sobre literatura e música.

4 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=a-obKMIOwFo&t=313s> Acesso em: 25 Out.

2018. 5 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8QRHF3wLsqY>. Acesso em: 25 Out. 2018.

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4 AS AÇÕES DO PLANO ESTADUAL DO LIVRO, LEITURA, LITERATURA E

BIBLIOTECA DA PARAÍBA, PARA A PROMOÇÃO DESSE DIREITO

O Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) foi instituído através do Decreto nº

7.559 de 1º de setembro de 2011 pelo Governo Federal, situação que motivou os governos

estaduais e municipais a trabalharem a implantação de planos regionais que estimulassem

o setor.

Na Paraíba, o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura da

Paraíba - SECULT, designou o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas da Paraíba -

SEBP-PB para desenvolver um plano que contemplasse as ações de incentivo ao livro, à

leitura e à literatura, com o objetivo de aumentar os índices de leitura no Estado.

Levantou-se que antes do decreto presidencial em tela, a Paraíba promovia o 1°

Encontro Paraibano do Livro, Leitura e Biblioteca,

No ano de 2010 aconteceu o 1º Encontro Paraibano do Livro, Leitura e

Biblioteca, que foi realizado no dia 23 de maio, em João Pessoa no auditório

Bangüê do Espaço Cultural José Lins do Rego.O evento contou com o apoio

do Ministério da Cultura; do Fórum do Livro, Leitura, Literatura, Informação

e Biblioteca (FLITECA); da Associação Profissional de Bibliotecários da

Paraíba (APBPB); do Conselho Regional de Biblioteconomia 15ª Região

(CRB15); e do Centro Acadêmico de Biblioteconomia da UFPB (CABIBLIO),

para a sua realização.

Tendo como público alvo pessoas, entidades e instituições envolvidas na

cadeia produtiva do livro e material de leitura: autores, editores e livreiros;

pessoas envolvidas com a mediação da leitura, bibliotecários, pedagogos,

profissionais de letras e literatura, instituições como Universidades,

Bibliotecas, Centros de Estudo e Pesquisas, Entidades representativas como

Conselhos e ONGS. Este foi o primeiro passo para se chegar a um

planejamento participativo do setor. Os encontros buscaram reunir ao longo

dos anos relatórios desses setores, procurando com isso eleger os eixos de ação

do Plano. (SECULT, 2015, p. 1)

Em 2014 a FUNESC realizou duas reuniões com a cadeia do livro, leitura,

literatura e biblioteca da Paraíba, no Espaço Cultural, momento em que foi decidido o

encaminhamento da primeira versão do plano para a apreciação da sociedade civil.

Disponibilizou-se na internet por três meses e também realizou-se audiências públicas

presenciais nas cidades de Campina Grande, Pombal, Cuité, Boqueirão, Sapé e Lucena

no mês de fevereiro de 2015.

A Academia de Cordel do Vale do Paraíba – ACVPB se fez presente em todas as

reuniões realizadas na capital do Estado.

Segundo a Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba,

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No mês de agosto de 2015 o Governador Ricardo Coutinho publicou o decreto

n° 36.106 de 17 de agosto de 2015 que Institui o Grupo de Trabalho (GT) para

implementação do PELLLB-PB. Compõe o GT os seguintes órgãos e

entidades; Secretaria de Estado da Cultura, Secretaria de Estado da Educação,

Conselho Estadual de Políticas Culturais, Conselho Estadual de Educação,

Fundação Espaço Cultural, Fundação Casa de José Américo, Assembleia

Legislativa (Comissão de Educação, Cultura e Desporto), Conselho Regional

de Biblioteconomia 15° região, Associação de Bibliotecários da Paraíba,

Academia Paraibana de Letras, Universidade Estadual da Paraíba,

Universidade Federal da Paraíba, Jornal A União, Editora da Universidade

Federal da Paraíba, Editora da Universidade Estadual da Paraíba, Associação

Boqueirense de Escritores, Grupo Atitude de Caiçara e Academia de Cordel

do Vale do Paraíba. Neste mesmo ano de 2015 ocorreram várias reuniões onde

encaminhamentos foram tomados para a formulação do documento base do

plano e diagnóstico do estado em relação a cadeia criativa, produtiva e

mediadora da leitura. (SECULT, 2015, p. 2).

