O Diabo Veste Prada
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O DIABO VESTE PRADA
Ricardo Nogueira Terra
O presente texto possui o objetivo geral de analisar o filme “O diabo
veste Prada” sob a acepção das obras, “Filosofia da moda” do sociólogo Georg
Simmel e a “Teoria da classe ociosa” do economista e sociólogo Thorstein
Bunde Veblen. Para tanto, atentou-se como objetivo específico a
contextualização do filme o diabo veste Prada e, a transcrição do diálogo de
uma das cenas do filme, sendo essa o fio condutor para todas as discussões
teóricas.
Afim do cumprimento dos objetivos propostos, podemos dizer de forma
sucinta que o filme O diabo veste Prada conta a história de uma estudante
(Andy Sachs) recém-formada em letras que saí à procura de emprego, após
entregar diversos currículos, a mesma é chamada para uma entrevista na
editora de revista (Runway) cuja vaga de emprego é de assistente da tirana e
egocêntrica editora de moda Miranda Priestliy, cabe ressaltar aqui que essa
vaga de emprego “um milhão de meninas morreria para conseguir”.
Porém, mesmo não tendo o estereótipo dos demais funcionários da
editora Runway e nunca ter lido e ouvido falar de Miranda Priestliy, Andy
consegue o trabalho devido sua auto-apresentação, dizendo que mesmo não
tendo o perfil das demais meninas que trabalham na editora, ela merecia essa
vaga por ser esforçada, inteligente, esperta e por aprender tudo muito rápido.
Após conseguir o trabalho ela é submetida a vários testes e caprichos da
egocêntrica Miranda Priestliy, no qual todos são satisfeitos por Andy. Após
muitas provas de eficiência e fidelidade, quase no desfecho do filme Miranda
Priestliy elogia Andy dizendo que nunca imaginaria falar isso a alguém, porém
verbalizou que Andy era muito parecida com ela, divido sua inteligência e garra
para atingir o foco e todos os objetivos independente de alguém ou de alguma
coisa que estivesse no seu caminho.
Ao ouvir isso Andy toma consciência de todas suas atitudes e resgata o
seu primeiro foco, que era de trabalhar apenas um ano na Runway até
conseguir um emprego na sua área, porém a conjuntura do seu atual emprego
fez com que desviasse desse objetivo, no entanto, a partir desse dia ela se
demite, pede desculpas ao seu namorado e amigos por ter se afastado.
Depois de um período consegue arrumar outro emprego no The New
York Mirror, cujas referências de Miranda Priestliy foram as seguintes, “de
todas as assistentes que eu tive, Andy foi a minha maior decepção e que se o
The New York Mirror não admitisse seriam uns tremendos idiotas” nesse
momento o entrevistador do jornal afirma que Andy deve ter feito a coisa certa
e que ela estava contratada.
Perante esse cenário aqui apresentado, ocorreram várias cenas que nos
ajudam a refletir as teorias aqui propostas para a análise, por esse motivo
descreverei e transcreverei a seguir o diálogo dessa cena; porém cabe
contextualizar, a mesma passa-se na Runway, no momento em que Miranda
Priestliy está escolhendo a nova coleção de roupa para a edição do mês
agosto. Miranda avalia as roupas para a nova coleção e acha tudo aquilo muito
monotomo, porém é encontrado um vestido que o agrada, mas a mesma
possui a preocupação de parecer com Lacroix de Julho e nesse momento ela
pergunta para Nigel, o mesmo concomitantemente responde que se
escolhermos os acessórios certos não ficará parecido com Lacroix de Julho,
logo em seguida a assistente pega dois tipos de cinto totalmente distintos,
porém, de cor igual. Nesse momento Andy começa a rir, com um olhar de fúria
Miranda e os demais olham para ela e pergunta da seguinte maneira,
“ Qual é a Graça?” A atriz toda sem jeito responde “não, não, não nada, só que para mim esse dois cintos são iguais, mas ainda estou aprendendo essas coisas.” “Essas coisas” ? Miranda responde; “Há certo entendi. Você Acha que isso não tem nada a ver com você. Você vai até o guarda-roupa e (...) escolhe esse digamos suéter azul horroroso, por exemplo, para dizer ao mundo que se leva muito a sério para se importar com que vai vistir-se, mas o que você não sabe é que a cor desse suéter não é apenas um simples azul, não é turquesa, nem lápis-lazúli, na verdade, é celeste, e o que você ignora é que em 2002 o Oscar de La Renta fez vestidos azuis celestes, acho que foi Yves Saint Laurent que fez jaquetas militares azuis celestes, e então o celeste apareceu na coleção de 80 outros estilistas, depois daí se expandindo para as lojas de departamento e depois para as lojas populares, onde você sem dúvidas deve ter comprado esse numa liquidação. No entanto esse azul representa milhões de dólares e incontáveis trabalhos e é meio cômico como você pensa que fez uma escolha que lhe exime da indústria da moda quando na verdade esta usando um suéter escolhido por você e pelo pessoal dessa sala e por um monte de coisa.”
