O Crime à Luz Da Teoria Winnicottiana

4
Joyce Borges Boamorte 1 Siganos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt Documento produzido em 26.10.2012 O CRIME À LUZ DA TEORIA WINNICOTTIANA 2012 Joyce Borges Boamorte Psicóloga do Sistema Prisional Paulista, especialista em Psicologia Jurídica (Brasil) Email: [email protected] RESUMO Este artigo tem como objetivo compreender como o autor inglês Donald Winnicott entende o crime e o criminoso. De que forma teoriza e quais são os conceitos que usa para falar sobre o assunto, usando para este fim a revisão bibliográfica de algumas obras do referido autor. Palavras-chave: Crime, tendência criminosa, comportamentos antissociais, privação No tocante ao tema criminalidade Winnicott se refere ao termo “tendências criminosas ou antissociais” para expor suas ideias. De acordo com Winnicott (1982a), existe uma fonte de agressão que seria muito primitiva e estaria ligada á própria motilidade natural já presente na vida intrauterina. O bebê teria uma tendência inata á agressão. O bebê precisa conhecer seus limites, experimentar sua agressividade, para depois ser capaz de drenar o instintual. Isso envolve a capacidade crescente para reconhecer a própria crueldade e avidez e só então, podem ser dominadas e convertidas em atividade sublimada, nesse ponto pode-se dizer que a agressividade é quase sinônima de atividade, pois aquela deve ser extravasada quando encontre um momento oportuno. Há no bebê uma ambivalência, pois ao “mesmo tempo que ele apresenta uma grande capacidade para a agressão, também tem uma capacidade para proteger quem ama de sua destrutividade” (Winnicott, 2005, p.97).

description

Trabalho sobre a teoria winnicottiana

Transcript of O Crime à Luz Da Teoria Winnicottiana

  • Joyce Borges Boamorte 1 Siganosemfacebook.com/psicologia.pt

    www.psicologia.ptDocumentoproduzidoem26.10.2012

    O CRIME LUZ

    DA TEORIA WINNICOTTIANA

    2012

    Joyce Borges Boamorte

    Psicloga do Sistema Prisional Paulista, especialista em Psicologia Jurdica (Brasil)

    Email: [email protected]

    RESUMO

    Este artigo tem como objetivo compreender como o autor ingls Donald Winnicott entende o crime e o criminoso. De que forma teoriza e quais so os conceitos que usa para falar sobre o assunto, usando para este fim a reviso bibliogrfica de algumas obras do referido autor.

    Palavras-chave: Crime, tendncia criminosa, comportamentos antissociais, privao

    No tocante ao tema criminalidade Winnicott se refere ao termo tendncias criminosas ou antissociais para expor suas ideias.

    De acordo com Winnicott (1982a), existe uma fonte de agresso que seria muito primitiva e estaria ligada prpria motilidade natural j presente na vida intrauterina. O beb teria uma tendncia inata agresso.

    O beb precisa conhecer seus limites, experimentar sua agressividade, para depois ser capaz de drenar o instintual. Isso envolve a capacidade crescente para reconhecer a prpria crueldade e avidez e s ento, podem ser dominadas e convertidas em atividade sublimada, nesse ponto pode-se dizer que a agressividade quase sinnima de atividade, pois aquela deve ser extravasada quando encontre um momento oportuno.

    H no beb uma ambivalncia, pois ao mesmo tempo que ele apresenta uma grande capacidade para a agresso, tambm tem uma capacidade para proteger quem ama de sua destrutividade (Winnicott, 2005, p.97).

  • Joyce Borges Boamorte 2 Siganosemfacebook.com/psicologia.pt

    www.psicologia.ptDocumentoproduzidoem26.10.2012

    Se o ambiente fornece cuidados satisfatrios e se mostra capaz de reconhecer, aceitar e integrar essa manifestao do humano, a fonte de agressividade - que, no incio, motilidade e parte do apetite - torna-se integrada personalidade total do indivduo e ser elemento central em sua capacidade de relacionar-se com outros, de defender seu territrio, de brincar e de trabalhar. Se no for integrada, a agressividade ter que ser escondida (timidez, autocontrole) ou cindida, ou ainda poder redundar em comportamento antissocial, violncia ou compulso destruio.

    Para Winnicott (2005), uma criana expansiva, por exemplo, direciona sua agressividade para o exterior. J uma criana tmida mantm a agressividade dentro dela e, portanto, torna-se tensa, excessivamente controlada e sria. Percebe-se que na criana sadia desenvolve-se, com efeito, a capacidade para colocar-se na situao das outras pessoas e identificar-se com pessoas e objetos externos. Ao contrrio uma criana que se controla excessivamente pode ter condutas agressivas, uma exploso de raiva ou uma ao perversa.