Os segmentos representados na comissão elaboraram o PELLLB-PB, cujo

principal objetivo é transformar o Estado da Paraíba em um estado leitor.

Na época da elaboração do plano, segundo a SECULT (2015, p. 2), pesquisas do

Instituto Pró-Livro apontavam que era de 4,3 o número de livros lidos por ano no

Nordeste, em 2011, enquanto que no ano de 2015 o índice caíra para 3,93, realidade que

precisaria ser transformada através do incentivo e valorização do hábito da leitura,

naturalmente com o estabelecimento de uma política pública do livro, leitura, literatura e

biblioteca no Estado da Paraíba, visando o aperfeiçoamento e a melhoria dos índices de

acesso ao livro, à leitura, à literatura e à biblioteca.

Com base no Plano Nacional do Livro e Leitura, a comissão na Paraíba

estabeleceu como,

PRINCÍPIOS NORTEADORES

Com base no Plano Nacional do Livro e Leitura citam-se cinco itens como

princípios norteadores do PELLLB-PB:

O livro deve ocupar lugar de destaque no imaginário coletivo da

população;

As escolas devem formar leitores;

A difusão da leitura deve começar nas famílias, de forma a torná-la um

hábito;

O acesso ao livro deve expandir-se através das bibliotecas e pontos de

leitura com a criação de mais espaços e a dinamização do acesso às novas

tecnologias;

O preço do livro deve ser acessível a toda população.

OBJETIVOS

Abordar o livro, a leitura, literatura e biblioteca como uma política pública de

Estado de forma que contemple toda cadeia produtiva, criativa e mediadora do

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livro, com objetivo de democratizar o acesso ao livro e a leitura, bem como,

elevar os índices de leitura no estado.

DIAGNÓSTICO

Os relatórios apresentados pelos segmentos representados no GT procuram

esboçar atual situação da cadeia do livro no estado da Paraíba, para

identificarem problemas a serem resolvidos, ações e projetos propostos ou em

desenvolvimento. (SECULT, 2015, p. 2-3)

Voltando ao pensamento de Cândido,

Alterando um conceito de Otto Ranke sobre o mito, podemos dizer que a

literatura é o sonho acordado das civilizações. Portanto, assim como não é

possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja

equilíbrio social sem a literatura. Deste modo, ela é fator indispensável de

humanização e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade, inclusive

porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente. Neste sentido,

ela pode ter importância equivalente à das formas conscientes de inculcamento

intencional, como a educação familiar, grupal ou escolar. Cada sociedade cria

as suas manifestações ficcionais, poéticas e dramáticas de acordo com os seus

impulsos, as suas crenças, os seus sentimentos, as suas normas, a fim de

fortalecer em cada um a presença e atuação deles. (CÂNDIDO, 2011, p. 175)

No entendimento de Porfiro (1999, p. 14),

...segundo a moral social burguesa, deveras flexível, é importante

educar as futuras gerações, que viverão o mundo do vir-a-ser, sob padrões

esdrúxulos, conforme os quais o ato de mentir é politicamente aceitável e

correto, dependendo das circunstâncias e dos fins a que se destina a mentira.

E Cândido explica porque a literatura é um instrumento poderoso,

Por isso é que nas nossas sociedades a literatura tem sido um instrumento

poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a

cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade

preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes nas diversas

manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma

e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de

vivermos dialeticamente os problemas. Por isso é indispensável tanto a

literatura sancionada quanto a literatura proscrita; a que os poderes sugerem e

a que nasce dos movimentos de negação do estado de coisas predominante.