Essa cena com esses dizeres aqui transcritos nos possibilitam muitas
reflexões; a primeira dela é para o fato de que a moda é uma moda de classes
como nos alerta Simmel (2008, p.28);
“(...) o vestuário, os juízos estéticos, o grande estilo em que o homem se expressa, se concebem em contínua remodelação através da moda, então esta, ou seja, a moda recente, compete em tudo apenas ás camadas superiores. Logo que as classes inferiores começam a apropriar-se da moda, ultrapassando assim a fronteira instituídas pelas superiores e rompendo, destas a homogeneidade da co-pertença assim simbolizada, as classes superiores desviam-se dessa moda e viram-se para outra, graças à qual de novo se diferenciam-se das grandes massas, e na qual o jogo mais uma vez se inicia.” (Grifo nosso).
Ao analisarmos o exposto com os dizeres de Miranda, evidenciamos que
a moda envolve uma relação de classes, que define a relação entre indivíduos
e grupos, em que uns conduzem e outros são conduzidos e, que mesmo
quando achamos que fazemos uma escolha singular na verdade estamos
fazendo uma escolha pré-concebida por essas indústrias.
Contudo a mesma cena transcrita ajuda-nos a entender o efeito trickle
down, sendo esse podendo ser compreendido no momento em que as
fronteiras simbólicas de classes, burgueses/proletariados, vão esvaecendo.
Tais fronteiras evaporam-se no período em que 80 outros estilistas copiam o
azul celeste, passando assim serem vendidas por lojas de departamentos e
depois por lojas populares, por esse motivo, podemos dizer que a moda possui
data de validade, devido o fato de ser uma anexação do igualitariamento posto
à unidade de um círculo por ela caracterizado, e assim o fechamento deste
grupo perante os que se encontram mais abaixo. (SIMMEL, 2008).
No entanto podemos classificar o consumo das classes hegemônicas
e/ou ociosas como conspícuo. De acordo com Veblen (1983) o consumo
conspícuo revela o pertencimento na classe ociosa, sendo essa totalmente
avessa aos trabalhos de chão de fábrica, por esse motivo os uniformes
implicam consideravelmente uma marca de servidão.
Se analisarmos a concepção Vebleniana juntamente ao recorte do filme
aqui transcrito evidenciaremos que o público alvo da Runway é a classe ociosa,
sendo essa a única capaz de dispor de recursos econômicos para ostentar
esse padrão e, também pelo fato dos vestuários disporem de uma regra
simples “é bom por ser caro”, regra essa que dita comportamento de consumo,
“cujo objetivo é elevar o consumidor a um padrão de dispêndio e desperdício”,
padrão esse que delimita a classe pertencente. (VEBLEN, 1983, p.55).Em
síntese podemos dizer que o filme O diabo veste Prada nos fornece diversos
exemplos das acepções de Veblen e Simmel.