    Winnicott (2005) relaciona a tendncia antissocial com privao, isto , a um fracasso especfico no desenvolvimento da criana. A privao se d quando o beb ainda muito pequeno viveu uma experincia marcante de abandono e no deu tempo de ter desenvolvido na mente a capacidade de diferenciar o eu e o no-eu. As consequncias da privao seriam o desenvolvimento das atitudes antissociais.

    Ao reconhecer que o ambiente lhe deve algo, o beb dirige sua agressividade preferencialmente para fora e, como j capaz de reconhecer a me, ela que sempre visada. Com o passar do tempo, se essa situao no se resolve, os alvos passam a ser substitutos simblicos da me. Da o desenvolvimento do roubo sintomtico, que funciona como se ele estivesse recuperando algo que lhe devido.

    O autor diz que a criana passa a buscar no exterior a continncia que no obteve de seu ambiente. No seu mundo interno h dois fatos relacionados: a perda de algo que era bom e a falta de oportunidades dentro do prprio ambiente para recuperar o que lhe foi perdido.

    Quando a criana comea a praticar atos antissociais, o meio em que ela vive pode ajud-la a suportar tais tendncias, reconhecendo que ela tem direitos e, assim, pode redescobrir o objeto bom. Mas, pode acontecer destas situaes no ocorrerem e assim favorecerem a consolidao das tendncias destrutivas dentro da estrutura da personalidade. Se o meio familiar no proporciona criana estabilidade da qual ela necessita para o suprimento de suas carncias, ela vai ento, buscar fora, na sociedade. A criana que rouba, no est procurando usar o objeto de que se apodera, est procurando uma pessoa, est procurando sua prpria me, e ignora-os (Winnicott, 1982b, p.185).

  • Joyce Borges Boamorte 3 Siganosemfacebook.com/psicologia.pt

    www.psicologia.ptDocumentoproduzidoem26.10.2012

    A me pode ou no estar ainda presente, pode ser suficientemente boa, mas do ponto de vista da criana, algo est faltando. A criana que rouba uma criana em busca da me, ou da pessoa de quem ela tem o direito de roubar. (Winnicott, 1985).

    Segundo Winnicott (2005), normal que durante a adolescncia exista um certo grau de tendncia antissocial presente nas caractersticas desse momento da vida. Em seu movimento de autoafirmao, h necessidade de se contrapor aos que lhes so referncia e de desqualific-los.

    Existe uma relao entre a tendncia antissocial na infncia, a delinquncia na adolescncia e a personalidade psicoptica no adulto. Percebe-se que a agressividade permeia todo o desenvolvimento humano. E se ela no encontrar o limite necessrio ir se estender a encontrar, nem que seja a cela de uma priso.

    Winnicott (2005) considerava que a tendncia antissocial na infncia e a delinquncia durante a adolescncia sempre podem se curar, chegando mesmo a interpretar os sintomas tpicos dessas duas situaes como um sinal de esperana, uma vez que funcionam como um apelo dirigido ao outro, e, portanto contm uma expectativa de resposta. Os casos que se transformam em quadros psicopticos so justamente aqueles que perderam as expectativas e entram numa situao irreversvel depois de vrios anos de frustrao e decepo. Ainda assim, esses indivduos mantm algumas peculiaridades que identificam traos das suas origens, como a dissociao, o fato de no cometerem crimes em pblico e de sempre fazerem questo de deixar pistas do que fazem.

    A funo paterna, ainda que secundria, exerce um papel importante na preveno dos atos antissociais, pois o pai que oferece apoio emocional me, que possibilita que ela possa desempenhar o papel materno satisfatoriamente. Cabe aos pais impor limites e proporcionar um ambiente seguro e confiante para que a criana possa expressar tanto sua agressividade quanto sua criatividade.

    Pode-se perceber que para Winnicott o crime, ou seja, as condutas criminosas ou atos antissociais, so sinais de que algo no vai bem no indivduo, seria um pedido de socorro. Analisar os aspectos psicolgicos de quem comete estes atos de suma importncia para melhor entend-los e assim traar um plano de atendimento mais eficaz e construtivo para cada indivduo.

  • Joyce Borges Boamorte 4 Siganosemfacebook.com/psicologia.pt

    www.psicologia.ptDocumentoproduzidoem26.10.2012

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    WINNICOTT, D.W. Tudo comea em casa. trad. Paulo Sandler. 4. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005.

    _____________. Privao e Delinqncia; trad. lvaro Cabral; rev da traduo Mnica Stahel. 4. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005.

    _____________. Da Pediatria Psicanlise. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves, (1982a).

    _____________. A criana e o seu mundo. RJ: Ed. LTC, (1982b).