(CÂNDIDO, 2011, p. 175)

Em uma das edições do Sarau Poemas e Cantos da Cidade, promovido pelo Centro

Cultural Ariano Suassuna e a Academia de Cordel do Vale do Paraíba, o escritor e juiz

Onaldo Queiroga fizera um tributo ao cantor Pinto do Acordeon, presente no evento,

lançando o livro “Por amor ao forró: Pinto do Acordeon”.

Queiroga (2017, p. 122-123), relata o seguinte,

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Assistindo um dos seus shows, presenciei um desses momentos mágicos, onde

ele retratou uma passam sua durante um comício, concidentemente, lá na

minha terra natal, ou seja, em Pombal-PB. Com a sanfona no peito ele começou

a externar esse seu lado teatral, dizendo: “Foi no tempo de Arena e do MDB,

início dos anos setenta, pois no Brasil daquela época só existiam esses dois

partidos. Fui convidado pelo deputado Adauto Pereira, para participar de um

comício de meio de feira, aqueles comícios relâmpagos. Aceitei o convite e me

danei para Pombal. Chegamos lá por volta do meio dia. Muita gente na feira,

um sol quente da peste, um calor danado. Estacionaram um caminhão numa

esquina, próximo ao mercado público, subiram os vereadores, o deputado

Adauto Pereira, seu pai, o também deputado Chico Pereira e é claro eu com

minha sanfona.

Olha meu povo, eu peguei a sanfona e soltei a voz:

Ninguém é doido, ninguém é louco não

Para morrer de fome votando na oposição

Ninguém é doido não, ninguém é louco não

Para morrer de fome votando na oposição

Vamos votar num partido assegurado

Que tem velho aposentado recebendo o seu feijão

Olhe eleitor seja mais inteligente,

Bote isso na sua mente votando na revolução

Ninguém é doido, ninguém é louco não

Para morrer de fome votando na oposição”

E no relato o cantor Pinto do Acordeon segue contando as suas aventuras. Diz que

foi aplaudido pelo público, mas que o partido opositor, o MDB (Movimento Democrático

Brasileiro), não gostara:

[...] eu desci do palanque e fui para um bodega beber uma lapada de cana.

Quando estava no balcão, então, chegou um moço dizendo que era do MDB, e

logo foi direto ao que pretendia. Me perguntou: Você quer quanto para subir

no nosso palanque agora, tocar e cantar umas coisas para rebater o que você

fez no palanque dos nossos adversários. Nessa hora eu respondi: Olha eu

ganhei uns quatrocentos, mas se vocês cobrirem a paga, então, eu subo agora

mesmo. O cabra não contou conversa, disse logo, está fechado, eu pago

quinhentos para você desmanchar o que fez lá.

...Subi no palanque do MDB, que também estava armado na feira e não contei

conversa. Sentei na grade do caminhão, esperei um vereador terminar de

discursar, olhei para o céu, não tinha uma nuvem que fizesse uma água mineral.

Quando o cabra terminou, botei a sanfona no peito e cantei:

Olhe o preço do arroz

Olhe o preço do feijão

Para acabar com isso tudo

Vote na oposição

Eleitor paraibano, mostre ser bom brasileiro

Vamos manter a tradição do senador Ruy Carneiro

Preste atenção, meu irmão

Preste atenção, meu irmão

Carestia no Nordeste

Muita fome no sertão

Agricultor murmurando

Pedindo a Deus proteção

Trocando um quilo de carne, por uma arroba de algodão

Preste atenção, meu irmão

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Preste atenção, meu irmão

Segundo Pinto, ele aplaudido e o pessoal do MDB ficou satisfeito. Com isso,

ele recebeu o dinheiro acertado, pegou sua sanfona e partiu para Patos

(QUEIROGA, 2017, p. 124-126).

Nas duas situações o cantor agradou ao público, porque este não possuía uma

informação precisa dos índices econômicos e sociais do Brasil. As pessoas absorviam o

que se lhes dizia sem expressarem uma crítica mais apurada.

[...] convém assinalar que a elites dominantes, em suas ambiciosas lutas

político-partidárias, não hesitam em usar apenas a mentira e o engodo, mas

também, usam o Cordel, sim, quando, em seus comícios eleitoreiros, contratam

os serviços de um poeta ou cantador para, em praça pública, a peso de pouca

moeda, louvar as qualidades que jamais tiveram. Eis, então, a realidade de uma

classe social – a dominante – apoderando-se dos meios próprios da outra em

benefício da manutenção do domínio, do poder e do prestígio comprado em

palanques eleitorais. (PORFIRO, 1999, 15).

Segundo Cândido:

A respeito destes dois lados da literatura, convém lembrar que ela não é uma

experiência inofensiva, mas uma aventura que pode causar problemas

psíquicos e morais, como acontece com a própria vida, da qual é imagem e

transfiguração. Isto significa que ela tem papel formador da personalidade, nas

não segundo as convenções; seria antes segundo a força indiscriminada e

poderosa da própria realidade. Por isso, nas mãos do leitor o livro pode ser

fator de perturbação e mesmo de risco. Daí a ambivalência da sociedade em

face dele, suscitando por vezes condenações violentas quando ele veicula

noções ou oferece sugestões que a visão convencional gostaria de proscrever.

No âmbito da instrução escolar o livro chega a gerar conflitos, porque o seu

efeito transcende as normas estabelecidas. (CÂNDIDO, 2011, p. 176)

Na época da elaboração do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e

Biblioteca da Paraíba, a Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba afirmava que:

A Paraíba é um estado que está perto de zerar o número de municípios sem

biblioteca pública. Dos seus 223 municípios, somente os municípios de Joca

Claudino, Serraria e São Domingos não possuem biblioteca pública. Ressalta-

se que existem três bibliotecas estaduais, concentradas na Capital. Ao todo, o

SEBP-PB registra 213 unidades cadastradas. (SECULT, 2015, p. 8).

Identificou-se que nas ações para o acesso à literatura e à arte no Estado da

Paraíba, a minuta do Plano Estadual de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Paraíba

estabelece cinco eixos. Sendo o primeiro para a democratização do acesso.

Transcrevemos o Eixo 1 para se ter uma ideia do trabalho desenvolvido pelo PLLLB/PB:

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Eixo 1 – Democratização do acesso

temáticas, especializadas, itinerantes, etc.), em parceria com as prefeituras,

ONGS e Associações;

governo federal, municípios e organizações da sociedade civil, garantindo

repasse financeiro, distribuição de acervos, mobiliário e equipamentos;

• Conquistar novos espaços de leitura;

• Distribuir 300 mil livros para as bibliotecas, ampliando e atualizando seus

acervos, com periodicidade anual, valorizando sobretudo autores paraibanos e

radicados;

• Melhorar o acesso ao livro e a outras formas de expressão da leitura,

desenvolvendo programações culturais nas bibliotecas e em outros ambientes;

• Incorporar o uso de tecnologias de informação e comunicação em bibliotecas

municipais e estaduais, implementando telecentros em parceria com o governo

federal, e outras ações de modernização em parceria com as prefeituras e

órgãos do governo estadual; (SECULT, 2015, p. 1).

Percebeu-se que a minuta estabelece ainda, no eixo 2, o fomento à leitura, a

formação de mediadores e valorização do profissional bibliotecário; o eixo 3, trata da

valorização da leitura e da comunicação e seu valor simbólico; o eixo 4, do apoio à criação

e ao consumo de bens de leitura e o eixo 5 trata da institucionalização e fortalecimento

do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas da Paraíba – SEBP/PB.

Assim, este trabalho detectou que, para promover o acesso à literatura, deve

acontecer o impreterível estabelecimento de políticas públicas e o envolvimento da

sociedade civil.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, observando-se que os objetivos específicos eram realizar

levantamento teórico-bibliográfico para identificar a importância da literatura nos

Direitos Humanos, observar o caráter humanizador e transformador da arte e da literatura

e observar as ações do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca da Paraíba

como elementos catalisadores de uma política pública de acesso à literatura e o objetivo

geral era realizar uma pesquisa acerca da literatura como direito humano, indispensável à

liberdade, é possível constatar que os escopos foram atingidos com êxito.

Traçamos assim o nosso trabalho num cenário em que o autor Cândido afirma

que o livro, nas mãos do leitor, pode ser fator de perturbação e até de risco, considerando

a ambivalência da sociedade diante dele, suscitando por vezes condenações violentas

quando ele veicula noções ou oferece sugestões que a visão convencional gostaria de

proscrever.

Fazendo uma relação da literatura com os direitos humanos, Cândido aponta dois

ângulos diferentes: 1. A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser

satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos

sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos

humaniza; 2. A literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo

fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a

miséria, a servidão, a mutilação espiritual.

Assim como Cândido identificou que em Mário de Andrade a incrementação da

pesquisa folclórica e etnográfica, valorizava as culturas populares, no pressuposto de que

todos os níveis são dignos e que a ocorrência deles é função da dinâmica das sociedades,

demonstramos nesta pesquisa a preocupação da Academia de Cordel do Vale do Paraíba

transformada em atividade de acesso à literatura e à arte, quando se junta, por exemplo,

com uma Orquestra Sinfônica, numa demonstração de que a esfera erudita e a popular

trocam influências de maneira incessante, como bem expressava Mário de Andrade. Essas

trocas de influências fazem da criação literária e artística um fenômeno de vasta

intercomunicação, entende Cândido. Mas ele entende também que envolvendo o

problema da desigualdade social e econômica, está o problema da intercomunicação dos

níveis culturais.

No corpo do trabalho, colocamos uma construção poética no estilo do Cordel, para

demonstrar que é uma peça desenhada para agradar o ouvido, pela musicalidade e pelo

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ritmo, obtidos da metrificação, independente da causa que irá servir, seja para denunciar,

como no caso Sétimo Garibaldi, seja para abstrair, como no caso de Tudo é poesia.

Cândido (2011) frisa que só numa sociedade igualitária os produtos literários

circulam sem barreiras. No Brasil e em outros países onde o analfabetismo ainda é

significativo, a situação seria particularmente dramática, considerando-se que a fruição

da literatura se estratifica de maneira abrupta e alienante.

Diante desse pensamento, que é pertinente, buscou-se identificar as ações do

Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca da Paraíba, que vem atuando

para mudar essa realidade no Estado. Além das ações de Governo, identificou-se o

trabalho de algumas instituições e de particulares.

Identificou-se que a Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba é comprometida

com o acesso à leitura e com o estabelecimento de bibliotecas. Na sociedade civil,

percebeu-se que a Sala de Concertos Radegundis Feitosa, da UFPB, oferece concertos, a

Academia de Cordel, a Academia de Letras da Paraíba, o Centro Cultural Ariano

Suassuna do TCE, fundações, espaços de cultura, etc., também promovem o acesso à

literatura, porém o pensador Cândido (2011) afirma que nas sociedades que mantêm a

desigualdade como norma, o que seria o caso do Brasil, podem ocorrer movimentos e

medidas, de caráter público ou privado, para diminuir o abismo entre os níveis e fazer

chegar ao povo os produtos eruditos. Que, tanto num caso quanto no outro, estaria

implícita como questão maior a correlação dos níveis, de forma que o principal obstáculo

poderia ser a falta de oportunidade e não a incapacidade.

Assim, entendemos que a arte e a literatura são bens incompressíveis em todas as

suas modalidades e que deve haver o respeito aos direitos humanos numa sociedade justa.

Com base nesta pesquisa construiu-se o poema intitulado Direito à literatura

(APÊNDICE A).

Quanto à fruição da arte e da literatura, temos um mundo para conquistar,

transformar e incluir. Este trabalho poderá contribuir com futuros pesquisadores, que

queiram se envolver no universo do direito à literatura, complementar o material já

existente, como também nortear aqueles que desejam desenvolver ações de acesso à arte

e a literatura.

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APÊNDICE A

O DIREITO À LITERATURA

(Com base no pensamento de Antônio Cândido)

Para Sven Peterke, Ronaldo Alencar e Ana Carolina Souto

Pensar Direitos Humanos

Tem decerto um pressuposto

O que é indispensável

Para nós, fique isto posto,

Para o próximo é também

Não se defraude ninguém

Seja o direito proposto

Pois a tendência mais funda

Achar que o nosso direito

Prevalece sobre o próximo

E que o outro sujeito

Não teria a primazia

Gozar da mesma alegria

Nem urgência no seu pleito

Vitimadas as pessoas

De certa obnubilação

Dizem: “o outro tem direito

Casa, comida, instrução...”

Mas de Beethoven, meu bem

Os quartetos vão além

Dostoievski é ilusão

Porém o Pe. Lebret

Bens incompressíveis chama

E assim Antônio Cândido

Por esses direitos clama

Que não podem ser negados

Escondidos, solapados,

Sem provocar grande drama

O certo é que cada época

E também cada cultura

Estabelecem critérios

(Dentro a literatura)

De incompressibilidade

Divisão sociedade

Dá-se ou nega-se à criatura

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E lembra que a classe média

Em certo tempo dizia

Que os empregados não tinham

Dentro da economia

Nem folga, nem sobremesa

O costume da dureza

Ora, esses bens inibia

Portanto é preciso ter

Critérios para abordar

Esses bens incompressíveis

Rever e considerar

Que pobres e desvalidos

Devem ter atribuídos

Esses bens para gozar

Tratamento igualitário

(O que não é caridade)

Pois os direitos humanos

Lastro na legalidade

Levam em consideração

Bens incompressíveis são

Pra toda sociedade

Não só os que asseguram

A física sobrevivência

Mas também os que garantem

Integridade, essência,

Liberdade, arte, instrução,

Literatura, opinião,

E à opressão resistência...

Diga-se de forma ampla

Quanto à literatura

Ficção, drama, poesia,

Todos os tipos – cultura

Folclore, lenda e chiste

Ao mais complexo que existe

Em civilizada altura

Porque a literatura

Como é manifestação

Claramente universal

Dos homens – que sensação!

Não há povo que não viva

A literatura ativa

Com alguma fabulação

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Assim como todos sonham

Todas as noites, ninguém

Passa as vinte e quatro horas

Sem se entregar “refém”

Universo fabulado

Ao maravilhoso estado

Desse incompressível bem

E durante a vigília

A ficcional criação

Ou poética – a mola

Da literatura – ação

Presente em nós – tenho dito

Analfabeto ou erudito

HQ, causo, canção

Mas a fruição da arte e

Literatura estaria

Segundo Antônio Cândido

Só nesta categoria

Na justa organização

Da sociedade, então

Em profunda harmonia

E citando Otto Rank

Sobre a literatura

Diz que é o sonho acordado,

(Numa bonita figura)

Pois das civilizações

Provocando sensações

De equilíbrio e brandura

É fator indispensável

Da nossa humanização

Confirma a humanidade

Porque a sua ação

Atua no inconsciente

E no subconsciente

Trabalha a educação

Confirma a literatura

Nega, propõe, denuncia,

Apoia e também combate

É de paz e de arrelia

Vivendo-se a dialética

Afirma a nossa poética

Mais equilíbrio haveria

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Porém nas mãos do leitor

O livro poderá ser

Fator de perturbação

E é por isso que o poder

Em face dele condena

Quando o livro é uma arena

E quer logo proscrever

Porque a literatura

Ela é uma instrução

Forma de conhecimento

E forma de expressão

Incorporação difusa

A construção que se usa

Pra organizar a visão

As produções literárias

Todos os tipos e níveis

As nossas necessidades

Satisfazem – oh, sensíveis

E da incorporação

Enriquece a percepção

Por isso impreteríveis

Sanderli José da Silva (Sander Lee)